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Vida e trabalho de refugiado: a imagem como experiência do olhar a partir de uma obra de Escher

Refugee’s life and work: image as experience of the look from a painting by Escher

La vida y el trabajo de los refugiados: la imagen como experiencia de la mirada a partir de una obra de Escher

Resumo

Vida e trabalho no percurso de refugiado estão entre os mais recentes desafios contemporâneos que instigam o olhar e o pesquisar. A fim de potencializar a discussão, julgou-se pertinente atentar para a experiência do olhar frente à imagem. Tomou-se a xilogravura Dia e Noite, arte de Maurits Cornelius Escher, que alude ao movimento migratório de pássaros, por também ela provocar o olhar dadas as características que o artista lhe imprime. Como base teórica condutora da discussão, tomaram-se os conceitos de espaço liso e estriado, de Deleuze e Guattari, imbricados em referencial relativo à situação de refugiado. A conversa entre imagem e teoria ampliou o olhar para além das questões burocráticas, jurídicas e estatísticas, frequentemente associadas aos estudos acerca de refugiado, e permitiu apontar relações de continuidade e coexistência em seus modos de viver e trabalhar. Entende-se que, ao provocar a experiência do olhar, a imagem pode ser capturada, recortada, reduzida, ampliada, torcida, num esforço de sentido não necessariamente óbvio.

Palavras-chave:
olhar; imagem; refugiado; liso; estriado

Abstract

Life and work on the refugee journey are among the latest contemporary challenges that instigate to look and to research. In order to enhance the discussion, it was considered pertinent to pay attention to the experience of looking at the image. We took the woodcut Day and Night, art by Maurits Cornelius Escher, which alludes to the migratory movement of birds, because it also provokes the look, given the characteristics that the artist imprints on it. The concepts of smooth and striated space, by Deleuze and Guattari, imbricated in a reference regarding the refugee situation, were taken as the theoretical basis for the discussion. The conversation between image and theory broadened the look beyond bureaucratic, legal and statistical issues, often associated with studies about refugees and allowed pointing out relationships of continuity and coexistence in their ways of living and working. It is understood that, by provoking the experience of the look, the image can be captured, cut, reduced, enlarged, twisted, in an effort of meaning not necessarily obvious.

Keywords:
look; image; refugee; smooth; striated

Resumen

La vida y el trabajo en el curso de la vida de los refugiados son algunos de los retos contemporáneos más recientes que instigan la mirada y la investigación. Para mejorar el debate, se consideró pertinente centrarse en la experiencia de mirar la imagen. Se tomó la xilografía Día y Noche, obra de Maurits Cornelius Escher, que alude al movimiento migratorio de las aves, ya que también provoca la mirada dadas las características que el artista le imprime. Los conceptos de espacio liso y estriado, de Deleuze y Guattari, se utilizaron como base teórica para la discusión. La conversación entre la imagen y la teoría amplió la mirada más allá de las cuestiones burocráticas, legales y estadísticas que suelen asociarse a los estudios sobre los refugiados, y nos permitió señalar relaciones de continuidad y convivencia en sus formas de vivir y trabajar. Se entiende que al provocar la experiencia de la mirada, la imagen puede ser capturada, recortada, reducida, ampliada, retorcida, en un esfuerzo por dar un sentido que no es necesariamente obvio.

Palabras clave:
mirada; imagen; refugiado; liso; estriado

Introdução

A palavra refugiado rapidamente associa-se a imagens veiculadas em reportagens relativas à atual crise migratória na Europa. Elas denunciam milhares de pessoas a deslocarem-se a fim de ultrapassar fronteiras. Mares agitados, frágeis botes superlotados e ausência de colete salva-vidas, cenas de sofrimento, de solicitação de socorro, de corpos de adultos e crianças estendidos à beira da praia por não terem conseguido terminar a travessia, impedimentos policiais frente a cercas de arame farpado a guardarem fronteiras, áreas próximas às fronteiras com barracas que proliferam conformando campos de refugiados, são exemplos de imagens que vem estampando capas de jornais e revistas.

Para quem se encontra no Brasil, tais imagens eram, até determinado momento, apenas uma realidade geograficamente distante, capaz de trazer estranhamentos, comover, afligir e, com o passar do tempo, banalizar-se como mais uma de tantas barbáries divulgadas. Hoje é uma realidade presente em nosso quintal. Guardadas as distintas peculiaridades, aqui o mar é substituído pela travessia a pé, em fronteira seca. E embora refugiados possam encontrar um país juridicamente de portas abertas, não são eximidos de percalços que se anunciam no percurso de (re)construção de suas vidas.

O que provoca/produz a experiência do olhar diante de tais imagens? Indagações, reducionismos, convencimentos, conformismos, críticas, resistências? O olhar que substitui e enxerga a palavra refugiado como equivalente a ser humano em manchete jornalística - “Milhares de refugiados já morreram na travessia do mar”, por exemplo, altera a condição de (im)pessoalidade que pode estar contida na palavra refugiado. Novas questões sociais como esta instigam outros modos de olhar e de pesquisar, argumenta Finley (2011FINLEY, Susan. Critical Arts-based inquiry: the pedagogy and performance of a radical ethical aesthetic. In: DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Yvonna S. (Ed.). The SAGE Handbook of Qualitative Research. Thousand Oaks: Sage Publications, 2011.) que defende a arte, a exemplo da imagem, como possibilidade de pensar qualitativamente sobre fenômenos contemporâneos. É nesse sentido que se encaminha o presente ensaio.

Ao buscar refletir acerca de vida e trabalho no percurso de refugiado, julgou-se pertinente atentar para a experiência do olhar frente à imagem. Para tanto, tomou-se a xilogravura Dia e Noite, arte de Maurits Cornelius Escher (1938ESCHER, Maurits Cornelis. Day and Night. 1938. Woodcut in black and grey, printed from 2 blocks, 677mm x 391mm. Disponível em: Disponível em: http://www.mcescher.com/gallery/switzerland-belgium/day-and-night/ . Acesso em: 16 jul. 2019.
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), que alude ao movimento migratório de pássaros, por também ela provocar o olhar dadas as características que o artista lhe imprime. Em apoio à reflexão, como base teórica tomou-se os conceitos de espaço liso e estriado de Deleuze e Guattari (2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5.) e referencial acerca da situação de refugiado, partindo-se, portanto, de um suporte de produção do conhecimento que se distancia daquele que ampara o racionalismo cartesiano.

