Resumo
O presente texto tem como objeto de análise uma instituição educativa mineira, fundada em 1750 na cidade de Mariana, Minas Gerais, denominada 'Seminário Episcopal de Nossa Senhora Boa Morte'. Visa apresentar os principais desdobramentos da história dessa instituição entre os anos de 1750 a 1835. Por ser uma instituição educativa confessional, o desenvolvimento deste trabalho acompanhará os períodos dos bispos da diocese de Mariana, que tiveram impacto decisivo no funcionamento das atividades educacionais dessa instituição. Utilizou-se como fontes primárias cartas, ofícios e regulamentos. O texto conta com uma introdução, em que se situa o seminário no contexto da formação sacerdotal no Brasil Colonial, e três partes. A primeira trata da fundação e dos primeiros anos de funcionamento. A segunda aborda o seminário no período dos procuradores e no final do século XVIII. E a terceira apresenta o seminário nas primeiras décadas do século XIX.
Palavras-chave:
história da educação; instituição educativa; seminário; religião
Resumen
El presente texto tiene como objeto de análisis una institución educativa minera, fundada en 1750 en la ciudad de Mariana, Minas Gerais, denominada 'Seminario Episcopal de Nuestra Señora Boa Morte'. Tiene como objetivo presentar los principales desarrollos de la historia de esta institución entre los años 1750 y 1835. Al ser una institución educativa confesional, el desarrollo de este trabajo acompañará los períodos de los obispos de la diócesis de Mariana, quienes tuvieron un impacto decisivo en el funcionamiento de las actividades educativas de esta institución. Se utilizaron como fuentes primarias cartas, oficios y reglamentos. El texto cuenta con una introducción, en la que se sitúa el seminario en el contexto de la formación sacerdotal en el Brasil Colonial, y tres partes. La primera trata sobre la fundación y los primeros años de funcionamiento. La segunda aborda el seminario en el período de los procuradores y a finales del siglo XVIII. Y la tercera presenta el seminario en las primeras décadas del siglo XIX.
Palabras clave:
historia de la educación; institución educativa; seminario; religión
Abstract
The present text aims to analyze an educational institution in Minas Gerais, founded in 1750 in the city of Mariana, Minas Gerais, called 'Episcopal Seminary of Our Lady of the Good Death.' It aims to present the main developments in the history of this institution between the years 1750 and 1835. As it is a confessional educational institution, the development of this work will follow the periods of the bishops of the Diocese of Mariana, who had a decisive impact on the functioning of the educational activities of this institution. Primary sources such as letters, official documents, and regulations were used. The text includes an introduction, which situates the seminary in the context of priestly formation in Colonial Brazil, and three parts. The first addresses the foundation and the early years of operation. The second discusses the seminary during the period of the procurators and the late 18th century. And the third presents the seminary in the first decades of the 19th century.
Keywords:
history of education; educational institution; seminary; religion
Résumé
Le présent texte a pour objet d'analyse une institution éducative minière, fondée en 1750 dans la ville de Mariana, Minas Gerais, appelée 'Séminaire Épiscopal de Notre-Dame de la Bonne Mort'. Il vise à présenter les principaux développements de l'histoire de cette institution entre les années 1750 et 1835. En tant qu'institution éducative confessionnelle, le développement de ce travail suivra les périodes des évêques du diocèse de Mariana, qui ont eu un impact décisif sur le fonctionnement des activités éducatives de cette institution. Des lettres, des documents officiels et des règlements ont été utilisés comme sources primaires. Le texte comprend une introduction, qui situe le séminaire dans le contexte de la formation sacerdotale dans le Brésil colonial, et trois parties. La première traite de la fondation et des premières années de fonctionnement. La deuxième aborde le séminaire durant la période des procureurs et à la fin du XVIIIe siècle. Et la troisième présente le séminaire dans les premières décennies du XIXe siècle.
Mots-clés:
histoire de l'éducation; institution éducative; séminaire; religion
Introdução1
O Seminário Nossa Senhora da Boa Morte, enquanto instituição de formação sacerdotal, assim como os outros Seminários do Brasil, surgiram a partir das instruções para a formação sacerdotal determinada pelo concílio de Trento (1545-1563). O concílio, conhecido por estimular a contrarreforma católica, determinou a criação de escolas especificas para a formação do clero, os Seminários (Freitas, 1979, p.30). No Brasil, o primeiro com esse viés formativo foi o Seminário São José, no Rio de Janeiro, fundado em 5 de setembro 1739. Estabelecido em 17 de abril de 1749, o Seminário de Belém do Grão-Pará foi o segundo fundado nos moldes tridentino e o terceiro, de 20 de dezembro de 1750, foi o Seminário Nossa Senhora da Boa Morte, em Mariana, Minas Gerais. No período colonial, dois outros Seminários ainda foram fundados no Brasil: o Seminário Nossa Senhora das Graças, em 16 fevereiro de 1800, na diocese de Olinda, e o Seminário São Dâmaso, fundado em 1815, na Arquidiocese de São Salvador, na Bahia (Freitas, 1979, p. 159-161).
A formação do clero, no Brasil, antes da criação dos Seminários no século XVIII, ficou quase exclusivamente sob a responsabilidade das ordens religiosas e os jesuítas, com seus colégios, foram um dos grandes responsáveis pelo processo educacional no Império (Carrato, 1968, p. 102). Contudo, segundo Freitas (1979, p. 133), o conceito “Seminário”, no período colonial, tem vários significados. A palavra poderia designar, além de casa de estudos, orfanatos e escolas onde se ensinavam os indígenas. Portanto, “alguns dos Colégios Jesuítas chamados Seminários não tinham o mesmo formato dos Seminários diocesanos exigidos pelo Concílio de Trento” (Jardilino; Pereira, 2021, p. 6). Antes da fundação do Seminário do Rio de Janeiro, em 1739, os Seminários jesuítas existentes no Brasil não tinham como objetivo específico a formação do clero. Por exemplo, o Seminário de Belém, de 1686, era uma casa de estudos com o propósito de formar os filhos dos portugueses (Oliveira, 2014, p. 200-201).
Além de ser o terceiro mais antigo do Brasil, nos moldes tridentino, o Seminário Nossa Senhora da Boa Morte (Seminário de Mariana) é considerado uma das primeiras instituições escolares mineiras. Temos notícias que, antes dele, existia o Recolhimento Nossa Senhora de Macaúbas, que era uma casa de educação de meninas “fundado em 1716, pelo Beato Félix da Costa” (Rocha, 2008, p. 81); e a Casa de Oração do Vale de Lagrimas, também de educação feminina, situada próxima a Vila de Minas Nova, na região norte de Minas Gerias, fundada na década de 1730 (Lage, 2019, p.10).
