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Efeito da técnica isostretching no equilíbrio postural

Effect of the isostretching technique on postural balance

Resumos

O objetivo do estudo foi avaliar os efeitos da técnica isostretching em alterações posturais. Doze voluntários com aumento da cifose torácica, escoliose, protrusão de cabeça e ombros foram tratados com a técnica isostretching três vezes por semana em sessões de 1 hora cada. Foram divididos em dois grupos, segundo o número de sessões de tratamento que freqüentaram: grupo 1 (n=8), mais de 30 sessões e grupo 2 (n=4), menos de 30 sessões. Para a avaliação postural, os voluntários foram fotografados antes e após o tratamento no plano frontal anterior e posterior, no plano sagital ereto e em flexão anterior de tronco. Os dados foram analisados estatisticamente, considerando o nível de significância de 5%. No grupo 1, os resultados foram satisfatórios quanto às modificações no alinhamento do triângulo de Talles (ΔT) esquerdo (f=0,00), ângulo coxofemoral (f=0,00), ângulo tibiotársico (f=0,00) e alinhamento da coluna torácica (f=0,01). Nos indivíduos do grupo 2, os resultados foram satisfatórios quanto ao alinhamento do joelho esquerdo (f=0,03), ΔT esquerdo (f=0,00), ΔT direito (f=0,01), alinhamento da coluna torácica (f=0,03) e alinhamento da cabeça (f=0,02). A técnica de isostretching, nas posturas adotadas neste estudo, foi pois eficaz no alinhamento da coluna vertebral torácica nos dois grupos, bem como na melhora da flexibilidade no grupo 1; entretanto, não houve melhora nas assimetrias posturais no plano frontal, independente do número de sessões freqüentadas pelos sujeitos.

Curvaturas da coluna vertebral; Exercícios de alongamento muscular; Fotogrametria; Postura


The purpose was to assess the effects of the isostretching technique on postural changes. Twelve subjects with increased thoracic kyphosis, scoliosis, head and shoulders protusion were treated with the isostretching technique in three one-hour weekly sessions. Subjects were dividded into two groups according to the number of sessions attended: group 1 (n=8), over 30 sessions; and group 2 (n=4) attended less than 30 sessions. In order to assess postural changes, subjects were photographed before and after treatment at anterior and posterior frontal planes, at upright sagittal plane and at anterior trunk flexion. Data were statistically analysed and significance level set at 5%. Group 1 results were satisfactory as to changes in letf Talles triangle (TΔ) alignment (f=0.00), hip angle (f=0.00), tibiotarsal angle (f=0.01), and thoracic kyphosis alignment (f=0.00). In group 2 subjects, results were satisfactory as to left knee angle (f=0.03), left TΔ f=0.00) and right TΔ (f=0.01) alignment, thoracic kyphosis (f=0.03) and head alignment (f=0.02). The isostretching technique, in the postures here adopted, was efficient in aligning thoracic spine in both groups and in improving flexibility in group 1; however, regardless of the number of sessions attended, no changes in frontal plane posture asymmetries were noticed.

Muscle stretching exercises; Photogrammetry; Posture; Spinal curvatures


PESQUISA ORIGINAL ORIGINAL RESEARCH

Efeito da técnica isostretching no equilíbrio postural

Effect of the isostretching technique on postural balance

Vanessa Vilela Monte-RasoI; Paula Araújo FerreiraII; Marcelo Silva de CarvalhoIII; Jane Godoy RodriguesIII; Cristiano Costa MartinsIII; Denise Hollanda IunesIV

IFisioterapeuta; Profa. Dra. do Curso de Fisioterapia da Unifenas

IIGraduanda em Fisioterapeuta na Unifenas, bolsista de iniciação científica

IIIGraduandos em Fisioterapeuta na Unifenas

IVFisioterapeuta; Profa. Dra. do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Alfenas, MG

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Denise H. Iunes R. Prof. Carvalho Junior 53 ap. 901 37130-000 Alfenas MG e-mail: deniseiunes@yahoo.com.br

