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A categoria de espaço na construção da identidade

Resumo

As ciências humanas são importantes para o entendimento da sociedade, mais a ciência geográfica tem sido uma das principais pontes para estudos nas relações do homem e natureza, incorporados diante das categorias, espaço, lugar, território, paisagem e região. Neste ensaio teórico buscou-se compreender a evolução conceitual do tema e entender como a categoria de espaço constrói a identidade. Pensou-se no objetivo geral; refletir sobre espaço como uma categoria da base epistemológica geográfica para a construção de identidade. Além disso, recorreu-se, de forma a alguns das principais contribuições teóricas clássicas, (Eric Dardel, Alfredo Wagner Berno de Almeida, Ana fani Alessandri Carlos, Stuart Hall, Henry Lefebvre, Karl Marx, Milton Santos) com intuito de compreender a evolução dos conceitos de espaço para construção da identidade.

Palavras-chave:
Categoria de Espaço; Construção de identidade; Base teórica

Abstract

The human sciences are important for the understanding of society, but science geography has been one of the main bridges for studies on the relations of man and nature, incorporated in the face of the categories, space, place, territory, landscape and region. In this theoretical essay, we sought to understand the conceptual evolution of the theme and understand how the category of space builds identity. The general objective was thought; reflect on space as a category of the geographic epistemological basis for the construction of identity. In addition, some of the main classical theoretical contributions (Eric Dardel, Alfredo Wagner Berno de Almeida, Ana fani Alessandri Carlos, Stuart Hall, Henry Lefebvre, Karl Marx, Milton Santos) were used in order to understand evolution of the concepts of space for the construction of identity.

Keywords:
Space category; Identity construction; Theoretical bases

Resumen

(Las ciencias humanas son importantes para la comprensión de la sociedad, pero la ciencia de la geografíca ha sido uno de los principales puentes para los estudios sobre las relaciones del hombre y la naturaleza, incorporados frente a las categorías, espacio, lugar, territorio, paisaje y región. En este ensayo teórico, buscamos comprender la evolución conceptual del tema y comprender cómo la categoría de espacio construye identidad. Se pensó en el objetivo general; reflexionar sobre el espacio como categoría de la base epistemológica geográfica para la construcción de la identidad. Además, se utilizaron algunas de las principales aportaciones teóricas clásicas (Eric Dardel, Alfredo Wagner Berno de Almeida, Ana fani Alessandri Carlos, Stuart Hall, Henry Lefebvre, Karl Marx, Milton Santos) para comprender la evolución de los conceptos de espacio. para la construcción de la identidad.

Palabras clave:
Categoría espacial; Construcción de identidade; Bases teóricas

Introdução

A ciência geográfica tem uma ampla distribuição de estudos nas relações do homem e a natureza, conforme sua pesquisa científica diante das categorias geográficas como, lugar, território, paisagem e região. Por conseguinte, o espaço como uma categoria de totalidade sobre ato do ser humano manter inegavelmente suas relações com o espaço geográfico. Segundo Santos, o espaço reproduz a totalidade social na medida em que essas transformações são determinadas por necessidades sociais, econômicas e políticas. Assim, o espaço reproduz-se, ele mesmo, no interior da totalidade, quando evolui em função do modo de produção e de seus momentos sucessivos (SANTOS, 2006, p.06Santos, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. - 4. ed. 2. reimpr. - São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.).

De tal forma, os espaços estão em constantes modificações com a temporalidade histórica da sociedade, ao passo que, o homem cria técnicas e meios sobre a necessidade de viver sobre o espaço. Em virtude do tema a categoria de espaço para construção de uma identidade, pensou-se no objetivo geral; refletir sobre espaço como uma categoria da base epistemológica geográfica para a construção de identidade.

O espaço a partir do modo de produção do ser humano torna-se atraente pelos recursos encontrados na natureza como, plantas medicinais, madeira, lagos preservados de pesca entre outros. Com isso, começa a existir as relações de poder de grupos de pessoas que não pertencem ao espaço que apenas visam o lucro mediado pela natureza. De modo que o homem não perde seus recursos mediados no espaço, pois se organiza por meio de movimentos sociais, e assim passa a ter o papel de enfrentamento e resistência aos processos conflitantes pelo uso de terra, rios e identidades.

