RESUMO
A artroplastia total do joelho (ATJ) trata-se de uma intervenção cirúrgica, na qual ocorre a substituição da articulação afetada por uma prótese. A fisioterapia é fundamental na reabilitação após ATJ, podendo reduzir os sintomas e possibilitar a melhora da função do joelho. O objetivo foi analisar os efeitos do fortalecimento muscular na força, funcionalidade e dor de indivíduos com ATJ no período pós-operatório precoce. Os estudos foram selecionados por meio de seis bases de dados (PubmMed, PEDro, LILACS, Embase, CINAHL e Cochrane Library), utilizando os termos e descritores: Arthroplasties, Knee Replacement, Physiotherapy, Exercise, Rehabilitation e Postoperative. Todos os estudos incluídos foram avaliados quanto à qualidade metodológica, utilizando a escala PEDro. Somente ensaios clínicos randomizados que envolveram ATJ unilateral primária no pós-operatório precoce foram incluídos. Todas as metanálises foram conduzidas por meio do software Review Manager (RevMan) e descritos por diferenças médias padronizadas (standardized mean difference - SMD) com intervalos de confiança de 95% (IC). Escolheu-se nove estudos para revisão do texto completo. Os principais achados mostraram que o fortalecimento muscular, quando confrontado com as condições de comparação, foi eficaz apenas para a variável força muscular, demonstrando melhora na função geral (dois estudos, n=155; MD=-1,39, 95% IC [-2,58, -0,19]; p=0,02; I²=96%). Já para as demais análises não foram observadas diferenças significativas. Os achados do presente estudo demonstram que o fortalecimento muscular, quando iniciado principalmente no pós-operatório precoce de ATJ, é melhor que as condições de comparação na força muscular do joelho.
Descritores
Artroplastia Total do Joelho; Exercício; Fisioterapia; Pós-operatório; Reabilitação
ABSTRACT
Total Knee Arthroplasty (TKA) is a surgical intervention, in which the affected joint is replaced by a prosthesis. Physical therapy is essential in rehabilitation after TKA, which can decrease the length of hospital stay, reduce symptoms and improve knee function. This study aimed to analyze the effects of muscle strengthening on the functioning of individuals with TKA in the early postoperative period. Studies were retrieved from the Pubmed, PEDro, LILACS, EMBASE, CINAHL and Cochrane Library databases, using following terms and keywords: Arthroplasties, Knee Replacement, Physiotherapy, Exercise, Rehabilitation and Postoperative. All included studies were assessed for methodological quality, using the PEDro Scale. Only randomized controlled trials involving unicompartmental knee replacement in the early postoperative period were included in this review. All meta-analyses were conducted using the Review Manager - RevMane software described as standardized mean difference (SMD) with 95% confidence intervals (CI). Nine studies were chosen to review the full text. The main findings demonstrated that muscle strengthening, after comparison with other variables, was effective only for the variable muscle strength (two studies, n=155; MD=−1.39, 95% CI [−2.58, −0.19]; p=0,02; I²=96%) improving overall functioning. For the other analyses, however, no significant differences were observed. This study outcomes suggest muscle strengthening-when initiated in the early postoperative period-is better than the comparison conditions in knee functioning.
Keywords
Knee Arthroplasty; Exercise; Physical therapy; Postoperative; Rehabilitation
RESUMEN
La artroplastia total de rodilla (ATR) es una intervención quirúrgica que reemplaza la articulación afectada por una prótesis. La fisioterapia es esencial en la rehabilitación después de la ATR, pues se puede reducir los síntomas y mejorar la función de la rodilla. El objetivo de este estudio fue evaluar los efectos del fortalecimiento muscular sobre la fuerza, la funcionalidad y el dolor de los individuos con ATR en el posoperatorio temprano. Los estudios fueron seleccionados de seis bases de datos (PubMed, PEDro, LILACS, Embase, CINAHL y Cochrane Library), utilizando los términos y palabras clave: Arthroplasties, Knee Replacement, Physiotherapy, Exercise, Rehabilitation y Postoperative. Todos los estudios incluidos se evaluaron para determinar la calidad metodológica mediante el uso de la escala PEDro. Solo se incluyeron ensayos clínicos aleatorizados que incluyeron ATR unilateral primaria en el posoperatorio temprano. Todos los metaanálisis se realizaron en el software Review Manager (RevMan) y se describieron mediante la diferencia de media estandarizada (standardized mean difference -SMD) con intervalos de confianza (IC) del 95%. Se eligieron nueve estudios para análisis del texto completo. Los principales hallazgos revelaron que el fortalecimiento muscular, en comparación con las condiciones evaluadas, fue efectivo solo para la variable de fuerza muscular, lo cual ocasionó mejora en la función general (dos estudios, n=155; MD=-1,39, IC 95% [-2,58, -0,19]; p=0,02; I²=96%). Para los otros análisis, no se observaron diferencias significativas. Los hallazgos de este estudio revelaron que el fortalecimiento muscular, cuando se inicia principalmente en el período posoperatorio temprano de ATR, presenta una mejor respuesta que las condiciones evaluadas en la fuerza muscular de la rodilla.
