Resumo
Este artigo analisa as relações entre as produções verbal e visual de Raul Pompeia, referentes à obra O Ateneu, cuja primeira edição data de 1888, enfatizando aspectos do contexto da educação brasileira do final do século XIX, tais como o espaço escolar, a autoridade educacional e a presença da religião como componente pedagógico. Busca, na tensão entre palavras e imagens, contribuir para o entendimento do modo como o cotidiano escolar do Brasil oitocentista foi representado pelo autor a partir de suas experiências pessoais. As reflexões sobre o uso de imagens na pesquisa histórica foram ancoradas em Aumont, Burke, Knauss e Manguel. Já para subsidiar as interfaces da história da educação com a literatura foi profícuo o diálogo com Bosi e Cândido. Como fonte privilegiada, além da primeira e segunda edição ilustrada da referida obra, datada de 1905, foram utilizadas as imagens dos desenhos, cujos originais fazem parte do acervo da Biblioteca Nacional do Brasil, artigos de jornais e uma medalha comemorativa. Observou-se, no contraponto entre texto e imagens produzidos pelo autor, aspectos que evidenciam uma percepção crítica sobre o universo escolar do qual fez parte, os quais, tratados de forma complementar, oposta ou ratificadora nas diferentes linguagens, transitam entre a ficção e a realidade vivida.
Palavras-chave:
Raul Pompeia; O Ateneu; literatura e educação; história e imagem
Resumen
Este artículo analiza las relaciones entre las producciones verbales y visuales de Raul Pompeia, a partir de la obra O Ateneu, cuya primera edición data de 1888, destacando aspectos del contexto de la educación brasileña a finales del siglo XIX, como el ambiente escolar, la autoridad educativa y la presencia de la religión como componente pedagógico. Busca, en la tensión entre palabras e imágenes, contribuir a la comprensión de cómo el cotidiano estudiantil brasileño del siglo VIII fue representado por el autor a partir de sus vivencias personales. Reflexiones sobre el uso de imágenes en la investigación histórica también se encontraron en Aumont, Burke, Knauss y Manguel. Ya para apoyar las interfaces entre historia, educación y literatura, el diálogo con Bosi y Cândido fue fructífero. Como fuente privilegiada, además de la primera y segunda ediciones ilustradas de la obra, fechadas en 1905, se utilizaron imágenes de los dibujos, cuyos orígenes forman parte del archivo de la Biblioteca Nacional de Brasil, artículos diarios y una medalla conmemorativa. Se observaron, en contraste entre el texto y las imágenes producidas por el autor, aspectos que resaltan una percepción crítica del universo escolar del que parte, el cual, tratado de manera complementaria, opuesta o ratificatoria en diferentes lenguajes, transita entre la ficción y la realidad vivida.
Palabras clave:
Raul Pompeia; El Ateneo; literatura y educación; historia e imagen
Abstract
This article analyzes the relationships between the verbal and visual productions of Raul Pompeia, referring to the work O Ateneu, whose first edition dates back to 1888, emphasizing aspects of the context of Brazilian education in the late 19th century, such as the educational space, the school authority and presence of religion as a pedagogical component. In the tension between words and images, we aim to contribute to the understanding about the daily life of a Brazilian student at the period as represented by the author from his personal experiences. The reflections on the use of images in historical research were anchored in Aumont, Burke, Knauss and Manguel. To support the interfaces of the history of education with the literature, the dialogue with Bosi and Candido was fruitful. As a privileged source, we used the first and the second illustrated edition, dated 1905, as well as the images of the drawings, consulted at National Library of Brazil, newspaper articles and a commemorative medal. In the contrast between the text and images produced by the author, we observed aspects that highlight a critical perception regarding the educational universe of the author, which are treated, in the different languages, in a complementary form, opposed to or ratified, between fiction and experienced reality.
Keywords:
Raul Pompeia; The Atheneum; literature and education; history and image
Résumé
Cet article analyse les relations entre les œuvres verbales et visuelles de Raúl Pompeia, à partir de l'œuvre O Ateneu, dont la première édition remonte à 1888, en mettant en évidence des aspects du contexte de l'éducation brésilienne à la fin du XIXe siècle, tels que l'environnement scolaire, l'autorité éducative et la présence de la religion comme composante pédagogique. La recherche, dans la tension entre les mots et les images, contribue à la compréhension de la manière dont la vie quotidienne des étudiants brésiliens du VIIIe siècle était représentée par l'auteur à partir de ses expériences personnelles. Des réflexions sur l’utilisation des images dans la recherche historique ont également été trouvées chez Aumont, Burke, Knauss et Manguel. Mais pour soutenir les interfaces entre l’histoire, l’éducation et la littérature, le dialogue avec Bosi et Cândido a été fructueux. En tant que source privilégiée, outre les première et deuxième éditions illustrées de l'ouvrage, datées de 1905, des images des dessins, dont les origines font partie des archives de la Bibliothèque nationale du Brésil, des articles de journal et une médaille commémorative ont été utilisés. Observer, dans le contraste entre le texte et les images produites par l'auteur, des aspects qui mettent en évidence une perception critique de l'univers scolaire dont il est issu, qui, traité de manière complémentaire, opposée ou ratifiée dans différentes langues, passe entre fiction et réalité vivante.
Mots-clés:
Raul Pompeia; O Atheneu; littérature et éducation; histoire et image
Introdução
Este artigo problematiza as relações entre as produções verbal e visual de Raul Pompeia, referentes à obra O Ateneu1, enfatizando aspectos do contexto da educação brasileira do final do século XIX, tais como o espaço escolar, a autoridade educacional e a presença da religião como componente pedagógico. Busca desse modo contribuir para a compreensão do cotidiano escolar de uma instituição privada do Brasil oitocentista como representado pelo autor com base em suas experiências pessoais.