Este texto faz parte de uma discussão sobre a cultura escolar do Seminário de Mariana. Atenta-se, assim, para os fatores que impactam o funcionamento da instituição, como os atores pedagógicos, sociais e políticos, os espaços escolares e o contexto histórico. Dominique Julia (2001), em seu texto A Cultura Escolar como Objeto Histórico, demonstra que a cultura escolar, em cada momento da história, não pode ser estudada sem levar em consideração as relações pacíficas e conflituosas com as culturas contemporâneas (cultura religiosa, cultura política e cultura popular).
A fundação e os primeiros anos de funcionamento
A diocese de Mariana, primeira de Minas Gerais, foi criada em dezembro de 17452. “Dividindo os bispados do Rio de Janeiro, o papa Bento XIV criou as primeiras dioceses não litorâneas na América Portuguesa, dentre elas a de Mariana” (Boschi, 2011, p. 13). O Seminário de Nossa Senhora da Boa Morte foi implantado por Dom Frei Manuel da Cruz em 20 de dezembro de 1750. Na Bula de Bento XIV, de 1745, referente à eleição de Dom Frei Manuel da Cruz para o bispado de Mariana, já aparecia a exigência para a abertura de um Seminário. Não é por acaso que, somente cinco anos separam a criação da diocese da criação do Seminário. Segundo as palavras da bula papal: “Queremos, finalmente, que ponhas particular empenho em dotar a tua diocese de um seminário, como o exige o Sagrado Concílio de Trento [...]” (Trindade , 1953, p. 95).
Primeiro bispo da diocese de Mariana, Dom Frei Manoel da Cruz3, exerceu seu episcopado em Mariana até 1764, ano de sua morte. Nesse período, vários trabalhos foram desenvolvidos pelo prelado com o intuito de estruturar a recém fundada diocese. Após sua posse, o bispo nomeou os primeiros cônegos e funcionários da catedral, constituiu o Cabido4 para lhe auxiliar na administração da diocese; realizou visitas episcopais, criando novas paróquias e erigindo capelas, concluiu a construção da catedral em Mariana5 e fundou o Seminário Nossa Senhora da Boa Morte para a formação do clero marianense. Além disso, ordenou 227 eclesiásticos (Oliveira, 2001. p. 49-59).
É possível observar um grande esforço do prelado para estruturar o Seminário nos primeiros anos da existência dessa instituição. Em 1753, segundo Trindade (1929, p. 768), o Seminário já possuía como patrimônio, além do prédio onde se ministravam as aulas e alojavam os alunos, três casas (que rendiam aluguéis) e duas chácaras.
A necessidade de uma instituição educacional em Mariana ultrapassava as necessidades da igreja. Isso nos é mostrado em uma carta de Dom Frei Manoel dirigida ao rei em 1747: “é ainda mais precisa a fundação de um seminário pelas grandes despesas, que fazem os moradores daquela capitania em mandarem seus filhos aos estudos do Rio de Janeiro, e da Bahia, levo grande desejo de fundar também naquela cidade um seminário” (Carta para El-Rei, 1747). Tal fato faz do Seminário da Boa Morte a primeira instituição de ensino público mineira. Segundo Carrato (1968, p. 106), “o estudo público do Seminário de Nossa Senhora da Boa Morte foi também o primeiro a se instalar em Minas, facultando aos seus alunos a preparação para os cursos de Coimbra, que essa era a intenção da grande maioria de seus pais”.
Os primeiros bens do Seminário foram doados por José de Torres Quintanilha6 que se despojou de todos os seus haveres em benefício do Seminário e se tornou um dos primeiros alunos daquela instituição. Entre os bens doados estava “uma chácara, com sete moradas de casas a ela pertencentes na (rua da) Olaria desta cidade” (Escritura de Doação, 27 de fevereiro de 1749). A partir de 1753, tal chácara passou a ser o Palácio Episcopal utilizado por Dom Frei Manuel da Cruz (Trindade, 1953, p. 119). Todos os bispos “até Dom Viçoso (este até 1850) pagaram ao seminário os aluguéis do palácio que foram de 200 a 400$000 anuais” (Trindade, 1951, p. 31). Já as instalações físicas do Seminário foram feitas em uma outra chácara adquirida por 12 mil cruzados nas proximidades da cidade de Mariana.
Silvério Gomes Pimenta (1840-1922), que foi aluno e professor do Seminário, padre e bispo da diocese de Mariana (bispado: 1896 a 1922), considerado também o principal biografo de Dom Viçoso, faz uma descrição detalhada de como era o prédio do Seminário.
Ao tomar conta da Diocese o Sr. D. Antônio, a casa do Seminário continuava como a deixara seu fundador o Sr. D. Fr. Manoel da Cruz, e era da seguinte forma: media de frente, que é sobrada, cerca de 150 palmos, incluído o vão ou o beco de três braças, ou pouco menos, que se abre à direita de quem olha para a Capela, ficando esta no meio dos dois lanços do edifício a poente. Das duas extremidades dessa frente corriam para o sul outros dois lanços, estendendo cada um 250 palmos com pouca diferença, cujas pontas eram ligadas pela contrafrente, que desce de nascente a poente também 150 palmos, como a frente à qual respondia, dando ao edifício forma de um quadrângulo com as dimensões laterais que ficavam declaradas. No meio jazia uma grande área, ou pátio descoberto, onde os seminaristas podia recrear-se jogando, correndo, ou passeando folgadamente nas horas de descanso dos trabalhos intelectuais. A parte da casa a direita da igreja era reservada para as aulas; a da esquerda com os lanços dos lados eram repartidos em quatro os cubículos, cada um dos quais acomodava três ou quatro alunos, abrindo suas janelas para o pátio, e as portas para um corredor, que os perpassava todos e cercava toda a casa ao redor, menos na frente. Na parte reversa deste quadrângulo se encontrava no meio outro lanço de edifício, estendendo contra o sul, como se fosse o cabo, onde era e é ainda hoje o refeitório cozinha e despensa (Pimenta, 2020, p. 251-252).
Essa descrição, como se pode observar, refere-se às dimensões do Seminário encontradas por Dom Viçoso em 1844, que, segundo Silvério Gomes Pimenta, seriam as mesmas deixadas pelo primeiro bispo de Mariana. Pela descrição acima, é possível perceber que o espaço escolar do prédio era dividido em quatro áreas. A edificação tinha uma forma retangular, assim, as laterais eram maiores que a frente e o fundo, que tinham certa simetria (cerca de 150 palmos). No centro, localizava-se o espaço de lazer, que propositalmente poderia ser facilmente vigiado. No lado direito da capela havia o espaço para as aulas. No lado esquerdo, o espaço para dormitórios, dividido em cubículos nos quais se acomodavam três ou quatro estudantes. Ainda havia uma última área onde se localizava o refeitório, a cozinha e a despensa que ficavam fora do retângulo, um lanço puxado do fundo do prédio para fora.
