Palavras-chave:
Temporalização do tempo; Regimes historiográficos; História da Historiografia
Keywords:
Temporalization of time; Historiographical regimes; History of Historiography
É esta condição que funda o humano propriamente, esta capacidade de representar e significar o espaço da existência que transcorre entre o nascimento e a morte, transformando-o em narrativa a ser partilhada e produzindo sentido para o tempo e para a vida. ( Manoel Salgado Guimarães, História e Ética, 2022GUIMARÃES, Géssica. Ensaio feminista sobre o sujeito universal. Rio de Janeiro: UERJ, 2022. , p. 208)
A proposta deste dossiê surgiu da necessidade que a/os proponentes sentiram de promover um debate mais denso e reflexivo acerca do tema, que cada um/a, a seu modo, vêm analisando em suas últimas pesquisas e que em termos teóricos relacionam-se a controvérsias mais amplas que podem ser sintetizadas nas questões envolvendo a “temporalização do tempo” em diferentes “regimes historiográficos”.
Nesse sentido, o objetivo geral foi o de acolher artigos científicos inéditos que articulassem essas duas noções a partir da hipótese de que tanto a temporalização do tempo quanto os regimes historiográficos são formas pelas quais podemos discutir crenças enraizadas nos estudos históricos bem como nas sociedades que vivenciam a experiência temporal ( ARAUJO; PEREIRA, 2019ARAUJO, Valdei Lopes de ; PEREIRA, Mateus Henrique de Faria. Atualismo 1.0: como a ideia de atualização mudou o século XXI. 2ed. Vitória: Editora Milfontes, 2019.; HARTOG, 2010HARTOG, François. La temporalisation du temps: une longue marche. In: ANDRÉ, J.; DREYFUS-ASSÉO, S.; HARTOG, F (dir.). Les récits du temps. Paris: PUF, 2010. p. 9-29.; KOSELLECK, 2006KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Tradução de Wilma Maas e Carlos Pereira. Rio de Janeiro: Ed. PUC-RJ, 2006.; MUDROVCIC, 2013MUDROVCIC, María Inés. Regímenes de historicidad y regímenes historiográficos: del pasado histórico al pasado presente. Historiografías: revista de historia y teoría, Zaragoza, n. 5, p. 11-31, 2013.; NICOLAZZI, 2017NICOLAZZI, Fernando. A história e seus passados. Regimes historiográficos e escrita da história. In: BENTIVOGLIO, Julio; NASCIMENTO, Bruno César (orgs.). Escrever história. Historiadores e historiografia brasileira nos séculos XIX e XX. Vitória: Milfontes , 2017. p. 7-36. ). Uma dessas certezas mais eminentes é a da evidência das formas de temporalização do tempo. Por exemplo, cronologia, periodização, épocas, séculos, anos, meses, semanas, dias, horas, funcionam como preceitos de inteligibilidade de sua suposta evidência ( BLOCH, 1997BLOCH, Marc. Apologie pour l’histoire ou métier d’histoiren. Paris: Armand Colin, 1997., p. 52). Independentemente dos modos de contabilizá-lo, em diversos regimes historiográficos, o tempo jamais cessou de passar e as sociedades e os indivíduos nunca deixaram de perceber seu movimento: mais ou menos lento, um passado vivido como “quase imóvel”; mais ou menos rápido, uma aceleração que confere ao futuro expectativas; mais ou menos estagnado, como um presente contínuo, uma atualidade que se esgota nela mesma. Sempre é, contudo, uma evidência ( HARTOG, 2005HARTOG, François. Évidence de l’histoire: ce que voient les historiens. Paris: Éd. EHESS, 2005.).
