Open-access Percepção dos estudantes de fisioterapia sobre o Exame Clínico Objetivo Estruturado: uma abordagem de métodos mistos

RESUMO

O exame clínico objetivo estruturado (OSCE) tornou-se um método popular para avaliação de competências clínicas em programas de saúde. Embora o OSCE seja amplamente reconhecido por sua validade e reprodutibilidade na avaliação de habilidades clínicas, as percepções dos estudantes de fisioterapia sobre esse método ainda são pouco exploradas. O objetivo deste estudo é analisar as opiniões dos estudantes de fisioterapia sobre a eficácia educacional do OSCE, avaliando suas vantagens e desvantagens. Este estudo descritivo com abordagem de método misto investigou a percepção de estudantes sobre o OSCE, combinando análise quanti-qualitativa. O exame foi realizado na disciplina de Fisioterapia Respiratória como parte da avaliação do curso. Os estudantes de fisioterapia foram convidados a preencher uma pesquisa abordando suas percepções sobre a relevância, logística e impacto do exame. O instrumento incluiu 17 perguntas fechadas e cinco perguntas abertas. Os dados quantitativos foram analisados utilizando estatísticas descritivas, enquanto os dados qualitativos foram submetidos à metodologia de análise de conteúdo, realizada de forma independente por dois avaliadores. Sessenta e três estudantes (87% mulheres, idade 22,5 ± 1,76 anos) participaram do estudo. Setenta e três por cento dos participantes consideraram o exame relevante e eficaz, enquanto 74,6% reconheceram sua contribuição para a aprendizagem. Ainda, 68,3% acreditavam que a experiência ajudava na preparação para a prática clínica. Temas positivos e negativos emergiram da análise de conteúdo. Aspectos positivos incluíram feedback imediato ao final do exame e experiências clínicas simuladas, enquanto ansiedade, restrições de tempo e ambiente estressante foram descritos negativamente. Este estudo demonstrou que os estudantes de fisioterapia percebem o OSCE como um método de aprendizado valioso. Eles valorizaram o treinamento fornecido em relações humanas para a prática clínica, ao mesmo tempo que identificaram o estresse como um aspecto negativo significativo.

Descritores
Aprendizado Ativo; Avaliação Educacional; Percepção

ABSTRACT

The objective structured clinical examination (OSCE) has become a popular approach for assessing clinical competence in health programs. Although OSCE is widely acknowledged for its validity and reproducibility in assessing clinical skills, Physical Therapy students’ perceptions of this approach remain underexplored. This study aims to analyze the views of Physical Therapy students on the educational efficacy of OSCE, evaluating its strengths and weaknesses. This descriptive study with mixed method approach surveyed students about OSCE, combining quantitative and qualitative analysis. OSCE in Respiratory Physical Therapy was conducted as part of the course assessment. Physical Therapy students were invited to complete a survey addressing their perceptions of exam relevance, logistics, and impact. The instrument comprised 17 closed-ended and five open-ended questions. Quantitative data were analyzed using descriptive statistics, while qualitative data were subjected to content analysis, performed independently by two investigators. In total, 63 students (87% women, 22.5±1.76 years) completed the survey. Overall, 73% of participants found the exam to be both relevant and effective, while 74.6% acknowledged its contribution to their learning. Additionally, 68.3% believed that the experience aided in their preparation for clinical practice. Positive and negative themes have emerged from the content analysis. For instance, positive aspects include immediate feedback at the end of the exam and simulated clinical experiences, while negative aspects encompass anxiety, time constraints, and a stressful environment. This study demonstrated that Physical Therapy students perceive OSCE as a valuable learning method. They appreciated the training it provided in human relationships for clinical practice, while simultaneously identifying stress as a notable negative aspect.