Nesta perspectiva, na região amazônica e em especial ao estado do amazonas os movimentos sociais articulam-se em prol de diversos fatores de moradia, defesa dos direitos humanos do meio ambiente e da identidade. Uma vez que, enfrentam resistências de diversas naturezas como, política, econômica e jurídica. A partir disso, foram elaborados os seguintes objetivos específicos; pensar a partir de bases teóricas para a reflexão das categorias de análise do espaço geográfico, e compreender os campos do saber da identidade com ancoragem teórica da categoria de espaço, analisar a vida cotidiana na construção da identidade. Com o propósito de argumentar conceitos da categoria de espaço para construção de identidade com base teórica.

Como resultados de constantes impactos sobre as relações do homem no espaço, surgiu a necessidade de entender os conceitos de espaço por meio das bases teóricas da disciplina de epistemologia da geografia. Então, a negação dos direitos de povos indígenas e ribeirinhos torna-se uma situação que imprime uma dada realidade do espaço pela condição geográfica. Por isso, este ensaio teórico tem como problemática. Como a categoria de espaço pode auxiliar na construção da identidade?

Conceito de espaço e identidade uma construção teórica

A geografia tem desenvolvido estudos em diversas áreas da ciência tanto em trabalhos voltados para ciência humana e física da natureza. Para dar início as reflexões e conceitos de categoria de espaço, ou seja, para possibilitar a construção de identidade. Conforme, Dardel (1990, p. 1)Dardel, Eric. O homem e a terra: natureza da realidade geográfica. Tradução Werther Holzer. – São Paulo: Perspectiva, 2011. cita que: a ciência geográfica faz parte, com a cosmografia, a geologia, a botânica, a zoologia, hidrografia ou a etnografia, dessa geografia universal preocupada em compreender o mundo geograficamente, em sua extensão e suas regiões, como fonte de forças e horizonte da vida humana.

A geografia sem dúvida em relação às questões humanas e também sobre os fenômenos naturais da terra, a ciência geográfica é significativa para interpretar e moldar o mundo, acima de tudo estuda também a evolução da sociedade e as modificações sobre o homem e a natureza. Certamente, com essas concepções, permito provocar a pensar e refletir sobre a categoria de espaço com suporte teórico de pensadores geográficos para desenvolver a construção de identidade.

Em consonância com Santos (2006, p. 215)Santos, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. - 4. ed. 2. reimpr. - São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006., na qual afirma que: “Espaço se dá ao conjunto dos homens que nele se exercem como um conjunto de virtualidades de valor desigual, cujo uso tem de ser disputado a cada instante, em função da força de cada qual”. É prescindível a necessidade da visão geográfica de ver o mundo de diferentes formas na qual a construção da identidade, antes de tudo está inserida no espaço, além de ser desigual para a sociedade cujo suas relações atualmente estão divididas e se renovam com os problemas postos no espaço.

Pensamos então que esses problemas são construídos pela relação do homem ao modo de usos diferenciados ao produzir e reproduzir no espaço apropriado, habitado. Então para reproduzir o homem precisa do espaço para manter suas relações com o meio. A esse respeito Marx (1985, p. 86)Marx, Karl. Formações Econômicas Pré-Capitalistas. Tradução de Erich Hobsbwan -4ª edição, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1985. esclarece que: A propriedade, portanto, significa pertencer a uma tribo (comunidade) te sua existência subjetiva/objetiva dentro dela e, por meio do relacionamento desta comunidade com a terra, como seu corpo inorgânico, ocorre o relacionamento do indivíduo com a terra, com a condição externa primária de produção – porque a terra é, ao mesmo tempo, matéria prima, instrumento de trabalho e fruto – como as pré-condições correspondentes à sua individualidade, como seu modo de existência.

Notamos que, a afirmação do autor se dá sobre as relações de classes e conflitos existentes na formação da sociedade. Diante do exposto, acredito que não é necessário analisar prontamente a obra de Marx sobre a formação econômica e précapitalista, onde seu estudo visa analisar como surgiram as primeiras sociedades e seu desenvolvimento histórico. Sendo assim, também criou o método dialético na qual é uma dinâmica que o homem transforma a natureza.