Mais próxima da filosofia e da retórica, a evidência é, assim, uma resposta a um dilema clássico do conhecimento histórico, ou seja, de “como manter a diferença de princípio entre a imagem do ausente como irreal e a imagem do ausente como anterior?” ( RICŒUR, 2000RICŒUR, P. La mémoire, l’histoire, l’oubli. Paris: Éditions du Seuil, 2000., p. 306). A evidência, simultaneamente, resolve e dissimula a questão. Ela a resolve, porque acreditamos na maior parte das vezes que o passado está lá, em algum lugar, seja da memória coletiva, seja da memória individual. Enfim, que o passado já foi presente e perceptível à visão de alguém, e hoje é a nossa anterioridade. Ela dissimula porque a certeza de que o passado tenha sido é muitas vezes frágil, pois pode tanto não ter se realizado, como ser produto de uma ilusão, sem mencionar as inevitáveis falhas da memória. Entretanto, as lembranças e as ilusões, considerando suas potenciais precariedades, fazem parte do discurso da história. Desse modo, a evidência do tempo é uma variante de outro debate clássico do campo historiográfico: o da história e da ficção.
Uma rápida genealogia destas questões ratifica a importância deste dossiê. Assim, no conhecido Livro XI de suas Confissões (1964), Agostinho pergunta-se: “que é, pois, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta já não sei”. O problema é que se nada passou não haveria passado e se não houvesse expectativa não haveria futuro, e se nada existisse neste instante não haveria tempo presente ( SAINT AUGUSTIN, 1964SAINT AUGUSTIN, -. Les Confessions. Paris: Fammarion, 1964.). Se o passado não existe mais e o futuro ainda não existe, o presente seria da ordem da eternidade, da qual, em Timeu (1997), Platão já havia excluído o próprio tempo ( PLATO, 1997PLATO, -. Complete Works. Cambridge: Hackett Publishing Company Inc, 1997.). Agostinho, por outro lado, também não parece ter refutado a tese aristotélica de que o tempo é qualquer coisa do movimento ( ARISTOTE, 1952ARISTOTE, -. Physique. Paris: Les Belles Lettres, 1952., L. IV). O que Agostinho faz de diferente é vinculá-lo à alma, ou ao que poderíamos denominar, talvez abusivamente, de certa consciência interior do tempo ( POMIAN, 1984POMIAN, Krzysztof. L’ordre du temps. Paris: Gallimard , 1984.).
Logo, se a temporalização do tempo é uma evidência para a maior parte das historiadoras e historiadores, ele não o é, necessariamente, para os filósofos nem para os literatos. Mesmo considerando que a descoberta da subjetividade do tempo histórico seja, de acordo com Koselleck, um produto da modernidade, a sensação da inexistência do tempo ou de sua apreensão como irreal era e continua sendo um debate inconcluso ( KOSELLECK, 2002KOSELLECK, Reinhart. Time and History: the practice of conceptual history. Timing history, spacing concepts. Stanford: Stanford University Press, 2002.). Por exemplo, no início do século XX, John E. McTaggart, em um artigo que gerou polêmica no meio filosófico, afirma que por razões diferentes de Spinoza, Kant, Hegel e Schopenhauer, acreditar que o tempo é irreal ( McTAGGART, 1908McTAGGART, J. E. The unreality of time. Mind: A Quarterly Review of Psychology and Philosophy, Oxford, 17, p. 456-473, 1908.). Quanto aos literatos, as análises de Ricœur acerca de Mrs. Dalloway ( 2017WOOLF, Virginia. Mrs. Dalloway. São Paulo: Penguin-Companhia, 2017.) de Virginia Woolf ou de La recherche du temps perdu ( 1999PROUST, Marcel. A La Recherche Du Temps Perdu. Paris: Gallimard , 1999) de Marcel Proust, são excelentes indicadores, se não da irrealidade do tempo como para alguns filósofos, pelo menos de uma relação crítica com a dimensão temporal ( RICŒUR, 1985RICŒUR, P. Temps et récit III. Paris: Seuil, 1985., p. 229-251). Assim, um poeta como T.S. Elliot, escrevia, em 1919, que, para ele, “o sentido histórico é tão atemporal quanto temporal” ( ELIOT, 1948ELIOT, T.S. Tradition and the individual talent. Selected essays, London: Faber and Faber Limited, 1948. , p. 14). Além disso, se a relação com a memória é uma característica desses romances ou poesia, não se pode inferir que ela compareça sempre como acólito do tempo. Lembremo-nos, já em outro contexto, e entre tantos exemplos possíveis, da primeira frase de O Estrangeiro (1942) de Albert Camus, “Hoje, mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem” ( CAMUS, 1942CAMUS, A. L’étranger. Paris: Gallimard, 1942., p. 9). Tempo, presente ou passado, e memória são incertos, mas não faz diferença.
