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Principais motivos de saída antecipada dos alunos durante o período de aula

Main reasons for the early departure of students during class time

Resumo

O número de alunos que deixam a escola antes do término das aulas é preocupante para o andamento da vida escolar e pode ser prejudicial quando frequente. Um levantamento dos principais motivos por trás dessas saídas é essencial para que providências possam ser tomadas, possibilitando, assim, que a gestão da Unidade Escolar [U.E.] desenvolva formas e métodos que objetivem a diminuição dessas saídas, evitando evasões escolares mesmo que apenas em parte do período. Ao se categorizar os dados, nota-se que características como período de estudo, sexo, idade e turma diferenciam os alunos quanto às quantidades de saídas. A utilização do livro Ata de saída antecipada como fonte de dados de uma escola municipal de Ensino Fundamental I, na cidade de Osasco, mostrou que 42,22% dos alunos deixaram a escola no último semestre de 2019 antes do término diário das aulas por motivos diversos, provindos da escola ou por parte dos responsáveis. Diante da análise dos dados, é possível notar que meninos, do período da tarde, em horário próximo à saída se ausentam com maior frequência e os motivos dessas saídas são em sua maioria não definidos por seus responsáveis. Esses dados demonstram que deve haver uma preocupação maior para com esse grupo específico na intenção de diminuir o número de saídas e manter os alunos o tempo integral a que têm direito na escola.

Palavras-chave
Ensino fundamental; Frequência escolar; Período de aula; Evasão escolar; Horário de saída

Abstract

The number of students who leave school before the end of the classes is worrisome regarding the progress of school life; and can be harmful when frequent. A survey on the main reasons for that departure is essential so that actions can be taken, thus allowing the School Unit (“Unidade Escolar [U.E.]”) to develop methods that aim the decrease in that departure, avoiding truancy even if it’s only in part of the period. Categorizing the data shows features as period of study, sex, age and class, which distinguish the students regarding the amount of departures. The usage of the minute of early departure from a municipal elementary school in the city of Osasco, as source of data, showed that 42,22% of the students left school in the last semester of 2019 before the end of daily classes, for several reasons, whether coming from the school or from the ones responsible for the students. Analyzing the data, it is possible to notice that boys, in the afternoon period, close to the end of the class depart more frequently, and the reasons for the departure are mostly not defined by the ones responsible for the students. These data show that there must be a bigger concern towards that specific group in order to reduce the amount of departures and keep students in school as much as they are entitled to.

Keywords
Elementary school; School attendance; Class period; Truancy; Departure time

Introdução

Diariamente, alunos ausentam-se das salas de aula antes do final do período de aula. Diversos motivos são atrelados a esse fato e sabe-se que essa ausência pode comprometer o aprendizado se acontecer com frequência.

Conforme estabelecido na Lei n° 9394/96 da Lei de Diretrizes e Bases, no artigo 24, inciso IBRASIL. Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece As Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF: Casa Civil, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 15 jun. 2020.
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, “a carga horária mínima anual será de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames, quando houver”. Essa informação é importante para ressaltar a necessidade de a escola permitir ao aluno que frequente a quantidade na lei estabelecida e verifique se o aluno permanece na escola o tempo necessário a fim de evitar prejuízo em seu aprendizado. A mesma lei define também, no artigo 24, inciso VI, que o controle de frequência fica a cargo da escola. Conforme o disposto no regimento comum das U.E. e nas normas do respectivo sistema de ensino, é exigida frequência mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para aprovação, ou seja, o aluno pode ausentar-se por um dia inteiro, não comparecendo à escola, ou pode ausentar-se durante o período de aula, sendo observado para que não ultrapasse o mínimo exigido com vistas a não prejudicar seu desempenho escolar.

Segundo o Censo Escolar de 2016analisado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2019)INEP. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Indicadores de fluxo escolar apontam queda na evasão para ensino fundamental e médio, 2019. Brasília, DF: INEP, 2019. Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/assuntos/noticias/censo-escolar/indicadores-de-fluxo-escolar-apontam-queda-na-evasao-para-ensino-fundamental-e-medio. Acesso em: 12 out. 2020.
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, a taxa de evasão escolar nos anos iniciais do ensino fundamental foi de 1,6% naquele ano, a menor entre os anos anteriores, porém, quando comparado com o Censo de 2014, nota-se uma diminuição de apenas 0,1% na taxa de evasão escolar, o que revela que a quantidade de alunos que evadem ou abandonam a escola encontra- se estabilizada nos mesmos padrões. Em 2019, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2020)IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tabelas: Abandono escolar por UF, 2020. [S. l.: s. n.], 2020. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-detalhe-de-midia.html?view=mediaibge&catid=2103&id=3935. Acesso em: 16 out. 2020.
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, 95,8% das crianças de 6 a 10 anos estavam frequentando os anos iniciais do ensino fundamental em sua idade ideal, entretanto, só no estado de São Paulo apresentou-se um abandono de cerca de 17,7% dos alunos nessa fase inicial.