Os termos visual e verbal são aqui mobilizados a partir dos estudos de Mikhail Bakhtin (2016) os quais, tendo emergido no ocidente a partir da década de 1960, reposicionaram vertentes da linguística, que ao considerar o discurso se abriram à perspectiva de linguagens para além das verbais, como as sonoras ou visuais. No caso do Ateneu de Pompeia, o verbal constitui sua escrita, sendo o visual representado pelos desenhos a grafite de sua autoria, realizados para ilustrar trechos da obra.
Raul d´Ávila Pompeia nasceu Jacuecanga, Angra dos Reis, em 1863, vindo a falecer no Rio de Janeiro em 1895. Filho de família abastada, o pai, Antonio d’Ávila Pompeia, foi juiz da comarca de Angra dos Reis, e a mãe, Rosa Teixeira Pompeia, pertencia à família de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Transferido para a Corte para a realização de seus estudos, foi internado no Colégio Abílio o qual era dirigido à época pelo educador Abílio César Borges, Barão de Macaúbas (Campos, 2001, p. 43).
As relações de Raul Pompeia com o desenho e a prática de entrelaçá-lo com a escrita vinham desde o tempo em que, como aluno do Colégio Abílio, além da literatura, destacava-se como desenhista e caricaturista, tendo, sob o pseudônimo Fabricius, redigido e ilustrado de próprio punho o jornal escolar O Archote (Pompeia, 1874). Já seu primeiro romance, Uma Tragédia no Amazonas, foi publicado em 1880, quando ele tinha apenas 17 anos.
Ao lado dos estudos de Direito, Pompeia passou a se dedicar ao jornalismo, produzindo crônicas, folhetins, artigos e contos. Como colaborador do Jornal do Commercio, publicou em 1882 a obra Canções sem metro e em 1883, na Gazeta de Notícias, a novela As joias da coroa em forma de folhetim. Nela, as críticas à monarquia denunciavam a opção pela república, à qual podemos acrescentar a de abolicionista.
Concebido na transição entre os períodos monárquico e republicano, O Ateneu também foi publicado como folhetim na Gazeta de Notícias entre 8 de abril e 18 de maio de 1888. Tomando as memórias de infância como referência, o autor abordou, de forma ficcional, o cotidiano de uma instituição escolar carioca. O sucesso obtido junto aos leitores motivou o próprio jornal publicar a obra em forma de livro em 1888 (Pompeia, 1888), a qual foi noticiada pelo veículo em 29 de maio daquele ano (O Atheneu, 1888, p. 1).
Após publicada a primeira edição, Raul Pompeia produziu 43 ilustrações para serem inseridas nos doze capítulos de uma edição posterior, que só viria a ser publicada em 1905, após sua morte (Pompeia, 1905). Nos originais, indicou na margem superior direita os capítulos a que corresponderiam seus desenhos. É importante ressaltar que o interesse pela realização de uma segunda edição póstuma em pleno vigor da República evidencia a permanência do interesse pela obra do autor e pela temática por ele explorada, baseada em reflexões sobre o período monárquico.
Além da primeira edição de 1888, tomamos como fonte privilegiada para essa discussão a edição ilustrada de 1905, da qual são analisados fragmentos de texto e 9 ilustrações, tendo sido ambas consultadas na Biblioteca Digital do Senado Federal. Já os desenhos originais se encontram disponíveis de forma digitalizada na Biblioteca Nacional, em cuja Hemeroteca Digital foram consultados também jornais da época, a exemplo do Archote, do Jornal do Commercio e da Gazeta de Notícias. Já a medalha comemorativa dos cinquenta anos do Colégio Abílio César Borges foi encontrada no site do Museu das Medalhas Brasileiras.
As abordagens historiográficas adotadas ao longo do século XX, defendendo um fazer histórico problematizador2, multiplicaram as possibilidades de objetos de investigação, métodos e tipologias de fontes. Já o diálogo com perspectivas adotadas pelos estudos culturais fomentou o desenvolvimento de pesquisas que utilizam como fontes imagens ou escritos literários.
Em relação ao uso da literatura como fonte para a compreensão de fenômenos sociais, Cândido (2008, 31) aponta quatro movimentos nevrálgicos:
a) o artista, sob impulso de uma necessidade interior, orienta-o segundo os padrões de sua época, b) escolhe certos temas, c) usa certas formas e d) a síntese resultante age sobre o meio. (Cândido, 2008, 31).
Há, portanto, entre o universo ficcional e o real uma relação que se retroalimenta e propicia indícios à História: o social fornece bases à construção ficcional e, paulatinamente, é moldado por essa produção. Não obstante, Sevcenko adverte sobre os cuidados a serem observados ao buscar na literatura evidências para o fazer historiográfico:
A exigência metodológica que se faz, contudo, para que não se regrida a posições reducionistas, é de que se preserve toda a riqueza estética e comunicativa do texto literário, cuidando igualmente para que a produção não perca o conjunto de significados condensados na sua dimensão social. (Sevcenko, 2003, p. 29)
Extrapolando aspectos estéticos, a produção literária reflete a percepção das relações sociais, políticas, econômicas e culturais de um autor, fazendo com que o universo ficcional alcance o real. Porém, o cuidado analítico para com tais narrativas deve se dar de modo a evitar tanto o excesso de rigidez interpretativa quanto a leniência frente à narrativa. Portanto, a subjetividade do texto literário não deve ser considerada como entrave ao pesquisador, tampouco inviabiliza esse registro como fonte, a exemplo das pesquisas realizadas por Carlo Ginzburg (2006)3 e Nicolau Sevcenko (2003)4.
Em se tratando de pesquisas que problematizam a educação em perspectiva histórica, há uma produção significativa que inclui o uso da literatura como fonte5 a qual, segundo Lopes (2005, p. 157), em relação ao âmbito escolar “pode revelar aquilo que as fontes oficiais não cuidaram de guardar, seja por ser discordante, seja por ser considerado irrelevante”.
