Open-access Cora de Moura Pedreira, a Fundação Rockefeller e a criação do Laboratório de Genética Humana da Universidade Federal da Bahia (1958-1960)

Cora de Moura Pedreira, the Rockefeller Foundation and the creation of the Human Genetics Laboratory at the Federal University of Bahia (1958-1960)

RESUMO

Este artigo tem como objetivo analisar o processo que originou o Laboratório de Genética Humana do Hospital das Clínicas da Universidade Federal da Bahia, com o apoio da Fundação Rockefeller e a liderança da geneticista Cora de Moura Pedreira. Utiliza-se como fontes documentos coletados no Rockefeller Archive Center, em Nova York, e notícias consultadas na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional e no Centro de Documentação do jornal A Tarde. O método utilizado para a interpretação das fontes é o paradigma indiciário de Carlo Ginzburg (1989). A análise revela que Cora de Moura Pedreira integrou uma rede brasileira de geneticistas que despertou o interesse da Fundação Rockefeller em financiar um programa interinstitucional de pesquisa em Genética Humana no Brasil, e desempenhou papel de protagonismo na circulação do conhecimento naquele campo na Bahia, inclusive com a produção de conhecimento original.

Palavras-chave:
Fundação Rockefeller; genética; mulheres nas ciências

ABSTRACT

This article aims to analyze the process that created the Human Genetics Laboratory at the Hospital das Clínicas of the Federal University of Bahia, with the support of the Rockefeller Foundation and the leadership of geneticist Cora de Moura Pedreira. It uses as sources documents collected at the Rockefeller Archive Center, in New York, and news consulted in the “Hemeroteca Digital” of the National Library and at the Documentation Center of the newspaper A Tarde. The method used to interpret the sources is the evidentiary paradigm, by Carlo Ginzburg (1989). The analysis reveals that Cora de Moura Pedreira was part of a Brazilian network of geneticists that aroused the interest of the Rockefeller Foundation in financing an interinstitutional research program in Human Genetics in Brazil and played a leading role in the circulation of knowledge in that field in Bahia, including with the production of original knowledge.

Keywords:
Rockefeller Foundation; genetics; women in science

Este texto tem como objetivo analisar o processo que originou Laboratório de Genética Humana do Hospital das Clínicas da Universidade Federal da Bahia (UFBA) entre 1958 e 1960, com o apoio da Fundação Rockefeller (FR) e com o protagonismo da professora Cora de Moura Pedreira, que integrou uma rede nacional de geneticistas também financiada pela agência filantrópica internacional. Ao longo da sua trajetória como cientista ela realizou pesquisas com sangue dos grupos indígenas Yudjána no Pará; Pataxó e Kariri-Mirandela na Bahia; Canela e Guajajaras no Maranhão; e Kraô em Goiás, além de investigar características genéticas da população negra baiana. A questão central que norteia a escrita é: como o financiamento da FR e a liderança de Cora de Moura Pedreira contribuíram para a circulação do conhecimento científico em genética na Bahia que culminou na criação do Laboratório de Genética Humana?

As fontes utilizadas são relatórios coletados no Rockefeller Archive Center, em Nova York, e notícias de jornais da imprensa baiana de grande circulação. Sua análise foi realizada a partir do paradigma indiciário, proposto por Carlo Ginzburg (1989), que dá ênfase aos pequenos detalhes, vistos como “sinais”, não observados nas características e informações mais amplas dos documentos.

Diversos autores como Gilbert M. Joseph, Catherine C. Legrand e Ricardo D. Salvatore (1998) e Kapil Raj (2007) questionam a ideia de um saber transplantado de um “centro” para regiões consideradas como “periferia” global. Rejeitando essa dicotomia, a reflexão aqui realizada utiliza o conceito de circulação proposto por Raj, que problematiza uma posição pretensamente passiva de países localizados no hemisfério Sul, vistos por muito tempo como meros reprodutores do conhecimento produzido em países do Norte. Para o autor, a circulação não é formada apenas pela transmissão ou comunicação de ideias, mas por processos de encontro, poder, resistência, negociação e reconfiguração que ocorrem na interação entre culturas, por meio de indivíduos “mediadores” ou agentes locais que atuaram nas interações com outras culturas. Os geneticistas brasileiros que estiveram nos Estados Unidos com financiamento da FR não apenas replicaram o conhecimento adquirido no exterior, mas constituíram uma rede de investigação nacional e produziram conhecimento original desde suas experiências locais.

