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História do lugar: um método de ensino e pesquisa para as escolas de nível médio e fundamental

History of places: a teaching and a research method for secondary schools

Resumos

O artigo apresenta o método que chama de 'história do lugar', como instrumento de recuperação da memória e das identidades locais, bem como de aproximação entre escola e comunidade, gerando nos alunos maior interesse pelo estudo da realidade. Demonstra a importância da aplicação do método em escolas do subúrbio carioca nas últimas décadas; expõe os procedimentos metodológicos e de pesquisa; descreve resultados de experiências preliminares com 7ª e 8ª séries; aponta desdobramentos possíveis e destaca, ao final, barreiras impostas à aplicação de métodos educativos e de ensino empenhados em formar para a vida em sociedade, e não só para o trabalho, nas redes públicas de 1º e 2º graus.

história e educação; metodologia da história; memória e identidade no subúrbio carioca; escola e comunidade; ensino público médio e fundamental


This article presents a method called 'history of places', as a tool to help recover local history and reinforce social identity, as well as to bring schools and communities together so that students become more interested in studying reality. The article shows important results of the method for schools in the suburbs of Rio de Janeiro in the last decades, describes methodology and research procedures, presents results of pilot experiences in 7th and 8th grades, points to the possibility of further development as well as emphasizes some of the barriers there are in public primary and secondary schools to applying educational classroom methods that aim at preparing students for society, not only for work.

history and education; history methodology; Rio de Janeiro suburbs memory and identity; school and society; public secondary schools


História do lugar: um método de ensino e pesquisa para as escolas de nível médio e fundamental

History of places: a teaching and a research method for secondary schools

Joaquim Justino Moura dos Santos

Doutor em história social pela Universidade de São Paulo (USP)

Praia de Botafogo, 252, bl. B, ap. 403

22250-040 Rio de Janeiro – RJ Brasil

ceasm@openlink.com.br

SANTOS, J. J. M. dos.: 'História do lugar: um método de ensino e pesquisa para as escolas de nível médio e fundamental'. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, vol. 9(1):105-24, jan.-abr. 2002.

O artigo apresenta o método que chama de 'história do lugar', como instrumento de recuperação da memória e das identidades locais, bem como de aproximação entre escola e comunidade, gerando nos alunos maior interesse pelo estudo da realidade. Demonstra a importância da aplicação do método em escolas do subúrbio carioca nas últimas décadas; expõe os procedimentos metodológicos e de pesquisa; descreve resultados de experiências preliminares com 7ª e 8ªséries; aponta desdobramentos possíveis e destaca, ao final, barreiras impostas à aplicação de métodos educativos e de ensino empenhados em formar para a vida em sociedade, e não só para o trabalho, nas redes públicas de 1º e 2º graus.

PALAVRAS-CHAVE: história e educação, metodologia da história, memória e identidade no subúrbio carioca, escola e comunidade, ensino público médio e fundamental.

SANTOS, J. J. M. dos: 'History of places: a teaching and a research method for secondary schools'. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, vol. 9(1):105-24, Jan.-Apr. 2002.

This article presents a method called 'history of places', as a tool to help recover local history and reinforce social identity, as well as to bring schools and communities together so that students become more interested in studying reality. The article shows important results of the method for schools in the suburbs of Rio de Janeiro in the last decades, describes methodology and research procedures, presents results of pilot experiences in 7th and 8th grades, points to the possibility of further development as well as emphasizes some of the barriers there are in public primary and secondary schools to applying educational classroom methods that aim at preparing students for society, not only for work.

KEYWORDS: history and education, history methodology, Rio de Janeiro suburbs memory and identity, school and society, public secondary schools.

Introdução

O método a que dou o nome de 'história do lugar' – e cuja construção está em andamento – foi sistematizado e apresentado em 1991, na forma de projeto preliminar, como trabalho final da cadeira de história social urbana, no curso de doutorado em história social da Universidade de São Paulo (USP) (Santos, 1991). Nesse trabalho articulei a concepção do método – que amadurecia desde o início da década de 1980 no ensino médio e superior – aos resultados obtidos em pesquisas que realizava sobre a história econômica e social e a formação do subúrbio carioca, aprofundados em dissertação de mestrado defendida na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (Santos, 1987). As noções básicas do que chamo 'história do lugar', nascidas portanto no dia-a-dia de uma prática de ensino e pesquisa em história de nível médio e superior, amadureceram nos últimos 12 anos com novos dados relativos à cidade e ao subúrbio do Rio de Janeiro, organizados em tese de doutoramento em história social defendida na USP (Santos, 1997). Mais recentemente, o método foi levado a um público formado sobretudo por professores de história do ensino fundamental, médio e superior do Rio de Janeiro em diferentes eventos.1 1 Foram esses os trabalhos e eventos: J. J. M. dos Santos, 'Rio de Janeiro: cidade partida ou cidade quilombada?', debate em vídeo, apresentado ao vivo no programa Multieducação, produzido pela Secretaria Municipal de Educação – MultiRio, sobre o tema 'Desafios da Prática', e levado ao ar pela TV Bandeirantes em 30 de setembro de 1999, das 14 às 15h. J. J. M. dos Santos, 'História do lugar: a preservação da memória e das identidades locais a partir das escolas do ensino médio e fundamental', palestra realizada no projeto Fórum Permanente de Pais e Professores, em 15.5.2000, organizado pela Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro, no auditório do Conselho Estadual de Educação. J. J. M. dos Santos, 'História do lugar: a preservação da memória e das identidades locais nas escolas do ensino médio e fundamental', comunicação livre apresentada em 16.10.2000, no IX Encontro Regional de História: História, Memória e Comemorações, realizado pela Associação Nacional de História (ANPUH/RJ), entre os dias 16 e 20 de outubro de 2000, no campus de Gragoatá, da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ). Neles a receptividade foi surpreendente, superando a obtida na década de 1980, quando a concepção geral e a relevância do estudo da 'história do lugar' foram apresentadas pela primeira vez a platéias de nível universitário.2 2 A concepção geral da "história do lugar" foi apresentada em sua forma preliminar em trabalhos apresentados nos seguintes eventos: J. J. M. dos Santos, 'A urbanização e o subúrbio no cotidiano carioca: reflexões sobre a importância da produção e do ensino da história do lugar', palestra realizada em 25 de setembro de 1987 na abertura do projeto 'Debate das Quintas: Análise da História e da Cultura Carioca', no Arquivo Geral da cidade do Rio de Janeiro. (Secretaria Municipal de Cultura/Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural). J. J. M. dos Santos, 'Efeitos do processo de industrialização sobre a vida econômica e social do subúrbio do Rio de Janeiro: 1890-1940', Comunicação livre apresentada no Congresso da Associação Nacional dos Professores Universitários de História (ANPUH-RJ), realizado entre 22 e 26 de outubro de 1988, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Trata-se de um método de ensino e pesquisa apoiado no conhecimento histórico, que teve entre os primeiros impulsos para a sua elaboração as dificuldades encontradas ao buscar um maior interesse pelo estudo da história nos alunos do ensino médio, fundamental e superior no Rio de Janeiro. Sua aplicação preliminar ou experimental em salas de aula de 1º, 2º e 3º graus no subúrbio carioca e em outros pontos do município nas duas últimas décadas, associada a uma abordagem que insere os alunos e as localidades em que moram e estudam como partes integrantes e vivas da história do Brasil e do mundo, supera hoje, no entanto, o objetivo inicial de atrair os estudantes para conhecimento da história. O estudo da 'história do lugar' tem aberto novas perspectivas também como importante instrumento de recuperação e preservação das memórias e das identidades locais, no caso as relativas ao subúrbio do Rio de Janeiro. Tem se revelado capaz de, em uma aplicação mais sistemática, ampliar-se com novos desdobramentos, entre os quais ganham destaque, ao final do presente artigo, a aproximação entre a escola pública e a comunidade à qual pertence, e a prática interdisciplinar e de pesquisa, sobretudo no ensino público médio e fundamental.

