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Desafios aos editores da área de humanidades no periodismo científico e nas redes sociais: reflexões e experiências

Resumos

O presente artigo analisa experiências de História, Ciências, Saúde - Manguinhos, revista editada desde 1994 pela Casa de Oswaldo Cruz, da Fundação Oswaldo Cruz. Tendo como pano de fundo as dificuldades enfrentadas pelos periódicos da área de humanas, discute a trajetória de HCS - Manguinhos até seu ingresso no Portal SciELO, as implicações que isso teve no tocante às rotinas editoriais, ao potencial de veiculação e às perspectivas de internacionalização. Procura situar os editores em meio a correntes de pensamento que manifestam posições convergentes ou contraditórias a respeito: primeiro, dos processos em curso de hierarquização e internacionalização de periódicos científicos brasileiros; segundo, das formas de divulgar seus conteúdos e avaliar seu impacto; e, terceiro, das tendências quantitativistas e produtivistas hoje imperantes no meio acadêmico. Relata dificuldades enfrentadas no esforço para internacionalizar HCS - Manguinhos e analisa os resultados alcançados após o ingresso nas redes sociais, em junho de 2013, fazendo uso de métricas diferentes daquelas há mais tempo instituídas para aferir o impacto de publicações científicas.

Periodismo científico nas ciências humanas; Redes sociais; Altimetrias e impacto; Gestão editorial de periódicos; Internacionalização


This article analyzes the experiences of História, Ciências, Saúde - Manguinhos (History, science, health), a journal published since 1994 by the House of Oswaldo Cruz, at the Oswaldo Cruz Foundation. The background being the difficulties faced by journals of the humanities, it discusses the pathway of HCS - Manguinhos until it is welcomed by the SciELO Portal, the resulting implications in regard of the editorial routines, the potential of dissemination and the perspectives of internationalization. Editors are viewed amidst currents of thought which express either convergent or contradictory opinions concerning: first, the processes underway to hierarchize and internationalize the Brazilian scientific journals; second, the ways to disseminate their contents and evaluate their impact; and, third, the quantitative and productivist tendencies that prevail today in the academic milieu. The paper describes difficulties arising from the effort of making HCS - Manguinhos international and analyzes the results achieved after joining the social networks, in June 2013, by making use of metrics different from those long ago defined to assess the impact of scientific publications.

Scientific journalism in human science; Social networks; Altmetrics and impact; Editorial management of journals; Internationalization


ARTIGOS

Desafios aos editores da área de humanidades no periodismo científico e nas redes sociais: reflexões e experiências1 1 - Desdobramento de "Desafios enfrentados pelos editores da área de humanidades - algumas reflexões e experiências", palestra apresentada por Jaime L. Benchimol na conferência de comemoração dos 15 anos do SciELO, realizada entre os dias 22 e 25 de outubro de 2013 em São Paulo.

Jaime L. Benchimol; Roberta C. Cerqueira; Camilo Papi

Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil. Contatos: jben@coc.fiocruz.br; cardosoc@coc.fiocruz.br; camilo@fiocruz.br

RESUMO

O presente artigo analisa experiências de História, Ciências, Saúde - Manguinhos, revista editada desde 1994 pela Casa de Oswaldo Cruz, da Fundação Oswaldo Cruz. Tendo como pano de fundo as dificuldades enfrentadas pelos periódicos da área de humanas, discute a trajetória de HCS - Manguinhos até seu ingresso no Portal SciELO, as implicações que isso teve no tocante às rotinas editoriais, ao potencial de veiculação e às perspectivas de internacionalização. Procura situar os editores em meio a correntes de pensamento que manifestam posições convergentes ou contraditórias a respeito: primeiro, dos processos em curso de hierarquização e internacionalização de periódicos científicos brasileiros; segundo, das formas de divulgar seus conteúdos e avaliar seu impacto; e, terceiro, das tendências quantitativistas e produtivistas hoje imperantes no meio acadêmico. Relata dificuldades enfrentadas no esforço para internacionalizar HCS - Manguinhos e analisa os resultados alcançados após o ingresso nas redes sociais, em junho de 2013, fazendo uso de métricas diferentes daquelas há mais tempo instituídas para aferir o impacto de publicações científicas.

Palavras-chave: Periodismo científico nas ciências humanas - Redes sociais - Altimetrias e impacto - Gestão editorial de periódicos - Internacionalização.

História, Ciências, Saúde - Manguinhos é revista publicada, desde 1994, pela Casa de Oswaldo Cruz (COC), unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por sua vez responsável pela edição de dois periódicos prestigiados, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (desde 1909) e Cadernos de Saúde Pública (desde 1985); posteriormente foram lançados Trabalho, Saúde e Educação (2003), Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde (2007) e Vigilância Sanitária em Debate (2012). HCS - Manguinhos é produto de movimentos de renovação ocorridos tanto no âmbito da saúde pública como da historiografia. Profissionais da saúde em luta pela medicina preventiva deram corpo, nos anos 1980, ao Movimento da Reforma Sanitária, que resultou na única emenda popular à Constituição de 1988, a qual estabelece a universalização da saúde e o dever do Estado de provê-la. Ao assumir o comando da Fiocruz, em 1985, Sérgio Arouca e o grupo de sanitaristas e pesquisadores a ele ligados criaram a COC, acrescentando às tradicionais atividades da instituição a pesquisa e disseminação da história da saúde e das ciências da vida.2 2 - A literatura é abundante, mas uma boa introdução ao assunto encontra-se em Lima, et al., 2005.

Concomitantemente, a chamada nova história alargava o repertório de seus objetos, metodologias e fontes de pesquisa, expandindo a uma "velocidade vertiginosa" a historiografia (BURKE, 1992, p. 8). As novas gerações de historiadores passaram a estudar criticamente: os mecanismos de controle implícitos nos discursos e nas instituições médicas; os saberes e práticas alternativos à medicina acadêmica ou originários dos territórios subjugados pelas metrópoloes coloniais. Questões pertinentes a raça e gênero, uma visão mais refinada das classes e categoriais sociais, a atenção aos atores e particularismos locais passaram a informar os estudos sobre políticas, instituições e profissões de saúde. A história da medicina deixou de ser apenas a dos médicos para tornar-se também a dos doentes, e a história de doenças experimentou um verdadeiro boom de estudos monográficos. O corpo, a infância, as sensibilidades, o meio ambiente e outros objetos atenuaram as fronteiras entre as ciências humanas e naturais. No Brasil, os historiadores puseram em evidência não apenas a criatividade implícita na adaptação aos contextos locais de saberes, instituições e discursos produzidos nas formações sociais hegemônicas, mas também o protagonismo dos intelectuais imigrados ou nativos e das instituições por eles criadas em redes mais vastas, atuando assim como coparticipantes do desbravamento de vários campos do conhecimento.

Alinhada a essa tradição, a revista lançada pela COC veicula trabalhos inéditos relacionados à história da medicina, da saúde pública e das ciências da vida, mantendo a angular aberta para temas da história social e da história das ciências em geral. Publica trabalhos de historiadores, principalmente, mas também de sociólogos, filósofos, antropólogos, educadores e profissionais de saúde. O público leitor é constituído, na maioria, por pesquisadores e alunos de graduação e pós-graduação das ciências humanas, profissionais da saúde e das ciências biológicas e ainda museólogos, educadores, profissionais da comunicação e demais interessados na história das ciências.

