Discute-se o conceito de cultura em relação à microcultura do grupo de brinquedo. Concebe-se a criança como agente de criação e transmissão de cultura e o grupo de brinquedo como espaço de informação onde esses processos ocorrem. Essa concepção baseia-se no reconhecimento da espécie humana como biologicamente sócio-cultural e na pressuposição de adaptações precoces para essa especificidade. Episódios de atividade lúdica livre de crianças de 10 a 60 meses são analisados para detectar a ocorrência de criação, elaboração e transmissão de conteúdos culturais na interação criança-criança, ilustrando: (1) recuperação da cultura do ambiente social imediato e exploração de novas possibilidades de uso desses recursos; (2) criação de rituais lúdicos novos que podem tornar-se parte da microcultura do grupo; (3) aculturação, ou seja, assimilação de aspectos da microcultura do grupo. Os dados são interpretados como evidências da pré-adaptação humana para a vida sócio-cultural.
Interação social; Cultura da brincadeira; Ludicidade