A obra de Oliveira e Fonseca (2006OLIVEIRA, Andréia Machado; FONSECA, Tania Mara Galli. Conversas entre Escher e Deleuze: tecendo percursos para se pensar a subjetivação. Psicologia & Sociedade [online], v. 18, n. 3, p. 34-38, 2006. https://doi.org/10.1590/S0102-71822006000300005
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) outrora já aproximou a arte de Escher a conceitos filosóficos apresentados por Deleuze e Guattari, indicando possibilidades de indagações sobre as imagens do artista, tais como: que relações se potencializam nas paisagens que causam vertigens, e que outros modos possíveis de ocupação e circulação elas desafiam? Entende-se que, ao provocar a experiência do olhar, a imagem pode ser capturada, recortada, reduzida, ampliada, torcida, num esforço de sentido não necessariamente óbvio à compreensão relativa à vida e ao trabalho de refugiados. Nesse sentido, a partir da arte que se apresenta como um dispositivo disparador para questionamentos e reflexões, no presente artigo, vislumbrou-se configurações de espaço liso e estriado em sua composição com percursos de vida e trabalho de refugiados, desde o seu país de origem ao país de destino.

Liso e estriado

O espaço liso - nômade - e o espaço estriado - sedentário - não são de mesma natureza, podendo demarcar tanto oposição simples como diferença complexa. Eles se misturam, se transformam, perpassam um sobre o outro. O “espaço liso não pára de ser traduzido, transvertido num espaço estriado; o espaço estriado é constantemente revertido, devolvido a um espaço liso”, escrevem Deleuze e Guattari (2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5., p. 192) ao discorrerem a respeito desta concepção filosófica para explicar, a priori, questões oriundas do campo social e político no sistema capitalista. Para tanto, se valem de alguns modelos metafóricos. Cada modelo expõe indagações que forçam a pensar como os espaços liso e estriado se apresentam no cotidiano, ora de forma simples, ora complexa. Neste ensaio, toma-se liso e estriado ao exercício do olhar voltado aos modos de viver e trabalhar de refugiados, considerando-se, especialmente, os modelos tecnológicos têxtil e marítimo (DELEUZE; GUATTARI, 2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5.).

No modelo tecnológico têxtil, o tecido e o bordado exemplificam o espaço estriado, delimitado, fechado ao menos de um lado, apresentando, necessariamente, um avesso e um direito, mesmo quando os fios da urdidura têm exatamente a mesma natureza. Diferentemente, o feltro e o patchwork tradicional exemplificam o espaço liso, aberto, ilimitado, podendo ir a múltiplas direções, sem direito e sem avesso, tampouco centro; por não estabelecer fixos e móveis, eles distribuem uma variação contínua.

O tecido - espaço estriado de forma simples - se compreende pelos seus dois tipos de elementos constituintes, os fios verticais e os horizontais, que se entrecruzam perpendicularmente. Trata-se de um espaço delimitado, fechado ao menos de um lado, isto é, o tecido pode ter um comprimento infinito, mas o quadro da urdidura define e limita a sua largura. O bordado, com seu tema central ou motivo central que em geral segue o padrão estabelecido pelo desenho, também se caracteriza pela estriagem; e seu avesso, mesmo que arrematado cuidadosamente, é identificável.

O feltro, por sua vez, é um anti-tecido a exemplificar o espaço liso. Produto sólido flexível, o feltro se constitui de fios não identificáveis. O que existe se resume a um emaranhado das fibras que, uma vez prensadas, compactam-se. No feltro não há avesso ou direito, tampouco um centro. Trata-se de um espaço liso, aberto, ilimitado em todas as direções, infinito de direito, porém não homogêneo. O patchwork, mais conhecido no formato de colcha de retalhos que reúne peças de tecido de várias cores, texturas, padrões e formas costuradas entre si formando desenhos geométricos, também é liso. Com o patchwork, de pedaço em pedaço, tem-se um movimento infinito. Os pedaços podem ser justapostos de inúmeras formas: podem ser mudados de lugar, recolocados; pode-se pausar, refletir para mudar novamente e nunca o terminar. “Em conformidade com a migração e seu grau de afinidade com o nomadismo, o patchwork tomará não apenas nomes de trajetos, mas ‘representará’ trajetos, será inseparável da velocidade ou do movimento num espaço aberto” (DELEUZE; GUATTARI, 2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5., p. 195). No patchwork, o espaço liso não significa espaço homogêneo, ao contrário, nota-se um espaço amorfo, informal, que induz a uma arte ótica ao gosto do estilo artístico visual com ilusão de ótica - uma característica da obra artística de Escher, conforme se verá mais adiante.

No que tange ao modelo marítimo, as metáforas são o mar correspondente ao espaço liso; e a cidade correspondente ao espaço estriado. O mar é considerado um espaço liso por excelência. Contudo, seu alisamento foi confrontado pela estriagem da ciência, pelas conquistas da navegação, astronomia e geografia. À época das grandes navegações, pode-se dizer que a estriagem possibilitou os descobrimentos marítimos que abriram caminho para as migrações que colonizaram as Américas. Antes disso, o que havia era considerada uma navegação nômade empírica e complexa que se fazia guiar pelas qualidades hápticas, pelos ventos, ruídos, cores e sons do mar. O esquadrinhamento do mar alastrou-se progressivamente. Uma vez domado pelo ponto e pelo mapa, o espaço liso do mar se mostrou um modelo de ordenação, de imposição do estriado, considerado válido e adotado para outros lugares - ar, deserto. A cidade, ao contrário do mar, é o espaço estriado por excelência. No entanto, assim como o mar é o espaço liso que pode ser estriado, a cidade permite ver a força de estriagem ser restituída de espaço liso por toda parte.

À discussão do espaço liso-estriado, Deleuze e Guattari, 2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5., p. 202) instigam a pensar: “Viagem-árvore e viagem-rizoma?” Segundo o papel do ponto, da linha e do espaço, tudo se mistura ou passa de um para outro.