Muito se valorizam as faltas que os alunos sofrem ao ausentar-se por um dia inteiro, mas são pouco notadas as saídas antecipadas durante o período de aula como falta ou perda da matéria em andamento. Santos e Pereira (2008)SANTOS, Antonio Fernando; PEREIRA, Francisney Moraes. Educação começa em casa: importância da família na aprendizagem dos alunos. Aracaju: Faculdade São Luís de França, 2008. Disponível em: https://portal.fslf.edu.br/wp-content/uploads/2016/12/EDUCACAO-COMECA-EM-CASA.pdf. Acesso em: 18 out. 2020.
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, em um estudo realizado com 30 alunos de escola pública e 30 alunos de escola privada, mostram que alunos desassistidos pelas famílias tendem a ter uma menor assiduidade escolar. A família raramente participa da vida escolar dos filhos em sua plenitude e tal fato pode contribuir para a evasão escolar, repetência e outros resultados negativos (FURTADO; MEDEIROS, 2018)FURTADO, Françoerbe Barbosa; MEDEIROS, Jarles Lopes de. Relação família e escola como uma perspectiva de melhoria na aprendizagem. In: CONGRESSO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DO CEARÁ, 17., 2018, Fortaleza. Anais... Fortaleza: [s. n.], 2018. p. 698-712..

Assim, o detalhamento dos motivos por trás dessas saídas é uma opção para que sejam notadas e verificadas a sua incidência e as consequências delas decorrentes para que as decisões sejam tomadas por parte da gestão da Unidade Escolar.

O regime de progressão continuada estipulado na Resolução SE 53, de 2-10-2014 (SÃO PAULO, 2014)SÃO PAULO. Resolução nº 53, de 02 de outubro de 2014. Dispõe sobre a reorganização do Ensino Fundamental em Regime de Progressão Continuada e sobre os mecanismos de apoio escolar aos alunos dos Ensinos Fundamental e Médio das Escolas Estaduais. São Paulo: [s. n.], 2014. Disponível em: http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/53_14.HTM. Acesso em: 24 ago. 2022.
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, que dispõe sobre a reorganização do Ensino Fundamental em Regime de Progressão Continuada e sobre os Mecanismos de Apoio Escolar aos alunos dos Ensinos Fundamental e Médio das escolas estaduais de São Paulo, aponta a aprovação automática dos alunos até o final dos ciclos, divididos de 3 em 3 anos. Dessa forma, os alunos do 1º ao 3º ano, 4º ao 6º e do 7º ao 9º ano são aprovados independentemente de suas notas e faltas, tornando irrelevante as faltas e o conteúdo que o aluno receberia por ausentar-se antes do término das aulas. Anteriormente a essa resolução, os alunos eram divididos em apenas 2 ciclos de 1º ao 5º ano e de 6º ao 9º ano. Com a mudança, o aluno passou a ser avaliado ao final de cada ciclo para saber se está apto para prosseguir. Dessa maneira, o que anteriormente acontecia apenas duas vezes, agora passa a ser feito três vezes. Nesse caso, os ciclos são endereçados apenas às escolas do Estado de São Paulo, podendo variar em escolas municipais. De qualquer forma, não avaliar o aluno anualmente pode proporcionar a aprovação de alunos com números elevado de faltas. Sabe-se que a evasão escolar entre os alunos com 15 anos ou menos é 8 vezes menor que os alunos na faixa etária de 16 e 17 anos. Além disso, filhos de mães sem instrução ou de pais que perdem o emprego têm maiores taxas de abandono escolar (NERI, 2009)NERI, Marcelo. Motivos da evasão escolar. São Paulo: Todos Pela Educação, 2009. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.abong.org.br/bitstream/handle/11465/1166/1789.pdf?seq. Acesso em: 18 out. 2020.
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.

O livro Ata de saída antecipada, documento utilizado para registro dos dados referentes aos alunos que foram para casa mais cedo, ou seja, antes do horário do término das aulas por motivos diversos, é essencial para contabilizar a quantidade de saídas e, principalmente, os motivos que levaram os alunos a se ausentarem.

O objetivo da pesquisa é categorizar os motivos por trás das saídas dos alunos e levantar evidências seguras a respeito do porquê se ausentam antes do término diário das aulas, possibilitando a criação de métodos, normas ou regras que visem à diminuição dessas saídas, tentando, assim, manter o aluno o máximo de tempo possível dentro da sala de aula.

Material e métodos

O planejamento para análise dos dados consiste em uma sequência lógica, sendo ela: coleta e apuração dos dados, apresentação dos resultados e análise e interpretação dos dados (ZANETTA, 2014)ZANETTA, Dirce Maria Trevisan. Métodos estatísticos: coleta, tratamento e análise de dados. São Paulo: Edusp, 2014.. A pesquisa foi feita nos moldes de tratamento de dados quantitativos longitudinal (VIEIRA, 2002)VIEIRA, Valter Afonso. As tipologias, variações e características da pesquisa de marketing. Revista da FAE, São Paulo, v. 5, p. 61-70, 2002., em uma escola localizada no Estado de São Paulo, na Cidade de Osasco, na qual foi utilizada uma fonte de dados secundária a partir de informações contidas no livro Ata de saída antecipada da escola, onde constam as informações referentes a todas as saídas de alunos antes do término das aulas.