Relevância e significado do estudo da história do lugar no subúrbio carioca

A importância de se estudar a 'história do lugar' tem se revelado ainda mais visível, nas últimas décadas, nas escolas, nas ruas, nas famílias, nas comunidades de que fazem parte, nos lugares onde se situam com suas particularidades. No que se refere ao subúrbio carioca, por exemplo, basta ir até ele para constatar que conhecer sua história é uma necessidade de seus habitantes e não só dos que o estudam, por mais reduzido que seja o número daqueles que demonstram interesse em fazê-lo, mesmo quando cientes de tal necessidade.

As gerações que partilharam toda a riqueza cultural embutida na música, nas festas, nos hábitos e costumes populares, caracterizadores do dia-a-dia e do modo de ser típico das populações suburbanas cariocas até pelo menos as décadas de 1950 e 1960, vêem hoje essas práticas particulares postas como ultrapassadas e/ou de importância menor. Desconhecendo-as em grande parte, as novas gerações locais, formadas no bojo da cultura consumista e de massas propagada no período, vivem as condições introduzidas nos lugares onde moram como se sempre tivessem existido, e da mesma forma. Sem elementos para ligá-las a quaisquer impulsos econômicos, políticos, sociais e culturais, que lhes dêem sentido histórico, inclusive o de que vivem e exercem papéis em sociedade, chegam à quase perfeição do consumismo: a fantasia. Introduzida em suas casas, sobretudo pela televisão, a fantasia alimenta a envolvente economia de consumo gerada nas últimas décadas (Faria, 1991), com uma eficácia hoje ampliada pela chamada globalização econômica, tão presente em suas vidas, mas distante por não explicar os efeitos negativos e imprevisíveis que em sua visita diária, sem bater à porta, pode exercer sobre elas.

Com uma identidade criada por padrões culturais únicos, que não refletem o seu dia-a-dia e em grande parte nem o de seu país, a começar pela língua, as pessoas são transportadas a uma realidade que em geral não se refere ao seu cotidiano doméstico, local e profissional. Filmes, videoclipes, noticiários veiculados por agências estrangeiras e outras, novelas, publicidade e demais programas de rádio e televisão (Guareschi, 1983) raramente citam o papel que as populações pobres e trabalhadoras têm na geração de riqueza na sociedade.

No subúrbio carioca, tais contradições são visíveis e reforçadas, por exemplo, pela redução ocorrida na diversidade e nas condições de lazer e cultura dos habitantes locais nos últimos decênios. os espaços remanescentes de uma longa vida rural anterior dedicados às diferentes formas de lazer e de expressão cultural típicas do lugar (Santos, 1997, 1987) perderam-se no tempo ou incorporaram em grande parte novas atribuições, como ocorreu no bairro de Inhaúma.

Os campos de futebol e demais áreas livres são hoje quase inexistentes. Foram tomados por grandes, médias e pequenas indústrias, favelas, conjuntos habitacionais, lojas comerciais, vias públicas e outras formas de ocupação urbana.

As ruas e calçadas, antigos espaços típicos do lazer, das trocas de experiências e idéias entre os moradores após o trabalho e nos fins de semana, e onde se promoviam festas, brincadeiras e outras formas de distração e cultura próprias, perderam em boa parte a função de gerar e manter a identidade da vizinhança, atraída para dentro de casa pelos aparelhos de televisão.

Com a transformação das ruas em vias de passagem para veículos e das calçadas em estacionamentos, perdeu-se muito de suas características como pontos de encontro freqüente e gratuito dos vizinhos, deixando para trás antigos usos que davam vida à criatividade, à solidariedade e à identidade social e cultural das pessoas do lugar. Estão ficando vazias, sem autodefesa, calçada a calçada, como se não fossem mais dos moradores.

Os espaços onde a coletividade criava e promovia suas práticas de lazer e cultura, sem fins comerciais, foram reduzidos e não substituídos nas últimas cinco décadas – fato agravado por um arrocho salarial sem precedentes no período (Chaim, 1991) e pela falta de acesso ao que o mercado oferece em troca. As populações locais, bem mais numerosas hoje, ficaram quase sem opções nesse sentido.

As poucas opções que lhes restam, e aquelas criadas com base em realidades distantes, como as programadas pelas emissoras de rádio e televisão, incluem-se hoje no mundo das mercadorias. Perderam o caráter de criação local e coletiva anterior, presente nas festas juninas e outras, nos bailes e encontros musicais caseiros, nas brincadeiras e jogos de rua, nos coretos e praças públicas e nas demais formas de gerar – com a linguagem do lugar –, expressar e manter a identidade, a intimidade e a solidariedade antes existentes entre os moradores. Esses atributos são essenciais à sua existência e cidadania, e acredito ser possível às populações locais recuperá-los e preservá-los, ao identificarem os papéis que desempenham na história do lugar onde residem e convivem, conhecendo-a com as suas especificidades e formas de ser particulares. Ao perceberem, enfim, que tanto o lugar em que vivem como a comunidade a que pertencem são parte integrante e viva da história do Brasil e do mundo, conforme as funções ou os papéis que neles desempenhem em seu tempo, como sempre ocorreu com os que ali habitaram desde a chegada dos primeiros colonos à região.

História do lugar: abordagem metodológica e aplicação no ensino médio e fundamental

A reconstrução da história de um lugar ou de uma localidade implica partir do princípio de que a história está presente em todos os lugares, em todos os momentos. De que o lugar, seja quando, qual e onde for, integra-se historicamente a espaços e contextos mais amplos, a partir dos papéis e condições econômicas, políticas, sociais e culturais vividas no dia-a-dia por seus habitantes e por ele próprio, no município, no país e no mundo. Operar com essa abordagem da história, portanto, importa compreender que as realidades históricas de determinada localidade e de seus habitantes no tempo não se dão isoladamente do mundo, e sim como partes desiguais mas vivas, ativas e inseparáveis dele (Novack, 1973).

As realidades históricas de cada lugar e de seus habitantes, com o passar do tempo, adquirem e modificam suas funções, características e formas particulares, bem como as relações entre si, movidas por transformações amplas e de diferentes ordens, sobre o que nos falam Folin (1977) e Lefebvre (1978), vistas aqui na sociedade brasileira em que estão inseridas, uma sociedade em que as mudanças são impulsionadas em grande parte por uma economia crescentemente internacionalizada – hoje com o nome de 'globalizada' –, absorvendo nela novos papéis no decorrer do processo histórico.

