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Método simples para diferenciar Diplodia macrospora de D. maydis em testes de patologia de sementes de milho

A simple method to diferenciate Diplodia macrospora from D. maydis in seed pathology tests with corn

Resumos

Descreve-se neste trabalho um método para diferenciar Diplodia macrospora de D. maydis em testes de patologia de sementes de milho (Zea mays). Os sintomas da podridão branca em espigas e grãos de milho infetados por esses fungos são idênticos, porém, os patógenos diferem, principalmente, pela coloração das colônias desenvolvidas a partir de sementes de milho infetadas. As sementes foram desinfestadas com hipoclorito de sódio e dispostas em gerbox, contendo três camadas de papel-de-filtro embebido com água esterilizada e colocadas em câmara de crescimento a 25 ± 2 ºC. A diagnose foi baseada na coloração das colônias desenvolvidas sobre o papel-de-filtro. Após 15 dias de incubação, as colônias de D. macrospora permaneceram com coloração branca a bege, enquanto as de D. maydis, que originalmente eram brancas, tornaram-se de pardo-escuras a escuras com formação de picnídios. Conclui-se que muitos trabalhos feitos em patologia de sementes de milho referentes a D. maydis podem ter incluído na diagnose as duas espécies por não dispor-se de um método que possibilite a diferenciação segura entre os dois patógenos.

Podridão-de-diplodia; podridão branca da espiga


A simple method to differentiate Diplodia macrospora from D. maydis in corn seeds is described in this paper. The white rots these fungi cause on corn (Zea mays) ear and grains have identical symptoms. However, D. macrospora and D. maydis give rise to colonies of different colours when infected seeds are incubated on filter paper. Corn seeds are disinfested with sodium hypochloride, placed in gerboxes containing two layers of wet filter paper, and then incubated at 25 ± 2 ºC. After 15 days, colonies of D. macrospora remain white to beige while those of D. maydis, originally white, turn dark and form picnidia. Because current seeds pathology tests do not differentiate these fungus species, we believe that D. macrospora may have been mistakenly diagnosed as D. maydis.


MÉTODO SIMPLES PARA DIFERENCIAR Diplodia macrospora DE D. maydis EM TESTES DE PATOLOGIA DE SEMENTES DE MILHO

JUSTINO LUIZ MARIO & ERLEI MELO REIS

Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Passo Fundo, Cx. Postal 611, Passo Fundo-RS, CEP 99001-970, e-mail: erleireis@uol.com.br

(Aceito para publicação em 26/07/2001)

Autor para correspondência: Erlei Melo Reis

RESUMO

Descreve-se neste trabalho um método para diferenciar Diplodia macrospora de D. maydis em testes de patologia de sementes de milho (Zea mays). Os sintomas da podridão branca em espigas e grãos de milho infetados por esses fungos são idênticos, porém, os patógenos diferem, principalmente, pela coloração das colônias desenvolvidas a partir de sementes de milho infetadas. As sementes foram desinfestadas com hipoclorito de sódio e dispostas em gerbox, contendo três camadas de papel-de-filtro embebido com água esterilizada e colocadas em câmara de crescimento a 25 ± 2 ºC. A diagnose foi baseada na coloração das colônias desenvolvidas sobre o papel-de-filtro. Após 15 dias de incubação, as colônias de D. macrospora permaneceram com coloração branca a bege, enquanto as de D. maydis, que originalmente eram brancas, tornaram-se de pardo-escuras a escuras com formação de picnídios. Conclui-se que muitos trabalhos feitos em patologia de sementes de milho referentes a D. maydis podem ter incluído na diagnose as duas espécies por não dispor-se de um método que possibilite a diferenciação segura entre os dois patógenos.

Palavras-chave: Podridão-de-diplodia e podridão branca da espiga.

ABSTRACT

A simple method to diferenciate Diplodia macrospora from D. maydis in seed pathology tests with corn

A simple method to differentiate Diplodia macrospora from D. maydis in corn seeds is described in this paper. The white rots these fungi cause on corn (Zea mays) ear and grains have identical symptoms. However, D. macrospora and D. maydis give rise to colonies of different colours when infected seeds are incubated on filter paper. Corn seeds are disinfested with sodium hypochloride, placed in gerboxes containing two layers of wet filter paper, and then incubated at 25 ± 2 ºC. After 15 days, colonies of D. macrospora remain white to beige while those of D. maydis, originally white, turn dark and form picnidia. Because current seeds pathology tests do not differentiate these fungus species, we believe that D. macrospora may have been mistakenly diagnosed as D. maydis.

Nos últimos cinco anos, as indústrias que utilizam os grãos de milho (Zea mays L.) como matéria prima para alimentação humana e animal têm-se preocupado com a qualidade do produto, sobretudo com podridões de espiga que originam os chamados "grãos ardidos". Os grãos ardidos são causados principalmente por fungos dos gêneros Diplodia e Fusarium. Atualmente, a qualidade de grãos de milho tem sido mais considerada, especialmente na região Sul, onde as condições climáticas, com dias quentes (25-30 ºC) e noites amenas (12-15 ºC), têm favorecido principalmente as doenças incitadas por Diplodia spp. (Pereira), 1995).