É que as diferenças não são objetivas; pode-se habitar os desertos, as estepes ou os mares de um modo estriado; pode-se habitar de um modo liso inclusive as cidades, ser um nômade das cidades [...]. Não só existem estranhas viagens numa cidade, também existem viagens no mesmo lugar; não estamos pensando nos drogados, cuja experiência é por demais ambígua, mas antes nos verdadeiros nômades. [...] São nômades por mais que não se movam, não migrem, são nômades por manterem um espaço liso que se recusam a abandonar, e que só abandonam para conquistar ou morrer. Viajam no mesmo lugar, esse é o nome de todas as intensidades, mesmo que elas se desenvolvam também em extensão. Pensar é viajar [...]. Em suma, o que distingue as viagens não é a qualidade objetiva dos lugares, nem a quantidade mensurável do movimento - nem algo que estaria unicamente no espírito - mas o modo de espacialização, a maneira de estar no espaço, de ser no espaço. Viajar de modo liso ou estriado, assim como pensar... Mas sempre as passagens de um a outro, as transformações de um no outro, as reviravoltas (DELEUZE; GUATTARI, 2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5., p. 202-203).

A essa articulação, conecta-se o conceito de devir. Segundo os autores “é preciso dizer que todo o progresso se faz pelo e no espaço estriado, mas que todo o devir se situa no espaço liso” (DELEUZE; GUATTARI, 2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5., p. 208). A capacidade de fazer a diferença parece estar no espaço liso, indica Carvalho (2014CARVALHO, Nuno. Deleuze: do espatium intensivo ao espaço qualquer. Kairós: Revista de Filosofia & Ciência, Lisboa, v. 11, p. 91-115, 2014.). Argumenta-se que esta ideia está intimamente relacionada à resistência. É no espaço liso que a luta se transformaria, se deslocaria, e que a vida reconstituiria os seus desafios, ao afrontar novos obstáculos, inventar novas posturas, modificar os adversários (DELEUZE; GUATTARI, 2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5.).

Nesse sentido, um devir ocorre sobre uma linha de fuga que forma o traçado dos trajetos, os devires que vão dando forma ao percurso de um indivíduo. Para Deleuze o percurso é visto como um processo, um movimento de viagem que, enquanto está sendo traçado, vai constituindo seu trajeto. Portanto, em um espaço liso o movimento tende a se tornar uma linha de fuga, visto que o percurso não ocorre, rigorosamente, conforme se faz sua projeção. Não se trata de espaço estriado, cujo percurso se dá sobre trilhos, isto é, não há estrias prévias ao movimento. Dessa forma, é sobre a linha de fuga que ocorre o devir (AMARAL, 2016AMARAL, Leonardo Francisco. Trechos selecionados da aula Anti-Édipo e outras reflexões. Fractal: Revista de Psicologia, Niterói, v. 28, n. 1, p. 160-169, jan./abr. 2016. https://doi.org/10.1590/1984-0292/1682
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).

Carvalho (2014CARVALHO, Nuno. Deleuze: do espatium intensivo ao espaço qualquer. Kairós: Revista de Filosofia & Ciência, Lisboa, v. 11, p. 91-115, 2014., p. 104) argumenta que “mais do que dois absolutos, liso e estriado revelam-se [...] disposições, maneiras de ser, capacidades de afetar e ser afetado, fornecendo a Deleuze e Guattari a pedra basilar para uma teoria dos processos de subjetivação articulada em torno da noção de espaço”. É a partir desse suporte teórico que se pretende incrementar o olhar no que se refere ao percurso de refugiado.

Leitura de imagens e experiência do olhar

A leitura de imagens e a experiência do olhar, como se verá, alinham-se a indagações que não se reduzem a formulações exatas. As artes, os sentimentos, as emoções, a sensibilidade, a retórica e a própria história seriam produtos humanos fundamentais à construção do conhecimento (FINLEY, 2011FINLEY, Susan. Critical Arts-based inquiry: the pedagogy and performance of a radical ethical aesthetic. In: DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Yvonna S. (Ed.). The SAGE Handbook of Qualitative Research. Thousand Oaks: Sage Publications, 2011.). Desse modo, a imagem toma espaço como um produto do conhecimento tão caro a quem a idealizou, bem como potencializadora de conhecimento para quem a experimenta com o olhar.

Segundo Nouzeillles (2011NOUZEILLES, Gabriela. Os restos do político ou as ruínas do arquivo. In: SOUZA, Eneida Maria; MIRANDA, Wander Melo (Org.). Crítica e coleção. Belo Horizonte: UFMG, 2011.), há uma conjugação entre a escrita e a imagem. Ver, pensar e dizer estão entrelaçados. Isso significa que nós olhamos dentro de uma perspectiva ativa, e não passiva, pois o olhar tem determinado foco, não tem como captar a totalidade e, consequentemente, não há como dizer tudo. O olhar, portanto, foca, recorta, escolhe, delimita e, por isso, nele se encontra o poder. O poder do olhar e o poder olhar. O poder do olhar leva a indagar: o que a imagem efetivamente diz? Tal indagação leva ao poder olhar sempre circunstanciado aos limites individuais, aos limites impostos pelo poder, ao que é e ao que não é permitido ver. A arte visual, por exemplo, é uma capacidade de expressão imagética que abre distintos graus de abstração para quem a olha. Não há, então, necessariamente, uma verdade constituída, mas sim interpretação (NOUZEILLES, 2011NOUZEILLES, Gabriela. Os restos do político ou as ruínas do arquivo. In: SOUZA, Eneida Maria; MIRANDA, Wander Melo (Org.). Crítica e coleção. Belo Horizonte: UFMG, 2011.).

Para Benjamim (2004BENJAMIN, Walter. Imagens de pensamento. Lisboa: Assírio Alvim, 2004.), aquilo a que olhamos se relaciona com o pensamento. Olhar uma imagem, isto é, a sua aparência, produz pensamento. Trata-se de um olhar recíproco, que recebe de volta, que vê e é olhado, construindo linguagem. Esta ideia relaciona-se ao poder do olhar, com realce à bagagem de cada um. O que nos olha? O que o objeto nos devolve? Depende da temporalidade de outrora e agora. A imagem carrega a memória, o mundo que a circunda. A forma como são impressos os fatos vem a influenciar o nível de estranhamento ou familiaridade com dada imagem. Por outro lado, ver também é perder. Afinal, não vemos por inteiro, mas em parte. O que está por detrás, o que sai do campo de visão, perde-se, mas isto (que não se vê) não deixa de existir (BENJAMIN, 2004BENJAMIN, Walter. Imagens de pensamento. Lisboa: Assírio Alvim, 2004.).