Implica considerar ainda que é nesse amplo e longo processo histórico que as populações locais constroem sua identidade social e cultural (Braudel, 1988; Vovelle, 1991). Uma identidade que, ao mesmo tempo que nasce no cotidiano de suas vidas, está presente no local e na atividade em que trabalham, no lar e na família, na escola, na vizinhança e na rua onde residem. Está presente nos hábitos, nos costumes e nas relações que as pessoas mantêm entre si e como indivíduos, no lugar onde vivem.

Tal perspectiva permite que os alunos de uma determinada escola compreendam, apalpando, diferentes aspectos da história do Brasil e de suas relações com o mundo, ao terem como referência o espaço e a história do lugar onde vivem. Leva-os a entender, no sentido inverso, que a história mundial, nacional e regional chega ao seu bairro, à sua rua, à sua sala de aula, articulada entre si e explicando muito do cotidiano dos que ali viveram no passado, ou o que eles próprios (os alunos) vivem na atualidade.

Como exemplo de aplicação do método, poderíamos escolher no subúrbio carioca uma sala de aula no bairro de Ramos, hoje caracterizado como área industrial e residencial para camadas populares. Para entender as mudanças recentes ocorridas no lugar, iniciaríamos o estudo avaliando a quantidade e os tipos de indústrias, de loteamentos de casas, de conjuntos habitacionais, de favelas e outras formas de ocupação do espaço instaladas no bairro nos últimos oitenta anos. Bem como o grande volume de novos habitantes das mais diferentes profissões, procedências e vivências sociais e culturais que ali passaram a residir no período.

Como fontes, teríamos as próprias construções instaladas, depoimentos dados por antigos moradores, fotografias, mapas, plantas, dados estatísticos, recortes de jornais, artigos de revistas, livros, teses e dissertações, além de contos, músicas, poesias e outras leituras sobre o tema, o lugar e o tempo estudado. Em seguida, veríamos que mudanças, ocorridas ao mesmo tempo no capitalismo mundial e na forma como nele se inseriu a sociedade brasileira e carioca, teriam tido maior relação com as alterações dadas no período na localidade em estudo.

O método, aplicável no 1º, 2º e 3ºgraus de ensino, independe do bairro ou lugar estudado. Ao planejar o estudo, o professor deverá levar em conta o nível da turma na qual o realiza, tanto no que diz respeito à linguagem utilizada quanto à abrangência do tema, das hipóteses, dos objetivos a serem alcançados e das tarefas de pesquisa exigidas para executá-lo. Ao professor cabem as tarefas mais complexas e de difícil articulação. As mais simples e palpáveis cabem aos grupos organizados pelos alunos, de acordo com o conhecimento que já possuam e que adquiram com o andamento do estudo. Cabe ao professor saber a princípio as atividades a realizar, ou descobri-las com seus orientandos, respeitando seu potencial.

Para definir o tema, os objetivos e as hipóteses direcionadoras do estudo, o professor pesquisador deve munir-se de conhecimentos preliminares sobre a história local e a abordagem que adota, de modo a aprofundá-los com a turma, participando com ela da produção desse tipo de conhecimento e da forma de construí-lo. Assim, os alunos, além de responderem à chamada, tornam-se realmente presentes no estudo, realizando entrevistas com moradores antigos da região, coletando entre eles fotografias e outras fontes relativas ao passado local, reproduzindo da forma possível na escola o material coletado na comunidade – devolvendo-o em seguida aos seus donos –, percorrendo o bairro para identificar e registrar o que sobrevive nele de épocas passadas, ou articulando os dados obtidos e suas conclusões em trabalhos finais.

Essas e outras práticas, acompanhadas de perto pelo professor pesquisador e orientador, associadas ao conhecimento adquirido com elas, permitem que os alunos orientandos absorvam noções essenciais para compreender concretamente a realidade e a história que os envolvem, e para que nestas identifiquem suas vidas. Na prática, incluem-se a si próprios, a seus familiares e demais pessoas da comunidade como partes vivas e ativas da história, e não como ouvintes, telespectadores ou platéia de uma história vista sob prisma nacional ou mundial, abstrata e distante, por nunca chegar até eles e até o lugar onde moram e estudam. Não é uma história centrada em determinadas personalidades e suas realizações, ou em fatos estanques.

Ao viver a experiência, os alunos passam gradativamente a observar e a perceber o significado dos imóveis, dos monumentos e de outras formas materiais construídas no passado, no espaço em que circulam todos os dias. Podem ir além disso, colaborando para a preservação do patrimônio histórico e da memória local, uma vez que esta passa a ter maior sentido para suas vidas ao se incluírem nela. Uma vez que vejam tais construções com suas funções originais, como representativas dos momentos históricos em que foram criadas e como exemplos vivos de que tudo se modifica com o tempo (Bloch, 1965), põem por terra a noção, amplamente difundida, de que as coisas sempre foram e serão, sob certos aspectos, como o são na atualidade. Com tal perspectiva, questionam a noção dominante de que o passado é ultrapassado, de que o presente tem pouco valor e de que o futuro, pautado em novas tecnologias, novos modismos e produtos a serem consumidos, embora por poucos, é que tem importância. Refletem sobre a crença vigente de que é possível viver integralmente em uma realidade distante, fantástica, hipotética e futurista, em que se deletam a própria memória e as razões que a fazem ser como é.

A experiência no estudo da história do lugar faz com que os alunos vejam os mais idosos, na família e na comunidade – ao se dirigirem a eles para conhecer aspectos da história local recente, ou das últimas sete/oito décadas –, também como memórias vivas do passado (Bosi, 1987; Prins, 1997), que se perdem sem registro, no caso aqui entre as camadas pobres e trabalhadoras dominantes no subúrbio carioca. Os estudantes passam a ver os idosos como pessoas merecedoras de carinho e respeito também por esse seu papel, essencial à sociedade humana e em geral desempenhado com a generosidade, a riqueza de dados e a clareza que só quem viveu o passado em questão pode expressar, como se nota a seguir em trechos de entrevistas com antigos moradores do bairro da Penha e outros do subúrbio carioca, realizadas por alunos meus, de 7ª e 8ªséries, no ensino público municipal, durante o primeiro semestre de 2000. Ao relatar diferentes aspectos da vida social e cultural do bairro de Olaria nas décadas de 1940 e 1950, d. Ambrosina da Silva, de 77 anos, por exemplo, destacou que:

Seu pai trabalhava no cais do porto, na praça Mauá; ele viajava de bondinho para o trabalho. Sua mãe era dona de casa. Jantava-se às 19h e dormia-se às 20h. Na janta ficavam todos os filhos na mesa. As crianças iam brincar depois do jantar. Nos finais de semana sentavam, conversavam e contavam histórias para passar o tempo, brincavam de pique-esconde, pular corda e cabra-cega. Para eles se divertirem nos fins de semana, iam a circos, cinemas, danceterias e pagodes. Tinha almoço, boas danças e se batiam palmas para fazer o ritmo das danças de salão, capoeira... Eles não tinham muitos amigos entre os vizinhos. No carnaval botava a roupa de baiana para desfilar nas escolas de samba. O carnaval em sua época era comum, mas só tinha mais paz, não havia muita violência. "Acho que as crianças estão muito diferentes, pois crescem desrespeitando os mais velhos, e nas brincadeiras. Os adolescentes de minha época eram respeitosos com os adultos."3 3 Trabalho final intitulado 'Aspectos da cultura nos bairros de Olaria e da Penha: décadas de 20 a 50', realizado pelos alunos Adílio da Conceição Trindade, Bruno da Cruz Santos Reis, Emanoel Santos Telles, Leonardo dos Santos e Tiago Pereira dos Santos, da turma 703 da Escola Municipal Bernardo de Vasconcelos, no bairro da Penha (RJ), com base em entrevista concedida a eles pela sra. Ambrosina da Silva Trindade, nascida em 1923 no bairro de Olaria e moradora da Penha desde 1953. Esse trabalho, produzido no primeiro semestre de 2000, como os demais citados, foi elaborado sob minha orientação, na construção do roteiro de entrevistas, no acompanhamento da pesquisa de campo e na adequação, redação e revisão do texto, em forma de monografia, com a íntegra do depoimento gravado ou manuscrito e uma primeira versão do estudo em anexo.

Em outro depoimento, o sr. Rubem Plácido, de 86 anos, morador na Penha desde que nasceu, informou aos alunos que:

Seus pais trabalhavam em uma fábrica de papéis das 7 às 17h, de segunda a sábado, no centro da cidade, na rua do Líbano. Naquele tempo os meios de transporte eram lotação e bonde. Ao chegarem em casa, diariamente, eles costumavam conversar. Às 19h se jantava e se dormia às 22h. Na janta era comum todos estarem à mesa. Eles também faziam muitas brincadeiras no portão e conversavam muito com os colegas. As brincadeiras daquele tempo eram amarelinha, berlinda e passa-anel. As festas de que eles participavam eram as festas juninas, além dos bailes de carnaval, que eram nos bairros de Madureira e de Ramos.4 4 Trabalho final intitulado 'A Penha dos anos 20 aos 40', elaborado pelas alunas Dalva dos Santos Nascimento, Tahisa Silva F. de Medeiros e Suelen Lima Machado, da turma 703 da Escola Municipal Bernardo de Vasconcelos, na Penha (RJ), com base em entrevista concedida pelo sr. Rubem Plácido de Medeiros, nascido na Penha em 1914, onde mora até os dias de hoje.

Ao entrevistar o sr. Otto Medeiros, nascido em 1928, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, e que com cerca de 18 anos mudou-se com a família para o bairro da Pavuna, no subúrbio carioca, outro grupo de alunos colheu os seguintes dados sobre a história desses lugares entre as décadas de 1930 e 1950. Segundo o sr. Otto:

Sua mãe era dona de casa e seu pai, pintor, trabalhava das 7 às 16h todos os dias, sem lugar certo. Ia e voltava de trem. Jantavam normalmente às 20h e era comum estarem todos à mesa. As crianças iam dormir logo após o jantar e os adultos costumavam ouvir rádio, conversavam bastante e não tinham hora para dormir. As brincadeiras mais comuns eram: soltar pipas, rodar pião, pique-esconde, amarelinha ..., mas a mais praticada pelas crianças e jovens era o futebol, pois havia campeonatos e a diversão era grande. ... Quando jovem, outro tipo de diversão eram as reuniões entre os amigos, que brincavam, conversavam, tocavam instrumentos. Se reuniam com os vizinhos para fazerem festas, mesmo quando ninguém estava fazendo aniversário. Não precisavam comemorar nada em especial, só se divertir para eles era o bastante. Os aniversários eram legais, pois havia brincadeiras para as crianças..., os vizinhos sempre eram convidados e todos compartilhavam o momento, bebiam e curtiam bastante. Quando não estavam em casa, iam à praia, cinema, bares etc. O carnaval era muito bom, pois eram nas ruas os blocos carnavalescos. Se divertia muito..., tanto que saía no sábado e só voltava na terça-feira. Comparando os tempos de antes com os de hoje – o modo de vida, a diversão, a família, a infância e a adolescência –, em sua opinião mudou tudo, pois antes a comunhão entre famílias era mais valorizada. As famílias se divertiam em casa, entre eles, e com os vizinhos. Hoje em dia vão a clubes recreativos e de danças, cinemas, shows etc. Os jovens têm um modo bem diferente do de antes, envolvendo-se com drogas, com a gravidez precoce, com a violência entre famílias e amigos.5 5 Trabalho final com o título 'Momentos de São João de Meriti e Pavuna nas décadas de 1930-50', elaborado pelo grupo formado pelos alunos Marília da Silva de Souza, Midiã Alves dos Santos, Rafael José dos Santos, Thiago Falcão da R. Silva e Wellington de Souza Mota, da turma 705 da Escola Municipal Bernardo de Vasconcelos, na Penha (RJ), a partir de entrevista concedida pelo sr. Otto Medeiros Peçanha, nascido no município de São João de Meriti em 1932 e morador no bairro da Pavuna, subúrbio carioca, desde a década de 1950.

Grande parte do que foi dito pelo sr. Otto sobre São João de Meriti e Pavuna também ocorria no dia-a-dia da Penha nas décadas de 1940 e 1950, como nos informou o sr. Nelson Pereira, de 64 anos, lá nascido e criado. Além disso, acrescentou que:

Seus pais eram funcionários da prefeitura e trabalhavam no horário da manhã, na cidade. ... Na sua juventude, as diversões e festas de que mais gostava de participar eram os bailes e festas juninas... Não era comum a alguns jovens participar de bailes e festas porque eles eram pobres. Havia dois cinemas no bairro: o Cine Basto e o São Pedro. Costumava jogar pelada na rua e ir ao cinema nos finais de semana. O carnaval daquela época foi o melhor que já existiu. Era na rua, e todos se fantasiavam, com máscaras e acessórios. Não tinha ainda a Apoteose. Não havia tanta violência. Começou a trabalhar aos 14 anos no Curtume Carioca, na Penha. O estudo era bem melhor, os adolescentes eram bem mais educados e prestavam mais atenção nos seus pais. Brincavam sempre em grupo e sem violência. Naquela época tocavam samba, salsa e tango. A moeda era o réis. A comida era a feijoada, a carne-seca com abóbora. As atitudes das pessoas mudaram porque a vida está mais difícil, por causa do seu mau governo.6 6 Trabalho final intitulado 'Aspectos da riqueza cultural e da vida social no bairro da Penha: anos 1930-1950', realizado pelas alunas Adriana Santana Ataíde, Cristiana da Silva Joventino, Luana Nogueira de Souza e Michelle Caxias de Souza, da turma 802 da Escola Municipal Bernardo de Vasconcelos, na Penha (RJ), com base em entrevista concedida pelo sr. Nelson Pereira da Cruz, nascido em 1936 na Penha, onde mora até hoje.

