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Manual de projeto de estações de tratamento de esgotos volume I: os sistemas de tratamento

LIVROS

Mario Takayuki Kato

Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Civil, Escola de Engenharia de Pernambuco, Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco

Manual de projeto de estações de tratamento de esgotos volume I– os sistemas de tratamento

Patrício Gallegos Crespo

Este livro do Professor Gallegos C., da UFMG, engenheiro-arquiteto de formação e com especialização em engenharia sanitária, é fruto de sua experiência mais prática e menos acadêmica, como frisa, e que, portanto, a considera como a sua verdade, expondo de maneira franca, a sua forma de pensar e atuar em ensino e na prática. Este Volume 1 consiste de 9 capítulos, sendo que os 2 iniciais se referem, um a critérios de projeto e o outro a conceitos de parâmetros de poluição; nos 4 capítulos seguintes são abordados de maneira clássica e acadêmica, o tipo ou nível de tratamento, respectivamente, preliminar, primário, secundário e terciário, este de maneira muito sucinta sobre remoção de nitrogênio e fósforo. O capítulo seguinte é constituído de uma compilação de vários aspectos de uma norma da ABNT (NBR 12209), sobre os quais o autor tece alguns comentários subjetivos; e finalmente, os dois últimos capítulos, que são mais específicos e voltados para o objetivo principal deste volume, ou seja, os sistemas de tratamento em que o autor aparentemente acumulou a sua experiência maior: lodos ativados, principalmente e, em menor escala, sistemas para pequenas comunidades (decanto-digestores, lagoas, filtros anaeróbios, infiltração no solo e leitos de secagem de lodo).

Inicialmente, no tocante à formatação do livro, percebe-se que dentro de cada capítulo há uma subitemização excessiva e seqüência dos tópicos muitas vezes difíceis de serem seguidas, e, portanto, com prejuízo à visualização e entendimento dos assuntos abordados, não condizentes com o propósito de um manual de projeto. Alguns outros pontos devem ser melhorados e merecem uma revisão cuidadosa: a numeração de várias figuras não confere com a do texto; há uma quantidade demasiada de frases quebradas ou incompletas, prejudicando a compreensão; os principais parâmetros de projeto poderiam ser reunidos mais em quadros, semelhantes aos dos lembretes e observações utilizados, já que se enfatiza tanto o lado prático; embora a parte teórica esteja num linguajar bem simples, existem algumas imprecisões; há necessidade ainda de revisão de alguns cálculos nos exemplos, de algumas unidades com simbologia errada (e até dois símbolos para a mesma unidade), e alguns dos valores adotados para certos parâmetros mereceriam uma maior explicação. Este manual de projeto será comercializado através de uma instituição como a ABES, portanto, provavelmente poderá ser muito consultado, independente das controvérsias que poderão ser geradas, por um público que tem à disposição poucas publicações desta natureza no mercado editorial. Seria recomendável, pois, que houvesse a sua catalogação segundo as normas bibliográficas e que as (poucas) referências citadas no texto também as seguissem, uma vez que estão de maneira incompleta (algumas adicionalmente estão desatualizadas existindo edições mais recentes, ou então são referências muito antigas) e não há uma lista apropriada para consulta dos possíveis interessados. Existe uma pequena lista de livros colocada em local inadequado e parece ser mais um comercial de venda de livros, apesar de se citar nomes de colega e instituições conceituados.

No tocante ao conteúdo, chama a atenção (i) os conceitos e terminologia empregados pelo autor e a excessiva ênfase da experiência que atribui a si próprio, por um lado, e um desconhecimento daquela pela comunidade acadêmica, por outro lado; e (ii) a necessidade de uma melhor precisão e até correção para alguns conceitos teóricos ou termos práticos muito importantes, como idade do lodo e tempo de detenção hidráulico; carga hidráulica e velocidade; carga e concentração de matéria orgânica; sólidos suspensos voláteis, biomassa, lodo, microrganismos e vida biológica (termo do autor); eutrofização, metabolismo e outros. A falta dessa conceituação mais precisa, pode passar uma idéia inadequada e sem rigor da terminologia usualmente empregada na área de tratamento de esgotos. O vernáculo empregado no livro apresenta-se com imperfeições e falta de uniformidade, merecendo também uma revisão específica. Para iniciantes no tema, possivelmente haverá uma dificuldade adicional para a compreensão da operação dos sistemas de tratamento, pela falta de maiores explicações, ainda que sucinta, sobre o funcionamento de cada unidade, em termos de fenômenos físicos, químicos e biológicos que são a essência do tratamento.

Numa avaliação geral, o livro pode ter até alguns méritos, por apresentar dados práticos, comentários e observações sobre projeto de estações de tratamento convencionais, embora os tópicos sejam abordados de maneira genérica, sem profundidade, talvez intencionalmente pelo autor, já que dá a entender a existência de conflito entre o saber teórico e prático. Não aborda outros sistemas de tratamento mais recentes e com dados mais atualizados e fruto de experiência de outros colegas, também com grande vivência prática e acadêmica simultânea. Assim, se a intenção para o livro era voltada para projetistas experientes ou com conhecimento de conceitos teóricos, a formatação, a linguagem e o conteúdo deixam a desejar; se para iniciantes, faltam conceitos prévios para a compreensão do funcionamento dos sistemas, correção de termos, de conceitos e de alguns exemplos de cálculo. O livro parece mais, em resumo, o resultado de notas de aula de algum curso do autor, que não teve os devidos cuidados de revisá-lo para divulgação e comercialização em entidade de âmbito nacional e internacional, portanto, de grande responsabilidade nesta tarefa relevante.

De qualquer maneira, certamente o autor poderá considerar e terá oportunidade de corrigir as imperfeições e até ampliar o conteúdo deste volume, com dados práticos de sistemas eficientes, como por exemplo, o reator anaeróbio tipo UASB e outros sistemas integrados; estes não foram abordados, mesmo no capítulo dedicado a pequenas comunidades, mas não podem faltar em novos manuais, pela sua adequação amplamente comprovada, custos, versatilidade e outras vantagens que oferecem, inclusive para grandes comunidades. Espera-se que o volume II anunciado venha, sem as imprecisões deste volume I e com uma revisão condizente, brindar um público desejoso de atualizações práticas e teóricas, sem discriminação, fruto da experiência de colegas profissionais, doutores ou acadêmicos, os com-títulos ou os sem-títulos, mas todos preocupados em desenvolvimento de tecnologia de tratamento de esgotos apropriada para a nossa realidade.

Coordenador da coluna Livros: Prof. Cícero Onofre de Andrade Neto

A sessão "Livros Técnicos", que a cada edição traz resumos comentados sobre livros de interesse na área, tem como principal objetivo permitir que o leitor, de forma rápida, se atualize e conheça o que há disponível no mercado editorial. As contribuições deverão ser encaminhadas para: esa@abes-dn.org.br

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Ago 2005
  • Data do Fascículo
    Mar 2005
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