Inicialmente, HCS - Manguinhos circulou a cada quatro meses. Em 1998, inaugurou sua versão eletrônica; em 2000, foi incluída no Scientific Electronic Journal Online (SciELO), nas categorias ciências humanas e ciências da saúde. No Qualis (Classificação de periódicos, anais, jornais e revistas), um dos mecanismos utilizados pela Capes para avaliar pesquisas científicas e cursos de pós-graduação, a revista é avaliada em mais de 30 áreas do conhecimento. Segundo a última classificação Qualis-Capes, é A1 em história, educação, sociologia, ciências ambientais e interdisciplinar, e A2 em ciências sociais aplicadas, letras/linguística e serviço social. História, porém, é o eixo dessa revista multivalente em meio a tantas interfaces.

Até o ingresso no SciELO, HCS - Manguinhos enfrentou muitos dos problemas, que afligem grande número de revistas da área de humanas. Revistas à míngua de recursos, tocadas por equipes pequenas, com grande dose de voluntarismo e, às vezes, amadorismo, cujos editores dividem seu tempo de trabalho com variadas atividades de ensino e pesquisa. Em geral associadas a programas de pós-graduação e, mais raramente, a institutos de pesquisa ou sociedades científicas, com grau elevado de dispersão, as revistas da área de humanas enfrentam desafios da ordem do "feijão com arroz": obter condições mínimas no tocante a financiamento, pessoal e facilidades materiais de trabalho, a fim de assegurar requisitos mínimos de funcionamento - periodicidade, adequada avaliação pelos pares, suficiente normalização e tratamento dos textos, produção visual e gráfica.

O ingresso de HCS - Manguinhos no SciELO deu-se após adequação a exigências técnicas que tiveram efeitos de longo alcance sobre a dinâmica da revista. A equipe galgou novo status dentro da Fiocruz, o que se traduziu em apoio mais consistente, e fora dela, o que redundou em melhores classificações e em outros ganhos mencionados adiante.

SciELO e a hierarquização e internacionalização das revistas brasileiras

Em comissões e encontros com editores e pesquisadores da área de ciências humanas, os autores identificam com frequência certa hostilidade contra o SciELO, sem dúvida um mecanismo de hierarquização dos periódicos em meio a outros: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), indexadores etc. Talvez se possa dizer que o senso comum na área inclina-se a uma corrente de opinião "niveladora", com argumentos contrários à "elitização" de periódicos, o que, para a maioria, redunda efetivamente em maior dificuldade de acesso a recursos escassos. Tal questionamento combina-se a outros, como a aversão à lógica hoje imperante do "publique ou pereça", a crítica à acrítica adesão às engrenagens segregadoras do periodismo científico internacional, em que tem hegemonia o mundo anglo-saxão.

Creem os editores de HCS - Manguinhos que toda a produção intelectual tem direito a um lugar ao sol, e todo periódico, desde o mais rudimentar boletim estudantil, cumpre papel importante na formação de cada autor e da cultura científica em geral. Como pesquisadores e docentes, subscrevem uma expressão talvez mais refinada do mesmo campo ideológico, o Slow Science, parte de um movimento pela desaceleração em todos os planos de nossa existência social. Criado na década 1980, na Itália, em defesa da cozinha tradicional ameaçada pelas redes de fast food, o movimento alcançou a ciência, insurgindo-se nesse domínio contra a disseminação global do produtivismo, da competição desenfreada, da cultura da pressa e do imediatismo. O grito de guerra foi lançado em 2010 pelo antropólogo Joël Candau. "A fast science, como a fast food, favorece a quantidade em detrimento da qualidade" (MCCABE, 2012). Mais de quatro mil pesquisadores assinaram um manifesto e em 2010 foi fundada em Berlim a Slow Science Academy. No manifesto lê-se: "Somos cientistas. Não blogamos. Não twittamos. Não nos apressamos. [...] Precisamos de tempo para nos compreendermos uns aos outros, especialmente quando promovemos o diálogo perdido entre as humanidades e as ciências naturais" (THE SLOW..., 2010).

Como timoneiros de HCS - Manguinhos, aderimos, às vezes por convicção, em geral por pragmatismo, a muitas das tendências criticadas pelos niveladores e pela Slow Science. Passamos a blogar e a twittar, e apressamo-nos para dar conta do volume crescente de produções que nos chegam, de autores tangidos pelo quantitativismo imperante no âmbito das agências de fomento e das instituições acadêmicas. E percebemos que essa lógica detestável é um dos mais ativos fermentos da endogenia, prima-irmã do compadrio, traço da identidade brasileira muito forte também no meio acadêmico: cada escola de nível superior, cada curso de pós-graduação sente-se no dever de ter um periódico próprio para escoar a produção local, muitas vezes sem critérios adequados de avaliação.

Em entrevista em setembro de 2012, Meneghini, um dos criadores do SciELO, afirmou não existir "em qualquer outro lugar do mundo pressão tão grande para a criação de periódicos quanto no Brasil", o que atribuía principalmente à CAPES. Estimava entre três e quatro mil o número de periódicos existentes então no país (MENEGHINI, 2012).

A lógica quantitativista, associada a problemas estruturais especificamente brasileiros, sobretudo na área da educação, colabora para a reprodução das assimetrias que caracterizam o mundo hierarquizado e competitivo em que se produz e publica, dominado por alguns centros hegemônicos, antigos ou emergentes. Por outro lado, vive-se uma conjuntura em que se abrem possibilidades concretas a periódicos brasileiros de se impor como canais de comunicação científica respeitados internacionalmente, e isso vale tanto para a biomedicina e as ciências hard como para as humanas.

Entre 1997 e 2007, o número de artigos brasileiros em publicações internacionais mais que dobrou, chegando a dezenove mil por ano, e a participação do Brasil no universo das publicações científicas internacionais subiu de 1,7% em 2002 para 2,7% em 2008. Segundo edição do Journal Citation Reports (JCR) referente a 2010, periódicos brasileiros indexados nas coleções JCR Science e JCR Social Sciences somavam 103 - aumento de 43% em relação a 2009 -, onze deles detendo Fator de Impacto superior a 1.3 3 - O JCR é um dos serviços oferecidos pela Thomson Reuters, empresa que atua em diversas áreas da informação e do conhecimento, fruto da união da Thomson Scientific (antigo ISI) e da agência de notícias Reuters. Para mais informações, ver http://thomsonreuters.com/; Carta... (2009); Raupp, 17.10.2010. De 2007 para 2008, o Brasil foi o país que mais cresceu entre as 20 nações com mais artigos publicados em periódicos científicos indexados pelo Institute for Scientific Information (ISI). Subiu de 19.436 para 30.145 o número de artigos de instituições brasileiras aceitos nessas publicações. Com esse crescimento de 56%, o país passou da 15ª para a 13ª colocação no ranking mundial de artigos publicados em revistas especializadas (2,12% da produção mundial), ultrapassando Rússia e Holanda (GOIS, 2009).

Artigo mais recente da Folha de São Paulo apresenta quadro mais cauteloso, apoiado em Scimago, base de dados alimentada pela plataforma Scopus, da editora Elsevier (RIGHETTI, 2013). A produção científica brasileira continua em ascensão no tocante à quantidade de artigos publicados: num universo de 238 países, o Brasil subiu do 17º lugar, em 2001 (13.846 trabalhos), para o 13º, em 2011 (49.664 artigos). A produção aumentou 3,5 vezes. Mas, no tocante a impacto, o país caiu da 31ª posição para a 40ª, seguindo direção oposta à da China e Rússia, que avançaram nesse ranking. O crescimento da produção com queda de impacto é atribuído ao aumento do número de periódicos brasileiros incluídos nas bases de dados internacionais (de 62 para 270, em dez anos) e à política acadêmica que, por um lado, vem expandindo o número de mestres e doutores, e, por outro, os leva a publicar de "qualquer jeito" ou a praticar a chamada "ciência salame", criticada pelo biólogo Fernando Reinach (2013), cuja voz é uma das muitas que se insurgem contra a "ideologia" quantitativista.

