Resumo
Este artigo examina aspectos da trajetória da Associação Brasileira de Educação (ABE), do ponto de vista do seu legado e capilaridade, papel central na consolidação do campo pedagógico e da educação escolar do Brasil. A perspectiva é percorrer novas possibilidades de pesquisa sobre a ABE na abordagem da transnacionalidade e da cultura material escolar. A questão que baliza os caminhos da análise é o lugar que a Associação Brasileira de Educação ocupou na promoção dos debates educacionais e, principalmente, na promoção das exposições e, quais redes de diálogo ela cria ou se vincula para fortalecer-se a si e ao debate pedagógico. A documentação é composta por ofícios, cartas, atas, relatórios, impressos da ABE e fotografias. No âmbito teórico são mobilizados autores do campo da historiografia educacional, da cultura material e da história cultural. A capilaridade da ABE se observa pela rede de contato estabelecida com livreiros, comerciantes, editoras, fornecedores de materiais didáticos e associações internacionais de educação, que permite desvelar práticas culturais e pedagógicas.
Palavras-chave:
ABE; exposições pedagógicas; congressos educacionais; cultura material escolar
Resumen
Este artículo examina aspectos de la trayectoria de la Asociación Brasileña de Educación (ABE), desde el punto de vista de su legado y capilaridad, su papel central en la consolidación del campo pedagógico y de la educación escolar en Brasil. La perspectiva es explorar nuevas posibilidades de investigación sobre la ABE en el enfoque de la transnacionalidad y la cultura material escolar. La cuestión que guía los caminos del análisis es el lugar que la Asociación Brasileña de Educación ocupó en la promoción de los debates educativos y, principalmente, en la promoción de las exposiciones, y qué redes de diálogo crea o a las que se vincula para fortalecerse a sí misma y al debate pedagógico. La documentación está compuesta por oficios, cartas, actas, informes, impresos de la ABE y fotografías. En el ámbito teórico se movilizan autores del campo de la historiografía educativa, de la cultura material y de la historia cultural. La capilaridad de la ABE se observa por la red de contacto establecida con libreros, comerciantes, editoras, proveedores de materiales didácticos y asociaciones internacionales de educación, que permite desvelar prácticas culturales y pedagógicas.
Palabras clave:
ABE; exposiciones pedagógicas; congresos educativos; cultura material escolar
Summary
This article examines aspects of the trajectory of the Brazilian Association of Education (ABE) from the perspective of its legacy and reach, as well as its central role in consolidating the pedagogical field and school education in Brazil. The aim is to explore new research possibilities on ABE through the lens of transnationality and school material culture. The key question guiding this analysis is the role that the Brazilian Association of Education played in promoting educational debates and, especially, in promoting exhibitions, and which dialogue networks it creates or joins to strengthen itself and the pedagogical debate. The documentation consists of official letters, correspondence, meeting minutes, reports, ABE publications, and photographs. Theoretically, the article draws on authors from the fields of educational historiography, material culture, and cultural history. The reach of ABE is observed through the network of contacts established with booksellers, merchants, publishers, suppliers of educational materials, and international education associations, which reveals cultural and pedagogical practices.
Keywords:
ABE; pedagogical exhibitions; educational congresses; school material culture
Résumé
Cet article examine les aspects de la trajectoire de l'Association Brésilienne d'Éducation (ABE) du point de vue de son héritage et de sa portée, ainsi que son rôle central dans la consolidation du domaine pédagogique et de l'éducation scolaire au Brésil. L'objectif est d'explorer de nouvelles possibilités de recherche sur l'ABE à travers le prisme de la transnationalité et de la culture matérielle scolaire. La question clé guidant cette analyse est le rôle que l'Association Brésilienne d'Éducation a joué dans la promotion des débats éducatifs et, en particulier, dans la promotion des expositions, et quels réseaux de dialogue elle crée ou rejoint pour se renforcer elle-même et renforcer le débat pédagogique. La documentation se compose de lettres officielles, de correspondances, de procès-verbaux de réunions, de rapports, de publications de l'ABE et de photographies. Théoriquement, l'article s'appuie sur des auteurs des domaines de l'historiographie éducative, de la culture matérielle et de l'histoire culturelle. La portée de l'ABE est observée à travers le réseau de contacts établi avec des libraires, des commerçants, des éditeurs, des fournisseurs de matériel pédagogique et des associations internationales d'éducation, ce qui révèle des pratiques culturelles et pédagogiques.
Mots-clés:
ABE; expositions pédagogiques; congrès éducatifs; culture matérielle scolaire
INTRODUÇÃO
A ABE tem conseguido reunir vários professores vindos dos mais remotos cantos do país para o estudo das questões educacionais. [...] Muita ideia nova, muito método novo, muita técnica moderna foram divulgados graças aos congressos nacionais de educação. Além disso, neles se estabelece um contato pessoal, se cimentam amizades que se tornam precisas para uma colaboração nacional em matéria de ensino público. (A.B.E. Relatório de 1934, p.1)
Pelo excerto do relatório da Associação Brasileira de Educação (ABE), publicado em 1934, a entidade comemorava o feito de mobilizar professores, de vários cantos do país, e promover o debate e o estudo de questões educacionais, como métodos e propostas de ensino. Em 2024, celebra-se o centenário desta pujante associação. Examinar sua trajetória, legado e capilaridade é uma oportunidade para contribuir com a historiografia do campo educacional e examinar, a partir do passado e do tema da Associação Brasileira de Educação, com novas perspectivas de pesquisa sobre a transnacionalidade e a cultura material escolar.
Para dar conta desta proposta, formulamos uma questão orientadora que balize os caminhos analíticos no exame da documentação e da bibliografia selecionada, qual seja: qual o lugar (na perspectiva certeauniana) que a Associação Brasileira de Educação ocupa na promoção dos debates educacionais e, principalmente, na promoção das exposições e, quais redes de diálogo ela cria ou se vincula para fortalecer-se a si e ao debate pedagógico?
A documentação que sustenta as análises aqui presentes é composta por ofícios, cartas, atas, relatórios, impressos da ABE, fotografias, material este que foi consultado tanto no acervo da própria ABE, como em revistas, jornais e outros arquivos internacionais1.
A Associação Brasileira de Educação, doravante ABE, fundada em 1924, no Rio de Janeiro, foi um espaço que agregou intelectuais de diversas áreas para pensar a organização política do sistema educacional escolar no Brasil. De acordo com Marta Carvalho, a ABE foi inspirada no modelo da National Education Association (NEA) dos EUA e era um projeto de “vir a formar um núcleo poderoso no seio da sociedade brasileira”, (CARVALHO, 1998, p. 214).
A ABE era uma sociedade civil, com adesões voluntárias, reunia professores, intelectuais, médicos, engenheiros e interessados em educação. Entre as ações desenvolvidas pela entidade elenca-se a organização de inquéritos e estatística da instrução no Brasil; a publicação de boletins e relatórios sobre aspectos do ensino; a organização e promoção das Conferências Nacionais de Educação (CNEs)2, a organização e manutenção de museu escolar, de biblioteca pedagógica (mais de 5 mil volumes), a promoção de palestras e cursos; investiu em viagens de formação pedagógicas no exterior para alguns educadores, com a ideia de que esses professores fossem atores na renovação pedagógica. Fomentou o contato por correspondências entre educadores e associações de diferentes países.
