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Capacidade funcional em pacientes com diabetes mellitus no município de Matinhos, Paraná

Functional capacity in patients with diabetes mellitus in Matinhos city, Paraná

Resumos

O diabetes mellitus (DM) é decorrente de um inadequado funcionamento metabólico crônico, caracterizado por hiperglicemia com distúrbio dos carboidratos, gordura e metabolismo da proteína. O DM tem impacto substancial no perfil físico-funcional dos pacientes, entre os quais se destaca o teste de caminhada de seis minutos (TC6'). O objetivo do estudo foi analisar a capacidade funcional, por meio da distância percorrida no TC6', dos pacientes com DM tipo 1 (DM1) e 2 (DM2) cadastrados em Estratégias de Saúde da Família (ESFs) e Programas de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) do município de Matinhos, Paraná. De 800 pacientes cadastrados nas ESF e PACS, foram contatados 497, e 153 participaram do estudo, sendo 1,30% com DM1 e 98,69% com DM2. Os avaliados tiveram média de 60,49±11,24 anos, a glicemia foi 173,18 mg/dL e as médias de massa corporal, estatura e índice de massa corpórea foram respectivamente: 76,69±14,07 kg, 1,62±0,08 m e 29,11±4,61 kg/m². Não houve correlação entre nível glicêmico e idade (r=0,023), entre idade e TC6' (r=-0,056), e nível glicêmico e TC6' (r=0,11). Observou-se que 28,10% apresentavam doença cardiovascular, 60,13% eram hipertensos e 16,99% tabagistas. O tratamento medicamentoso prevaleceu sobre os tratamentos dieta e exercício. Houve diferença estatística (p<0,0001) entre a distância prevista e a percorrida no TC6', indicando que os pacientes com DM não atingiram os níveis esperados neste teste. Seria necessário realizar um programa multidisciplinar direcionado a essa população, com ações em atividade física e dieta, com o intuito de minimizar os efeitos do DM sobre os aspectos funcionais desses pacientes.

diabetes mellitus; atividade motora; perfil de saúde; saúde pública


Diabetes mellitus (DM) occurs due to an inadequate chronic metabolic dysfunction, characterized by hyperglycemia with carbohydrate, fat and protein metabolism disorders. The DM has an important impact on physical and functional profiles of the subjects; among these variables, there is the Six-Minute Walk Test (6MW). The aim of this study was to analyze the functional capacity, by distance walked in 6MW, of subjects with DM types 1 (DM1) and (DM2) 2 from Health Family Strategy (HFSs) of Community Health Agent Program (CHAP) in Matinhos city, Paraná. From 800 patients registered at the HFS's and CHAP, 497 were contacted, and 153 were included in this study, of which 1.30% with DM1 and 98.69% with DM2. Their mean age was 60.49±11.24 years, the mean blood glucose was 173.18 mg/dL and mean body mass, height and body mass index were respectively: 76.69±14.07 kg, 1.62± 0.08 m and 29.11±4.61 kg/m². There was no correlation between blood glucose and age (r=0.023), age and 6MW (r=-0.056) and blood glucose and 6MW (r=0.11). We observed that 28.10% of patients had cardiovascular disease, 60.13% had hypertension and 16.99% were smokers. We found that drug treatment was the most common among the treatments diet and exercise. Regarding the 6MW test, it was found a significant difference (p<0.0001) between the distance specified by the equation of reference and the distance obtained by the participants, demonstrating that patients with DM did not reach the expected grades. Thus, it would be necessary to perform a multidisciplinary program aimed at this population, in order to include physical activities and diet to minimize the effects of DM on the functional aspects of these patients.

diabetes mellitus; motor activity; health profile; public health


PESQUISA ORIGINAL

Capacidade funcional em pacientes com diabetes mellitus no município de Matinhos, Paraná