Keywords
Active Learning; Educational Assessment; Perception

RESUMEN

El examen clínico objetivo estructurado (OSCE) se ha vuelto muy extendido en la evaluación de competencias clínicas en los programas de salud. Aunque el OSCE es ampliamente reconocido por su validez y reproducibilidad en la evaluación de habilidades clínicas, las percepciones de los estudiantes de Fisioterapia sobre este método siguen siendo poco exploradas. El objetivo de este estudio fue analizar las opiniones de los estudiantes de Fisioterapia sobre la eficacia educativa del OSCE al examinar sus fortalezas y debilidades. Se trata de un estudio descriptivo, con enfoque mixto, realizado con estudiantes sobre el OSCE mediante la combinación del análisis cuantitativo-cualitativo. El examen se realizó en la materia de Fisioterapia Respiratoria como parte de la evaluación del curso. Se invitó a los estudiantes de Fisioterapia a completar una encuesta que abordaba sus percepciones sobre la relevancia del examen, la logística y el impacto. El instrumento incluyó 17 preguntas cerradas y 5 preguntas abiertas. Los datos cuantitativos se sometieron a análisis descriptivo, mientras que los datos cualitativos se sometieron a una metodología de análisis de contenido, realizada de forma independiente por dos investigadores. Los resultados revelan que 73 estudiantes (87% mujeres, edad 22,5 ± 1,76 años) completaron la encuesta. El 73% de los participantes encontraron que el examen era relevante y efectivo, mientras que el 74,6% reconocieron su contribución a su aprendizaje. Además, el 68,3% creía que la experiencia les ayudaba en su preparación para la práctica clínica. Han surgido temas positivos y negativos del análisis de contenido. Por ejemplo, los aspectos positivos incluyen la retroalimentación inmediata al final del examen y las experiencias clínicas simuladas, mientras que los aspectos negativos fueron la ansiedad, las restricciones de tiempo y un ambiente estresante. Se concluye que los estudiantes de Fisioterapia consideran el OSCE como un método valioso de aprendizaje, apreciaron el entrenamiento que les proporcionó en relaciones humanas para la práctica clínica, al mismo tiempo que identificaron el estrés como un aspecto negativo notable.

Palabras clave
Aprendizaje Basado en Problemas; Evaluación Educacional; Percepción

INTRODUÇÃO

O Exame Clínico Objetivo Estruturado (OSCE - objective structured clinical examination) originou-se no quadro de avaliação da pirâmide de Miller1, no nível “mostrar como fazer”. Este método foi proposto inicialmente por Harden et al. em 1975 e foi concebido para avaliar a competência clínica através da integração de habilidades cognitivas, psicomotoras e atitudinais, como comunicação e relações interpessoais2. O OSCE consiste em um exame estruturado que compreende cenários clínicos específicos nos quais os estudantes realizam tarefas predeterminadas3. As rotações de estações são frequentemente empregadas, e cada uma apresenta cenários clínicos e tarefas distintos4. O desempenho dos estudantes é avaliado objetivamente segundo critérios pré-estabelecidos por meio de uma lista de verificação com pontuações qualitativas5.

O OSCE é amplamente reconhecido como um dos métodos mais confiáveis, válidos e eficazes para avaliar habilidades clínicas6. Entre as vantagens está a capacidade de avaliar habilidades em uma mesma estação, como a coleta de históricos clínicos, a realização de exames físicos, a demonstração de procedimentos técnicos e a comunicação de más notícias7. Quanto às desvantagens, incluem-se o extenso tempo de preparação, a necessidade de uma equipe numerosa, o treinamento de pacientes simulados (ou o uso de manequins), a infraestrutura física necessária para o rodízio de estudantes entre estações e os custos associados6.

A avaliação do próprio instrumento também tem sido tema de discussão na literatura. Para delinear de forma eficaz os padrões essenciais necessários para que uma ferramenta de avaliação possa mensurar com precisão as habilidades dos estudantes nos domínios cognitivo, psicomotor e atitudinal, um painel de especialistas definiu sete elementos-chave que caracterizam um instrumento de avaliação robusto: 1) validade ou coerência; 2) reprodutibilidade, confiabilidade ou consistência; 3) equivalência; 4) viabilidade; 5) efeito educacional; 6) efeito catalítico; e 7) aceitabilidade8.

