A opinião pública sobre os transgênicos
Public opinion on transgenics
Luisa Massaranijornalista
O que a população está pensando sobre os transgênicos? Buscando responder essa pergunta, agrupamos quatro enquetes sobre o tema, realizadas em diferentes locais, atingindo diferentes públicos e usando diferentes instrumentos.
Europa, Canadá e Estados Unidos
Em pesquisas de opinião pública realizadas na Europa e no Canadá em 1996 e nos Estados Unidos em 1997, as pessoas foram estimuladas a estimar a utilidade, o risco e a aceitabilidade moral de algumas aplicações das biotecnologias. Além disso, os entrevistados foram questionados se encorajariam ou não algumas de suas aplicações (Science and Engineering: Indicators 2000, National Science Foundation, http://www.nsf.gov./sbe/srs/seind00/access/toc.htm#chapter8).
Foram abordados dois conjuntos de questões relacionadas às aplicações da biotecnologia na agricultura, entre elas:
a) O uso da engenharia genética na produção de alimentos (por exemplo, para fazer com que tenham maior teor de proteína, ou permitir que se conservem por mais tempo, ou mesmo para alterar seu sabor).
b) O uso voltado para tornar as plantações mais resistentes a herbicidas.
Os resultados:
(a) 55% dos participantes da enquete européia concordaram que os alimentos geneticamentes modificados são úteis; o valor subiu para aproximadamente 66% entre canadenses e norte-americanos.
b) 60% dos europeus afirmaram acreditar que os alimentos geneticamente modificados envolvem riscos. Entre canadenses e norte-americanos, o índice caiu, respectivamente, para 55% e 53%.
c) Metade dos europeus afirmou acreditar que os alimentos geneticamente modificados podem ser aceitos do ponto de vista moral, comparados a 75% dos canadenses e 66% dos norte-americanos.
d) Menos da metade dos europeus encorajaria a produção de alimentos geneticamente modificados. Entre os norte-americanos, o índice é de 60%.
Os padrões de respostas foram similares no que diz respeito às atitudes perante a modificação genética de plantações, embora o apoio tenha sido um pouco menor para essa aplicação das biotecnologias. Ressaltou-se, no entanto, que as enquetes foram realizadas antes da controvérsia sobre produtos agrícolas geneticamente modificados que eclodiu em países europeus, em particular na Grã-Bretanha. Segundo o documento, acredita-se que, com a quantidade considerável de informações que a grande imprensa divulgou sobre o tema, as pessoas podem estar mais bem informadas e hoje podem ter posições diferentes das manifestadas na ocasião. Vale destacar que Jon Miller, responsável pelo estudo norte-americano, observou que um dos problemas em conduzir uma enquete sobre as atitudes do público em relação à biotecnologia é que muitas pessoas sequer têm posições definidas.
Com relação às aplicações médicas da biotecnologia, as enquetes abordaram três conjuntos de questões:
a)Introdução de genes humanos em bactérias para produzir medicamentos ou vacinas (por exemplo, para produzir insulina para diabéticos).
b) Uso de testes genéticos para detectar doenças hereditárias.
c) Introdução de genes humanos em animais para produzir órgãos para transplante em humanos (por exemplo, em porco, para transplante de coração em humanos).
As duas primeiras dessas aplicações parecem ter amplo apoio das pessoas na Europa, no Canadá e nos Estados Unidos. No entanto, os europeus foram um pouco mais reticentes que os norte-americanos em relação à produção de medicamentos.
Os entrevistados posicionaram-se menos favoravelmente em relação à aplicação da biotecnologia para o transplante de órgãos, havendo resistência um pouco maior entre os europeus em termos de sua aceitação do ponto de vista moral.
A enquete canadense foi conduzida por Edna Einsedel, da Universidade de Calgary, com mil adultos, por telefone. Na Europa, o 1996 Eurobarometer on biotechnology foi projetado por um conjunto de acadêmicos, organizados e dirigidos por John Durant, do Museu de Ciência de Londres; foram 15.900 entrevistas pessoais, em 15 países da União Européia. A enquete de 1997 realizada nos Estados Unidos, sob a direção de Jon Miller, da Universidade Northwestern e da Academia de Ciências de Chicago, usou uma amostra nacional e incluiu entrevistas por telefone com 1.067 adultos.
