Acessibilidade / Reportar erro

O impacto da reabilitação com multicomponentes no pós-COVID

Resumo

Introdução

A síndrome pós-COVID-19 caracteriza-se por fadiga crônica, mialgia, entre outros sintomas que podem causar limitações na realização das atividades de vida diária. Protocolos de fisioterapia com exercício de multicomponentes combinam força, resistência, equi-líbrio e marcha, e produzem melhorias significativas na mobilidade funcional.

Objetivo

Avaliar se a reabilitação de multicomponentes é eficaz em promover melhora na mobilidade funcional e qualidade de vida em indivíduos com síndrome pós-COVID-19.

Métodos

Ensaio clínico randomizado, controlado, realizado com 59 voluntários, divididos em grupo intervenção (GI) e grupo controle (GC). Todos fizeram avaliação inicial (T0); GI realizou 24 sessões durante 12 semanas e GC não realizou treinamento. A análise da mobilidade funcional foi realizada através do teste de caminhada de 6 minutos (TC6m) e da escala de equilíbrio de Berg. O questionário SF-36 avaliou a qualidade de vida.

Resultados

A distância percorrida no TC6m pelo GI foi de 464,40 + 81,26 metros (T0) e de 518,60 + 82,68 metros (T4). A pontuação na escala de Berg do GI foi de 48,00 + 4,00 (T0) e de 51,90 + 4,26 (T4). Na qualidade de vida, GI apresentou escore com média de 96,26 + 10,14 (T0) e 102,60 + 5,53 (T4). Nenhuma destas medidas foram estatisticamente significantes.

Conclusão

Os indivíduos que foram submetidos ao protocolo fisioterapêutico de multicomponentes apresentaram incrementos nas variáveis estudadas sem significância estatística.

Mobilidade ativa; COVID-19; Exercício físico; Fisioterapia

Abstract

Introduction

Post-COVID-19 syndrome is characterized by chronic fatigue and myalgia, among other symptoms, which can limit activities of daily living. Physical therapy protocols with multicomponent exercises combine strength, resistance, balance and gait, producing sig-nificant improvements in functional mobility.

Objective

Evaluate whether multicomponent rehabilitation is effective in improving functional mobility and quality of life in individuals with post-COVID-19 syndrome.

Methods

Randomized controlled trial with 59 volunteers, divided into an intervention (IG) and control group (CG), all of whom underwent initial assessment (T0). The IG performed 24 sessions over 12 weeks and the CG did not undergo training. Functional mobility was analyzed using the 6-minute walk test (6MWT) and the Berg balance scale, while the SF-36 questionnaire assessed quality of life.

Results

In the 6MWT, the IG covered 464.40 + 81.26 meters (T0) and 518.60 + 82.68 meters (T4). The IG Berg scale scores were 48.00 + 4.00 (T0) and 51.90 + 4.26 (T4). In terms of quality of life, the IG obtained mean scores of 96.26 + 10.14 (T0) and 102.60 + 5.53 (T4). None of these measures was statistically significant.

Conclusion

Individuals who underwent the multicomponent phys-iotherapy protocol showed statistically nonsignificant increases in the variables studied.

