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Carta do editor

CARTA DO EDITOR

De 7 a 10 de novembro de 2007 realizou-se, em Curitiba, na sede da Associação Médica do Paraná, o 12º Congresso Brasileiro de História da Medicina, sob a presidência do professor Hélio Germiniani (http://www.eventosprime.com.br/congressosbhm2007/). O anterior foi em Goiânia, e o próximo Congresso da Sociedade Brasileira de História da Medicina terá lugar em Fortaleza, de 12 a 15 de novembro de 2008 (http://www.sbhm.org.br/). A comissão organizadora já está recebendo sugestões de conferências, temas livres, pôsteres e painéis.

Uma integrante da equipe de História Ciências, Saúde — Manguinhos e o autor destas mal traçadas participaram do Congresso de Curitiba com o objetivo de divulgar a revista por meio de participação em mesa redonda, apresentação de pôster e venda de assinaturas. Aproveito a oportunidade para agradecer à presidente da comissão científica, Clotilde de Lourdes Branco Germiniani, pelo apoio que nos deu e pelos pareceres que tem fornecido a esta revista.

Dois trabalhos publicados na primeira edição de 2007 de História, Ciências, Saúde — Manguinhos (v.14, n.1) analisam a trajetória do Instituto Brasileiro de História da Medicina, criado em 1945 por Ivolino de Vasconcellos. A atual Sociedade Brasileira de História da Medicina (SBHM) surgiu dois anos após a morte desse médico, em novembro de 1997, por iniciativa dos Ulysses G. Meneghelli (Ribeirão Preto), Joffre Marcondes de Rezende e Argeu Castro Rocha (ambos de Goiânia), com o apoio do renomado médico-historiador Carlos da Silva Lacaz, falecido em 2002.

Profissionais da Casa de Oswaldo Cruz e de faculdades e centros de pós-graduação de história que investigam objetos relacionados à medicina e saúde pública logo começaram a participar dos eventos organizados pelos médicos. Mas ainda hoje são de mútuo estranhamento as relações entre estes e aqueles. Quem participa de um Congresso da SBHM discerne, ao primeiro olhar, as duas populações: os médicos e doutorandos, largamente majoritários, vestem quase sempre impecáveis ternos; as médicas e doutorandas, roupas igualmente formais; os historiadores e historiadoras, calças jeans e variantes do traje passeio. As indumentárias são indicadoras de habitus muito diferentes, e uso aqui o termo com toda a latitude que lhe deu Pierre Boudieu: padrões de pensamento, comportamento e gosto que são o resultado da internalização de estruturas sociais através da experiência de grupos, e que funcionam como matrizes de percepções e ações, constituindo quase um ethos de classe.

O grau de abertura do grupo hegemônico em relação ao adventício tem variado de congresso para congresso, mas no Paraná foi especialmente acentuada a endogenia dos médicos-historiadores. Um exemplo: o prêmio Carlos da Silva Lacaz, instituído em 2006 pela Sociedade Brasileira de História da Medicina, acata apenas monografias de estudantes vinculados a instituições de ensino médico, excluindo assim a produção cada vez mais vasta que tem florescido nas ciências humanas.

Do ponto de vista de um historiador formado numa faculdade de história, boa parte do que foi apresentado naquele congresso fere normas importantes para o grupo no âmbito do qual se profissionalizou: pouca pesquisa original e, conseqüentemente, pouca fonte primária a embasar as comunicações; dificuldade de contextualizar histórica e socialmente fatos e personagens de histórias ainda centradas em grandes nomes e em datas que se concatenam numa perspectiva linear e evolucionista. Apesar do profissionalismo com que os médicos organizam seus eventos, a história, para a maioria deles, é uma ocupação das horas remanescentes de sua atividade profissional; é uma atividade diletante, à qual alguns se dedicam apaixonadamente.

Não obstante suas diferenças, médicos-historiadores e historiadores da medicina e da saúde compartilham uma preocupação fundamental: a humanização da medicina. Podem ter uma agenda comum, a de fortalecer a inserção da história da medicina tanto nas escolas médicas como nas faculdades de história e disseminar o interesse por ela entre o grande público. Ambos os grupos têm muito a lucrar com o estreitamento de seus laços, pois se é notável a carência entre os primeiros de conteúdos e ferramentas metodológicas da história, é igualmente grande a carência entre os historiadores de familiaridade com as diversas linguagens da medicina.

Concluo, assim, esta carta, caros leitores de História, Ciências, Saúde — Manguinhos, exortando-os a participar do próximo congresso da Sociedade Brasileira de História da Medicina, na capital cearense, um lugar, diga-se de passagem, maravilhoso de se conhecer.

Jaime L. Benchimol

Editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Jan 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 2007
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