Ainda entre as iniciativas da ABE evidencia-se a construção de prédios escolares, a aquisição de mobiliários e livros, a promoção de bibliotecas infantis, a organização de exposições de livros e materiais pedagógicos e de arquitetura escolar, entre outros. Foi um espaço de divulgação científica (MASSARANI, 1998) nos 20 e 30. Para além das atividades já citadas, a ABE esteve envolvida em uma ampla gama de ações que perpassaram a educação como um todo, envolvendo também a regulamentação do uso do cinematógrafo, a organização da Semana de rádio educativo e, mais tarde, tomou a iniciativa do Quarto de Hora Educativo da Confederação Brasileira de Rádio difusão; a organização das Semanas da Educação e de atividades relacionadas a educação pela paz.
Mas foram as Conferências Nacionais de Educação (CNEs) que tiveram maior repercussão. Segundo Carvalho (2000, p. 237), “um grupo de intelectuais imbui-se da missão de regenerar o país pela educação, lançando-se à propaganda da “causa educacional”. A ABE também foi responsável pela consolidação do Manifesto dos Pioneiros (1932)3, pela criação do Ministério da Educação em 1930. “Em 1945, na IX Conferência, a partir de então denominada IX Congresso Brasileiro de Educação, resultou a Carta Brasileira de Educação Democrática (MIGNOT, XAVIER, 2004)”. Embora as CNES tenham perdurado até 1967, elas foram se esvaziando. O país passou por mudanças políticas, outras entidades relacionadas à educação foram surgindo:
enquanto o MEC passou a exercer um controle mais direto sobre as orientações da política educacional, outra entidade civil, o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), passou a exercer o papel que historicamente a ABE havia desempenhado no âmbito do debate educacional junto à sociedade. Em outubro de 1968, o IPES organizou um amplo fórum de debates sobre “a educação que nos convém”, reunindo empresários, militares, profissionais liberais, intelectuais e quadros do MEC. Dessa forma, a atuação da ABE no âmbito do debate e da formulação de sugestões para a política educacional ficou cada vez mais limitada (MIGNOT, XAVIER, 2004, p 12).
Hoje, a ABE ainda está em atividade, mas atua como arquivo e centro de documentação guardando valorosos documentos como o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932); o Manifesto dos Educadores Mais Uma Vez Convocados (1959); inquérito do Ensino Secundário e Universitário; Anais das Conferências Nacionais de Educação; livros, atas das reuniões do Conselho Diretor e das Assembleias Gerais; correspondências, a partir de 1924, recebidas e enviadas; publicações periódicas (Boletins, Revistas Schola e "Educação" e informes); recortes de jornais e revistas; documentos legais; documentos referentes aos eventos realizados; dossiês dos presidentes e de educadores abeanos e registros diversos referentes às associações e parte da sua biblioteca. Inclui também fotografias, fitas cassetes e de vídeo.
Neste cenário e diante da questão orientadora analítica, o artigo proposto se divide em duas partes. A primeira expõe parte da trajetória das Exposições pedagógicas4 e eventos constituidores de um repertório pedagógico que ocorreram em boa parte das 13 CNEs, promovidas pela ABE, ao longo de quase 50 anos. E a segunda parte incide sobre perceber a capilaridade da associação em seus diálogos travados com algumas associações congêneres internacionais.
Concernente ao primeiro momento do texto as cenas analisadas são as Exposições Pedagógicas que têm espaço de produção e divulgação inseridas nos cenários das CNEs, constituídas nesta pesquisa como o lugar (CERTEAU, 1982). Por Lugar, Certeau (1982) entende uma posição ocupada pelo historiador, “lugar de produção socioeconômico, político e cultural” (p. 65). Seguindo com CERTEAU (1994), a reflexão volta-se para o lugar e para as estratégias. Por exemplo, a inserção das exposições e eventos nas programações e nas articulações das conferências, um espaço potente, em que vários educadores e intelectuais estariam reunidos para a Conferência, fortaleceria a chancela do lugar e da instituição que ela representa - Conferências/ABE. Ainda Certeau (1995, p. 222) o lugar pode ser entendido como “um conjunto de determinações que fixam seus limites em um encontro de especialistas e que circunscrevem a quem e como lhes é possível falar quando abordam a cultura entre si”. Nesse sentido, os promotores dos debates se valem do lugar que ocupam para circular as vantagens das ações propostas.
Assim, ao tratar das exposições pedagógicas e demais eventos como cenas, é necessário explorar também os cenários em que elas acontecem, ou seja, volta-se o olhar também para as CNEs e para sua instituição promotora - a ABE. Essa instituição social fornece os documentos para os procedimentos de análise, essenciais para a construção de uma narrativa relacionada às Exposições e Eventos. A segunda parte busca perceber a ABE, em uma abordagem transnacional, como um ponto de conexão no diálogo com as associações congêneres internacionais, constituindo-se, portanto, um lugar multiplicador, indutor e formador de possibilidades interpretativas e propositivas no cenário da educação. O aporte teórico da história transnacional para análise desta pesquisa ancora-se em autores como: Diana Gonçalves Vidal (2020), José D’Assunção Barros (2019) e Eckhardt Fuchs e Eugenia Roldàn (2019, 2021).
AS EXPOSIÇÕES PEDAGÓGICAS E OS EVENTOS EXIBIDOS NAS CONFERÊNCIAS
DA ABE
As exposições pedagógicas e eventos que ocorriam nas CNEs eram uma forma de divulgar do trabalho realizado na associação, tanto para os educadores como para a sociedade em geral. Além disso, elas exibiam elementos do provimento material, objetos escolares ofertados naquele momento por algumas casas de comércio. Algumas das Exposições organizadas junto às CNEs eram frutos de parcerias entre a ABE e outras instituições ou com Governo da cidade sede. Podemos citar como exemplo, em 1929, na III CNE, em que a exposição pedagógica chancelada pela ABE foi realizada pela Cia Melhoramentos. Já em 1942, no VIII CNE, em Goiânia, a II Exposição Nacional de Cartografia e Estatística organizada pelo IBGE com a colaboração da ABE; e em 1954, em Curitiba, na XI CNE, à Exposição Internacional do Café e a Feira de Curitiba, organizadas pelo governo de Bento Munhoz da Rocha para celebrar o Centenário do Paraná. Nesse sentido, é possível perceber que as exposições ocorrem em lugares diferenciados e dialogam para além do espaço das Conferências. Seriam esses eventos uma estratégia de projeção e de representação da instituição ABE?