A escola municipal recebe alunos com idades entre 4 e 11 anos, distribuídos em turmas da Pré-Escola até o 5º ano do Ensino Fundamental I, divididos em dois períodos, manhã e tarde, e distribuídos em 20 salas por período. A unidade contava no segundo semestre de 2019, data em que os dados da pesquisa foram coletados, com aproximadamente 1350 estudantes matriculados, número retirado do GED (Sistema de Gestão Educacional), sistema utilizado no município para controle da vida escolar dos alunos e da Unidade Escolar.

A escola adota como sistema de organização do dia letivo aulas de 55 minutos e um intervalo de 25 minutos para almoço dos alunos, que é feito durante o período de intervalo, visto que o horário de lanche é feito assim que os alunos entram na escola, antes do início da primeira aula. O dia letivo tem cinco aulas, totalizando cinco horas diárias, conforme estabelecido na Lei 9394/96, artigo 34, que determina pelo menos 4 horas de trabalho efetivo em sala de aula. A escola determina que nos casos em que o aluno deixe a sala de aula mais cedo, deve ser anotado o horário para que se saiba a quantidade de aulas que o aluno perdeu e, assim, se possam considerar as faltas quando o aluno atingir a quantidade de horas referente a um dia letivo.

Para que haja um controle quanto às saídas dos alunos, a escola mantém um protocolo que deve ser seguido. Não há uma lei que determine como deve ser feita a liberação de um aluno, ficando a cargo da escola optar pela melhor escolha de acordo com sua estrutura. O Decreto Nº 10.941/14 que dispõe sobre o regimento comum das Unidades Municipais de Educação traz providências às faltas diárias dos alunos e não menciona as saídas antecipadas (OSASCO, 2014)OSASCO. Decreto nº 10.941, de 23 de janeiro de 2014. Dispõe sobre o Regimento Comum das Unidades Municipais de Educação e dá outras providências. Osasco: SE, 2014. Disponível em: http://leismunicipa.is/rtbln. Acesso em: 24 ago. 2022.
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. No entanto, no Título I; Capítulo III; Seção V; Subseção III; Art. 41; Inciso II informa que é de responsabilidade do responsável legal pelo aluno a frequência em todas as atividades. O mesmo regimento ainda informa no Capítulo III; Art. 91; Inciso II que a Unidade Educacional comunicará aos pais ou responsáveis acerca da frequência insatisfatória. Ainda no Inciso III reforça que, bimestralmente, adotará as medidas necessárias para que os alunos possam compensar as ausências que ultrapassarem o limite de 25% dos dias letivos, uma vez que, segundo o mesmo regimento, o aluno só será promovido obtendo uma frequência superior a 75%.

A escola na qual a pesquisa foi fundamentada determinou como essa saída seria definida a partir do Conselho de Gestão Compartilhada, o qual foi formado no início de 2019, conforme Portaria Municipal 07/2019 (OSASCO, 2019)OSASCO. Secretaria de Educação. Portaria 07/2019, de 22 de fevereiro de 2019. Dispõe sobre Eleição dos Conselhos de Gestão Compartilhada nas Unidades Educacionais do Município de Osasco para o mandato 2019-2021. Imprensa Oficial do Município de Osasco, Osasco, p. 27, 2019. Disponível em: https://osasco.sp.gov.br/wp-content/uploads/2019/02/httphomologacao.osasco.sp_.gov_.brcompsec7atosOsasco_1550886368_7.pdf. Acesso em: 24 ago. 2022.
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, que dispõe sobre as eleições nas Unidades Educacionais para mandato do biênio 2019/2020, o qual foi formado por 8 docentes, 8 pais ou responsáveis, 8 alunos e 8 funcionários (a diretora da U.E. participa como funcionária da escola), escolhidos a partir de eleições diretas na Unidade Escolar.

Foi então determinado que o procedimento para que haja a liberação de um aluno antes do término diário das aulas deve seguir os seguintes passos:

  1. Os pais e/ou responsáveis legais pelo aluno devem assinar um termo no qual discriminam quem além deles tem autorização para retirá-lo, sendo responsabilidade deles atualizar o documento junto à secretaria da escola sempre que desejar autorizar ou desautorizar alguém.

  2. Ao buscar o aluno dentro do período de aula, o responsável deve se direcionar à secretaria para se identificar e informar o motivo pelo qual deseja que o estudante se ausente mais cedo.

  3. Após a verificação da autorização de saída, é preenchido no caderno Ata de saída antecipada os dados do aluno na ordem: data, nome do aluno, turma, horário e motivo.

  4. Por último, o responsável assina o livro em frente às informações e dá validade ao motivo por ele descrito para a saída do aluno.

  5. O aluno é então chamado na sala de aula por um inspetor escolar, que o libera ao responsável.

O livro Ata de saída antecipada também é utilizado de forma igual quando o aluno vai embora mais cedo por pedido da escola. Nesse caso, o estudante deve ser enviado para casa por algum motivo provindo da escola e não por pedido dos pais e/ou responsável. Da mesma forma, é descrito o motivo e o livro é assinado pelo responsável.