Antes da Organização Mundial da Saúde ser fundada, em 1948, a Divisão de Saúde Internacional (IHD) da Fundação Rockefeller foi, sem dúvida, a agência mais importante do mundo no trabalho em saúde pública no mundo. Ela e seus precursores defendiam um conceito primordial, sobre o qual raramente divergiam: a doença era o fator determinante de problemas de saúde, que só podia ser alcançada com o controle ou eliminação de doenças transmissíveis (Farley, 2004, p. 5). O investimento da FR nas Américas se iniciou com um programa-piloto na Guiana, em 1914, ampliado para a Costa Rica, Guatemala, Nicarágua e Trinidad e Tobago, que tinha o intuito de combater a ancilostomíase (Palmer, 2015). Essa ação forneceu as bases para o trabalho que a agência internacional desenvolveu posteriormente na América do Sul, especialmente no Brasil.

Um dos principais recursos utilizados pela FR nas Américas, mas também em outros continentes, foi o financiamento de funcionários públicos em universidades e centros de pesquisa no exterior. Entre 1917 e 1951, a IHD concedeu 473 bolsas na área de ciências médicas a profissionais latino-americanos (Cueto, Palmer, 2016, p. 135). Para brasileiros, de 1917 a 1962, foram ofertadas 443 bolsas para estudo nas áreas de Agricultura e Ciências Naturais; Ciências Médicas, da Saúde e da População; e Humanidades e Ciências Sociais (Cueto, 1994, p. XI).

Castro Santos e Faria (2003, p. 63) afirmam que a maior parte senão a totalidade das bolsas de estudo da IHD oferecida pela Fundação Rockefeller foi direcionada para médicos e sanitaristas que posteriormente ocupariam cargos de responsabilidade na administração dos serviços de saúde pública no país. Esperava-se que, ao retornar para casa, reproduziriam o modelo norte-americano de educação médica, saúde pública e pesquisa científica. Um resultado dessas bolsas era que a influência dos Estados Unidos ganhava cada vez mais terreno diante da França e da Alemanha, consideradas por alguns como a Meca dos estudos médicos (Cueto, Palmer, 2016, p. 135). Alguns desses bolsistas atuaram em campanhas para o controle de doenças como a ancilostomíase, a febre amarela e a malária no Brasil (Korndörfer, 2015; Batista, 2021, 2022).

Desde 1919, a FR também demonstrou o interesse em Ciências Naturais, embora uma divisão com essa nomenclatura só tenha sido criada em 1928, com investimentos em química, física, biologia e ciências afins (Rockefeller Foundation..., 1951, p. 36). Em 1933, a agência decidiu investir em biologia experimental, área que estudava a constituição, estrutura, função dos seres vivos e das suas partes. Esperava-se contribuir para ampliar o conhecimento que o homem tinha sobre si mesmo, com a crença de que novas descobertas beneficiariam tanto as ciências médicas quanto as ciências sociais, a partir de saberes considerados úteis.

O interesse pelas ciências da vida no mundo se acentuou na década de 1930. Lili E. Kay (1993) afirma que nesse período surgiu uma “nova biologia” que, no final da década de 1950, daria poderes sobre a vida “sem precedentes” aos cientistas. Essas três décadas culminaram com a elucidação dos mecanismos autorreplicantes do DNA e a explicação da sua ação em termos de codificação de informação, representações que lançaram bases cognitivas da engenharia genética. Os cientistas podiam manipular os genes ao nível mais fundamental e tentar controlar os cursos da evolução biológica e social. A denominada biologia molecular foi uma expressão dos esforços cooperativos sistemáticos dos cientistas estabelecidos das Américas e de seus patronos, a exemplo da FR.

Com a ampliação do investimento em biologia experimental por instituições norte-americanas, como a Fundação Nacional para a Paralisia Infantil, a Fundação Nacional de Ciência, Escritório de Pesquisa Naval e fabricantes farmacêuticos, a investigação biológica produziu resultados aplicáveis à medicina e à agricultura, entre outros. Esse fato, junto ao surgimento da bomba atômica, que também proliferou estudos biológicos experimentais no mundo, fez a FR reavaliar o papel da Divisão de Ciências Naturais nos Estados Unidos, sob a direção de Warren Weaver (Rockefeller Foundation..., 1951, p. 40).