Functional capacity in patients with diabetes mellitus in Matinhos city, Paraná

Geisa Cristina de OliveiraI; Clynton Lourenço CorreaI,II

IDiscente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Curitiba (PR), Brasil

IIProfessor Adjunto do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Clynton Lourenço Correa Rua Professor Rodolpho Paulo Rocco, sala 8E-03 CEP: 21910-590 – Rio de Janeiro (RJ), Brasil E-mail: clyntoncorrea@gmail.com

RESUMO

O diabetes mellitus (DM) é decorrente de um inadequado funcionamento metabólico crônico, caracterizado por hiperglicemia com distúrbio dos carboidratos, gordura e metabolismo da proteína. O DM tem impacto substancial no perfil físico-funcional dos pacientes, entre os quais se destaca o teste de caminhada de seis minutos (TC6'). O objetivo do estudo foi analisar a capacidade funcional, por meio da distância percorrida no TC6', dos pacientes com DM tipo 1 (DM1) e 2 (DM2) cadastrados em Estratégias de Saúde da Família (ESFs) e Programas de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) do município de Matinhos, Paraná. De 800 pacientes cadastrados nas ESF e PACS, foram contatados 497, e 153 participaram do estudo, sendo 1,30% com DM1 e 98,69% com DM2. Os avaliados tiveram média de 60,49±11,24 anos, a glicemia foi 173,18 mg/dL e as médias de massa corporal, estatura e índice de massa corpórea foram respectivamente: 76,69±14,07 kg, 1,62±0,08 m e 29,11±4,61 kg/m2. Não houve correlação entre nível glicêmico e idade (r=0,023), entre idade e TC6' (r=-0,056), e nível glicêmico e TC6' (r=0,11). Observou-se que 28,10% apresentavam doença cardiovascular, 60,13% eram hipertensos e 16,99% tabagistas. O tratamento medicamentoso prevaleceu sobre os tratamentos dieta e exercício. Houve diferença estatística (p<0,0001) entre a distância prevista e a percorrida no TC6', indicando que os pacientes com DM não atingiram os níveis esperados neste teste. Seria necessário realizar um programa multidisciplinar direcionado a essa população, com ações em atividade física e dieta, com o intuito de minimizar os efeitos do DM sobre os aspectos funcionais desses pacientes.

Descritores: diabetes mellitus; atividade motora; perfil de saúde; saúde pública.

ABSTRACT

Diabetes mellitus (DM) occurs due to an inadequate chronic metabolic dysfunction, characterized by hyperglycemia with carbohydrate, fat and protein metabolism disorders. The DM has an important impact on physical and functional profiles of the subjects; among these variables, there is the Six-Minute Walk Test (6MW). The aim of this study was to analyze the functional capacity, by distance walked in 6MW, of subjects with DM types 1 (DM1) and (DM2) 2 from Health Family Strategy (HFSs) of Community Health Agent Program (CHAP) in Matinhos city, Paraná. From 800 patients registered at the HFS's and CHAP, 497 were contacted, and 153 were included in this study, of which 1.30% with DM1 and 98.69% with DM2. Their mean age was 60.49±11.24 years, the mean blood glucose was 173.18 mg/dL and mean body mass, height and body mass index were respectively: 76.69±14.07 kg, 1.62±0.08 m and 29.11±4.61 kg/m2. There was no correlation between blood glucose and age (r=0.023), age and 6MW (r=-0.056) and blood glucose and 6MW (r=0.11). We observed that 28.10% of patients had cardiovascular disease, 60.13% had hypertension and 16.99% were smokers. We found that drug treatment was the most common among the treatments diet and exercise. Regarding the 6MW test, it was found a significant difference (p<0.0001) between the distance specified by the equation of reference and the distance obtained by the participants, demonstrating that patients with DM did not reach the expected grades. Thus, it would be necessary to perform a multidisciplinary program aimed at this population, in order to include physical activities and diet to minimize the effects of DM on the functional aspects of these patients.