O livro Ata é dividido em seis colunas cujos registros seguem uma ordem crescente da linha superior até a inferior. Para que todos os dados sejam visíveis, a ata é preenchida de duas em duas páginas, sendo elas uma ao lado da outra. As informações são divididas em colunas onde deve constar a data na primeira coluna preenchida no formato dd/ mm/aaaa (dia, mês e ano); ao lado direito, o nome completo do aluno para que não haja possíveis confusões com outro aluno homônimo; seguindo à direita, a coluna na qual deve constar a turma a qual o aluno pertence; o horário em que o aluno está saindo é escrito na próxima coluna, anterior ao motivo pelo qual o aluno está deixando a escola mais cedo. Na última coluna do caderno, há um espaço destinado à assinatura do responsável, o qual deve se ater a preencher o seu nome de forma legível para que seja possível sua identificação em uma possível futura consulta.

Para facilitar a apuração dos dados e das informações constantes no livro, todos os dados foram transcritos para uma planilha digital a fim de automatizar a contagem, seguindo o mesmo padrão de colunas e informação que consta no livro Ata original da escola, como consta na Tabela 1. Isso porque a tabulação eletrônica, a apresentação dos dados e a geração de gráficos viabilizam análises e correlação das informações, validando conclusões (TOLEDO, 1985)TOLEDO, Geraldo Luciano. Estatística básica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1985..

Tabela 1 -
Exemplo de tabela utilizada para coleta de dados

Todos os dados são preenchidos por um funcionário não específico, ou seja, aquele disposto no momento é o encarregado de preencher o livro de saída e anotar os dados de forma correta. Assim, é notável que em alguns casos há lacunas, o que não impossibilita a observação e avaliação dos dados coletados, pois são casos isolados e não recorrentes.

A princípio, a pesquisa parte da divisão entre dois pontos principais. O primeiro refere-se aos alunos que foram enviados para casa pela escola, ou seja, o motivo proporcionado para a referida saída partiu de dentro da U.E., que contactou o responsável pela criança e pediu para que fosse à escola buscar o estudante. Esse tipo de saída será referida como “de dentro para fora”. O segundo grupo refere-se aos alunos que foram embora a pedido dos responsáveis que se deslocaram até a U.E. e solicitaram que o aluno fosse liberado mais cedo, partindo assim a ordem “de fora para dentro”.

Os dados coletados foram previamente separados para facilitar a observação dos resultados e determinar parâmetros de discussão acerca dos pontos essenciais de interferência. As informações foram divididas nos seguintes segmentos:

  • 1.

    Sexo: permite que seja observada a divisão entre meninos e meninas, o qual revela se existe uma maior demanda de um ou outro sexo.

  • 2.

    Data: possibilita observar os horários mais frequentes de saídas e fazer uma divisão por mês, bimestre, trimestre e semestre das saídas.

  • 3.

    Período: a divisão entre os períodos, manhã e tarde, é importante uma vez que a coordenação da escola também se divide assim e saber quais períodos necessitam de maior observação ao assunto é relevante ao planejamento estratégico que se pretenda adotar futuramente caso haja necessidade. Em ambos os períodos, há uma jornada de 5 horas diárias de aula. O período da manhã parte das 7h até o meio-dia, e o período da tarde das 13h20min até às 18h20min. A exceção está nas turmas da Pré-escola que compõem 4 turmas na U.E., nas quais a jornada de aula é de apenas 4 horas diárias, sendo a turma da manhã das 7h30min às 11h30min e a turma da tarde das 13h20min às 17h20min. É importante observar essa colocação, uma vez que os períodos de aula foram divididos de hora em hora para que se pudessem determinar os horários com maiores índices de saídas, ou seja, as turmas da Pré-escola nunca poderiam sair mais cedo no período que abrange, por exemplo, entre as 17h20min e as 18h20min, pois já não estão mais em período de aula.

  • 3.

    Turmas: a divisão do número de saídas por turma é feita para que se notem os anos mais frequentes e as turmas individualmente que mais têm saídas antecipadas. Nesse caso, os dados podem servir para que se trabalhe diretamente com uma sala específica, a fim de diminuir a quantidade de alunos que deixam a sala de aula e, consequentemente, a escola.

  • 4.

    Motivos: classificar em ordem decrescente os principais motivos pelos quais os alunos saem mais cedo é o ponto chave nesta pesquisa e sabê-los é o que auxiliará a gestão da escola no planejamento de estratégias a serem utilizadas. Como os motivos são os mais diversos possíveis, foi necessário criar uma regra de padronização para eles a serem descritos no livro Ata de saída antecipada. Para exemplificar de forma simples, pode-se dizer que sempre que um aluno sair mais cedo para ir ao médico, seja ele qual for, apenas será escrito médico. Da mesma forma, quando o responsável pelo aluno não assume um motivo claro e específico ou por alguma razão de privacidade opta por não o dizer, é escrito apenas pedido do responsável.

  • 5.

    Motivos (meninos e meninas): também foi feita uma divisão dos motivos entre os meninos e as meninas, a fim de organizar e deixar observável se existe ou não uma padronização de motivos por diferença de sexo.

  • 6.

    Saídas “de dentro para fora e de fora para dentro”: a divisão e classificação dos motivos entre aqueles que surgem da escola para o responsável e vice-e-versa é importante para manter a gestão ciente da necessidade de uma possível intervenção pedagógica nos casos mais frequentes, caso se considere que haja necessidade.