Didi-Huberman (2017DIDI-HUBERMAN, Georges. Quando as imagens tomam posição. Belo Horizonte: UFMG, 2017.) também fala sobre a imagem relacionada ao poder, na perspectiva do produtor e do leitor. Argumenta que as imagens tomam partido e posição. Tomam partido ao originarem-se a partir de um lugar específico, de uma visão de mundo, neste caso, de quem produz a imagem. Tomam posição por estarem implicadas por uma contingência, por quem lê a imagem. A dimensão política das imagens, de como o aparelho tecnológico visual está a serviço do mercado, ao mesmo tempo que coexistem movimentos imagéticos que se contrapõem a hegemonia do capital, são exemplos.

Apoiando-se na obra deste autor, Etienne Samain defende a ideia de imagens pensantes - que veiculam pensamentos de seu produtor e incorporam pensamentos de seus observadores - tendo, portanto, sempre algo para fermentar o pensar, seja relacionado ao real ou ao imaginário (BAGGIO, 2013BAGGIO, Adriana Tulio. Imagens que pensam, que sonham, que sentem. Uma proposta ousada? Galaxia, São Paulo, v. 13, n. 25, p. 211-216, jun. 2013. Disponível em: Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/article/view/14719/11427 . Acesso em: 15 dez. 2018.
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). Este pensar, segundo Samain (2014SAMAIN, Etienne. Antropologia, imagens e arte. Um percurso reflexivo a partir de Georges Didi-Huberman. Cadernos de Arte e Antropologia, v. 3, n. 2, p. 47-55, 2014. https://doi.org/10.4000/cadernosaa.391
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, p. 6), leva a movimentos, afetos, questionamentos sobre a história de nosso mundo; pelas imagens é possível olhar, concomitantemente, para campos de memória e terrenos de questões, apelos “que nos convocam a tomar posição em nome da história humana, em nome do porvir de nosso planeta”.

A respeito da imagem, Rancière (2009RANCIÈRE, Jacques. O inconsciente estético. São Paulo: Ed. 34, 2009.; 2013RANCIÈRE, Jacques. Figuras de la história. Buenos Aires: Eterna Cadencia, 2013.) toma como pressuposto a “partilha do sensível”, aquilo que é passível de se ver e mostrar. Para o autor, o sistema de evidências sensíveis apresenta a visualidade do comum e do excluído, do que tem e do que não tem visibilidade. Esta ideia é associada à indissociabilidade entre arte, política e história: a arte como potência de pensamento e conhecimento, a exemplo de Freud que utiliza a literatura - Édipo Rei - e a associa à vida psíquica - Complexo de Édipo; a arte ocupa uma dimensão política, que faz sair do lugar; e, arte e política imbricam-se pela memória da história e a forma como ela nos é oferecida.

Bergson (1999BERGSON, Henri. Matéria e memória. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes, 1999.) pensa a imagem através dos conceitos de matéria e memória. Para o filósofo, não há separação entre o físico e o mental, tudo é substância. Nesse sentido, as imagens podem ser apresentadas pela forma mental, verbal ou pela ótica dos sentidos - ver, sentir, cheirar, olhar. É disso que resulta o afeto, do que faz mover a mente de alguma maneira e provocar a sensação de mudança. A experiência do olhar provoca um deslocar-se do lugar, um questionar-se sobre o lugar que ocupamos no mundo. A imagem é um convite a agir. Assim compreendeu-se a imagem Dia e Noite, de Escher.

Frente à imagem de Escher, a experiência do olhar também desloca do lugar e promove um outro olhar que mostre uma “‘outra coisa’, o próprio não pensado a partir do estranhamento ao familiar”, [o que não significa silenciar a razão, mas] “intervir na construção de mundos que atentam para outros modos de subjetivar o olhar” (OLIVEIRA; FONSECA, 2006OLIVEIRA, Andréia Machado; FONSECA, Tania Mara Galli. Conversas entre Escher e Deleuze: tecendo percursos para se pensar a subjetivação. Psicologia & Sociedade [online], v. 18, n. 3, p. 34-38, 2006. https://doi.org/10.1590/S0102-71822006000300005
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, p. 35). Um olhar que desfaz o objeto rompendo suas fronteiras aparentemente rígidas (FONSECA; COSTA, 2013FONSECA, Tania Mara Galli; COSTA, Luis Artur. As durações do devir: como construir objetos-problema com a cartografia. Fractal: Revista de Psicologia, Niterói, v. 25, n. 2, p. 415-431, 2013. https://doi.org/10.1590/S1984-02922013000200012
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), que aceita a coexistência de mundos num só tempo e lugar, tal como propõe Deleuze e Guattari (2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5.).

Dia e Noite mostra um movimento migratório que foi associado ao percurso de refugiados e seus modos de viver e trabalhar. A filosofia sobre espaço liso e estriado, de Deleuze e Guattari (2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5.), aliou-se a referencial que discute a situação de refugiado, conformando a base condutora para expressar, por meio da escrita, aquilo que foi visto e que também olhou (DIDI-HUBERMAN, 1998DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Ed. 34, 1998.; BENJAMIN, 2004BENJAMIN, Walter. Imagens de pensamento. Lisboa: Assírio Alvim, 2004.). Para além de ver apenas a imagem em si, foi possível extrapolá-la e projetá-la pela imaginação (BENJAMIN, 2004BENJAMIN, Walter. Imagens de pensamento. Lisboa: Assírio Alvim, 2004.).