Keywords: diabetes mellitus; motor activity; health profile; public health.

INTRODUÇÃO

O diabetes mellitus (DM) é decorrente de um inadequado funcionamento metabólico crônico do pâncreas, caracterizado por hiperglicemia, com distúrbios no metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas, resultantes da secreção anormal da insulina, na ação da insulina, ou ambos1. No DM tipo 1, ocorre ausência ou diminuição da secreção da insulina em decorrência da destruição autoimune das células β pancreáticas ou ainda por destruição viral2,, tornando o indivíduo insulino-dependente. O DM tipo 1 (DM1) corresponde a aproximadamente 5 a 10% dos casos de DM2,3. Já a fisiopatologia do DM tipo 2 (DM2) envolve defeitos na sensibilidade à insulina nos tecidos periféricos, seguidos da redução na sua secreção, resultando na disfunção progressiva do pâncreas4. O DM tipo 2 acomete aproximadamente de 90 a 95% dos casos2.

O DM tem sido relatado como problema de alto custo que reduz a qualidade de vida e a capacidade funcional dos pacientes5,6. Como o DM repercute em alterações na capacidade funcional do indivíduo, inclusive na locomoção, testes de caminhada são relevantes na caracterização funcional dessa população7. Entre os diversos instrumentos para avaliação da capacidade funcional, pesquisadores têm utilizado o teste de caminhada de seis minutos (TC6'), que é simples, seguro, reprodutível, de fácil aplicação e bem tolerado até mesmo por sujeitos com idade avançada, apresentando boa confiabilidade e validade8. Desse modo, esse teste tem ganhado importância tanto na prática clínica quanto no campo da pesquisa científica9.

A prática de atividade física (AF) é um fator contribuinte para essa população específica, pois proporciona melhora na captação de glicose pelos tecidos independentemente da insulina, aumenta a permeabilidade da membrana citoplasmática e potencializa a ação do hormônio. Isso leva à redução da quantidade de medicação e proporciona redução das complicações ocasionadas pelo DM10. O controle dietético também deve ser adotado como tratamento do DM, pois melhora a glicemia e lipidemia, tendo efeito significativo sobre a morbidade e mortalidade nesse grupo11.

Nas Estratégias de Saúde da Família (ESFs) e Programas de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) no município de Matinhos, Paraná, verifica-se a existência de 800 indivíduos cadastrados com DM, o que equivale a 3,34% da população do município estudado. Esses dados são preocupantes se considerarmos que o DM está relacionado às causas de internação e morte. Observou-se que, no ano de 2002, o coeficiente de mortalidade por DM no município de Matinho foi de 29,7 por 1.000 habitantes, com um crescimento de 54,2 por 1.000 habitantes para o ano de 2009. Diante desse cenário, é essencial salientar a necessidade de implementar a prevenção e tratamento dessa enfermidade e suas complicações nesse município. Atentos a essa demanda, surgiu-nos o interesse em conhecer o perfil da capacidade funcional pelo TC6', bem como os hábitos de vida relativos à prática ou não de atividade física, orientação ou não de dieta alimentar dos sujeitos com DM tipo 1 e 2, do município de Matinhos, que são acompanhados em todas as Unidades de Saúde.

METODOLOGIA

Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o número CEP/SD: 960.085.10.7, CAAE: 3223.0.000.91-10. Os voluntários foram selecionados por amostra de conveniência, de acordo com o número de indivíduos com DM cadastrados nas ESFs e PACS. Os sujeitos foram contatados por meio das reuniões no HiperDia (Programa do Governo Federal para pacientes com hipertensão arterial e diabetes pelo SUS) e pelas informações disponibilizadas pela Secretaria Municipal.