Sobre o uso de imagens como fontes, ele é justificado pela imersão no universo das imagens que tem caracterizado a contemporaneidade. Cada vez mais as pessoas se expressam por meios em que a palavra se torna coadjuvante ao visual, acirrando o debate sobre os limites da interpretação de textos não verbais. Porém, Manguel (2001) afirma não haver certeza sobre a possibilidade de um sistema de leitura de imagem com coerência sistemática similar ao da escrita, embora o potencial narrativo de certas expressões imagéticas beire o consenso.
Teóricos canônicos da análise de imagens são reticentes à ideia de alteridade da imagem em relação às narrativas verbais. É o caso de Aumont (1993), que problematiza o quanto esta estaria presa a pressupostos da interpretação verbal, embora reconheça a existência de uma dinâmica entre as dimensões imagética e verbal na elaboração de sentidos. No caso das obras de Pompeia utilizadas como objeto de análise deste artigo, a produção visual decorre da verbal, o que não interdita caminhos novos decorrentes de sua interpretação em relação ao referente escrito, mas expande a possibilidade de vislumbre de aspectos da realidade escolar daquele contexto.
Peter Burke (2004), escrevendo sobre o status de fonte que certas imagens carregam, posiciona-as como narrativas visuais, portanto, profícuas para pensar a história. Já Knauss (2006), ao abordar os desafios do fazer historiográfico a partir de imagens, concebe-as como fragmentos de práticas e discursos. Legando relação simbiótica entre a iconografia e o social, o autor reafirma sua importância pela capacidade de condensar peculiaridades históricas e culturais. São essas peculiaridades que emergem à inquirição das imagens produzidas por Pompeia.
No que diz respeito à obra O Ateneu, pelo fato de ser um clássico cujo espaço narrativo é centrado na escola, há um número considerável de investimentos em áreas diversas do conhecimento. Em particular, dadas as perspectivas postas para este artigo, destacam-se produções como as de Maria Terezinha Galuch e Marta Sforni (1992), que buscam analisar a educação institucional como intrinsecamente vinculada ao tecido social, de Kleber Campos (2001), que permite problematizar o universo escolar dos oitocentos na Europa e no Brasil em diálogo com as produções de Dickens e de Raul Pompeia, ou de Vilma da Silva (2007), que investiga as relações de poder no espaço educacional que ambienta a obra. Já autores como Carlos de Carvalho, em parceria com José Carlos Araújo (2005; 2006), e com Luciana de Carvalho (2008), abordam o projeto pedagógico e educativo revelado pela obra de Pompeia, enfatizando as concepções de professor, de escola, de pedagogia e de currículo em suas relações com o conservadorismo. Relacionando ficção e memória, Adeítalo Pinho (2013) tem como objeto as relações entre ficção e memória educacional implícitas em O Ateneu, contemplando aspectos como o modo de trabalho dos professores e os métodos de avaliação. Por sua vez, Tiago Santos e Rita de Cassia Marchi (2013) têm como foco os mecanismos disciplinares relacionados ao espaço educacional representado no romance. Por fim, Mauro Gonçalves e Emari Andrade (2024) sistematizam uma análise do conteúdo do romance com vistas a compreender as relações entre o contexto histórico-educacional e a filiação literária do sujeito-narrador, tendo em vista suas condições culturais e existenciais específicas.
É preciso ressaltar que tais esforços investigativos não esgotam as possibilidades analíticas de um cânone como O Ateneu. Sendo assim, o estudo presente se diferencia dos demais por propor uma análise a partir do entrecruzar das narrativas visual e verbal produzidas por Raul D´Ávila Pompeia para O Ateneu, em diálogo com o contexto relacionado à educação no Brasil do século XIX. As reflexões desenvolvidas no texto, embora não pretendam superar questões subjacentes na dinâmica de leitura de ambas as modalidades, discutidas amplamente por Aumont (1993) e Knauss (2006), mostram-se relevantes porque interrogam narrativas de naturezas diversas, operacionalizadas pelo mesmo agente, que mobilizou sua criatividade tendo O Ateneu como referente. Elucidando aspectos associados ao cotidiano escolar do final do século XIX no país, o tema dessa obra pode desnudar perspectivas sobre o segmento social ao qual Pompeia pertencia, como ele próprio prenuncia: “Não é o internato que faz a sociedade; o internato a reflete. A corrupção que ali viceja, vai de fora” (Pompeia, 1905, p. 232).
É fundamental ressaltar que no caso de O Ateneu, a simbiose entre ficção e realidade é asseverada devido a similaridades entre a vida do autor e o enredo, como pautado pela crítica: “Que o livro guarde estreitas relações com o passado do autor, parece hoje verdade assente: ‘o romancista se vinga’ - é a tese de Mario de Andrade [...]” (Bosi, 1994, p. 183). Desta forma, na perspectiva de uma narrativa literária com forte teor biográfico, tem-se a seguinte correspondência: o personagem central Sérgio, um menino que é matriculado em um internato no Rio de Janeiro no final do século XIX e que narra suas experiências escolares, seria inspirado em Pompeia quando criança. Já o Colégio Ateneu teria como referência o Colégio Abílio. Por fim, a figura o diretor Aristarco seria baseada no educador Abílio César Borges.
Ainda assim é central considerar filtros que permeiam a obra, a exemplo da relação com determinados padrões estéticos:
O Ateneu mal se pode definir em sentido estrito realista; e se já houve quem o dissesse impressionista, afetado pela plasticidade nervosa de alguns retratos e ambientes, por outras razões se poderiam nele ver traços expressionistas, como o gosto do mórbido e do grotesco com o que deforma sem piedade o mundo adolescente. (Bosi, 1994, p. 183)
Sobre a estética assumida em O Ateneu, Bosi (1994) afirma que a genialidade de Pompeia fez com que lhe escapasse a construção típica de romances de tese naturalistas, os quais buscavam representar máximas oriundas de teorias científicas aceitas à época. De qualquer modo, certo cientificismo molda a narrativa, em detrimento das lembranças difíceis que possam ter levado o autor a optar por explorar determinados veios narrativos, sendo a escrita conotada de pessimismo e ironia, comuns à prosa da época.