Todos os dados citados foram relatados em quantidade real e porcentagem equivalente ou proporção (frequência relativa simples). A porcentagem pode ser considerada mais confiável para perspectiva dos resultados baseados na quantidade de saídas, uma vez que algumas colunas da tabela como horário, turma e motivo podem ter se apresentado vazias, por não terem sido preenchidas por motivos não especificados, já que o preenchimento é feito de forma manual por funcionários que podem se equivocar e/ou esquecer de preencher no momento de liberação do aluno. A coluna com o nome do aluno, a que menos se mostrou equivocada e com rasuras que possam interferir nos resultados, foi utilizada para contagem do número total de alunos, tornando-se base para a comparação das demais colunas.

Resultados e discussão

A fim de facilitar a observação dos resultados, parte dos dados será apresentada em forma de tabela ou gráfico, o que permite ao pesquisador uma visualização imediata da distribuição dos valores e proporciona maior rapidez de compreensão (TOLEDO, 1985)TOLEDO, Geraldo Luciano. Estatística básica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1985..

A escola onde a pesquisa se deu apresentou em média, relacionando a quantidade inicial de alunos em julho de 2019 até dezembro de 2019, cerca de 1350 alunos. Esse número é importante, pois é base para os cálculos de porcentagem dos resultados apresentados na pesquisa. Para fins de pesquisa, foram utilizados apenas os dados referentes ao 2º semestre de 2019, período a partir do qual a investigação passou a ser realizada. Apesar do livro ata trazer dados anteriores, apenas os referentes ao período de 1º de agosto a 10 de dezembro foram contabilizados, visto que em julho e no final de dezembro não houve saídas registradas devido ao recesso escolar.

Durante esse período, houve saída antecipada de 570 alunos antes do período de término diário das aulas, o que significa que 42,22% do total de alunos da escola saiu mais cedo. O segundo semestre contou com 98 dias letivos, o que resulta em uma saída de cerca de 5,8 alunos por dia. Entretanto, sabe-se que o número de saídas não corresponde ao número de alunos que saíram, uma vez que um único aluno pode ter se ausentado mais de uma vez. A pesquisa demonstrou que das 570 saídas, 225 foram atribuídas mais de uma vez a um mesmo aluno, ou seja, 429 alunos distintos saíram antecipadamente durante o período analisado. Em porcentagem, significa uma saída de 31,78% da quantidade total de alunos matriculados na escola. Entretanto, apenas 6,22% do total de alunos matriculados saiu mais de uma vez. Nota-se, também, que na maior parte das vezes os alunos se limitaram a duas ou três saídas. O maior número de saídas atribuído a um único aluno foram 9. Na Tabela 2, é possível observar com clareza esses dados.

Tabela 2 -
Número de saídas em relação à quantidade de alunos que saíram

Após coletar os resultados referentes a todo o semestre, observam-se os dados separados pelos meses, sabendo que a primeira nota de saída começou no primeiro dia de agosto. O mês de dezembro, mesmo apresentando apenas duas semanas de aula e duas de recesso escolar, entrou na estatística tendo apresentado números suficientes para a pesquisa, apesar dos números muito abaixo dos meses anteriores, provavelmente ocasionados pela dispensa antecipada de alunos para o recesso escolar e férias, como demonstrado na Tabela 3.

Tabela 3 -
Número de saídas mensais totais em comparação com os dias letivos

Os meses referentes ao segundo semestre apresentaram números parecidos com exceção do mês de dezembro que apresentou apenas 4% do total de saídas. Dezembro, entretanto, é o mês com menor número de dias letivos, o que reflete também no número de saídas, cerca de uma por dia. Os meses de agosto, setembro e outubro apresentam números de cerca de 6 saídas por dia, enquanto o mês de novembro, com maior número, apresenta cerca de 7.

Em relação ao sexo dos alunos, os dados mostraram que os meninos apresentaram maior incidência nas saídas. Dos 570 alunos, 303 foram meninos e 267 meninas, ou seja, 53,2% e 46,8% respectivamente.

Ao analisar os horários que mais demandam saída dos alunos, é importante constar que o número de alunos analisados não será do total de 570, mas, sim, de 542 alunos. Isso se dá pelo fato de que dos 570 alunos, 26 são da Pré-escola e em dois casos não foi atribuído o horário do aluno na Ata, o que impossibilitou a identificação da hora correta. No caso dos alunos da Pré-escola, por estudarem em um horário diferenciado, os dados coletados não poderiam ser analisados junto aos demais para não gerar possíveis interferências nos resultados. Dessa forma, foi notado que o período da manhã teve um total de 195 saídas ou 36% do total, enquanto o período da tarde apresentou 347 saídas ou 64%, de modo que o período da tarde tem duas vezes mais saídas em relação ao período da manhã. Tal dado é importante, pois possibilita observar as razões e motivos que estão por trás desse aumento e fazer, assim, um trabalho para diminuir esses números.

