Resumo
Para as mulheres subsaarianas inscritas em um protocolo de tecnologia reprodutiva assistida (TRA), o uso de telefones celulares implica dupla fidelidade: para com os serviços da medicina reprodutiva e para com sua família transnacional. Indispensável para o monitoramento médico dos corpos reprodutivos das mulheres, o telefone celular entra no processo de produção de gametas femininos e contribui para a assimetria de gênero típica da procriação biomedicalizada. Também é utilizado para manter contatos com membros da família transnacional que, à distância, intrometem-se na vida reprodutiva da mulher. O uso de telefones celulares estende o poder biomédico sobre o corpo da mulher em sua vida cotidiana e o poder normativo de sua família transnacional para a reprodução. Paradoxalmente, o telefone celular permite que parentes colaterais apoiem a mulher em busca de assistência reprodutiva ao mesmo tempo que “hipermedicaliza” a vida diária da mulher. Também paradoxalmente, esse companheiro cotidiano é condutivo à autonomia individual ao mesmo tempo que é utilizado para novas formas de vigilância e controle. Os dados vêm do trabalho de campo realizado na região da Grande Paris entre 2011 e 2013 dentro de uma rede de profissionais de TRA e seus pacientes.
Palavras-chave:
telefones (celulares) móveis; reprodução medicamente assistida; teoria do ator-rede; gênero