A aceitabilidade é crucial, mas não é o único fator decisivo para a eficácia de um instrumento de avaliação. A implementação bem-sucedida depende da aprovação do instrumento por todas as partes, incluindo professores, avaliadores, estudantes e reguladores. Todas as partes interessadas precisam apoiar ativamente o processo, dar credibilidade ao feedback e permanecer comprometidas com a promoção de resultados de aprendizagem positivos. Do ponto de vista dos estudantes, a aceitabilidade pode surgir em fatores como compreensão do objetivo da avaliação, transparência, qualidade da avaliação, método de pontuação e recebimento de feedback após a conclusão9),(10.

Estudos anteriores indicaram que a falta de familiaridade dos estudantes com o formato do OSCE e com os procedimentos de avaliação pode levar a níveis elevados de ansiedade e estresse, afetando potencialmente o desempenho e a aceitação do exame11),(12. Analisar as percepções dos estudantes sobre o valor educacional do OSCE pode ajudar as instituições a avaliar a validade do exame na promoção da competência esperada em saúde. Embora pesquisas anteriores tenham explorado as perspectivas dos estudantes de saúde sobre o OSCE13, segundo nosso conhecimento, poucos estudos se aprofundaram nas opiniões dos estudantes de Fisioterapia sobre o OSCE como ferramenta pedagógica e suas experiências emocionais. É plausível que os desafios, recursos e experiências emocionais enfrentados por eles possam diferir dos estudantes de outros cursos. Portanto, este estudo teve como objetivo investigar as percepções dos estudantes de graduação em Fisioterapia sobre o valor educacional do OSCE.

METODOLOGIA

Desenho e contexto do estudo

Este estudo emprega uma abordagem descritiva com uma metodologia mista14. Foi utilizado um desenho convergente, no qual abordagens quantitativas e qualitativas foram implementadas simultaneamente com igual ênfase, permitindo a convergência dos resultados dos dois conjuntos de dados15. Todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, e o exame foi realizado nas instalações do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).

Participantes

Foram recrutados estudantes matriculados no sétimo semestre do curso de graduação em Fisioterapia da UFTM, Uberaba, Brasil. Trata-se de um curso de 10 semestres, dos quais os três últimos são dedicados a estágios supervisionados. No final do sétimo semestre, os estudantes haviam concluído os cursos que abrangiam os tópicos básicos essenciais e a maioria das disciplinas teórico-práticas de desenvolvimento profissional, exceto os estágios supervisionados. Nessa ocasião houve o primeiro contato dos estudantes com o OSCE, e uma amostragem por conveniência foi empregada para a coleta de dados.

Os estudantes foram convidados a participar se tivessem idade ≥18 anos e estivessem matriculados na disciplina de Fisioterapia Respiratória de agosto de 2017 a dezembro de 2018 (em turmas consecutivas). O OSCE foi realizado como um componente da disciplina.

O exame clínico objetivo estruturado

O exame clínico objetivo estruturado (OSCE) abrangeu três estações, cada uma abordando áreas de conteúdo específicas: avaliação do sistema respiratório, terapia de desobstrução das vias aéreas e técnicas de expansão pulmonar. Cada estação teve duração de oito minutos, dos quais um minuto foi destinado à leitura do caso clínico e à descrição da tarefa, cinco minutos à execução da tarefa clínica e dois minutos ao feedback. Os casos clínicos foram elaborados para simular cenários profissionais reais. O Quadro 1 apresenta um exemplo de estação.