Os fatores históricos do homem sobre a relação do espaço são importantes para entender as formações da sociedade, ate que haja a construção de uma identidade do ser humano no espaço. Dessa maneira, a geografia ao moldar a descrição do homem/natureza ou vice versa aos estudos, e também as relações de viver para a construção da vida do ser humano são ligações essenciais, cuja sua sobrevivência está ligada ao uso da natureza. Quanto a esse assunto, Santos (1988, p. 22)Santos, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado, fundamentos teórico e metodológico da geografia. Hucitec. São Paulo 1988. diz que: A produção do espaço é resultado da ação dos homens agindo sobre o próprio espaço, através dos objetos, naturais e artificiais. A princípio o espaço está em movimentações com as articulações do homem, indo ao encontro dos objetos utilizados para concretizar variadas operações.

Concordamos com, Santos (1988, p. 25)Santos, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado, fundamentos teórico e metodológico da geografia. Hucitec. São Paulo 1988.

O espaço seria um conjunto de objetos e de relações que se realizam sobre estes objetos; não entre estes especificamente, mas para as quais eles servem de intermediários. Os objetos ajudam a concretizar uma série de relações. O espaço é resultado da ação dos homens sobre o próprio espaço, inter- mediados pelos objetos, naturais e artificiais.

Ao passo que o autor conceitua o espaço como resultado das relações do homem. Essas relações com os objetos naturais uma vez que o ser humano em sua formação de vida se apropria3 3 Na apropriação se colocam as possibilidades da invenção que faz parte da vida e que institui o uso que explora. (..). Carlos (2007, p. 12) do espaço a fim de se familiarizar, cria-se uma identidade. Os objetos4 4 Os objetos se dispõem em uma ordem hierarquizada e são reduzidos ao signo, o que cria um modelo cômodo para manipular pessoas e consciências na medida em que o signo separa-se do significa do e do significante tornando o objeto algo mágico, que entra no sonho das pessoas, orienta suas estratégias devida, redefine suas relações e orienta projetos. Transforma-se, portanto, em uma ordem que regulariza comportamentos e determina ações, pois ao sentido do uso prático, se superpõe (..), Carlos (2007, p. 50). são desenvolvidos dentro de sistemas sociais que por sua vez funcionam através das relações espaciais. Marx (1985, p. 85)Marx, Karl. Formações Econômicas Pré-Capitalistas. Tradução de Erich Hobsbwan -4ª edição, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1985. esclarece que A produção como lhe pertencendo, como pré-requisitos de sua própria existência, sua atitude em relação a elas como pré-requisitos naturais de si mesmo, que constituiriam assim, prolongamento do seu próprio corpo.

O espaço e suas relações com a produção se dão de maneira que o ser humano ao se reproduzir no local que seu corpo em movimento habita. A exemplo disso, temos a produção de plantio, a construção da moradia, a criação de objetos para pesca e caça. Outro exemplo também, é a busca de recursos da natureza como, plantas medicinais, frutas, madeira utilizável para construção, desse modo percebemos que seu principal meio de sobrevivência está no espaço geográfico.

Então, quais são os processos de construção da identidade? Não há dúvidas, que o homem ao habitar o espaço se apropria de tal maneira para o seu desenvolvimento. Quanto a esse assunto, Santos (1988, p. 14)Santos, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado, fundamentos teórico e metodológico da geografia. Hucitec. São Paulo 1988. atesta que: A questão do espaço habitado pode ser abordada segundo um ponto de vista biológico, pelo reconhecimento da adaptabilidade do homem, como indivíduo, às mais diversas altitudes e latitudes, aos climas mais diversos, às condições naturais mais extremas. A temporalidade é um fator importante para amadurecimento da identidade do ser humano. Para responder algumas indagações da ciência geográfica, desfrutarei da ciência antropológica de ideias de pensadores que estudam teoricamente o conceito de identidade.