Active mobility; COVID-19; Physical exercise; Physiotherapy

Introdução

Em 2019, o coronavírus (COVID-19), causado pelo vírus SARS-CoV-2, surgiu em Wuhan, China, espalhando-se rapidamente.11. Bogoch II, Watts A, Thomas-Bachli A, Huber C, Kraemer MUG, Khan K. Pneumonia of unknown aetiology in Wuhan, China: potential for international spread via commercial air travel. J Travel Med. 2020;27(2):taaa008. DOI https://doi.org/10.1093/jtm/taaa008
https://doi.org/10.1093/jtm/taaa008...
, 22. Rothan HA, Byrareddy SN. The epidemiology and pathogenesis of coronavirus disease (COVID-19) outbreak. J Autoimmun. 2020;109:102433. DOI https://doi.org/10.1016/j.jaut.2020.102433
https://doi.org/10.1016/j.jaut.2020.1024...
Em 11 de março de 2020, a Organi-zação Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia de COVID-19.33. Lai CC, Shih TP, Ko WC, Tang HJ, Hsueh PR. Severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-CoV-2) and coronavirus disease-2019 (COVID-19): The epidemic and the challenges. Int J Antimicrob Agents. 2020;55(3):105924. DOI https://doi.org/10.1016/j.ijantimicag.2020.105924
https://doi.org/10.1016/j.ijantimicag.20...
, 44. World Health Organization. Coronavirus disease 2019 (COVID-19): situation report, 51. WHO; 2020 [cited 2022 Nov 20]. Available from: https://apps.who.int/iris/handle/10665/33 1475
https://apps.who.int/iris/handle/10665/3...
Além de acompanhar as complicações agudas, os profissionais de saúde passaram a investigar as disfunções a longo prazo derivadas da doença. A síndrome pós-COVID-19 caracteriza-se por fadiga crônica, mialgia, depressão, distúrbios do sono, entre outros sintomas que podem causar limitações nas atividades de vida diária (AVDs).55. Moldofsky H, Patcai J. Chronic widespread musculoskeletal pain, fatigue, depression and disordered sleep in chronic post-SARS syndrome; a case-controlled study. BMC Neurol. 2011;11:37. DOI https://doi.org/10.1186/1471-2377-11-37
https://doi.org/10.1186/1471-2377-11-37...
A persistência dessas disfunções pode ocorrer tanto em indivíduos com sintomas graves quanto naqueles com sintomas leves.66. Mandal S, Barnett J, Brill SE, Brown JS, Denneny EK, Hare SS, et al. “Long-COVID”: a cross-sectional study of persisting symptoms, biomarker and imaging abnormalities following hospitalisation for COVID-19. Thorax. 2021;76(4):396-8. DOI https://doi.org/10.1136/thoraxjnl-2020-215818
https://doi.org/10.1136/thoraxjnl-2020-2...

Diretrizes para pacientes com COVID-19 não apenas sugerem o exercício físico como um dos pilares fundamentais nas intervenções em fisioterapia respiratória,77. Zeng B, Chen D, Qiu Z, Zhang M, Wang G, Wang J, et al. Expert consensus on protocol of rehabilitation for COVID-19 patients using framework and approaches of WHO International Family Classifications. Aging Med (Milton). 2020;3(2):82-94. DOI https://doi.org/10.1002/agm2.12120
https://doi.org/10.1002/agm2.12120...
como ressaltam que exercícios de multi-componentes, os quais combinam força, resistência, equilíbrio e marcha, produzem melhorias significativas na mobilidade funcional,88. Casas-Herrero A, Anton-Rodrigo I, Zambom-Ferraresi F, Sáez de Asteasu ML, Martinez-Velilla N, Elexpuru-Estomba J, et al. Effect of a multicomponent exercise programme (VIVIFRAIL) on functional capacity in frail community elders with cognitive decline: study protocol for a randomized multicentre control trial. Trials. 2019;20(1):362. DOI https://doi.org/10.1186/s13063-019-3426-0
https://doi.org/10.1186/s13063-019-3426-...
apresentando resultados favoráveis também na fragilidade, estado cognitivo, marcha e equilíbrio de pacientes idosos hospitalizados.99. Courel-Ibáñez J, Buendía-Romero A, Pallarés JG, García-Conesa S, Martínez-Cava A, Izquierdo M. Impact of tailored multicomponent exercise for preventing weakness and falls on nursing home residents’ functional capacity. J Am Med Dir Assoc. 2022;23(1):98-104.e3. DOI https://doi.org/10.1016/j.jamda.2021.05.037
https://doi.org/10.1016/j.jamda.2021.05....

Diante do exposto, este estudo objetivou avaliar se a reabilitação de multicomponentes tem eficácia na melhora da mobilidade funcional e da qualidade de vida em indivíduos com síndrome pós-COVID-19.

Métodos

Trata-se de um ensaio clínico randomizado, contro-lado, desenvolvido no Laboratório de Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais (LACIRTEM) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), aprovado pelo comitê de ética da mesma instituição (parecer 5.236.588) e registrado no ReBEC (RBR-7yh559g).

A coleta de dados ocorreu de março a outubro de 2022. Foram recrutados 59 indivíduos com síndrome pós-COVID-19, com idade entre 18 e 70 anos, de ambos os sexos e pertencentes à região metropolitana de Recife, PE. Foram incluídos indivíduos acometidos pela COVID-19, comprovada por exame em laboratório, sedentários ou irregularmente ativos. Foram excluídos indivíduos com: COVID-19; doenças neurológicas ou vasculares; cegueira; deformidade no pé ou na coluna vertebral; dispositivos para marcha; hipertensão e arritmia não controladas; miocardite ativa; sinais de desconforto respiratório em repouso; doença sistêmica aguda ou febre; frequência cardíaca de repouso menor que 50 e maior que 100 batimentos por minuto; náuseas; tontura; falta de ar e/ou fadiga intensa; sudorese excessiva; crise de ansiedade; palpitações; dor ou sensação de aperto no peito; e aqueles que apresentassem dor durante o treinamento. Os participantes leram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).