Palabras clave
Artroplastia Total de Rodilla; Ejercicio; Fisioterapia; Posoperatorio; Rehabilitación
INTRODUÇÃO
A osteoartrite (OA) é uma doença articular crônica caracterizada pela degeneração da cartilagem articular, associada à dor, rigidez e incapacidade funcional1. Consiste na doença articular mais comum2, sendo, assim, considerada um grande problema de saúde pública3. Embora possa afetar todas as articulações, o joelho é uma das mais acometidas pela OA2. Em estágios avançados da doença, a artroplastia total do joelho (ATJ) é frequentemente realizada4. A ATJ é uma intervenção cirúrgica na qual ocorre a substituição da articulação afetada por uma prótese5, sendo referência na melhora da dor, funcionalidade e qualidade de vida dos pacientes pelo fato de apresentar resultados bastante satisfatórios no pós-operatório (PO) (6.
A fisioterapia é fundamental na reabilitação após ATJ7, podendo diminuir o tempo de hospitalização, reduzir os sintomas e possibilitar a melhora da função do joelho8. A reabilitação envolve exercícios que, geralmente, são implementados desde a fase pré-operatória, prossegue durante todo o período de internação e permanece por mais um ou dois meses após alta. Assim, a reabilitação, ainda no ambiente hospitalar ou nos primeiros dois meses após a cirurgia, é denominada de reabilitação precoce9.
No PO precoce de ATJ, um dos principais objetivos da fisioterapia hospitalar é preparar os pacientes para alta após a cirurgia, com foco na mobilização precoce, visando melhorar a amplitude de movimento (ADM) e a força muscular10. Além disso, as modalidades de tratamento para aliviar os sintomas de dor e edema ao redor do joelho devem estar sempre presentes na conduta fisioterapêutica, devido sua relação com disfunções observadas no PO precoce ou tardio7.
A fase inicial da reabilitação é de extrema importância, visto que durante o primeiro mês após a cirurgia é perdida aproximadamente 60% da força do músculo quadríceps e 88% do desempenho funcional11. Dessa maneira, os exercícios direcionados para a restauração da força muscular ajudam a diminuir o risco de complicações decorrentes do PO, como dor, rigidez e redução da função12.
Assim sendo, a fisioterapia no PO de ATJ pode envolver exercícios que visam reduzir a dor, o inchaço, melhorar a força muscular, principalmente do músculo quadríceps, e a amplitude de movimento do joelho, para tentar levar os indivíduos a um nível mais alto de funcionalidade13. Além de exercícios direcionados à marcha, equilíbrio e atividades de vida diária10.
Alcançar independência funcional, o mais cedo possível, é um fator importante no manejo de pacientes após a ATJ, no entanto, apesar das muitas modalidades de reabilitação disponíveis, há escassez de estudos para demonstrar sua eficácia ou orientar a reabilitação no PO da ATJ e atingir a melhora funcional do paciente. Logo, esta revisão sistemática tem como objetivo analisar os efeitos do exercício fisioterapêutico na funcionalidade de indivíduos com ATJ no período pós-operatório precoce.