RESUMO

O objetivo do estudo foi avaliar os efeitos da técnica isostretching em alterações posturais. Doze voluntários com aumento da cifose torácica, escoliose, protrusão de cabeça e ombros foram tratados com a técnica isostretching três vezes por semana em sessões de 1 hora cada. Foram divididos em dois grupos, segundo o número de sessões de tratamento que freqüentaram: grupo 1 (n=8), mais de 30 sessões e grupo 2 (n=4), menos de 30 sessões. Para a avaliação postural, os voluntários foram fotografados antes e após o tratamento no plano frontal anterior e posterior, no plano sagital ereto e em flexão anterior de tronco. Os dados foram analisados estatisticamente, considerando o nível de significância de 5%. No grupo 1, os resultados foram satisfatórios quanto às modificações no alinhamento do triângulo de Talles (ΔT) esquerdo (f=0,00), ângulo coxofemoral (f=0,00), ângulo tibiotársico (f=0,00) e alinhamento da coluna torácica (f=0,01). Nos indivíduos do grupo 2, os resultados foram satisfatórios quanto ao alinhamento do joelho esquerdo (f=0,03), ΔT esquerdo (f=0,00), ΔT direito (f=0,01), alinhamento da coluna torácica (f=0,03) e alinhamento da cabeça (f=0,02). A técnica de isostretching, nas posturas adotadas neste estudo, foi pois eficaz no alinhamento da coluna vertebral torácica nos dois grupos, bem como na melhora da flexibilidade no grupo 1; entretanto, não houve melhora nas assimetrias posturais no plano frontal, independente do número de sessões freqüentadas pelos sujeitos.

Descritores: Curvaturas da coluna vertebral/reabilitação; Exercícios de alongamento muscular; Fotogrametria; Postura

ABSTRACT

The purpose was to assess the effects of the isostretching technique on postural changes. Twelve subjects with increased thoracic kyphosis, scoliosis, head and shoulders protusion were treated with the isostretching technique in three one-hour weekly sessions. Subjects were dividded into two groups according to the number of sessions attended: group 1 (n=8), over 30 sessions; and group 2 (n=4) attended less than 30 sessions. In order to assess postural changes, subjects were photographed before and after treatment at anterior and posterior frontal planes, at upright sagittal plane and at anterior trunk flexion. Data were statistically analysed and significance level set at 5%. Group 1 results were satisfactory as to changes in letf Talles triangle (TΔ) alignment (f=0.00), hip angle (f=0.00), tibiotarsal angle (f=0.01), and thoracic kyphosis alignment (f=0.00). In group 2 subjects, results were satisfactory as to left knee angle (f=0.03), left TΔ f=0.00) and right TΔ (f=0.01) alignment, thoracic kyphosis (f=0.03) and head alignment (f=0.02). The isostretching technique, in the postures here adopted, was efficient in aligning thoracic spine in both groups and in improving flexibility in group 1; however, regardless of the number of sessions attended, no changes in frontal plane posture asymmetries were noticed.

Key words: Muscle stretching exercises; Photogrammetry; Posture; Spinal curvatures/rehabilitation

INTRODUÇÃO

As alterações posturais consistem em modificações no alinhamento corporal, produzindo um excesso de tensão muscular1-3, que muitas vezes surgem por compensações, ou seja, o corpo faz adaptações para compensar um quadro álgico ou devido a tensões musculares. Essas adaptações geram mais tensões musculares que, se persistirem, favorecem o desenvolvimento de mais deformidades1,4. Para prevenir ou tratar tais alterações, o uso de técnicas de alongamento global está sendo cada vez mais utilizado. Uma dessas técnicas é o isostretching, que prepara e protege a musculatura de uma retração que possa vir a sofrer por falta de atividade física adequada, sendo indicada para todas as idades e capacidades físicas5. Essa técnica foi desenvolvida em 1974 por Bernard Redondo e consiste na manutenção de posturas de alongamento durante uma expiração prolongada, enquanto o indivíduo realiza uma contração isométrica excêntrica da musculatura vertebral profunda5-8. Esta é considerada uma técnica global porque as posturas utilizadas objetivam manter posicionamento vertebral de engrandecimento, favorecem o alongamento simultâneo dos músculos posteriores da coluna e membros e, ao mesmo tempo, mantêm os paravertebrais profundos com uma tonicidade que favorece a manutenção da postura correta adquirida6. Em geral, é aplicada ao longo de várias sessões.

Segundo Fedorak et al.9, a quantificação de alterações posturais não é comumente utilizada em clínicas e escolas de fisioterapia e pouca atenção tem sido dada à mensuração dos desvios posturais em trabalhos científicos. Esses autores ressaltam a importância da avaliação quantitativa. Para Munhoz et al.10, um dos caminhos para estudar as alterações posturais é a análise postural quantitativa, em que os desvios são numericamente quantificados.

