Programa de Pesquisa
"Ciências e Tecnologia, Qualificação e Produção"*
A seção Pesquisa no Cedes publica neste número o projeto "Qualificação e inserção não industrial: Medição de skills entre adolescentes e adultos" sob coordenação de Vanilda Paiva. Este projeto, constitutivo do programa "Ciência e Tecnologia, Qualificação e Produção", compõe-se de cinco equipes de pesquisa, desenvolvendo subprojetos de natureza diversa. Aqueles que se prendem mais diretamente à sociologia do trabalho se distanciam do segmento industrial. Dizem respeito ao setor terciário e a atividades desenvolvidas através do chamado setor "informal" da economia. Ambos estão diretamente confrontados com a questão do desemprego, seja através de suas causas ou de suas conseqüências. A seguir apresentamos os subprojetos que compõem este projeto:
Subprojetos
Subprojeto 1: Qualificação, mudanças de status e riscos pessoais nas formas alternativas de inserção no mundo do trabalho
Objetivos
O subprojeto 1 está inserido no contexto da discussão sobre a nova realidade do trabalho e do emprego e seus reflexos nos instrumentos de proteção social, tendo por eixo estruturador as relações entre esta nova realidade e a formação/qualificação da força de trabalho em seus aspectos não industriais.
A mais recente reestruturação industrial, correlata da penetração da microinformática, das novas formas de comunicação e das profundas transformações no processo de trabalho e nos modelos de gestão, tem provocado deslocamentos da população ocupada e transformado a estrutura ocupacional nos setores em que tradicionalmente se dividiu a economia. Estes deslocamentos vêm se aprofundando em direção ao setor terciário da economia, configurando mudanças que ultrapassam de longe o mundo do trabalho. Isso tem levado a atenção dos pesquisadores a concentrar-se nos serviços não só como o espaço social que melhor expressaria os novos contextos culturais, as atividades e os estilos de vida em formação, mas também como o locus fundamental da circulação de mercadorias e estruturalmente propício à propagação da informatização e de formas alternativas de inserção no mundo do trabalho. Nos países periféricos tais alternativas somam-se às estratégias de sobrevivência de segmentos já anteriormente excluídos do mercado formal de emprego.
De qualquer modo, tanto no centro como na periferia, a precarização e a informatização espraiam-se para outras camadas sociais, cujas biografias pessoais e profissionais haviam logrado manter uma linearidade e uma estabilidade que agora é rompida. Em síntese, o incremento da terceirização e o crescimento das atividades informatizadas adquirem uma relevância empírica e uma centralidade no debate teórico que correspondem ao intenso pessimismo que o desemprego em massa instalou no mundo contemporâneo.
A pesquisa empírica está concentrada em setores altamente qualificados da força de trabalho e na investigação não apenas da inserção alternativa exclusiva, mas a combinação da mesma com a participação no mercado informal de trabalho. Ou seja, tem-se procurado priorizar mixes de novas formas de sociabilidade que combinam reciprocidade e associação. A partir destas preocupações foram definidos os seguintes recortes empíricos:
1. Aposentadoria precoce como forma de transição no mercado de trabalho
Pretende analisar comparativamente as trajetórias profissionais e as formas de inserção no mercado de trabalho de docentes aposentados do 1º, 2º e 3º graus da rede pública de ensino localizada no município do Rio de Janeiro, com ênfase nas atividades marcadamente informais. Procura relacioná-las não só com a área de formação e o perfil de atuação no magistério antes da aposentadoria com destaque para rupturas e descontinuidades em relação à vida profissional anterior, como também aos motivos da aposentadoria no contexto dos ciclos de vida e projetos pessoais e familiares, e da ameaça e concretização de perda de direitos com as reformas administrativas e previdenciária em curso no país.
2. O trabalho na microinformática: Alternativas de inserção no mercado de trabalho e trajetórias profissionais
Tem por objetivo analisar as formas alternativas de inserção de pessoas que trabalham na área de microinformática como prestadoras de serviços, identificando as relações de trabalho, as representações do trabalhador quanto ao trabalho e o mercado, bem como as formas que assumem suas organizações de classe. Propõe, também, uma reflexão mais ampla sobre as conseqüências do trabalho informatizado na sociedade brasileira e seus impactos tanto na organização da produção quanto na vida cotidiana.
3. Complementaridade entre trabalho formal e informal: Estratégias de complementação de renda do professorado pauperizado ativo de 1º e 2º graus
Pretende analisar a complementaridade entre o trabalho formal e informal, contemplando não só as formas de articulação com o conjunto das formas de sobrevivência acionadas pela unidade familiar, mas também a qualificação necessária à atividade informal em sua conexão com a área de formação, de atuação, o nível de escolaridade, o perfil e a trajetória profissional além de questões geracionais e de gênero. Propõe, ainda, detectar e analisar os ciclos de dominância da complementação de renda levando em conta: ciclos salariais e atividades informais; ciclos salariais, períodos eleitorais e vida política; ciclos de vida.
Coordenação: Vanilda Paiva (IEC)
Pesquisadores: Alexandra Z.M. Silva, Anna Violeta Durão, Claudia Miranda, Célia Siqueira Junqueira, Donald Jhin, Elisa Guaraná Castro, Elizabeth Pereira Paiva, Filippina Chinelli, Gisélia Franco Potengy, Nubia Zerqueira do Espírito Santo, Vera Maria Candido Pereira, Viviane Silva de Vasconcelos, Vitor Hugo O. Cavalcante.