Nesse sentido, Hall Stuart (2006, p.13)Hall, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade Stuart Hall; tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro-11. ed. -Rio de Janeiro: DP&A, 2006. afirma que: O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente5 5 Coerente é alguém ou algo que contém coerência e coesão, ou seja, age e é permeado com lógica e autenticidade. www.significados.com.br . O homem quando se relaciona com o espaço através de momentos vivido e percebido6 6 O espaço é vivido e percebido como fragmento, pela existência e imposição das formas da propriedade privada, produto da concentração da riqueza em suas várias formas, que inaugura o conflito entre uso e troca, e é real e diz respeito a uma prática sócio espacial concreta, em que o uso corresponde a uma necessidade humana, entorno do qual surgem os conflitos. Carlos (2007: p.30). , tais quais são propícios para reproduzir e produzir no espaço identificado. Com a temporalidade grupos que não pertencem ao espaço visam o lucro por meio da floresta, essas relações entram em conflitos. Desta forma, o direito a terra se torna uma característica responsável por possibilitar a construção de identidade do homem no espaço.

Concordamos com a reflexão, de Hall Stuart (2006, p. 38)Hall, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade Stuart Hall; tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro-11. ed. -Rio de Janeiro: DP&A, 2006. que diz: Assim, a identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo através de processos inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento. Existe sempre algo “imaginário” ou fantasiado sobre sua unidade. Ela permanece sempre incompleta, está sempre “em processo”, sempre “sendo formada”. A construção de identidade começa no momento em que o ser humano cria relações de vida, tendo como exemplo ao momento do nascimento, crescimento e na formação de ordem cronológica do tempo e no espaço geográfico.

Mediante a isso, Hall Stuart (2006, p.88)Hall, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade Stuart Hall; tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro-11. ed. -Rio de Janeiro: DP&A, 2006. diz que:

Este conceito descreve aquelas formações de identidade que atravessam e intersectam as fronteiras naturais, compostas por pessoas que foram dispersadas para sempre de sua terra natal. Essas pessoas retêm fortes vínculos com seus lugares de origem e suas tradições, mas sem a ilusão de em retorno ao passado. Elas são obrigadas a negociar com as novas culturas em que vivem, sem simplesmente serem assimiladas por elas e sem perder completamente suas identidades.

De acordo com Stuart, percebe-se que os aspectos da construção de identidade surgem como modo de pertencimento no espaço e suas características tendem a ser de cunhos religiosos, raciais, étnicos e culturais. Em virtude disso pode-se dizer que, o homem não é visto mais como individuo isolado, mas, um ser moldado por meio das relações sociais.

A esse respeito, Hall Stuart (2006, p.70)Hall, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade Stuart Hall; tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro-11. ed. -Rio de Janeiro: DP&A, 2006. diz:

O que é importante para nosso argumento quanto ao impacto da globalização sobre a identidade é que o tempo e o espaço são também as coordenadas básicas de todos os sistemas de representação. Todo meio de representação- escrita, pintura, desenho, fotografia, simbolização através da arte ou dos sistemas de telecomunicação -deve traduzir seu objeto em dimensões espaciais e temporais.

O reconhecimento do homem no espaço se dá com tempo, ele produz meios de sobrevivência que o beneficia. Neste sentido é plausível questionar, de que forma o individuo pode reconhecer o seu espaço? Ele reconhece a partir da localização, religião, manifestações artísticas, culturais, étnicos etc. Sendo assim, são essas as representações que constroem a identidade do ser no espaço. Almeida (2008, p.28)Almeida, Alfredo Wagner Berno de. Terra de quilombo, terras indígenas, “babaçuais livre”, “castanhais do povo”, faxinais e fundos de pasto: terras tradicionalmente ocupadas. 2.ª ed, Manaus: PGSCA–UFAM, 2008. diz: Tal controle se dá através de normas específicas, combinando uso comum de recursos e apropriação privada de bens, que são acatadas, de maneira consensual, nos meandros das relações sociais estabelecidas entre vários grupos familiares, que compõem uma unidade social.

Para que haja uma boa vivência entre grupos familiares é preciso seguir regras estabelecida de acordo comum, em que cada membro familiar pode usufruir do espaço respeitando os bens naturais.