Práticas culturais e situações semelhantes no período, pelo que disse d. Ana Lúcia, de 67 anos, também ocorriam em Cascadura, bairro para o qual se mudou aos cinco anos, quando as coisas ficaram difíceis para sua família continuar morando no Méier. Informou, além disso, que:

Havia clubes, sociedades musicais no bairro, mas que nem todos podiam ir. Havia também bailes carnavalescos, mas totalmente diferentes dos de hoje em dia... Os jovens daquela época se divertiam de verdade, não como hoje em dia, que dizem que só se divertem nesses bailes funks, que só dão porrada e desgraças para nossa vida, e assim aumentam a violência com que já vivemos rodeados demais.7 7 Trabalho final intitulado 'A vida cultural em Cascadura: anos 1930-1950', elaborado pelas alunas Tatiane Maria da Silva e Janeide Maria do Nascimento Emídio, da turma 801 da Escola Municipal Bernardo de Vasconcelos, na Penha (RJ), a partir de entrevista realizada com a sra. Ana Lúcia de Alcântara, nascida em 1933 no bairro do Méier, de onde mudou-se aos cinco anos para Cascadura, bairro em que reside até hoje.

Vimos, portanto, alguns exemplos da riqueza de dados que podem ser fornecidos por antigos moradores, e das análises sugeridas aos alunos e outros estudiosos, ao buscarem na escola a memória e a identidade social e cultural do lugar onde vivem ou tenham interesse em estudar, ao procurarem conhecer a história recente do lugar.

Em novo exemplo de aplicação do método, pode-se realizar também um estudo visando discutir as características básicas da economia e da sociedade colonial no Rio de Janeiro e no Brasil, ao pesquisar a história dos bairros de Ramos, Olaria ou Bonsucesso no período, com alunos de qualquer uma de suas escolas. Para tanto, o professor deve saber previamente que a área hoje ocupada por esses bairros, na época, fazia parte de uma antiga fazenda de açúcar chamada Engenho da Pedra, instalada na região logo nas primeiras décadas da ocupação portuguesa no município do Rio de Janeiro. No estudo, projetado com base em informações fornecidas por cronistas, relatos de visitas pastorais e de viajantes, relatórios oficiais, registros de imóveis, mapas e outros dados obtidos em fontes primárias e secundárias relativos aos séculos XVII a XIX, veríamos os diferentes produtos feitos naquele engenho e em outras fazendas do município. Investigaríamos em seguida a forma como eram produzidos, com forte presença do trabalho escravo, como também a função e o destino que tinham e as vias e os meios de transporte utilizados para conduzi-los ao porto do Rio de Janeiro para serem exportados, ou até o crescente mercado consumidor formado pelos habitantes da cidade. Indo mais além, veríamos a cidade como centro urbano criado e dinamizado em função do porto, por onde passavam não só as diretrizes socioeconômicas, administrativas, políticas e culturais da metrópole portuguesa, mas sobretudo as relações mercantis locais com Portugal, e por meio dele com a Europa, a África e outras partes do mundo, como se viu ao estudar as freguesias de Inhaúma e de Irajá (Santos, 1997, 1987).

Estudaríamos a relação mantida entre o porto exportador e a metrópole, e entre esta e o mercado consumidor e fornecedor europeu, partindo da hipótese de que os gêneros produzidos e uma parcela dos consumidos no Engenho da Pedra caracterizavam uma relação direta daquele lugar e de seus habitantes com a Europa, em meio à estrutura colonial mercantilista implantada por Portugal no Brasil. Veríamos finalmente que os escravos locais, trabalhadores rurais, faziam parte dessa história com a função principal de produzir e suprir a cidade e o seu porto exportador com mercadorias. E que, como escravos africanos na maioria, assinalavam uma estreita relação entre a região hoje ocupada pelos bairros de Olaria, Ramos e Bonsucesso e diferentes lugares da África, de onde vinham, como da Europa, para onde iam as mercadorias que produziam – dando maior ou menor profundidade ao estudo do tema de acordo com o grau e a série dos alunos. O mesmo tipo de análise pode ser realizado em qualquer localidade carioca e do Brasil do período, desde que já incorporada na época à estrutura colonial (Santos, 1997).

Vistos nos exemplos descritos, alguns dos resultados possíveis de alcançar com a realização de estudos apoiados no método da 'história do lugar' e a abordagem histórica que o complementa, concluo a seguir, buscando demonstrar que tais resultados dão vida a novos desdobramentos, entre os quais privilegio os referentes à prática interdisciplinar e à aproximação entre a escola e a comunidade na qual está incluída.

Interdisciplinaridade e relação entre escola e comunidade na história do lugar

O estudo da história do lugar, pela própria abordagem que o envolve, orienta-se para a construção de um conhecimento interdisciplinar, e, portanto, para o conhecimento de como a realidade estudada se dá de fato. Seja pelo estudo elaborado em uma mesma classe de alunos, integrando seus diferentes professores, à análise de temas comuns às variadas disciplinas que lecionam, seja pela utilização dos resultados já produzidos na área de história, sobre assuntos e situações que os professores das demais disciplinas entendam ter maior relação com as temáticas gerais que desenvolvem nas séries em que trabalham, ambos os procedimentos, sempre estudados e planejados em equipe, permitem enfoques interdisciplinares. Temas sobre a história econômica, social e/ou cultural ou quaisquer outros referentes à cultura local e aos demais campos da história, sob esse prisma, podem ser abordados em conjunto com disciplinas como geografia, literatura, línguas portuguesa e estrangeiras, educação artística e musical, matemática e ciências naturais. Além disso, podem articular-se e abrir novas discussões relativas às áreas de economia, sociologia, filosofia, antropologia social e cultural, ciência política, ecologia, psicologia social, saúde coletiva e medicina social, comunicação, arquitetura e urbanismo, educação, e a outras áreas do conhecimento.

Quanto aos professores de história, ao adotarem o método aqui proposto, poderão enriquecê-lo e melhor viabilizá-lo, recorrendo ao ensino e à produção da história em nível universitário – a cursos de bacharelado, de licenciatura e de pós-graduação em história que ofereçam disciplinas relativas à história regional e municipal, além das regularmente oferecidas, em geral dedicadas ao caráter nacional e/ou internacional dos temas que abordam e, por isso, também essenciais à análise da 'história do lugar'. Nesses cursos, devem munir-se do suporte necessário para a realização de estudos e pesquisas mais aprofundadas, com base ou não na perspectiva aqui lançada. Esta pode até mesmo integrar-se às abordagens da história em discussão no ensino superior, alimentando-o com o conhecimento obtido nas escolas e comunidades locais, enriquecendo os demais níveis do ensino, da pesquisa e da educação, e, a seguir, voltar ao lugar.

Sobre a relação entre a escola e a comunidade à qual pertence, na prática, a 'história do lugar' tende a aproximá-las, pelo próprio fato de ser parcialmente construída, como vimos, a partir de dados coletados no lugar e na comunidade atendida pela escola. Pode colaborar até mesmo com práticas e estudos relativos à saúde coletiva, ao meio ambiente, à violência, à educação ou outros que se mostrem necessários à sobrevivência, ao convívio e ao bem-estar das próprias comunidades que participam dos estudos, se forem esses os problemas que mais as afetarem.

