Acessibilidade / Reportar erro

OGMs à mesa: decifre-os antes de devorá-los!

GMOs on the menu: crack them before eating! …

A P R E S E N T A Ç Ã O

OGMs à mesa: decifre-os antes de devorá-los!

Luisa Massarani

Jornalista

Chesthunt road, Tottenham

London N 17 7PU England

jornalista

massarani@ufrj.br

Os organismos geneticamente modificados (OGMs) vêm suscitando caloroso debate em vários países, principalmente no que diz respeito aos alimentos. No Brasil, o tema saiu do âmbito de universidades e instituições de pesquisa e passou a ocupar espaços sistemáticos na imprensa, desde que grandes empresas do setor de alimentos quiseram introduzir no mercado produtos geneticamente modificados. "O assunto deixou de ser racional e passou a ser passional", constata a bioquímica Glaci Zancan, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Zancan propõe uma moratória para a liberação comercial de alimentos transgênicos (ver Glossário), alegando que ainda há muitas dúvidas sobre impactos ambientais e danos à saúde de animais e de seres humanos. Além disso, segundo ela, é preciso realizar testes no país para verificar se as linhagens de plantas aqui introduzidas são comercialmente vantajosas, levando em conta as características particulares do ambiente brasileiro.

A Academia Brasileira de Ciência, por sua vez, juntamente com instituições similares dos Estados Unidos, da China, da Índia, do México e da Grã-Bretanha e de outros países do Terceiro Mundo, defende abertamente que os "alimentos produzidos por meio de tecnologia GM (geneticamente modificados) podem ser mais nutritivos, estáveis quando armazenados e, em princípio, podem promover a saúde, trazendo benefícios para consumidores, seja em nações industrializadas ou nações em desenvolvimento" (a íntegra do documento ‘Plantas transgênicas na agricultura’ pode ser lido na home-page da Academia Brasileira de Ciência [www.abc.org] e da Royal Society www.royalsoc.ac.uk/files/statfiles/keywords-116.txt).

De acordo com o texto das Academias, atualmente já são cultivados milhões de hectares de plantações comerciais transgênicas de soja, algodão, tabaco, batata e milho em vários países, entre eles os Estados Unidos (28,7 milhões de hectares em 1999), Canadá (4 milhões), China (trezentos mil) e Argentina (6,7 milhões). "Nesses países, cerca de quatrocentos milhões de pessoas estão comendo alimentos cuja origem foram plantas geneticamente melhoradas", estima o geneticista Antônio Rodrigues Cordeiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nos Estados Unidos, a metade dos alimentos já é transgênica, na avaliação do geneticista Francisco Salzano, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).

O tema é polêmico. Neste dossiê — organizado pelo Centro de Estudos do Museu da Vida, Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, com a nossa coordenação e edição — encontram-se artigos e depoimentos de pesquisadores que vêm se dedicando a refletir sobre ele. Buscamos reunir diferentes pontos de vista, sem tomar partido. Nosso objetivo é, acima de tudo, colocar o tema dos organismos geneticamente modificados (incluindo-se aí os transgênicos) em sua mesa, para que você participe do debate, que chega ao Brasil com vinte anos de atraso, segundo a socióloga Maria Celeste Emerick, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

GMOs on the menu: crack them before eating!

Genetically modified organisms (GMOs) and GM foods in particular have been arousing heated debates in several countries. In Brazil, this discussion has spread over the boundaries of universities and research institutes and it has been getting systematic press coverage since large food companies made the first moves to introduce genetically modified products on the market. "This debate is no longer rational; it has become rather emotional", states the biochemist Glaci Zancan, president of the Brazilian Society for the Advancement of Science (SBPC).

Zancan advocates a moratorium on the liberation of transgenic foods for trading on the grounds that there are yet too many unanswered questions about the impact of GM foods on the environment and the potential adverse human and animal health effects. Besides, she goes on to say, it is necessary to carry out extensive testing in this country to find out whether the plants’ lineages introduced in Brazil are commercially appealing, taking into account the particular characteristics of the Brazilian environment.

The Brazilian Academy of Science, in turn, together with similar institutions in the US, China, India, Mexico, Britain and other Third World countries, openly advocates that "foods produced from GM technology may be more nutritious, more stable when stored, and may ultimately promote health, being beneficial to consumers both in industrialized nations and in developing nations" [For the full text on ‘Transgenic plants in agriculture’ go to www.abc.org (Academia Brasileira de Ciência) and www.royalsoc.ac.uk/files/statfiles/keywords-116.txt (The Royal Society)].

As pointed out in the [Academies’] text, millions of hectares of commercial transgenic crops of soya, cotton, tobacco, potatoes and corn are already being grown in several countries, including the US (28,7 million hectares in 1999), Canada (4 mil), China (0,3 mil) and Argentina (6,7 mil). Geneticist Antônio Rodrigues Cordeiro, of Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estimates that "in those countries, around 400 million people are eating food derived from plants that have been genetically improved". Half of the foods in the US is already transgenic, according to geneticist Francisco Salzano, of Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).

This is certainly a controversial issue. In the files below — organized by the Centro de Estudos do Museu da Vida, Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, coordinated and edited by myself — you will find papers, interviews and general comments by researchers who have been reflecting on the topic. We have attempted to gather different perspectives, without taking sides. Our main aim is to put the question of genetically modified organisms (including transgenics) "on the menu", or on the agenda, so that you can take part in the debate, one which has taken twenty years to reach this country, as pointed out by sociologist Maria Celeste Emerick, researcher at Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Luisa Massarani

Jornalista

Chesthunt road, Tottenham

London N 17 7PU England

jornalista

massarani@ufrj.br

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Maio 2006
  • Data do Fascículo
    Out 2000
Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz Av. Brasil, 4365, 21040-900 , Tel: +55 (21) 3865-2208/2195/2196 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: hscience@fiocruz.br