Para ajudar nessa ilustração, apresentamos abaixo (Figura 1) a pintura de 1853 produzida por Herman Burmeister, que retrata a frente do Seminário e uma das laterais:
Para a organização educacional do Seminário, Dom Frei Manuel trouxe os padres jesuítas. Segundo Catão (2005. P. 190), existem evidências fortes, de que o prelado “pretendia entregar o controle do Seminário diocesano à Companhia de Jesus, e não simplesmente confiar-lhe a sua direção”, algo também defendido por Trindade (1951, p. 12). Catão (2005) cita como elemento argumentativo o fato de o Seminário ter sido consagrado à Boa Morte, uma devoção difundida pelos jesuítas. Em carta dirigida ao padre José Moreira, confessor do rei, em 1751, Dom Frei Manuel, além de afirmar que o Seminário seria confiado aos jesuítas, mostra que tentou trazer para Mariana o padre jesuíta Gabriel Malagrida7. Com mais de 40 anos de missão, padre Malagrida foi um dos grandes nomes dos jesuítas no Brasil. Além de sua experiência como professor, também ajudou a fundar vários Colégios, Seminários e Recolhimentos femininos.
Após a tentativa de trazer padre Malagrida falhar, Dom Frei conseguiu o padre jesuíta José Nogueira8, seu sobrinho, que se encontrava no Rio de Janeiro. Na carta de Dom Frei direcionada ao padre José Moreira, é possível saber que, em 1751, o Seminário poderia acolher até 40 seminaristas, mas que haveria um novo Seminário capaz de receber até 100 seminaristas; que o padre José Nogueira dava aulas de Gramática e Moral e que o curso de Filosofia ainda não havia iniciado por falta de professores, como se pode ler na própria carta de Dom Frei:
Na frota do ano passado de mil, setecentos, e cinqüenta escrevi ao Reverendíssimo padre Carboni, que Deus haja, remetendo-lhe inclusa uma representação, que fiz a el-rei, pedindo-lhe fosse servido mandar-me três padres da Companhia para serem mestres de Filosofia, e Teologia neste seminário, que ando fundando para a mesma Companhia (grifo nosso), e em que atualmente é mestre de Gramática e também de Moral o padre-mestre José Nogueira do colégio do Rio de Janeiro; e como não vieram nesta frota de cinqüenta, e um, como eu esperava, e me dizem que a sobredita representação se acha nas mãos de Vossa Reverendíssima, lhe rogo, faça a diligência possível, para que na frota proxime futura venham infalivelmente os tais mestres, ou ordem real, para que se mandem desta província, pois neste ano se havia de principiar o curso de Filosofia, e não se principiou por falta de mestres (grifo nosso). Também esperava nesta frota pelo muito reverendo padre missionário Gabriel Malagrida, como tínhamos ajustado no Maranhão, desculpando-se o impediram várias ocupações, e embaraços, que tinha e como para a frota futura poderá ter os mesmos, peço a Vossa Reverendíssima o persuada eficazmente, para que venha sem falta, porque para suprir a sua falta nos exercícios espirituais, em que lá se ocupa, não faltará quem faça as suas vezes, o que não há neste bispado pela grande penúria, que experimento de operários, porque além do grande fruto, que produzirão neste bispado, e outros circunvizinhos, as suas missões, se [é] preciso entrar logo na obra do novo seminário, ficando o que está feito, e em que se po[derá] recolher até quarenta seminaristas, e em que também estão já recolhidos dezesseis, servindo [no] [se]minário até se concluir o novo. [...] Também nesta frota dei conta a Sua Majestade, que dos rendimentos das escrivaninhas eclesiásticas, determinando-se porção suficiente para os seus serventuários, era conveniente aplicar-se o resto para as obras do seminário, porque com este rendimento anual, e com as esmolas dos diocesanos se poderá fazer brevemente o novo seminário capaz de se recolherem nele até cem seminaristas, que assim é necessário, pelo que Vossa Reverendíssima consiga de Sua Majestade o seu real beneplácito, que trará na frota o muito reverendo padre missionário Gabriel Malagrida (Carta para Padre José Moreira, confessor d’El-Rei nosso Senhor. 1751).
Aqui é preciso fazer duas observações. Primeiro, geralmente, mas não necessariamente, a palavra seminarista refere-se aos estudantes que almejam a vida sacerdotal. Essa afirmação funda-se na documentação disponível. Por exemplo, Dom Frei faz distinção entre seminaristas e estudantes de fora em uma carta dirigida ao rei, em 1752 (Carta para El-Rei pela Secretaria de Estado, 1752). Segundo, possivelmente, a capacidade do Seminário era maior do que 40 matrículas. O próprio Dom Frei Manuel, em carta dirigida ao rei, em 1750, afirmou que a capacidade do Seminário era de 50 seminaristas (Carta para El-Rei nosso senhor, 1750). Além disso, é possível que as 50 matrículas mencionadas por Dom Frei se refiram somente aos alunos que almejavam a vida religiosa, pois, como dito, a palavra seminarista pode estar sendo usada para nomear somente esses estudantes.
Antes mesmo da fundação, o Seminário já tinha sido confiado ao padre jesuíta José Nogueira, que chegou a Mariana em fevereiro de 1749 (Trindade, 1951, p. 19). Repetidas vezes, o prelado solicitou outros padres. Sobre esses pedidos, fez-se “prolongado o silêncio de cerca de três anos, sendo certo que ainda em 1756 o bispo os esperava” (Trindade, 1951, p. 19). A dificuldade para conseguir professores qualificados seria um dos primeiros problemas enfrentados para a manutenção das atividades educacionais do Seminário de Mariana. Fato esse narrado por Dom Frei em uma carta enviada ao Secretário de Estado de Ultramar, em 1758, quando foi expedida, por causa das políticas pombalinas, ordens do governo para enviar para o Rio de Janeiro os jesuítas que residiam no bispado de Mariana.
Recebi as cartas de Vossa Excelência de 31 de janeiro deste presente ano, e executei as ordens de Sua Majestade. Ao padre da Companhia, que estava lendo Filosofia no seminário, e acabando o primeiro ano de lógica, despedi, e não tive pequena dificuldade em achar clérigo, que continuasse com o curso de Filosofia. Neste bispado não admiti regulares, senão os que me apresentavam licença de Sua Majestade, ou dos governadores, ou permissão deles, aos que dava licença para usar de suas ordens, que é o que me pertence [...] (Carta para o Secretário de Estado do Ultramar, 1758).
As reformas pombalinas no âmbito da educação iniciaram-se a partir do alvará de 28 de junho de 1759, que determinava o encerramento das atividades educacionais dos jesuítas nos territórios portugueses e novas orientações administrativas e pedagógicas foram instituídas, bem como as primeiras aulas régias (Fonseca, 2010, p. 19). Não foram poucas as dificuldades causadas por essa reforma. No entanto, Fonseca (2010, p. 20) destaca que a ausência de ordens religiosas na capitania mineira, devido à Carta Régia de 9 de junho de 1711 (reforçada por outra em 1721), que proibia a instalação de casas de ordens religiosas em Minas, “evitou o mesmo impacto sofrido em outras regiões pela expulsão dos jesuítas e pelo fechamento de suas escolas”9.
