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Igreja e educação feminina (1859-1919) - uma face do conservadorismo

Igreja e educação feminina (1859-1919) – Uma face do conservadorismo* * Ivan A. Manoel. Igreja e educação feminina (1859-1919). Uma face do conservadorismo. São Paulo: Ed. da Unesp, 1996.

Edson do Carmo Inforsato** * Ivan A. Manoel. Igreja e educação feminina (1859-1919). Uma face do conservadorismo. São Paulo: Ed. da Unesp, 1996.

Partindo de uma indagação que busca as ligações entre o conservadorismo da sociedade brasileira e a atuação da Igreja católica, Ivan Manoel, professor da Unesp de Bauru, elaborou um estudo cujos resultados estão exibidos no livro Igreja e educação feminina. O autor aborda o período que vai de 1859 até o ano de 1919. A delimitação da primeira data (1859) deve-se ao fato de marcar o início da educação católica sistemática direcionada ao público feminino. A da segunda ao fato de assinalar o auge da expansão da rede de ensino católico no país e, ainda, ao término da atuação da Madre Maria Teodora Voiron, figura exponencial no fortalecimento e na manutenção do ensino católico feminino no Brasil. Particularmente em relação a essa figura, o livro mostra, por intermédio de relatos biográficos, a força da crença no chamado providencialismo que animava essa madre superiora. Conduzindo a Congregação das Irmãs de São José de Chamberry – de origem francesa – até o ano de 1925, ano de sua morte, ela esteve desde 1859 à frente do Colégio Nossa Senhora do Patrocínio, em Itu, local onde o autor fixou sua base de estudos para a busca da maioria dos dados documentais na realização de seu trabalho.

O leitor pode estar perguntando se o fato de mostrar um período de atuação educacional católica num segmento da sociedade pode revelar o conservadorismo da sociedade brasileira, como o autor pretendia. Lendo o livro percebemos que a delimitação do estudo feito por Ivan Manoel refere-se a uma época em que as bases da chamada modernidade estavam implantadas no continente europeu e suas influências já estavam presentes aqui por estas plagas. E mais: o autor mostra que elas eram queridas pela oligarquia brasileira na medida em que significavam avanços na produtividade, mas eram rechaçadas na medida em que, no bojo das transformações do sistema produtivo, tais influências significavam ampliação da liberdade, idéias de igualdade e, principalmente, a profissionalização feminina.

Abordando, então, as resistências que a oligarquia paulista oferecia às transformações no papel da mulher na sociedade, especialmente a mulher oriunda da própria oligarquia, o professor Ivan fundamenta seu trabalho mostrando que o caminho trilhado por essa elite levou-a a estabelecer alianças com a Igreja católica, outorgando-lhe o direito de educar as moças segundo a tradição estrita da cúria romana. É notável o trabalho do autor nos relatos que mostram a construção do projeto educacional católico para o público feminino.

Partindo, então, dessa premissa, o autor constrói seu texto iniciando-o com um discurso proferido por uma das alunas do colégio de Itu, no qual percebe-se claramente a manifestação da ideologia conservadora que as elites queriam preservar.

Daí em diante o texto é desenvolvido para mostrar o elo de ligação entre o tradicionalismo da Igreja católica e o conservadorismo da oligarquia brasileira. Assim, ao longo dos cinco capítulos que constituem o livro, são abordados temas que nos falam, entre outras coisas: das ações engendradas pelas elites no século XIX para a acomodação em relação às influências da revolução burguesa; das principais idéias do Iluminismo e as conseqüências das tentativas de sua difusão, sobretudo nas instituições educacionais; do movimento católico denominado ultramontano, que alicerçou a estruturação dos colégios católicos no Brasil; da ambigüidade de setores que professavam o liberalismo ao mesmo tempo em que apoiavam concretamente os colégios conservadores católicos; das características principais do Ratio Studiorum, conjunto de regras que sustentava pedagogicamente as atividades nos colégios de freiras; da vinculação cidadania–catolicidade, segundo a vertente da Igreja tradicionalista etc.

Se o livro do professor Ivan centra a atenção nas iniciativas de cunho tradicionalista da Igreja, nem por isso deixa de registrar fatos que mostram resistências que setores da própria Igreja ofereciam às práticas educacionais católicas, destacando-se entre elas as reações dos padres pombalinos, que eram aqueles padres que estavam afinados com a reforma do marquês de Pombal. Mesmo com essas resistências, percebe-se a fragilidade dos movimentos emancipadores no Brasil, fato, aliás, que o autor coloca logo no início de seu trabalho, ao dizer que no "Brasil a implantação do projeto liberal, por não representar um momento decisivo da luta burguesa para superar o mundo aristocrático e rural, (...) não provocou exclusões e eliminações, mas cooptações e inclusões".

O livro de Ivan Manoel não só é instrutivo como ilustração da defesa de uma tese, posto que não perde em todo o seu desenvolvimento a busca de seu propósito, mas é instrutivo também como documento que explana uma faceta importante de nossa história da educação. Nesse sentido, é recomendável a todos os estudantes da área educacional, mesmo porque sua leitura é agradável e convidativa. Valioso também ele é para quem queira conhecer um pouco da história da Igreja em nosso país. E por isso tudo ele é importante para quem queira conhecer um pouco da história do Brasil.

** Professor assistente do Departamento de Didática, FCL-Unesp/Campus de Araraquara. Email: Kely@fclar.unesp.br

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    Ivan A. Manoel.
    Igreja e educação feminina (1859-1919). Uma face do conservadorismo. São Paulo: Ed. da Unesp, 1996.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Out 2000
    • Data do Fascículo
      Dez 1999
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