Em todo caso, dos antigos aos modernos, o dilema sobre a realidade do tempo - visível ou invisível, real ou ficcional, para nos restringirmos a duas aporias clássicas - é um passo decisivo rumo à historicização do conceito e às formas de temporalização do tempo. Koselleck, neste sentido, demonstra que, no século XVII, o primeiro conceito a receber o epíteto de moderno foi o de história e o segundo o de tempo. Por consequência, no século seguinte, ainda que a tríade Antiguidade - Idade Média - Idade Moderna não tenha se imposto universalmente, vigorou, no século XVIII, “a consciência de que há três séculos já se vivia em um novo tempo, que não sem ênfase, se distingue dos anteriores como um novo período”, sendo a marca desta “consciência histórica a introdução da expressão história contemporânea” que, diferentemente do novo tempo, adquire consistência linguística e acende de modo rápido, associada que está à conjuntura das diferentes formas de Iluminismo e, sobretudo, da Revolução Francesa ( KOSELLECK, 2006KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Tradução de Wilma Maas e Carlos Pereira. Rio de Janeiro: Ed. PUC-RJ, 2006., p. 280-281). A rapidez da adoção do conceito de tempo contemporâneo é um forte indicador da aceleração do tempo e da sua consciência. Ao lado da mudança semântica das noções de revolução, progresso, desenvolvimento, o tempo, bem como a história, se tornam atores sociais: “a história, então, passa a realizar-se não apenas no tempo, mas através do tempo” ( KOSELLECK, 2006KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Tradução de Wilma Maas e Carlos Pereira. Rio de Janeiro: Ed. PUC-RJ, 2006., p. 283).
A temporalização opera-se também a partir de sentidos outros atribuídos a unidades de tempo, tais como, primeiro critério, o século - sæcula. Ele deixa de apenas ser um cálculo esquemático de cem anos e transforma-se em um sinônimo da reflexão temporal que expressa a experiência histórica como o século do Iluminismo (assim definido pelos próprios contemporâneos), ou século de Luis XIV de Voltaire, ou o gênio do século, figura cara ao romantismo ( KOSELLECK, 2006KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Tradução de Wilma Maas e Carlos Pereira. Rio de Janeiro: Ed. PUC-RJ, 2006., p. 278-282).
O segundo critério de temporização histórica é a descoberta de civilizações vivendo em graus distintos em um espaço contíguo, que são ordenados diacronicamente por uma comparação sincrônica. Desse modo, as comparações passam a hierarquizar a história do mundo em torno da noção de progresso: “esta experiência básica do ‘progresso’, que pôde ser concebida por volta de 1800, tem raízes no conhecimento anacrônico que ocorre em um tempo cronologicamente idêntico” ( KOSELLECK, 2006KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Tradução de Wilma Maas e Carlos Pereira. Rio de Janeiro: Ed. PUC-RJ, 2006., p. 284-285). Com efeito, “desde o século XVIII as diferenças em relação à melhor organização ou à situação do desenvolvimento científico, técnico ou econômico passam a ser organizadas, cada vez mais, pela experiência da história” ( KOSELLECK, 2006KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Tradução de Wilma Maas e Carlos Pereira. Rio de Janeiro: Ed. PUC-RJ, 2006., p. 286). O progresso é um vetor que converte a experiência cotidiana da simultaneidade do não-simultâneo, tornando-o um axioma elementar no século XIX.
O terceiro critério dessa temporalização é o lugar que a teoria da perspectiva histórica subjetiva adquiriu, amparada em enunciados temporais historicizados, junto à produção do conhecimento histórico. Isso significa que os acontecimentos perderam sua estabilidade, até então fixada nos anais, e o passado tende a ser reinterpretado e reescrito. A relatividade dos juízos históricos deixava de ser um inconveniente, transformando-se em uma verdade superior, condicionada pela história:
A história é temporalizada, no sentido que, graças ao correr do tempo, a cada hoje, e com o crescente distanciamento, ela se modifica também no passado, ou melhor, se revela em sua verdade. Torna-se evidente que a história, precisamente como história universal, precisa ser reescrita ( KOSELLECK, 2006KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Tradução de Wilma Maas e Carlos Pereira. Rio de Janeiro: Ed. PUC-RJ, 2006., p. 287).