Entre as inúmeras propostas e ações realizadas, a ABE promoveu 13 CNEs, em diferentes estados, configurando-se em instâncias de debates. A ABE, como organizadora era a responsável pela definição dos locais de realização dos congressos, pelos temas a serem debatidos, pela definição das pessoas envolvidas e devidas funções a serem exercidas durante o desenrolar dos encontros nacionais. Para além do plano dos debates dos temas essenciais voltados à educação brasileira, as conferências também se configuram em lugar de produção e divulgação para os diferentes suportes pedagógicos, por meio das Exposições Pedagógicas e eventos conforme a programação dessas Conferências. Ao mapear as Exposições e eventos inseridos nas programações das CNES, privilegiou-se aquelas que mais compareceram ao longo do tempo conforme destacamos: as exposições pedagógicas e escolares (10); as visitas às escolas consideradas referências (9); as apresentações de exercícios físicos em geral (5) e de canto orfeônico (2), entre outras que constituíram um amplo repertório pedagógico que divulgava as práticas educativas e produção material para a escola brasileira (ALLGAYER, 2020, p. 44). A composição material da escola, na retórica do ideal de modernidade, era exibida de muitas formas tais como investimentos em novos prédios escolares, no mobiliário e nos objetos escolares. A investigação sobre a dimensão material da escola é importante, pois, como observam Peres e Souza (2011) a materialidade pode ser compreendida como “o conjunto dos artefatos materiais em circulação e uso nas escolas, mediados pela relação pedagógica, que é intrinsecamente humana, revelador da dimensão social” (PERES, SOUZA, 2011, p.56).
As exposições pedagógicas e escolares, diferentes em seu conceito e organização, compareceram entre 1927 e 1954. As pedagógicas ofereciam suportes materiais, móveis, acessórios, objetos, artefatos, equipamentos, livros, mapas, materiais de uso em sala e tudo mais que fosse necessário ao ensino e aprendizagem. Muitas delas eram organizadas, com o aval da ABE, pelas editoras e casa de comércio deste tipo de material. Já as escolares5 apresentavam os trabalhos manuais realizados pelos alunos, que além de exibir uma parte do aprendizado, eram comercializadas gerando algum tipo de renda para a escola.
Na I CNE, em 1927, em Curitiba, educadores debateram sobre o Ensino Primário e Formação dos Professores. A exposição teve um caráter duplo: parte apresentava trabalhos escolares dos alunos, enquanto outra parte consistia em artefatos para o ensino de ciências. Mas a Exposição escolar exibida em 1927, em Curitiba, também pode ter recebido materiais didáticos vindos de outros lugares para compor o acervo. Uma carta6 do diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, professor Roquete Pinto, para o diretor da Escola Wenceslau Braz na época, professor Barbosa de Oliveira, sugere isso. Na carta, Roquete Pinto pede a Barbosa de Oliveira que leve uma caixa com dispositivos para o Ensino da História Natural e uma coleção de quadros murais e cartões editados pelo Museu Nacional para a exposição, como contribuição do Instituto para o evento. É possível que outras instituições ou até mesmo livrarias e fornecedores de materiais didáticos tenham enviado materiais para a exposição, que poderiam ter sido exibidos junto com os trabalhos manuais e escolares.
Peter Burke (2004) indica que as imagens são valiosas como testemunhos históricos, pois revelam não apenas os artefatos do passado, mas também sua organização e uso. As imagens fornecem elementos sobre como os objetos eram utilizados na época. (p. 121 e 122). Nesta perspectiva, na primeira imagem de uma parte da exposição de 1927, é possível observar os quadros de insetos, os animais empalhados (taxidermia) e os animais conservados em vidros (fixação úmida) para demonstração e fins didáticos das aulas de ciências.
Na II CNE, em 1928, em Belo Horizonte, os debates foram sobre a Educação Política, Sanitária, Agrícola, Doméstica e Ensino Secundário, também há registros de exposições escolares. Uma delas foi disposta em algumas salas do Grupo Afonso Penna e reuniu os trabalhos do estabelecimento, feitos em madeira, costura e argila, durante aquele ano. Já a III CNE, realizada em 1929, em São Paulo, com o tema Ensino Primário, Ensino Secundário, Ensino Profissional, Organização Universitária, segundo os Anais da conferência, apresentou uma gama de atividades. De acordo com o registro, não seria possível visitar todos os grupos escolares da capital, a Diretoria Geral de Inspeção organizou uma grande exposição de trabalhos gráficos e manuais, com quadros explicativos e estatísticos e processos informativos de várias escolas paulistas. Existe ainda o registro da Exposição de Material Escolar da Companhia Melhoramentos7 de São Paulo, conforme demonstramos abaixo.
Aspecto da Exposição de material escolar da Companhia Melhoramentos de São Paulo, na Rua Líbero Badaró, em 1929.
Outro aspecto da Exposição de material escolar da Companhia Melhoramentos de São Paulo, na rua Líbero Badaró, em 1929.
As imagens são ricas pois ilustram as exposições pedagógicas com uma variedade de suportes materiais, móveis, acessórios, objetos e equipamentos necessários ao ensino e aprendizagem. As figuras 2 e 3 retratam um estabelecimento que produzia e comercializava um rol de objetos direcionados para a escola primária, nas primeiras décadas do século XX. Tais imagens fornecem elementos dos materiais expostos para professores, congressistas e interessados em educação: manequins feminino e masculino para expor os uniformes escolares, brinquedos pedagógicos, jogos, mobiliário como cadeiras e carteiras adequadas ao Jardim de Infância, material para trabalhos manuais, material de Jardim de Infância Montessori, quadros de aprendizado do sistema métrico decimal, dos mapas geográficos, do mapa-múndi e os quadros da fauna brasileira, entre outros materiais. Outro ponto interessante a ser avaliado é a dimensão da exposição, que representa uma sala de aula ou jardim de infância em tamanho natural. Ainda é possível ler as frases dos cartazes promovendo os produtos, indicando a utilidade e os resultados obtidos, propagandeando os artefatos fabricados para ensinar: “Conheçamos o que é nosso. Essa coleção dá encanto as aulas e atrai o espírito dos jovens brasileiros para as possibilidades econômicas do país”, e “Um milhão de crianças brasileiras tem aprendido a calcular, rapidamente, por estes quadros!”.
Esses excertos sugerem referências indiretas ao nacionalismo e à modernidade pedagógica brasileira, onde os educadores e as reformas de ensino buscaram desenvolver uma identidade educacional que refletisse as particularidades do país. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932) exemplifica esse esforço nacionalista ao propor uma educação pública, gratuita e laica como um direito de todos os brasileiros, adaptando ideias progressistas às necessidades específicas do Brasil. Os signatários do manifesto buscavam promover uma educação inclusiva e igualitária, enraizada na cultura e nos princípios nacionais, visando fortalecer a identidade do país por meio da educação.
As frases propagandeadas podem auxiliar na reflexão sobre a importância que a dimensão material assume, no universo escolar, neste período. Se por um lado, as exposições escolares exibiam os trabalhos elaborados nas escolas como forma de atestar e legitimar a educação oferecida nessas instituições, por outro, as pedagógicas, ao apresentarem uma gama de objetos escolares, evidenciavam que a escola era um grande mercado em potencial (ALLGAYER, 2020, p.89).