Na literatura, quase não se encontram estudos que avaliam os efeitos do isostretching em alterações posturais, sendo que os poucos encontrados apresentam dados qualitativos obtidos por meio de fotografia11, ou radiografia8,11,12, ou avaliam apenas um segmento da postura corporal5,7. Everett e Patel13, em uma revisão sistemática sobre tratamentos conservadores de escoliose, apontam a escassez de estudos com tratamento conservador. Alguns poucos trabalhos encontrados relacionam o uso de técnicas globais com algumas situações como espondilite anquilosante14,15; alterações na marcha de idosos7; flexibilidade, força muscular e amplitude de movimento16,17; qualidade de vida e dor cervical17. No entanto, para Moreno et al.3, ainda há falta de estudos comprovando a eficácia de técnicas de tratamento global, como a reeducação postural global (RPG).

O uso do registro fotográfico tem sido preconizado para avaliações posturais. Esse recurso propicia um valioso registro das transformações posturais ao longo do tempo, às vezes sutis, e permitindo inter-relacionar diferentes partes do corpo que são difíceis de mensurar18. A técnica, cuja confiabilidade já foi testada e descrita na literatura14,21, deve ser utilizada com rigor metodológico12.

Esta pesquisa teve como objetivo avaliar o efeito da técnica isostretching na melhora de alterações posturais em pacientes, avaliados por meio de fotogrametria computadorizada, bem como verificar eventual interferência do número de sessões de alongamento na melhora dessas alterações.

METODOLOGIA

Foram recrutados 19 voluntários de ambos os sexos, escolhidos aleatoriamente dentre os pacientes na fila de espera da Clínica de Fisioterapia da Unifenas - Universidade José do Rosário Vellano, Alfenas, MG. Os critérios de inclusão foram pacientes com aumento da cifose torácica, escoliose, protrusão de cabeça, protrusão de ombro e genum recurvatum e que indicaram estar em bom estado geral. Como critérios de exclusão foram adotados problemas cardiorrespiratórios e neurológicos, deformidades graves, fraturas na coluna e implantes metálicos. Todos os voluntários receberam informações para a participação no estudo e assinaram um termo de consentimento formal em participar. O protocolo experimental deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa envolvendo seres humanos da Unifenas.

O previsto era atender 14 voluntários em 40 sessões de tratamento, recrutando-se 19 para dar margem a desistências. No entanto, apenas 12 prosseguiram o tratamento (a perda amostral deveu-se a desistência), sendo estes então divididos em dois grupos: grupo 1 (n=8) com média de idade de 20,3±7,3 anos, que se submeteram a mais de 30 sessões de tratamento; e grupo 2 (n=4), com média de idade de 20,3±3,8 anos, que freqüentaram menos de 30 sessões de tratamento.

Avaliação postural: todos os voluntários foram fotografados antes e depois de finalizar o tratamento no plano frontal anterior e posterior, no plano sagital ereto e em rolamento. As fotografias foram realizadas em trajes sumários (biquíni ou sunga) sem adornos e descalços. Todos os registros fotográficos foram feitos tomando os seguintes cuidados: padronização do posicionamento do voluntário e da máquina fotográfica; posicionamento da câmera sobre tripé nivelado (a câmera sempre paralela ao chão); sem zoom para evitar distorções; e todas as fotografias foram tiradas pelo mesmo examinador18. Os registros fotográficos foram realizados com duas máquinas digitais (ambas Sony Cyber-shot, uma com resolução de 5,1 megapixels, outra com 7,2 megapixels), posicionadas a uma distância do voluntário de 2,4 m, sobre um tripé a 1 m do chão, para fotografar o corpo todo19. Os registros fotográficos digitais obtidos foram dimensionados em 2048 x 1536 pixels e armazenados para posterior análise fotogramétrica pelo programa ALCimagem-2000 (Manipulando Imagens, v.1.5).

Foram marcados os seguintes pontos anatômicos bilateralmente no corpo dos voluntários (com etiquetas autoadesivas), como referência para traçar os ângulos a serem avaliados na fotogrametria: articulação acrômio clavicular, espinha ilíaca ântero-superior (EIAS), espinha ilíaca póstero-superior (EIPS), ângulo inferior da escápula, tuberosidade da tíbia, protuberância occipital, processos espinhosos de C4, C7, T7, T12, L3, L5, trocânter maior, cabeça da fíbula, maléolo lateral, cabeça do 5º dedo. Os pontos foram sempre marcados pelo mesmo examinador, utilizando-se uma haste de plástico flexível cor laranja, para melhor visualização no plano sagital.