Weaver dirigiu a Divisão de Ciências Naturais da FR entre 1932 e 1955. Ele concebeu e executou um programa decisivo no aprofundamento da especialização das disciplinas científicas, com ênfase cada vez mais estrita no trabalho de laboratório em torno das bases fisioquímicas e da biologia. O Bacharel em Ciências e Doutor em Parasitologia, Harry Miller Jr., atuou junto a Weaver incumbido de montar um programa de pesquisa na América Latina que visava ao apoio sistemático a atividades científicas por meio do financiamento a pesquisadores, laboratórios e grupos de pesquisa (Marinho, 2020).

Com o fechamento da IHD, em 1951, cada vez mais as ações de saúde pública foram conduzidas para o estudo das ciências básicas, com ênfase nas dimensões biológicas. A importância que a genética, a biologia molecular e a fisiologia adquiriram esteve vinculada à promessa de compreender melhor as populações locais em esforços que, com sutileza, tiveram “um matiz racista parecido com a eugenia da década de 1920” (Cueto, 2021, p. 203). Foi nesse contexto que um grupo de geneticistas brasileiros foi financiado pela agência internacional.

O financiamento para um grupo de geneticistas do Brasil

O surgimento da genética no Brasil está relacionado à “redescoberta” das leis de Mendel, no início do século XX, que contribuiu para que ela emergisse como área de destaque na medicina moderna e conquistasse o interesse de cientistas e instituições do mundo (Souza et al., 2013). Empregada inicialmente nos estudos sobre a variação e a hereditariedade em espécies vegetais, a genética rapidamente passou a ser aplicada em pesquisas sobre técnicas de melhoramento de sementes agrícolas e de espécies de animais.

Na Medicina, eugenia e antropologia física, a genética também serviu aos estudos da hereditariedade, evolução e diferenciação racial da espécie humana, no início do século XX, chegando a ser acionada na perspectiva do racismo científico em algumas situações (Souza et al., 2013). Em análise sobre a participação de Octavio Domingues e Salvador de Toledo Piza no Boletim da Eugenia, por exemplo, Robert Wegner (2017) demonstra as suas discordâncias na compreensão sobre a miscigenação. Domingues defendia uma eugenia baseada na educação como meio de ensinar as leis da genética à população e considerava a possibilidade da miscigenação racial. Toledo Piza, por outro lado, defendia que brancos e negros eram tão distintos que poderiam ser classificados em espécies diferentes, repugnando a mistura.

A genética mendeliana brasileira se desenvolveu em institutos agronômicos como a Escola Agrícola Luiz de Queiroz (Esalq), de Piracicaba, e o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), no estado de São Paulo (Souza et al., 2013; Formiga, 2018). De acordo com Araújo (2001), uma das consequências do avanço das ciências experimentais e, em particular, da genética, foi o estabelecimento de um intenso debate sobre a natureza das mudanças evolutivas. Enquanto Darwin propunha que estas seriam graduais e contínuas - ele desconhecia a causa das variações, as “leis” da herança, o que o fez adotar hipóteses como a da herança dos caracteres adquiridos, incorporando-a à sua hipótese da “pangênese” -, por outro lado, o mendelismo e, logo, genética, mostrava, ao contrário, que as mudanças nos organismos eram descontínuas, envolvendo diferenças qualitativas: “O conflito entre os chamados biometristas e mendelistas representou, na realidade, o auge de uma discórdia surgida ainda no século XIX” (Araújo, 2001, p. 715).

A denominada genética das populações, surgida nos anos 1910, se utilizava de experimentos de mamíferos como camundongos, com alto custo de manutenção e dificuldades para a realização das pesquisas. Tentando superar os empecilhos, alguns pesquisadores passaram a trabalhar com a mosca das frutas Drosophila, adotando uma linhagem neomendeliana e estudando a genética da transmissão (Araújo; Martins, 2008). Em São Paulo, um dos primeiros médicos mendelianos foi o jovem gaúcho André Dreyfus, formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e que no final dos anos 1920 ocupou o cargo de 2º assistente de Histologia e Embriologia na Faculdade de Medicina de São Paulo (Formiga, 2018). Por meio do financiamento da FR à Universidade de São Paulo (USP), Dreyfus recebeu o geneticista russo Theodosius Hryhorovych Dobzhansky, que impulsionou significativamente as pesquisas na área naquele estado.