Importante salientar que tais fontes acerca da materialidade das exposições pedagógicas e escolares, promovidas pela ABE, conduzem o nosso olhar interpretativo não somente para identificar por quais lugares e objetos estas atividades se apresentaram, mas fundamentalmente para compreender quais recursos e estratégias a ABE lançou mão para “dar-se a ver”, para se inserir e promover o debate sobre renovação pedagógica, considerando que a materialidade é constituidora dos processos de escolarização e da pedagogia moderna - escopo da movimentação educacional naquele período das primeiras décadas do século XX. Rosa Fátima de Souza Chaloba reforça que a
Cultura Material Escolar passou a ser utilizada na área da História da Educação [...] pela preocupação crescente dos historiadores em relação à preservação de fontes de pesquisa e de memória educacional em arquivos escolares, museus e centros de documentação. Ao recortar o universo da cultura material especificando um domínio próprio, isto é, o dos artefatos e contextos materiais relacionados à educação escolarizada, a expressão não apenas amplia o seu significado reinserindo as edificações, o mobiliário, os materiais didáticos, os recursos audiovisuais, e até mesmo as chamadas novas tecnologias do ensino, como também remete à intrínseca relação que os objetos guardam com a produção de sentidos e com a problemática da produção e reprodução social (Souza, 2007, p. 170. Destaques nossos).
Nas três conferências seguintes - a IV CNE, em 1931, no Rio de Janeiro; a V CNE, em 1933, em Niterói; e a VI CNE, em 1934, em Fortaleza também ocorreram exposições pedagógicas dedicadas aos objetos a serem usados nas escolas. Na IV CNE, em 1931, que debateu o tema Diretrizes para a Educação Popular, a Exposição pedagógica foi comunicada pelos jornais da época. Inclusive, a matéria publicada, transcreve parte do texto de uma circular escrita pelo então professor Fernando Magalhães, Presidente da Comissão Executiva da Conferência, endereçada às autoridades estaduais em administração e cultura, para que a Exposição em preparação fosse composta por materiais vindos de todas as unidades da Federação.
a Comissão Executiva da IV Conferência Nacional de Educação me determinou que, ao fazer-vos a comunicação supra, vos dirigisse também um cordial apelo afim de que esse Estado se fizesse representar condignamente na aludida Exposição. Fazendo-o com satisfação e na certeza de lograr um cordial acolhimento, peço ainda muitos elementos de contribuição, possíveis, por parte dos Estados, destacam-se 1º maquetes e conjuntos fotográficos demonstrando os aspectos interessantes do seu equipamento didático: 2º grandes artísticos cartogramas, esquemas, quadros estatísticos e gráficos sobre a sua organização escolar; 3º coleções, encadernações de luxo, da literatura escolar regional, nesta incluídas as obras editadas pelo próprio Estado, principalmente as de especial significação, como sejam, por exemplo, álbuns ilustrados, atlas corográficos, cancioneiros, hinários, livros de jogos infantis e etc.; 4º filmes cinematográficos representando paradas escolares ou festividades outras, de particular relevo, organizados pelos quadros escolares ou a que comparecimento destes tenham dado um alto significado (...).(JORNAL DO COMMERCIO. Exposição de Material e Livros Escolares - sua próxima inauguração na Capital. Rio de Janeiro. 20/08/1931, p. 03, cl. 04).
O texto divulgado na imprensa é um indicador do esforço feito para organizar a Exposição, ademais descreve quais materiais deveriam compor a mostra. A ABE usava ampla e publicamente a rede de contatos para agregar valor às suas ações. Podemos considerar esta uma ação estratégica da ABE na acepção formulada por Certeau, que a entende que envolve um lugar de poder, configurado por uma instituição ou um sujeito que gravite nesse espaço. Pelas palavras de Certeau (2014, p. 93), estratégia é
[...] o cálculo (ou a manipulação) das relações de forças que se torna possível a partir do momento em que um sujeito de querer e poder (uma empresa, um exército, uma cidade, uma instituição científica) pode ser isolado. A estratégia postula um lugar suscetível de ser circunscrito como algo próprio e ser a base de onde se podem gerir as relações com uma exterioridade de alvos ou ameaças.
No cruzamento com as fontes investigadas na ABE, uma carta do Ministério das Relações Exteriores, de 21 de agosto de 1931, encaminhada para Fernando Magalhães, indica algumas articulações para compor junto à Exposição da IV CNE, uma parte dedicada aos livros infantis. A carta é uma resposta a Fernando Magalhães, que havia escrito primeiramente solicitando aos “representantes diplomáticos na Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Peru, a inclusão nesse certame de livros infantis, didáticos e recreativos adotados naqueles países”. Nesta carta reposta, o então secretário geral, Cavalcanti de Lacerda, em nome do ministro de estado, confirma que faria o pedido às missões diplomáticas nos referidos países. Ainda há registro de correspondência datada de 20 de agosto de 1931, enviada pela Casa Carl Zeiss também para Fernando Magalhães, e revela que a Zeiss ofereceu uma gama de filmes denominados educativos alemães da Fábrica Ufa8(kulturfilms) sobre astronomia, botânica, zoologia etc. Ambos os registros evidenciam a circulação de material pedagógico, para compor as Exposições e Eventos, indicando que a ABE articulava com vários sujeitos e instituições na tentativa de ampliar o material exposto (ALLGAYER, 2020, p.94 e 95).
No ano seguinte ocorreu a V CNE, na virada de 1932 para 1933, em Niterói. Esta CNE promoveu estudos e debates com o tema Sugestões à Assembleia Constituinte. Neste assunto, sugeriu no anteprojeto da Constituição Brasileira de 1934, um plano de educação nacional. Uma matéria na Revista Economia Doméstica divulgou a Exposição anexa à V CNE, indicando móveis adequados para compor um Jardim de Infância moderno e propagandeava a Casa Cavalier9 e sua fábrica de móveis.
Revista Divulgando Aspectos da Exposição Pedagógica anexa à V Conferência, com destaque para o moderno mobiliário para o jardim de infância
Na página, há duas composições de móveis escolares. Mesmo sendo imagens destinadas à divulgação ou comercialização de produtos, é possível identificar um modelo pedagógico ou prática escolar, tomadas como exemplares, naquele período em que foram produzidas. A primeira foto, por exemplo, alude a uma sala de aula com quadro negro, armário, mesas e cadeiras. Este modo de organizar a sala e a turma remete ao ensino simultâneo. Este método de ensino exige que o quadro seja frontalizado com o professor como a figura central. Os trabalhos de Valdeniza Barra (2016; 2013) analisam a relação entre material e método como uma possibilidade para traduzir concepções de ensino, como a lousa colocada no centro da sala, poder ser inscrita no conjunto das práticas escolares, que consolidam esses modelos. A segunda foto destaca mesas redondas e triangulares, algumas cadeiras, em uma proporção reduzida, adaptada para as crianças menores, demonstrando uma preocupação com a mobília para os pequenos.
O Jornal do Comércio10 faz um convite a todos os interessados no ensino do Brasil a comparecer a Exposição, descrevendo-a minuciosamente. A organização da Exposição Pedagógica da V CNE previa exibir um grande conjunto de materiais e objetos voltados ao ensino. Segundo o jornal, a Exposição seria dividida em 5 seções: Jardim da Infância e escolas maternais; escolas primárias isoladas ou grupadas; escolas profissionais, normais e liceus; ensino profissional e documentos e legislações. Para cada seção lista-se um rol de utensílios utilizados na escola percorrendo as plantas dos prédios escolares, as maquetes, o mobiliário adequado aos tipos de salas e ao ensino, mapas, globos terrestres e celestes, quadros, quadros negros, jogos, aparelhos de ginástica, aparelhos e instrumentos para o ensino das ciências em geral, livros e catálogos de toda ordem, estatísticas escolares, legislações, programas e horários escolares entre outros itens.