Dos 497 pacientes, 318 não participaram do estudo em razão de diversos fatores: sujeitos acamados (95), indisponibilidade de tempo (96), curta permanência de tempo correspondente à alta temporada no litoral (27), recusa à participação do estudo (89), óbitos no período da pesquisa (5) e mudança de residência (6). Os critérios de exclusão foram: diagnóstico de cardiopatias ou instabilidade clínica, inabilidade para realizar o TC6' e afecções neurológicas, frequência cardíaca (FC) acima de 120 bpm, diagnóstico clínico confirmado de neuropatia autonômica, pressão arterial sistólica (PAS) superior a 180 mmHg e pressão arterial diastólica (PAD) superior a 100 mmHg12. Foram excluídos 26 indivíduos, dos quais 16 tinham acidente vascular encefálico, 2 apresentavam outras afecções neurológicas, 3 relataram algia, impossibilitando a realização do teste, 3 apresentavam hipertensão arterial não controlada e 2 tinham próteses em membros inferiores.

Foi aplicado um questionário semiestruturado sobre dados pessoais e estilo de vida e avaliação da FC, PAS, PAD e saturação periférica de oxigênio (SpO2). A FC e a SpO2 foram mensuradas utilizando oxímetro marca Onyx 9500®, com sensor posicionado no terceiro dedo da mão direita, sendo a leitura determinada após a estabilização do sinal12. Os sujeitos foram classificados como fumantes, não fumantes e ex-fumantes13, bem como quanto à forma de tratamento: dieta e/ou medicamento e/ou exercício14.

A distância percorrida foi mensurada por meio do TC6'15, o qual foi realizado em uma pista plana com um total de 30 metros, livre de obstáculos, em que o sujeito foi orientado a andar o mais rápido possível, sem correr, por um período de seis minutos. A escala de esforço percebido BORG (6–20) e a escala de dispneia (0–4)16 foram aplicadas no início do teste, no terceiro minuto e ao término do teste. Após o TC6', a distância prevista foi verificada pelas equações de referência17.

Para a análise estatística dos dados, foram utilizados os softwares Excel, R (versão 2.12.1) e BioStat. Para caracterização da amostra, utilizou-se a estatística descritiva, sendo os cálculos realizados no Excel. O teste de Shapiro-Wilk foi executado no software R, com a finalidade de analisar a normalidade da distribuição das variáveis. A partir do resultado obtido pelo teste de normalidade, foram realizados testes para verificar se havia diferença estatística significativa. Para as amostras não paramétricas — distância prevista, glicemia, PAS, PAD, FC, SpO2, Escala de Borg e de dispneia antes, no terceiro minuto e após o TC6' —, foram utilizados os testes: Mann Whitney e Wilcoxon, para variáveis independentes e relacionadas, respectivamente. Para as amostras paramétricas — distância percorrida, tratamento e idade — utilizou-se teste t, ANOVA one way com pós-teste de Tukey. A correlação de Pearson foi utilizada para amostras paramétricas, e a correlação de Spearman para as amostras não paramétricas. Adotou-se 5% como nível de significância.

RESULTADOS

Participaram do estudo 153 sujeitos, sendo 1,30% com DM1 e 98,69% com DM2, 55,50% do sexo feminino e 44,44% do sexo masculino. A média de idade foi de 60,49±11,24 anos e de 173,18±71,83 mg/dL nos valores glicêmicos em jejum. As médias de massa corporal, estatura e índice de massa corpórea foram respectivamente: 76,69±14,07 kg, 1,62±0,08 m e 29,11±4,61 kg/m2.

Na população estudada, 28,10% relatou apresentar alguma doença cardiovascular (DAC), não havendo diferença estatisticamente significativa na distância percorrida entre os que apresentam ou não alguma DAC.

Sobre o tabagismo, 16,99% declararam ser tabagistas, 24,83% ex-fumantes e 58,16% não fumantes. A média da distância percorrida no TC6' entre os tabagistas foi 419,76±96,04 m. Entre os ex-fumantes, a distância percorrida foi 423,15±103,48 m, e os não fumantes tiveram média de 435,75±76,56 m. Quando verificada a distância percorrida no TC6' nos diferentes grupos, observou-se que não houve diferença estatisticamente significativa (p=0,62).