O quarto critério é o do tempo experimentado como “transição”, momento em que a providência e a exemplaridade antiga perdem espaço: o tempo como transição altera-se para único e permanente, condição que pouco mais tarde será chamada de modernidade. Por fim, o quinto e último critério é o aparente paradoxo do descrédito da história do tempo presente em uma época de aceleração como o século XIX, e que será colocado em questão com a emergência das críticas ao próprio conceito de história travestido de historicismo ( NIETZSCHE, 2005NIETZSCHE, Friedrich. Segunda consideração intempestiva: sobre a utilidade e os inconvenientes da história para a vida. Escritos sobre a história. Rio de Janeiro, Loyola/PUC-RJ, 2005. ) e como política do tempo e ideologia colonial ( CHAKRABARTY, 2008CHAKRABARTY, Dipesh. Provincializing Europe: postcolonial thought and historical difference. Princeton: Princeton University Press, 2008.), ou, mais recentemente, como regime de historicidade presentista ou atualista, “dimensão temporal” que, segundo Valdei Araujo e Mateus Pereira, “emerge nessas sociedades aprisionadas pelas estruturas da expansão infinita” ( ARAUJO; PEREIRA, 2019ARAUJO, Valdei Lopes de ; PEREIRA, Mateus Henrique de Faria. Atualismo 1.0: como a ideia de atualização mudou o século XXI. 2ed. Vitória: Editora Milfontes, 2019., p. 13-14).
O dossiê também repercute debates importantes no que diz respeito à virada ético-política contemporânea no âmbito dos estudos em teoria da história e história da historiografia ( RANGEL, 2019a RANGEL, Marcelo de Mello. A urgência do ético: o giro ético-político na teoria da história e na história da historiografia. Ponta de Lança, São Cristóvão, v. 13, n. 25, p. 27-46, jul./dez. 2019a. ; RANGEL; ARAUJO, 2015RANGEL, Marcelo; ARAUJO, Valdei. Apresentação - Teoria e história da historiografia: do giro linguístico ao giro ético-político. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 8, n. 17, p. 318-332, 2015.). Especialmente por trazer intervenções que tematizam as complexas e tensas relações entre história e memória ( ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2012ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Fazer defeitos nas memórias: para que servem o ensino e a escrita da história? In: GONÇALVES, Márcia de Almeida; ROCHA, Helenice; REZNIK, Luís; MONTEIRO, Ana Maria. (Org.). Qual o valor da história hoje? Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012. p. 21-39. ), que revisam o caráter normativo do tempo histórico moderno, especialmente a suposta dimensão de irreversibilidade do passado e de suas violências. Em sentido semelhante, há ainda reflexões que discutem alternativas político-existenciais à estagnação própria às dinâmicas presentistas ou atualistas do nosso tempo ( ARAUJO; PEREIRA, 2019ARAUJO, Valdei Lopes de ; PEREIRA, Mateus Henrique de Faria. Atualismo 1.0: como a ideia de atualização mudou o século XXI. 2ed. Vitória: Editora Milfontes, 2019.; HARTOG, 2013HARTOG, François. Regimes de Historicidade: presentismo e experiências do tempo. Belo Horizonte: Autêntica , 2013. ).