Essa diversidade de materiais e objetos, divulgada pela imprensa, sugere que fosse instalada uma exposição que contemplasse o cenário educacional brasileiro almejado na época. Ainda pelo texto publicado no jornal, informa-se que os expositores poderiam agregar material de divulgação como catálogos e informações e exibição prática do uso dos aparelhos e equipamentos de ensino, durante todo o período em que a exposição estivesse aberta. A nota é rica em fornecer detalhes do que seria exposto e ajuda a pensar o tamanho e a diversidade desta exposição. Para além disso, evidencia uma rede de participação de empresas na composição de objetos postos em circulação. Vera Lucia Gaspar da Silva e Gizele de Souza (2015) ao examinarem a trajetória de pesquisa sobre cultura material escolar11, refletem que tratar de
provisão material da escola primária no Brasil é falar de desigualdades, de representações em disputa, de diferentes suportes materiais para o desenvolvimento de práticas educativas. Os vestígios materiais, operados de diferentes formas, podem oferecer à historiografia da educação informações preciosas acerca de um passado apagado pelo discurso político-pedagógico que prima por uniformizar o que, na estrutura material, é muito desigual e, por vezes, distinto (Gaspar da Silva; Souza, 2015, p. 474. Destaques nossos).
Podemos indicar que, ainda nos anos 30 do século XX, as Exposições da ABE com os temas da Educação Pré-Escolar (1934) e Educação Física (1935) organizaram exposições de arte, de livros e materiais de educação física. Mas em que medida tais exposições ajudam a entender o lugar da ABE e sua atuação político pedagógica? Entendemos que as exposições têm emissores e destinatários, têm representações e apropriações, têm tessitura que exprime dimensões pedagógicas, sociais e culturais. E como observa Certeau (2012) a cultura oscila em formas, das quais se expressa naquilo “que permanece; do outro que se inventa” (p.239).
Alguns exemplos podem ser vislumbrados desta “operação abeana”, por meio da VI CNE, no ano de 1934, em Fortaleza, com o tema Educação Pré-escolar, cuja organização produz a exposição de Arte Regional, na Escola Normal Pedro II. De acordo com os registros da ABE, a Exposição teria sido organizada pelo padre Helder Câmara12, integrante da comissão executiva do evento, e uma comissão de professoras. Também foram previstas exposição de trabalhos escolares cearenses e do interior do Maranhão e exposição de livros didáticos da Companhia Melhoramentos. Aqui novamente, a Cia Melhoramentos, comparece e organiza uma exposição do seu material que ocorre junto à de solenidade de inauguração da escola, com a presença de autoridades e do professorado.
Interessante aqui destacar como a ABE mobiliza livreiros, comerciantes para expor, propagandear, vender os apetrechos para o ensino nas escolas no Brasil a fora. Tal estratégia (no sentido certeauniano) também comparece em 1935, na VII CNE, no Rio de Janeiro, dedicado ao tema da Educação Física, com os investimentos da Secção de Educação Physica e Higiene (SEPH13) da ABE, na qual realiza-se uma exposição de livros e materiais de educação física. As exposições eram maneiras de exibir ao professorado e interessados em educação, os instrumentos educativos existentes, alguns deles utilizados nas escolas cariocas. Sobre a exposição de materiais de educação física deste congresso, alguns documentos do acervo da ABE, como ofícios, convites e agradecimentos encaminhados por Oswaldo Diniz Magalhães e Gustavo Lessa para algumas empresas inclusive estrangeiras, podem ser reveladores das articulações empreendidas para compor a exposição: Trojan Playground Equipment Manufacturing Company; A.G, Spalding Bros - Athletic Outfitters, W.B. Saunders Company Publishers e Casa Lohner. Nestes ofícios, outras empresas e associações também são citadas. A carta resposta da Trojan informa que a Associação Nacional de Recreação dos EUA oferecerá catálogos e revistas. Em uma das listas de materiais (ALLGAYER, 2020, p.103 e 104) localizada na ABE encontram-se entre o elenco, 18 obras e mais de uma dúzia de cartazes e folhetos, todos estrangeiros, voltados aos temas dos exercícios físicos, da saúde e da alimentação. Além disso, as articulações presentes nos ofícios e cartas trocados entre a ABE e as casas de comércio de material e equipamentos esportivos contribuem para refletir sobre a circulação de ideias e materiais entre Brasil e, principalmente, os EUA. Interessante pensarmos neste contexto de circulação de ideias e propostas pedagógicas, o que implica a rejeição da perspectiva de influência de um país sobre outro, mas de um “ambiente cultural transnacional”, conforme formula Jurgen Schriewer (2000, p. 108).
Nos anos 40, a ABE mantém a prática das Exposições articuladas aos seus congressos brasileiros e o que passa a mobilizar a entidade e seus proponentes são os temas da cartografia, estatística e saúde, como pode-se notar no VIII CNE, que debateu os estudos de Ensino Primário e a Educação Demográfica, em Goiânia, em 1942, onde ocorreu a II Exposição Nacional de Cartografia e Estatística, organizada pelo IBGE com apoio da ABE. Em 1945, na IX CNE, no Rio de Janeiro, com o tema Educação Democrática, segundo uma nota14 de agradecimento publicada na imprensa, ocorreu uma exposição chamada “Educação para a Saúde”, organizada pelo Serviço Especial de Saúde Pública (SESP).
O VIII CNE promoveu a II Exposição Nacional de Educação, Cartografia e Estatística organizada pelo IBGE15 com a colaboração da Associação Brasileira de Educação16. Este congresso ocorreu como uma espécie de pré-comemoração da inauguração oficial de Goiânia, nova capital do Estado do Centro Oeste. Foi realizado em meados de junho de 1942 e contou com a presença de profissionais do ensino, vindos de vários estados da Federação, para debater o tema do Ensino Primário e Educação Demográfica.
Hall e Stand Principal da Segunda Exposição Nacional de Educação, Cartografia e Estatística
A II Exposição Nacional de Educação e de Cartografia e Estatística foi composta por materiais do sistema estatístico, geográfico e censitário, apresentando um conjunto de quadros com vários aspectos da vida nacional, sistema cartográfico, 4 folhas da nova carta geográfica do Brasil, mapas e quadros do Brasil. Integraram os stands, referentes à esfera nacional, os Ministérios da Justiça; do Trabalho, Indústria e Comércio; da Agricultura, da Marinha e da Fazenda. Também o departamento de Imprensa e Propaganda e o Departamento Nacional do Café. Destaca-se que em relação à Educação o registro indica que os dados foram organizados pelo Serviço de Estatística da Educação e Saúde, com a exposição de gráficos do Ministério da Educação que demonstravam a disseminação do ensino no Brasil e a movimentação didática.