Não houve correlação entre glicemia e idade (r=0,023), entre idade e TC6' (r=-0,056), e glicemia e TC6' (r=0,11).

Dos pacientes estudados, 2,61% realizam tratamento somente com dieta, 2,61% não realizam nenhum tipo de tratamento, inclusive medicamentoso, e não houve paciente que realizasse tratamento somente com atividade física; dieta com atividade física. Desse modo, o presente estudo excluiu essas quatro variáveis e verificou a diferença na distância percorrida entre os pacientes que utilizam as outras formas de tratamento: somente medicamento, dieta e medicamento, medicamento com atividade física e dieta, medicamento e atividade física. Por meio dos dados obtidos, os sujeitos que utilizam dieta, medicamento e atividade física como forma de tratamento percorreram maior distância quando comparados com os que utilizam somente o medicamento (p<0,01) e com aqueles que utilizam dieta e medicamento (p<0,05).

A Tabela 1 apresenta a média e o desvio padrão da distância obtida pelos sujeitos com DM no TC6' em relação ao tipo de tratamento.

A Figura apresenta uma comparação entre a distância obtida no TC6' pelos sujeitos com DM e a distância prevista pela equação de referência de Enrigh e Sherril17. Houve diferença estatística (p<0,0001) entre a distância obtida e a distância prevista para ambos os gêneros.


A Tabela 2 apresenta a média e o desvio padrão da PAS, PAD, FC e SpO2 dos participantes, antes e após o TC6'.

A Tabela 3 apresenta a média e o desvio padrão do esforço percebido pela escala de Borg e pela escala de dispneia antes do teste, após o terceiro minuto e ao final do TC6'.

DISCUSSÃO

Conforme demonstrado na Tabela 1, a maioria dos participantes limitou-se ao tratamento medicamentoso, seguido da associação entre dieta e medicamento. Resultados semelhantes foram encontrados em outro estudo, o qual registrou que 57% dos sujeitos avaliados utilizavam pelo menos duas modalidades terapêuticas, sendo a associação de hipoglicemiante oral (62,70%) e dieta (97,80%) as mais frequentes14. Outra investigação reportou que 55,56% dos sujeitos com DM foram orientados quanto à alimentação, 33,00% receberam orientações referentes à atividade física e 8,80% em relação ao combate ao tabagismo, concluindo que orientações sobre atividade física, alimentação e tabagismo raramente são abordadas nas consultas18.

No presente estudo, os pacientes que realizam tratamento associando dieta, atividade física e medicamento percorreram maior distância no TC6' quando comparados aos que utilizam somente o medicamento ou dieta e medicamento. A prática de atividade física resulta em melhora da sensibilidade insulínica e redução da hiperglicemia e, desse modo, retarda a progressão das complicações a longo prazo do DM, como a aterosclerose e as microangiopatias19. Além disso, a atividade física atua na redução de fatores de risco para doenças cardiovasculares, uma vez que, associada à dieta adequada, melhora o perfil lipídico do paciente com DM, além de reduzir a pressão arterial20.

Os valores de PAS de repouso estavam na faixa considerada como pré-hipertensão e modificaram-se durante os testes para ambos os gêneros. A PAS eleva-se para imprimir maior velocidade ao sangue circulante, de modo que supre mais adequada e rapidamente a demanda de oxigênio e substratos ao músculo em atividade21. Nossos resultados demonstraram que houve modificação da PAD durante o TC6' somente nas mulheres (p=0,005). Essa diferença na resposta da PAD entre os gêneros pode ser explicada por fatores hormonais. No período fértil, a mulher é menos hipertensa que o homem, possivelmente por causa das elevadas concentrações de estrógeno ou pela menor viscosidade e volume sanguíneos associados às perdas menstruais22. Após a menopausa, há redução da distensibilidade arterial por aumento da rigidez aórtica e das ondas de reflexão, fazendo com que a PA seja mais elevada22. A média de idade da população feminina foi de 59,03 anos; desse modo, o fator hormonal pode ter influenciado a modificação da PAD durante o TC6'23. Já no sexo masculino, a não modificação da PAD após o TC6' está relacionada ao ajuste autonômico que adequa a condição da PA média, a fim de satisfazer a necessidade de aporte de sangue aos músculos durante o esforço24.