Entre o liso e o estriado: experiência do olhar sobre percurso de refugiado

A xilogravura Dia e Noite (Figura 1) apresenta um jogo de ilusão que remete ao impensado - dia e noite, para lá e para cá, ir e vir concomitantemente - a despertar e aproximar inquietações. “Viagem-árvore e viagem-rizoma?” (DELEUZE; GUATTARI, 2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5., p. 202). De forma semelhante, Deleuze e Guattari se atentam para como o mundo é apresentado e estriado por binarismos, e o quanto, ao compreendê-los, é possível perceber que não é simplesmente uma formação dual, mas paradoxos, arranjos complexos de multiplicidades (FONSECA; COSTA, 2013FONSECA, Tania Mara Galli; COSTA, Luis Artur. As durações do devir: como construir objetos-problema com a cartografia. Fractal: Revista de Psicologia, Niterói, v. 25, n. 2, p. 415-431, 2013. https://doi.org/10.1590/S1984-02922013000200012
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), tal qual vão se apresentando os demais elementos da imagem.

Figura 1
Day and Night

  • 1) A lógica do e/e se nota nos pássaros brancos e pretos que migram para lá e para cá, em contexto de dia e noite. Além disso, os pássaros brotam amorfos da terra quadriculada e confundem-se no céu escuro da noite e claro do dia.

Em tempos de paz, este cenário se equivale a território - a cidade, o país de nascimento - um espaço estriado por excelência, que opera no sentido de conformar modos de habitar, de estudar, de trabalhar, de ser (DELEUZE; GUATTARI, 2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5.). Eis uma sensação boa e segura essa que o espaço estriado permite, de se saber quem é, de onde vem e as origens do que carrega consigo. No espaço de origem tudo é demarcado conforme o traçado de um molde de bordado; é possível antever o chão onde pisar e o cenário para além da esquina. Contudo, em tempos de guerras e perseguições, este território se alisa a ponto de não mais ser seguro onde pisar, o trajeto da escola, do trabalho, nem o da casa. Torna-se cenário em que afloram inseguranças. Ainda há uma linha de direção para onde ir, mas ela é assombrada pelo temor de ser perseguido, de não estar protegido. Assim, ao mesmo tempo, há estriagens, como o tecido, cujo entrecruzamento vertical e horizontal dos fios prendem o indivíduo entre a trama e a urdidura (DELEUZE; GUATTARI, 2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5.). O espaço fecha-se de tal forma, que não é mais permitido viver a vida até então vivida, não havendo outra alternativa, senão a fuga. Logo, para viver, é necessário migrar para se refugiar. É neste momento que o indivíduo que foge desta situação passa a ser visto como um refugiado.

Por mais que o refugiado esteja desamparado neste momento, o movimento de buscar refúgio consiste em um ato de resistência, de libertação (SOUZA, 2016SOUZA, Fabrício Toledo. A crise do refúgio e o refugiado como crise. 2016. 204 f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-graduação em Direito, Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/29858/29858.PDF . Acesso em: 15 dez. 2018.
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). Uma resistência resultante da afirmação de outra maneira de ser, de outras sensibilidades que o movem (GUATTARI; ROLNIK, 2005GUATTARI, Félix; ROLNIK, Suely. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 2005.). Trata-se de um ponto entre duas linhas, uma parada em seu percurso de vida, que é retomado ao trilhar sobre uma linha de fuga, isto é, retomado por outro trajeto ainda desconhecido, que se faz à medida que se anda sobre ele. Percurso este de espaço liso, múltiplo, rizomático, incerto, no seu sentido geográfico e existencial (DELEUZE; GUATTARI, 2011DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2011. v. 1., 2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5.). Seja a fuga pelo mar, terra ou ar, há passagens e misturas entre lisagens e estriagens. Para realizar a travessia de bote pelo mar estriado, por exemplo, há de seguir uma linha que vai de um ponto a outro, um ponto do país de origem para outro ponto no país estrangeiro. No espaço estriado é conhecido o trajeto pelo qual há de navegar, mesmo em precárias condições, mesmo não sendo este o destino final. Concomitantemente, o mar continua liso, em expectativas, em sonhos. Os desejos e os sonhos correspondem ao espaço liso pela expectativa de uma experiência outra, em terras de suposta fartura de liberdade e possibilidades, diferente daquela situação que foi obrigado a deixar.

  • 2) A forma de um pássaro branco surge do contorno de um pássaro preto e ambos se misturam com o céu, de modo que a ilusão de ótica dificulta a identificação individual, dada a ideia de continuidade entre eles uma vez que o contorno de um é também o contorno de outro.

Na simultaneidade dos opostos, vê-se uma relação de complementaridade e uma mistura de mundos diferentes, que se movem a priori em um espaço liso, sem determinação (OLIVEIRA; FONSECA, 2006OLIVEIRA, Andréia Machado; FONSECA, Tania Mara Galli. Conversas entre Escher e Deleuze: tecendo percursos para se pensar a subjetivação. Psicologia & Sociedade [online], v. 18, n. 3, p. 34-38, 2006. https://doi.org/10.1590/S0102-71822006000300005
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), tal como se sobrepõem os mundos de refugiados oriundos de diversos países com o de nativos do país no qual se refugiam. Outra leitura pertinente ocorre entre grupos de imigrantes de visto humanitário e refugiados, pois não é possível identificá-los de modo ótico, ocorrendo um alisamento, algo como o feltro, cujo emaranhado das fibras são prensadas para que não haja lado avesso, nem direito, nem centro. Mesmo que haja padrões legais que os diferenciem, na prática, a perseguição, a miséria, a pobreza, os desastres, os conflitos, podem ocorrer ao mesmo tempo. O Estado, por meio de seus agentes, toma para si o papel de diferenciá-los de modo a considerar uns imigrantes, outros refugiados.

Essa mescla cultural, social, política nutrida do convívio em mesmo espaço se traduz em movimentos de lisagem e estriagem. Em um primeiro momento, é da ordem do liso o sentimento de chegar e estar perdido em lugar desconhecido, sem demarcações para orientação. O refugiado não é um turista que planeja sua viagem, não é um expatriado organizacional que teve preparação da empresa para assumir um desafio no exterior. Ele partiu para se salvar, para recomeçar a vida noutro lugar. Então ele desbrava o lugar desconhecido de forma háptica, sentindo seus estriamentos para se orientar, se registrar, ter uma identificação que lhe permita circular e trabalhar. Frente a isso, surgem os centros de acolhida, que além de abrigo e comida, oferecem assistência jurídica, integração social e laboral, pois lhe interessam as hecceidades, que reúnem os heterogêneos, as multiplicidades do tipo rizoma. Espaços de afetos intensivos, de percepção háptica para ajudar a reconhecer as estrias cotidianas e burocráticas do espaço estrangeiro.