Os números e as distorções a eles subjacentes expressam processos mais amplos de globalização das sociedades e de expansão das redes de informação que vêm revolucionando a comunicação científica, assim como a conjuntural visibilidade externa do Brasil em vários planos, não apenas nas ciências. Tais processos incluem: a crise das formações sociais que detêm a hegemonia econômica e tecnológica; as políticas adotadas por governos e agências de fomento tendo em mira a internacionalização da Pesquisa & Desenvolvimento; e, ainda, as dinâmicas das redes que interligam produtores de cultura e conhecimento, específicas de cada área do conhecimento.

Para os defensores da internacionalização da ciência brasileira, sua participação em redes externas é ainda baixa, e a ciência, excessivamente voltada para dentro, para seus próprios objetivos acadêmicos, o que resulta em impacto reduzido, mesmo daqueles trabalhos veiculados em revistas mainstream; além disso, permanece baixa a proporção daqueles feitos com parceiros estrangeiros - variáveis que não podem ser tratadas genericamente, uma vez que o caráter mais ou menos localizado dos objetos de investigação e das redes de colaboração varia consideravelmente entre as ciências humanas e naturais e entre suas diferentes áreas.4 4 -Lea Velho (2011); Davyt, Velho (2000); Rogério Meneghini (2012; 2012), Rogério Meneghini, Abel Packer e Lilian Nassi-Calo (2008) e ainda Rogério Mugnaini (2006) têm reflexões mais bem fundamentadas a respeito do periodismo científico no Brasil e da internacionalização da ciência brasileira.

Avaliação dos periódicos científicos em crise

A discussão a esse respeito tem sido em larga medida regida pela preocupação com a métrica em crise, o Fator de Impacto.

Até outubro de 2013, o SciELO tinha em sua coleção mais de mil periódicos, com quase quinhentos mil artigos publicados (dados disponíveis em http://www.scielo.org/php/index.php), o que mostra o quanto o projeto idealizado há 15 anos cresceu não só no Brasil como na América Latina e Caribe, Espanha, Portugal e África do Sul. Os periódicos incluídos na base SciELO foram selecionados entre muitos outros, indexados em bases de dados diferentes ou não indexados. Com tantos títulos disponíveis, ficou mais difícil para o pesquisador escolher em qual publicar e, para as agências de fomento, selecionar os que receberão financiamentos. A explosão numérica tornou imprescindível a avaliação das publicações científicas, num momento em que as formas tradicionais de executá-la estão em crise.

No Brasil, tais mecanismos remontam à criação do CNPq, em janeiro de 1951, com a função de "promover e estimular o desenvolvimento da investigação científica e tecnológica" (HISTÓRIA..., a); seis meses depois, era criada a Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (atual CAPES), com o objetivo de garantir "a existência de pessoal especializado em quantidade e qualidade suficientes para atender às necessidades dos empreendimentos públicos e privados que visam ao desenvolvimento do país" (HISTÓRIA..., b). CNPq e Capes desenvolveram mais tarde programas relacionados ao periodismo científico. O primeiro lançou o programa de auxílio à editoração para financiar (parcialmente) as revistas brasileiras reconhecidas em suas áreas de conhecimento. E a Capes criou, em 1998, o Qualis Capes, cujo sistema de avaliação inclui periódicos nacionais e internacionais. Em cada área do conhecimento, um comitê avalia aspectos como periodicidade, conselho editorial, sistema de revisão por pares, circulação etc. A Capes estabelece diretrizes gerais, mas cada comitê acaba por imprimir um perfil próprio a seu sistema de avaliação. Ao final do processo, são divulgadas as listas por áreas com a classificação das revistas em estratos que vão de A1 (o mais elevado) até C. Esse mecanismo destina-se à avaliação dos programas de pós-graduação, mas ganhou considerável autonomia como sistema de estratificação dos periódicos, em sinergia hoje mais ou menos contraditória (conforme a área) com aquele estabelecido pelo SciELO.

Remontam aos anos 1960 as primeiras iniciativas de mensuração da qualidade da produção científica. Em 1964, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) determinou a criação de um sistema capaz de avaliar os periódicos científicos produzidos na América Latina (BARBALHO, 2005, p. 135), logo após a divulgação, em 1963, do primeiro índice de citações, o Science Citation Index (SCI), base de dados multidisciplinar que permitia recuperar os resumos em inglês das revistas científicas nela indexadas (PINTO; ANDRADE, 1999, p. 449).

O SCI foi criado por Eugene Garfield, responsável pela fundação do já referido Institute for Scientic Information (ISI) (ARAÚJO, 2006, p. 19), incorporado em 1992 à Thomson Corporation, que em 2008 uniu-se ao Reuters Group, passando a se chamar Thomson Reuters. A partir de estudos sobre citações, Garfield criou também o Journal Impact Factor ou Fator de Impacto (FI), amplamente utilizado a partir de então pela simplicidade de seu cálculo e por ter sido, durante muito tempo, o único indicador bibliométrico disponível para grande número de periódicos, principalmente dos países desenvolvidos. O uso do FI generalizou-se nos meios acadêmicos como critério de avaliação da qualidade da pesquisa, para fins de promoção na carreira, concessão de recursos para pesquisa, avaliação de instituições de ensino e pesquisa (DECLARAÇÃO..., 2013). As críticas à tirania e às limitações do FI avolumaram--se nos últimos anos, e não apenas em regiões com bons motivos para reagir ao predomínio dos periódicos em língua inglesa ou em áreas de conhecimento desfavorecidas por um indicador que privilegia aquelas caracterizadas por curta vida média de citações, as ciências da vida e exatas.5 5 - Outros argumentos contra o fator de impacto são listados na matéria recém-citada, que traz, aliás, boas indicações bibliográficas sobre o assunto (DECLARAÇÃO..., 2013). Nas ciências humanas, a durabilidade dos bons trabalhos e o ciclo de citações que recebem são muito mais extensos.

Foi das ciências biológicas e dos EUA que partiu a mais recente e firme crítica ao Fator de Impacto. Em dezembro de 2012, um grupo de cientistas presentes à reunião anual da The American Society for Cell Biology (ASCB), em São Francisco, Califórnia, elaborou o San Francisco Declaration on Research Assessment (DORA). Assinado por mais de 150 cientistas e 75 organizações acadêmicas, o documento lembra que o Journal Impact Factor, hoje calculado pela Thomson Reuters, foi criado para ajudar bibliotecários a identificar periódicos cuja aquisição valesse a pena, e não como medida de qualidade científica da pesquisa veiculada em artigos científicos. Além de enumerar as notórias deficiências dessa ferramenta bibliométrica, o DORA direciona recomendações contrárias a seu uso especificamente a agências de fomento, instituições acadêmicas, editores, indexadores e pesquisadores. A primeira frase do documento é impactante: "Há necessidade premente de se aperfeiçoarem os meios pelos quais os resultados da pesquisa científica são avaliados"6 6 - O documento está disponível em http://am.ascb.org/dora/. Nele, encontram-se também referências valiosas para os interessados em aprofundar a discussão. - afirmação que leva ao cerne dos desafios criados pela revolução em curso nas técnicas e estratégias de comunicação científica, a migração em massa dos periódicos para as edições digitais e para portais privados ou de acesso aberto, o aparecimento dos chamados megajournals e de numerosas métricas novas associadas às redes de difusão de informações e do conhecimento, a anos-luz de distância das técnicas disponíveis quando Garfield criou o Fator de Impacto. Quem compareceu ao evento organizado para celebrar os 15 anos de SciELO, em outubro de 2013, pôde testemunhar o fascinante magma de inovações, questões e desafios colocados hoje a todos os atores sociais implicados na produção, divulgação e avaliação da ciência.