Seguindo o raciocínio, Santos (1998, p.06)Santos, Milton. Sociedade e Espaço: Formação Espacial como Teoria e como Método. Disponível em: https://www.agb.org.br/publicacoes/index.php/boletimpaulista/article/view/1092. Acesso em: 17 de Outubro de 2020.
https://www.agb.org.br/publicacoes/index...
afirma que:

Quando se fala de modo de produção, não se trata simplesmente de relações sociais que tomam uma forma material, mas também de seus aspectos imateriais, como o dado político ou ideológico. Todos eles têm uma influência determinante nas localizações e tornam- e assim um fator de produção, uma influência determinante nas localizações e tornam-se assim um fator de produção, uma força produtiva, com os mesmos direitos que qualquer outro fator.

As relações de trabalho do homem ocorrem de maneira organizada no desenvolvimento social, tanto na produção de alimentos, distribuição do recurso no espaço e no consumo. Desse modo, essas relações ocasionam o movimento no espaço. Contudo, o tempo7 7 Carlos, (2007, p. 57) O tempo, enquanto presente aparece sem espessura e o passado, enquanto memória impressa nas formas se transforma na privação da identidade advinda da prática sócio-espacial real. e o espaço são elementos fundamentais para o processo de formação de identidade.

O Espaço e tempo: A vida cotidiana na construção da identidade

Na reprodução da sociedade, a partir do espaço está vinculada a produção do homem que se moldam nas condições de vida. Nesse sentido, as praticas da vida humana começa nos momentos de trabalho, lazer, planos do ser humano. Portanto, as atividades do homem em sentido à vida, são essas relações do ser humano no espaço. Nesse contexto, Carlos (2007, p.23)Carlos, Ana Fani Alessandri. O espaço Urbano: Novos Escritos Sobre a Cidade. São Paulo: FFLH, 2007. esclarece que: A (re)produção como categoria central de análise abre a perspectiva de analisar, antes de mais nada, a vida humana, apontando, em cada momento, um determinado grau de desenvolvimento da história da humanidade, o que significa dizer que a produção se define com características comuns em diferentes épocas.

A história do homem é marcada por vários momentos em seu desenvolvimento, que se, constituem em conjuntos de relações na escala do espaço e tempo. Como descrito por Marx (1968, p.16) que: “O homem – ou melhor, os homens – realizam trabalho, isto é, criam e produzem sua existência na pratica diária, ao respirar, ao buscar alimento, abrigo e amor, etc. Fazem atuando na natureza tirando da natureza e, às vezes, transformando-a conscientemente com este proposito. Esta inteiração do homem e natureza é – e ao mesmo tempo produz – a evolução social”.

O processo de reprodução da sociedade no espaço é construída por praticas, como, criação de objetos para caça, pesca e construção de moradia. As identidades e construída nas interações humana no espaço, de modo organizado, os grupos sociais compartilham, regras e objetivos exercendo uma motivação, pela construção de identificação. Além disso, é importante destacar concepções de vida cotidiana no espaço-tempo para formação de identidade. Para, Lefebvre (1968, p.31)Lefebvre, Henry. A vida cotidiana no Mundo Moderno. Tradução de Alcides João de Barros. Editora Ôtica. São Paulo, 1991 o cotidiano é o humilde e o sólido, aquilo que vai por si mesmo, aquilo cujos partes e fragmentos se encadeiam num emprego do tempo.

Nesse sentido, o cotidiano seria as principais relações sociais8 8 Carlos, (2007, p.105) Na verdade, as relações sociais se realizam concretamente enquanto relações espaciais, e, neste sentido, a análise do espaço aponta um processo de produção/reprodução da sociedade em sua totalidade. da sociedade com a categoria de espaço. Isto é o homem transforma o espaço com suas atividades para sobrevivência e realiza objetos para manipulação de todos os cuidados de vida. Nesse contexto, Lefebvre diz (1968, p.24) que: o cotidiano se compõe de repetições: gestos no trabalho e fora do trabalho, movimentos mecânicos (das mãos e do corpo, assim como de peça e de dispositivos, rotação, vaivéns), horas, dias, semanas, meses, anos; repetições cíclicas, tempo da natureza e tempo da racionalidade etc.