Procedimentos

Realizou-se cálculo amostral com teste-piloto com 20 indivíduos com síndrome pós-COVID-19, utilizando-se os desfechos mobilidade funcional e qualidade de vida. O maior número encontrado foi acrescido de 30% para compensar possíveis perdas de segmentos, utilizando software G*Power 3.1, α = 0,05 e Power de 80%. Prevendo-se taxa de perda de 30%, 24 pacientes no total, distribuídos igualitariamente em cada grupo, deveriam ser incluídos na pesquisa.

A randomização da amostra foi realizada por pesquisador cego, utilizando o site Randomization.com . No mascaramento da pesquisa, um pesquisador foi responsável pela avaliação/reavaliação e outro pela aplicação do protocolo de intervenção. Os participantes foram distribuídos aleatoriamente em grupo intervenção (GI) e grupo controle (GC). O GI realizou duas sessões semanais de intervenção, durante 12 semanas, com duração de 60 minutos. O GC não realizou treinamento, no entanto recebeu orientações educativas e seguiu com atividades diárias no mesmo período, sendo reavaliado ao final do treinamento do GI (T).

Na avaliação inicial, todos os participantes responde-ram a um formulário com questões de natureza clínica, pessoal e antropométrica. Em seguida, foram avaliadas a mobilidade funcional (teste de caminhada de 6 minutos - TC6M, escala de equilíbrio de Berg) e a qualidade de vida (questionário SF-36). O GI foi reavaliado a cada seis sessões, totalizando quatro reavaliações, com testes de mobilidade funcional e qualidade de vida.

O TC6M é um teste padronizado e seguro que reflete o nível de atividade física e de capacidade cardiopulmonar, como também fornece informações valiosas sobre pressão arterial, frequência cardíaca e saturação de oxigênio (SpO2).1010. Hamilton DM, Haennel RG. Validity and reliability of the 6-minute walk test in a cardiac rehabilitation population. J Cardiopulm Rehabil. 2000;20(3):156-64. DOI https://doi.org/10.1097/00008483-200005000-00003
https://doi.org/10.1097/00008483-2000050...

11. Moalla W, Gauthier R, Maingourd Y, Ahmaidi S. Six-minute walking test to assess exercise tolerance and cardiorespiratory responses during training program in children with congenital heart disease. Int J Sports Med. 2005;26(9):756-62. DOI https://doi.org/10.1055/s-2004-830558
https://doi.org/10.1055/s-2004-830558...
- 1212. Solway S, Brooks D, Lacasse Y, Thomas S. A qualitative systematic overview of the measurement properties of functional walk tests used in the cardiorespiratory domain. Chest. 2001;119(1):256-70. DOI https://doi.org/10.1378/chest.119.1.256
https://doi.org/10.1378/chest.119.1.256...
O paciente é orientado a caminhar na maior velocidade possível, com supervisão, sem apoio, durante seis minutos em um corredor plano com 30 metros, e é estimulado verbalmente a cada minuto.1313. Troosters T, Gosselink R, Decramer M. Six minute walking distance in healthy elderly subjects. Eur Respir J. 1999;14(2): 270-4. DOI https://doi.org/10.1034/j.1399-3003.1999.14b06.x
https://doi.org/10.1034/j.1399-3003.1999...

A escala de equilíbrio de Berg1414. Berg KO, Wood-Dauphinee SL, Williams JI, Maki B. Measuring balance in the elderly: validation of an instrument. Can J Public Health. 1992;83(Suppl 2):S7-11. PubMed https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/1468055/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/1468055/...
mede o equilíbrio funcional e é composta por quatorze itens contendo atividades como transferência, alcance, giro e descarga de peso em perna única, graduados em uma escala que varia de 0 (incapaz/ inseguro) a 4 (independente/eficiente/seguro), com maior pontuação total indicando maior controle do equilíbrio; quanto menor a pontuação, maior é o risco de quedas. A escala adaptada para aplica-ção no Brasil1515. Miyamoto ST, Lombardi Jr I, Berg KO, Ramos LR, Natour J. Brazilian version of the Berg balance scale. Braz J Med Biol Res. 2004;37(9):1411-21. DOI https://doi.org/10.1590/s0100-879x2004000900017
https://doi.org/10.1590/s0100-879x200400...
também apresenta em cada item escores de 0 a 4 e um tempo determinado para cada tarefa.