O Dora teve grande repercussão. Em julho de 2013, três pesquisadores do Laboratório de Genômica Evolutiva e Biocomplexidade da Universidade Federal de São Paulo apresentaram evidências contra o uso "catastrófico" feito pela Capes do Fator de Impacto para qualificar periódicos da área biológica, "num país que tenta desesperadamente sair de uma condição científica e tecnológica periférica para situar-se entre os principais atores [players]" (FERREIRA: ANTONELLI; BRIONES, 2013). Em entrevista ao blog SciELO Perspectivas, Euan Adie (2013) afirmou: "a altimetria poderia ser uma alternativa ao uso do FI em áreas em que ele não é adequado (e há muitas delas)". Uma frase de Rafols e Wildson, que defenderam ideia análoga em The Guardian (2013), tem valor emblemático para os editores que se preocupam em não perder o bonde da história: "Para a ciência florescer e responder aos desafios societários, a chave é a diversidade".

Como HCS - Manguinhos vem lidando com a internacionalização

O SciELO tem sido agente decisivo da internacionalização dos periódicos brasileiros.7 7 - Noventa títulos de suas coleções de acesso aberto estão indexados em Web of Science e Scopus, ou seja, quase todos os periódicos brasileiros referidos no JCR. Sobre o impacto do SciELO, ver: MENEGHINI, 2003; PACKER et al., mai-ago. 1998; MENEGHINI; MUGNAINI; PACKER, 2006. Tornou-se protagonista no mundo do big publishing e ajuda a ciência do país a avantajar-se na big science. Ao estimular a vertente do acesso aberto, instaurou nova (e instável) correlação de forças com dois atores que dominam o mundo da comunicação científica, indexadores e publishers internacionais, a reforçar tendências hierarquizantes, concentradoras e privatizantes. Uma onda de fusões no ramo editorial deu origem a empresas gigantes, como a Elsevier, que têm avançado vorazmente sobre periódicos dos países emergentes, o Brasil entre eles, e que protagonizam verdadeira batalha comercial por esse tipo de mercadoria. São empresas com poder de arrancar preços elevados de universidades, instituições científicas e pesquisadores que necessitam das informações armazenadas nos periódicos. Recentemente, transformaram o acesso aberto a leitores de artigos em empreendimento muito lucrativo ao converter os artigos em mercadoria agora cara para os autores, subvertendo, dessa forma, o espírito libertário que está na origem do projeto Open Acess.8 8 - Ver a esse respeito Momen, 23.10.213. A expressão Open Access (OA) surgiu numa reunião da Open Society em Budapeste, em dezembro de 2001. Daí resultou a Budapest Open Access Initiative, disponível em: http://www.budapestopenaccessinitiative.org/boai-10-translations/portuguese. Esse documento foi seguido por duas iniciativas similares, as declarações de Bethesda e de Berlim, divulgadas em 2003 pelo Howard Hughes Medical Institute e pela Max Planck Society, respectivamente. Balanços interessantes das iniciativas de comunicação científica em regime de acesso aberto encontram-se em Hagemann, 14.2.2012; eCracking..., 17.1. 2012, p. D1. Sintoma grave dessa distorção é a tendência recente de pareceristas estrangeiros a cobrarem por seu trabalho.

A área de humanas sofre inexoravelmente os efeitos desse processo.

Como dissemos, o ingresso, em 2000, no portal SciELO teve impacto tremendo sobre HCS - Manguinhos9 9 - Uma primeira análise desse impacto encontra-se em BENCHIMOL et al. jan.-mar. 2007. , que, em 2006, passou de quadrimestral a trimestral, para atender ao aumento da oferta de artigos. Os ganhos em veiculação foram notáveis. Entre 2000 e 2006, o número de acessos aos trabalhos publicados cresceu 560,75 vezes. Entre 2007 e 2013, aumentou ainda quase nove vezes (de 702.617 para 6.786.195). O periódico passou a ser mais conhecido em outras regiões do país e tornaram-se mais frequentes as colaborações vindas do exterior. Sua inclusão, em 2006, no subconjunto de História da Medicina da PubMed/Medline, a maior base de dados bibliográficos de acesso gratuito da literatura médica, e o convite, em 2008, para integrar Arts & Humanities Citation Index, uma das bases bibliográficas da Thompson Reuters Corporation, representaram marcos importantes no trajeto rumo à desejada internacionalização da revista.

Se, por um lado, o SciELO aumentou a visibilidade das revistas incorporadas a seu acervo, por outro, colocou desafios novos a seus editores: rigor na manutenção da periodicidade; maior cuidado com a endogenia; submissão de originais on-line; sagacidade na escolha das palavras-chave e na qualidade dos resumos, tão importantes para a indexação dos artigos; processos de editoração mais complexos para dar conta das edições em papel e digitais; uso de ahead of print e de releases para antecipar e divulgar a publicação de trabalhos. Desafio importante é aprender a lidar com as ferramentas bibliométricas e cientométricas disponíveis no próprio portal SciELO, no âmbito de motores de busca como Google ou dos indexadores que dominam a cena do periodismo científico. Nesse terreno, ainda engatinham os editores, dificuldade provavelmente extensiva à maioria dos colegas de outros periódicos.

Fincar pé em outras regiões do Brasil, além do Sudeste, e internacionalizar a HCS - Manguinhos são metas que passaram a ser perseguidas, e muitos editores da área de humanas estão igualmente nisso empenhados.

Na era de acelerada globalização da comunicação científica, quando os periódicos precisam fazer parte da web, é essencial permitir aos pares estrangeiros o acesso à produção brasileira. Escolhemos o inglês, o "latim" da ciência num mundo acadêmico ainda etnocêntrico,10 10 - A esse respeito, ver Meneghini, Packer, 2007. conservando a língua portuguesa como meio de comunicação com os leitores nativos e com o vasto e importante mundo lusófono. As escolhas do segundo idioma variam, é claro, conforme as singularidades das redes de comunicação a que cada periódico está atrelado.

A partir de 2006, os editores de HCS - Manguinhos passaram, a cada edição, a verter cerca de cinco artigos do português ou espanhol para o inglês. Na edição impressa, os trabalhos continuam a circular apenas nos idiomas em que são submetidos, os três mencionados e o francês. A meta é atingir uma revista digital completamente bilíngue, mas isso tem um custo financeiro e operacional com que ainda não conseguimos arcar.

O SciELO prepara-se para atuar como publisher, articulando esforços e proporcionando aos periódicos, mediante serviços unificados, facilidades que potencializem sua capacidade de processamento e veiculação de artigos em língua estrangeira. É medida extremamente proveitosa, mas de complexa implementação, por razões operacionais e em virtude de características dos periódicos da área de humanas - a qualidade literária de seus textos científicos, sua extensão, a teia inevitável de referências, citações, fonte-, o que complica e encarece sua tradução, muito mais do que a de artigos científicos de áreas que adotam linguagem e apresentação mais sucintas e homogêneas.

A tradução, contudo, não é suficiente para internacionalizar a revista. A linguagem faz parte da cultura e se associa a um estilo de expressão. Autores de idioma espanhol ou português costumam escrever na primeira pessoa do plural e com abordagem analítica multifacetada, polifônica, quando não ambígua. Em inglês acadêmico, escreve-se em geral em primeira pessoa, enfatiza-se de preferência um argumento apenas, com claro princípio organizador do trabalho (CUETO, 2011).

Para nós, brasileiros, um estudo sobre o Brasil é de natureza geral, e o estudo de caso trata de uma cidade ou região, um evento ou processo localizado no tempo. Para o leitor estrangeiro, geral é o processo que tem ou teve lugar nos EUA ou na Europa, e o Brasil é um caso particular, pouco conhecido. Portanto, no artigo vertido, é importante estabelecer uma relação entre o objeto da pesquisa e o universo do leitor estrangeiro, fornecendo-lhe as informações contextuais aqui legitimamente consideradas sabidas. Cabe ainda lembrar que, na historiografia, as correntes atuais valorizam cada vez mais abordagens comparativas e enredamentos de atores, e quanto mais bem feita é a redução da escala de análise, mais longe o analista tem de buscar suas fontes.