Em dezembro de 1927, Dobzhansky havia chegado aos Estados Unidos com uma bolsa da Fundação Rockefeller para trabalhar no laboratório de estudos sobre Drosophila, de Thomas Hunt Morgan, na Universidade Columbia. Depois, se mudou para o Instituto de Tecnologia da Califórnia, para onde Morgan transferiu seu laboratório em 1930. Lá, ele desenvolveu um método para estudar populações naturais de Drosophila, escrevendo sua famosa série de artigos sobre genética populacional experimental. Descobriu que a grande variação genética entre populações selvagens de moscas de fruta lhe permitia se adaptar a uma enorme diversidade de nichos ecológicos (Glick, 2008, p. 316). O programa de pesquisa em populações selvagens de Drosophila de Dobzhansky coincidiu com o desejo da FR em “investir” na biologia brasileira.

De acordo com Faria e Costa (2006), mesmo que a genética tenha tido destaque nas cadeiras de zootecnia e agricultura da Esalq, com Carlos Teixeira Mendes, Otávio Domingues e Salvador de Toledo Piza Jr., foi a partir dos primeiros anos de 1930 que as pesquisas nessa área ganharam impulso no país. As autoras também destacam três grupos importantes na genética brasileira: um primeiro liderado por Carlos Arnaldo Krug, no IAC; um segundo organizado por Friedrich Gustav Brieger, na Esalq; e o da USP, chefiado pelo já mencionado, André Dreyfus, chefe do Laboratório de Biologia Geral da Faculdade de Filosofia. Todos eles forneceram as bases para as transformações que ocorreriam na genética latino-americana nos anos seguintes.

No caso da genética humana, em 19 de junho de 1959, o staff da agência internacional comunicava a aprovação do financiamento para cinco centros de estudo no país. A iniciativa desse apoio surgiu de Robert Morison, diretor da Divisão de Ciências Médicas e Naturais da agência internacional e integrava a expansão do Programa de Genética Humana desenvolvido na Ásia, América Latina, Oriente Médio e África. A justificativa adotada para a concessão era a de que o Brasil era o único país da América Latina que possuía um grupo substancial de investigadores com um programa coordenado de pesquisa em Genética Humana, muitos deles tendo sido anteriormente bolsistas da FR (Rockefeller Foundation, 19 jun. 1959).

Assim, foram aprovados $12.000 (doze mil dólares) (RF 59121) para a Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de pessoal de Nível Superior (Capes), no Rio de Janeiro, com o objetivo de financiar as despesas da Sociedade Brasileira de Genética no triênio iniciado em 1º de julho de 1959; $43.000 (quarenta e três mil dólares) (RF 59122) para o Departamento de Biologia Geral da Faculdade de Medicina da USP; $ 20.000 (vinte mil dólares) (RF 59123) para a pesquisa em Genética Humana na Universidade Federal do Paraná, e o mesmo valor (RF 59124) para a pesquisa de Genética Humana coordenada pelo professor Francisco Salzano, no Rio Grande do Sul. Por fim, $12.200 (doze mil e duzentos dólares) (RF 59125) para a pesquisa em Genética Humana sob a direção conjunta do médico Roberto Santos e de Cora de Mora Pedreira (Rockefeller Foundation, 19 jun. 1959).

A Figura 1, que apresenta um mapa, integra a documentação da FR sobre o Programa de Genética Humana no Brasil. Em relação às suas informações é importante destacar que, entre as cinco universidades financiadas pelo Programa, apenas as da Bahia e do Paraná já iniciaram suas atividades diretamente vinculadas ao estudo de características humanas, enquanto as demais também desenvolviam pesquisa com Drosophila.

Figura 1 -
Principais centros brasileiros de pesquisa em Genética Humana e mapeamento da população indígena nacional.

Ao mesmo tempo, se destaca o interesse da agência internacional em pesquisas que enfatizassem os caracteres genéticos das populações originárias do continente, único grupo étnico-racial identificado no mapa. A esse respeito, em análise sobre a circulação científica do geneticista Francisco Salzano nos 30 primeiros anos da sua carreira (1950-1980), Ana Carolina Vimieiro Gomes e Rosanna Dent (2023) apresentam informações que corroboram com a percepção de que os norte-americanos se interessavam pelos indígenas. Durante o doutorado em Ann Arbor, nos anos 1950, o brasileiro foi influenciado diretamente pelo geneticista estadunidense James Neel, que indicou os povos originários como a população a ser estudada. De acordo com Neel, o fato de Salzano estar mais próximo geograficamente daqueles indivíduos facilitaria o seu trabalho, que teria maior qualidade de pesquisa do que se fosse desenvolvido por qualquer outro investigador de outra parte do mundo.