O SF-36, questionário que avalia a qualidade de vida, possui 36 itens que medem o funcionamento físico (10 itens), social (2 itens), limitações de função devido a problemas físicos (4 itens) e emocionais (3 itens), saúde mental (5 itens), energia e vitalidade (4 itens), dor (2 itens) e percepção geral de saúde (5 itens), além de uma questão sobre saúde no ano anterior. As pontuações são codificadas, somadas e transformadas em uma escala de 0 (pior estado de saúde) a 100 (melhor estado de saúde).1616. Brazier JE, Harper R, Jones NM, O’Cathain A, Thomas KJ, Usherwood T, et al. Validating the SF-36 health survey questionnaire: new outcome measure for primary care. BMJ. 1992;305(6846):160-4. DOI https://doi.org/10.1136/bmj.305.6846.160
https://doi.org/10.1136/bmj.305.6846.160...

Intervenção

Aplicou-se protocolo adaptado de Marques et al.,1717. Marques A, Jácome C, Cruz J, Gabriel R, Figueiredo D. Effects of a pulmonary rehabilitation program with balance training on patients with COPD. J Cardiopulm Rehabil Prev. 2015;35(2):154-8. DOI https://doi.org/10.1097/hcr.0000000000000097
https://doi.org/10.1097/hcr.000000000000...
cuja intervenção abrange exercícios multicomponentes, duas vezes por semana, durante 60 minutos, por um período de 12 semanas: (I) aquecimento (10 minutos): mobilidade articular, alongamento global, técnicas de respiração, como respiração com lábios franzidos, posições corporais, respiração diafragmática; (II) resistência (20 minutos): caminhada; (III) força (15 minutos): 7 exercícios, com duas séries de 10 repetições para grupos musculares dos membros superiores e inferiores, usando faixas elásticas, pesos livres e de tor-nozelo, sendo o peso acrescido progressivamente de acordo com a capacidade do participante; (IV) equilíbrio (5 minutos): posturas com redução gradativa da base de suporte, movimentos dinâmicos que perturbam centro de gravidade, pós-estresse dos grupos musculares, movimentos dinâmicos ao realizarem tarefa secundária individualmente; (V) relaxamento (10 minutos) ( Figura 1 ).

Figura 1
Estações do protocolo fisioterapêutico de multicomponentes.

Análise de dados

As variáveis categóricas foram expressas em fre-quências absolutas e relativas, enquanto as contínuas foram expressas em média e desvio padrão. Para a verificação da normalidade dos dados quantitativos, utilizou-se o teste Kolmogorov-Sminorv; na comparação dos grupos, em variáveis categóricas, utilizou-se teste do qui-quadrado. Análise descritiva foi empregada para caracterização sociodemográfica, antropométrica e comorbidades. Na comparação do TC6M, escala de Berg e SF-36, utilizou-se abordagem de análise por intenção de tratar, considerando-se todos os participantes e grupos até o fim, independentemente do que ocorresse com cada um deles.1818. Amatuzzi MLL, Barreto MCC, Litvoc J, Leme LEG. Linguagem metodológica: parte 2. Acta Ortop Bras. 2006;14(2):108-12. DOI https://doi.org/10.1590/S1413-78522006000200012
https://doi.org/10.1590/S1413-7852200600...
A análise de comparação de média correspondeu no momento antes da intervenção e realizou-se ANOVA one-way para confirmar homogeneidade de partida para os três grupos. A análise estatística foi realizada pelo software Statistical Package for Social Science, versão 20.0 para Windows (SPSS Inc, Chicago IL, USA), considerando-se nível de significância de p < 0,05 para todas as análises.

Resultados

Cinquenta e nove indivíduos com síndrome pós-COVID-19 foram selecionados, de acordo com os crité-rios de elegibilidade, como mostra o delineamento do estudo e alocação dos participantes ( Figura 2 ). Dos 31 participantes do GI que realizaram avaliação inicial, 23 completaram 6 sessões e fizeram uma reavaliação; 17 completaram 12 sessões e fizeram duas reavaliações; 13 completaram 18 sessões e fizeram três reavaliações; e apenas 12 completaram 24 sessões e fizeram quatro reavaliações ( Figura 2 ).

