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Reflexões sobre o processo de avaliação

O convite para o editorial desta edição da Revista Fisioterapia em Movimento veio pelo fato de o Programa de Pós-graduação em Tecnologia em Saúde da PUCPR, o qual possui vínculo com a Revista, passar a ser conceituado com Nota 4 nos parâmetros CAPES, na Avaliação Trienal 2010/2012. Este evento, que nos deixou muito felizes e amplia as possibilidades do programa, determinou minha opção por apresentar uma pequena reflexão sobre o processo de avaliação em geral.

O conceito dicionarizado de avaliação nos remete, ao menos, a quatro diferentes concepções da palavra, sendo que usarei, limitadamente, três delas para focar este texto: o “valor determinado por quem avalia”; a “apreciação ou conjectura sobre a condição, extensão, intensidade, qualidade [...]”; e a “verificação que objetiva determinar a competência, o progresso [...]”1Houaiss, A. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva; 2009. Avaliação; p. 227..

Embora as medidas de valor e a forma de obtê-las não sejam consenso entre profissionais que se debruçam ao assunto avaliação, parece-me coerente que quem avalia determine critérios para os valores, desde que estes sejam baseados em um conjunto de prioridades, impacto do quesito, políticas educacionais e institucionais, dentre outros. Entretanto, o que merece destaque para discutir a atribuição de valores é a hegemonia do caráter objetivo e quantitativo que está diretamente ligado ao valor de uma avaliação. Quem avalia, por vezes, opta exclusivamente pela valoração seguindo modelos matemáticos — alguns ininteligíveis ao avaliado —, por eles facilitarem a inclusão de múltiplas variáveis, bem como ponderá-las diferentemente. Essa escolha, por um lado, pode minimizar subjetividades do avaliador e reduzir os conflitos de interesse, mas, por outro, responde de forma limitada à extensão da palavra avaliação, principalmente quando se aprecia qualidade e se verificam competência e progresso.

Não se pode negar que estabelecer parâmetros quantitativos é uma necessidade nos processos avaliativos e dificilmente poderá ser substituído na integralidade, mas quando o objeto de avaliação está relacionado com questões complexas, como a aprendizagem e, no nosso contexto, a saúde, incluir aspectos relacionados à subjetividade é possibilitar a extensão da qualidade de um processo avaliativo.

Em uma de suas facetas, a avaliação pode ser inserida num contexto de necessidade de controle por parte de pessoas ou órgãos que se responsabilizam pela qualidade de determinados serviços ou num contexto de cultura instituída por quem se responsabiliza pela construção dessa qualidade. Em ambas as inserções, a avaliação sustenta a tomada de decisão profissional e deve ser considerada como um continuum.

Se nas práticas de saúde, nós estamos imersos em subjetividade e ela é responsável por muitos de nossos fazeres, então, chegamos a um dilema que deverá ser superado, ao menos em parte, por processos avaliativos com multiplicidade de métodos interdisciplinares, de forma longitudinal. Isso não é fácil, mas será um caminho inevitável se quisermos avaliar de forma ampla.

Nesta edição, veremos que avaliar faz parte de nosso cotidiano de produção de conhecimento, mesmo que não seja a questão problematizadora da pesquisa. Os leitores poderão transitar por textos que realizam análises de tecnologias de cuidado, descrevem perfil de grupos vulneráveis e propõe instrumento para análise com a propriedade necessária à produção de evidências confiáveis.

Desejo a todos uma ótima e produtiva leitura!

Profa. Dra. Márcia Regina Cubas
Programa de Pós-graduação em Tecnologia em Saúde — PUCPR

  • 1
    Houaiss, A. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva; 2009. Avaliação; p. 227.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    jan-mar 2014
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