Sobre os jesuítas no Seminário, não se sabe ao certo quando outros padres chegaram a Mariana. Serafim Leite10, responsável pela principal obra sobre a história da Companhia de Jesus no Brasil, afirma que eles chegaram a estabelecer uma residência em Mariana (Leite, 1945, p. 200). Aponta também que o padre jesuíta Manuel Tavares11 substitui o padre José Nogueira na direção do Seminário. Mesmo com a dificuldade de professores, sobretudo por causa da problemática envolvendo essa ordem de religiosos, em uma carta de 1761, Dom Frei Manoel informou a existência de quatro disciplinas no Seminário, a saber: Gramática Latina, Retórica, Teologia Moral e Filosofia (Carta para o Conselho Ultramarino, 1761).
Outro fato bastante importante na consolidação do Seminário como instituição educacional no período de Dom Frei foi a criação do primeiro regulamento. Constituído por 13 capítulos, intitulado estatutos, esse documento foi promulgado pelo prelado em 1760 com o intuito de organizar a vida interna dos estudantes. Aqui é importante salientar que há um impasse sobre a autoria do documento. Apesar de ter sido lavrado por Dom Frei, Serafim Leite (1945) salienta a possibilidade de o documento ter sido criado pelos jesuítas que estiveram em Mariana. Isso por causa da semelhança desse com os regulamentos dos Colégios da Companhia de Jesus no Brasil. A principal semelhança seria as festas dos santos comuns a todos os colégios da Companhia: de Santo Inácio de Loiola, de São Luís Gonzaga, patrono dos estudos, e das Onze Mil Virgens, padroeira do Brasil.
Com a morte de Dom Frei Manoel da Cruz, em 3 de janeiro 1764, a diocese de Mariana ficou sem a presença de um bispo por 16 anos, até fevereiro de 1780, quando houve a nomeação de Dom Frei Domingos da Encarnação Pontevel. Carrato (1968, p.58) nomeou essa fase como “período dos procuradores”, que são “cônegos do Cabido designados pelos bispos titulares para administrarem a diocese em seu nome”. Entretanto, há momentos desse período em que a diocese estava em sede vacante, em que o administrador era nomeado pelo cabido.
O Seminário no período dos procuradores e o final do século XVIII
De 1764 até 17 de junho de 1771, quando Joaquim Borges de Figueroa foi eleito bispo pela bula do Papa Clemente XIV, a diocese de Mariana ficou sob o mandato dos vigários capitulares, cônegos do cabido eleitos para administrarem a diocese até a nomeação de um bispo. Nesse período, poucas informações temos sobre o Seminário, mas Trindade (1940) apresenta duas informações: primeiro, afirma que, em 1769, as aulas de Filosofia foram suspensas; segundo, financeiramente o Seminário estava bem. “De 1764 a 1771 registrou-se uma receita de 14:1574$023 e uma despesa de 8.618$029 [...]” (Trindade, 1940, p. 78).
O governo episcopal de Dom Joaquim Borges de Figueroa12, em Mariana, foi bem curto. Ele não esteve presente na cidade e permaneceu como bispo somente até outubro de 1773, pois se transferiu para o arcebispado da Bahia. Nesse período, a diocese foi administrada por um procurador, nomeado pelo próprio prelado. Trindade (1928, p. 182) afirma que, apesar do curto período como bispo da diocese de Mariana, Dom Joaquim preocupou-se com o Seminário. Algo que pode ser observado na carta Pastoral sobre o Seminário, publicada em 21 de maio de 1772. Nela, além de ser destacada a importância do Seminário para a educação do clero e da mocidade mineira, o prelado salientava a importância da filosofia e nomeava como professor do curso de Filosofia do Seminário, que iria ser reaberto em 16 de agosto de 1772, o padre Luiz Vieira da Silva13.
Um dos principais cuidados, que devem exercitar a atenção dos que tem a seu cargo o Pastoral ofício, é formar sacerdotes úteis as necessidades da igreja. Para este fim deve educar a mocidade, não só na santidade dos costumes, mas também na cultura das artes e ciência. [...] É este o motivo porque os príncipes da igreja e do Estado se empenharam sempre na fundação de tantos seminários, tantos colégios, e tantas academias, onde se ensinam as teologias, os direitos, as matemáticas, e todas as faculdades uteis e necessárias. Mas quem não sabe quão limitado seja o aproveitamento das artes e ciências sem o socorro da sã filosofia. [..] Movido desta publica utilidade faço saber em nome [...] D. Joaquim Borges de Figueroa bispo desta diocese, [...] Me. Luiz Vieira da Silva o tenho nomeado para professor público do curso de filosofia que se há de abrir no seminário desta cidade em o dia 16 de agosto de 1772 [...] (Pastoral sobre o Seminário, 21 de maio de 1772).
Além de reabrir o curso de Filosofia, Dr. Francisco assumiu pessoalmente a reitoria do Seminário e comprou para essa instituição uma fazenda com 10 mulas de cargas e 30 escravos. Aumentando, assim, o patrimônio do Seminário (Trindade, 1951, p. 30). Tal fazenda depois foi alienada por Dom Viçoso, bispo de Mariana entre os anos de 1844 a 1875.
Em 8 de março de 1772, foi confirmado Bartolomeu Manoel Mendes dos Reis14, que, assim como seu antecessor, não esteve presente na diocese. Nesse período, a diocese também ficou a cargo dos procuradores. Nesse período dos procuradores, pouca notícia se tem sobre o Seminário, mas Trindade (1940, p. 78-79) afirma que essa instituição estava bem financeiramente15. Carrato (1963), por outro lado, destaca sua decadência moral durante esse tempo. Sem o estímulo de um pastor à frente da diocese “a vida religiosa conhece a estagnação. É um período apagado, sombrio, de tibieza moral e espiritual, digno da regurgitação apocalíptica” (1963. p. 116-117). Selingardi (2007) cita, como exemplo dessa decadência, o fato de grande número de candidatos ao sacerdócio ter sido ordenado sem observar as devidas exigências, foram “ordenados sacerdotes dispensando mulatismos e ilegitimidades”.
No dia 1º de março de 1778, Frei Domingos da Encarnação de Pontével16 foi nomeado o quarto bispo de Mariana. Na ocasião, também tomou posse por um procurador, que permaneceu como administrador até 25 de fevereiro de 1780, data da entrada solene do prelado na catedral de Mariana (Trindade, 1953, p. 149).