Portanto, o trabalho cria formas de condições do cotidiano, por atividades que conduz a reprodução e transformam o espaço. As relações do espaço-tempo tornam importantes na construção da identidade de povos indígenas e comunidades ribeirinhas na região do alto Solimões no Amazonas. Nas reflexões de vida cotidiana e na reprodução do espaço são características marcantes no cenário amazônico, na cotidianidade da sociedade está marcada pela luta por direito na construção da identidade no espaço. Já a reprodução do espaço torna-se formas de uso e domínio do espaço para a produção de atividades de vida que sucedem dinâmicas nas relações do homem no espaço, na ação de formar a identidade.

Na opinião de Carlos (2007, p.41)Carlos, Ana Fani Alessandri. O espaço Urbano: Novos Escritos Sobre a Cidade. São Paulo: FFLH, 2007., a possibilidade do entendimento do espaço geográfico enquanto produto histórico e social abre perspectivas para analisar as relações sociais a partir de sua materialização espacial, o que significa dizer que a atividade social teria o espaço como condição de sua realização.

O espaço é construído com a organização de atividades humanas, sendo utilizada por ela e transformada com o tempo. O exemplo a Amazônia enquanto espaço e meio natural dispõem de recursos valiosos de flora e fauna, a atuação do ser humano sobre o ela, gera respectivos impactos e conflitos. Dessa maneira, correto dizer que o homem9 9 O homem - preso ao universo mecânico, condicionado pelas coisas, suplantado pela produção de produtos - vive o empobrecimento do espaço e o esmigalhamento do tempo, pois o espaço e tempo sociais dominados pela troca tornam-se tempo e espaço da mercadoria. Carlos (2007, p 52). produz no espaço atividades praticas sobre o meio. No ponto de vista de Carlos (2007, p.41)Carlos, Ana Fani Alessandri. O espaço Urbano: Novos Escritos Sobre a Cidade. São Paulo: FFLH, 2007. A reprodução da vida, porém, entra em conflito com as necessidades de reprodução da sociedade como um todo, realizando-se hoje no plano do mundial como virtualidade do capitalismo, que em sua extensão, está ampliando, continuamente, as condições de sua realização constante.

Não podemos ignora nesse momento a questões das relações conflitantes em contato com espaço, para inicio a relação dos conflitos sociais sustentam há muito tempo na formação da sociedade. O espaço como, apropriado, habitado, vivido e percebido tais elementos de estudos de pensadores da ciência geográfica estabelecem esses conceitos.

Da mesma forma, Carlos (2007, p.112)Carlos, Ana Fani Alessandri. O espaço Urbano: Novos Escritos Sobre a Cidade. São Paulo: FFLH, 2007. afirma “Às possibilidades de realização da vida humana em sua plenitude, sem separações e normas rígidas que tornam o ato de habitar um uma ação reduzida àquela da moradia. Nesta direção, a ação (luta) questiona o modo de produzir a cidade sob o signo da realização do valor e da norma da dominação que se realiza com a extensão da propriedade privada no espaço”. Nessa direção reflexiva a sociedade e sua vida cotidiana em contexto amazônico têm sofrido conflitos por água e terra há muito tempo na região tem se perdurado. Os conflitos são caracterizados pela apropriação irregular de terra indígena e ribeirinha na região do alto Solimões no Amazonas, vale ressalta que a Amazônia legal brasileira está os principais focos de grilagem e apropriação ilegal. Na visão de Carlos(2007, p.51)Carlos, Ana Fani Alessandri. O espaço Urbano: Novos Escritos Sobre a Cidade. São Paulo: FFLH, 2007. “o espaço se encontra, cada vez mais, dominado pela troca, na medida em que áreas antes desocupadas entram no circuito da troca ocupadas por novas indústrias como a do turismo e lazer”.

Por vários motivos o espaço é dominado através de relações capitalistas do ser humano, pois o dinheiro molda e influencia diretamente nos conflitos por terras de uso comum tradicional de povos e comunidades. Por esse motivo, Carlos (2007, p.56)Carlos, Ana Fani Alessandri. O espaço Urbano: Novos Escritos Sobre a Cidade. São Paulo: FFLH, 2007. afirma que, “o espaço da vida através das mudanças do tempo da apropriação e no fato de que os usos se tornam produtivos, eliminado-se, tendencialmente, os espaços cuja apropriação se realiza fora do mercado. Espaço e tempo são redefinidos pela possibilidade de geração de lucros, logo quantificados e desta forma realizam concretamente a abstração”.