MÉTODOS
Estratégia de pesquisa
Para a estruturação desta revisão sistemática, foi realizada uma pesquisa eletrônica em 14 de dezembro de 2022, consultando seis bases de dados (PubMed, PEDro, LILACS, Embase, CINAHL e Cochrane Library) para identificar estudos pertinentes. As pesquisas foram feitas utilizando o portal Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) no idioma inglês, com as seguintes palavras-chave: Arthroplasties, Knee Replacement (e os sinônimos: Arthroplasties, Replacement, Knee; Arthroplasty, Knee; Arthroplasty, Knee Replacement; Arthroplasty, Total Knee; Knee Arthroplasty; Knee Arthroplasty, Total; Knee Replacement Arthroplasties; Knee Replacement Arthroplasty; Knee Replacement, Total; Replacement Arthroplasties, Knee; Replacement Arthroplasty, Knee; Replacement, Total Knee; Total Knee Arthroplasty e Total Knee Replacement), Physiotherapy (e os sinônimos: Physical therapy specialty e Physical therapy modalities), Exercise, Rehabilitation and Postoperative. Esses termos foram utilizados de forma independente e depois combinados com operadores booleanos (AND/OR) para aumentar a sensibilidade e especificidade da busca. Utilizaram-se informações baseadas em evidência científica: ensaios clínicos randomizados, controlados ou quase-experimentais.
Seleção do estudo
Os estudos selecionados envolveram ATJ no período pós-operatório precoce, até dois meses pós-cirúrgico, em participantes humanos em que foram avaliados os efeitos do exercício de força na funcionalidade geral dos indivíduos. Foram incluídos nesta revisão artigos descrevendo os resultados, comparando exercícios de fortalecimento no pós-operatório com os cuidados habituais ou comparando diferentes tipos de exercícios fisioterapêuticos no pós-operatório. Outros critérios de elegibilidade também foram utilizados:
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Artigos disponíveis em texto completo;
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Artigos em inglês;
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Ensaio clínico randomizado, controlado ou quase-experimental;
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Intervenção de exercício proposta por fisioterapeutas;
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A intervenção pode iniciar no pós-operatório precoce, antes da alta, no ambiente hospitalar; ou após a alta, no ambulatório ou domicílio;
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Participantes de ambos os sexos, adultos (idade ≥18 anos), com substituição total unilateral primária do joelho no pós-operatório.
Foram excluídos artigos publicados em outro idioma que não o inglês, cujo texto completo não estivesse disponível, que falassem da artroplastia em outra articulação que não a do joelho ou que abordassem a artroplastia parcial e não total, que não avaliassem a funcionalidade como desfecho e que fossem estudos pilotos. Intervenções, incluindo estimulação elétrica, acupuntura, crioterapia, hidroterapia, pilates ou modalidades elétricas, como movimento passivo contínuo, foram excluídas por serem consideradas como um complemento às intervenções baseadas em exercícios conduzidos pelo fisioterapeuta14. Também excluíram desta revisão estudos relacionados à telerreabilitação, estudos em animais e artigos que não tivessem relação direta com o assunto abordado.
Com base nos critérios de inclusão, ocorreu uma triagem inicial de títulos seguido pela análise dos resumos para isolar possíveis artigos relevantes. Em seguida, foi realizada triagem dos artigos de texto completo extraídos para revisão final. Essas etapas foram feitas independentemente por dois autores e, caso houvesse diferenças na seleção final, um terceiro avaliador decidiria as inclusões ou exclusões dos artigos discrepantes.
Extração de dados
Dados dos desfechos, incluindo valores finais de médias, desvio-padrão e tamanho da amostra, foram extraídos por dois revisores. O processo de extração de dados foi realizado por meio de um formulário padronizado e os dados extraídos incluíram o tipo de estudo, país e ano de publicação, tamanho da amostra, características dos participantes (idade e sexo), características da intervenção fisioterapêutica (tipo, cenário, supervisão, duração, frequência, intensidade, início e tempo de seguimento), características da intervenção de controle (frequência e intensidade) e principais achados em cada categoria de resultado (função articular e muscular, desempenho funcional e resultados autorreferidos). Desacordos entre autores foram sanados por um terceiro autor mais experiente, que decidiu o desfecho final.
