RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito das variáveis de função pulmonar estática na reposta cardiorrespiratória, na mobilidade e no equilíbrio de pessoas acima de 50 anos. E também, na mesma amostra, o efeito da mobilidade e do equilíbrio em três diferentes testes de esforço. O estudo é do tipo transversal. Foi realizada avaliação da função pulmonar por meio da espirometria, incremental shuttle walking test (ISWT), teste de caminhada de seis minutos(TC6), teste de escada (TEsc), teste timed up and go (TUG) e escala de equilíbrio de Berg (BERG). Para análise estatística foi utilizado software SigmaStat®, as variáveis foram correlacionadas por meio do teste de correlação de Pearson (p<0,05). A amostra foi composta por 46 pessoas sendo 37 (80,5%) mulheres e 9 (19,5%) homens, com idade média de 61,02±8,29 anos. Os resultados de correlação da função pulmonar com os testes de esforço, mobilidade e equilíbrio os testes de esforço apresentaram correlação com as variáveis espirométricas. Na amostra, as pessoas com menor tempo no TUG e melhores condições de equilíbrio foram os que apresentaram melhor função pulmonar. Quanto melhor a mobilidade melhor os resultados nos testes de esforço. Os resultados do TUG apresentaram moderada correlação com ISWT (0,41) e TC6 real (-0,43). Já a pontuação do BERG apresentou moderada correlação com ISWT(%) (-0,45), TC6 real (0,43) e tTEsc (real (-0,59) e predito (-0,45)). Conclui-se que a função pulmonar tem efeito sobre a condição e resposta cardiorrespiratória, mobilidade e equilíbrio em pessoas acima de 50 anos.
Descritores
Envelhecimento; Função Pulmonar; Mobilidade; Equilíbrio
ABSTRACT
This study aimed to evaluate the effect of static pulmonary function variables on cardiorespiratory condition, mobility, and balance in people aged over 50 years, as well as the effect of mobility and balance on three stress tests in the same sample. This is a cross-sectional study. Pulmonary function evaluation was performed by spirometry, the incremental shuttle walking test (ISWT), the six minute walk test (6MWT), the stairs test (ST), the timed up and go test (TUGT), and the Berg balance scale (BBS). SigmaStat® was used for statistical analysis, and the variables were correlated using Pearson’s correlation test (p<0.05). The sample consisted of 46 people [37 women (80.5%) and nine men (19.5%)] with a mean age of 61.02±8.29 years. Results of the correlation of pulmonary function with stress, mobility, and balance and stress tests were correlated with spirometric variables. In the sample, people with lower time in TUGT and better balance conditions who had better lung function. The better the mobility, the better the results in the stress tests. TUGT results showed moderate correlation with ISWT (0.41) and actual 6MWT (−0.43). On the other hand, BBS scores showed moderate correlation with ISWT(%) ((−-0.45), real 6MWT (0.43), and actual (−0.59) and predicted ST (-0.45). We conclude that pulmonary function affects cardiorespiratory condition, mobility, and balance in people aged over 50 years.
Keywords
Aging; Pulmonary Function; Mobility; Balance
RESUMEN
El objetivo de este estudio fue evaluar el efecto de las variables estáticas de la función pulmonar sobre la respuesta cardiorrespiratoria, en la movilidad y en el equilibrio en personas mayores de 50 años. En la misma muestra, también se analizó el efecto de la movilidad y del equilibrio en tres pruebas de esfuerzo diferentes. El estudio es transversal. La función pulmonar se evaluó mediante espirometría, prueba de caminata de carga progresiva (ISWT), prueba de caminata de seis minutos (PC6M), prueba de escalera (TESc), prueba timed up and go (TUG) y escala de equilibrio de BERG (BERG). Para el análisis estadístico, se utilizó el software SigmaStat®, las variables se correlacionaron mediante el uso de la correlación de Pearson (p<0,05). La muestra estuvo compuesta por 46 personas, de las cuales 37 (80,5%) eran mujeres; y 9 (19,5%), hombres, con una edad media de 61,02±8,29 años. Los resultados de la correlación de la función pulmonar con las pruebas de esfuerzo, movilidad y equilibrio mostraron correlación con las variables espirométricas. En la muestra, las personas con el menor tiempo en TUG y mejores condiciones de equilibrio tuvieron la mejor función pulmonar. Cuanto mejor sea la movilidad, mejores serán los resultados en las pruebas de esfuerzo. Los resultados de TUG mostraron una correlación moderada con ISWT (0,41) y PC6M real (-0,43). La puntuación de BERG presentó una correlación moderada con ISWT(%) (-0,45), PC6M real (0,43) y tTEsc [real (-0,59) y predicho (-0,45)]. Se concluye que la función pulmonar tiene un efecto sobre la condición y la respuesta cardiorrespiratoria, la movilidad y el equilibrio en personas mayores de 50 años.