Ao dividirmos os dados entre “de dentro para fora e de fora para dentro”, observa-se que em comparação com o gráfico de saídas gerais, há um aumento no período da tarde de 64% para 71% no número de saídas “de fora para dentro” e uma pequena queda de cerca de 4% em relação às saídas “de dentro para fora”, o que torna os números do período da manhã inversamente proporcionais. Os números registrados foram transpostos para gráficos de barras cujo objetivo é comparar grandezas, por meio de retângulos de igual largura e alturas proporcionais às suas respectivas grandezas, de modo a permitir que seja notável a visualização de sequências de crescimento ou atenuação dos valores expostos com maior facilidade (TOLEDO, 1985)TOLEDO, Geraldo Luciano. Estatística básica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1985..

Figura 1 -
Gráfico de saída por período geral, de fora para dentro e de dentro para fora

Ao analisar os dados de cada período individualmente, obtêm-se os horários específicos onde houve maior concentração de saídas.

Figura 2 -
Gráfico de saídas por intervalo de hora no período da manhã e tarde

Com base na observação do gráfico, nota-se que no período da manhã o horário com maior incidência de saídas é entre as 10 e 11 horas com 36%. Diante desses dados, pode-se concluir que o aluno da manhã perde em média duas aulas, já que são divididas em períodos de 55 minutos em média. Assim, o aluno ao sair mais cedo não faz uso da totalidade do período de aula. No período da tarde, o horário com maior número de saídas está entre as 17h20 e as 18h20 com 39%, ou seja, o último período de aula, fazendo com que o aluno perca na maioria das vezes uma aula. Quando observados os dois períodos, pode-se fazer uma comparação em que apesar de obter menor número de saídas, o período da manhã tem uma média maior de perda de número de aulas em relação ao período da tarde.

Ao analisar o gráfico considerando as duas variáveis aqui estabelecidas, nota-se que o período da manhã tem uma mudança de horário com maior fluxo de saída quando se observam apenas os alunos que foram retirados por seus responsáveis, ou seja, que se enquadram na ideia de saída “de fora para dentro”. Nessa perspectiva, o horário com maior índice de saída encontra-se entre 11 horas e meio-dia com 43%. O horário da tarde, entretanto, continua com seu fluxo maior no horário de 17h20min até às 18h20min, mas com um aumento considerável para 58% dos casos. O gráfico com as saídas “de dentro para fora” mostra-nos que quando a escola é a responsável por enviar os alunos para casa, esses tendem a sair mais cedo do que quando os responsáveis vão buscá-los. O período da manhã manteve seu índice aproximado de 35% nas saídas no período entre as 10 e 11 horas, assim como no índice geral. O período da tarde, por sua vez, teve uma pequena queda de 39% para 36%, mas o horário se distanciou do término das aulas ficando com maior índice de saídas entre as 16h20min e 17h20min.

Os dados mostram que, ao enviar um aluno para casa, a escola faz com que ele perca em média 2 aulas em ambos os períodos e nos alertam que os responsáveis têm uma maior chance de buscar os alunos nos horários próximos ao término das aulas, tal como ilustram as Figuras 3 e 4.

Figura 3 -
Gráfico de saídas por intervalo de hora de fora para dentro

Figura 4 -
Gráfico de saídas por intervalo de hora de dentro para fora

Outra análise a partir dos dados é feita sobre a quantidade de saídas por turmas, como pode ser visto nas Figura 5 e 6, respectivamente.

Figura 5 -
Gráfico de saídas por turma no geral

Figura 6 -
Gráfico de saídas por turma de dentro para fora e de fora para dentro

No geral, nota-se que o 2º ano tem maior índice de saídas, são 153 do total de 562 anotadas, seguida pelo 3º ano com 112 saídas. Essa posição continua quando nos referimos aos números “de dentro para fora e de fora para dentro”, mantendo o 2º ano como primeiro colocado, seguido do 3º ano.

Essa análise é relevante, pois possibilita que seja vista a turma onde deve ser feito um trabalho mais efetivo e a provável turma por onde o trabalho deva começar, já que diminuindo os números de saídas dos 2ºs anos, a probabilidade de redução dos demais será grande.

Em resumo, os dados mostram em números que a tendência de saídas dos alunos é maior nos períodos próximos ao horário de saída, com maior incidência no período da tarde, nas turmas do 2º ano com os meninos. Esse fato não desconsidera que as saídas próximas à entrada no período da manhã nas outras turmas e com as meninas sejam irrelevantes, mas entrega um direcionamento à gestão da escola do início do caminho e serve de base para comparação dos motivos responsáveis por esses números.

Principais motivos de saída antecipada dos alunos

Os motivos que levam os alunos a saírem mais cedo é essencial para solucionar esse problema. A Tabela 4 mostra-nos um ranking dos 10 principais motivos gerais e a quantidade em que cada um se repetiu ao longo do período observado na pesquisa. A Tabela 5, por sua vez, registra os motivos divididos por sexo, o que permite uma comparação com a tabela de motivos gerais.