A partir do financiamento da FR, Cora de Moura Pedreira também fez uma viagem pelos laboratórios de genética dos Estados Unidos e se esperava que, em 18 de agosto de 1959, visitasse o Instituto de Hereditariedade dirigido por James Neel em Ann Abor (Rockefeller Foundation..., 8 set. 1958). É provável que ela tenha ouvido conselhos semelhantes aos que Salzano recebeu, por parte do geneticista norte-americano, o que impactou seu interesse pelos indígenas, mas não somente, já que tinha grande interesse pela população afrodescendente de Salvador.

Em relação a benefícios anteriores da FR às instituições eleitas naquele momento, em 1957 o Departamento de Biologia Geral da USP já havia sido financiado com o objetivo de desenvolver um programa de pesquisa em Genética Humana e o médico Oswaldo Frota-Pessoa recebeu uma bolsa e auxílio para viagem. Intimamente relacionada, mas não especificamente para o trabalho em Genética Humana, estava uma doação de $ 30.000 (trinta mil dólares), no mês de junho daquele ano, para a compra de equipamentos nos departamentos de ciências, e uma dotação de $ 120.000 (cento e vinte mil dólares), em maio, para despesas na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, especialmente no departamento biológico. A Universidade do Paraná também já havia sido beneficiada com recursos e com uma viagem para o doutor Freire-Maia; e a Universidade do Rio Grande do Sul recebeu duas bolsas de viagem, a exemplo da concedida a Antônio Rodrigues Cordeiro, em 1951 (Rockefeller Foundation, 19 jun. 1959). Já a Universidade da Bahia, teve suas primeiras bolsas concedidas para a medicina ainda na década de 1920 (Batista, 2020 a , 2020b) e, na década de 1940, ofereceu apoio para a enfermagem (Batista; Ferreira, 2023; Batista, Ramos, 2023), mas não havia precedentes no financiamento em genética naquele estado.

A partir dos resultados favoráveis do trabalho cooperativo interuniversitário sobre problemas populacionais de Drosophila, os geneticistas brasileiros formularam um programa coordenado de pesquisa em Genética Humana que tinha como objetivo explorar “possibilidades locais únicas, habilidades [...] e aumentar a liderança do Brasil naquela área frente à América Latina” (Rockefeller Foundation, 19 jun. 1959, p. 5). Para isso, o Comitê de Genética Humana da Sociedade Brasileira de Genética garantia forte apoio de diversas universidades e órgãos como a Capes e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O último disponibilizou recursos para custear um curso intensivo de treinamento em Genética Humana, com duração de três meses, e ambos concordaram em conceder bolsas de dois anos aos melhores estudantes. Assim:

Procura-se ajuda da Fundação Rockefeller para levar a cabo esses planos, e os responsáveis recomendam calorosamente o apoio na crença confiante de que não existe em parte alguma melhor oportunidade para um programa coordenado em genética humana, em grande parte sob os auspícios de antigos bolsistas da Fundação Rockefeller. Cada um dos quatro grupos universitários irá enfatizar aspectos diferentes aspectos do problema geral, embora haja alguma sobreposição inevitável de interesses de investigação. (Rockefeller Foundation, 19 jun. 1959, p. 6).

Esperava-se que a atuação desse grupo de geneticistas, marcado por “relações pessoais amistosas” tivesse um grau de excelência e magnitude inigualável a qualquer outro país da América Latina. Com o financiamento aprovado para a realização do Programa, era esperado que os oficiais da FR acompanhassem seus desdobramentos, que bolsas fossem oferecidas para que pesquisadores qualificados de países próximos realizassem treinamento intensivo, e, por fim, esperava-se que algum geneticista estrangeiro desembarcasse no Brasil para atuar como conselheiro, assim como Dobzhansky fez em São Paulo. Na Bahia, Cora de Moura Pedreira foi a personagem principal na construção do Laboratório de Genética Humana do Hospital das Clínicas e na consolidação da Genética Humana.

Cora de Moura Pedreira: protagonismo científico feminino, circulação de conhecimento e a criação do Laboratório