Educação em texto e imagem: entre realidades e expressões subjetivas
Em 1888, quando O Ateneu foi publicado pela primeira vez, Pompeia acrescentou ao título um complemento que desapareceu de algumas edições posteriores por motivos incertos, adjetivando a obra como Chronica de Saudades, o que se repetiu na segunda edição definitiva (Pompeia, 1905, contracapa), na qual era indicado entre parênteses “Conforme os originais e os desenhos deixados pelo autor” (Figura 1).
Essa expressão é retomada por Pompeia ao encerrar a obra:
Aqui suspendo a crônica de saudade. Saudade verdadeiramente? Puras recordações, saudade talvez se ponderarmos que o tempo é ocasião passageira dos fatos, mas sobretudo, funeral para sempre das horas (Pompeia, 1905, p. 274).
Nesse trecho há um indício do uso de memórias pessoais como matéria-prima para sua escrita. Pode-se ainda perceber certa alusão ao desfecho já que, na ficção, o colégio queima até completa destruição, o final do enredo se construindo sob uma espécie de pira funerária. No entanto, o Colégio Abílio, provável inspiração à criação do Colégio Ateneu, permaneceu aberto no Rio de Janeiro até o início do século XX, sendo que sua abertura fora, assim, anunciada nos jornais que circulavam no início da década de 1870 no Rio de Janeiro:
COLÉGIO ABÍLIO O Dr. Abílio Cezar Borges tem a honra de participar aos Srs. Pais de família que no 1º de Agosto próximo abrirá nesta corte um estabelecimento de educação com o título acima. O edifício com que vai o mesmo funcionar é o palacete que foi do Sr. Dr. Augusto Teixeira de Freitas, um dos primeiros edifícios desta corte em vastidão, sumptuosidade, e perfeitamente accommodante ao fim a que vai servir pela sua aprazível posição no centro de um magnífico e extenso jardim no bairro das Laranjeiras, afamado por sua salubridade. E, porque em meio vai já o anno escolar, declara que até o fim do corrente receberá alunos para instrucção primária e princípio do secundário. O plano de estudos e os estatutos do estabelecimento serão brevemente publicados. (Colégio Abílio, 1871, p. 6)
Posteriormente o colégio seria transferido para o antigo palacete do Barão de Alegrete, na Praia de Botafogo, local onde Pompeia estudou, e cuja imagem fotográfica da época é reproduzida abaixo (figura 2).
No Brasil Império, o Colégio Abílio formou filhos de famílias abastadas, cujos recursos podiam arcar com os altos custos das mensalidades, como foi o caso de Pompeia. No plano ficcional, os estudantes do Colégio Ateneu também “[...] significavam a fina flor da mocidade brasileira.” (Pompeia, 1905, p. 10).
Ao escrever sobre educação e sociedade no Império, Gondra e Schueler (2008) cunham critérios para classificar iniciativas de naturezas diversas, relacionadas à educação brasileira naquele contexto. Para os autores, as formas qualificadas como institucionalizadas congregavam as forças educativas do Estado, de igrejas ou de natureza privada, para a abertura de escolas pelo extenso território brasileiro visando unificar o Brasil. Já as modalidades não institucionalizadas diziam respeito às ações implementadas em espaços privados, sem caráter fortemente institucional. Segundo os historiadores, naquele período “a educação ingressara definitivamente na agenda das preocupações sociais, sendo objeto de soluções variadas para atender a uma população heterogênea que precisava ser minimamente educada e disciplinada” (Gondra, Schueler, 2008, p. 11). Segundo essa premissa, o educador Abílio César Borges foi protagonista de uma das formas institucionalizadas ao abrir o Colégio Abílio, tanto que recebeu do Império título de nobreza e seu estabelecimento recebia visita do regente, como consta no Novo e Completo Indice Chronologico da História do Brasil (RJ) (1879, p. 235).
Também na literatura de Pompeia o Império se fazia presente no Colégio Ateneu em datas festivas, como na seguinte passagem: “A princesa imperial, Regente nessa época, achava-se à direita em gracioso palanque de sarrafos” (Pompeia, 1905, p. 15). No enredo do romance, o diretor Aristarco se comprazia da presença das autoridades, imbuído do papel de formar os jovens que um dia iriam assumir postos de comando no país. É plausível que rituais similares de reconhecimento fossem reservados a figuras como o diretor Abílio Cesar Borges, tendo em vista que ele recebera o título de Barão de Macaúbas e tivera insígnia cunhada em seu nome. Todavia, é importante compreender que a obra foi publicada na iminência da República, sendo preciso considerar que “[...] num tempo em que a figura de Reis imperadores produzia repulsa nos meios políticos mais exaltados da sociedade brasileira, a associação da imagem de um diretor de escola à figura do imperador pretendia produzir no leitor um efeito oposto ao da admiração.” (Campos, 2001, p. 77).
É interessante ressaltar que a medalha cunhada em homenagem a Abílio César Borges (Figura 3) eterniza os traços desse diretor cujos registros fotográficos são raros, como era praxe no Brasil do século XIX. Pompeia se inspira nele ao representar em desenho Aristarco com farto bigode e nariz adunco (Figura 4). Na ficção, o diretor é adjetivado como um “sistema nutrido de reclame”, sugerindo ao leitor um contexto escolar permeado de hipocrisias, no qual as aparências agradavam aos pais, embora a experiência como alunos desagradasse aos filhos: “Aristarco todo era um anúncio.” (Pompeia, 1905, p. 09).