Na esfera regional, são descritos os esforços dos estados que contribuíram e exibiram stands compostos por elementos como gráficos, conjuntos fotográficos, mapas, coleções, trabalhos escolares entre outros. Estavam presentes o território do Acre e os estados do Rio Grande do Norte, Pará, Piauí, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Bahia, Paraíba, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e o Rio Grande do Sul. Houve também a contribuição do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos para a II Exposição e, posteriormente, a Biblioteca Pública de Goiânia, um aporte de 1022 volumes:
Esse material, que será doado, ao encerrar-se a Exposição, a Biblioteca Pública de Goiânia, para nela constituir uma “Seção de Educação”, foi gentilmente oferecido pelas Casas Publicadoras Brasileiras 9 volumes; Companhia Editora Nacional 151 volumes; Edições Melhoramentos 138 volumes; Editora Anchieta Ltda., 22; Editora Vozes Ltda., 170 volumes; Livraria Francisco Alves, 100; Livraria Universal, 10; Papelaria Rio Branco, 25; Revista Sítios e Fazendas,10; W.M. Jackson e Inc. 18 e Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, 400. A Empresa Brasileira Fornecedora Escolar Ltda. ofereceu para o mesmo fim os móveis necessários e que figurarão também na Exposição. O INEP preparou para distribuição no Congresso de Educação de Goiânia, um catálogo contendo a relação de todo o material oferecido (DIARIO DE NOTÍCIAS. A II Exposição Pedagógica a realizar-se em Goiânia - contribuição enviada num total de 1.022 volumes. Rio de Janeiro, 21/06/1942, p.04, cl. 5).
Pelas fontes aqui mobilizadas visualiza-se a participação das livrarias, editoras, empresas comerciais não só fornecendo materiais a serem exibidos nas referidas Exposições, mas compondo junto a ABE e a outras instâncias públicas, um repertório material e simbólico para prover e qualificar o que se entendia naquele momento histórico por renovação pedagógica.
Já em 1954, na XI CNE, novamente em Curitiba, debatendo o tema a Divulgação das Nações Unidas e Financiamento do Ensino, os congressistas foram levados para apreciar a Exposição Internacional do Café e a Feira de Curitiba, no bairro Tarumã. Em 1953 a cidade de Curitiba é organizada para a Comemoração do Centenário de Emancipação Política do Paraná. Entre as celebrações, dois grandes eventos foram preparados pelo governo na época sob a tutela de Bento Munhoz da Rocha Neto: O Congresso Mundial de Café, que iniciou em 11 de dezembro de 1953 e encerrou no dia 19 do mesmo mês e a Exposição Internacional do Café, que iniciou em 19 de dezembro de 1953 e perdurou por vários meses do ano de 1954.
Estes eventos tiveram a participação de delegações internacionais provenientes da Europa, Estados Unidos e das Américas Central e Sul. Pelo programa da XI CNE, os congressistas foram convidados a participar da Instalação do Centro de Demonstração de Ensino Primário, a visitar o Grupo Escolar Barão do Rio Branco e a Creche Ana Messias e ainda a visitar a Exposição Internacional do Café e a Feira de Curitiba, no bairro Tarumã. As Exposições e a Feira eram consideradas vitrines do Paraná, pois abrigaram exposições industriais e comerciais que no seu caráter didático pretendiam exibir o desenvolvimento econômico do Estado naquela época. Indústria, comércio, história, cultura e arte foram exibidas.
As exposições pedagógicas atreladas as CNES estiveram presentes em 10 das 13 Conferências organizadas pela ABE. Elas podem ser vistas como constituidoras de um amplo repertório pedagógico, com alguns aparatos e elementos da cultura material que circularam e foram exibidos.
Entendemos que examinar este repertório pedagógico - fruto das exposições e conferências da ABE - nos permite identificar o lugar e as estratégias do legado que esta Associação Brasileira de Educação produzira, lugar este permeado por representações na esteira daquilo que formula Chartier, sustentando que
[...] as percepções do social não são de forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a impor uma autoridade à custa de outros, por elas menosprezados, a legitimar um projecto reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos as suas escolhas e condutas (Chartier, 1988, p. 17).
A ABE E O DIÁLOGO COM ALGUMAS ASSOCIAÇÕES CONGÊNERES
A ABE dialogou com algumas associações congêneres e cruzou fronteiras, fomentando a circulação de sujeitos, instituições, ideias e objetos, bem como as trocas entre os educadores, por meio de redes compartilhadas e possíveis contribuições para a renovação do campo pedagógico. A ABE ocupava um espaço importante para o debate e elaboração de ideias relativas à condução da política educacional do Brasil. Sua atuação se dava na realização de debates, inquéritos, pesquisas, exposições, bibliotecas, publicações, conferências, intercâmbios e missões culturais e cursos que contribuíram para a educação nacional. Ao investigar os modos de atuação da (ABE), em uma abordagem transnacional, percebe-se que ela se configura em um ponto de conexão constituindo-se, portanto, como um lugar multiplicador, indutor e formador de possibilidades interpretativas e propositivas no cenário da educação.
A ABE também pode ser considerada como um dos principais agentes divulgadores da ciência nos anos de 1920. Entre 1926 e 1930 a Associação realizou inúmeras palestras, cursos e conferências voltadas a divulgação científica. Ainda em seus projetos, a ABE teve inciativas voltadas a renovação educacional brasileira, a formação dos professores com investimentos em viagens pedagógicas para outros países. Em 1927, a ABE encaminhou dez professores para representar o Brasil no IV Congrès International d’Education Nouvelle17, em Locarno, na Suíça, que intentava propagar os princípios da educação moderna. Entre os professores estava a educadora Laura Jacobina Lacombe, integrante da Seção de Cooperação da Família que havia estudado no Instituto Jean Jaques Rousseau, em 1925, onde conheceu Bovet, Claparède e Ferrière, figuras expressivas do movimento da Educação Nova.
O Movimento Internacional da Escola Nova emergiu na Europa e EUA no final do século XIX, quando vários pensadores buscavam renovar as ideias da escola tradicional dominante, propondo uma corrente inovadora com métodos e projetos em que a criança e não mais o professor, seria o centro do processo pedagógico. Este movimento também propunha que a educação deveria ser laica, gratuita e obrigatória. O fim da I Guerra Mundial foi um momento importante para a articulação desse ideário. A corrente com representantes em vários lugares do mundo queria fazer circular novas ideias pedagógicas. Isso influenciou as diretrizes e práticas que buscavam renovar o sistema de ensino na primeira metade do século XX. O Movimento Internacional da Educação Nova extrapolou as fronteiras nacionais e internacionais, circulou em congressos, em associações e institutos de educação. Foi dado a ver por vários caminhos: publicações em revistas pedagógicas como Pour l'Ère Nouvelle e Bulletin de la Nouvelle Éducation na França; Der Neue Weg e Neue Bahnen na Alemanha e na Áustria; New Era nos países anglo-saxônicos (Brochures d'éducation nouvelle populaire, 1946, p. 01), exibido em filmes; apresentado em visitas as escolas tidas como referência e propagandeado em cartões postais. Circulou entre sujeitos que formaram redes, conectando nações ao tema. Diana Vidal e Rafaela Rabelo evidenciaram conexões, encadeamentos e entroncamentos para se refletir sobre o movimento internacional da Educação Nova (2020), a partir de uma perspectiva transnacional que auxiliam a pensar na circulação de sujeitos e objetos e na importância de explorar as redes (networks) na investigação.