Ao aplicar o método no exemplo de estudo da história recente do bairro de Ramos, vimos que parte dos dados para realizá-lo é obtida com antigos moradores locais, mediante entrevistas feitas com eles pelos alunos. Ou ainda por meio de fotografias e outras fontes do período estudado, na dependência de os moradores consentirem em sua reprodução para a realização de pesquisas na escola. O fato em si já estabelece uma relação de proximidade e integração, presente tanto na execução das entrevistas como nos resultados que a experiência pode oferecer. Mas uma aproximação mais estreita é possível quando a escola, recorrendo aos dados coletados na comunidade, propõe-se a devolver a esta, na forma de conhecimento produzido por seus alunos e professores, os resultados alcançados com a participação direta de membros do mesmo grupo social na recuperação de sua história e, por que não?, na discussão e busca de soluções para os problemas comuns que mais afetem seu dia-a-dia, no cotidiano do lugar onde convivem.

Os resultados dos estudos podem voltar à comunidade local de diferentes formas. A primeira delas representa um dos desdobramentos mais relevantes do projeto História do Lugar. Consiste em criar pequenos centros de referência e preservação da memória e da cultura local nas escolas, com acervos formados pelas fontes coletadas e selecionadas (reproduzidas em papel, informatizadas ou com outros recursos disponíveis) e pelos melhores trabalhos finais realizados pela equipe de alunos e professores nesse sentido. Os acervos assim reunidos, além de propiciar a produção de novos estudos, cada vez mais abrangentes, abertos à comunidade local em determinados horários, serão uma nova forma de atraí-la para a escola, numa relação de troca crescente entre ambas.

Os conhecimentos produzidos sobre a história do lugar nas escolas também podem chegar à comunidade com a realização de eventos que os propaguem, como cursos, seminários, exposições fotográficas, depoimentos públicos dados por antigos moradores, pequenas peças teatrais, jornais murais e pasquins, apresentações e encontros musicais e de poesias, entre outros. Eventos estes que, produzidos com base nos conhecimentos adquiridos sobre a história e a cultura do lugar, podem realçar potencialidades artísticas e outras, próprias aos alunos e moradores locais. A promoção de festas, brincadeiras e jogos representativos da história, sociedade e cultura do lugar, com membros da comunidade como platéia e como participantes diretos, também pode esclarecer a todos sobre suas identidades sociais e culturais específicas.

São necessários eventos que propiciem uma troca de conhecimentos, de experiências e outras formas de relacionamento que levem à interação entre a escola e a comunidade. E, por que não?, à recuperação e à preservação da memória e das identidades locais, subtraídas por forte padronização, banalização e mediocridade cultural, reforçada por crescente movimento de internacionalização da economia nas últimas décadas. Isso tudo introduz agressivamente nas relações sociais as relações de mercado, de competição ou concorrência, de indiferença e superioridade a cada mercadoria, a cada cargo ou emprego instável em disputa no reduzido mercado de trabalho, a cada marca que individualize. Relações presentes e claras, para quem quiser ver, em novas atitudes, novos valores e em novos olhares criados por estes novos valores entre as pessoas de cada lugar, hoje embevecidas por esse movimento fantástico, distante e inacessível à grande maioria delas, e que recebe o nome de 'globalização econômica', sem lhes dizer as razões de sua intensa visita diária.

Conclusão

O amplo processo de transformações ocorridas na economia e na sociedade brasileira na última metade do século XX, enquanto parte do capitalismo internacional – embora não pretenda aqui dar conta do assunto –, desencadeou uma nova série de mudanças que têm afetado em muito a vida da maioria das pessoas nos lugares onde vivem. Assim como afetam o próprio mundo, que precisa estar vivo para que todos possam nele estar, e de preferência em paz, sem o verdadeiro arsenal diário de violência que crianças de pouca idade hoje incorporam ao seu imaginário, em sua própria casa, em contextos virtuais ou não, até mesmo por intermédio de desenhos animados.

Para aqueles que não recebem na família, na escola, na comunidade, na sociedade, o mínimo embasamento crítico a seu respeito – o que ainda não é concebido como um problema comum a tais instituições, geridas e compostas que são hoje por gerações embevecidas pelo mesmo veneno –, pode parecer que o mundo 'pós-moderno' está dividido entre policiais, bandidos e vítimas, tal a proporção do tema no seu dia-a-dia. Isso pode levar parte das pessoas no futuro – considerando a história de vida e sobretudo a situação social e cultural de cada uma delas, já que são cada vez maiores as diferenças e distâncias nesse sentido – a ter como perspectiva apenas uma dessas três opções, como já tenho presenciado em casos concretos entre alunos que entram na adolescência com valores desse teor. Deve-se lembrar que não se usa o bumbum, a força, um suposto padrão de beleza ou o pé para pensar, como também nem tudo é válido por dinheiro. É bom frisar também que, quando alguém leva vantagem em tudo, outros perdem todas as vantagens, que ninguém tem tudo ao possuir uma televisão em casa – basta ir a uma das favelas cariocas para se perceber boa parte disso. A sociedade hoje está precisando de pensadores que dêem conta das difíceis questões que a envolvem, e não de novos agentes de problemas sociais ainda maiores.

Pensando sobre as comunidades locais, os efeitos desse processo são visíveis também nas relações, nos valores, nos comportamentos, nas perspectivas de vida e no grau de interesse pelo conhecimento da realidade – em crescente queda qualitativa – nos alunos do ensino médio e fundamental no subúrbio carioca, o que tenho presenciado de 25 anos para cá. São numerosos os exemplos que reafirmam o fato dia-a-dia em sala de aula, na escola e na comunidade à qual atende. Para citar apenas três casos recentes, lembro o da aluna que, muito agitada em sala, levou-me a buscar as razões de seu comportamento. Ela o justificou, dizendo ter sido acordada pela manhã por um forte barulho e que, ao abrir a janela, atemorizou-se com a presença de um helicóptero com homens que lhe apontavam armas de fogo, na encosta do morro do Cruzeiro, na Penha. Isso ocorreu em 1996 – ano em que ela fazia 16 anos, na 8ªsérie da Escola Municipal Bernardo de Vasconcelos, no mesmo bairro.

Além de brigas e diferentes formas de demonstração de força ou rebeldia, por vezes com ameaças diretas de alguns à integridade de professores e funcionários – sem que os fatos sejam vistos aqui como uma crítica à escola, à comunidade ou a quem quer que seja, mas sim como resultado de um processo histórico em andamento –, outro caso foi trazido por alunos da mesma escola e comunidade, agora em uma turma de 6asérie. Ao procurar saber aquilo de que mais gostavam de fazer, surpreendeu-me, em 1998, a empolgação de boa parte dos meninos de cerca de 12/13 anos com um programa de televisão chamado Rota do Crime, exatamente porque lhes dava a oportunidade de ver os crimes ocorrendo de verdade, de sua própria casa, à noite.