Sobre o Seminário, Trindade (1951, p. 30) afirma que Dom Frei Domingos foi um grande benfeitor, contribuindo financeiramente para melhoria desse estabelecimento: “anualmente contribuía com largas somas, uma de dois contos de reis”. Um dos feitos desse prelado foi a reconstrução da capela17, obra realizada pelo mestre José Pereira Arouca18, com pinturas desenvolvidas por Antônio Martins da Silveira. O palácio episcopal, propriedade do Seminário, também recebeu atenção do prelado. Fez “o aterro e a circunvalação do pomar” (Trindade, 1951, p. 31), dotando-lhe também de um pavilhão artístico. Além disso, Dom Frei Domingos,
reformou a Catedral, abalada em suas fundações por formigueiros [...]. Na administração de Dom Domingos, foi reedificada a capela e criado o parque do Seminário da Nossa Senhora da Boa Morte, por trabalhos de José Pereira Arouca. A concepção, junto ao Seminário de um “parque”, que incluía um programa paisagístico, para o qual se pensava em pomares, ruas ajardinadas com especificação de plantas, passeios entre jabuticabeiras e cafezais, fonte com esculturas, revela um caso curioso de transposição de modelos de jardins artísticos europeus próprios do século XVIII para Minas Gerais. A continuação e execução de grande parte deste projeto de um jardim artístico se fez, mais tarde, por encargos do sucessor de Pontével, Dom Frei Cipriano de São José (Brandão, 2012, p. 1564).
Com 70 anos, em 16 de junho de 1793, Dom Frei Domingos faleceu em Vila Rica, onde residia (Trindade, 1953, p. 149-153). No período de 1793 a 1798, novamente, por motivos de sede vacante, a diocese ficou sob a responsabilidade do cabido. Com isso, “o bispado de Mariana, criado em 1745, viu, durante mais de meio século, a posse direta apenas de três prelados e contou com sedes vacantes e governadores nomeados de um período de vinte e cinco anos sem a presença pessoal de bispo” (Maia, 2009. p. 1-2).
Nesse último período de sede vacante, diferentemente da primeira administração do cabido (1764 a 1771), quando o Seminário foi bem administrado, a instituição entrou em crise financeira. Trindade (1940, p. 80) afirma que tal declínio foi responsabilidade da má administração do cabido e cita, como exemplo, a decadência da fazenda do Seminário que era uma das fontes de renda dessa instituição: “recebe-o a produzindo dois mil alqueires de milho, duzentos de feijão cem de arroz e algum café. Agora já não se podia pagar um reitor [...]”.
Seis anos após a morte de Dom Frei Domingo, Dom Frei Cipriano de São José19, quinto bispo, tomou posse da diocese de Mariana por meio de um procurador em 20 de agosto de 1798. Dois meses depois, em 30 de outubro, esse prelado fez a sua entrada solene na catedral de Mariana, assumindo pessoalmente seus encargos episcopais.
O Seminário nas primeiras décadas do século XIX
Quando Dom Frei Cipriano de São José chegou à diocese, em 1798, encontrou o Seminário em decadência. Nos primeiros anos de seu episcopado, ele até se mostrou bastante empenhado com a instituição. Já em 1800, foi lançado um edital, que se renovou mais duas vezes, por meio do qual convocou candidatos para o Seminário (Trindade, 1951, p. 31). Dom Frei Cipriano, por causa de seu interesse por história natural e botânica, também dedicou bastante atenção à construção de um jardim20 no entorno da instituição. “Seu gosto requintado motivou a construção de um belíssimo e amplo jardim clássico em seu Palácio” (Maia, 2009, p. 1), situado no entorno da construção21. É bom lembrar que o prédio episcopal juntamente com o terreno onde foram construídos os jardins eram propriedades do Seminário.
Abaixo é possível ver uma ilustração (Figura 2) feita de uma das janelas do Seminário em 1809, do padre José Viegas de Menezes, da casa e do jardim22 episcopal de Mariana. Esse palácio existe até hoje sob a administração da Arquidiocese de Mariana.
Abaixo, outra ilustração23 (Figura 3), também do padre José Viegas de Menezes, do jardim episcopal vista de um outro ângulo onde é possível ver, no canto direito, parte da cidade de Mariana e, no canto esquerdo do quadro, uma pequena parte do prédio do Seminário.
Apesar dos esforços com o Seminário por parte do prelado, as informações disponíveis sobre esse período levam-nos a acreditar que o funcionamento dessa instituição durante seu episcopado foi bem problemático. Trindade (1953, p. 391-392) afirma que “de 1806 a 1811 ainda houve seminarista [...] e o seminário ainda algum tempo se conservou aberto para os ordenados que ali vinham fazer exercícios espirituais”. Parece que, em 1816, o Seminário já estava fechado, pois, no referido ano, a câmara de Mariana pediu ao Rei Dom João VI permissão para abrir, no prédio, um Colégio de Artes e Disciplina Eclesiástica. Abaixo um pequeno trecho do documento da Câmara de Mariana dirigida ao Rei, em que é possível ver, além do pedido para a abertura do Colégio no prédio do Seminário, algumas informações que podem explicar o fracasso do funcionamento dessa instituição neste período.
Senhor (dizia a câmara) - A V. Maj. Representam com a maior submissão e fidelidade o Juiz e Oficiais da câmara da Cidade de Mariana das Minas Gerais [...]. Conforme as reais instruções, de 28 de junho de 1759, e outras Providencias Literárias, de 6 e 10 de novembro de 1772, se fundaram na mesma cidade as escolas públicas das primeiras letras, gramatica latina e portuguesa, retórica (sem exercício a cinco ou seis anos) e filosofia racional e moral [...]. Tendo-se fechado dantes as aulas do seminário de Nossa Senhora da Boa Morte, talvez por concorrência dos estudos régios de gramática e filosofia, somente continua na residência episcopal lição vespertina de moral pelo compêndio de Collet e de outros clássicos. Com esta experiência, e sensível diminuição do comercio que girava no tempo dos estudos nesta cidade, concorre a poderosa reflexão de que os estudos divididos e acantonados nas diferentes casas dos professores não afiançam maior utilidade; pois a emulação e aproveitamento procedem a par da união, concurso, inteligência e aplicação dos que frequentam, dirigem e vigiam os mesmos estados. Por estas mesmas razões se consideram os juízes e oficiais da câmara obrigados a implorar a real proteção e beneficência de V. Maj. Para que se digne mandar reunir e restaurar o seminário uns e outros estudos e formar um Colégio Real de Artes e Disciplinas Eclesiásticas (Carta da Câmara de Mariana para Dom João VI, 16 de junho de 1816).
Parece que a intenção da Câmara de Mariana era reunir, no mesmo lugar, as disciplinas ali já existentes e formar, juntamente com os estudos eclesiásticos, um Colégio para a instrução da população e formação do clero.
A crise que culminou no fechamento do Seminário parece ter começado, como destacado por Trindade (1951), com a má administração do cabido no último período de sede vacante da diocese de Mariana. No entanto, é possível pensar que três outros fatos podem ter contribuído para o fechamento dessa instituição. Primeiro, o enfraquecimento das atividades mineradoras e a diminuição do comércio. Segundo, as atitudes do bispo que, apesar de ter se empenhado no início de seu episcopado para fortalecer o Seminário, abriu, em seu próprio palácio, um curso de Teologia Moral. Trindade (1951, p. 32) questiona se essa atitude do bispo não teria contribuído para o enfraquecimento do Seminário. Terceiro, o funcionamento gratuito de cursos de Filosofia, Latim e Retórica na cidade de Mariana, que, de algum modo, atrairiam aqueles estudantes que, sem essa oferta, poderiam estudar no Seminário de Mariana, já que ele oferecia tais disciplinas para alunos externos.