Portando, as reflexões dos autores sobre os movimentos do espaço e tempo são de suma importância, pois dão a ideia da formação no centro da vida cotidiana da sociedade amazônica que visa o reconhecimento pela terra.

Mobilização Social: Uma luta para construir o direito a identidade

A mobilização social tem ganhado destaque na sociedade, se configuram por lutas e esforços de grupos sociais que visam resolver problemas de direito publico. Nesse contexto, a ciência geográfica na ótica de estudos dentro da categoria de espaço permite estudar a relação do homem e a natureza. Ressaltamos aqui a importância de fazer uma reflexão conceitual acerca da mobilização do homem no espaço, as lutas para reivindicar o espaço é algo tão latente desde os primórdios da civilização até a atualidade.

As formações da mobilização se realizam em conjuntos organizados de grupos sociais que tem por objetivo comum, lutar por direitos, perante a sociedade. Do ponto de vista de, Almeida (2008, p.95)Almeida, Alfredo Wagner Berno de. Terra de quilombo, terras indígenas, “babaçuais livre”, “castanhais do povo”, faxinais e fundos de pasto: terras tradicionalmente ocupadas. 2.ª ed, Manaus: PGSCA–UFAM, 2008. que: um dos fatores simbólicos acionados nestas mobilizações diz respeito aos signos de reconhecimento e aos seus valores evocativos, que passam a identificar as diferentes identidades coletivas e seus movimentos respectivos.

A identidade é esculpida com relações sociais no espaço, de modo que o sujeito traça características fundamentais do seu habitar. Dessa maneira os recursos disponíveis no ambiente atraem olhares de outros grupos que não são reconhecidos no espaço em que vivem. Na visão de Almeida (2008, p. 119)Almeida, Alfredo Wagner Berno de. Terra de quilombo, terras indígenas, “babaçuais livre”, “castanhais do povo”, faxinais e fundos de pasto: terras tradicionalmente ocupadas. 2.ª ed, Manaus: PGSCA–UFAM, 2008. diz: A construção política de uma identidade coletiva, coadunada com a percepção dos agentes sociais de que é possível assegurar de maneira estável o acesso a recursos básicos, resulta deste modo, numa territorialidade específica que é produto de reivindicações e de lutas.

Sobre as reivindicações e lutas por direito a terra, pode se mostrar como exemplo a região do Alto Solimões que evidencia marcos históricos de conflitos ilegais tais como; pesca, caça, retirada madeireira, invasão de territórios indígenas. Nesse sentido, Almeida (2008, p.177)Almeida, Alfredo Wagner Berno de. Terra de quilombo, terras indígenas, “babaçuais livre”, “castanhais do povo”, faxinais e fundos de pasto: terras tradicionalmente ocupadas. 2.ª ed, Manaus: PGSCA–UFAM, 2008. que: Os movimentos sociais apresentam-se como um fator de existência coletiva que contestam esta insistência nos procedimentos operativos de ação sem sujeito e que buscam derrubar os demais obstáculos que impedem o reconhecimento legal das “terras tradicionalmente ocupadas”.

Em suma, as mobilizações sociais tem por foco principal, o reconhecimento de direito a terra, politicas publicas, assistências, saúde e segurança. Os movimentos sociais se espelham em conjuntos organizados de pessoas que dão a face para mobilizações, transformada suas defesas em direitos, diante ao estado.

Considerações finais

Em síntese, os conceitos de formação identidade têm por características os movimentos por reconhecimento, essas relações do homem no espaço estão em constante movimentação, pois, ele modifica e reconhece. Na ótica geográfica pode-se fazer uma analise profunda e detalhada sobre a construção de identidade no espaço e tempo. Em contexto da ideia sugiro pensar com Lefebvre (1968, p.190)Lefebvre, Henry. A vida cotidiana no Mundo Moderno. Tradução de Alcides João de Barros. Editora Ôtica. São Paulo, 1991 que “os espaço puro (formal) define o mundo do terror. Se invertermos a proposição, ela conservará o seu sentido: o terror define o espaço puro, forma: o seu espaço, o espaço do seu poder e dos seus poderes”. Sendo assim, o espaço é superfície terrestre que a sociedade comporta, transforma e utiliza já o tempo são elementos históricos das coexistências do homem no espaço. Logo tomamos a exemplo, a amazônia legal com a dimensão de terras e com vasta floresta, tem uma grande diversidades de espécies tanto na flora e fauna.