Cora de Moura Pedreira (Figura 2) nasceu em 24 de março de 1914, na cidade de Gavião, no semiárido da Bahia (Certidão..., 6 set. 1914). Era filha de Semirames Pamponet de Moura e do Capitão Francolino Afonso de Pedreira, que contraíram núpcias em 25 de fevereiro de 1911, em Riachão do Jacuípe, localizada próxima a Gavião (Semirames..., s.d.). Embora não se tenha encontrado informações detalhadas sobre seus antepassados, é muito provável ela descenda de Joaquim Pedreira de Cerqueira, figura política proeminente nas esferas provincial e imperial baiana e brasileira, Coronel da Guarda Nacional da Vila da Feira de Santana, Oficial da Ordem da Rosa, membro-fundador da Santa Casa de Misericórdia de Feira de Santana e do Imperial Instituto Agrícola da Bahia em 1859, nos quais era integrante dos conselhos de finanças (Freitas, 2018). Joaquim Pedreira de Cerqueira morreu em 4 de fevereiro de 1873 e, naquele momento, ainda possuía dois filhos “legítimos” vivos (João Pedreira de Cerqueira e Capitão Quintino Pedreira de Cerqueira), e três “ilegítimos” (Joaquim Pedreira de Cerqueira Júnior, Nerina Clara Pedreira de Cerqueira e Afonso Pedreira de Cerqueira). O pai de Cora de Moura Pedreira nasceu dois anos após o falecimento de Joaquim e é muito provável que fosse seu neto. Inclusive um dos filhos “legítimos” de Joaquim, que já havia morrido, se chamou Francolino Pedreira de Cerqueira (Freitas, 2018), o que pode ter rendido uma homenagem familiar com o seu nome ao provável sobrinho.

Figura 2 -
Cora de Moura Pedreira.

De qualquer forma, o legado não apenas de prestígio, mas, em alguma medida financeiro, permitiu que Cora trilhasse caminhos diferentes de muitas mulheres pobres baianas, se inserindo em um grupo profissional seleto: o dos médicos. Segundo Elizabeth Juliska Rago (2008), o ingresso das pioneiras no ensino superior brasileiro possibilitado pela urbanização, pelo crescimento do comércio, da indústria e por uma conjuntura mais favorável ao trabalho feminino em fins do século XIX significou um marco fundamental na história da participação de mulheres no campo da medicina. A autora apresenta a trajetória de Francisca Praguer Fróes, que exerceu a medicina na cidade de Salvador, que se formou em 1893 e se especializou em ginecologia e obstetrícia, com intensa militância como jornalista nos movimentos feministas de seu tempo. Embora tenha se graduado mais de trinta anos após Francisca, Cora de Moura Pedreira ainda precisou romper barreiras impostas às mulheres na medicina, a quem só havia sido permitido ingressar nos cursos regulares a partir da reforma médica de 1879 (Vanin, 2015).

Cora de Moura Pedreira se formou em Ciências Médico-Cirúrgicas, em 1938, pela Faculdade de Medicina da Bahia. A partir da análise do seu currículo, Ângela Maria Freire de Souza e Tereza Cristina Fagundes (2015) afirmam que, nos primeiros anos após a formatura, ela frequentou cursos e estágios como o Curso Intensivo de Citogenética, em 1942, e um estágio no Centro de Investigação Genética de Biologia Geral, pela Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, em 1951. No ano de 1953, também realizou estágio no Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Artes da USP. Entre 1955 e 1956, desenvolveu estágio e pesquisa em colaboração com Theodosius Dobszansky no Departamento de Biologia Geral da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP; e em 1958 estagiou no Departamento de Genética Humana da Universidade de Michigan, Estados Unidos. Nas décadas seguintes atuou como Professora Visitante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), no laboratório de Bioanthropology da Faculté de Sciences da Universidade de Paris VII (1974); no centro de Primatologia da Universidade de Turim, Italy (1974) e no Instituto de Biologia Fundamental - Departamento de Citogenética da Universidad Autónoma de Barcelona (1974).

A imprensa soteropolitana também noticiou atividades desenvolvidas por ela, especialmente antes da criação do Laboratório de Genética Humana, como a participação na reunião da diretoria provisória da Seção Bahia da Sociedade Amigos da América (SAA), em 22 de junho de 1943, que antecedeu a inauguração da agremiação em Salvador, ocorrida no dia seguinte. Nela falaram o médico Aristides Novis, presidente da Associação baiana, e Cora Pedreira, como representante da “mulher baiana”, além de um orador das organizações civis e estudantis (Instala-se..., 22 jun. 1943). A SAA foi criada originalmente pelo General Manuel Rabelo, em dezembro de 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, e reunia elementos do governo favoráveis aos aliados, setores oposicionistas liberais e comunistas, entre outros. Em edição do periódico A Tarde de 28 de junho de 1943, uma notícia intitulada “Valiosa a cooperação da Mulher no esforço de guerra do Brasil” identificou que, em uma reunião no Gabinete Português de Leitura, assistidas por “altas autoridades civis e militares, representantes da Cruz Vermelha e da L. B. A. [Legião Brasileira de Assistência]” foram entregues os diplomas às Samaritanas Socorristas e às Voluntárias da Alimentação, treinadas por Cora de Moura Pedreira (Valiosa..., 28 jun. 1943, p. 2). O curso tinha como objetivo formar rapidamente mulheres com algum tipo de habilidade para contribuir com o Brasil no contexto da Segunda Guerra Mundial. Por fim, e entre muitos outros exemplos que poderiam ser citados, em 26 de julho de 1945, como diretora do Preventório Santa Terezinha de Salvador, Cora foi aceita como sócia efetiva da Sociedade de Pediatria da Bahia (Sociedade..., 30 jul. 1945, p. 9).