O terceiro exemplo, de cunho mais geral, reside no fato de que os alunos dessa escola e de outras, na mesma comunidade ou não, já nascem com o hábito de ouvir, dançar e por vezes tentar cantar a música jovem norte-americana – predominante nos meios de comunicação a que têm acesso –, em geral sem compreender o sentido de seus versos e mensagens, embora não seja solução entendê-los. Esse fato, que parece não ter maiores conseqüências, sempre relacionado a situações que não dizem respeito ao seu cotidiano, a meu ver tem influenciado muito para que os alunos cada vez mais deixem de buscar sentido no que é dito, reduzindo seu interesse nesse aspecto.

O problema se agrava ao estender-se ao que lêem – quando lêem – aos filmes, aos documentários e às músicas e poesias brasileiras, ou a outras informações e formas de expressão que cheguem até eles, sobretudo quando entender o sentido, com o ritmo, o significado e o caráter particular que tem, é essencial para que adquiram conhecimentos sobre a realidade de seu país. Os efeitos negativos do fato são ainda maiores ao sabermos que os mesmos alunos, como seres humanos, para viver dependem de conhecimentos mais ligados à sua realidade concreta do que àquela que fantasiam.

O interesse pelo conhecimento que vem com os alunos para a escola é em boa parte nulo. Os livros didáticos, em geral bastante aplicados em sala, distanciam-se, em seus conteúdos, do lugar e do cotidiano dos alunos, em geral partindo do princípio de que têm o hábito e de que gostam de ler. O professor, se o permitir, passa despercebido pelos alunos, que em geral conversam sobre as últimas novidades, programas, ofertas de produtos distantes ou artistas que vêem na televisão.

Tanto a escola como o professor também têm perdido parcela de sua identidade e importância social nesse contexto. Nele, o mais comum nas últimas décadas tem sido o professor público do ensino médio e fundamental ficar sem espaço, sem tempo e sem as mínimas possibilidades financeiras que dêem acesso às novas tecnologias difusoras e propiciadoras de novos conhecimentos, ou a livros, a escrever... Perde a auto-estima e por vezes a dignidade que o papel que desempenha lhe daria em outras condições. Vive a crescente redução no seu acesso a novas leituras, pesquisas, cursos, atividades culturais, científicas e mesmo de lazer, e a viagens de estudo só possíveis em férias – como as que já teve direito, e não à-toa –, que lhe permitiriam atualizar-se também ou ao menos repor o crescente desgaste de energia que esses e outros problemas têm trazido, colaborando para diminuir a qualidade de seu trabalho e até mesmo de sua saúde, cada vez mais cara.

Em tais condições, o professor desvaloriza a si próprio, dentre outras razões, ao perceber que a qualidade do ensino que poderia oferecer cada vez mais dá lugar à quantidade. Seja em horas anuais de trabalho, no grande número de turmas e de alunos que atende, ou no volume extra de tarefas que resultam disso. Seja no papel que lhe tem sido cada vez mais atribuído no sentido de dar conta não só do ensino, que nivela por baixo – as escolas públicas municipais cariocas contemplam com S, de suficiente, tanto a quem consegue média 40 como a quem conquista 65, ou com PS, de plenamente suficiente, tanto a quem atinge a média 70 como a quem conquista a média 100 –, mas sobretudo da educação de crescente número de crianças e adolescentes, com o fim de tirá-los das ruas, de atraí-los para as merendas fornecidas nas escolas ou de aprová-los em função de estatísticas anuais, em grande parte sem o conhecimento necessário para enfrentar a vida e o mercado de trabalho, que não seja o mais barato, entre outros números. Números que, partindo de uma visão paternalista em relação aos alunos, têm reduzido o prestígio do professor em sala de aula, sobretudo no ensino público . Os estudantes, sem maiores exigências de aprendizagem, postura, limites e comportamento, em alguns casos, confundem o trabalho do professor com o de um assistencialista do ensino, deixando de vê-lo como um gerador e difusor de conhecimentos, um defensor de valores essenciais às suas vidas e à vida em sociedade.

Mas são esses mesmos alunos – que por vezes vêem o professor como se fosse uma televisão que traz tudo pronto, inclusive idéias e valores, podendo-se ir à cozinha tomar um café sem desligá-la – que se mostram capazes de superar em boa parte as dificuldades que lhes reduzem o interesse em conhecer a realidade, a cada vez que percebem em aula, em uma pesquisa ou em um passeio ou visita guiada, que são parte viva dessa realidade. Ou quando, como vimos, buscam nos mais idosos da comunidade a que pertencem e em outras fontes a memória do lugar, trazendo-a consigo para a escola e tornando-a pública, ou devolvendo-a como conhecimento aos que a vivem.

Por tudo isso, a meu ver, cresce a distância existente entre propostas pedagógicas e educativas, que busquem formar para a vida e não só para o trabalho – partindo de situações do dia-a-dia dos alunos e de suas comunidades –, e as condições materiais das escolas, a disponibilidade de tempo extra, mais necessário do que aulas e pago, para a organização de equipes e para a preparação de professores, funcionários e dirigentes que atuem nesse sentido. Tais condições, também reduzidas nos últimos decênios, são hoje questões que não podem ser desconsideradas, quando se trata de construir esse tipo de conhecimento. Penso que as soluções possíveis devam ser buscadas com a discussão e a participação direta dos que vivem essas questões como um sério problema, nas salas de aula, nas escolas e nos lugares onde estas se situam, com suas particularidades históricas, que urgem ser estudadas e conhecidas, por serem essenciais para que se dê um passo adiante.

Há que se considerar que a educação e o ensino, sobretudo nas escolas públicas, mantêm-se como fundamentais para o conhecimento da vida pelas populações pobres, que têm sido mais atingidas pelo forte arrocho salarial, associado a diferentes graus de frustração que a falta de acesso a um consumismo extremamente desigual tem gerado nos últimos cinqüenta anos. Tal confusão de valores, as expectativas cada vez menos correspondidas por maiores faixas da população – em geral acompanhando o lançamento de novas mercadorias, ou de novas formas de expressão e de consumo em função de maiores vendas, em grande parte dirigidas a crianças e adolescentes – e a rapidez com que se renovam em suas memórias, reduzindo-lhes a identidade, são um dos problemas que mais afetam a vida de nossos alunos e/ou de nossos filhos na atualidade.

Assim, mais do que a conclusão de um estudo, com início, meio e fim, como seria de praxe, deixo aqui algumas reflexões em aberto, para que os leitores as construam por si mesmos, nos lugares onde passam, onde trabalham, onde lecionam, onde se distraem, enfim, nos lugares onde vivem, com as pessoas que fazem parte desses lugares.

NOTAS

Recebido para publicação em novembro de 2000.

Aprovado para publicação em fevereiro de 2001.