Avaliação da qualidade metodológica dos estudos
Todos os estudos incluídos foram avaliados quanto à qualidade metodológica, utilizando a escala (physiotherapy evidence database (PEDro) (14),(15. Esse processo também foi feito por dois revisores independentes e, novamente, adotou-se o método de consenso. Cada estudo foi avaliado para alocação aleatória, alocação oculta, comparabilidade de base, participantes cegos, terapeutas e avaliadores cegos, acompanhamento adequado, análise de intenção de tratar, comparação entre grupos, estimativas pontuais e variabilidade. Pontuação maior ou igual a sete foi considerada de “alta qualidade”, pontuação de cinco ou seis foi considerada de “qualidade moderada” e menor ou igual a quatro de “má qualidade”. Estudos previamente avaliados e listados no banco de dados do PEDro tiveram essas pontuações adotadas. A qualidade metodológica não foi um critério de inclusão.
Síntese e análise dos dados
Realizou-se um agrupamento, considerando todos os estudos, para as variáveis de função e/ou atividade corporal dos participantes. Para tal, foram utilizados parâmetros como dor, força, ADM, qualidade de vida (QV), equilíbrio e velocidade da marcha, com o objetivo de observar os efeitos do exercício fisioterapêutico, independente da comparação com outros exercícios ou com a condição controle.
Todas as metanálises foram conduzidas por meio do software Review Manager (RevMan) (versão 5.3, Copenhagen: The Nordic Cochrane Centre, The Cochrane Collaboration, 2014). As estimativas agrupadas foram calculadas usando um modelo de efeito aleatório (random effect), devido à heterogeneidade dos estudos (representados por I²). Os dados foram agrupados em metanálises e descritos como diferenças médias padronizadas (standardized mean difference - SMD) com intervalos de confiança de 95% (IC). O tamanho de efeito interpretou-se como: 0,2 representando um pequeno tamanho de efeito; 0,5 como moderado; e 0,8 como um grande tamanho de efeito16.
RESULTADOS
Estudos elegíveis
Inicialmente um total de 4.666 registros foram identificados a partir da pesquisa nas seis bases de dados. A busca inicial no banco de dados PubMed gerou 378 resultados; a consulta original no banco de dados PEDro resultou em 3.886 entradas; na base de dados LILACS foram encontrados 55 resultados; no banco de dados Embase 191 entradas; já a consulta no banco de dados CINAHL obteve 53 resultados e, por fim, a consulta da biblioteca Cochrane Library admitiu 103 resultados.
Após avaliar a relevância e realizar a remoção das duplicatas, os 1.363 artigos restantes foram rastreados por títulos e 1.175 artigos foram considerados inelegíveis. Os 188 artigos restantes foram selecionados pelos resumos e, destes, 83 artigos avaliou-se o texto completo. Desses estudos, 74 foram excluídos: 4 não apresentavam grupo controle, 48 não apresentavam texto completo disponível, 1 usou a crioterapia, 2 usaram o CPM, 5 incluíram a ATJ bilateral, 2 eram protocolos, 3 usaram a estimulação elétrica e 9 foram excluídos por outros critérios. Por fim, nove artigos16)-(24 finais foram considerados elegíveis e incluídos nesta revisão.
A Figura 1 mostra o processo esquemático da seleção do estudo com base em um fluxograma do PRISMA
A escala PEDro, utilizada para a avaliação da qualidade metodológica dos estudos incluídos, apresentou média de 7,1 pontos. Sete dos estudos foram considerados de moderada a alta qualidade17)-(19),(21)-(23. A Figura 2 evidencia o número de ensaios clínicos que cumpriram cada critério.
Os nove estudos elegíveis foram publicados entre os anos de 200624 e 202123. Esses estudos compreenderam um total de 1.174 participantes de ambos os sexos. O perfil e a idade dos participantes variaram entre adultos18),(19),(24 e idoso16),(17),(20)-(24,com faixa etária de 5018) a 82 anos20. Todos os indivíduos apresentavam substituição total unilateral primária do joelho e se encontravam no período pós-operatório.
Os estudos foram oriundos do Japão16),(22, Espanha17, Paquistão18, Austrália19, China20, Estados Unidos21, Holanda23) e Reino Unido24. Dos nove estudos incluídos, um foi ensaio clínico não randomizado20),(22, e os outros oito estudos eram ensaios clínicos randomizados16)-(19),(21),(23),(24.