Analogamente, o desenho de Pompeia (figura 4) apõe o diretor Aristarco como garoto propaganda à frente do letreiro do colégio, remetendo a perfis de moedas e assumindo ares comemorativos. No texto, o autor assim o descreve:
Os gestos, calmos, soberanos, eram de um rei - o autocrata excelso dos silabários; a pausa hierática do andar deixava sentir o esforço, a cada passo, que fazia para levar adiante, de empurrão, o progresso do ensino público; o olhar fulgurante, sob a crispação áspera dos supercílios de monstro japonês, penetrando de luz as almas circunstantes - era a educação da inteligência; o queixo, severamente escanhoado, de orelha a orelha, lembrava a lisura das consciências limpas - era a educação moral. A própria estatura, na imobilidade do gesto, na mudez do vulto, a simples estatura dizia dele: aqui está um grande homem… não veem os côvados de Golias?!… Retorça-se sobre tudo isto um par de bigodes, volutas maciças de fios alvos, torneadas a capricho, cobrindo os lábios, fecho de prata sobre o silencio de ouro, que tão belamente impunha como o retraimento fecundo do seu espírito teremos esboçado moralmente, materialmente, o perfil do ilustre diretor. Em suma, um personagem que, ao primeiro exame, produzia-nos a impressão de um enfermo, desta enfermidade atroz e estranha: a obsessão da própria estátua. Como tardasse a estátua, Aristarco inteiramente satisfazia-se com a afluência dos estudantes ricos para o seu instituto. (Pompeia, 1905, p. 09-10, grifo nosso)
As representações visual e verbal do diretor Aristarco sugerem sátira e ironia. Na imagem, um homem de perfil caricato ocupa orgulhoso o foco central, sobrepondo-se a um letreiro estilizado onde se lê parcialmente o nome do colégio. Na escrita, Pompeia se utiliza da imagem de um monstro japonês que, obcecado pela própria persona, calculando gestos sob premissa de um sacrifício pela educação, ocupa-se em angariar estudantes ricos para seu estabelecimento. Contudo, na composição visual, um dos focos de desconstrução desse personagem recai sobre o bigode, em detrimento deste elemento aparecer como aspecto agradável de seu perfil na escrita.
Essas conotações atribuídas a um diretor escolar carregam questões pessoais do autor em relação a esse tipo de autoridade de sua época, permitindo, não obstante, vislumbrar que interesses econômicos e de status social podiam alçar esse cargo muito além das motivações pedagógicas na gestão escolar do Brasil oitocentista. Também possibilitam dimensionar como conceitos associados à gestão escolar agregaram significados no decorrer da história brasileira6. O perfil de Aristarco corrobora a conclusão de que “[...] inicialmente esse conceito estava direcionado aos aspectos mais administrativos da função e que, com o passar dos tempos, de acordo com as mudanças sociais e históricas reafirmadas pela legislação em vigor, passou a buscar o teor mais pedagógico e político da palavra.” (Oliveira; Vasques-Menezes, 2018, 897).
No romance, o enredo de Pompeia inicia pela chegada de Sérgio, personagem principal da trama, ao prédio do colégio Ateneu:
“Vais encontrar o mundo” - disse-me meu pai, à porta do Ateneu. “Coragem para a luta.” Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade da influência de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam. (Pompeia, 1905, p. 05-06)
Relacionada ao capítulo, o autor desenvolveu a seguinte imagem (figura 5), em que é possível aventar, pelos detalhes do muro de entrada da Instituição, a suntuosidade do edifício escolar, bem como inferir que o acesso a esse local era restrito à alta sociedade, o que aponta a indumentária de pai e filho que se aproximam do portão, ambos trajados em alfaiataria, o pai empunhando bengala e cartola, símbolos de distinção no Brasil das últimas décadas do século XIX.
Tal dimensão relacionada ao edifício e às implicações materiais postas àqueles que ali pretendiam estudar está presente no decorrer de todo o capítulo introdutório do livro. No entanto, os aspectos opressores expressos do enredo não são percebidos na imagem. Visualmente, o pai acolhe o filho com um dos braços enquanto parece apontar-lhe uma direção ou ministrar-lhe um ensinamento. Entretanto, na escrita é recomendada coragem para uma luta que o jovem interno afirma ter cruelmente experimentado mais adiante.
Embora no último quartel do século XIX tenha havido, no Rio de Janeiro, um esforço de modernização da educação por meio do planejamento de prédios escolares conhecidos posteriormente como “escolas do imperador” (Silveira, 2021), isso não era norma para o país como um todo, tampouco para outros períodos da vigência monárquica. De um modo geral as escolas funcionavam em edifícios construídos para outros fins, sendo sua arquitetura adaptada para funções educacionais (Gondra, Schueler, 2008). Essa situação é ficcionalmente representada em O Ateneu, cujo espaço escolar remetia a um casarão residencial feito para abrigar a aristocracia brasileira. Não contava, portanto, com um projeto pré-estabelecido como o fim de abrigar a escola, como ocorreria um pouco mais tarde no contexto republicano, quando as construções de edifícios escolares procuraram marcar o sucesso do sistema de governo recém instaurado (Bencostta, 2019). Contudo, tais espaços contavam com o apoio do Império, muitas vezes recebendo subsídios para que fossem adaptados para fins pedagógicos. O enredo de Pompeia tangencia essa prática quando Sérgio descreve as mudanças empreendidas nas dependências do Colégio:
Transformara-se em anfiteatro uma das grandes salas da frente do edifício, exatamente a que servia de capela; paredes estucadas de suntuosos relevos, e o teto aprofundado em largo medalhão, de magistral pintura, onde uma aberta de céu azul desempenhava aos cachos de deliciosos anjinhos, ostentando atrevimentos róseos de carne, agitando os minúsculos pés e as mãozinhas, desatando fitas de gaza no ar. Desarmado o oratório, construíram-se bancadas circulares que encobriam o luxo das paredes. Os alunos ocupavam a arquibancada. Como a maior concorrência preferia sempre a exibição de exercícios ginásticos, solenizada dias depois do encerramento das aulas, a acomodação deixada aos circundantes era pouco espaçosa; e o público, pais e concorrentes em geral, mais numerosos do que se esperava, tinha que transbordar da sala de festa para a imediata. (Pompeia, 1905, p. 11)
Contrastando com a narrativa escrita, a ilustração produzida para este capítulo (figura 6) não faz alusão à prática de adaptação de espaços, mas representa a parte externa do edifício, enfatizando sua monumentalidade de modo mais patente.