A dimensão pedagógica desses eventos não passava despercebida dos educadores reunidos na ABE. Esses congressos internacionais se constituíram em palco para debates e diálogos acerca de várias ideias educacionais no início do século XX. Umas das mais conhecidas e estudadas dentro da história da educação é o movimento internacional da Educação Nova que circulou e foi apropriado em diferentes lugares do mundo, no período entre guerras, incluindo o Brasil. A Educação Nova propunha um rompimento com as estruturas educacionais, consideradas tradicionais, e fazia circular novas ideias pedagógicas.
Ao investigar as correspondências enviadas e recebidas no período compreendido entre 1925 e 1946 arquivadas na ABE, percebemos a capilaridade dos debates referentes à educação no Brasil feitas entre ABE e algumas outras associações congêneres. Partindo da ideia de lugar e de estratégias dadas por Certeau (1982, 2014), admite-se que a ABE se constituiu em um espaço privilegiado que balizava o discurso com o dito e não dito. Nessa leitura, as cartas podem indicar o dito, aquilo que está escrito, mas também o não dito, aquilo que pode sugerir um indicativo do que teria sido. Para além disso, neste trabalho a carta é fonte e pode ser considerada também como objeto de investigação. O gênero epistolar (MALATIAN, 2011; DANTAS, 2011) pode ser visto como testemunha da rede de comunicação entre as pessoas e as associações. A história se produz a partir dos documentos escritos em determinadas épocas. Assim, o estudo dessas correspondências, pode indicar a composição de uma rede de cumplicidade entre as associações congêneres, bem como uma rede de mediadores (sujeitos/fornecedores) de material para a ABE e seus eventos. Ainda, a correspondência é uma comunicação privada entre os interlocutores e pode trazer articulações, estratégias, lutas de representações.
Neste estudo privilegiamos as cartas enviadas/recebidas pela ABE, nas quais ela dialogava com várias associações congêneres internacionais, na tentativa de mapear as conexões transnacionais que possam ter ocorrido por meio da ABE. Entre elas elencamos algumas (em ordem alfabética) no intento de demonstrar parte destes atores envolvidos: Bureau Internacional d´Éducation (BIE), Confederación Americana del Magisterio (CAM) Consejo Nacional de Enseñanza Primaria y Normal, Carnegie Endowment for International Peace, Institute of Internacional Education (IIE), Instituto Internacional de Cooperação Intelectual (IICI), Instituto Jean-Jacques Rousseau (IJJR), Internacional de Magistério Americano (IMA), National Education Association (NEA), New Education Fellowship (NEF), União Pan Americana (UPA) e a World Federation of Education Associations (WFEA). Aqui já é possível visualizar alguns exemplos em que a ABE manteve diálogo com diversas associações congêneres provenientes da Europa, dos Estados Unidos da América e América Latina. Tais associações dialogavam para trocar informações sobre conhecimento pedagógico que mobilizassem saberes, práticas, materiais de ensino e aproximavam os educadores que atuavam para expandir e aperfeiçoar os sistemas educacionais dos seus respectivos países. Nas correspondências trocadas, uma ampla gama de temas foi abordada, abrangendo desde organizações de pessoas até detalhes sobre viagens, representações em eventos internacionais, intercâmbios de materiais educacionais, e metodologias de ensino.
Entre os assuntos tratados nas correspondências encontram-se as mais variadas articulações envolvendo pessoas, viagens, representações, intercâmbios, permutas de materiais para o ensino, eventos internacionais, metodologias de ensino. Também, não faltaram discussões sobre a ideia de uma educação para a paz, reflexo dos horrores da Primeira Guerra Mundial e dos sinais iniciais da Segunda Guerra Mundial. Esses diálogos sobre a paz refletiam a preocupação global com a construção de um mundo mais pacífico e justo por meio da educação. O professor Francisco Venâncio Filho, um dos presidentes da ABE escreveu um breve18 histórico nos 15 anos de existência da Associação, que indica parte deste diálogo
[...] Promoveu igualmente no Rio e em alguns Estados "Semanas de Educação", de acordo com a World Federation of Education. Interveio nos debates de todas as questões de educação, procurando esclarecer os assuntos, colaborar com os poderes públicos, objetivo e impessoalmente, como quando da Reforma da Instrução Publica no Distrito Federal de 1928 e dos Trabalhos da Constituinte de 1934[...]. Manteve-se a ABE em relação com associações congêneres no estrangeiro, tomando parte em Congressos, procurando estabelecer intercambio, não só de trabalhos, como de professores tendo colaborado na viagem de 10 brasileiros aos Estados Unidos, a convite da Carnegie Endowment [...] (VENÂNCIO FILHO, ABE, 1939, p.1 e 2).
Em relação a capilaridade da ABE entende-se que a partir da análise desses documentos, é possível perceber uma rede de cumplicidade em que a ABE desempenha um papel representativo, promovendo, em certa medida, a difusão e o intercâmbio de conhecimentos científicos, o diálogo entre associações, professores e governos, bem como a circulação de pessoas, materiais de ensino, uso escolar e métodos de ensino. Para Eckhardt Fuchs e Eugenia Roldán (2021) um caminho possível para reflexão é entender que as conexões “atravessaram fronteiras”, com a circulação internacional de livros, artefatos e até mesmo sujeitos, permitindo investigar pontos de conexão que podem ter contribuído, por meio da ABE, para uma renovação escolar.
Considerações Finais
Ler a ABE é tentar acessar a enunciação deixada nos rastros e indícios na história e no legado da associação. Ler com um olhar retrospectivo, quase sempre, estabelece alguns sentidos, constrói um conhecimento factível com passado e se aproxima da representação do que poderiam ter sido as Exposições e Eventos, vinculados às Conferências Nacionais de Ensino, promovidas pela ABE. Sobre a cultura material escolar presente nesse amplo repertório pedagógico, considera-se importante destacar que para perceber sua visibilidade é preciso se deslocar do objeto em si e, tentar ampliar a lente, para os vestígios, os sintomas, as pistas e indícios que perseguimos, no intento de compreender como elas podem estar sedimentadas em práticas e materiais que compõe o universo escolar. A ampliação da lente permite, por exemplo, identificar nas Exposições os sujeitos, individuais e coletivos, que forneceram materiais para esses eventos, mas também as conexões, ou seja, os modos de mobilização para que determinados agentes e comerciantes ali estivessem presentes, com o amparo da ABE. Ainda, tais materialidades e eventos podem nos ajudar a entender dimensões da “cultura empírica” das instituições educativas (ESCOLANO BENITO, 2010, p.14), bem como sobre tradições pedagógicas.
Ler a ABE é também investigar esse lugar de saber e poder, de “táticas e estratégias”(Certeau, 2014), esse lugar ocupado por ela, em que assume importância promotora no campo educativo. Dessa forma, ao investigar as correspondências que dão vida a rede de interlocução da ABE, bem como perseguir a teia de relações que se constituem pelo lugar da ABE, é uma tentativa de adentrar as táticas e as estratégias mobilizadas pela entidade.
Destacar a atuação e capilaridade da ABE, por meio das suas exposições, eventos e articulações com redes de livreiros, comerciantes, editoras, fornecedores de materiais didáticos e diversas associações internacionais de educação permite desvelar práticas culturais e pedagógicas que se expressam pela materialidade escolar.