A partir desses pontos, foram traçados os seguintes ângulos (a pertinente confiabilidade da fotogrametria foi testada por Iunes et al.19): ângulo da articulação acrômio clavicular (AC), alinhamento do joelho (AJ), triângulo de Talles direito (ΔTd), triângulo de Talles esquerdo (ΔTe), ângulo inferior da escapula (IE), ângulo das espinhas ilíacas póstero-superiores (PS) (Figura 1); ângulo de protrusão da cabeça (PC), ângulo da lordose cervical (LC), ângulo da cifose torácica (CT), ângulo da lordose lombar (LL), ângulo flexo de joelho ortostático (FJo), ângulo tibiotársico (ATT) (Figura 2).


Finalmente, a partir da posição ortostática foi solicitado ao voluntário que fizesse uma inclinação anterior do tronco com os joelhos em extensão, tentando alcançar o chão. Nessa posição em rolamento, foram analisados os ângulos: Whistance (W)20, coxofemoral (CF) e flexo de joelho-rolamento (FJr), que é o mesmo mostrado no plano sagital, só que com o paciente na posição de rolamento. O ângulo Whistance (W) foi medido pela intersecção da reta que une o ponto marcado em C7 até a EIAS com a reta que une o trocânter maior à EIAS. O ângulo CF foi medido pela intersecção da reta que une a EIAS ao trocânter maior com a reta que une a cabeça da fíbula à EIAS.

Tratamento

A técnica isostretching foi aplicada em sessões de uma hora, três vezes por semana. Consiste em exercícios isométricos excêntricos, em que o tempo de manutenção das posturas é regido por três expirações profundas e prolongadas, nas posições deitado, sentado, em pé, utilizando bola e bastão. Um total de 67 posturas (Pos.) para esse tratamento foram descritas por Redondo8, sendo aqui escolhidas as seguintes: posturas 1, 9, 15, 16, 21, 36 e 38 e as respectivas variantes; e as posturas 39, 40 e 58:

Pos.1: voluntário em ortostatismo, com os pés paralelos, joelhos semifletidos, retroversão da pelve, membros superiores em extensão ao longo do corpo e ligeiramente para trás, punhos flexionados e dedos em extensão, mantendo glúteos contraídos, adução das escápulas e coluna vertebral ereta. Variantes dessa postura incluem a união das palmas da mão atrás do corpo e segurar uma bola atrás do corpo8.

Pos.9: voluntário com os membros inferiores em extensão e abduzidos na largura do quadril, efetuando uma inclinação anterior do tronco, mantendo os membros superiores em extensão acima da cabeça, as palmas das mãos em contato. Variantes incluem joelhos semifletidos e variações na posição dos membros superiores8.

Pos.15: também com o voluntário em inclinação anterior do tronco, joelhos ligeiramente fletidos e membros superiores fletidos, com as mãos apoiadas atrás na cervical. Variantes dessa postura incluem: variações na inclinação do tronco e na flexão dos joelhos, segurando um bastão8.

Pos.16: em decúbito dorsal com membros inferiores flexionados, pés apoiados no chão e membros superiores em cruz (abdução de ombro a 90º e cotovelo em extensão). Variantes: variações na posição dos membros superiores, ou seja, mesma posição mas cotovelo em flexão de 90º (posição de candelabro), membros superiores ao longo do corpo, membros superiores em extensão acima da cabeça; outra variante adotada foi manter uma bola comprimida entre os joelhos8.

Pos.19: também em decúbito dorsal, com membros inferiores em flexão de quadril a 90º e joelhos estendidos, membros superiores em posição de candelabro e pés em dorsiflexão. Solicita-se ao voluntário manter as escápulas em adução. Variantes: extensão de cotovelos e flexão plantar de tornozelos8.

Pos.21: ainda em decúbito dorsal, mantendo quadril e joelhos semifletidos na vertical e com rotação externa, com as plantas dos pés em contato, membros superiores ao longo do corpo. Variantes: tornozelo em dorsiflexão e extensão dos joelhos8.

Pos.36: voluntário sentado, coluna ereta, pernas semiflexionadas e unidas, pés apoiados no chão, extensão e abdução horizontal de membros superiores a 90º e extensão de punho. Variantes: abertura dos dedos da mão, rotação interna dos membros superiores, afastamento dos pés8.

Pos.38: tronco e membros inferiores são mantidos iguais aos da postura anterior, variando a posição do braço, em extensão atrás do corpo, com contato das palmas das mãos. Variantes: afastamento dos pés e cruzamento das mãos8.