De 1816 a 1818, Saint-Hilaire, viajante francês, botânico e etimologista, visitou a província mineira relatando os hábitos e comportamentos da população, bem como descrevendo os espaços urbanos. Nesse período, além do relato do prédio episcopal, esse viajante descreveu as situações do prédio do Seminário e um dos motivos que contribuíram para a crise dessa instituição.
Próximo ao palácio Episcopal e a margem direita do ribeirão do Carmo veem-se os edifícios do antigo seminário. Formam um quadrilátero alongado bastante irregular, e são imensos; mas como estão abandonados a vários anos, ameaçam ruina por todos os lados. O Seminário de Mariana foi fundado por alguns mineiros ricos que desejavam educar bem seus filhos, sem precisar envia-los à Europa. Tinham anexado no patrimônio desse estabelecimento terras e escravos, e nada fora esquecido para fazê-lo digno do fim a que se destinavam. Se entre os proprietários de certas idades que habitam os campos das comarcas de Sabará e Vila Rica, se encontram tantos homens educados e com certa instrução, deve-se isso em grande parte à instrução recebida no Seminário de Mariana. Entretanto, as terras que o estabelecimento possuía esgotaram e os escravos morreram; os mineradores, cuja riqueza diminuíra, não estavam mais em condições de fazer novos sacrifícios, e acabaram-se os meios de pagar professores competentes (Saint-Hilaire, 1938. p. 151).
Dom Frei Cipriano de São José faleceu em Mariana, em 14 de agosto de 1817. Novamente a diocese ficou em sede vacante sob a administração do cabido, permanecendo nessa condição até 25 de março de 1820, quando Dom José da Santíssima Trindade24, sexto bispo, assumiu a diocese de Mariana por meio de um procurador. Poucos meses depois, em 8 de agosto, o prelado entrou na cidade episcopal. Trindade (1940, p. 82) salienta que ele, por suas atitudes em relação ao Seminário, teria os merecimentos de um fundador, pois apenas cinco meses depois de chegar a Mariana, reabriu o Seminário reformado.
Oliveira (1998) elenca três atitudes fundamentais de Dom Frei José que contribuíram para a reabertura e restruturação do Seminário: a reestruturação da fazenda do Seminário, que passou a contribuir com as finanças da Instituição; a reforma do prédio onde se ministravam as aulas e alojavam os alunos e a criação de um novo estatuto, já que o único regulamento existente era aquele outorgado pelo primeiro bispo de Mariana em 1760 (OLIVEIRA, 1998, p. 28).
Na parte terceira, o capítulo primeiro do estatuto de Dom Frei José, intitulado Da ordem escolástica na observância do seminário, trata a importância da dimensão acadêmica para a formação religiosa. Por meio da confiança na observância literária que seria possível espalhar “por toda igreja de Mariana as luzes que os seminaristas adquirirem na religião, como nas ciências” (Estatutos para o Regime do Seminário Episcopal...,1821). A nosso ver, isso mostra a importância que Dom Frei José dava à dimensão acadêmica para a formação do clero e da mocidade da região da diocese de Mariana. De algum modo, isso também justifica seus esforços para a reabertura dessa instituição educacional.
O posicionamento político de Dom José no contexto da independência foi bastante emblemático, gerando uma série de problemas institucionais. Além de questões com os patriotas mineiros por causa dos ataques do bispo aos artigos da constituição favoráveis à livre manifestação do pensamento e da liberdade de imprensa, em 1822, enfrentou problemas com o cabido marianense. Este cedendo às pressões da Câmara de Mariana, suspendeu a coleta pro Rege para iniciar a coleta pro Imperatore. Isso aconteceu porque Dom Frei José se encontrava em visita pastoral em Itabira do Campo, de onde escreveu para o cabido suspendendo essa decisão até que viessem ordens expressas do Rio de Janeiro para se efetuar tal mudança (Oliveira, 1998, p. 28). Já em 28 de outubro de 1828, Dom Frei José proibia que “capelas filiais celebrassem matrimonio sem permissão da autoridade eclesiástica”. Por causa disso, o prelado sofreu variados ataques públicos (Oliveira, 1998, p. 33). Além desses, outros embates políticos e religiosos aconteceram e foram desgastando a imagem do prelado. Destaca-se ainda a questão da proibição de se enterrar os mortos dentro das igrejas e o caso do padre Antônio José Ribeiro Bhering, que envolve diretamente o Seminário de Mariana.
O Seminário “reformado e com novo estatuto funcionou bem até 1827” (Oliveira, 1998, p. 31). Em 1827, foi contratado, como professor de Filosofia, o ex-aluno e recém ordenado padre Antônio José Ribeiro Bhering25. Dom Frei José o expulsa do Seminário em outubro de 1829, acusando-o de ensinar filosofias proibidas pela igreja. Em 1829, segundo Almeida (2018, p. 380-381), além de professor, Bhering já ocupava cargos públicos e administrativos e era mantenedor de espaços de leituras (redator de jornais). Tais espaços foram utilizados para atacar o bispo e, por gozar “[...] de prestígio social e político na região” (Almeida, 2013, p. 18), sua expulsão desencadeou uma série de problemas, tanto para o Seminário, como para o prelado. Padre Bering não aceitou passivamente a expulsão “e empreendeu uma ampla campanha contra a mais alta autoridade religiosa de Minas, exposta a princípio na imprensa, mas que se expandiu para outros espaços, como o Conselho Geral da província de Minas Gerais” (Almeida, 2018, p. 379-380).
Uma das armas utilizadas como crítica foi o próprio regulamento do Seminário. A característica moral do regulamento foi utilizada para questionar as atitudes do bispo no conselho Provincial de Minas. O regulamento não sofreu nenhuma intervenção do Estado. No entanto, o embate afetou a vida interna dessa instituição, pois “[...] uma intervenção no quadro de professores [...] por parte do setor público se efetivou. Em 1832, foram proibidos de ministrar aulas no seminário e expulsos da província de Minas [...] os professores [frades franciscanos] de filosofia e teologia, nomeados por Frei José” (Almeida, 2015. p. 83).