Mapear os locais frequentados pela médica durante sua formação e atuação profissional contribui para a compreensão sobre convicções políticas, aspirações profissionais no campo público, além das redes de conhecimento e sociabilidade na qual transitou ao se inserir no campo da genética. É possível afirmar que sua atuação acadêmica encontrou apoio na vinculação direta com o grupo de geneticistas brasileiros, seus contemporâneos, que integravam o Programa apoiado pela FR. Em 1954, a médica defendeu a tese intitulada Fatores Rh-Hr: aspectos de suas pesquisas na Bahia, que Souza e Fagundes (2015) classificam, a partir do depoimento da médica Lucy Isabel Peixoto, como o início do interesse por estudos genéticos na Bahia, levando à instalação do Laboratório de Genética Humana da Universidade em 1959.

As viagens de Cora a diferentes cidades do país eram comuns, com participação em encontros do grupo brasileiro de geneticistas. Em 30 de março de 1959, um dos membros do staff da FR informou que ela retornava de São Paulo para a Bahia após ter participado de uma reunião como outros pesquisadores de Genética Humana, a convite de Harry Miller Jr., para discutir planos para o desenvolvimento da área no país (Rockefeller Foundation..., 30 mar. 1959). Cientistas de Pittsburgh também estiveram no encontro e, de acordo com Miller Jr., estavam muito interessados nos relatos de Cora sobre o trabalho com grupos sanguíneos e os planos de pesquisa que tinha para as áreas de Genética Humana e Medicina na Bahia (Miller Jr., 8 abr. 1959). Ela assumia, assim, um papel de liderança feminina no campo dos estudos genéticos no Brasil.

Em novembro de 1958, um ano antes da criação do Laboratório de Genética Humana da UFBA, Cora participou da I Reunião Brasileira de Genética, em Curitiba, que também se constituiu como grande centro de investigação na área a partir das pesquisas realizadas por Newton Freire-Maia, fundador o Laboratório de Genética Humana da Universidade do Paraná em 1951 e com quem Cora Pedreira trocava correspondências frequentemente. No evento, a médica apresentou os trabalhos intitulados “Informações preliminares sobre a frequência de gemelaridade na população de Salvador”, em coautoria com Lucy Peixoto e Lúcia Ito Rocha, e “Genética e Medicina”, com Roberto A. da Silva (Encerram-se..., 15 nov. 1958).

Apesar de todo o seu empenho, inicialmente Cora não estava otimista em relação ao apoio da UFBA ao seu projeto, principalmente pela “quase total indiferença do professor do qual ela era assistente” (Rockefeller Foundation..., 8 set. 1958, p. 1), que ensinava Higiene na Faculdade de Medicina. Mas, a percepção do protagonismo daquela mulher, por parte de Edgard Santos, reitor da Universidade, lhe rendeu a promessa não só de um espaço para a criação do Laboratório de Genética, mas também de dotá-lo com algum equipamento e contratar de dois profissionais técnicos.

Edgard Santos, reitor-fundador da UFBA, era um médico formado pela Faculdade de Medicina da Bahia e, segundo Antônio Risério (1995), articulava cultura e tecnologia no desenvolvimento nacional, em uma visão que poderia ser considerada como humanístico-industrialista: “sua ação se inscreve em cheio no horizonte getulista. Nacionalismo, progresso cultural e modernização tecnológica são peças fundamentais no seu discurso” (Risério, 1995, p. 35). Como parte dessa compreensão de mundo e envolvido no contexto da Política “Boa Vizinhança”, o reitor era um entusiasta da cooperação internacional. No início dos anos 1940, viu a possibilidade de construir a Escola de Enfermagem da UFBA (EEUFBA) por meio de uma parceria com o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP). Contratou como diretora a enfermeira Haydée Guanais Dourado, que havia se aperfeiçoado na Escola de Enfermagem da Universidade de Toronto para fundar a Escola de Enfermagem de São Paulo. A EEUFBA recebeu bolsas de agências internacionais como a FR para qualificar seu corpo docente e de estudantes da escola (Batista, Ferreira, 2023; Batista, Ramos, 2023). Mesmo com a ação colaborativa inicial do reitor, Cora ainda não estava satisfeita, mas não se pode negar que foi o primeiro movimento positivo da reitoria em direção ao apoio à Genética Humana na UFBA (Rockefeller Foundation..., 30 mar. 1959).