Os fungos Diplodia macrospora Earle e D. maydis (Berk.) Sacc. são patogênicos ao milho, incitando podridões de raízes, do colmo e de espigas e também morte de plântulas (Laterell & Rossi, 1983; Mora & Moreno, 1984; Morant et al., 1993). Quanto a D. macrospora, o patógeno pode também causar manchas foliares, como relatado no Sul dos Estados Unidos, África do Sul e sobretudo, em áreas de clima tropical e subtropical (Marasas & Van Der Westhuizen, 1970; Morant et al., 1993). Quanto à ocorrência de D. macrospora no Brasil, causando mancha foliar em milho, encontraram-se duas citações: a primeira no estado de São Paulo, relatada por Johann (1935) e a segunda referente à presença da doença na Bahia, descrita por Ram et al (1973). O fungo tem sido encontrado com freqüência nos cultivos de milho na região do Planalto Médio do Rio Grande do Sul, contudo não lhe é dada a devida atenção por ser confundido com D. maydis (Mario & Prestes, 1997). Apenas com base nos sintomas decorrentes das infecções, não é possível distingui-los em espigas ou em grãos de milho. No entanto, quanto à infecção foliar causada por D. macrospora(Marasas & Van Der Westhuizen, 1979; Mora & Moreno, 1984; Del Rio, 1990; Morant et al, 1993) é facilmente diagnosticada.

Em exame microscópico, os dois fungos podem ser diferenciados morfologicamente pelo tamanho dos conídios, pois os esporos de D. macrospora são duas a três vezes mais longos e mais largos do que os de D. maydis (Marasas & Van Der Westhuizen, 1979). Outra maneira de diferenciá-los é pelo plaqueamento de grãos infetados com Diplodia spp. em meio agarizado de batata-sacarose + antibiótico. Nesse substrato, após 20 dias de incubação, as colônias de D. maydis apresentam-se com cor salmão-escura, com o reverso de cor bege a pardo-clara, podendo tornar-se escura. Por sua vez, as de D. macrospora permanecem com coloração superficial branca e o reverso da colônia com cor bege (Marasas & Van Der Westhuizen, 1979). Também se deve acrescentar que D. macrospora, em meio de cultura, tem uma produção de picnídios, lenta e em menor quantidade do que a de D. maydis (Johann, 1935: Morant et al., 1993).

O objetivo deste trabalho foi desenvolver um método simples que possa ser usado nos laboratórios de patologia de sementes, visando quantificar a presença e a freqüência de cada uma das espécies de Diplodia patogênicas ao milho..

As duas espécies de Diplodia foram diferenciadas a partir de grãos de milho naturalmente infetados, obtidos de espigas com sintomas de podridão branca coletadas em plantas com infecção natural, ou inoculadas com D. maydis na Unidade Experimental da Braskalb em Coxilha - RS. As espigas foram debulhadas com debulhador manual e os grãos homogeneizados, previamente à coleta das amostras. Os grãos foram desinfestados durante três minutos com solução de hipoclorito de sódio a 2% e, posteriormente, lavados durante um minuto em água destilada esterilizada. Os grãos assim tratados foram dispostos em caixas gerbox de acrílico (11 x 11 x 3,5 cm de altura), contendo três lâminas de papel-de-filtro embebidas em água destilada-esterilizada. Em cada caixa, foram colocados dez grãos e incubados a 25 ± 2 º C e fotoperíodo de 12 h propiciado por lâmpadas fluorescentes de 40 W, distantes 46,5 cm da superfície dos recipientes. Após cinco dias de incubação os grãos não infetados por Diplodia spp. foram retirados, sendo os demais mantidos sob incubação por mais 10 dias. A remoção foi feita para evitar que as colônias dos grãos infetados colonizassem os não infetados e confundissem o observador no processo de avaliação da incidência das espécies. Neste trabalho foram avaliados 3.600 grãos de milho.

Após três dias de incubação, detectou-se o crescimento de micélio branco a partir dos grãos infetados por Diplodia spp. No décimo segundo dia, o micélio começou a diferenciar-se pela alteração da coloração das colônias originadas dos grãos infetados. O micélio das colônias de D. maydis tornou-se gradativamente mais escuro ganhando, finalmente, uma cor pardo-escura. Com aproximadamente 15 dias de incubação, tornou-se nítida a diferenciação das colônias quanto à coloração; as de D. maydis adquiriram coloração pardo-escura a escura, com a formação de numerosos picnídios na superfície da massa miceliana; enquanto que as de D. macrospora permaneceram com uma coloração branca, às vezes bege, sem a formação de picnídios (Figura 1). Tanto D. macrospora como D. maydis produzem toxinas, que podem causar problemas à saúde humana ou animal através do consumo de grãos ou de alimentos derivados de grãos contaminados (De Leon & Perz, 1970; Prozesky et al., 1994). Por conseguinte, a metodologia desenvolvida nesse trabalho pode contribuir não somente com os testes de patologia de sementes mas também como uma ferramenta auxiliar em trabalhos toxicológicos com micotoxinas. Por outro lado, os pesquisadores que trabalham com melhoramento de milho também terão a possibilidade de fazer análise de grãos oriundos de espigas com sintomas de podridão branca, identificando qual a espécie de Diplodia predominante em seu trabalho de pesquisa de modo a avaliar a reação de material para cada espécie separadamente.


  • DE LEON, C. & PEREZ, J. Micotoxinas produzidas por Diplodia maydis y su efecto en pollitos. In: Memorias del Sexto Congresso Nacional de Fitopatologia. México. 1970
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  • MARIO, J.L. & PRESTES, A.M. Avaliação da resistência à mancha foliar causada por Diplodia macrospora em genótipos de milho. Fitopatologia brasileira 22 (Suplemento):280. 1997.
  • MORA, L.E. & MORENO, R.A. Cropping pattern and soil management influence on plant disease: I. Diplodia macrospora leaf spot of maize. Turrialba 34:35-40. 1984.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2001
  • Data do Fascículo
    Set 2001

Histórico

  • Aceito
    26 Jul 2001
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