Pos.39: voluntário permanece sentado, membros inferiores em extensão e rotação externa, pés paralelos e membros superiores em abdução horizontal de ombros, cotovelo e punho em extensão.

Pos.40: também realizada sentada, voluntário mantém membros inferiores em rotação externa e ligeira abdução e mão entrelaçadas atrás da nuca, com cotovelos em flexão6.

Pos.58: voluntário permanece igual à posição 39, variando o posicionamento dos membros superiores, que se mantêm atrás do corpo segurando um bastão6.

Análise estatística

Para análise os ângulos descritos acima foram mensurados nas fotografias antes e depois do tratamento. Para garantir a confiabilidade das medidas angulares na fotogrametria, todos os ângulos foram mensurados três vezes e anotados os valores. Posteriormente, foi calculada a média de cada ângulo para as fotografias pré e pós-tratamento. Da diferença dessas médias, foi subtraído um valor referente a duas vezes o erro padrão19. Apenas o ângulo Whistance (W), já descrito na literatura20, não apresentava erro-padrão. Para verificar se as amostras eram ou não homogêneas, foi empregado o teste de Bartlett, que indica se há ou não diferenças significantes entre as variâncias dos grupos estudados. Os programas utilizados foram GMC (v.8.1, 2002) e SPSS (v.8.0, 2002).

RESULTADOS

Todos os voluntários dos dois grupos apresentavam assimetrias em todos os ângulos do plano frontal anterior e posterior e diminuição na flexibilidade observada nos ângulos coxofemoral e Whistance durante a inclinação anterior do tronco. No grupo 1 (n=8), três voluntários apresentavam genum recurvatum e no grupo 2 (n=4), um voluntário.

Comparando-se as medidas obtidas antes e após o tratamento, no grupo 1 (que compareceu a mais de 30 sessões de isostretching), verificou-se que os resultados foram similares nos ângulos acrômio clavicular, alinhamento dos joelhos direito e esquerdo, triângulo de Talles direito, inferior da escápula, das espinhas ilíacas póstero-superiores, de Whistance, flexos de joelho em rolamento e ortostático, lordose cervical, lordose lombar e protrusão da cabeça. Os ângulos que sofreram modificações foram: triângulo de Talles esquerdo (f=0,00), coxofemoral (f=0,00), tibiotársico (f=0,01) e cifose torácica (f=0,00 - Tabela 1).

Nos pacientes que compareceram a menos de 30 sessões (grupo 2), não se observaram grandes modificações, exceto no alinhamento do joelho esquerdo (f=0,03), triângulo de Talles direito (f=0,01) e esquerdo (f=0,00), na cifose torácica (f=0,03) e na protrusão da cabeça (f=0,002 - Tabela 1).

DISCUSSÃO

O isostretching é uma técnica relativamente nova no Brasil que vem sendo difundida em escolas e cursos de especializações. Apesar de o método ser utilizado por fisioterapeutas na prática clínica com êxito, há poucos achados na literatura sobre sua utilização e benefícios7,9,11,12,21, talvez pela dificuldade em agregar voluntários que mantenham o compromisso de seguir o tratamento até o final: Moraes e Mateus11 analisaram os resultados do tratamento em apenas uma voluntária; Beloube et al.8 analisaram só dois voluntários; e Oliveiras e Souza12, seis voluntários.

Nesta pesquisa, apenas 12 voluntários prosseguiram o tratamento, mas não cumpriram igual número de sessões; por isso, após as 40 sessões previstas, foram oferecidas mais 14, totalizando 54 sessões. Mesmo assim, não foi obtido número igual de sessões, daí os voluntários terem sido divididos entre os que cumpriram mais, e menos, de 30 sessões.

Um problema na análise de eficácia de uma técnica terapêutica é a forma de análise dos resultados posturais. A avaliação postural é feita por meio de fotografias ou radiografias. Há um consenso na literatura de que a avaliação postural é de fundamental importância para o planejamento do tratamento fisioterapêutico e para o acompanhamento da evolução. Para Iunes et al.19, embora exista a concordância de que uma boa postura é importante, trata-se de um fenômeno complexo e difícil de quantificar. Segundo Watson18, isso pode explicar por que há poucos resultados de estudos associando desvios posturais a problemas físicos específicos.