Quadro 1
Exemplo de estação de exame clínico estruturado objetivo

Esperava-se que os estudantes selecionassem a técnica mais apropriada para abordar o cenário dado em cada estação. Para garantir a objetividade, estabelecemos padrões de resposta, delineando as possíveis técnicas que poderiam ser aplicadas em cada estação, considerando suas indicações, contraindicações, efeitos colaterais e particularidades. Esses fatores foram incorporados à lista de verificação de avaliação. Além disso, foi desenvolvida uma lista de verificação para avaliar as habilidades atitudinais, cognitivas e psicomotoras dos estudantes, adaptada de Silva et al. (16 Os itens da lista de verificação foram pontuados em uma escala de 2 (satisfatório), 1 (parcialmente satisfatório) ou 0 (insatisfatório).

Havia dois examinadores durante a sessão, ambos previamente treinados na lista de verificação e nos padrões de resposta para cada cenário. Um examinador tinha mais de 10 anos de experiência em ensino, enquanto o outro era um estudante do último ano de Fisioterapia. A pontuação numérica final foi calculada como a média de todos os itens avaliados pelos dois examinadores. Em seguida, os estudantes receberam feedback do examinador mais experiente e foram incentivados a fazer uma autoavaliação, bem como a expressar quaisquer dúvidas ou ansiedades em relação ao OSCE.

Várias medidas foram implementadas para garantir a validação interna das estações do OSCE: 1) as habilidades a serem avaliadas foram definidas antecipadamente usando o método blueprint; 2) foram estabelecidos objetivos de aprendizagem claros para todas as estações; 3) as estações do OSCE foram padronizadas para garantir condições uniformes para todos os examinandos, incluindo cenários, instruções e critérios de avaliação consistentes; 4) uma lista de verificação de avaliação detalhada foi desenvolvida para apoiar a legitimidade do processo de avaliação. Os examinadores foram treinados para aplicar a lista de verificação e a pontuação de forma consistente, reduzindo assim o viés e a subjetividade nas avaliações, o que fortalece a validade interna. Além disso, o conteúdo das estações foi alinhado com a competência exigida em ambientes clínicos reais, sustentando assim a validade de conteúdo17.

Pesquisa de percepção dos estudantes

Após a sessão do OSCE e do feedback, os estudantes foram abordados por um pesquisador que não havia atuado como examinador do OSCE e convidados a participar do estudo. Para avaliar suas percepções sobre o OSCE, foi utilizada uma pesquisa semiestruturada em formato impresso, composta por três domínios contendo perguntas quantitativas e qualitativas. Os domínios 1 e 2 empregaram uma escala Likert de 1 a 5 (de “discordo totalmente” a “concordo totalmente”; abordagem quantitativa), enquanto o terceiro domínio consistiu em cinco perguntas abertas (abordagem qualitativa).

O domínio 1 focou na autoavaliação dos estudantes, com o objetivo de estimular a reflexão sobre seu desempenho, comportamento profissional com o paciente simulado, conhecimento teórico, habilidades práticas e capacidade de tomada de decisão. Os domínios 2 e 3 abordaram o OSCE em si, abrangendo perguntas sobre sua relevância, seus aspectos logísticos, o tempo alocado, os aspectos positivos e negativos, o impacto no processo de aprendizagem e as emoções experimentadas antes e durante o OSCE. A pesquisa para avaliar as percepções dos estudantes em relação ao OSCE foi realizada logo após o exame.

Análise de dados

Os domínios 1 e 2 foram analisados por meio de estatística descritiva, com resultados apresentados como mediana e intervalo interquartil (IIQ), média±desvio padrão ou como frequências e porcentagens. A distribuição (teste de Kolmogorov-Smirnov) e as análises dos dados foram realizadas com o software IBM SPSS versão 26 (SPSS Inc., Chicago, EUA).

