Este estudo clínico qualitativo objetivou investigar fantasias da criança enlutada pela morte de um ou ambos os pais e sua relação com o processo de elaboração do luto. Foram realizados estudos de caso com meninos e meninas, de três a oito anos de idade, enlutados em decorrência da morte de um ou ambos os genitores, indicados para atendimento psicoterápico em uma clínica-escola. Como instrumentos de investigação, foram utilizadas entrevistas com o genitor sobrevivente ou responsável pela criança, uma entrevista familiar, três entrevistas lúdicas e a aplicação do procedimento de desenhos-estórias com a criança. Apreenderam-se fantasias de aniquilamento, culpa, castração, onipotência, rejeição, identificação, retaliação, idealização e desidealização do objeto perdido; agressividade; negação da perda; regressão; reparação; repetição da situação da perda. Foram apontados sentimentos, comportamentos e sintomas por meio dos quais as fantasias foram expressas. A construção das fantasias mostrou-se relacionada ao desenvolvimento psicossexual e cognitivo e ao modo de funcionamento egóico da criança, condições circundantes ao evento da morte e dinâmica familiar. Entre esses fatores, apontaram-se os facilitadores e os dificultadores da elaboração do luto. Percebeu-se que as fantasias refletem o processo do luto e seu conhecimento possibilita a compreensão de seus sentimentos, comportamentos e sintomas e que estão associadas a processos elaborativos do luto.
criança; fantasia; luto; morte