Grande Porto Alegre
Na Grande Porto Alegre, 418 pessoas com idade acima de 18 anos manifestaram sua opinião sobre os transgênicos. O levantamento foi realizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Administração (Cepa) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), nos dias 1 e 2 de dezembro, e publicado no jornal Zero Hora (vol. 36, edição nº 12.534, 12. 12. 1999, p. 39). Eis as perguntas e respostas:
a) Você já ouviu falar em produtos transgênicos? Não, 34%; sim, 66%.
b) Você compraria óleo ou margarina de soja transgênica? Não, 71,8%; sim, 28,2%.
c) Você deixaria de comprar bombons argentinos ou batatas fritas importadas dos Estados Unidos por apresentarem em sua composição ingredientes transgênicos? Não, 46%; sim, 54%.
d) Você pagaria mais por alimentos livres de transgênicos? Não, 39,1%; sim, 60,9%.
e) Você é contra ou a favor da criação de uma zona livre de transgênicos no Rio Grande do Sul? Contra, 50,1%; a favor, 49,9%.
f) Na sua opinião, quem planta soja transgênica merece ser punido? Não, 64,4%; sim, 35,6%.
g) Você é contra ou a favor da continuidade das pesquisas sobre transgênicos em geral? Contra, 4,8%; a favor, 95,2%.
h) Você é contra ou a favor de uma moratória para o plantio e a venda de transgênicos no estado e/ou no país? Contra, 41,7%; a favor, 58,3%.
i) A posição da organização ambientalista Greenpeace contra os transgênicos influencia a sua posição pessoal sobre o assunto? Não, 74,8%; sim, 25,2%.
Tamanho da amostra por cidades da Grande Porto Alegre: Porto Alegre, 179 pessoas; Canoas, 39; Novo Hamburgo, quarenta; São Leopoldo, quarenta; Esteio, quarenta; Cachoeirinha, quarenta; Portão, quarenta. Total: 418 entrevistados.
Escolaridade: primeiro grau incompleto, 97 pessoas (23,2%); primeiro grau completo, 81 (19,4%); segundo grau incompleto, quarenta (9,6%); segundo grau completo, 102 (24,4%); terceiro grau incompleto, 42 (10%); terceiro grau completo, 56 (13,4%).
Distribuição da amostra por sexo: feminino, 216 pessoas (51,7%); masculino, 202 (48,3%)
Faixas etárias da amostra: mais de 55 anos, oitenta pessoas (19%); 46 a 55 anos, 76 (18,2%); 36 a 45 anos, 91 (21,8%); 26 a 35 anos, 83 (19,9%); 18 a 25 anos, 88 (21,1%).
Faixas de renda familiar: mais de três mil reais, 31 pessoas (77%); de R$ 2.001 a três mil reais, 45 (11,1%); R$ 1.001 a dois mil reais, 87 (21,5%); R$ 501 a mil reais, 120 (29,6%); até quinhentos reais, 122 (30,1%)
Geneticistas
Para colocar o tema em pauta, a Sociedade Brasileira de Genética disponibilizou em seu site (www.sbg.org.br/) documento no qual se tentava apresentar as vantagens e as desvantagens das plantas transgênicas. Após o texto, pediu aos navegantes que votassem a favor ou contra. Os resultados, em 20 de junho, eram: a favor, 149 (66,5%); contra, 75 (33,5%).
Jornal do Brasil
O Jornal do Brasil (11. 7. 2000, capa) lançou a pergunta: "Você é a favor da liberação de alimentos transgênicos?". Os resultados obtidos foram: contra, 69%; a favor, 23%; não se definiram, 8%. O jornal não informou quantas pessoas responderam a questão.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
19 Maio 2006 -
Data do Fascículo
Out 2000