Os protocolos consistiam em programa de reabilitação padrão mais treinamento de batidas laterais sentadas (SST) (16, treinamento de reabilitação e treinamento com uma plataforma dinamométrica17, treinamento funcional domiciliar1, reabilitação hospitalar associado a um programa em casa e apenas programa doméstico19, programa educacional e treinamento em cicloergômetro20, exercícios na clínica e exercícios na comunidade21, reabilitação quatro horas após a cirurgia ou dois dias após22, exercícios duas vezes ao dia23) e treinamento ambulatorial ou domiciliar24. Todos os estudos apresentaram um grupo comparativo. As características dos estudos incluídos estão resumidas na Tabela 1.
Metanálise
Análises considerando as comparações entre o exercício de fortalecimento e condições controles foram realizadas utilizando a medida de mean difference para a força geral de joelho (Figura 3). Os resultados dos dados agrupados demonstraram que as intervenções do grupo experimental apresentaram eficácia comparada às condições do grupo controle, apresentando tamanho de efeito pequeno (dois estudos, n=155; MD=-1,39, 95% IC [-2,58, -0,19]; p=0,02; I²=96%).
Forest plot ilustrando os efeitos do exercício de fortalecimento comparado com condições controles para a força geral (n=155)
Uma análise foi realizada para comparar os efeitos do exercício de fortalecimento com a condição controle para a EVA. A condição experimental apresentou efeito pequeno favorável em relação à condição controle para a variável EVA, apresentando tamanho de efeito pequeno (quatro estudos, n=562; MD=-0,28, 95% IC [-0,60, 4,87]; p=0,09; I²=94%). O estudo de Kubota et al. (22 analisou quatro momentos após a intervenção: três dias, três semanas, seis meses e 12 meses. Enquanto o estudo de Shabbir et al. (18 avaliou a intervenção após quatro semanas pós-operatório, Hamilton et al. (24 analisou seis, oito e 14 semanas pós-operatório, e Liu et al. (20 após 12 semanas de intervenção, dessa maneira, optou-se por utilizar apenas os resultados da terceira22, quarta18, sexta24 e décima segunda20 semanas nos estudos16),(22) para realizar esta análise.
Forest plot ilustrando os efeitos do exercício de fortalecimento comparado com condições controles para dor (n=562)
A Figura 5 apresenta o resultado das análises dos estudos que compararam os efeitos do fortalecimento com as condições controle para o questionário WOMAC. A variável analisada não demonstrou efeito significativo em relação à condição controle (três estudos, n=273; MD=-1,52, 95% IC [-4,01, 0,96]; p=0,23; I²=23%).
Forest plot ilustrando os efeitos do exercício fisioterapêutico comparado com condições controles para ADM (n=419) e questionário WOMAC (n=273)
DISCUSSÃO
O presente estudo teve como objetivo analisar os efeitos do fortalecimento muscular em indivíduos com ATJ total e comparar com os períodos de intervenção e pós-operatório precoce sobre desfechos da força, dor e funcionalidade. Os principais achados deste estudo demonstraram que o fortalecimento, quando comparado com outras condições, foi eficaz apenas para o aumento da força muscular do joelho com desfecho de funcionalidade. No entanto, quando comparado à condição controle, o exercício de força não mostrou superioridade em variáveis como EVA e questionário WOMAC.
Um total de dois estudos16),(22) (n=155 participantes) comparou o fortalecimento muscular associado a um treinamento de SST16 e reabilitação precoce22, para analisar a funcionalidade do joelho com a variável força muscular, demonstrando que o fortalecimento muscular, quando relacionado a um programa de mobilidade de tronco e iniciado precocemente, é mais eficaz do que as outras intervenções realizadas nos grupos de comparação. Três estudos25)-(27 avaliaram se a força e mobilidade de tronco estavam associadas ao desempenho e funcionalidade de pacientes idosos. Segundo Kim et al. (26, os exercícios isométricos e dinâmicos do tronco aumentam a velocidade da marcha, assim como exercícios que incluem força e coordenação27 podem ser benéficos para melhorar a função. Esses resultados corroboram com o presente estudo, demonstrando que exercícios para o tronco e a reabilitação precoce associados ao fortalecimento muscular melhoram a funcionalidade dos pacientes.