As modulações da experiência da historicidade impactadas pelas frustrações das utopias futuristas no século XX conduziram os historiadores profissionais e os filósofos da história a reagirem às sincronizações da temporalidade promovidas pelo conceito de progresso, que tendeu a uma hegemonia no século XIX (o que não significou consenso e ausência de disputas em relação à experiência evocada pelo conceito) ( ARAUJO, 2008ARAUJO, Valdei Lopes de. A Experiência do Tempo: conceitos e narrativas na formação nacional brasileira (1813-1845). São Paulo: Hucitec, 2008. ; CEZAR, 2018a CEZAR, Temístocles . O que fabrica o historiador quando faz história, hoje? Ensaio sobre a crença na história (Brasil séculos XIX-XXI). Revista Antropologia, [S. l.], v. 61 n. 2, p. 78-95, 2018a., 2018bCEZAR, Temístocles . Ser historiador no século XIX: o caso Varnhagen. Belo Horizonte: Autêntica, 2018b.; GUIMARÃES, 2011GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Historiografia e nação no Brasil: 1838-1857. Tradução de Paulo Knauss e Ina de Mendonça. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011. Edições Anpuh. ; MEDEIROS, 2013MEDEIROS, Bruno Franco. Plagiário, à maneira de todos os historiadores. São Paulo: Paco Editorial, 2013. ; OLIVEIRA, 2012OLIVEIRA, Maria da Glória de. Escrever vidas, narrar a história: a biografia como problema historiográfico no Brasil oitocentista. 1. ed. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2012. ; TURIN, 2013TURIN, Rodrigo. Tessituras do tempo: discurso etnográfico e historicidade no Brasil oitocentista. Rio de Janeiro: EdUERJ , 2013.; RAMOS, 2019RAMOS, André da Silva. Robert Southey e a experiência da história: conceitos, linguagens, narrativas e metáforas cosmopolitas. Vitória/Mariana: Milfontes/SBTHH, 2019. , 2023RAMOS, André da Silva. Machado de Assis e a experiência da história: melancolia, raça e assombramento. Belo Horizonte: Fino Traço, 2023. ; RANGEL, 2011RANGEL, Marcelo de Mello. Poesia, história e economia política nos Suspiros Poéticos e Saudades e na Revista Niterói. Os primeiros Românticos e a civilização do Império do Brasil. 2011. Tese (Doutorado em História) - Programa de Pós-Graduação em História Social da Cultura do Departamento de História do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2011. ; RODRIGUES, 2021RODRIGUES, Thamara. Antes do cânone: Abreu e Lima e as disputas pelo futuro e pela escrita do Brasil. Rio de Janeiro: Ape’ku, 2021.; VARELLA, 2021VARELLA, Flávia. Um Brasil Medieval: Raça, Clima e Etapas Civilizacionais na História do Brasil de Robert Southey. Belo Horizonte: Fino Traço , 2021. ; ARAUJO; CEZAR, 2018ARAUJO, Valdei Lopes de; CEZAR, Temístocles. The forms of history in the nineteenth century: the regimes of autonomy in Brazilian historiography. Historein, v. 17, p. 1-24, 2018. < Disponível em: https://ejournals.epublishing.ekt.gr/index.php/historein/article/view/8812 >. Acesso em: 21 out. 2023.
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).
A constatação da impossibilidade de o passado passar evidenciada pelos traumas provocados pelas experiências de guerras de projeções globais e extermínios de vulneráveis e culturas subalternizadas foram decisivas para a reconfiguração das relações entre história e memória. Perante o esgarçamento de uma concepção de tempo histórico sucessivo, linear e evolutivo, tornou-se premente a reflexão sobre a coexistência de múltiplas temporalidades ( FOUCAULT, 2008FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. ; KOSELLECK, 2006KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Tradução de Wilma Maas e Carlos Pereira. Rio de Janeiro: Ed. PUC-RJ, 2006.; GUMBRECHT, RODRIGUES, 2021RODRIGUES, Thamara; GUMBRECHT, Hans (org.). Reinhart Koselleck: uma latente filosofia do tempo. São Paulo: Unesp, 2021.) e a necessidade de acolhimento do testemunho das vítimas de catástrofes sociais ( BEVERNAGE, 2018BEVERNAGE, Berber. História, memória e violência de Estado: tempo e justiça. Tradução: André Ramos; Guilherme Bianchi. Serra: Editora Milfontes; Mariana: SBTHH, 2018.; JELIN, 2017JELIN, Elizabeth. La lucha por el pasado: cómo construimos la memoria social. 1. ed. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores, 2017. ; ROUSSO, 2016ROUSSO, Henry. A última catástrofe: a história, o presente, o contemporâneo. Tradução: Fernando Coelho e Fabrício Coelho. Rio de Janeiro: FGV, 2016.; TRAVERSO, 2011TRAVERSO, Enzo. El pasado, instruciones del uso. 1. ed. Bueno Aires: Prometeo Libros, 2011. ; VARGAS; CALDAS; CORREIA, 2023VARGAS, Mariluci; CALDAS, Pedro; CORREIA, Silvia. (orgs.) Testemunho e escrita da história: da Grande Guerra à pandemia da Covid-19. São Paulo: Letra e Vozes, 2023.).