Há também o espaço estriado por muros, revelador da ordem e do controle, como afirma Pais (2006PAIS, José Machado. Busca de si: expressividades e identidades juvenis. In: ALMEIDA, Maria Isabel; EUGENIO, Fernanda. (Org.). Culturas jovens: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. p. 7-24.). Muros concretos dos campos de refugiados, como indicam notícias dos Estados Unidos e da França, bem como muros para além dos muros de fronteira, como aponta Marinucci (2017MARINUCCI, Roberto. Migrações e trabalho: precarização, discriminação e resistência REMHU: Revista Interdisciplinar de Mobilidade Humana [online], Brasília, v. 25, n. 49, p. 7-11, apr. 2017. https://doi.org/10.1590/1980-85852503880004901
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). É possível cruzar a fronteira, afinal o tecido pode ter um comprimento infinito, porém limitado pelo quadro de urdidura que define sua largura (DELEUZE; GUATTARI, 2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5.). Na prática, a limitação a que Marinucci (2017MARINUCCI, Roberto. Migrações e trabalho: precarização, discriminação e resistência REMHU: Revista Interdisciplinar de Mobilidade Humana [online], Brasília, v. 25, n. 49, p. 7-11, apr. 2017. https://doi.org/10.1590/1980-85852503880004901
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) se refere ocorre pelas tecnologias de controle de fronteiras como passaportes, vistos, aduanas, aeroportos, portos, legislações, acordos, agentes das instituições (JARDIM, 2017JARDIM, Denise F. Imigrantes ou refugiados? Tecnologias de controle e as fronteiras. Jundiaí: Paco Editorial, 2017.). Qualquer elemento que não esteja de acordo com estas estrias estabelecidas oficialmente pelos Estados, impossibilita seguir o percurso. Os trajetos, neste caso dos refugiados, aparecem confinados às características do espaço que os determinam (PAIS, 2006PAIS, José Machado. Busca de si: expressividades e identidades juvenis. In: ALMEIDA, Maria Isabel; EUGENIO, Fernanda. (Org.). Culturas jovens: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. p. 7-24.).

  • 3) Ao migrarem, os pássaros da obra de Escher deixam sua terra para trás e, ao mesmo tempo, a levam consigo no seu próprio formato.

Com base em Oliveira e Fonseca (2006OLIVEIRA, Andréia Machado; FONSECA, Tania Mara Galli. Conversas entre Escher e Deleuze: tecendo percursos para se pensar a subjetivação. Psicologia & Sociedade [online], v. 18, n. 3, p. 34-38, 2006. https://doi.org/10.1590/S0102-71822006000300005
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), pode-se sugerir que o quadrante de terra que vai se transformando em pássaro é a trama da vida que com o tempo foi impressa, por meio de inscrições interiores e exteriores, dos fluxos e densidades das forças. Estes sutis registros corporais gravados no viver mapeiam paisagens que explicitam as forças que as atravessam, as relações que as determinam e os seres que as habitam (OLIVEIRA; FONSECA, 2006OLIVEIRA, Andréia Machado; FONSECA, Tania Mara Galli. Conversas entre Escher e Deleuze: tecendo percursos para se pensar a subjetivação. Psicologia & Sociedade [online], v. 18, n. 3, p. 34-38, 2006. https://doi.org/10.1590/S0102-71822006000300005
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). É isso que o refugiado que deixa seu país também leva consigo, aquilo que o torna um nativo daquele país (o que torna alguém um brasileiro, por exemplo, e não um congolês, não um francês), assim como também leva as fases de sua vida, e todos os elementos que estriam e alisam a sua existência (DELEUZE; GUATTARI, 2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5.).

Profissão, formação, atividade laboral diriam desses elementos. No país de destino, refugiados seguem a linha de seu percurso, em meio a estriagens, na busca por trabalho. Trabalho este que estudos relacionam à precarização (CARDOSO, 2013CARDOSO, Anelise Zanoni. Jornalismo para a paz ou para a Guerra: o refugiado na cobertura jornalística brasileira. 2013. 185 f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-graduação em Comunicação e Informação, Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação Social, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. Disponível em: Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/105023 . Acesso em: 15 dez. 2018.
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; BAUMAN, 2017BAUMAN, Zygmunt. Estranhos à nossa porta. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.; MAGALHÃES, 2017MAGALHÃES, Luiz Felipe. Brasil precisa aprender a valorizar a qualificação trazida pelos refugiados. [Entrevista concedida a Camila Maciel]. Agência Brasil, São Paulo, 23 jul. 2017. Disponível em: Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-07/brasil-precisa-aprender-valorizar-qualificacao-trazida-pelos . Acesso em: 10 nov. 2017.
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; MARINUCCI, 2017MARINUCCI, Roberto. Migrações e trabalho: precarização, discriminação e resistência REMHU: Revista Interdisciplinar de Mobilidade Humana [online], Brasília, v. 25, n. 49, p. 7-11, apr. 2017. https://doi.org/10.1590/1980-85852503880004901
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), trabalho flexível, barato, pesado, decalcado para o refugiado, pela mídia e pela sociedade. Nos jornais são contadas histórias “de sucesso” de empresas que contratam refugiado para trabalhar como construtor, soldador, eletricista, motorista, pintor, borracheiro, mecânico, frentista, por salários que variam de 700 a 1000 reais (IMIGRANTES..., 2016IMIGRANTES em Poa: o ponto de referência virou ponto de wi-fi. Jornal Zero Hora (acervo), Porto Alegre, 15-16 out. 2016, p. 36-37.). Surgem, também, casos que explicitamente caem na exploração, como querer contratar uma refugiada como diarista por 40 reais a faxina, sendo a média cobrada na região de 120 a 150 reais (DINIZ, 2017DINIZ, Ana Carolina. Empresas brasileiras começam a contratar refugiados. O Globo [online], 20 ago. 2017. Disponível em: Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/emprego/empresas-brasileiras-comecam-contratar-refugiados-21725422 . Acesso em: 13 nov. 2017.
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).