O funcionamento do Seminário foi mantido até 1835, último ano de governo de Dom Frei José, aparentemente em boas condições, apesar de o número de alunos ter diminuído. Isso pode ser observado por um ofício do reitor do Seminário, padre João Antônio de Oliveira, datado de 12 de janeiro de 1835, no qual informa a quantidade de alunos, as finanças e os bens do Seminário:
1º o número dos seminaristas internos era de vinte e oito, quatro dos quais a título paupertatis; o de externos, onze; 2° o rendimento, em 1834, montou a 3:787$683 e ⅟2. 3º a despesas, do referido ano, foi de 3:760$393 e ⅟2; Saldo 27$290. 4º bens moveis e de raiz casa e capela (avaliados em 1831) 30:000$000; alfaias da capela, livraria, trastes e escravos - 1:807$912; Palácio Episcopal - 4:000$000; treze moradas de casas térreas - 2:525$000; uma fazenda de cultura, com engenho de açúcar, alambique, moinho e outras benfeitorias, com alguns sessenta escravos, menores e maiores - 36:050#337 e ⅟2. Total de Bens Moveis e Raiz - 74:383$249 e ⅟2 (Ofício de 12 de janeiro de 1835).
Com a morte de Dom Frei José da Santíssima Trindade, em 28 de setembro de 1835, deu-se início ao período de sede vacante que se estendeu até 1844, com a chegada de Dom Viçoso. Sabemos que o Seminário funcionou até 1842, ano que foi usado como quartel pelas tropas do governo por causa da revolução liberal.
Conclusão
A história do Seminário de Nossa Senhora da Boa Morte no período de 1750 a 1835 é marcada por uma instabilidade no funcionamento dessa instituição. Alguns problemas de ordem educacional e política afetaram o funcionamento dessa instituição ao longo desses 85 anos de existência. Primeiramente, houve a dificuldade de contratar professores especializados, algo enfrentado já nos primeiros anos de funcionamento com a expulsão dos Jesuítas. Outra dificuldade foi a questão financeira, que em alguns momentos levou ao fechamento da instituição. Também houve a decadência moral, algo destacado pelo historiador Carrato, que afetou a imagem religiosa da instituição. Além disso, as questões políticas envolvendo a figura do bispo afetaram fortemente os encaminhamentos educacionais do Seminário, especialmente durante o episcopado de Dom José da Santíssima Trindade.
O texto dedicou-se, portanto, a retomar os principais acontecimentos narrados pela historiografia do Seminário de Mariana desde sua fundação em 1750. Isso nos permitiu compreender que, em linhas gerais, os problemas relativos à sustentação financeira, à falta de profissionais qualificados para o exercício das atividades educacionais, aos problemas morais, à própria realidade da diocese e aos problemas políticos envolvendo a figura do bispo afetaram profundamente o funcionamento dessa instituição.
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1
Este texto é consequência de uma pesquisa de Doutorado desenvolvida em um programa de Pós-Graduação em Educação.
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2
Antes da fundação da diocese de Mariana, “tinha-se, no Brasil, a diocese de São Salvador, na Bahia, criada em 25 de fevereiro de 1551, a do Rio de Janeiro e a de Olinda, ambas de 1676, a diocese de São Luís do Maranhão, criada em 30 de agosto de 1677, e a de Belém do Pará, datada de 4 de março de 1719” (Jardilino; Pereira, 2021, p. 4). Também em 1745, por ordem do rei D. João V, a vila Ribeirão do Carmo foi elevada à categoria de cidade, com o nome de Mariana, em homenagem à rainha. Isso para que a cidade pudesse ser sede episcopal, conforme pedido do Papa (Leite, 1945, p. 198-199).
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3
Dom Frei Manuel da Cruz nasceu em Portugal, aos 5 de fevereiro de 1690, aos dezoito anos tornou-se monge cisterciense e graduou-se em teologia e cânones na Universidade Coimbra. Em 1738 foi nomeado bispo do Maranhão permanecendo até 1747, quando é transferido para a diocese de Mariana (Oliveira, 2001, p. 49-59).
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4
O cabido “se constituía de 14 cargos ou benefícios colados sendo quatro dignidades (pela sequência hierárquica interna: arcediago, arcipreste, chantre e tesoureiro-mor) e dez cônegos, afora doze capelães, um mestre de cerimonias, quatro moços de couro, um sacristão, dois mestres de capela, um organista, dois sacristães e um porteiro da massa [...]” (Boschi, 2011, p.13).
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5
Quando Mariana tornou-se sede episcopal, segundo Brandão (2007, p. 7) “a Catedral encontrava-se inacabada. Teria sido, portanto, por meio da atuação do primeiro bispo, o assentamento das janelas, as obras que rebocaram e caiaram o edifício, como se viu, e é atribuída a seu “mecenato” grande parte das obras de pintura da Catedral, realizada pelo artista Manuel Rabelo de Sousa - pintura das duas cúpulas, do teto da nave central, pintura de todo o interior e douramento dos altares laterais, todos contratos firmados em 1760”.
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José de Torres Quintanilha “nasceu na freguesia de São Pedro da cidade de Ponta Delgado, na ilha de São Miguel [...]. Morou cerca de vinte anos na freguesia de São Caetano, onde teve lavras, como as teve na freguesia do Furquim, no território em que por aqueles tempos se criou a freguesia de Barra longa. Em 1748 habilitou-se [...] para a recepção de ordem menores e sacra, tendo falecido leitor a 14 de agosto de 1756” (Trindade, 1929, p. 769-770).
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Gabriel Malagrida nasceu em Menaggio, na Itália, no dia 5 de dezembro de 1689. Em 1719, é ordenado sacerdote em Gênova. Em 1721, inicia missões no Maranhão e Grão-Pará. Em 1723, assume a direção da Congregação de Estudantes do Colégio dos Jesuítas de Santo Alexandre no Pará. Em 1727, tornou-se mestre de Humanidades, de Latim e Teologia dos escolásticos do Colégio Maranhense de Nossa Senhora da Luz. Em 1735, inicia missões fora do Maranhão, juntos aos índios. Em 1739, fundou o Recolhimento Feminino, posterior Convento da Soledade em Salvador. Em 1745, Malagrida lança a pedra fundamental do Seminário Jesuíta da Paraíba. Em 1746, auxilia a construção de um Seminário com apoio do bispo de Olinda, Dom Frei Luiz de Santa Teresa O.C.D. Em 1749, fruto do esforço de Malagrida corre a fundação do Seminário do Pará, em Belém, denominado Seminário de Nossa Senhora das Missões. Em 1756, publica o opúsculo Juízo da Verdadeira Causa do Terremoto, que padeceu a corte de Lisboa, no primeiro de novembro de 1755. Em 20 de setembro de 1761, Padre Malagrida foi garroteado e queimado na fogueira (Medeiros, 2017, p. 139-140).
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Padre José Nogueira, segundo Serafim Leite (1945, p. 201), além de professor de Filosofia e Teologia, era hábil poeta latino. Nascido no Recife a 23 de setembro de 1711, ainda vivia na Itália em 1773”. Foi preso em 1759 e deportado para Lisboa em 1760 (Trindade, 1953, p. 418).
