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Editorial

Editorial

É inegável que a produção de pesquisas na área educacional vem apresentando um crescimento vertiginoso nos últimos anos, identificado não apenas pelo grande aumento de trabalhos publicados como, também, pelo ritmo dessa produção, que se expressa num tempo cada vez mais curto dentro do qual os estudos devem ser produzidos.

Se este fato pode ser visto como algo promissor, de vez que explicita um desenvolvimento mais visível e certamente significativo da área, não deixa contudo de despertar preocupação, na medida em que a rapidez que marca esse processo dificulta e, mesmo, põe em risco a possibilidade de os resultados alcançados serem incorporados às novas pesquisas.

Um dos desafios que ora se impõe é, portanto, o de saber de que forma lidar com essa produção e com que instrumentos contar para, no mesmo ritmo, acompanhar e também dialogar com os seus resultados, com vistas a identificar o que aí seja relevante.

As alternativas naturalmente são várias, mas abraçar esse desafio significa admitir de modo irrecusável a importância dos periódicos, já que uma de suas funções precípuas é a de fazer circular, com rapidez, na área a que pertence, os conhecimentos ainda em processo de produção. No entanto, não basta que as revistas cuidem de publicar artigos. É preciso também que imprimam certa ordenação a esse trabalho, de tal sorte que o risco de fragmentação e atomização das pesquisas seja sempre menor.

É âmbito desse trabalho que EDUCAÇÃO E PESQUISA tem procurado marcar a sua contribuição. De um lado, por meio da organização da seção EM FOCO, que nos últimos números tem buscado reunir, em torno de um tema, artigos que apresentem resultados de pesquisa. No presente número, a seção organizada por Marilia Sposito versa sobre assunto no qual ela vem se especializando – Violência e escola –, um dos temas mais candentes nos debates educacionais das últimas décadas, porém ainda carente de estudos mais sistemáticos. Nesse trabalho de organização, ela contou com a colaboração de Carla Araújo, Luíza Camacho e José Vicente Tavares, cujas pesquisas foram realizadas em diferentes estados brasileiros e com populações de diferentes segmentos sociais.

De outro lado, EDUCAÇÃO E PESQUISA tem buscado captar trabalhos que tenham efetivado balanços da produção acadêmica, quer sejam os que se propõem a análises mais abrangentes, quer sejam os de caráter mais restrito, definidos a partir de recortes temporais e/ou temáticos mais delimitados. São estudos como esses que, ao apresentarem uma visão de conjunto sobre espectros mais ou menos largos da produção acadêmica, cumprem o importante papel de ajudar a alavancar projetos e a favorecer a interlocução que cada pesquisador precisa estabelecer com sua comunidade de referência.

Neste número, em particular, EDUCAÇÃO E PESQUISA oferece aos seus leitores três trabalhos dessa natureza, dois deles referidos à seção temática. O primeiro, de autoria de Marilia Sposito, apresenta um balanço da pesquisa sobre as relações entre violência e escola no Brasil após 1980, e que, segundo ela afirma na Apresentação, "fica enriquecido com as contribuições de Eric Débarbieux, em sua síntese sobre a produção do conhecimento sobre o tema na França". Este artigo, publicado originalmente na Revue Française de Pédagogie vem apresentado na seção Tradução. O terceiro texto, sobre tema diverso, é uma contribuição de Fúlvia Rosemberg, que examina a produção brasileira contemporânea sobre educação e gênero (ou mulheres).

Ao lado desses trabalhos figuram ainda neste número outras três contribuições relevantes, vindas de uma pesquisadora estrangeira e de três brasileiras.

Elsie Rockwell, pesquisadora mexicana já bastante conhecida no Brasil por seus estudos e reflexões sobre o trabalho etnográfico, contribui agora com um artigo no qual analisa, a partir de conceitos oferecidos por Roger Chartier, as práticas de leitura de uma professora de escola rural, por ela observada em 1970. Trata-se de uma proposição de conceitos para o estudo dos livros didáticos.

Joana Bahia, antropóloga da Universidade do Rio de Janeiro, traz em seu texto um tema bastante original: o significado da evasão escolar na vida de uma comunidade de produtores rurais descendentes de pomeranos, fortemente marcados pela religiosidade luterana; enquanto Telma Ferraz Leal e Patrícia Santos da Luz, vinculadas à Universidade de Pernambuco, dedicam-se a analisar as atividades e o processo que conduziu um grupo de crianças a produzir, em duplas, textos narrativos.

Finalmente, é importante dizer que a realização deste trabalho não teria sido possível não fosse a colaboração de várias colegas e profissionais que, sempre muito prontos, nos deram o seu inestimável apoio. A Comissão Editorial agradece, em especial, a Maria Izabel Galvão Pereira, Isabel Gretel Eres Fernandes e Marcelo P. Silva, pelos trabalhos de versão e revisão em língua estrangeira, e a Marilia Sposito pela organização da seção EM FOCO.

Belmira Oliveira Bueno

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Nov 2001
  • Data do Fascículo
    Jun 2001
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