No presente estudo, a técnica isostretching não foi eficaz em reduzir as assimetrias no plano frontal, independentemente do número de sessões, talvez porque as posturas utilizadas enfatizam o alongamento simétrico da cadeia muscular posterior e não alongam os segmentos assimetricamente. A modificação encontrada em relação à assimetria foi no ângulo ΔTe, nos dois grupos, e no ΔTd, no grupo 2. Estes resultados discordam dos de Beloube et al.8, que observaram diminuição na curvatura escoliótica por meio da radiografia de uma paciente. Discordam também dos resultados de Moraes e Mateus11, que observaram diminuição de assimetria. No entanto, estes só analisaram um voluntário por meio de fotografias, de forma qualitativa. Oliveiras e Souza12 também encontraram diminuição da escoliose por avaliação radiográfica, mas em seu estudo os casos de escoliose eram na maioria de até 6º, sendo que um voluntário (dentre os seis analisados) apresentava 28º.

No plano sagital, foram observadas modificações no alinhamento da coluna vertebral torácica em voluntários dos dois grupos, com diminuição da angulação no grupo 1 e aumento no grupo 2; e modificações na posição da cabeça em indivíduos do grupo 2 (que freqüentaram menos de 30 sessões). Esses dados corroboram a afirmação do criador da técnica, Redondo, de que o método é mais eficiente para alterações no plano sagital do que no frontal6. Novamente, talvez porque as posturas utilizadas enfatizam o alongamento simétrico da cadeia muscular posterior e não alongam os segmentos assimetricamente.

Beloube et al.8 encontraram melhora radiográfica tanto da cifose quanto da lordose lombar. Seus dois voluntários tinham menos de 20 anos e foram realizadas mais de 30 sessões; esses resultados são similares aos nossos em relação à cifose torácica, porém com método de avaliação diferente. Moraes e Mateus11, que analisaram um voluntário de 9 anos com hipercifose, obtiveram resultado satisfatório com 10 sessões de tratamento.

No presente estudo a flexibilidade da musculatura da cadeia posterior foi avaliada pela variação dos ângulos W, CF, FJr e ATT durante o rolamento. Essas análises quantitativas não foram diferentes após a realização das sessões para os ângulos W e FJr. No entanto, foi observada uma melhora nos ângulos CF e ATT para os voluntários do grupo 2. Carregaro et al.22 indicam que a análise desses ângulos por fotogrametria é confiável, apesar de os autores darem outra denominação aos mesmos.

Beloube et al.8, Moraes e Mateus11 encontraram melhora de flexibilidade, mesmo com menor número de sessões. No entanto, estes realizaram uma avaliação qualitativa. Rosário et al.16 também conseguiram melhora da flexibilidade da musculatura da cadeia posterior, em indivíduos sem lesões musculoesqueléticas, com a utilização tanto do alongamento global, pela técnica de RPG quanto do alongamento segmentar passivo e autopassivo dos músculos que compõem a cadeia muscular posterior. Ainda, Fernández-de-las-Peñas et al.14 observaram melhora da flexibilidade, avaliada pelo grau de flexão lombar, em indivíduos com espondilite anquilosante, tanto usando a técnica de RPG quanto alongamento segmentar. No entanto, em um estudo posterior dos mesmos autores15, avaliando os resultados da mobilidade nos mesmos pacientes, após um ano de tratamento, no grupo de pacientes com espondilite anquilosante que receberam tratamento de RPG a manutenção da mobilidade a longo prazo foi melhor.

Este estudo tem limitações, como a de não ter utilizado um grupo controle que recebesse tratamento diferente, ou o reduzido tamanho da amostra: como os voluntários não compareceram ao mesmo número de sessões, os dois grupos comparados tiveram tamanho muito diferente.

CONCLUSÃO

A técnica isostretching foi uma terapêutica eficaz na melhora do alinhamento da coluna vertebral torácica, independente do número de sessões; e propiciou maior flexibilidade da cadeia posterior em indivíduos que se submeteram a mais de 30 sessões. Não demonstrou ser uma boa técnica para o tratamento de assimetrias posturais no plano frontal anterior e posterior.

Apresentação: nov. 2008

Aceito para publicação: maio 2009

O estudo recebeu apoio da Fapemig - Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais

Estudo desenvolvido na Clínica de Fisioterapia da Unifenas - Universidade José do Rosário Velano, Alfenas, MG, Brasil

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  • Endereço para correspondência:

    Denise H. Iunes
    R. Prof. Carvalho Junior 53 ap. 901
    37130-000 Alfenas MG
    e-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Abr 2012
    • Data do Fascículo
      Jun 2009

    Histórico

    • Recebido
      Nov 2008
    • Aceito
      Maio 2009
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