Com relação aos achados referentes à EVA, foram observados resultados favoráveis do fortalecimento quanto à condição experimental na análise exploratória18),(20),(22),(24, porém com efeito pequeno. Segundo o estudo de Winter et al. (28, não houve aumento da dor após a realização do treinamento de força muscular em pacientes com ATJ no pós-operatório, ainda foi verificado que a redução da força muscular no PO decorre devido à diminuição da ativação muscular29, resultando em inchaço, inflamação e danos articulares30. Dessa forma, deve ser iniciada a reabilitação precoce com foco em treinamento de força e ativação neuromuscular, a fim de aumentar a ativação neuromuscular e diminuir as resultantes que podem causar dor31),(32. Portanto, a realização do fortalecimento muscular precoce juntamente à ativação neuromuscular podem diminuir a dor pós-operatória, alcançando resultados mais satisfatórios.
Para desfecho de funcionalidade, utilizando como variável o questionário WOMAC-PF, na análise exploratória dessa metanálise, os resultados também não apresentaram efeitos significativos para o exercício de fortalecimento quando comparados ao grupo controle20),(21),(23. Kim et al. (31) investigaram os resultados funcionais após a aplicação de uma via crítica para a reabilitação hospitalar de ATJ. O programa de exercícios incluiu um protocolo de reabilitação precoce e, após isso, a reabilitação intensiva, com treinamento de marcha progressiva usando uma esteira de pressão positiva para membros inferiores, exercícios aeróbicos com ergômetro estacionário e exercícios resistidos progressivos. As avaliações foram realizadas no pré-operatório, um mês e três meses do PO. Nesse estudo, o escore de WOMAC-PF de dor e função mostraram uma melhora significativa em um mês pós-ATJ, enquanto o escore de rigidez de WOMAC-PF mostraram melhorias graduais, mas substanciais, ao longo de três meses. Esses resultados contrastam com os achados do presente estudo, e isso pode ser explicado pelo fato de que um programa de reabilitação intensivo promove melhora da capacidade funcional a curto e médio prazo após ATJ em caso de OA grave32.
Dessa forma, intervenções fisioterapêuticas incluindo fortalecimento muscular são benéficas para recuperação da função física pós-operatória de curto prazo após ATJ33. Esses resultados podem ser justificados devido ao fortalecimento muscular restabelecer o controle neuromuscular, além de reduzir a dor e melhorar a função e qualidade de vida do paciente29),(30. Portanto, a realização de exercícios fisioterapêutico após a ATJ traz benefícios evidentes.
Uma das limitações do estudo foi a falta de ensaios clínicos randomizados na literatura que investigassem o tema abordado para serem adicionados nesta revisão sistemática. Também, não terem determinado a validade e confiabilidade da integridade dos tipos de exercícios ministrados, dos instrumentos utilizados, ou adequação de análise estatística utilizados nos estudos. Houve dificuldades ou escassez de trabalhos para estratificar as subanálises exploratórias devido à heterogeneidade dos estudos em relação à idade, sexo, tipo de exercício fisioterapêutico, variáveis analisadas, tempo de intervenção e comparação com outra atividade. Apesar disso, a qualidade metodológica dos estudos incluídos deve ser considerada.
Cabe ressaltar que os resultados do presente estudo permitem que profissionais capacitados utilizem o exercício de fortalecimento como uma medida de intervenção no PO precoce e tardio da ATJ, principalmente, se o objetivo for a melhora da função do joelho. Também, ressalta-se que esta revisão sistemática agrupou de maneira fundamentada os resultados, gerando apenas metanálises com a maior quantidade de estudos possíveis.
Entende-se que são necessários mais estudos que avaliem tais resultados para que seja possível uma conclusão mais precisa sobre quais os melhores tipos de exercícios, tempo de intervenção e formas de avaliação para a ATJ e para uma melhor prática clínica.
CONCLUSÃO
Esta revisão demonstra que existem estudos disponíveis sobre reabilitação com exercícios de fortalecimento após cirurgia de ATJ no ambiente pós-operatório imediato. Os achados do presente estudo demonstram que o exercício de força, quando iniciado principalmente no PO precoce de ATJ, é melhor que as condições de comparação na força muscular para funcionalidade do joelho.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
18 Ago 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
-
Recebido
28 Maio 2024 -
Aceito
23 Ago 2024