O conteúdo qualitativo foi avaliado pelo método de análise de conteúdo, que explora a subjetividade de um tópico, reconhecendo o viés dos pesquisadores, participantes e conteúdo analisado18. A análise foi conduzida seguindo as etapas descritas por Kleinheksel et al. (19. Inicialmente, a equipe de pesquisa estudou os dados para se familiarizar com suas nuances (todas as respostas foram copiadas em um único quadro para facilitar a leitura e a releitura coletiva). Em seguida, os dados foram estruturados em unidades de significado, cada uma abordando um conceito distinto, ou seja, destacando palavras-chave em cada questão. As respostas foram meticulosamente codificadas e organizadas em categorias temáticas coesas (sentimentos positivos ou negativos e temas diversos) (19. Por fim, os temas foram revisados e nomeados para refletir sua essência. Dois pesquisadores realizaram a análise de forma independente e chegaram a um consenso.

RESULTADOS

Dos 72 estudantes elegíveis, 63 (88%) participaram do estudo, sendo a maioria mulheres (n=55/87%) e com idade entre 20 e 27 anos (22,5±1,76).

Na autoavaliação, a maioria dos estudantes demonstrou confiança em atender aos requisitos atitudinais, cognitivos e psicomotores durante a tarefa simulada com o paciente. Aproximadamente 55% dos estudantes relataram incertezas quanto à técnica e/ou aos recursos empregados nos cenários clínicos, enquanto mais de 85% acreditavam que a ansiedade e o estresse relacionados aos exames impactavam seu desempenho (Tabela 1).

Tabela 1
Percepção dos estudantes sobre o exame clínico objetivo estruturado (OSCE)

O Domínio 2 avaliou as percepções dos participantes em relação aos aspectos gerais do OSCE. De modo geral, eles consideraram o OSCE positivo, com mais de 90% (n=57) afirmando sua relevância e eficácia (Tabela 1). Os tempos alocados para cada estação e para o exame completo foram considerados adequados por 73% dos participantes na análise quantitativa. Além disso, a maioria dos estudantes (94%) considerou a logística do OSCE adequada.

Quanto ao potencial de aprendizagem associado ao OSCE, quase todos os estudantes (n=60/95%) concordaram que o exame facilitou sua aprendizagem e compreensão de conceitos. Além disso, 94% dos estudantes acreditaram que os cenários de casos clínicos e as tarefas apresentadas tinham alguma semelhança com situações reais com as quais se depararam durante os estágios supervisionados.

Os pontos fortes e fracos do OSCE na formação acadêmica também foram enfatizados nos comentários qualitativos. Nove estudantes não responderam às perguntas durante a análise qualitativa, totalizando uma amostra de 54 estudantes (Quadro 2). Os estudantes disseram que o OSCE aprimorou sua formação acadêmica, enfatizando elementos como experiências clínicas simuladas e feedback recebido ao final do exame. Os temas negativos que emergiram foram associados a restrições de tempo, estresse e ansiedade. O Quadro 2 mostra os principais temas identificados, acompanhados de trechos dos relatos dos estudantes.

Quadro 2
Percepção qualitativa e comentários dos estudantes sobre o exame clínico de estrutura objetiva

DISCUSSÃO

Este estudo teve como objetivo avaliar as percepções de um grupo de estudantes de Fisioterapia sobre o valor educacional do OSCE, examinando suas vantagens e desvantagens. Por meio de análises quantitativas e qualitativas, os resultados indicaram que os estudantes geralmente consideraram o OSCE uma ferramenta educacional valiosa e construtiva, que facilitou experiências de aprendizagem significativas e fortaleceu suas competências clínicas. No entanto, sentimentos de ansiedade e estresse, decorrentes do processo de avaliação, foram frequentemente relatados como fatores negativos.