Subprojeto 2: Analfabetismo funcional
Objetivos
Esta parte do subprojeto Analfabetismo funcional compreende a participação do Brasil em projeto de pesquisa sobre o analfabetismo funcional promovido e coordenado pela Orealc Oficina Regional de Educação para a América Latina e Caribe da Unesco, e empreendido em cooperação por sete países: Paraguai, Argentina, Chile, Brasil, Colômbia, Venezuela e México. Implica, essencialmente, a aplicação de testes de leitura e matemática e questionário de dados pessoais a uma amostra representativa do município de São Paulo, realização de entrevistas em profundidade com subamostra, processamento e análise dos dados.
O conceito de analfabetismo funcional refere-se à incapacidade de pessoas adultas se desenvolverem adequadamente num meio social que lhes exige o domínio de certas habilidades que supostamente são adquiridas por meio da escolarização. Além das habilidades básicas de leitura, escrita e cálculo, o conceito pode abranger certas atitudes sociais e motivacionais, e competências de raciocínio e comunicação.
Coordenação: Sérgio Haddad (Ação Educativa, São Paulo)
Subprojeto 3: Estudo das competências básicas da população jovem e adulta
Objetivos
A crescente globalização da economia e a rápida evolução da tecnologia têm suscitado um amplo debate em torno do futuro do trabalho e das exigências que o mercado impõe aos que pretendem engajar-se nele. No contexto deste debate, as relações entre a capacitação/conhecimento e as possibilidades de inserção no mercado de trabalho da população geral reeditam a discussão sobre o analfabetismo, os níveis de escolaridade e os conhecimentos básicos da população adulta.
Estas questões têm sido abordadas por intermédio de trabalhos que discutem diferentes concepções de alfabetismo/analfabetismo, definem termos e conceitos e discorrem sobre as implicações de se adotar uma ou outra definição. A discussão teórica, nesta área de conhecimento, está, geralmente vinculada à formulação de políticas educacionais. Tendo por base este debate mais amplo, a partir da década de 1980, vários países realizaram estudos para avaliar os conhecimentos básicos de diferentes segmentos de sua população adulta. O presente estudo se insere neste conjunto de trabalhos e tem por objetivo medir as habilidades disponíveis quanto à leitura, à escrita e às matemáticas básicas em amostras da população adolescente e adulta urbana. Deverá contribuir para aprofundar o debate na área curricular no que se refere à formação escolar regular e desencadear discussões com órgãos governamentais formuladores de políticas que conduzam a propostas de programas específicos para as populações jovem e adulta.
O projeto está sendo desenvolvido paralelamente por duas equipes: uma vertente em Campinas e outra no Rio de Janeiro.
Vertente Campinas:
Coordenação: Ivany R. Pino (Cedes-FE/Unicamp) e Philip Ralph Fletcher (EV-A/CNPq)
Pesquisadoras: Adriana Lia F. Laplane, Margareth Brandini Park, Maria Zoraide M.C. Soares
Vertente Rio de Janeiro:
Coordenação: Nilma Santos Fontanive (IEC)
Pesquisadora: Norma Sueli Rosa Lima
Subprojeto 4: Formas diferenciadas de relações empregatícias e qualificações requeridas em um contexto altamente informatizado: Análise do sistema financeiro no Brasil
Objetivos
Tem como objetivo analisar as qualificações requeridas nas diferentes formas de relações empregatícias que marcam, hoje, o sistema financeiro no Brasil (trabalho em tempo integral, em tempo parcial, subcontratado ou domiciliar), ressaltando o aspecto das relações de gênero dentro delas. Enfoca a intensificação da automação neste setor desde os anos 80 e seu impacto sobre as relações de trabalho e sobre o emprego. Considera, em especial, os elevados níveis de qualificação que caracterizam os empregados do setor bancário e as competências requeridas por este segmento da economia em meio a um intenso processo de reestruturação produtiva.
Coordenação: Liliana Rolfsen Petrilli Segnini (Cedes-FE/Unicamp)
Pesquisadores: Andréa Ranieri Luciano, Fernando Antonio Pinheiro, Selma Borghi Venco, Simone Mussnich Rotta
Subprojeto 5: Projetos e experiências de formação profissional no âmbito das organizações de trabalhadores
Objetivos
O objetivo deste estudo é mapear e caracterizar as atividades de formação profissional mantidas por organizações de trabalhadores, no eixo Rio de Janeiro/São Paulo, buscando contribuir para a construção de projetos alternativos de formação, que contemplem os interesses das classes populares.
Com base em longo tempo de estudo e convivência com o movimento operário-sindical brasileiro, é possível identificar pelo menos três tipos de iniciativas de formação profissional:
1. As práticas educativas que em nada se diferenciam dos cursos regulares oficiais conveniados com governos municipais ou estaduais ou com o Senai, o Sesc, o Sesi, etc.;
2. Algumas escolas estruturadas e reconhecidas pelos órgãos competentes, que são mantidas com recursos sindicais de trabalhadores, e que foram idealizadas para atender prioridades político-culturais que fazem parte do horizonte dos trabalhadores;
3. Iniciativas e experiências inovadoras e autônomas em relação às estruturas convencionais. Desenvolvidas, em sua maioria, em parceria com ONG's, em geral tomam o trabalho como princípio educativo e atingem, principalmente, trabalhadores não-sindicalizados que atuam na chamada economia informal.
O universo deste trabalho é composto pelas atividades incluídas nos tipos 2 e 3, mais recentes e menos conhecidas, e que podem permitir elaborações de propostas formativas que atendam aos interesses da classe trabalhadora.
Coordenação: Sílvia Maria Manfredi
Pesquisadora: Solange de Souza Bastos
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
21 Jun 2001 -
Data do Fascículo
Dez 1997