Nos primeiros anos da escola primária, as crianças parecem não ter muita consciência dos morfemas. Neste estudo, o paradigma de sensibilização (priming) foi usado para tentar detectar sinais precoces da representação morfológica de radicais numa tarefa de escrita apresentada a crianças portuguesas (N = 396; com idades entre 6 e 9 anos). Os estímulos antecedentes (primes) compartilhavam o radical com os alvos e continham vogais tônicas bem articuladas; os radicais das palavras alvo continham vogais scwha (indistintas) átonas, que tipicamente resultam em dificuldades ortográficas. Se o antecedente se mostrar efetivo, a presença de vogais bem articuladas nos estímulos antecedentes deverá resultar na melhoria da ortografia das vogais schwa nas palavras alvo. Os antecedentes foram apresentados em duas condições: forma oral apenas e forma oral mais escrita. A eficácia da sensibilização (priming) foi avaliada pela comparação com uma condição em que as crianças não eram expostas aos antecedentes (no-priming). Observou-se uma interação significativa entre os efeitos de sensibilização e a série escolar. Não foram detectados efeitos de sensibilização em crianças de 6 e 7 anos; a sensibilização oral e escrita produziu os maiores índices de uso da vogal correta em crianças de 8 e 9 anos; a sensibilização apenas oral foi efetiva na melhoria do uso das vogais apenas em crianças de 9 anos. Portanto, as crianças mais velhas utilizaram a informação morfológica sob condições de sensibilização, mas não há evidência para sugerir que as crianças mais novas o tenham feito.
priming morfológico; escrita de radicais; morfologia; ortografia