Neste sentido, o dossiê traz contribuições fundamentais para aprofundarmos as reflexões sobre a experiência da história em cenários nos quais o esquecimento do passado em prol da projeção de utopias abstratas de futuros não é uma possibilidade. Esses estudos tematizam a expansão de agendas de pesquisas sobre as especificidades dos autoritarismos e conservadorismos contemporâneos, que se complexificam perante as dinâmicas impostas pelo presentismo e o atualismo. Assim, revelam a importância de explorar os conflitos entre as temporalidades hegemônicas impostas pelo Estado e das elaborações da historicidade tecidas pelas vítimas de violências traumáticas, que confrontam a imposição do esquecimento. Como o estudo de Berber Bevernage mostrou, ao desnaturalizar compreensões de historicidade hegemônicas afinadas com as violências impostas pelo Estado, a historiografia profissional pode contribuir para a qualificação dos debates sobre reparação política.
Debates que ganham densidade tanto à medida que apresentam as catástrofes impostas pelas dinâmicas das concepções modernas e presentistas de história, quanto por desmascarar a busca salvacionista e mitologizante pela recuperação idealista de passados pretensamente originários que antecederiam à violência da modernidade e da colonialidade ( HARTMAN, 2021HARTMAN, Saidiya. Perder a mãe: uma jornada pela rota atlântica da escravidão. Tradução de José Luiz Pereira da Costa. 1. ed. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021. ). A esse respeito, vimos crescer o engajamento crítico com as teorias pós-coloniais e decoloniais, entre outras possíveis, com o intuito de reiterar a centralidade do desenvolvimento de reflexões sobre as dinâmicas que atravessam a experiência da historicidade em condições de subalternidade. Desse modo, a demonstração de como a experiência da colonialidade condiciona o nosso presente, enseja mais a intensificação da análise sobre a abertura de futuros outros do que o confinamento na expectativa por reparações retroativas ( OLIVEIRA, 2022OLIVEIRA, Maria da Glória de. Quando será o decolonial? Colonialidade, reparação histórica e politização do tempo. Caminhos da História, [s. l.], v. 27, p. 58-78, 2022. , p. 74).
Em face desses desafios, tornou-se também imprescindível a tematização a respeito do tensionamento do paradigma correspondentista da representação. Afinal, está em questão o desafio de evocar as complexidades da experiência da historicidade sem domesticar o outro a partir de critérios pretensamente neutros e universalizantes próprios à concepção moderna de história. A esse respeito, o dossiê também reúne artigos que tematizam a relação entre história e literatura, que rejeitam a dualidade real versus ficcional, explorando a dimensão tangencial entre a facticidade e a ficção, bem como os limites e silenciamentos dos eventos e dos arquivos considerados por muito tempo como instâncias privilegiadas da prática historiográfica. A partir da ficção, torna-se possível a abertura para dimensões do real não raramente silenciadas pelos protocolos canônicos da historiografia profissional, que estabeleceram o paradigma da representação correspondentista como pretensamente superior, e que corroborou para a hierarquização de ontologias ( KLEINBERG, 2021KLEINBERG, Ethan. Historicidade Espectral: Teoria da História em tempos digitais. Tradução e apresentação de André da Silva Ramos. Vitória: Milfontes, 2021.; RAMOS, 2023RAMOS, André da Silva. Machado de Assis e a experiência da história: melancolia, raça e assombramento. Belo Horizonte: Fino Traço, 2023. ; RAMOS; KLEINBERG, 2017RAMOS, André da Silva; KLEINBERG, Ethan. Ethan Kleinberg: Theory of History as Hauntology. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 10, n. 25, p. 212-228, 2017.; RODRIGUES, 2020RODRIGUES, Thamara. Other ways of thinking and dreaming: the oneiric experience in Reinhart Koselleck, Ailton Krenak and Davi Kopenawa. Revista de Teoria da História, Goiânia, v. 23, p. 178-203, 2020. ).