São ocupadas por comunidade tradicionais ribeirinhas e povos indígenas, são esses indivíduos que dinamizam o espaço com atividades de extrativismo na floresta. A sociedade amazônica ribeirinha e indígena tem características na formação e na organização de agir para o reconhecimento de sua identidade no espaço amazônico.

Por fim, os argumentos teóricos sobre a construção conceitual de identidade se realizam ao reconhecer, nascer e formar sua vida no espaço. Nesse sentido, cabe pensar a partir do relacionamento do sujeito com a maneira de estabelecer a vida.

  • 3
    Na apropriação se colocam as possibilidades da invenção que faz parte da vida e que institui o uso que explora. (..). Carlos (2007, p. 12)Carlos, Ana Fani Alessandri. O espaço Urbano: Novos Escritos Sobre a Cidade. São Paulo: FFLH, 2007.
  • 4
    Os objetos se dispõem em uma ordem hierarquizada e são reduzidos ao signo, o que cria um modelo cômodo para manipular pessoas e consciências na medida em que o signo separa-se do significa do e do significante tornando o objeto algo mágico, que entra no sonho das pessoas, orienta suas estratégias devida, redefine suas relações e orienta projetos. Transforma-se, portanto, em uma ordem que regulariza comportamentos e determina ações, pois ao sentido do uso prático, se superpõe (..), Carlos (2007, p. 50)Carlos, Ana Fani Alessandri. O espaço Urbano: Novos Escritos Sobre a Cidade. São Paulo: FFLH, 2007..
  • 5
    Coerente é alguém ou algo que contém coerência e coesão, ou seja, age e é permeado com lógica e autenticidade. www.significados.com.br
  • 6
    O espaço é vivido e percebido como fragmento, pela existência e imposição das formas da propriedade privada, produto da concentração da riqueza em suas várias formas, que inaugura o conflito entre uso e troca, e é real e diz respeito a uma prática sócio espacial concreta, em que o uso corresponde a uma necessidade humana, entorno do qual surgem os conflitos. Carlos (2007: p.30)Carlos, Ana Fani Alessandri. O espaço Urbano: Novos Escritos Sobre a Cidade. São Paulo: FFLH, 2007..
  • 7
    Carlos, (2007, p. 57)Carlos, Ana Fani Alessandri. O espaço Urbano: Novos Escritos Sobre a Cidade. São Paulo: FFLH, 2007. O tempo, enquanto presente aparece sem espessura e o passado, enquanto memória impressa nas formas se transforma na privação da identidade advinda da prática sócio-espacial real.
  • 8
    Carlos, (2007, p.105)Carlos, Ana Fani Alessandri. O espaço Urbano: Novos Escritos Sobre a Cidade. São Paulo: FFLH, 2007. Na verdade, as relações sociais se realizam concretamente enquanto relações espaciais, e, neste sentido, a análise do espaço aponta um processo de produção/reprodução da sociedade em sua totalidade.
  • 9
    O homem - preso ao universo mecânico, condicionado pelas coisas, suplantado pela produção de produtos - vive o empobrecimento do espaço e o esmigalhamento do tempo, pois o espaço e tempo sociais dominados pela troca tornam-se tempo e espaço da mercadoria. Carlos (2007, p 52)Carlos, Ana Fani Alessandri. O espaço Urbano: Novos Escritos Sobre a Cidade. São Paulo: FFLH, 2007..

Agradecimentos

(Fapeam/Programa de Pós-Graduação em Geografia/UFAM)

References

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    » https://www.agb.org.br/publicacoes/index.php/boletimpaulista/article/view/1092

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Jul 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    30 Nov 2021
  • Aceito
    29 Mar 2022
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