RESUMO
Este artigo correlaciona aspectos ligados à bibliofilia, às práticas de leitura e de investigação, bem como à colaboração de uma “República das Letras” de alcance intercontinental na constituição da enciclopédica biblioteca do universitário português Joaquim de Carvalho e do seu plano de publicações especialmente na década de 1950. Foi neste período em que o ex-diretor da Imprensa da Universidade de Coimbra (1921-1934) - cargo que Carvalho ocupou até o fechamento da casa editora por Salazar - mais intensificou a participação de autores latino-americanos, sobretudo brasileiros, nas suas iniciativas e projetos editoriais, contando com a colaboração de nomes como Fernando de Azevedo, Florestan Fernandes e João Cruz Costa (São Paulo), assim como Leopoldo Zea (México), Miró Quesada (Peru), Risieri Frondizi (Argentina). Nesse sentido, interessam as questões ligadas ao prazer do bibliófilo-investigador na “aquisição” e “posse” de livros e documentos, mas também quanto às repercussões dessa “fome de livros” na concretização de projetos editoriais e na cimentação de intercâmbios intelectuais com destaque para o Brasil. Este percurso será visto por meio de alguns indicadores que se entrecruzam com a construção da sua biblioteca pessoal, tais como: a aquisição de livros brasileiros, que constituíram uma base significativa desse acervo, acelerada após a viagem de Carvalho como professor visitante da USP em 1953; as trocas epistolares com intelectuais de uma comunidade alargada nos dois lados do Atlântico; o aumento da colaboração de autores brasileiros na Revista Filosófica, editada pelo professor em Coimbra; e os projetos editoriais de Joaquim de Carvalho que incluíam a publicação de fontes do período colonial e escritores luso-brasileiros.
Palavras-chave:
Intelectuais; Livros e bibliotecas privadas; Estado Novo português; intercâmbios ibero-americanos; Revista Filosófica; Joaquim de Carvalho