Simultaneamente à necessidade da desconstrução do caráter normativo das experiências da historicidade modernas e presentistas e da concepção de representação correspondentista, apresenta-se como uma agenda igualmente importante a necessidade de se problematizar a concepção de subjetividade monodal e solipsista normalizada contemporaneamente. Compreensão de subjetividade que se hegemonizou na modernidade de forma coetânea às utopias emancipacionistas burguesas ( KOSELLECK, 1999KOSELLECK, Reinhart. Crítica e crise: uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Tradução: Luciana Castelo-Branco. Rio de Janeiro: EdUERJ ; Contraponto, 1999. ). Em contraposição à essa concepção de subjetividade, destaca-se as reflexões sobre temporalidade no âmbito dos estudos em teoria da história e da história da historiografia capazes de dialogar com projetos de subjetivação afinados à performatividade da diferença ( RAMOS; CASTRO, 2022RAMOS, André da Silva; CASTRO, Rafael Dias. Entre a inevitabilidade do trauma e a (im)possibilidade do luto: dinâmicas da historicidade em tempos de catástrofe. Revista de Teoria da História, Goiânia, v. 25, p. 236-257, 2022. ; RANGEL 2019RANGEL, Marcelo de Mello. Da ternura com o passado: história e pensamento histórico na filosofia contemporânea. Rio de Janeiro: Via Verita, 2019b., 2021RANGEL, Marcelo de Mello. Ensino de História: temporalidade, pós-verdade e verdade poética. Tempo e Argumento, Florianópolis, e0110, p. 1-27, 2021. ).
A relevância dessa agenda se aprofunda diante da emergência de subjetividades disruptivas que reivindicam por protagonismo na esfera pública em escala global, sendo também importante que os historiadores e historiadoras acolham suas trajetórias e seus afetos corporalizados em seus processos de enunciação historiográfica ( HOOKS, 2017HOOKS, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2017.). Por isso vemos crescer as abordagens que exploram a materialidade, os corpos e os afetos das experiências da historicidade decolonizadas, feministas, queers, que demandam a inscrição de seus processos de singularização, refutando a possibilidade da produção de um conhecimento desencarnado ( ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2023ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A mobilização das carnes: história, desejo e política ao rés dos corpos. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 16, n. 41, p. 1-23, 2023.; OLIVEIRA; HANSEN, 2023OLIVEIRA, Maria da Glória de; HANSEN, Patrícia Santos. Corpos, tempos, lugares das historiografias. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 16, n. 41, p. 1-15, 2023. ). A reconstrução da nossa relação com o real e com futuro para além da repercussão de seu esgotamento e aprisionamento no presente depende da presença desses corpos e subjetividades. A partir delas ganhamos perspectivas no que diz respeito à complexidade das estratificações temporais e à simultaneidade de experiências e desejos atravessadas por lutas afirmativas comprometidas com a imaginação e com a construção de outros mundos possíveis, junto e além dos tempos angustiantes ( ASSUNÇÃO; PEREIRA; RODRIGUEZ; BALDRAIA; BARBOSA, 2023ASSUNÇÃO, Marcello; PEREIRA, Allan; BARBOSA, Ana Carolina; BALDRAIA, Fernando; RODRIGUEZ, Maria Dolores. Na teoria da história e da literatura há questão racial, em teoria. Revista de Teoria da História, Goiânia, v. 26, p. 5-8, 2023. ; DOMANSKA, 2018DOMANSKA, Ewa. Affirmative Humanities. History-theory-criticism, Czech Republic, n. 1, p. 9-26, 2018. ; GUIMARÃES, G., 2022GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Ensaios de historiografia. Organização, revisão, tradução e notas de Temístocles Cezar. Vitória: Editora Milfontes , 2022. ; RAMOS; RODRIGUES, 2022RAMOS, André da Silva; RANGEL, Marcelo; RODRIGUES, Thamara. Apresentação - Dossiê - Teoria da História e as Novas Humanidades: debates contemporâneo - Presentation - Dossier - Theory of History and the New Humanities: contemporary debates. Caminhos Da História, [S. l.]. v. 27, n. 2, p. 3-6, 2022. ; RODRIGUES, 2023RODRIGUES, Thamara. Sonhos, temporalidades e universidade: experiências para o futuro. Revista Maracanan, Rio de Janeiro, v. 32, p. 231-249, 2023.).