Figura 2
Delineamento do estudo e alocação dos participantes conforme diretrizes do CONSORT. 1919. Schulz KF, Altman DG, Moher D; CONSORT Group. CONSORT 2010 statement: updated guidelines for reporting parallel group randomised trials. BMJ. 2010;340:c332. DOI https://doi.org/10.1136/bmj.c332
https://doi.org/10.1136/bmj.c332...

Os participantes tinham idade entre 18 e 70 anos (52,32 + 11,87), índice de massa corporal (IMC) de 28,98 + 7,86 e 34 (57,6%) eram mulheres ( Tabela 1 ). Dos 59 participantes, 36 (61,02%) tiveram recuperação domiciliar e 23 (38,98%) tiveram recuperação hospitalar, sendo 16 (51,61%) e 15 (48,38%) no GI e 20 (71,43%) e 8 (28,57%) no GC, respectivamente. O GI apresentou melhorias em todas as variáveis físicas examinadas.

Tabela 1
Caracterização da amostra quanto aos dados sociodemográfico, antropométrico e comorbidades

A Tabela 2 mostra a comparação do desempenho dentro e entre os grupos após 12 semanas de acompanhamento. O Anova de um fator para as variáveis Berg, SF-36 e TC6M foi de respectivamente 0.35, 0.93 e 0.38, logo, não existem diferenças estatis-ticamente significativas (p ≥ 0,05) entre os grupos, verificando-se normalidade entre os dados dos grupos e homogeneidade das variâncias.

Tabela 2
Comparação inter e intragrupos após 12 semanas

Discussão

Este estudo avaliou o impacto da reabilitação de multicomponentes em indivíduos com síndrome pós-COVID-19. Na população que realizou a intervenção, foram observados resultados positivos em relação à mobilidade funcional e à qualidade de vida, sem diferença estatisticamente significante.

Houve predominância do sexo feminino (57,6%), corroborando estudo realizado por Fortuna et al.,2020. Fortuna DBS, Fortuna JL. Perfil epidemiológico dos casos de COVID-19 no município de Teixeira de Freitas-BA. Braz J Develop. 2020;6(9):76374-92. DOI https://doi.org/10.34117/bjdv6n10-166
https://doi.org/10.34117/bjdv6n10-166...
no qual 55% dos casos eram do sexo feminino. O IMC apresentou média de +28,98 kg/m22. Rothan HA, Byrareddy SN. The epidemiology and pathogenesis of coronavirus disease (COVID-19) outbreak. J Autoimmun. 2020;109:102433. DOI https://doi.org/10.1016/j.jaut.2020.102433
https://doi.org/10.1016/j.jaut.2020.1024...
, não corroborando o estudo de Eksombatchai et al.,2121. Eksombatchai D, Wongsinin T, Phongnarudech T, Thamma-varanucupt K, Amornputtisathaporn N, Sungkanuparph S. Pulmonary function and six-minute-walk test in patients after recovery from COVID-19: A prospective cohort study. PLoS One. 2021;16(9):e0257040. DOI https://doi.org/10.1371/journal.pone.0257040
https://doi.org/10.1371/journal.pone.025...
que constatou IMC de +23,8 kg/m22. Rothan HA, Byrareddy SN. The epidemiology and pathogenesis of coronavirus disease (COVID-19) outbreak. J Autoimmun. 2020;109:102433. DOI https://doi.org/10.1016/j.jaut.2020.102433
https://doi.org/10.1016/j.jaut.2020.1024...
em 87 indivíduos com COVID-19. No pre-sente estudo, as comorbidades com maior frequência foram hipertensão arterial sistêmica (44,1%), cardiopatia (13,6%) e diabetes (10,6%), divergindo dos dados da Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba,22 onde as três principais comorbidades foram cardiopatia (31%), diabetes (30%) e hipertensão (13%).