A partir do início da atividade física, a frequência cardíaca dos voluntários aumentou de forma progressiva, variação a qual indica a habilidade do coração em responder aos múltiplos estímulos fisiológicos e ambientais, dentre eles, o exercício físico25,26. A alta variabilidade da frequência cardíaca indica um sinal de adaptabilidade, caracterizando um indivíduo saudável com mecanismos autonômicos eficientes. Por outro lado, a baixa variabilidade da frequência cardíaca é frequentemente indicador de adaptação anormal e insuficiente do sistema nervoso autônomo, o que pode indicar a presença de mau funcionamento fisiológico no indivíduo27. Assim, nossos resultados apontam que os participantes tiveram respostas positivas em relação à frequência cardíaca, já que observamos que essa frequência aumentou gradualmente no TC6'.

Conforme demonstrado na Tabela 2, houve diferença estatística significativa (p<0,01) entre as distâncias prevista e obtida para os gêneros feminino (p<0,01) e masculino (p<0,01), indicando que os sujeitos com DM não atingiram o desempenho esperado na distância percorrida. Resultados semelhantes foram constatados em outra pesquisa, a qual verificou que indivíduos com DM apresentam elevado percentual de dependência para a realização de AVDs28. Portanto, o incentivo à prática de atividade física e adoção de dieta adequada é necessário, a fim de manter e/ou melhorar a capacidade funcional dessa população, evitando prejuízos secundários em razão do DM29.

É importante que as políticas de saúde incentivem a prática de atividade física nessa população e que programas sejam incorporados em parceria com o Governo Federal (HiperDia). A inserção de profissionais da saúde nas ESFs permitirá um novo cenário de atuação para a abordagem integral do processo saúde-doença, bem como atuará na prevenção e orientação dos sujeitos, evitando novas doenças ou recidivas30 e contribuindo para elevar a qualidade de vida dessa população.

CONCLUSÃO

Pode-se concluir que a distância percorrida no TC6' pelos pacientes com DM está abaixo dos valores esperados. É importante estabelecer ações além do campo terapêutico e incluir ações de promoção da saúde e prevenção de agravos à saúde no município estudado, propiciando um ambiente adequado para que essa população possa obter informações sobre os cuidados necessários com o DM.

A associação da dieta alimentar adequada com a atividade física ainda não foi frequente na população estudada. A inserção de outros profissionais da saúde, como fisioterapeutas, educadores físicos e nutricionistas, pode e deve contribuir com o tratamento do DM.

12 Magalhães MG. Teste de caminhada dos seis minutos em uma população de idosos brasileiros [dissertação]. São Paulo: Universidade Cidade de São Paulo; 2008. 66 p.

Apresentação: mar. 2012

Aceito para publicação: ago. 2012

Fonte de financiamento: nenhuma

Conflito de interesse: nada a declarar

Estudo desenvolvido na Universidade Federal do Paraná (UFPR) Litoral – Curitiba (PR), Brasil.

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  • Endereço para correspondência:
    Clynton Lourenço Correa
    Rua Professor Rodolpho Paulo Rocco, sala 8E-03
    CEP: 21910-590 – Rio de Janeiro (RJ), Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      29 Jan 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 2012

    Histórico

    • Recebido
      Mar 2012
    • Aceito
      Ago 2012
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