  • Bloch, Marc 1965 Introdução à história Lisboa, Europa-América. Coleção Saber, no 59.
  • Bosi, Ecléa 1987  Memória e sociedade: lembrança de velhos 2Ş ed., São Paulo, Edusp, caps. IV e V, pp. 329-85.
  • Braudel, Fernand 1988 O espaço e a história no Mediterrâneo São Paulo, Martins Fontes.
  • Chaim, Célia 8.9. 1991 'Salário mínimo ainda mais baixo: sobrevivência exige mais que os Cr$ 42 mil  aprovados por Congresso e governo'. Jornal do Brasil, Caderno Negócios e Finanças, p. 1.
  • Faria, Vilmar E. 1991 'Cinqüenta anos de urbanização no Brasil: tendências e perspectivas'. mar.  Novos Estudos Cebrap, nş  29, pp. 98-119.
  • Folin, M. 1977  'La ciudad del capital'. Em La ciudad del capital y otros escritos México, Ed. G. Grili, pp. 15-60.
  • Guareschi, Pedrinho A. 1983 Comunicação e poder: a presença e o papel dos meios de comunicação de  massa estrangeiros na América Latina 4Ş ed., Petrópolis, Vozes.
  • Lefebvre, Henri 1978  El derecho a la ciudad 4Ş ed., Barcelona, Ediciones Península. Colecion Historia, Ciencia, Sociedad, 44.
  • Novack, George dez. 1973 La ley del desarrollo desigual y combinado s.l. Ediciones Pluma.
  • Prins, Gwyn 1997 'História oral'. Em Peter Burke (org.), A escrita da história:  novasrspectivas 3Ş reimpr., São Paulo, Editora da Universidade Estadual Paulista, pp. 163-99.
  • Santos, Joaquim Justino Moura dos 1997  De freguesias rurais a subúrbio: Inhaúma e Irajá no município do  Rio de Janeiro Tese de doutoramento, São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
  • Santos, Joaquim Justino Moura dos 1991 'História do lugar: reflexões sobre um método de estudo da história social  urbana e sua produção e ensino nas escolas de 1ş, 2ş e 3ş graus'. Tese de  doutoramento, São Paulo, Usp/ FFLCH.
  • Santos, Joaquim Justino Moura dos 1987 Contribuição ao estudo da história do subúrbio do Rio de Janeiro: a freguesia de  Inhaúma - 1743-1920 Dissertação de mestrado, Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
  • Vovelle, Michel 1991 Ideologias e mentalidades 2Ş ed., São Paulo, Brasiliense, 4Ş parte, pp. 255-99.
  • 1
    Foram esses os trabalhos e eventos:
    J. J. M. dos Santos, 'Rio de Janeiro: cidade partida ou cidade quilombada?', debate em vídeo, apresentado ao vivo no programa
    Multieducação, produzido pela Secretaria Municipal de Educação – MultiRio, sobre o tema 'Desafios da Prática', e levado ao ar pela TV Bandeirantes em 30 de setembro de 1999, das 14 às 15h.
    J. J. M. dos Santos, 'História do lugar: a preservação da memória e das identidades locais a partir das escolas do ensino médio e fundamental', palestra realizada no projeto Fórum Permanente de Pais e Professores, em 15.5.2000, organizado pela Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro, no auditório do Conselho Estadual de Educação.
    J. J. M. dos Santos, 'História do lugar: a preservação da memória e das identidades locais nas escolas do ensino médio e fundamental', comunicação livre apresentada em 16.10.2000, no IX Encontro Regional de História: História, Memória e Comemorações, realizado pela Associação Nacional de História (ANPUH/RJ), entre os dias 16 e 20 de outubro de 2000, no
    campus de Gragoatá, da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ).
  • 2
    A concepção geral da "história do lugar" foi apresentada em sua forma preliminar em trabalhos apresentados nos seguintes eventos: J. J. M. dos Santos, 'A urbanização e o subúrbio no cotidiano carioca: reflexões sobre a importância da produção e do ensino da história do lugar', palestra realizada em 25 de setembro de 1987 na abertura do projeto 'Debate das Quintas: Análise da História e da Cultura Carioca', no Arquivo Geral da cidade do Rio de Janeiro. (Secretaria Municipal de Cultura/Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural).
    J. J. M. dos Santos, 'Efeitos do processo de industrialização sobre a vida econômica e social do subúrbio do Rio de Janeiro: 1890-1940', Comunicação livre apresentada no Congresso da Associação Nacional dos Professores Universitários de História (ANPUH-RJ), realizado entre 22 e 26 de outubro de 1988, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
  • 3
    Trabalho final intitulado 'Aspectos da cultura nos bairros de Olaria e da Penha: décadas de 20 a 50', realizado pelos alunos Adílio da Conceição Trindade, Bruno da Cruz Santos Reis, Emanoel Santos Telles, Leonardo dos Santos e Tiago Pereira dos Santos, da turma 703 da Escola Municipal Bernardo de Vasconcelos, no bairro da Penha (RJ), com base em entrevista concedida a eles pela sra. Ambrosina da Silva Trindade, nascida em 1923 no bairro de Olaria e moradora da Penha desde 1953. Esse trabalho, produzido no primeiro semestre de 2000, como os demais citados, foi elaborado sob minha orientação, na construção do roteiro de entrevistas, no acompanhamento da pesquisa de campo e na adequação, redação e revisão do texto, em forma de monografia, com a íntegra do depoimento gravado ou manuscrito e uma primeira versão do estudo em anexo.
  • 4
    Trabalho final intitulado 'A Penha dos anos 20 aos 40', elaborado pelas alunas Dalva dos Santos Nascimento, Tahisa Silva F. de Medeiros e Suelen Lima Machado, da turma 703 da Escola Municipal Bernardo de Vasconcelos, na Penha (RJ), com base em entrevista concedida pelo sr. Rubem Plácido de Medeiros, nascido na Penha em 1914, onde mora até os dias de hoje.
  • 5
    Trabalho final com o título 'Momentos de São João de Meriti e Pavuna nas décadas de 1930-50', elaborado pelo grupo formado pelos alunos Marília da Silva de Souza, Midiã Alves dos Santos, Rafael José dos Santos, Thiago Falcão da R. Silva e Wellington de Souza Mota, da turma 705 da Escola Municipal Bernardo de Vasconcelos, na Penha (RJ), a partir de entrevista concedida pelo sr. Otto Medeiros Peçanha, nascido no município de São João de Meriti em 1932 e morador no bairro da Pavuna, subúrbio carioca, desde a década de 1950.
  • 6
    Trabalho final intitulado 'Aspectos da riqueza cultural e da vida social no bairro da Penha: anos 1930-1950', realizado pelas alunas Adriana Santana Ataíde, Cristiana da Silva Joventino, Luana Nogueira de Souza e Michelle Caxias de Souza, da turma 802 da Escola Municipal Bernardo de Vasconcelos, na Penha (RJ), com base em entrevista concedida pelo sr. Nelson Pereira da Cruz, nascido em 1936 na Penha, onde mora até hoje.
  • 7
    Trabalho final intitulado 'A vida cultural em Cascadura: anos 1930-1950', elaborado pelas alunas Tatiane Maria da Silva e Janeide Maria do Nascimento Emídio, da turma 801 da Escola Municipal Bernardo de Vasconcelos, na Penha (RJ), a partir de entrevista realizada com a sra. Ana Lúcia de Alcântara, nascida em 1933 no bairro do Méier, de onde mudou-se aos cinco anos para Cascadura, bairro em que reside até hoje.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Jan 2004
    • Data do Fascículo
      Abr 2002

    Histórico

    • Aceito
      Fev 2000
    • Recebido
      Nov 2000
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