Tabela 4 -
Ranking de motivos de saída geral
Tabela 5 -
Ranking de motivos de saída geral do sexo masculino
Tabela 6 -
Ranking de motivos de saída geral do sexo feminino

O ranking mostra-nos que os principais motivos estão relacionados a queixas de doenças entre os alunos. Das 10 posições, 8 estão relacionadas a algumas situações de queixa de dor, sendo que dor de cabeça está no topo da lista, seguida de dor de barriga. Segundo Grunspun (1999)GRUNSPUN, Haim. Crianças e adolescentes com transtornos psicológicos e do desenvolvimento. São Paulo: Atheneu, 1999., queixas somáticas ou sintomas físicos que incomodam as crianças podem provir de sintomas emocionais, sendo os mais comuns, dor de cabeça, dor de ouvido, dor de garganta e dor de barriga. Além disso, os alunos que apresentam maiores índices de dores de cabeça estão diretamente relacionados à dificuldade em fazer os deveres em sala de aula (ENUMO; FERRÃO, RIBEIRO, 2006)ENUMO, Sônia Regina; FERRÃO, Erika da Silva; RIBEIRO, Mylena Pinto Lima. Crianças com dificuldade de aprendizagem e a escola: emoções e saúde em foco. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 2, n. 23, p. 139-149, jun. 2006. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2006000200004
https://doi.org/10.1590/S0103-166X200600...
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As figuras 3 e 4, vistas anteriormente, demonstram que a maioria das saídas ocorreram após a metade do período escolar, horário em que as crianças já lancharam e almoçaram. Não é possível relacionar as dores à fome ou à baixa qualidade alimentar. Apesar das crianças se queixarem de dores, seus responsáveis raramente as levam a uma unidade médica para fazer um diagnóstico preciso dos motivos e a escola acaba por não ter um parecer definitivo das circunstâncias que ocasionaram as dores.

Tanto no ranking de meninos quanto no de meninas, as posições permanecem quase idênticas aos índices gerais, o que mostra que não faz diferença o sexo da criança em relação aos motivos principais. Entretanto, em 1º lugar aparece pedido do responsável que assim foi descrito quando esse vai até a escola solicitar a saída antecipada e não dá um motivo específico para isso, apenas argumenta que quer levar o aluno e assim o faz. Médico também aparece na tabela, tanto na geral quanto na dividida por sexo, que se refere ao aluno cujo responsável foi buscá-lo antecipadamente para levá-lo ao médico. Nas 5ª e 6ª posições aparecem, respectivamente, vômito e indisciplina, que se referem aos alunos que foram embora por estarem vomitando ou que, por indisciplina, foram enviados mais cedo para casa.

Nota-se que, nas tabelas por sexo, aparece aos meninos indisciplina enquanto às meninas aparece vômito na 5ª posição, pois têm maior probabilidade de apresentarem queixas somáticas do que o sexo masculino, que apresentam maiores índices em problemas de comportamento ou conduta, como descrito por Tonelotto e Saud (2005)TONELOTTO, Josiane Maria de Freitas; SAUD, Laura Fogaça. Comportamento social na escola: diferenças entre gênero e série. Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, n. 9, p. 47-57, 2005. em pesquisa acerca do comportamento social escolar. Nas 7ª e 8ª posições, aparecem queda, referente aos alunos que se acidentaram no decorrer da aula ou intervalo, e dor de dente. No 9º lugar, está a palavra chuva, assim utilizada como motivo para descrever as vezes em que o responsável atribui à chuva o argumento para retirar o aluno mais cedo; seguida na 10ª posição por falta de ar.

O ranking geral de motivos é um item fundamental na pesquisa, pois possibilita à gestão observar claramente o porquê de os alunos irem embora mais cedo e assim concentrar forças para diminuir esses números. Os motivos podem ser diferenciados ainda como em toda a pesquisa entre os “de fora para dentro e de dentro para fora”, como feito nas observações anteriores.

A Tabela 6 mostra os principais motivos que levaram a escola a enviar os alunos mais cedo, ou seja, cuja ordem saiu “de dentro para fora”.

Tabela 7 -
Ranking de motivos de saídas de dentro para fora

A Tabela 7 mostra que dos 10 principais motivos pelos quais a escola solicita ao responsável que busque o aluno, 8 são referentes a possíveis doenças, apenas indisciplina e queda ficam de fora dessa lista. Puccini e Bresolin (2003)PUCCINI, Rosana F.; BRESOLIN, Ana Maria B. Dores recorrentes na infância e adolescência. Jornal de Pediatria, São Paulo, n. 79, p. 65-76, 2003. afirmam, em artigo de revisão para a sociedade brasileira de pediatria, que dores abdominais são as mais frequentes na infância e na adolescência. Em outra pesquisa, Marturano et al. (1997) MARTURANO, Edna Maria et al. Crianças com queixa de dificuldade escolar: avaliação das mães através da Escala Comportamental Infantil A2 de Rutter. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 14, n. 3, p. 3-15, 1997. revelaram que 46% das crianças, de oito e nove anos, sofriam de dores de cabeça, 24% de falta de ar e 22% de dores de barriga.

A escola não medica, nem trata o aluno, cabendo ao responsável decidir se vai levá-lo ao médico ou não. A escola também não questiona se o aluno pode estar ou não mentindo, motivos esses tomados por decisão da direção da escola. A escola adota a decisão de sempre entrar em contato com o responsável pelo aluno quando esse se queixa de algum sintoma de doença ao docente, ao funcionário ou à direção.

Tabela 8 -
Ranking de motivos de saídas de fora para dentro

A Tabela 8 mostra os principais motivos pelos quais os responsáveis dos alunos requerem sua saída pelas razões descritas. Muitos deles não são claros ou não há razão específica. Assim, foi estabelecido na escola como padrão nesses casos apenas descrever o motivo como pedido do responsável, que lidera o ranking com grande diferença da segunda posição.