O que ocorre entre a lógica do capital e a questão humanitária pode-se atrelar ao que Deleuze e Guattari (2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5.) chamam de fenômeno fronteiriço, nem lá, nem cá - tal qual as empresas que abrem as portas para o refugiado como um território liso que se interpõe, mas não necessariamente se contrapõe aos espaços estriados da lógica capitalista. Nestas mesmas histórias, os personagens são professores e engenheiros que não conseguem espaço em sua área de atuação, mesmo com qualificação, experiência e toda a bagagem que foi construída no seu país de origem por meio de cursos de capacitação, de idiomas, de diplomas de graduação e pós-graduação, pois estes não mais têm validade no país de refúgio. É necessário andar mais um pouco neste percurso burocrático para revalidação de diploma, tendo inclusive que pagar taxas para obtê-lo. Este indivíduo, que no país de origem exercia sua profissão, no país de destino é estriado a carregar o peso que a nomenclatura refugiado sustenta.

É claro que não se pode desconsiderar o contexto da crise econômica que tem aumentado o índice de desemprego em vários países. Para milhares de pessoas, empregos como estes são a salvação de famílias inteiras. Contudo, esta discussão não pode se limitar a uma vertente econômica de oferta e demanda de emprego (CAVALCANTI, 2015CAVALCANTI, Leonardo et al. À guisa de conclusão: características gerais, desafios e oportunidades da imigração no Brasil. In: CAVALCANTI, Leonardo et al. (Org.). A inserção dos imigrantes no mercado de trabalho brasileiro. Relatório Anual 2015. Observatório das Migrações Internacionais; Ministério do Trabalho e Previdência Social/Conselho Nacional de Imigração e Coordenação Geral de Imigração. Brasília, DF: OBMigra, 2015. p. 139-145 Disponível em: Disponível em: https://www.comillas.edu/images/OBIMID/relatorio_OBMIGRA_2015_final.pdf . Acesso em: 15 dez. 2018.
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). Algo além do discurso de desenvolvimento econômico e de empregabilidade resistiria ao signo do progresso, estriado por excelência? Há de ser considerado, também, aquilo que circunda os modos de viver e trabalhar de refugiado, sua multiplicidade de acontecimentos e obstáculos multifacetados carregados de significação para a vida humana. Os obstáculos diversos são como pontos de parada na linha de seu percurso, que vão desde a compreensão do idioma à compreensão das manifestações culturais no dia a dia e no trabalho. O indivíduo torna-se infantilizado, pois tem que aprender tudo de novo, desde o idioma, os gestos, os hábitos, o gosto dos alimentos, enfim, conforme Deleuze e Guattari (2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5.), seriam novos organismos e organizações a operarem em relação ao viver no país estrangeiro.

  • 4) Dia e noite, claro e escuro, branco e preto remetem à coexistência.

Assim como o tecido é um espaço estriado, em que há um lado direito e um avesso, estar no estrangeiro pode parecer o lado direito para muitos profissionais chamados de recursos humanos qualificados, como os expatriados, por exemplo; e o lado avesso para outros também profissionais, porém classificados como imigrantes com visto humanitário e refugiados, mesmo que os fios do tecido sejam da mesma natureza. Para os primeiros, que estão sob as estrias de um dos lados do tecido, é mais fácil encontrar as portas do mercado de trabalho abertas, podendo trilhar múltiplas direções nas quais serão bem recebidos. Estes, geralmente, são europeus, norte-americanos, detentores de cargos executivos, com histórico em grandes corporações. No caso dos segundos, já em terras estrangeiras, o espaço estriado é mais nítido, obrigando a seguir o molde a ser bordado. Há um padrão estabelecido pelo bordado, há um dimensionamento que traça o perfil de refugiado, como alguém que tem necessidade de trabalhar, onde for possível. Mas se as empresas priorizam profissionais qualificados com competências como resiliência, pró-atividade, capacidade de antecipação e resolução de problemas, não teria o refugiado tais características?

Por conseguinte, o refugiado é obrigado a flexibilizar-se, afastar-se de vínculos identitários e pertencimentos que não cabem em espaços limitantes e impeditivos para o trabalho (DELEUZE; GUATTARI, 2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5.). Esta poderia ser uma tentativa de o sujeito bloquear tudo que lhe é anterior para se instaurar nas determinações de padrões universais vigentes, massificadores e individualizantes (GUATTARI; ROLNIK, 2005GUATTARI, Félix; ROLNIK, Suely. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 2005.). Haveria como o refugiado resistir a essa estriagem?

A resistência é entendida aqui, a partir do que Deleuze e Guattari (2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5.) expressam sobre as linhas de fuga que emergem brandamente no cotidiano social e de trabalho, um entrar de espaço liso pelas entrelinhas de espaço estriado. Guattari e Rolnik (2005GUATTARI, Félix; ROLNIK, Suely. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 2005.) argumentam que a resistência implica outras sensibilidades, outras percepções, que já estavam no modo de ser do indivíduo, mas que afloram para subverter os estriamentos. Nesse sentido, para o refugiado a resistência viria do afã pela reconstrução da vida, assim como é feito o patchwork, de pedaço em pedaço, em um movimento sucessivo e infinito. É preciso aproveitar os pedaços de tecido que sobraram, a bagagem de conhecimento que o refugiado trouxe consigo para, quem sabe, exercer um trabalho que mobiliza especificidades de um estrangeiro, algo que só é inerente a quem vem de fora - algo que está enraizado no modo de ser de determinado país, a forma de pensar, falar, se comunicar, se relacionar com as pessoas, habitar, cozinhar, vestir, se divertir, se exercitar, se conectar com sua fé religiosa, suas crenças, sua espiritualidade. A esse resgate, juntam-se pedaços de tecido já de outra terra, formando outra colcha de retalhos, de várias cores, texturas, padrões e formas.