Referências
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1
Alguns documentos e bibliografias foram localizados no período do estágio de doutoramento, na Itália, usufruído por uma das autoras - Rochele Allgayer - no período de 2023-2024.
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2
Usaremos a sigla CNEs para se referir à Conferência ou Congresso Nacional de Educação. Doze eventos foram realizados entre 1928 e 1967, sendo que em 1935 e 1942 o título mudou para Congresso Nacional de Educação, sem alterar a sequência cronológica. Fonte: ABE.
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3
Sobre o Manifesto dos Pioneiros ver Libânia Xavier (2002), indicado nas referências.
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4
Sobre o tema, consultar a dissertação de uma das autoras - Rochele Allgayer - intitulada “As Exposições e Eventos nas Conferências Nacionais de Educação: um repertório pedagógico para se dar a ver (1927-1956)”, que investigou as Exposições e Eventos, ocorridos na CNEs, como possíveis constituidoras de um amplo repertório que divulgavam as práticas educativas e de produção material para a escola brasileira, disponível nas referências.
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5
Ver o trabalho Ritos e artefatos escolares: as exposições das escolas primárias do Paraná (1912 a 1927), Fátima Branco Godinho de Castro, disponível nas referências.
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6
A carta está descrita na página 305/306 da obra de Maria José Franco Ferreira da Costa, disponível na bibliografia.
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7
A Companhia Melhoramentos de São Paulo, fundada em 1890, inicialmente focada em impressão e encadernação, direcionou seus investimentos a partir de 1915 para a edição de livros e produção de materiais escolares diversos, visando apoiar práticas escolares e estimular novas demandas de consumo. Este movimento ocorreu em meio à expansão da escola primária em São Paulo. Fonte: Cia Melhoramentos de São Paulo.
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Em 1917, o Estado alemão fundou a UFA (Universum Film Aktiengesellschaft), que consolidou a produção, distribuição e exibição de filmes na Alemanha ao incorporar as principais companhias cinematográficas, como Pagu de Paul Davidson, Messter de Oskar Messter e Nordisk de David Oliver, junto com várias pequenas produtoras. Tornou-se o maior conglomerado da Europa. Fonte: MASCARELLO, Fernando, p.65.
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9
Registros da Casa Cavalier na Hemeroteca Nacional Digital indicam um comércio de materiais para desenho, pintura, artes aplicadas, engenharia, escolas e papelaria, localizada na rua José, número 63. Vinculada ao nome B. Saraiva & Cia, conforme anúncios disponíveis.
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Para ler a matéria na íntegra visite o JORNAL DO COMMERCIO. V Conferência Nacional de Educação. Rio de Janeiro com data de 11/12/1932, p. 7, cl. 4 e 5, disponível na Hemeroteca Nacional Digital.
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Vinculado ao projeto “História da Escola Primária no Brasil: investigação em perspectiva comparada em âmbito nacional (1930-1961)”, sob coordenação da professora Rosa Fátima de Souza Chaloba.
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Dom Hélder Câmara (1909-1999) foi um bispo católico brasileiro, ordenado padre em 1931. Inicialmente associado à Ação Integralista Brasileira (AIB), desvinculou-se em 1937 com o início do Estado Novo. Trabalhou na educação no Ceará e no Rio de Janeiro, destacando-se em atividades sociais e educacionais. Durante as décadas de 1930 e 1940, o Brasil passava por transformações políticas e sociais significativas, com a Era Vargas (1930-1945) com a centralização do poder e tentativas de modernização do país. A Igreja Católica também se reorganizava para responder aos desafios sociais e políticos da época. Hélder Câmara teve um papel significativo na educação no Brasil, especialmente por meio de sua atuação com a Ação Católica e outros movimentos eclesiais voltados para a formação e conscientização da juventude. Embora Hélder não tenha sido um teórico pedagógico ou educador no sentido tradicional, ele compartilhava muitas das preocupações e aspirações da militância pedagógica católica, especialmente em relação à importância da educação integral e da formação moral e cidadã dos alunos. Foi um dos fundadores da CNBB (1952) e do CELAM (1955). Defensor dos direitos humanos durante a ditadura militar, recebeu prêmios como o Martin Luther King Jr. e o Prêmio Popular da Paz da UNESCO, sendo indicado quatro vezes ao Nobel da Paz.
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A SEPH funcionou por onze anos (1926-1937). Vários sujeitos traziam à Secção as propostas para debater os assuntos relativos à educação higiênica e à Educação Física, constituindo-se como um lugar de trocas plurais e orientadas por variados métodos e modelos pedagógicos, gestados desde o século XIX, em diferentes países da Europa e nos Estados Unidos: Fonte: LINHALES, 2009, indicado nas referências.
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Nota publicada no O Jornal, do Rio de Janeiro, em 01/07/1945, número de página ilegível, na edição - 07722 (1), intitulada Moções aprovadas pelo Nono Congresso de Educação, disponível na Hemeroteca Nacional Digital.
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15
O Instituto Nacional de Estatística foi criado em 1934 e consolidado em 1936, subordinado à Presidência da República. Em 1937, o Conselho Brasileiro de Geografia foi incorporado, formando o IBGE. Nos anos 30, os 'congressos nacionais de educação' valorizavam a 'estatística educacional', que dependia da estatística territorial. Mario Augusto Teixeira de Freitas propôs a criação do IBGE para integrar pesquisas estatísticas e geográficas. Fonte: Nova Imagem, maio 1986, p.29. ABE.
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A I Exposição Nacional de Educação e Estatística, em 20 de dezembro de 1936, foi resultado de um convênio intergovernamental estabelecido durante a presidência do professor Fernando Magalhães em 1931. Originado das sugestões da IV Conferência Nacional da Educação, envolveu a colaboração entre a União dos Estados, o Distrito Federal e o Território do Acre para o levantamento de estatísticas educacionais e correlatas. Isso permitiu um conhecimento preciso e regular de todos os aspectos da vida nacional relacionados à educação e cultura. Fonte: "A Primeira Exposição Nacional da Educação e Estatística - notícia e discurso inaugural", Rio de Janeiro, 1941, ABE.
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Citamos aqui alguns eventos internacionais: Montreux (1923), Heidelberg (1925), Locarno (1927), Elsinore (1929), Nice (1932) e Cheltenham (1936) (BREHONY, 2004) Fonte: Ver texto de Vidal e Rabelo (2019), inserido nas referências.
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Ernesto de Souza Campos, representante do Ministério da Educação na Comissão do Plano da Universidade do Brasil, solicitou um breve histórico da ABE para inclusão em um livro da série "Histórico das Instituições do Brasil". Isso refletia o interesse em destacar a contribuição da ABE para a educação superior no contexto brasileiro, conforme registros de 1939.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
17 Mar 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
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Recebido
29 Fev 2024 -
Aceito
17 Jun 2024






Fonte: Associação Brasileira de Educação.
Fonte: Companhia Melhoramentos de São Paulo (C13-E249).
Fonte: Companhia Melhoramentos de São Paulo (C13-E249)
Fonte: Revista Vida Doméstica, ano 1933\Edição 00179. Biblioteca Nacional Digital
Fonte: Anais do VIII Congresso Brasileiro de Educação de Goiânia, junho de 1942, p. 57.