Palabras clave
Envejecimiento; Función Pulmonar; Movilidad; Equilibrio
INTRODUÇÃO
A população mundial está passando por um processo de envelhecimento, estimando-se que até 2050 esta terá quadriplicado1. Esse processo pode levar a mudanças na mobilidade e no equilíbrio, a diminuição do consumo de oxigênio, do debito cárdico e da frequência cardíaca, ou seja, diminuição na capacidade cardiopulmonar2.
Pessoas com 50 anos de idade já podem apresentar os efeitos do envelhecimento como perda da força e da massa muscular, podendo levar a diminuição da mobilidade, incapacidade física e perda da independência funcional. Essas mudanças são menores em pessoas ativas com menos de 50 anos, tornando-os menos suscetíveis a doenças relacionadas ao envelhecimento3.
O sistema respiratório também sofre modificações com o envelhecimento, que englobam alterações nos pulmões, na caixa torácica, na musculatura respiratória e no drive respiratório. Estas mudanças levam à diminuição da capacidade inspiratória, que somadas à debilidade dos músculos respiratórios, isto é, diminuição da elasticidade pulmonar, diminui o fluxo expiratório e aumenta o volume residual, levando a maiores limitações respiratórias e consequentemente diminuição da capacidade funcional4, e ao aumento da taxa de morbidade e mortalidade nessa população5.
Pessoas com diminuição da capacidade funcional podem apresentar perda de mobilidade e maior risco de queda1 , 6. Sabe-se que a força muscular respiratória apresenta correlação com a mobilidade avaliada por meio da escala de Berg7. Testes que diferenciam pessoas com maior ou menor risco de quedas são importantes e devem ser capazes de identificar alterações na capacidade funcional, no equilíbrio e na mobilidade8.
Considerando que o envelhecimento é um processo, que as mudanças funcionais respiratórias e as mudanças no equilíbrio acontecem ao longo do tempo, avaliar pessoas que ainda não são consideradas idosas permitirá entender como a função respiratória e a capacidade funcional cardiorrespiratória influencia no equilíbrio e na mobilidade. A partir disso será possível traçar estratégias que permitam manter essas funções, levando à diminuição das quedas e consequentemente das incapacidades geradas por elas, melhorando a qualidade de vida da pessoa idosa.
O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito das variáveis de função pulmonar estática na reposta cardiorrespiratória, na mobilidade e no equilíbrio de pessoas acima de 50 anos. E também, na mesma amostra, o efeito da mobilidade e do equilíbrio em três diferentes testes de esforço.
METODOLOGIA
Foi realizado um estudo transversal no qual a coleta de dados foi realizada em sala devidamente climatizada, corredor e escada à sombra nas dependências da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista (UNESP), na cidade de Marília (SP), Brasil. Este estudo foi realizado de acordo com o checklist do STROBE.
Todos os participantes leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e a coleta de dados foi realizada após a assinatura.
Fizeram parte deste estudo pessoas saudáveis de ambos os gêneros, acima de 50 anos, que durante a anamnese não relatassem história de angina instável ou infarto do miocárdio a menos de três meses e sem alterações musculoesqueléticas, cardiorrespiratórias, neurológicas ou vasculares que dificultassem a realização dos testes.