Igualmente relevante à internacionalização de uma revista é mobilizar revisores estrangeiros para avaliar trabalhos produzidos localmente, de maneira a forçar a sintonia de seus autores com o estado internacional da arte e a elevar o reconhecimento do periódico fora do país, como veículo respeitável para colaboradores externos. Cabe lembrar que importantes instituições estrangeiras, na contracorrente da tendência à mercantilização da comunicação científica, têm pressionado seus quadros a publicar em periódicos de acesso aberto.

A internacionalização requer iniciativas no terreno da divulgação, inclusive no vasto mundo das redes sociais, pouco exploradas ainda pelos periódicos científicos brasileiros.

A experiência recém-adquirida com as redes sociais

A investida nesse território foi estimulada pelo SciELO, que, em agosto de 2012, em parceria com a Fiocruz e o Ibict, promoveu o seminário "Introdução ao uso de redes sociais na comunicação científica". Packer (2013) defendeu então o uso das redes como forma eficaz de marketing científico. O biólogo Atila Iamarino (2013), autor de um blog imperdível, o Rainha Vermelha (http://scienceblogs.com.br/rainha/), mostrou que o impacto pode ser avaliado através de outras métricas, além das citações, como comentários (blog), retweets (Twitter) e compartilhamentos (Facebook).

Em 6 de junho de 2013, HCS - Manguinhos inaugurou novas personas: um blog (www.revistahcsm.coc.fiocruz.br), uma página no Facebook (www.facebook.com/revistahcsm), e perfil no Twitter (www.twitter.com/revistahcsm), a princípio em português. Em fins de outubro, foram lançados em inglês também.

A cada edição da revista, artigos são destacados no blog através de releases, entrevistas com os autores ou notícias sobre a temática, o que às vezes leva a entrevistas com outros autores que abordem temas afins. Tal blog é alimentado continuamente com informações veiculadas em outros espaços de aparente interesse para os leitores da revista ou que tragam à baila, através de linkagens, conteúdos nela publicados. Temas candentes da conjuntura são objeto de matérias, entrevistas e notícias. Tudo o que é postado nas diversas seções do blog gera conteúdos mais reduzidos no Twitter e no Facebook, de forma quase automática - o "quase" se prende ao fato de muitas vezes ser preciso refabricar títulos, leads, imagens.

Fazendo uso da ferramenta Google Analytics e de métricas do Facebook e do SciELO, procura-se analisar os resultados obtidos em quatro meses no ar.11 11 - A experiência é nova para os editores, até quanto ao modo adequado de referenciar os dados apresentados a seguir. As páginas geradas no Google Analytics e Facebook só estão acessíveis aos editores da revista. Gerou-se, então, um relatório com as páginas baixadas e utilizadas, que ficarão disponíveis à consulta no blog da revista, em: http://issuu.com/158900/docs/relatorio_4_meses_2013.

O Google Analytics apresenta dados de visitação ao blog, com base em diversos parâmetros. Quantifica leitores de apenas uma visita e aqueles que retornam, que tendem a permanecer mais tempo e buscar maior número de páginas. Tais visitas "qualificadas" indicam conquista e manutenção de leitores. Essa ferramenta de monitoramento de tráfego permite ainda aferir tempo de duração das visitas, número de páginas acessadas, conteúdos mais vistos, origem geográfica e idiomas dos visitantes. Os mapas de distribuição das visitas constituem o melhor reflexo do duplo objetivo de internacionalizar e internar a revista para fora do Brasil e além do sudeste do país.

Esses e outros dados, combinados a métricas do Facebook, permitem compreender melhor quem é o público das novas faces de HCS - Manguinhos, que assuntos despertam seu interesse e que ações trazem mais leitores para as mídias sociais e, possível, ainda que não necessariamente, para os conteúdos veiculados pela revista em suas edições digitais.

O lançamento ocorreu numa sexta-feira à tarde. Numa linha horizontal exibida pelo Google Analytics, evolui a curva de acesos ao blog à medida que transcorrem os dias (RELATÓRIO, p. 4). Os picos na curva refletem, com muita sensibilidade, boas matérias postadas, quer sobre conteúdos da revista - entrevista, por exemplo, com autor de artigo sobre tema que seduz o público das redes -, quer sobre questão candente da conjuntura: os pronunciamentos do blog sobre as manifestações de rua ou sobre a controvertida regulamentação da profissão de historiador tiveram imediato efeito sobre o número de acessos.

Outra constatação de ordem geral: o blog é o concentrador de conteúdos, mas seus acessos costumam ser via Facebook. Conteúdos postados somente no blog ficam mais escondidos; por outro lado, visualizações no Facebook não se traduzem necessariamente em visitas ao blog. No espaço de quatro meses (7.6-6.10.2013), 58,41% do total de visitas ao blog provieram de Facebook, outros 7,70% de Facebook acessado por celular e 1,48% de Twitter, o que dá 67,59%. Visitantes que acessaram diretamente o blog, levados por propaganda ou por algum browser, perfizeram 32,41% do total de visitas.

Além de ser a principal via de acesso aos conteúdos postados, o Facebook tem grande efeito multiplicador quando a revista ou suas personas digitais passam a ser "curtidas" pelos navegantes, propagando-se assim pelas redes de amigos de cada um. É também nesse ambiente que temos a maior interação com os leitores, uma vez que aí podem comentar e compartilhar as postagens, ampliando o envolvimento com seus conteúdos e o potencial de propagação. No primeiro período de avaliação (7.6 a 6.7.2013), 685 pessoas curtiram a página da revista no Facebook. Tais "fãs" tinham uma rede de 305.206 "amigos", o potencial de alcance na mídia social (RELATÓRIO, p. 88). Nessa tabela/gráfico gerada pelo Facebook ("visão geral"), era possível visualizar o alcance de cada post junto a duas categorias de usuários: os "envolvidos", que curtiam ou compartilhavam, e os que "falavam sobre" o post. A categoria "alcance" é sempre maior, pois inclui usuários em cujos murais simplesmente aparecem os conteúdos do Facebook da revista porque ele próprio ou algum de seus amigos, em algum momento, curtiram, compartilharam ou comentaram posts. Em nova tabela gerada pelo Facebook (RELATÓRIO, p. 97-106), as três ações - curtir, compartilhar e comentar - aparecem na coluna "envolvimento" junto a outra ação - "clicar"-, o que, na maioria dos casos, implica o deslocamento do usuário do Facebook para o blog da revista, onde poderá ver ou ler a íntegra da matéria.

De acordo com a nova tabela (RELATÓRIO, p. 99-100), de junho a outubro, foram alcançadas 124.357 pessoas, das quais 5.350 curtiram, comentaram ou compartilharam, e 5.695 clicaram, chegando à publicação no blog. A página em que aparecem esses números aponta o desempenho de cada postagem e, portanto, os assuntos que despertaram mais interesse do público que acessou o Facebook de HCS - Manguinhos.

O exame do perfil dos que o curtiram (RELATÓRIO, p. 93-94) revela predominância feminina (59,9%), entre 25 e 44 anos, com larga supremacia (ainda) do Brasil, da cidade do Rio de Janeiro e do idioma português, mas com ocorrências em outros 20 países e 44 cidades brasileiras.

Em relação ao Twitter, foram 108 seguidores, isto é, pessoas que se inscreveram para receber toda a informação postada na plataforma.