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Segundo Fonseca (2010, p. 20) “nas Minas Gerais, desde o início do século XVIII, havia mestres pagos pelas Câmaras, e as famílias já procuravam também o recurso dos professores particulares - leigos e clérigos - para o ensino das Primeiras Letras e da Gramatica Latina, uma prática que permaneceu forte mesmo depois da implantação das aulas régias”.
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Serafim Leite (1890-1969) “foi um padre da Companhia de Jesus que dedicou boa parte de sua vida e produção intelectual a pesquisar e redigir a história dos jesuítas no Brasil, no período da chegada dos inacianos a estas terras até a expulsão da Ordem (1549-1759). Sua obra intelectual inclui textos diversos produzidos e publicados em diferentes meios como livros, revistas e jornais desde 1913 até o ano de sua morte” (Ruckstadter; Skalinski Junior, 2017, p. 65).
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Padre Manuel Tavares, segundo Serafim Leite (1945, p. 201), nasceu “no Rio de Janeiro, a 26 de setembro de 1712, faleceu em Roma, no Palácio Inglês, no dia 27 de dezembro de 1760, pouco tempo depois de ali chegar exilado”.
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Dom Joaquim Borges de Figueroa era natural de Lisboa. Foi batizado a 24 de maio de 1714. Em 23 de setembro de 1770, aos cinquenta e seis anos de idade, foi ordenado presbítero. Tomou posse como bispo de Mariana pelo seu procurador em 3 de fevereiro de 1772 (Trindade, 1953, p. 148).
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Luís Vieira da Silva entrou para o Seminário de Mariana antes da fundação, em 17 de agosto de 1750. Foi professor de filosofa do Seminário e participou da inconfidência mineira, sobre padre Luiz Vieira ver: Alves, 2022.
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Dom Bartolomeu Manuel Mendes dos Reis “nasceu a 23 de agosto de 1720 em Cercosa, Bispado de Coimbra, distrito de Viseu, na Beira Alta [...]. Era do clero secular. [...]”. Faleceu em Lisboa em 7 de março de 1799 (Trindade, 1953, p. 148).
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Segundo Selingardi (2007), “quanto à situação financeira [...] foi de prosperidade para o Seminário de Mariana: seu patrimônio estava acrescido de uma fazenda, cujos rendimentos nessa época eram animadores; e o estabelecimento podia contar com as contribuições financeiras do referido bispo. Além disso, o Palácio Episcopal, propriedade do seminário, foi aumentado e melhorado”.
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Natural de Portugal Domingos da Encarnação de Pontevel foi batizado a 3 de novembro de 1722. Ordenado presbítero em 10 de outubro de 1745. Foi professor de filosofia e teologia por quinze anos, visitador da Província e diretor da ordem terceira da penitência. Sagrou-se bispo em 15 de abril de 1779. (Trindade, 1953, p. 149-153).
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Nossa Em 1780, segundo Lage (2018, p.135), José Pereira Arouca foi contratado pelo Cabido para “reconstrução da capela de Nossa Senhora da Boa Morte [...]. A historiografia que trata do Seminário afirma que a primeira capela havia sido edificada no ano de 1752 [...] José das Torres Quintanilha [...] contratou um pedreiro por nome de Antônio Carlos Cardoso para construir a capela. [...]. Parece que ele não cumpriu os acordos estabelecidos e não entregou a obra conforme havia sido combinado. Estranhamente, somente vinte e nove anos depois, em 1780, foi que José Pereira Arouca foi contratado para reedificar a capela do Seminário deSenhora da Boa Morte”.
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José Pereira Arouca “nasceu em Portugal e foi batizado no dia vinte e seis de fevereiro de 1731[..]. A historiografia portuguesa fomenta a hipótese de que José Pereira Arouca adquiriu conhecimentos dos ofícios de pedreiro e de carpinteiro ao lado do pai [...]. Acredita-se que José Pereira Arouca chegou na Capitania de Minas Gerais ainda jovem, e que as oportunidades de trabalho advindas da exploração do ouro tenham sido o motivo de sua partida de Portugal. [...] José Pereira Arouca faleceu no dia 21 de junho de 1795” (Lage, 2018, p.135).
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Frei Domingos da Encarnação Pontevel nasceu em 12 de novembro de 1743, na paróquia de São Sebastião de Pedreira, freguesia da capital portuguesa. Foi ordenado sacerdote em 21 de dezembro de 1768. Foi professor de Sagrada Escritura, de Filosofia e de Teologia. Em 31 de dezembro de 1797, foi sagrado bispo (Trindade, 1953, p. 161-162).
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Segundo Maia (2009, p. 893), “provavelmente foi entre 1801 e 1809 - data das aquarelas do padre Viegas de Menezes - que o jardim foi desenhado e recebeu seu embelezamento, como a fonte da Samaritana esculpida em pedra-sabão”.
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A casa dos bispos, segundo Maia (2009, p. 885), “[...] passou a ser ocupada no início da década de 1750, quando o primeiro bispo de Mariana se transferiu do paço em que residia, no centro da povoação, desde sua sagração em 1748. [...]. O prédio situava-se nos limites da sede do município e possuía casa e chácara extensa, dando fundos para o córrego do Seminário (antigo córrego da Intendência) [...]”.
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Saint-Hilaire em 1817 faz, em sua obra, um comentário ao palácio e aos jardins: “O palácio episcopal está situado fora da cidade. É um edifício bastante longo, que nada apresenta de notável, e que mostra, do lado de dentro, um corpo de habitação principal, e duas alas”. “Tinham-me gabado muito seu jardim, e, efetivamente, das elevações próximas, pareceu-me desenhado com regularidade, e ser maior e mais bem tratado que todos os outros que vira no resto da província” (1938, p. 150).
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É importante destacar aqui que essas duas imagens dos jardins do palácio episcopal foram conhecidas pelo autor deste trabalho, bem como as fontes de onde elas foram retiradas, a partir do trabalho da pesquisadora Ângela Brandão (2022, p. 216-217).
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Dom Frei José da Santíssima Trindade nasceu em 4 de julho de 1762, em Portugal, cursou Filosofia e Teologia na Bahia (Brasil) e foi ordenado sacerdote franciscano. Foi sagrado bispo de Marina em 9 de abril de 1820. Dom Frei José da Santíssima Trindade, o sexto bispo nomeado, ficou à frente da diocese de 1820, ano de sua chegada, até 1835, quando morre. A rigor, é o quarto bispo que efetivamente esteve à frente da diocese desde sua fundação” (Oliveira, 1998, p. 21-25).
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O Pe. Antônio José Ribeiro Bhering “[...] nasceu em Outro Preto, em 1803, e nos idos de 1856 veio a falecer na cidade de Mariana. [...] Atuou como político, professor e sacerdote. Sua demissão [do Seminário] se deu em outubro de 1829” (Almeida, 2013. p. 17).
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Declaração de Disponibilidade de Dados:
Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.
Disponibilidade de dados
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
31 Out 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
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Recebido
17 Jul 2024 -
Aceito
19 Set 2024




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