A escolha de edifícios a serem adaptados para abrigar escolas de elite durante o Império não era aleatória, sendo necessário que estes traduzissem certa imponência e que, ao mesmo tempo, parecessem uma extensão da casa das crianças abastadas que ali morariam. Em ilustrações de fachadas, os desenhos usualmente eram feitos a lápis grafite e centralizados na folha, sendo trabalhadas partes dos objetos ou cenas representadas. No caso de Pompeia, por vezes tais desenhos parecem inacabados, dando a impressão de fragmentos. Não obstante, a imagem (figura 6) transmite opulência, enquanto a descrição centra-se na dicotomia entre o ser e o parecer em relação à hospitalidade dos internos.
Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios. (Pompeia, 1905, p. 08)
Também por conta de especificidades literárias do período, a ironia transborda no paradoxo de um espaço destinado à sublimidade que a elite pretendia, reforçado pela ilustração, mas regido pela lógica etérea do lucro, adjacente na escrita.
Ao analisarem os regulamentos para construção de edifícios escolares franceses e brasileiros no final do século XIX e início do XX, Bencostta e Braga (2011) afirmam que a arquitetura escolar deve ser analisada para além de aspectos técnicos, pois é um lugar que concentra cenas e memórias que trazem à tona sutilezas, como um invólucro de memória e sensibilidades relacionadas ao processo educacional. Não à toa, em O Ateneu o prédio é descrito como um cenário inóspito que condensa marcas deixadas em Sérgio:
O Ateneu, quarenta janelas resplendentes do gás interior, dava-se ares de encantamento com a iluminação de fora. Erigia-se na escuridão da noite, como imensa muralha de coral flamante, como um cenário animado de safira com horripilações errantes de sombra, como um castelo fantasma batido de luar verde emprestado à selva intensa dos romances cavalheirescos, despertado um momento de legenda morta para uma entrevista de espectros e recordações. Um jato de luz elétrica, derivado de foco invisível, feria a inscrição dourada ATHENAEUM em arco sobre as janelas centrais, no alto do prédio. (Pompeia, 1905, p. 19-20, grifo nosso)
No trecho, assim como na ilustração (figura 6), percebe-se a grandiosidade do prédio em vista perfilada, mas o personagem o lê para além disso, como um cenário de experiências conflituosas, obliteradas pela monumentalidade e beleza que o edifício pudesse impor aos transeuntes ocasionais. Vale acrescentar que a aparência grandiosa de tais edifícios era igualmente aprazível ao Império brasileiro. Conforme Gondra (1996), a questão educativa também se apresentava como bandeira ao regime, sob retórica que tentava unir positivismo, império e religião, subvertendo a relação comumente estabelecida entre positivismo e república.
No caso de um edifício escolar, há relações imbricadas para além de um local. Sabe-se que é um espaço de experiências e memórias, infelizmente opressivas no caso do romance, como se observa no fragmento em que Sérgio descreve seu cotidiano escolar:
Os professores já sabiam. À nota do Franco, sempre má, devia seguir-se especial comentário deprimente, que a opinião esperava e ouvia com delícia, fartando-se de desprezar. Nenhum de nós como ele! E o zelo do mestre cada dia retemperava o velho anátema. Não convinha expulsar. Uma coisa destas aproveita-se como um bibelô do ensino intuitivo, explora-se como a miséria do hilota, para a lição fecunda do asco. A própria indiferença repugnante da vítima é útil. Três anos havia que o infeliz, num suplício de pequeninas humilhações cruéis, agachado, abatido, esmagado, sob o peso das virtudes alheias mais que das próprias culpas, ali estava, - cariátide forçada no edifício de moralização do Ateneu, exemplar perfeito de depravação oferecido ao horror santo dos puros. (Pompeia, 1905, p. 43)
O olhar crítico sobre o ambiente escolar já se fazia presente em Pompeia quando aluno do Colégio Abílio. Em texto escrito em 1874 e publicado no jornal escolar manuscrito O Archote, possivelmente ao final do quinto ano, ele comenta o que considera injustiças e parcialidades sofridas pelos estudantes, as quais tanto incluem premiações indevidas ou omissões referentes à prática do “banco de honra”, distinção conferida aos melhores alunos, como também castigos como a expulsão de um colega, ocorrida “debaixo de pancadas”, por ter afrontado o então vice-reitor da instituição. Sua narrativa traz detalhes de como os procedimentos violentos se davam em instituições modelos como o colégio em questão: “O moço foi agarrado por dez criados, (entre os quais dois inspetores [...] que se desonraram descendo ao nível dos criados). Viu-se impelido brutalmente até a porta” (Pompeia, 1874, p. 1). A narrativa foi acompanhada por uma sequência de imagens desenhadas a grafite que descreviam o ocorrido de forma satírica, acompanhadas de diálogos entre os personagens envolvidos. Em uma delas ((figura 7), o vice-reitor aparece apontando o dedo para o aluno, aos gritos: “Retire-se! Cachorro! Patife”; ao que ele responde: “Vê lá! Sou bacharel! Tenho pergaminhos!”. Por fim, a autoridade escolar ordena: “Agarrem! Agarrem! Arrastem para fora! Estou na minha casa! Rua! Rua! Rua!” (Pompeia, 1874, p. 3).