Sem dúvida, o que está em questão é a possibilidade de se pensar formas de articulação da historicidade, da imaginação e de desejos que tensionem a reprodução do mesmo própria das dinâmicas da temporalidade moderna e presentista, favorecendo a emergência de futuros outros. Entretanto, compreendemos que a efetivação dessa possibilidade depende de reabitar espaços, corpos e afetos marcados por experiências domesticadoras. Pressupõe as complexidades inerentes ao desafio da mediação da distância histórica ( PHILLIPS, 1997PHILLIPS, Mark. Society and Sentiment: genres of historical writing in Britain, 1740 - 1820. Princeton: Princeton University Press , 1997. ) para a incorporação do nosso pecúlio historiográfico ( PINHA, 2012PINHA, Daniel. Apropriação e recusa: Machado de Assis e o debate sobre a modernidade brasileira na década de 1870. 2012. Tese (Doutorado em História) - Programa de Pós-Graduação em História Social da Cultura do Departamento de História do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2012. ).
O desafio de habitar tradições, de enriquecer uma herança ao pluralizá-la, ultrapassa o gesto das vanguardas artísticas e científicas dos séculos XVIII, XIX e XX de liquidarem o passado, de o jogarem fora, gesto que acinzenta a necessária e inevitável interlocução, tensão e colaboração geracional ( CEZAR, 2020CEZAR, Temístocles . Geração e/ou gerações? História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 13, n. 34, p. 11-15, 2020. ; PINHA; RANGEL; MATTOS, 2023PINHA, Daniel; RANGEL, Marcelo; MATTOS, Ilmar. Formação, docência e autoria: pensando o ensino-aprendizagem de história? Entrevista com Ilmar Rohloff de Mattos. Revista Maracanan, Rio de Janeiro, v. 32, p. 16-35, 2023. ). A possibilidade da abertura do futuro a partir de uma perspectiva messiânica fraca, de um messianismo sem messias, para evocar o espectro de Jacques Derrida (1994DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx: o Estado da dívida, o trabalho do luto e a nova Internacional. Tradução de Anamaria Skinner. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. ), ou das relações entre os apelos apocalípticos, um dos fundamentos do regime cristão de historicidade, e o antropoceno, pressupõem o confronto com nossas tradições de conhecimento disciplinadas ( CHAKRABARTY, 2021CHAKRABARTY, Dipesh. The climate of history in a planetary age. Chicago: The University of Chicago Press, 2021.; HARTOG, 2020HARTOG, François. Chronos: l’Occident aux prises avec le temps. Paris: Gallimard , 2020.; NICOLAZZI; TURIN; ÁVILA, 2019NICOLAZZI, Fernando; TURIN, Rodrigo; ÁVILA, Arthur. A História (in)disciplinada: teoria, ensino e difusão do conhecimento histórico. Vitória: Editora Milfontes , 2019. ; RODRIGUES; MUDROVIC; AVELAR, 2021RODRIGUES, Lidiane Soares; MUDROVCIC, Maria Inés; AVELAR, Alexandre de Sá. Rebeldia disciplinada? Introdução à “História como (in)disciplina”. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 14, n. 36, p. 25-44, 2021. ).
Em outros termos, a revisão dos protocolos convencionais e canônicos da história como uma demanda urgente de nosso tempo não implica em um esvaziamento da própria história disciplinar, na medida em que é também no habitar em tensão essa herança que essas demandas podem se fortalecer e intensificar a reorganização de novos modos de estar no mundo. Acreditamos ser oportuna a existência de uma tensão dialética, de abertura e incorporação que muda mediante novas configurações temporais, políticas e sociais, responsáveis pela emergência de sujeitos, agendas de pesquisa e formas de narrativa e apresentação de histórias postas à margem. Desse modo, torna-se possível que os protocolos sedimentados ganhem novos contornos e questões, permitindo o não apagamento da história e do seu caráter vivo que se manifesta entre a permanência e a transformação.
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
13 Maio 2024 -
Data do Fascículo
2023