Ferioli et al.2323. Ferioli M, Prediletto I, Bensai S, Betti S, Daniele F, Di Scioscio V, et al. The role of 6MWT in COVID 19 follow up. Eur Respr J. 2021;58:OA4046. DOI https://doi.org/10.1183/13993003.congress-2021.OA4046
https://doi.org/10.1183/13993003.congres...
mostraram que o TC6M é um teste útil no seguimento pós-COVID, correlacionando-se com a gravidade da fase aguda e prejuízos na fase crônica, oferecendo a possibilidade de avaliar melhoras na capacidade de exercício, corroborando o desempenho do GI no presente estudo, pois através do TC6M foi possível perceber aumento na média da distância percorrida de 464,4 (avaliação inicial) para 518,6 metros (reavaliação final). No estudo de Eksombatchai et al.,2121. Eksombatchai D, Wongsinin T, Phongnarudech T, Thamma-varanucupt K, Amornputtisathaporn N, Sungkanuparph S. Pulmonary function and six-minute-walk test in patients after recovery from COVID-19: A prospective cohort study. PLoS One. 2021;16(9):e0257040. DOI https://doi.org/10.1371/journal.pone.0257040
https://doi.org/10.1371/journal.pone.025...
nos grupos de COVID-19 com sintomas leves e pneumonia não grave houve um decréscimo de 538,0 ± 56,8 para 527,5 ± 53,5 metros, corroborando os resultados obtidos pelo GC do presente estudo, que apresentou um decréscimo na média da distância percorrida entre a avaliação inicial e a reavaliação final de 441,2 para 433,9 metros.

O presente estudo observou que após a intervenção de 12 semanas, a média da pontuação na escala de Berg entre a avaliação inicial e a reavaliação final foi de 48 para 51,9, respectivamente, apesar de não ter sido estatisticamente significante (p ≥ 0,05). Miyamoto et al.1515. Miyamoto ST, Lombardi Jr I, Berg KO, Ramos LR, Natour J. Brazilian version of the Berg balance scale. Braz J Med Biol Res. 2004;37(9):1411-21. DOI https://doi.org/10.1590/s0100-879x2004000900017
https://doi.org/10.1590/s0100-879x200400...
inferem que a pontuação para alto risco de queda seria abaixo de 45. Giardini e et al.2424. Giardini M, Arcolin I, Guglielmetti S, Godi M, Capelli A, Corna S. Balance performance in patients with post-acute COVID-19 compared to patients with an acute exacerbation of chronic obstructive pulmonary disease and healthy subjects. Int J Rehabil Res. 2022;45(1):47-52. DOI https://doi.org/10.1097/mrr.0000000000000510
https://doi.org/10.1097/mrr.000000000000...
observaram déficit de equilíbrio dinâmico e aumento da oscilação durante postura estática em pacientes graves na fase aguda de COVID-19, no entanto a hospitalização pode resultar em problemas de equilíbrio e fraqueza muscular que não estão necessariamente relacionados à COVID-19.

Quanto à qualidade de vida, o GI apresentou au-mento na média do escore de 96,3 (avaliação inicial) para 102,6 (reavaliação final), apesar de não ter sido estatisticamente significante (p ≥ 0,05). Brazier e et al.1616. Brazier JE, Harper R, Jones NM, O’Cathain A, Thomas KJ, Usherwood T, et al. Validating the SF-36 health survey questionnaire: new outcome measure for primary care. BMJ. 1992;305(6846):160-4. DOI https://doi.org/10.1136/bmj.305.6846.160
https://doi.org/10.1136/bmj.305.6846.160...
inferem que escore de 100 representa melhor estado de saúde. Já no estudo de Sousa et al.,2525. Sousa KCA, Gardel DG, Lopes AJ. Postural balance and its association with functionality and quality of life in non-hospitalized patients with post-acute COVID-19 syndrome. Physiother Res Int. 2022;27(4):e1967. DOI https://doi.org/10.1002/pri.1967
https://doi.org/10.1002/pri.1967...
pacientes com síndrome pós-COVID-19 apresentaram piores resultados no SF-36.

Como limitação deste estudo, cita-se o fato de as coletas terem sido suspensas devido às fortes chuvas em maio de 2022, impossibilitando acesso ao local das coletas. Grande parte da amostra não realizou atividade física, o que possivelmente gerou impacto direto sobre os resultados. Participantes do GI voltaram ao treinamento, porém alguns do GC se sentiram desmotivados a continuar.

Conclusão

A reabilitação multicomponente não foi eficaz no tratamento pós-COVID-19, pois houve incrementos nas variáveis estudadas sem significância estatística. Alterações detectadas podem impactar de forma significativa uma amostra populacional maior. Diante do desafio de estudar essa população, é importante que haja novos estudos para maior contribuição à clínica desta doença.