Uma perspectiva sobre o modo como o Império buscava se representar em ambientes educativos é trazida na descrição feita sobre o espaço interno do colégio durante um cerimonial, uma mesa trazendo o verde e o dourado sobre si, unindo símbolos que reafirmavam o Estado: “Diante da arquibancada, ostentava-se uma mesa de grosso pano verde e bolas de ouro. Lá estava o diretor, o ministro do Império, a comissão dos prêmios.” (Pompeia, 1905, p. 11).
Complementar ao civismo, enfatizado no universo ficcional de O Ateneu, a religião católica, cara aliada a quem pretendesse manter o poder no Brasil oitocentista, figurava nos espaços e na rotina escolar, como no comentário feito por Sérgio sobre seus trajetos dentro do prédio: “Desci ao primeiro andar do edifício: entrei na capela.” (Pompeia, 1905, p. 91).
É factível que as ilustrações abaixo (figuras 8 e 9) estejam relacionadas ao catolicismo. Na primeira tem-se um altar dentro da escola e na segunda o fragmento de uma Igreja nas proximidades, de cuja missa os internos participavam semanalmente. Nas imagens é possível perceber riqueza de detalhes, principalmente nos adornos do altar. Na tecitura verbal, o altar traduz-se em requinte e as missas são qualificadas como passeios. Apesar disso, apenas um viés superior da igreja consta na ilustração e não há portas, sugerindo ao observador distância ou inacessibilidade.
Durante o Império, a relação entre Igreja e Estado se valeu da Bula Praeclara Portugalliae Algarbiorunque Regum7, em uma relação de continuidade do sistema de padroado que fora estabelecido em relação a Portugal. Segundo Tambara (2006), foi com o advento da República que a preocupação em criar mecanismos para ocupar aparelhos ideológicos do Estado, incluindo o escolar, foi potencializada na Igreja Católica. A escrita de Pompeia, no entanto, permite perceber como o catolicismo fazia parte do cotidiano escolar no Brasil Imperial.
Ampliando perspectivas sobre espaços internos do Colégio Ateneu, como não poderia deixar de ser em um país cujas relações sociais eram construídas sob forte hierarquia, os ambientes eram pensados para demarcar a diferença entre as classes, de modo que os dormitórios dos internos são assim representados:
Os dormitórios apelidavam-se poeticamente, segundo a decoração das paredes: salão pérola, o das crianças, policiado por uma velha, mirrada e má, que erigia o beliscão em preceito único disciplinar, olhos mínimos, chispando, boa sumida entre o nariz e o queixo, garganta escarlate, uma população de verrugas, cabeça penugenta de gipaeto8 sobre um corpo de bruxa; salão azul, amarelo, verde, salão floresta, dos ramos do papel, aos quais se recolhia a classe dos médios. O salão dos grandes, independente do edifício, sobre o estudo geral, conhecia-se pela denominação de chalé. O chalé fazia via em separado e misteriosa. (POMPEIA, 1905, p. 157-158)
Já os dormitórios do que Pompeia denominava criadagem ficavam no subsolo do prédio, e para esses não há ilustrações:
A rouparia ocupava grande parte do subchão do imenso edifício, entre o vigamento do assoalho e a terra cimentada. Outra parte era destinada aos lavatórios, centenas de bacias, ao longo das paredes e pouco acima num friso de madeira os copos e as escovas de dentes. Terceiro compartimento além destes, acomodava o arsenal de aparelhos ginásticos e o dormitório da criadagem. Da rouparia para o recreio central atravessava-se obliquamente o saguão das bacias. (Pompeia, 1905, p. 37-38, grifos nossos)
Apesar de a escrita detalhar o dormitório dos internos, a imagem ((figura 10) trata dele de forma homogeneizante. As camas são todas iguais e estão enfileiradas, remetendo a um ambiente despersonalizado. Assim, para além de aspectos relacionados à estrutura fixa do Colégio Ateneu, o verbal e o visual tecidos por Pompeia possibilitam contato com componentes passíveis de compor um espaço escolar naquele contexto, como camas ou utensílios.
A cozinha do Ateneu, além dos alojamentos da copa, era espaçosa como um salão. Às paredes cintilavam o trem completo de cobre areado, em linha as peças redondas como uma galeria de broquéis. No centro uma comprida mesa servia de refeitório à criadagem. (Pompeia, 1905, p. 111)
Do trecho é possível depreender aspectos relacionados à organização de refeitórios e a mobiliários. Na (figura 11 é possível observar um ambiente de refeitório, onde vários alunos compartilham as mesmas mesas, dispostas paralelamente, sentados em bancos coletivos sem encosto. Bencostta (2013) observa que, naquele período, o mobiliário escolar deveria ser simples e de baixo custo, uma vez que não havia preocupações relacionadas à ergonomia e à salubridade.
No Brasil, somente a partir do século XX as inovações relacionadas ao mobiliário escolar contribuíram para o desenvolvimento de objetos diferenciados, cujos projetos consideravam ergonomia e saúde dos estudantes. Nesse sentido, algumas imagens produzidas por Pompeia acerca de objetos ou acessórios presentes no Colégio Ateneu podem diluir os parâmetros que identificam um ambiente escolar tal como o reconhecemos.
As memórias negativas que Sérgio acumula de sua passagem pelo Ateneu estão tão relacionadas ao prédio e aos objetos que o compunham, que o fato de tudo queimar ao final do romance pode ser lido como alegórico. A contraposição entre a recuperação de Sérgio, que convalesce de uma doença, e a ruína de Aristarco, está posta tanto no texto como nas duas últimas ilustrações feitas por Pompeia para a obra (figuras 12 e 13).
Na primeira imagem (figura 12), o ambiente é acolhedor. Trata-se da casa onde morava Aristarco, nos arredores do internato, onde Sérgio recebe os cuidados de sua esposa Ema, que na obra é símbolo materno para os internos e paixão de adolescência para o personagem. Sobre essa mulher, Campos (2001, p. 134) interpreta que por ser carente de afeto, ela se identificava com os adolescentes, despendendo-lhes cuidados durante enfermidades. Na segunda imagem (figura 13), o cenário é de desolação, representando o momento em que o diretor desfalece sobre os escombros do internato. Essas ilustrações selam um desfecho para a tríade Sérgio, Aristarco e Colégio Ateneu.