Devir não significa abandonar o que se é, o que ocorre é outra forma de viver, sentir, se envolver na vida já existente e, ao mesmo tempo, fugir (ZOURABICHVILI, 2004ZOURABICHVILI, François. O vocabulário de Deleuze. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004.). Como diz Fonseca (2003FONSECA, Tania Mara Galli. Trabalho, gestão e subjetividade. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 55, n. 1, p. 2-11, 2003. Disponivel em: Disponivel em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v55n1/v55n1a02.pdf . Acesso em: 15 dez. 2018.
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), para a possibilidade de criação de si é necessário um tempo para que as linhas do percurso ganhem visibilidade. Com resistência, é possível construir um espaço liso, de intensidades, que assinalem forças para mudanças de direção (DELEUZE; GUATTARI, 2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5.). É o movimento de criação que resulta em devir, em que é visada a potência imanente e constituinte de uma vida (CARVALHO, 2014CARVALHO, Nuno. Deleuze: do espatium intensivo ao espaço qualquer. Kairós: Revista de Filosofia & Ciência, Lisboa, v. 11, p. 91-115, 2014.). Isto significa que o refugiado continua em fuga, desta vez para irromper as formas de organização do trabalho que insurgem contra a complexidade do espaço estriado. Para Souza (2016SOUZA, Fabrício Toledo. A crise do refúgio e o refugiado como crise. 2016. 204 f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-graduação em Direito, Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/29858/29858.PDF . Acesso em: 15 dez. 2018.
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, p. 185), é uma linha de fuga para se reinventar, para ampliar a vida e alargar seu território existencial e não se conformar com a sua redução, “um movimento novo, de produção de si (do ser)” com aquilo que é inerente e imanente àquele refugiado. Este percurso que se inicia anuncia a emergência de outras subjetividades, outras formas de vida, outros modos de associação e cooperação. Assim como o nômade ajusta sua vestimenta e sua própria casa ao espaço exterior, tece sua vestimenta em espaço liso aberto para onde o corpo se move, fica a indagação: quanto ao refugiado, para onde o trabalho o move?

  • 5) No percurso, os corpos dos pássaros, antes amorfos, delineiam-se mais claramente. Ao alçarem voos mais altos, distinguem-se realçando singularidades.

Para finalizar, retoma-se um detalhe da arte de Escher, a partir da análise de Oliveira e Fonseca (2006OLIVEIRA, Andréia Machado; FONSECA, Tania Mara Galli. Conversas entre Escher e Deleuze: tecendo percursos para se pensar a subjetivação. Psicologia & Sociedade [online], v. 18, n. 3, p. 34-38, 2006. https://doi.org/10.1590/S0102-71822006000300005
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, p. 34) sobre as delineações que o plano da vida se trama; são “corpos que configuram paisagens, bem como, paisagens que contornam corpos: jogos que Escher propõe gerando uma paisagem-corpo e um corpo-paisagem que inquirem outros modos de subjetivação”. Deste modo, o corpo em refúgio apresenta-se aberto a um jogo de realidades que incita a percursos inusitados na paisagem, misturando-se a ela. À medida em que desbrava espaços estriados, o refugiado restitui espaços lisos. Como escrevem Deleuze e Guattari (2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5., p. 222):

Quando invocamos uma dualidade primordial do liso e do estriado, é para dizer que as próprias diferenças ‘háptico-óptico’, ‘visão próxima-visão longínqua’, estão subordinadas a essa distinção. Não se deve, pois, definir o háptico pelo fundo imóvel, pelo plano e pelo contorno, visto que se trata de um estado já misto, em que o háptico serve para estriar, e só se serve de seus componentes lisos para convertê-los num outro espaço. A função háptica e a visão próxima supõem primeiramente o liso, que não comporta nem fundo, nem plano, nem contorno, mas mudanças direcionais e junções de partes locais. Inversamente, a função óptica desenvolvida não se contenta em impelir a estriagem a um novo ponto de perfeição, conferindo-lhe um valor e um alcance universais imaginários; também serve para tornar a produzir o liso, liberando a luz e modulando a cor [...]. Em suma, o liso e o estriado devem primeiramente ser definidos por eles mesmos, antes que deles decorram as distinções relativas do háptico e do óptico, do próximo e do distante.

Esta é a perspectiva tomada frente à obra de Escher.

Reflexões finais

Vida e trabalho de refugiado estão entre os mais recentes desafios contemporâneos que instigam o olhar e o pesquisar. Para o presente ensaio propôs-se buscar, na arte-imagem, reflexões sobre o percurso de refugiado. No que toca à situação de refugiado, promoveu-se a associação de xilogravura de Escher aos conceitos de espaço liso e estriado de Deleuze e Guattari (2012DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2012. v. 5.). Isso provocou e potencializou a reflexão, permitindo apontar-se relações de continuidade e coexistência potencializadas nas paisagens que causam vertigens; e deslocamentos de si como outro modo de ocupação e circulação.

Um espaço totalmente liso seria o caos, a loucura, e um espaço totalmente estriado seria a prisão, o controle. Por isso ambos se apresentam pelos contrastes, pelas oposições que não coincidem inteiramente, suas misturas, transformações, passagens de um a outro ao longo dos percursos de refúgio, o que sinaliza a multiplicidade de pesquisas possíveis para compreensão e avanço da reflexão sobre o que circunda os refugiados. Desde a vida que eles tinham antes da necessidade de sair do seu país de origem para sobreviver, até os enfrentamentos cotidianos nos modos de viver e trabalhar, já no país de destino. Essa passagem/deslocamento diz da resistência ao espaço estriado, de uma linha de fuga que busca por um espaço liso.

Salienta-se que a imagem Dia e Noite nos olhou e nos tocou, permitindo encontrar fissuras que suavemente abriram passagens para o pensamento liso e nômade. Julga-se que a conversa entre arte-imagem e conceitos filosóficos instiga o olhar no sentido de tomar o refugiado para além de definições e ordenamentos jurídicos, questões burocráticas, e dados estatísticos. Nesse sentido, não se restringiu o olhar ao visível e explicitado na imagem, e sugere-se que essa experiência do olhar possa se expandir a outras formas de arte e modos de viver a vida.

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    Os dados completos das autoras encontram-se ao final do artigo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Ago 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    12 Ago 2019
  • Revisado
    07 Dez 2021
  • Revisado
    13 Dez 2021
  • Aceito
    12 Jan 2022
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