References

  • 1
    Bogoch II, Watts A, Thomas-Bachli A, Huber C, Kraemer MUG, Khan K. Pneumonia of unknown aetiology in Wuhan, China: potential for international spread via commercial air travel. J Travel Med. 2020;27(2):taaa008. DOI https://doi.org/10.1093/jtm/taaa008
    » https://doi.org/10.1093/jtm/taaa008
  • 2
    Rothan HA, Byrareddy SN. The epidemiology and pathogenesis of coronavirus disease (COVID-19) outbreak. J Autoimmun. 2020;109:102433. DOI https://doi.org/10.1016/j.jaut.2020.102433
    » https://doi.org/10.1016/j.jaut.2020.102433
  • 3
    Lai CC, Shih TP, Ko WC, Tang HJ, Hsueh PR. Severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-CoV-2) and coronavirus disease-2019 (COVID-19): The epidemic and the challenges. Int J Antimicrob Agents. 2020;55(3):105924. DOI https://doi.org/10.1016/j.ijantimicag.2020.105924
    » https://doi.org/10.1016/j.ijantimicag.2020.105924
  • 4
    World Health Organization. Coronavirus disease 2019 (COVID-19): situation report, 51. WHO; 2020 [cited 2022 Nov 20]. Available from: https://apps.who.int/iris/handle/10665/33 1475
    » https://apps.who.int/iris/handle/10665/33
  • 5
    Moldofsky H, Patcai J. Chronic widespread musculoskeletal pain, fatigue, depression and disordered sleep in chronic post-SARS syndrome; a case-controlled study. BMC Neurol. 2011;11:37. DOI https://doi.org/10.1186/1471-2377-11-37
    » https://doi.org/10.1186/1471-2377-11-37
  • 6
    Mandal S, Barnett J, Brill SE, Brown JS, Denneny EK, Hare SS, et al. “Long-COVID”: a cross-sectional study of persisting symptoms, biomarker and imaging abnormalities following hospitalisation for COVID-19. Thorax. 2021;76(4):396-8. DOI https://doi.org/10.1136/thoraxjnl-2020-215818
    » https://doi.org/10.1136/thoraxjnl-2020-215818
  • 7
    Zeng B, Chen D, Qiu Z, Zhang M, Wang G, Wang J, et al. Expert consensus on protocol of rehabilitation for COVID-19 patients using framework and approaches of WHO International Family Classifications. Aging Med (Milton). 2020;3(2):82-94. DOI https://doi.org/10.1002/agm2.12120
    » https://doi.org/10.1002/agm2.12120
  • 8
    Casas-Herrero A, Anton-Rodrigo I, Zambom-Ferraresi F, Sáez de Asteasu ML, Martinez-Velilla N, Elexpuru-Estomba J, et al. Effect of a multicomponent exercise programme (VIVIFRAIL) on functional capacity in frail community elders with cognitive decline: study protocol for a randomized multicentre control trial. Trials. 2019;20(1):362. DOI https://doi.org/10.1186/s13063-019-3426-0
    » https://doi.org/10.1186/s13063-019-3426-0
  • 9
    Courel-Ibáñez J, Buendía-Romero A, Pallarés JG, García-Conesa S, Martínez-Cava A, Izquierdo M. Impact of tailored multicomponent exercise for preventing weakness and falls on nursing home residents’ functional capacity. J Am Med Dir Assoc. 2022;23(1):98-104.e3. DOI https://doi.org/10.1016/j.jamda.2021.05.037
    » https://doi.org/10.1016/j.jamda.2021.05.037
  • 10
    Hamilton DM, Haennel RG. Validity and reliability of the 6-minute walk test in a cardiac rehabilitation population. J Cardiopulm Rehabil. 2000;20(3):156-64. DOI https://doi.org/10.1097/00008483-200005000-00003
    » https://doi.org/10.1097/00008483-200005000-00003
  • 11
    Moalla W, Gauthier R, Maingourd Y, Ahmaidi S. Six-minute walking test to assess exercise tolerance and cardiorespiratory responses during training program in children with congenital heart disease. Int J Sports Med. 2005;26(9):756-62. DOI https://doi.org/10.1055/s-2004-830558
    » https://doi.org/10.1055/s-2004-830558
  • 12
    Solway S, Brooks D, Lacasse Y, Thomas S. A qualitative systematic overview of the measurement properties of functional walk tests used in the cardiorespiratory domain. Chest. 2001;119(1):256-70. DOI https://doi.org/10.1378/chest.119.1.256
    » https://doi.org/10.1378/chest.119.1.256
  • 13