Foram excluídos pacientes que apresentaram alterações hemodinâmicas (Pressão Arterial Sistólica –PAD – maior que 140 ou menor que 100mmHg e PAD maior que 100 e menor que 60mmHg) antes ou após a realização dos testes, frequência cardíaca de repouso maior que 120bpm, ou pacientes que não concluíram todo o protocolo de avaliação por desistência ou impossibilidade clínica, a avaliação da pressão arterial foi realizada pelos autores no momento da avaliação.
Os pacientes foram recrutados por meio de divulgação das pesquisas nos ambientes da universidade utilizando cartazes e por meio de mídias sociais usando posts para divulgação. Todos os pacientes passaram por anamnese, avaliação da função pulmonar por meio da espirometria, teste de esforço cardiorrespiratório por meio do incremental shuttle walking test (ISWT), do teste de caminhada de seis minutos (TC6) e do teste de escada (TEsc) e para avaliação da mobilidade foram submetidos ao teste timed up and go (TUG) e avaliados por meio da escala de equilíbrio de Berg6 , 9 - 17.
As avaliações foram realizadas em dois dias com intervalo de 24 horas no mínimo entre eles e sempre pelo mesmo avaliador. No primeiro dia foi realizada a anamnese, espirometria, teste de equilíbrio de Berg e TC6. No segundo dia, teste timed up and go, teste de escada e incremental shuttle walking test. A ordem dos testes tinha como objetivo diminuir os efeitos do cansaço provocado por cada um dos testes no subsequente.
Na anamnese os pacientes foram questionados quanto à presença de comorbidades e de tabagismo. Em relação ao tabagismo foram questionados quanto ao tempo (em anos de consumo) e o número de maços por dia e calculada a carga tabágica em anos-maço.
Foram mensuradas massa corporal em quilograma em balança digital (FILIZOLA®) e estatura em metros por meio do estadiômetro graduado em centímetros e a partir desses calculado o Índice de Massa Corporal (IMC) por meio da divisão da massa pela estatura ao quadrado (m2).
A espirometria foi realizada de acordo com os critérios da ATS9, e das Diretrizes para Testes de Função Pulmonar10. Após repouso de cinco minutos foram realizadas três provas de capacidade vital forçada, reprodutivas e aceitáveis. Os valores de Capacidade Vital Forçada (CVF) e VEF1 foram obtidos em litros e porcentagem do predito a partir dos valores normais previstos11 e a relação VEF1/CVF calculada em porcentagem.
Todos os participantes realizaram duas vezes cada teste com o intervalo mínimo de 10 minutos entre eles, sendo o primeiro para familiarização, e o segundo, o resultado foi considerado para análise.
Antes e após cada teste foram avaliados a frequência respiratória (FR) pela contagem dos movimentos torácicos durante um minuto, a saturação de pulso de oxigênio (SpO2) e o pulso por meio do oxímetro de pulso portátil (MORIYA® - Modelo 1005, São Paulo, Brasil) posicionado no segundo dedo da mão dominante do paciente, e a pressão arterial (PA) com auxílio de estetoscópio cardiológico (LITTMANN, Minnesota, Estados Unidos) e esfigmomanômetro (Aneróide Premium - G-Tech, Santa Catarina, Brasil) devidamente calibrado no braço dominante. Além disso, a escala de Borg12 , 13 foi explicada e mostrada às pessoas solicitando que graduassem tanto o grau de dispneia como a presença de dor em membros inferiores. E para realizar cada teste foi esperada a normalização da pressão arterial.
No teste de Shuttle os participantes foram instruídos a caminhar num corredor de 10 metros limitados por cones e com a velocidade determinada por um sinal sonoro gravado em mídia eletrônica, que aumentava a velocidade em 0,17m/s a cada minuto, podendo totalizar até 15 estágios. Os pacientes foram orientados a caminhar em velocidade que permitisse os mesmos chegassem aos cones no momento que o sinal sonoro tocasse, sendo que no final de cada minuto foi dado um sinal adicional para alertar o aumento de velocidade14. A distância total foi considerada e comparada à distância predita para população15.
