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Editorial

Editorial

Para nós, do Setor de Educação, o tempo é de expectativa.

O momento culminante de um processo editorial exemplar, caracterizado pela ética, pela pluralidade e pelo compromisso com as questões do Setor e da educação brasileira, é também o marco inicial de uma nova gestão, cujo programa foi referendado pelo voto da comunidade setorial.

É um tempo de expectativa, porque as discussões que transcorreram desde o período da campanha até o presente momento, indicam que o Setor atingiu um grau de maturidade tal que lhe permite, a partir da sua autocrítica, a preposição de um programa de ação audacioso, comprometido radicalmente com a transformação, que só é possível, para além do fácil discurso sobre o coletivo, pela práxis conjunta, que exige, ao mesmo tempo, amadurecimento das consciências e mudanças das circunstâncias.

É preciso compreender, contudo, que esse novo momento, onde antigas divergências ideológicas são substituídas por um projeto coletivo que articula diferenças em torno da meta comum do fortalecimento do Setor, não nasce agora; pelo contrário, ele resulta dos esforços que a comunidade universitária tem feito desde os anos 80 pela defesa da escola pública, de qualidade e pela democratização da Universidade.

Neste sentido, temos clareza que este momento é resultado histórico do trabalho que vem sendo desenvolvido pela gestão que hoje se encerra e pelas que a antecederam, quer por afirmação, quer por contradição, através de um processo nem sempre fácil, perpassado pelo confronto do povo que quer nascer, enquanto as velhas estruturas teimam em permanecer.

Muitas ações desenvolvidas na gestão anterior, com seriedade e persistência, permitiram o nascimento da nova proposta, fruto da discussão ampla com toda a comunidade setorial.

O processo de planejamento e gestão democrático iniciado, as discussões sobre a qualidade da formação do educador que se intensificaram, permitiram o início dos estudos sobre o novo currículo de Pedagogia e sobre a nova proposta pedagógica das licenciaturas, tarefas que deveremos continuar.

O Setor, porém, teve claro, neste percurso, que estas propostas pouco avançarão se as formas de organização pedagógica e administrativa geradas pelo governo autoritário não forem superadas.

Estas formas, que têm por princípio a fragmentação expressa na departamentalização, por estratégia o privilegiamento do burocrático sobre as questões pedagógicas substantivas e por proposta o rompimento da competência pelo isolamento dos profissionais e pelo esvaziamento das tarefas, precisam ser radicalmente superadas.

Com esta convicção, a nova gestão assume respaldada no entendimento amadurecido através de amplas discussões que têm se processado desde a campanha, e sido intensificadas após a eleição, de que é preciso reorganizar pedagógica e administrativamente o Setor.

O ponto de partida para a nova forma de organização será sempre a dimensão substantiva: a proposta curricular para o Curso de Pedagogia e para as Licenicaturas.

A partir dela, estabelecer-se-á uma Administração Setorial que reestabeleça a unidade entre as tarefas pedagógicas e as administrativas, través de uma gestão efetivamente colegiada para as tarefas comuns e com uma nova modalidade de organização dos professores e técnicos administrativos, que ultrapassem os limites formais de departamentalização, sacralizada pelas rampas de concreto que impõe limites não só ao espaço físico, mas principalmente à articulação dos trabalhos e dos profissionais.

Romper com estas barreiras, a partir da nova proposta pedagógica, é fundamental para que se resgate o sentido das tarefas substantivas e o sentido de nossa competência, em nome do fortalecimento do Setor.

O Setor de Educação, neste momento, tem clareza da importância do seu papel junto à Universidade e à Sociedade.

Integrado por profissionais de reconhecido valor nos cenários nacional, regional e interno à Universidade, tem se destacado pela intransigente defesa da escola pública; pela articulação da escola ao mundo do trabalho reconhecendo que a educação se dá na práxis; pela busca da produção de conhecimento pedagógico socialmente relevante; pela divulgação; pela articulação aos movimentos sociais e pela formação de quadros competentes.

É este Setor, que assume como pressuposto inegociável a existência de um saber especificamente pedagógico, que orienta a transformação do saber científico em saber a escola, o que define o seu estatuto epistemológico e determina a sua função, que tem clareza:

- da necessidade inadiável da articulação com as áreas de conteúdo, tendo em vista a formação do educador, fundada no princípio de que a todo conteúdo corresponde uma forma;

- da urgência da superação do tratamento fragmentado dado ao conhecimento através de ações interdisciplinares;

- da necessidade de articulação com todos os Setores da Universidade, tendo em vista os processos pedagógicos que se desenvolvem no seu interior tendo em vista:

- a formação de recursos humanos para todas as áreas a partir do trabalho como princípio educativo;

- a formação permanente de todos os seus profissionais através dos processos pedagógicos presentes nos processos de trabalho que caracterizam nossa prática;

- da necessidade da intensificação das relações com a Administração Estadual e Municipal de Educação, com as escolas e com os movimentos sociais, espaços privilegiados de produção coletiva do saber pedagógico através do ensino, da pesquisa e da extensão;

- da necessidade de criação de condições dignas de trabalho e de educação permanente para professores, técnicos-administrativos e estudantes;

- da relevância do movimento estudantil como espaço da formação da cidadania;

- da necessidade da extensão das atividades de qualificação profissional através da expansão da pós-graduação em nível de especialização, mestrado e doutorado.

Fortalecer o Setor, portanto, através da construção da sua identidade pela definição de sua natureza e de sua natureza e de suas funções sociais, é o objetivo que nos unifica.

Construir a Universidade democrática para a sociedade democrática, continua, teimosamente, sendo a nossa utopia.

É tempo de expectativa, é tempo de esperança; é preciso acreditar que, por sobre a crise, é possível vencer as dificuldades e CONSTRUIR, um Setor cada vez mais forte, unificado, competente, e compromissado com a qualidade da Escola Pública.

Esperança que não é ingênua porque fundada no quixotismo das ações isoladas, mas esperança concreta porque historicamente construída nos momentos de resistência, respaldada em um projeto coletivo que expressa a síntese do amadurecimento do Setor, que torna possível o nascimento do novo.

E, se é possível avançar no Setor, o será na Universidade, e na Sociedade. É só preciso manter acessa a chama da utopia, que será, certamente, a concretização do sonho sonhado e vivido junto.

Acácia Zeneida Kuenzer

Diretora do Setor de Educação

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 1994
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