Um dia antes da primeira ação no blog/Facebook/Twitter de HCS - Manguinhos (6 de junho), o portal da Fiocruz divulgou a notícia, imediatamente compartilhada no portal do Ministério da Saúde. O lançamento repercutiu em seguida no Jornal da Ciência, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (http://www.jornaldaciencia.org.br) e no portal da COC. Novas visitas foram atraídas às redes já no ar por anúncio enviado a todos os leitores e colaboradores cadastrados no banco de dados da revista.

No primeiro dia (RELATÓRIO, p. 4), o blog teve 175 visitas, de 131 "visitantes únicos" - viram e saíram - e 44 pessoas que formaram, então, o primeiro contingente de visitantes "qualificados": aqueles que retornariam e demorar-se-iam mais no exame dos conteúdos postados. Ao cabo de um mês, 6.444 navegantes visitaram o blog. Foram contabilizadas 8.442 visitas, o que significa que retornaram 1.998 navegantes. Visitas novas correspondem, portanto, a 76,3% do total, e as de retorno, a 23,7%.

As 8.442 visitas estão associadas a 14.781 visualizações de página, isto é, à média de 1,75 página por visitante, com duração média de 1min48seg. O visitante "qualificado" permaneceu em média 3min28seg, durante os quais examinou (sempre em média) 2,44 páginas.

O desafio consiste em fidelizar e multiplicar, com o passar do tempo, tais visitas qualificadas, sem dúvida um indicador do êxito da iniciativa de se levar uma revista científica às redes sociais.

Nos quatro meses de funcionamento do blog (7.6 a 6.10.2013), houve 20.287 visitas realizadas por 14.296 visitantes únicos e 5.987 "qualificados". A duração média das visitas oscilou - 1min48seg (mês 1), 2min29seg (mês 2), 2min:34seg (mês 3) -, perfazendo a média de 2min05seg de junho a outubro; a média de páginas visitadas nesse período foi 1,82. Contudo, considerando apenas os visitantes que retornaram ao blog, o incremento de tempo (sempre em média) foi de 3min28seg no mês 1 para 4min13seg no período todo, e o de páginas visitadas, de 2,44 para 2,68 (RELATÓRIO, p. 4, 67).

Buscaram-se parâmetros para avaliar esses números. O tempo médio das visitas ao SciELO Brasil, segundo o Google Analytics, é de 2,25 minutos, com duas páginas por visita, sabendo-se que 50% dos usuários faz mais de uma visita. Segundo informação fornecida por Abel Packer, coordenador do SciELO, em e-mail datado de 23.9.2013, não se tem notícia de estudo conclusivo sobre o tempo médio de permanência de internautas em websites de conteúdos científicos. Um dos trabalhos mais consistentes a esse respeito parece ser o de Chau Li e colaboradores (2010), da Microsoft Research, que investigaram o comportamento dos usuários da web, analisando mais de dez mil visitas a 205.873 páginas. As conclusões principais desse estudo são apresentadas, em linguagem mais acessível, em artigo de Nielsen (12.9.2011).

Os usuários, lê-se aí, em geral, percorrem as páginas da web rapidamente e leem apenas um quarto de cada texto, mas o tempo em que se demoram pode variar bastante conforme a qualidade da página e o interesse que suscita. O tempo médio de visita a uma página dura pouco menos de um minuto. A equipe de Chau Li verificou que 99% das páginas têm "efeito de idade negativo". Os usuários "gastam o tempo inicial numa impiedosa triagem de modo a abandonar o rebotalho o mais rápido possível. [...] Quando decidem que uma página é valiosa, podem permanecer um pouco nela". A probabilidade de saída é muito alta nos primeiros dez segundos. Só depois de cerca de 30 segundos, a probabilidade de permanecer na página se alonga, até "dois minutos ou mais, o que é uma eternidade na Web".

HCS - Manguinhos ingressou nas redes sociais usando o português. É natural, portanto, que 83,66% das visitas feitas ao blog, entre junho e outubro, tenham provindo do Brasil (RELATÓRIO, p. 68). Ainda assim, a iniciativa teve eco internacional, revelado pela participação de outros idiomas (ver, mês a mês, em RELATÓRIO, p. 5, 26, 47, 68). Os dados mostram uma rede expressiva e o potencial que podem vir a ter o blog e o Facebook recém-lançados em inglês, idioma que já perfazia 9,01% do total de acessos no período junho-outubro de 2013.

No mapa global de localização das 20.287 visitas ao blog, nesse período, o Brasil prepondera largamente (18.105), mas encontram-se "navegantes" em 73 outros países e na categoria não identificados (RELATÓRIO, p. 69-70).12 12 - No Relatório, listam-se apenas os 24 países com maior visitação e também os "não identificados" (categoria "not set"). Considerando os que aparecem com 50 visitas ou mais, a lista inclui, em ordem decrescente, EUA (361), Portugal (329), Espanha (198), Argentina (190), Chile (161), México (148), Peru (121), França (96), Colômbia (60), Reino Unido (56) e Alemanha (51), constando 119 visitas com localização não identificada. O último é o Senegal (oito visitas), figurando na lista também Moçambique (dez visitas). Observam-se variações nesse universo ao longo dos quatro meses de funcionamento do blog.

A singularidade de Portugal é ressaltada por mapa específico (RELATÓRIO, p. 15), em que se observa, a princípio, excelente percentual de retorno e considerável distribuição pelo país: registros em 11 regiões, com acessos mais intensos em quatro: Lisboa, Santarém, Braga e Coimbra. No período de junho a outubro, houve 329 visitas ao blog, com forte concentração na região de Lisboa (123), sendo de 52,89% a taxa de visitantes que retornaram (RELATÓRIO, p. 78).13 13 - Consta aí "taxa de rejeição" de 72,74%. Se os editores entenderam bem (as explicações são controversas e pouco claras), quanto mais assíduo é o leitor, maior pode ser a taxa de rejeição, uma vez que ele se mantém atualizado em relação aos conteúdos postados, podendo assim entrar no blog para ler apenas o último post e sair imediatamente depois, pois já viu os anteriores. A divulgação de conteúdos pelo Facebook poderia assim contribuir para uma taxa de rejeição alta. Nos quatro meses iniciais, registram-se duração de 1min47seg e 1,74 página visitada, em média. Navegantes de 36 cidades espanholas visitaram também o blog (RELATÓRIO, p. 79). O total de visitas caiu do primeiro para o segundo mês e chegou a 198 no período de quatro meses. Quanto ao percentual de retornos, a média para os quatro meses de funcionamento do blog foi de 25,76% (RELATÓRIO, p. 79).

Consideramos especialmente valioso o "enredamento" de quatro outros países: Estados Unidos, México, Peru e Argentina.

Tomando como critério o número médio de páginas visitadas, muitos navegantes estrangeiros tiveram, a princípio, desempenho superior ao dos brasileiros, sobressaindo, no primeiro mês, aqueles do México (2,72), Costa Rica (2,20), Argentina (2,12), Portugal (2,08), Peru (2,10) e Venezuela (duas). O número médio de páginas visitadas no Brasil foi de 1,74 (RELATÓRIO, p. 6-7). Nos quatro meses de funcionamento do blog (junho-outubro), a média relativa ao Brasil subiu para 1,83, e houve em média mais de duas páginas visitadas apenas no México (2,66), Argentina (2,15) e Suíça (2,04), ficando Portugal próximo a esse patamar, com 1,94 (RELATÓRIO, p. 69-70).