Os estudantes relataram diversas experiências positivas, incluindo a integração do conhecimento teórico com a aplicação prática, o aprimoramento das habilidades de raciocínio clínico, o estímulo aos processos de tomada de decisão e a exposição a cenários clínicos simulados que refletiam de perto suas futuras experiências em estágios reais. A análise quantitativa revelou que nenhum estudante considerou o OSCE irrelevante, ineficaz para a aprendizagem ou inadequado a suas necessidades educacionais. Em consonância com Quigley e Regan (2014), estudantes de graduação em fonoaudiologia igualmente reconheceram o valor educacional do OSCE, descrevendo-o como compreensível, equitativo, capaz de desenvolver a autoconfiança e oferecendo uma avaliação significativa da competência clínica. Eles também identificaram tanto pontos fortes quanto aspectos que necessitam de melhoria dentro da estrutura do OSCE20. Percepções positivas semelhantes foram observadas entre estudantes de diversas outras áreas da saúde5), (21.

Neste estudo, a maioria dos estudantes considerou a logística do OSCE satisfatória. No entanto, alguns comentários qualitativos sugeriram que o tempo disponível era insuficiente para completar as tarefas. Majumder et al. (22 demonstraram que uma parcela significativa de estudantes de medicina (63-91%) estava satisfeita com o OSCE, destacando aspectos positivos como tratar-se de um processo avaliativo justo, a abrangência dos conhecimentos e das competências necessárias e a logística eficiente. Contudo, os estudantes relataram em unanimidade que o tempo fornecido para completar as tarefas nas estações era inadequado. Revisões anteriores já haviam explorado a eficácia da avaliação de habilidades clínicas entre estudantes de Fisioterapia e Enfermagem7),(13, que também tiveram a percepção de que o tempo alocado para o OSCE é insuficiente - fator que contribui potencialmente para o aumento da ansiedade relacionada ao exame7),(13.

O estresse emocional, relatado de forma consistente tanto nas análises qualitativas quanto nas quantitativas, foi predominantemente percebido de forma negativa, e a maioria dos estudantes acreditava que a ansiedade e o medo afetavam seu desempenho de maneira negativa. Investigações paralelas demonstraram níveis elevados de ansiedade entre estudantes de enfermagem e medicina após a participação no OSCE11),(12. Embora os estudantes de enfermagem, medicina e fisioterapia tenham focos profissionais distintos, eles podem experimentar níveis semelhantes de estresse devido ao OSCE. No entanto, há uma escassez de estudos que examinem especificamente o estresse emocional em estudantes de fisioterapia durante o OSCE. No estudo de Maloney et al. (23, apenas dois dos 40 estudantes de graduação em fisioterapia relataram estresse relacionado ao OSCE. Por outro lado, um estudo recente envolvendo 32 estudantes brasileiros de fisioterapia revelou altos níveis de ansiedade de estado (37,5%) e de traço (63,6%) antes do OSCE, o que não afetou as notas do exame24. No entanto, pesquisas indicam que a autoeficácia pode mitigar os efeitos do estresse e da ansiedade no desempenho do OSCE24. Os estudantes que relataram experiência anterior com o OSCE e aquisição de habilidades disseram que se sentiram mais à vontade, com a autoeficácia mostrando uma correlação moderada com um desempenho mais alto24. A falta de familiaridade com o formato e a sequência do OSCE foi apontada como um fator que contribui para o aumento dos níveis de ansiedade entre os estudantes de enfermagem13. Consequentemente, os estudantes com níveis elevados de ansiedade podem apresentar notas mais baixas, pois o desempenho é influenciado não apenas pelo conhecimento e pelas habilidades, mas também pela confiança em sua aplicação24),(25. Esta foi a primeira experiência dos estudantes de fisioterapia com o OSCE, o que poderia explicar os frequentes relatos de estresse emocional nas respostas da pesquisa.