O final do teste foi determinado quando a distância que o paciente estivesse do cone fosse maior que 0,5 metros ou caso o paciente relatasse dor torácica, dispneia intensa, fadiga e exaustão, ou solicitasse para parar.
O TEsc foi realizado em escada à sombra composta por quatro lances (46 degraus), cada degrau medindo 0,16m, num total de 7,36 metros de altura e com inclinação de 30°. Os pacientes foram orientados a subir o mais rápido que conseguissem e o tempo de subida cronometrado teste de escada (tTEsc). Os sujeitos subirão acompanhados pelo pesquisador, que os estimularam com frases padronizadas, a cada lance da escada e o tempo foi comparado o tempo previsto16.
O TC6 foi realizado em corredor aberto, à sombra, com distância de 30 metros, demarcados a cada 1 metro com fita e sinalizado no início e no final do trajeto com cones. O paciente foi orientado a caminhar a maior distância possível durante 6 minutos e caso julgasse necessário, poderia parar ou diminuir a velocidade. Os estímulos verbais foram padronizados, realizados pelo avaliador a cada minuto e a distância total foi registrada e comparada com a predita17. O teste seria interrompido caso o paciente relatasse dor torácica, dispneia intensa, fadiga e exaustão, ou caso solicitasse18 , 19.
Com a finalidade de avaliar a mobilidade funcional os participantes foram submetidos ao TUG. Para tanto foram posicionados em uma cadeira (45cm de altura) em contato com o encosto e foram orientandos a levantar e andar em linha reta na distância de 3 metros, na maior velocidade possível sem correr, devendo contornar um cone na marca de 3 metros e retornar ao assento novamente. O teste foi repetido três vezes e o tempo de realização cronometrado. Foi considerado o melhor tempo para avaliação6.
A escala de equilíbrio de Berg13 foi adaptada e validada no Brasil em 2012 e compreende uma escala composta de 14 tarefas relacionadas ao dia a dia, que envolvem o equilíbrio estático e dinâmico. Os itens avaliados incluem a habilidade do paciente em manter posições de crescente dificuldade, com a diminuição da base de suporte para sentar, até postura confortável, ficar em pé com os pés juntos, e por fim, postura em tandem (isto é, com um pé à frente do outro), e postura em uma única perna, os dois itens mais difíceis. Outros itens avaliam o quão bem o paciente está apto a mudar de posição, de sentado para em pé, ao baldear-se de uma cadeira para outra, ao pegar um objeto do piso, e ao sentar-se.
A realização das tarefas é avaliada por meio da observação e a pontuação varia de 0 a 4 em cada tarefa, totalizando um máximo de 56 pontos. A pontuação é baseada no tempo em que a posição pode ser mantida, na distância que o braço é capaz de alcançar para a frente, ou o tempo para completar uma tarefa. Assim sendo, esses pontos são subtraídos caso o tempo ou a distância não sejam atingidos, se o sujeito necessita de supervisão para a execução da tarefa, ou se o sujeito se apoia em um suporte externo ou recebe ajuda do examinador.
Para análise estatística foi utilizado o software SigmaStat®. A caracterização da amostra foi feita por meio de estatística descritiva e os dados apresentados em média±desvio padrão. As variáveis passaram por teste de normalidade de Shapiro-Wilk e tiveram distribuição normal. Para verificar se houve correlação entre as variáveis de função pulmonar estática e as demais variáveis de interesse os dados passaram pelo teste de correlação de Pearson (p<0,05).
RESULTADOS
Foram avaliadas 55 pessoas. Nove foram excluídas, totalizando 46 (Figura 1).
Dos 46 que compuseram a amostra, 37 (80,5%) eram mulheres e nove (19,5%) homens. Sobre tabagismo, 31 (67,40%) ex-fumantes, 13(28,2%) fumantes atuais e dois (4,4%) eram não fumantes. Nas comorbidades um (2,17%) individuo relatou problemas respiratórios; 33(71,7%) relataram problemas cardíacos, um (2,1%) relatou problema neurológico e 11 (24,%) tinham outras doenças (como diabetes melitus e insuficiência renal). As demais características da amostra são apresentadas na Tabela 1.