Quadro 1


Quadro 2


Reordenando o mapa global pela duração média das visitas, obtêm-se sequências diferentes, a cada mês. No período junho-outubro (RELATÓRIO, p. 71-72), a Grécia apresentou dois minutos e acima disso mantiveram-se Suíça (2:01), Senegal (2:08), Brasil (2:10), Argentina (2:11), Costa Rica (2:22), México (2:34), El Salvador (2:53), Venezuela (3:27), Hungria (4:06), Israel (4:55), Angola, onde dois usuários ficaram em média 6:02 em duas páginas, e Benim, onde um usuário demorou-se 12:21 em três páginas do blog de HCS - Manguinhos.

A distribuição das visitas ao blog na América do Sul, no período de junho a outubro de 2013 (RELATÓRIO, p. 77), mostra maior concentração em quatro países - Argentina, Chile, Peru e Colômbia -, perfazendo 2,85% do total de visitas, com esmagadora supremacia do Brasil (96,87% do total). No mapa global (RELATÓRIO, p. 69-70), a participação brasileira é de 89,25%.

A distribuição nacional das visitas mostra, como era de se esperar, prevalência do sudeste: 69,01% do total no período junho-outubro. Houve mais de 100 visitas nesse mesmo período em 16 estados: Rio de Janeiro (7.136), São Paulo (2.854), Minas Gerais (2.265), Rio Grande do Sul (953), Bahia (807), Paraná (781), Distrito Federal (560), Santa Catarina (519), Ceará (369), Pernambuco (300), Espírito Santo (240), Paraíba (214), Goiás (182), Pará (149), Rio Grande do Norte (142) e Amazonas (134). A distribuição das visitas por cidades (RELATÓRIO, p. 75-76) mostra que a rede neuronal da revista tem ramificações mais amplas do que se imaginava: à primeira vista, se se consideram os quatro meses de funcionamento do blog, a lista inclui 420 cidades (RELATÓRIO, p. 75-76), mas número expressivo figura com tempo nulo de visitação, o que sugere a ação de algum mecanismo de rastreamento de novos sites. Excluindo-se esses casos, em quatro meses de funcionamento, o blog foi acessado em 197 cidades.

O dado talvez mais significativo do ponto de vista estratégico provém do cruzamento das postagens com maior visitação no blog (RELATÓRIO, p. 23, 44, 65, 86) e no Facebook (RELATÓRIO, p. 88, 96-105), com os indicadores de acessos a artigos fornecidos por SciELO Brazil. Cabe observar que, antes de finalizarmos o presente estudo, SciELO Brazil inaugurou novos indicadores altimétricos que permitem visualizar, para cada artigo publicado, sua propagação via diferentes redes sociais (RELATÓRIO, p. 110-112).

Tudo indica que os conteúdos da revista podem ser divulgados de forma eficaz através de três recursos até agora experimentados: publicação nas redes sociais de entrevistas com autores, de matérias sobre seus artigos ou ainda de matérias sobre temas da conjuntura que estimulem acessos a artigos recém-lançados ou há mais tempo publicados, quer por meio de links associados a cada matéria postada, quer pela aba do blog que remete à página SciELO em que se acham as edições da revista desde 1994.

Os casos mais bem sucedidos traduzem-se em picos que parecem ser passageiros, em larga medida dependentes, por um lado, do interesse despertado pelo tema em pauta entre os usuários das redes sociais e, por outro, do prestígio ou da extensão da rede de cada autor. Bom exemplo disso é a entrevista14 14 - Disponível em: http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/guerra-as-drogas-a-que-custo/ de Paul Gootenberg (2009), autor de Andean cocaine: the making of a global drug. A entrevista foi motivada pela publicação em HCS - Manguinhos de artigo de Ivan Farias Barreto (2013), O uso da folha de coca em comunidades tradicionais. Gootenberg publicou o post com a entrevista em sua página pessoal do Facebook, o que redundou num boom momentâneo de acessos em vários países (353 visualizações da entrevista em português e 126 em inglês).

Boas matérias postadas no blog geram picos de acesso a artigos publicados. Exemplo eloquente é "Os bordados de João Cândido", de José Murilo de Carvalho (1995), retirado do limbo quando o autor foi chamado a se pronunciar, em julho de 2013, sobre os movimentos sociais que sacudiam o país. Essa foi a postagem que gerou maior número de acessos ao blog, 3.470, e muitos leitores da entrevista de José Murilo buscaram o artigo no SciELO, cujos acessos saltaram de 13 para 320 naquele mês (RELATÓRIO, p. 109).

Lembramos que, à época da publicação do artigo, 1995, a divulgação se fazia apenas por releases genéricos sobre cada edição da revista, enviados aos cadernos de resenhas de jornais, que quase sempre os ignoravam (como ignoravam, aliás, qualquer outro periódico científico).

Os dados coligidos fornecem outras evidências do poder multiplicador de acessos a artigos que as redes sociais oferecem (RELATÓRIO, p. 107-109). Artigo de Rolim e Sá (2013) sobre a disseminação do germanismo através de periódicos da Bayer, publicado na edição de jan./mar. de 2013, foi objeto de post no Facebook em 7 de julho de 2013. Os 32 acessos obtidos em maio saltaram para 62 em junho. Artigo de Ferreira (2013) sobre medicina tradicional indígena, no mesmo número, teve 89 acessos quando divulgado em post no Facebook, obtendo 188 acessos em junho. Necrológico do historiador Ciro Flamarion Cardoso (2006), postado no blog em 3.7.2013, repercutiu nos acessos a seu artigo publicado em 2006, que subiram de 47 para 104.

Os picos momentâneos de acessos ao blog, Facebook e Twitter, e, por consequência, a artigos, enchem os olhos dos editores, mas o esforço de ingressar nas redes sociais e ali manter o pique não terá valido a pena se não se traduzir num movimento médio ascendente nos acessos a artigos científicos e nas citações que venham a obter de outros produtores de conhecimento em suas áreas de atuação. No horizonte de expectativas em relação aos braços online de HCS - Manguinhos, especialmente em sua versão em inglês, sobressai, como apontado, o aumento do impacto dos artigos nos indexadores internacionais, pois um dos ganhos esperados é sua maior e mais rápida visibilidade para pesquisadores do Brasil e do exterior, elevando, assim, a probabilidade de que sejam usados, citados e, portanto, indexados.

Os dados até agora coletados parecem indicar que esse processo está em curso, mas é cedo para afirmar em que medida isso está acontecendo e que consequências terá para a internacionalização da revista.

Conclusões

Os integrantes da equipe editorial de HCS - Manguinhos tinham pouca vivência nas redes sociais e, assim, sua dinâmica célere e avassaladora os surpreendeu e impôs-lhes rotinas bem diferentes daquelas com que estavam habituados. A inflação de informações recebidas e postadas nas redes sociais interfere nas demandas de trabalho da revista científica. As competências são outras, os custos financeiros e a força de trabalho suplementar não são pequenos, e é indispensável manter um ritmo constante de atualizações, para que as novas personas da revista não murchem e tenham efeito contraproducente.

Blog, Facebook e Twiter foram lançados justamente quando eclodiam os movimentos sociais que eletrizaram a sociedade brasileira. Não tardaram os próprios a perceber que as redes sociais os atraem a discussões e controvérsias que não dizem respeito estritamente aos conteúdos divulgados pelo periódico científico, exigindo análise mais ampla do tempo presente e tornando-os mais sensíveis a ativismos não acadêmicos.