É de suma importância a participação ativa e comprometedora dos pais e mães na escola, já que a influência familiar é muito importante no processo formal de ensino e aprendizagem (SANTOS; PEREIRA, 2008)SANTOS, Antonio Fernando; PEREIRA, Francisney Moraes. Educação começa em casa: importância da família na aprendizagem dos alunos. Aracaju: Faculdade São Luís de França, 2008. Disponível em: https://portal.fslf.edu.br/wp-content/uploads/2016/12/EDUCACAO-COMECA-EM-CASA.pdf. Acesso em: 18 out. 2020.
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. A descrição médico refere-se aos alunos que saíram mais cedo para ir ao médico, motivo esse que não gera falta ao aluno se no dia seguinte mostrar o atestado que valida o motivo. Em 3º lugar aparece chuva, que é colocado quando o responsável registra como motivo a possibilidade de chuva, caso espere o horário correto de saída. As demais posições referem- se a itens pontuais e algumas aparecem apenas uma vez. Em todos os casos, nota-se o desinteresse dos responsáveis quanto ao apoio educacional para a formação escolar de seus filhos (FURTADO; MEDEIROS, 2018)FURTADO, Françoerbe Barbosa; MEDEIROS, Jarles Lopes de. Relação família e escola como uma perspectiva de melhoria na aprendizagem. In: CONGRESSO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DO CEARÁ, 17., 2018, Fortaleza. Anais... Fortaleza: [s. n.], 2018. p. 698-712..

Com os dados em mãos, porém, é possível manter contínua a classificação das saídas quanto à quantidade a fim de poder compará-las. Comparar saídas de um semestre com outro é determinante para se saber se após a imposição de novas normas ou regras que visassem a diminuí-las isso de fato ocorreria. Em caso positivo, é possível torná-las regras válidas e eficazes, ou em caso de não diminuição das saídas ou até manutenção dos números, pode-se então procurar novas medidas ou reestruturar as antigas para que venham a fazer algum efeito positivo futuramente.

Conclusão

A pesquisa concluiu que, na escola em que foi realizada a investigação, existe uma maior chance de haver saídas antecipadas entre os meninos, no período da tarde, em horários próximos à saída, a pedido do responsável sem que haja um motivo claro para tanto. Esses dados revelam o direcionamento no qual a gestão deve trabalhar na tentativa de diminuição das saídas. Além disso, o grande número de saídas ocasionadas por pré-disposição a doenças dentro do ambiente escolar é grande, sendo 8 em cada 10 daquelas motivadas por problemas de saúde por parte dos alunos que são enviados para casa. O alto número de saídas relacionados em ambos os períodos, manhã e tarde, após o intervalo é também um dado a ser observado com atenção. Assim, procurar saber se há alguma correlação entre o pós-intervalo e as queixas de doenças entre os alunos pode ser primordial para a tentativa de atenuar o problema.

Como na maioria das saídas provindas “de fora para dentro” não houve registro detalhado dos motivos, sendo descritos apenas como pedido do responsável, se faz necessário que haja um melhor diálogo entre a escola e sua comunidade para que se estabeleça a importância da permanência do aluno em sala de aula, de modo que o responsável tome consciência de que os motivos para retiradas dos alunos são de suma importância para a justificativa de ausência e uma posterior reposição dessas aulas. Assim, esconder os motivos, sejam eles quais forem, impede que a escola, quando possível, consiga orientar os pais e/ou responsáveis sobre a vida escolar do aluno a fim de não o prejudicar no andamento de seus estudos.

Frente aos resultados de que os alunos do 2º ano têm maior tendência a saírem mais cedo, questiona-se se alunos com faixa etária entre 6 e 7 anos têm maior predisposição a se sentirem doentes, uma vez que o grupo demonstrou o maior índice de saída por turmas na pesquisa. Além disso, é necessário procurar saber se de fato os meninos são mais indisciplinados que as meninas, dado esse revelado na pesquisa dos motivos pelos quais os meninos e meninas são enviados para casa.

Conclui-se, diante dos dados, que os responsáveis pelos alunos devem ser os primeiros a serem orientados quanto às saídas, tanto no questionamento dos motivos reais dos pedidos de saída quanto pelo fato das queixas de doenças serem frequentes com os alunos no período de aula. O fato de os responsáveis, apesar de avisados sobre o estado de saúde do aluno, não os levarem a uma unidade médica, na maioria das vezes, dificulta a gestão escolar no entendimento de quais poderiam ser os motivos reais que levaram esses alunos a se queixarem de dores. Portanto, a ausência de informações é um problema que dificulta a possibilidade de realizar uma agenda com reformas específicas que considerassem a diminuição das saídas.

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Editado por

Editor responsável: Carlota Boto
Bruno Salviano da Silva é oficial de escola na Prefeitura do Município de Osasco, pós-graduado em gestão escolar pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) e licenciado em ciências plenas pela Universidade de São Paulo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    03 Mar 2021
  • Revisado
    19 Abr 2022
  • Aceito
    10 Maio 2022
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