Mojarrab et al. (12 demonstraram que os estudantes de enfermagem apresentavam níveis elevados de ansiedade após realizarem o OSCE e propuseram um programa de enfrentamento para reduzir o estresse antes do exame. O programa diminuiu com sucesso os índices de ansiedade em aproximadamente 11 pontos e teve um impacto positivo nas notas finais do OSCE. Johnston et al. (13 enfatizaram a importância de seguir as diretrizes para as melhores práticas na concepção e realização do OSCE. Tal adesão poderia ajudar a diminuir a ambiguidade da avaliação, reduzir a ansiedade e o medo, melhorando os resultados de aprendizagem dos estudantes. (13

O feedback é indispensável na consolidação da aprendizagem em contextos acadêmicos. Ele serve para melhorar a qualidade do processo de aprendizagem e ampliar a compreensão das habilidades clínicas, mitigando assim a recorrência de erros26. Neste estudo, os estudantes de Fisioterapia enfatizaram o papel fundamental do feedback em sua formação acadêmica, o que está alinhado com as conclusões de Jaiswal e Mehta, que observaram que a maioria dos estudantes percebe o feedback pós-exame como benéfico e construtivo18. Da mesma forma, Ferreira et al. (27 demonstraram que o aspecto mais significativo percebido pelos estudantes de Fisioterapia durante um OSCE da disciplina cardiovascular foi o feedback, que avaliou o desempenho e ofereceu orientações para melhorias. O feedback personalizado tem um significado especial na consolidação da aquisição de conhecimentos e na promoção da autoconfiança entre os estudantes. Além disso, facilita uma franca troca de perspectivas entre examinadores e estudantes. É importante ressaltar que as percepções e sugestões dos estudantes podem informar e enriquecer as práticas de avaliação futuras e o aprimoramento do currículo. No entanto, o fornecimento de feedback imediatamente após os exames apresenta desafios para os examinadores, pois fatores como grandes turmas de estudantes, inexperiência dos examinadores ou apreensão dos estudantes em receber críticas imediatas podem dificultar o processo13.

Este estudo tem várias limitações. Em primeiro lugar, foi realizado em um único centro, o que pode dificultar a extrapolação dos resultados para outros programas de fisioterapia devido às características regionais, sociais e culturais. No entanto, as informações obtidas com este grupo de estudantes fornecem contribuições valiosas para melhorar a compreensão dos procedimentos de avaliação neste contexto. Em segundo lugar, como as pesquisas foram realizadas após o feedback do OSCE, o desempenho dos estudantes pode ter influenciado suas respostas ao questionário. Em terceiro lugar, a pesquisa não exigiu feedbacks diretos sobre a imparcialidade do OSCE; no entanto, deve-se observar que nenhum estudante levantou espontaneamente essa questão em resposta às perguntas abertas. Por fim, este estudo baseou-se em um questionário personalizado, elaborado exclusivamente para esta pesquisa, o que pode limitar sua reprodutibilidade.

Em suma, os estudantes de graduação em Fisioterapia demonstraram clara satisfação e atitudes positivas em relação ao OSCE. Eles o consideraram adequado para aprimorar o processo de aprendizagem, facilitar a integração do conhecimento teórico e prático e proporcionar um treinamento valioso nos aspectos interpessoais da prática clínica. No entanto, muitos estudantes relataram que sofreram com o estresse durante o OSCE, o que pode ter impactado seu desempenho. Para mitigar esse efeito, a implementação contínua do OSCE, aliada a uma preparação adequada, diretrizes claras e feedback construtivo mostram-se como medidas promissoras para reduzir a ansiedade dos estudantes e criar um ambiente avaliativo ideal, propiciando uma avaliação adequada das competências necessárias para a formação de futuros fisioterapeutas.

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  • 6
    Estudo realizado no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) - Uberaba (MG), Brasil.
  • Financiamento:
    Nada a declarar
  • 9
    Aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Triângulo Mineiro [Protocolo Nº 17410719.6.0000.8667].

Editado por

  • Editor responsável:
    Sônia LP Pacheco de Toledo

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Ago 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    15 Abr 2024
  • Aceito
    20 Dez 2024
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