Reiterando, os conteúdos postados nas redes sociais, quando não dizem respeito a artigos publicados, são com frequência "linkados" a artigos recentes ou antigos, de maneira que as controvérsias e temas da atualidade alavanquem acessos às produções acadêmicas da revista. Essa operação, no longo prazo, não é, porém, tão simples quanto sugerem estas linhas. As edições da revista envolvem temporalidades bem reguladas, a recepção, análise, preparação e publicação de textos que, por sua vez, são o produto de laboriosas e lentas elaborações intelectuais sobre objetos de pesquisa situados em tempos passados, observados sob o prisma da longa duração ou, mais frequentemente, das conjunturas históricas. As redes sociais lidam com a espuma efêmera do dia, com a sucessão caótica dos fatos cotidianos. A conexão entre os eventos que elas impõem e os frutos já amadurecidos da pesquisa historiográfica é operação muitas vezes forçada, arbitrária. É possível que tal conexão venha a contribuir para que as comunidades de pesquisadores a que HCS - Manguinhos está atrelada incorporem com mais vigor aquela decantada máxima da Escola dos Annales, de que se deve examinar o passado à luz dos problemas e questões colocados pelo tempo presente. Se isso ocorrer, o esforço terá valido a pena.

Os sucessos muitas vezes inesperados das postagens no blog, Facebook e Twitter inevitavelmente enfeitiçam os editores, levando-os a buscar continuamente materiais que possam reacender esses brilhos efêmeros. Nisso reside o lado mais prazeroso da empreitada e também o mais arriscado, pois pode-se perder de vista o escopo científico, que deve continuar a nortear as ações nas redes sociais.

As novas personas do periódico nas redes sociais atraíram público muito mais vasto e diversificado do que aquele que efetivamente lê os trabalhos da revista e os utiliza como matéria-prima para novas produções analíticas ou docentes. Em que medida essa gente nova que lê e curte HCS - Manguinhos redundará em melhor desempenho acadêmico da revista? Não se sabe ainda.

A análise aqui esboçada baseia-se em webmétricas produzidas com critérios pouquíssimos claros e transparentes, por organizações mundiais tão onipresentes quanto manipuladoras e inacessíveis à crítica interna que toda "fonte" deve receber. Os dados extraídos desses sistemas, ainda canhestramente, parecem indicar que se podem divulgar de forma eficaz os conteúdos acadêmicos da revista através das redes sociais, e que isso poderá ter efeito expressivo sobre os índices de citação dos artigos, a mais longo prazo e por vias que essas métricas não permitem enxergar.

As novas sinergias decorrentes do ingresso nas redes sociais reforçam as edições digitais da revista em detrimento daquelas em papel. A problemática dos custos traz à baila um dilema já diversas vezes debatido: eliminar ou não as edições em papel que muitas bibliotecas já não querem, pouquíssimos leitores subscrevem e que não acham comprador em livraria alguma. A menos que haja drástica reversão na conjuntura econômica do país, que lhes "tire o tapete" debaixo dos pés, os editores de HCS - Manguinhos não farão isso: primeiro porque é ilusão supor que, neste vasto mundo, todos tenham fácil acesso à internet; e, quando falta luz, ela se extingue em qualquer lugar; como bem argumentou Millôr Fernandes (s.d.), a revista em papel não tem circuitos elétricos, não necessita ser conectada a nada. É fácil de usar... basta abri-la!15 15 - O brilhante texto de Millôr foi replicado e plagiado em diversos lugares do mundo. E há de durar quase uma eternidade nas prateleiras das bibliotecas, ao passo que as tecnologias informáticas caducam a cada três meses. Ainda há muitos que preferem revistas sólidas e cheirosas; mesmo nas novas gerações, há espíritos que fogem ao comportamento de massa; por último, embora não menos importante, a revista em papel ainda é muito mais bonita!

Recebido em: 05.11.2013.

Aprovado em: 10.12.2013.

Jaime L. Benchimol é pesquisador titular da Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, professor de seu Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde e editor científico de História, Ciências Saúde - Manguinhos.

Roberta C. Cerqueira é mestre em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e editora executiva da revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos, publicação editada pela Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz.

Camilo Papi é produtor editorial com especialização em "A produção do livro: do autor ao leitor" pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e integra a equipe da revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos, publicação editada pela Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz.

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  • 1
    - Desdobramento de "Desafios enfrentados pelos editores da área de humanidades - algumas reflexões e experiências", palestra apresentada por Jaime L. Benchimol na conferência de comemoração dos 15 anos do SciELO, realizada entre os dias 22 e 25 de outubro de 2013 em São Paulo.
  • 2
    - A literatura é abundante, mas uma boa introdução ao assunto encontra-se em Lima, et al., 2005.
  • 3
    - O JCR é um dos serviços oferecidos pela Thomson Reuters, empresa que atua em diversas áreas da informação e do conhecimento, fruto da união da Thomson Scientific (antigo ISI) e da agência de notícias Reuters. Para mais informações, ver
    http://thomsonreuters.com/; Carta... (2009); Raupp, 17.10.2010.
  • 4
    -Lea Velho (2011); Davyt, Velho (2000); Rogério Meneghini (2012; 2012), Rogério Meneghini, Abel Packer e Lilian Nassi-Calo (2008) e ainda Rogério Mugnaini (2006) têm reflexões mais bem fundamentadas a respeito do periodismo científico no Brasil e da internacionalização da ciência brasileira.
  • 5
    - Outros argumentos contra o fator de impacto são listados na matéria recém-citada, que traz, aliás, boas indicações bibliográficas sobre o assunto (DECLARAÇÃO..., 2013).
  • 6
    - O documento está disponível em
    http://am.ascb.org/dora/. Nele, encontram-se também referências valiosas para os interessados em aprofundar a discussão.
  • 7
    - Noventa títulos de suas coleções de acesso aberto estão indexados em Web of Science e Scopus, ou seja, quase todos os periódicos brasileiros referidos no JCR. Sobre o impacto do SciELO, ver: MENEGHINI, 2003; PACKER et al., mai-ago. 1998; MENEGHINI; MUGNAINI; PACKER, 2006.
  • 8
    - Ver a esse respeito Momen, 23.10.213. A expressão Open Access (OA) surgiu numa reunião da Open Society em Budapeste, em dezembro de 2001. Daí resultou a
    Budapest Open Access Initiative, disponível em:
    http://www.budapestopenaccessinitiative.org/boai-10-translations/portuguese. Esse documento foi seguido por duas iniciativas similares, as declarações de Bethesda e de Berlim, divulgadas em 2003 pelo Howard Hughes Medical Institute e pela Max Planck Society, respectivamente. Balanços interessantes das iniciativas de comunicação científica em regime de acesso aberto encontram-se em Hagemann, 14.2.2012; eCracking..., 17.1. 2012, p. D1.
  • 9
    - Uma primeira análise desse impacto encontra-se em BENCHIMOL et al. jan.-mar. 2007.
  • 10
    - A esse respeito, ver Meneghini, Packer, 2007.
  • 11
    - A experiência é nova para os editores, até quanto ao modo adequado de referenciar os dados apresentados a seguir. As páginas geradas no Google Analytics e Facebook só estão acessíveis aos editores da revista. Gerou-se, então, um relatório com as páginas baixadas e utilizadas, que ficarão disponíveis à consulta no
    blog da revista, em:
  • 12
    - No Relatório, listam-se apenas os 24 países com maior visitação e também os "não identificados" (categoria "not set").
  • 13
    - Consta aí "taxa de rejeição" de 72,74%. Se os editores entenderam bem (as explicações são controversas e pouco claras), quanto mais assíduo é o leitor, maior pode ser a taxa de rejeição, uma vez que ele se mantém atualizado em relação aos conteúdos postados, podendo assim entrar no
    blog para ler apenas o último post e sair imediatamente depois, pois já viu os anteriores. A divulgação de conteúdos pelo Facebook poderia assim contribuir para uma taxa de rejeição alta.
  • 14
    - Disponível em:
  • 15
    - O brilhante texto de Millôr foi replicado e plagiado em diversos lugares do mundo.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Jun 2014
    • Data do Fascículo
      Jun 2014

    Histórico

    • Recebido
      05 Nov 2013
    • Aceito
      10 Dez 2013
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