Com relação às variáveis espirométricas 17 (37%) os participantes apresentaram CVF menor que 80% do predito, 24 (52,2%) tinham VEF1 abaixo do predito e 32 (69,6%) apresentaram a relação VEF1/CVF menor que 80%. Sobre a FEF25-75%, 29 (63%) pessoas apresentaram valores abaixo da normalidade. No resultado do ISWT apenas quatro participantes (8,7%) apresentaram resultado maior que o predito, no TC6 apenas um (2,2%) e no tTEsc, sete (15,2%) apresentaram tempo menor que o predito (Tabela 2).
CVF=Capacidade Vital Forçada; FEF25-75=Fluxo Expiratório Forçado de 25 a 75%; VEF1=Volume Expiratório Forçado no Primeiro Segundo; L (litros); ISWT=incremental shuttle walk test; m=metros; TC6=teste de caminhada de seis minutos; tTesc=tempo no teste de escada.
A classificação de Berg apresentou 45 pessoas com pontuação de 56-45 pontos (97,8%), portanto não tinham risco de queda. Apenas uma pessoa apresentou de 44-37 pontos (2,2%), isto é, leve risco de queda. A média e o desvio padrão do BERG (pontos) foram de 53,54±3,23. Os dados referentes ao TUG (em segundos) foram iguais a 7,77±1,74.
A correlação das variáveis da função pulmonar estática com os testes de esforço, mobilidade e equilíbrio é apresentada na Tabela 3.
Ao associar os resultados do equilíbrio e mobilidade com os testes de esforço, observou-se que o resultado do TUG apresentou moderada correlação com ISWT (0,41) e TC6 real (-0,43), e fraca correlação com tTEsc (0,33). Já a pontuação do BERG apresentou moderada correlação com ISWT(%) (-0,45), TC6 real (0,43) e tTEsc (real (-0,59) e predito (-0,45)) e fraca correlação com TC6 predito (0,33) (Tabela 4).
Correlação dos testes de esforço com os testes de mobilidade e equilíbrio (valores de r e p)
ISWT=incremental shuttle walk teste; TC6=teste de caminhada de seis minutos; tTesc=teste de escada; TUG=timed up and go; s=segundos; BERG=escala de equilíbrio de Berg.
DISCUSSÃO
Houve diferença estatística entre algumas variáveis espirométricas e os testes de esforço, mobilidade e equilíbrio, no entanto a correlação foi moderada ou fraca. A correlação dos testes de esforço com os testes de mobilidade e equilíbrio também se apresentou moderada ou fraca. A maioria dos participantes da amostra eram mulheres, pois a triagem para pesquisa se deu por demanda espontânea. As mulheres aderem mais aos planos de tratamento e cuidados com a saúde, apesar disso, acreditamos que não houve interferência dessa prevalência nos resultados haja vista que utilizaram fórmulas preditoras que consideram o gênero, assim como os resultados foram correlacionados entre si.
Grande parte das pessoas estudadas era ex-fumantes, com carga tabágica média elevada. Apesar disso, os achados espirométricos mostraram obstruções leves decorrentes dessa carga tabágica. O tabagismo pode alterar a função pulmonar, diminuindo principalmente o fluxo expiratório e a longo prazo podendo levar à doença pulmonar obstrutiva que diminuem a oxigenação e consequentemente alteram o equilíbrio20 , 21.
Um terço dos participantes estudados apresentaram alterações restritivas e os outros dois terços distúrbios obstrutivos na avaliação espirométrica. Além disso, 63% dos participantes apresentaram obstruções em pequenas vias aéreas, detectadas por diminuição nos valores de FEF25-75%. Esses achados podem ser justificados pela faixa etária da amostra que em média foi de 61 anos. De acordo com a literatura, o envelhecimento leva à perda da retração elástica pulmonar, o que justifica as reduções de fluxo expiratório. Além disso, ocorre perda da complacência torácica e da força muscular respiratória, justificando os achados restritivos, podendo essas alterações influenciarem a capacidade funcional cardiorrespiratória3.