    Troosters T, Gosselink R, Decramer M. Six minute walking distance in healthy elderly subjects. Eur Respir J. 1999;14(2): 270-4. DOI https://doi.org/10.1034/j.1399-3003.1999.14b06.x
    » https://doi.org/10.1034/j.1399-3003.1999.14b06.x
  • 14
    Berg KO, Wood-Dauphinee SL, Williams JI, Maki B. Measuring balance in the elderly: validation of an instrument. Can J Public Health. 1992;83(Suppl 2):S7-11. PubMed https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/1468055/
    » https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/1468055/
  • 15
    Miyamoto ST, Lombardi Jr I, Berg KO, Ramos LR, Natour J. Brazilian version of the Berg balance scale. Braz J Med Biol Res. 2004;37(9):1411-21. DOI https://doi.org/10.1590/s0100-879x2004000900017
    » https://doi.org/10.1590/s0100-879x2004000900017
  • 16
    Brazier JE, Harper R, Jones NM, O’Cathain A, Thomas KJ, Usherwood T, et al. Validating the SF-36 health survey questionnaire: new outcome measure for primary care. BMJ. 1992;305(6846):160-4. DOI https://doi.org/10.1136/bmj.305.6846.160
    » https://doi.org/10.1136/bmj.305.6846.160
  • 17
    Marques A, Jácome C, Cruz J, Gabriel R, Figueiredo D. Effects of a pulmonary rehabilitation program with balance training on patients with COPD. J Cardiopulm Rehabil Prev. 2015;35(2):154-8. DOI https://doi.org/10.1097/hcr.0000000000000097
    » https://doi.org/10.1097/hcr.0000000000000097
  • 18
    Amatuzzi MLL, Barreto MCC, Litvoc J, Leme LEG. Linguagem metodológica: parte 2. Acta Ortop Bras. 2006;14(2):108-12. DOI https://doi.org/10.1590/S1413-78522006000200012
    » https://doi.org/10.1590/S1413-78522006000200012
  • 19
    Schulz KF, Altman DG, Moher D; CONSORT Group. CONSORT 2010 statement: updated guidelines for reporting parallel group randomised trials. BMJ. 2010;340:c332. DOI https://doi.org/10.1136/bmj.c332
    » https://doi.org/10.1136/bmj.c332
  • 20
    Fortuna DBS, Fortuna JL. Perfil epidemiológico dos casos de COVID-19 no município de Teixeira de Freitas-BA. Braz J Develop. 2020;6(9):76374-92. DOI https://doi.org/10.34117/bjdv6n10-166
    » https://doi.org/10.34117/bjdv6n10-166
  • 21
    Eksombatchai D, Wongsinin T, Phongnarudech T, Thamma-varanucupt K, Amornputtisathaporn N, Sungkanuparph S. Pulmonary function and six-minute-walk test in patients after recovery from COVID-19: A prospective cohort study. PLoS One. 2021;16(9):e0257040. DOI https://doi.org/10.1371/journal.pone.0257040
    » https://doi.org/10.1371/journal.pone.0257040
  • 22
    Secretaria de Saúde da Paraíba. Dados epidemiológicos. 2020 [cited 2022 Nov 20]. Available from: https://tinyurl.com/A
    » https://tinyurl.com/A
  • 23
    Ferioli M, Prediletto I, Bensai S, Betti S, Daniele F, Di Scioscio V, et al. The role of 6MWT in COVID 19 follow up. Eur Respr J. 2021;58:OA4046. DOI https://doi.org/10.1183/13993003.congress-2021.OA4046
    » https://doi.org/10.1183/13993003.congress-2021.OA4046
  • 24
    Giardini M, Arcolin I, Guglielmetti S, Godi M, Capelli A, Corna S. Balance performance in patients with post-acute COVID-19 compared to patients with an acute exacerbation of chronic obstructive pulmonary disease and healthy subjects. Int J Rehabil Res. 2022;45(1):47-52. DOI https://doi.org/10.1097/mrr.0000000000000510
    » https://doi.org/10.1097/mrr.0000000000000510
  • 25
    Sousa KCA, Gardel DG, Lopes AJ. Postural balance and its association with functionality and quality of life in non-hospitalized patients with post-acute COVID-19 syndrome. Physiother Res Int. 2022;27(4):e1967. DOI https://doi.org/10.1002/pri.1967
    » https://doi.org/10.1002/pri.1967

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    2 Dez 2022
  • Revisado
    26 Mar 2023
  • Aceito
    5 Abr 2023
Pontifícia Universidade Católica do Paraná Rua Imaculada Conceição, 1155 - Prado-Velho -, Curitiba - PR - CEP 80215-901, Telefone: (41) 3271-1608 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: revista.fisioterapia@pucpr.br