Quanto à experiência de Pompeia no Colégio Abílio e seu posterior suicídio, Bosi ponderou: “Pompeia-Sérgio não perdoou à vida [...]. O ato de incendiar o colégio é homólogo ao suicídio: um e outro significam uma recusa selvagem daquela vida adulta que começa no internato” (Bosi, 1994, p. 185). Sobre o ambiente repressivo relacionado à escola no Brasil oitocentista, descrito na narrativa, é importante ponderar que, apesar do viés autoritário, a escola legou ao autor criticidade e competência para desenvolver seu relato, paradoxo que tangencia o contexto, de modo que “essa mesma sociedade que criou escolas de atuação repressiva estava, naquele momento, receptiva à crítica.” (Campos, 2001, p. 172).
Considerações finais
O uso da literatura como fonte para pensar a história da educação é um universo possível e com muito potencial de exploração, sendo enriquecido, no caso do Ateneu de Pompeia, tanto pelo uso que o autor faz de suas vivências pessoais na construção do universo ficcional, como pelas imagens que cria para ilustrá-lo. Por outro lado, o fato de que esse universo se relaciona ao contexto em que ele esteve inserido permite o entrever de um passado a nós acessível somente por meio de indícios fragmentários.
As imagens produzidas pelo autor, ainda que geradas de forma subjetiva, fornecem representações sobre o passado que expressas em detalhes de cenários, objetos e até mesmo práticas cotidianas.
No caso de O Ateneu, o tensionamento entre as fontes imagética e literária possibilitou vislumbres sobre aspectos do cotidiano que dificilmente seriam alcançados por outros tipos de documentos, evidenciando a percepção de um sujeito - no caso o autor - sobre o cotidiano escolar por ele frequentado. Por estarem ausentes das fontes de caráter institucional, tais sutilidades constituem informações preciosas, especialmente quando tratadas no entrecruzar com outras tipologias de fontes ou ancoradas em diálogo com a historiografia já produzida.
As expressões de caráter verbal e visual de Pompeia possibilitaram problematizar dinâmicas relacionadas a um ambiente escolar do Brasil oitocentista destinado à elite, expondo questões relacionadas ao modo como o autor entrevia a autoridade escolar, a arquitetura destinada à educação ou o lugar da religião católica nesse contexto. Também expuseram aspectos como a crítica à opressão reinante em tais instituições, muitas vezes justificada de forma pedagógica. Pôde-se concluir que, para esta tecitura, cada modalidade pôde ser lida à sua maneira. Portanto, seria inócua a tentativa de determinar o quanto do visual dependeria do verbal na construção do sentido. No entanto, também seria falacioso afirmar que nestas análises houve alteridade do visual em relação ao verbal, dado o modo como o visual desdobra-se, desde sua origem, da escrita ficcional.
Não obstante, as reflexões sobre as representações produzidas por Pompeia para O Ateneu permitiram trazer à tona um movimento em que tais modalidades alternam posições em relação à produção de sentido, podendo ser opostas, complementares, e, até mesmo, ratificar uma à outra. Por outro lado, o confronto dos registros escritos e imagéticos de Pompeia com o contexto do período trouxe à tona questões referentes ao autoritarismo no ambiente escolar, aos espaços institucionais adaptados para fins educacionais e à sua ocupação pelos estudantes, bem como ao cotidiano escolar de uma maneira geral.
A exploração analítica das modalidades visual e verbal da obra de Pompeia sem a necessidade de uma hierarquização possibilitou um diálogo não só entre texto e imagem, mas também entre realidade e ficção, alcançando, para além de uma realidade passada, nuances do olhar crítico e observador de um escritor que um dia esteve no papel de estudante em uma instituição escolar de seu tempo, o que possibilitou a transformação de sua experiência em obra literária.
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SILVEIRA, Luciana de Almeida. As “escolas do Imperador” das freguesias da Nossa Senhora da Glória, de São Christóvão e de Sant’Anna: Sobre a emergência de diferentes estéticas do olhar na cidade do Rio de Janeiro (1870-1889). 2021. 371 f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. <Disponível em: https://ppge.educacao.ufrj.br/ppge-teses-2021.html >. Acesso em: 05 mar. 2025.
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TAMBARA, Elomar. O Estado, Igreja e Educação no Brasil - do Regalismo ao Ultramontanismo (1870/1935). In: Linguagens, Educação e Sociedade, [S. l.], n. 14, p. 24-36, 2006. <Disponível em: https://periodicos.ufpi.br/index.php/lingedusoc/article/view/1557 >. Acesso em: 20 jan. 2024.
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1
A grafia do título das duas primeiras edições da obra (O Atheneu) foi atualizada para melhor fluidez de leitura.
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2
Ver Burke (1992).
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3
Na obra O queijo e os vermes, o pesquisador utiliza da literatura popular como uma das fontes para sua análise.
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4
Em Literatura como missão, a literatura auxilia na compreensão das reverberações das mudanças ocorridas no Rio de Janeiro com o advento das influências da Belle Époque, início do século XX.
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7
Documento cedido pelo papa, em 1827, a pedido do corpo diplomático brasileiro que concedia à Coroa Imperial Brasileira o direito de padroado. Formalizando a proximidade entre Igreja e Estado, o documento garantia certo o controle da Igreja por parte do Estado, que poderia nomear bispos e influir sobre dízimos. Tal medida sempre encontrou resistência por parte da Câmara de Deputados que visava à laicidade. Ver Brito (2018).
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8
Abutre de grande porte, semelhante à águia, que se alimenta de ossos.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
22 Set 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
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Recebido
29 Abr 2024 -
Aceito
24 Mar 2025














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