Em relação aos resultados no teste de equilíbrio, na escala de equilíbrio de Berg a maioria da amostra mostrou não ter risco de queda13 , 22. Apesar da população estudada já apresentar distúrbios ventilatórios, estes não foram capazes de alterar o equilibrio, já que são leves. Pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica grave podem apresentar alterações no equilíbrio principalmente a decorrente da hipoxia periférica23.
Em relação à mobilidade, a amostra estudada não apresentou alteração nesse quesito já que tinha valores de TUG menor do que 10 segundos. Considerando que a amostra em questão tem idade acima de 60 anos em média, poderia ser considerado normal o resultado do TUG até 12 segundos24.
Apesar do equilíbrio e mobilidade estar dentro de valores normais, a CVF e o VEF1 apresentaram correlação com o resultado da escala de Berg e TUG, sugerindo que quanto melhor a função respiratória melhor o equilíbrio e mobilidade. Os que apresentam piores resultados no TUG apresentam alteração durante as atividades de vida diária25, assim, nessa amostra, apesar da função pulmonar estar diminuída, pode-se concluir que pessoas não teriam alteração nas atividades de vida diária.
As variáveis espirométricas mostraram relação com os testes de esforço, de forma que aqueles com pior função pulmonar apresentaram piores resultados nos testes de esforço. Os dados deste estudo confirmam os obtidos em estudo realizado com pacientes com Doença Pulmonar Crônica que mostrou que o grau de obstrução é determinante no resultado do TC6, sendo que quanto maior a obstrução menor a capacidade funcional respiratória26. Nessa amostra pessoas que apresentaram redução do fluxo expiratório também apresentaram prejuízo na capacidade cardiorrespiratória, possivelmente por levar à hiperinsuflação, o que dificulta a ventilação e causa dispneia27.
O tTEsc leva em consideração, além da capacidade cardiopulmonar, a força de membros inferiores devido à necessidade de potência muscular para subir os lances de escada em melhor tempo28. Neste estudo a única variável espirométrica que não teve correlação com tTEsc foi a CVF. Isso mostra que outras variáveis, como força muscular e capacidade metabólica, podem ser mais relevantes no resultado deste teste.
Na análise da correlação dos testes de esforço com os testes de mobilidade e equilíbrio, o TUG e o Berg apresentaram correlação com ISWT, com o TC6 e com tTEsc. No presente estudo os participantes eram independentes na locomoção e nas atividades de vida diária, o que pode explicar as pontuações encontradas, próximas dos valores máximos.
Como limitações do estudo podemos citar o tamanho da amostra e a idade média dos participantes de 61 anos, uma vez que quanto maior a idade maior a perda de massa muscular, equilíbrio, capacidade funcional e função pulmonar. Outra limitação é que neste estudo, os participantes não foram avaliados quanto ao nível de atividade física. A prática de atividade física pode influenciar o desempenho físico e cardiorrespiratório, assim como a força muscular periférica.
Este estudo tem uma importante implicação prática/clínica, uma vez que as alterações fisiológicas do processo de envelhecimento são conhecidas e se iniciam por volta dos 50 anos, os cuidados com os pacientes e a conduta fisioterapêutica pode ser aprimorada, com o objetivo de prevenir perda de massa muscular e função pulmonar.
CONCLUSÃO
A função pulmonar tem efeito sobre a condição e resposta cardiorrespiratória, mobilidade e equilíbrio de pessoas acima de 50 anos. No entanto, ao associar os resultados do equilíbrio e mobilidade com os testes de esforço a correlação apresentada foi moderada ou fraca.
O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito das variáveis de função pulmonar estática na reposta cardiorrespiratória, na mobilidade e no equilíbrio de pessoas acima de 50 anos. E também, na mesma amostra, o efeito da mobilidade e do equilíbrio em três diferentes testes de esforço.
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Fonte de financiamento:
nada a declarar
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Aprovado pelo Comitê de Ética: Comitê de Ética em Pesquisa sob o protocolo no 1.861.176.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
04 Abr 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
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Recebido
03 Abr 2022 -
Aceito
15 Jan 2024