Informado da disposição de Edgard Santos, Miller Jr. desejou compreender que tipo de estrutura foi oferecida a Cora e também disponibilizou o apoio necessário para impulsionar aquele que poderia se tornar um centro promissor de pesquisa científica em Genética Humana no país. Por isso, solicitou informações com urgência, entre outros aspectos, sobre: 1) quanto espaço exatamente tinha o local cedido para o laboratório e outras instalações gerais e qual sua localização; 2) que tipo de profissional técnico lhe foi cedido, assim como o valor dos salários dos contratados; 3) qual o valor da pequena verba que o reitor prometeu, se foi paga ou quando seria e se estaria à disposição de Cora livremente; 4) pedia que ela escrevesse parágrafos curtos sobre cada um dos programas de pesquisa que se propunha desenvolver - “grupos sanguíneos de índios (baianos? e amazônicos), doenças hemolíticas na Bahia, anemia falciforme, e gêmeos baianos”; 5) desejava saber qual a probabilidade de que ela fosse contratada em tempo integral pela Universidade, já que mantinha outro vínculo na saúde pública; e, por fim, 6) pediu uma lista de materiais que ela necessitasse de imediato, com descrição do custo aproximado, além de outras despesas de pesquisa como viagens de campo, custos de reimpressão de artigos publicados no exterior, etc. (Miller Jr., 8 abr. 1959, p. 1-2).

Em carta para Miller Jr., em 10 de agosto de 1959, Roberto Santos, médico que deu nome ao Hospital das Clínicas, afirmou que há alguns meses estava sem ânimo para lhe escrever, em vista da lentidão em que caminhavam os projetos da UFBA pelos quais a agência internacional se interessava. Mas:

Dias atrás fui procurado por Cora Pedreira, que vinha da reunião acerca dos programas de estudo em genética humana. Havia ela conseguido auxílio da Universidade no sentido pessoal e material, estando, entretanto, com problema de espaço. Entramos, então, em entendimentos para que o Laboratório fosse montado aqui no Hospital das Clínicas. Ao mesmo tempo eu a convidei para que desse algumas aulas de Genética Humana aplicada a Medicina, no curso de Clinica Médica. (Santos, 10 ago. 1959, p. 1).

Após ressaltar a importância de se apoiar uma área que os estudantes da UFBA ainda necessitavam conhecer, se colocou às ordens para colaborar “nesta campanha que sei muito do seu agrado” (Santos, 10 ago. 1959, p. 1). Santos sabia da importância de Miller Jr. para o financiamento das ciências por parte da FR no Brasil. Essa carta também pode ser lida como um aceno, que poderia garantir a continuidade de recursos e a formação de parcerias para outros departamentos da Universidade.

A implantação do Laboratório de Genética Humana

Em 8 de abril de 1959, Cora de Moura Pedreira recebeu uma carta que a deixou empolgada. Nela, Miller Jr. autorizava um financiamento para que o Laboratório de Genética Humana da UFBA fosse definitivamente instalado (Pedreira, 10 ago. 1959). A instituição passou a funcionar no 6º andar do Hospital das Clínicas da UFBA - nosocômio criado com o apoio de Edgard Santos, em 1948 -, ocupando dois quartos, com possibilidade de expansão. Esse arranjo teve significados importantes para a geneticista: o primeiro é que ela considerava haver um real interesse por parte da UFBA, em especial da Diretoria de Clínica Médica, pelos estudos de genética; e, o segundo, a introdução da “ciência da hereditariedade na formação médica” (Pedreira, 10 ago. 1959, p. 1). O reitor havia discutido com ela e com Roberto Santos, líder na renovação do ensino médico na Bahia, a possibilidade de viabilizar palestras sobre genética médica nos cursos de residentes (Pós-graduação) e aulas de genética na Cátedra de Roberto Santos, no 5º ano de medicina.

As duas salas serviram como laboratório e como local de entrevista para familiares de indivíduos pesquisados, para a coleta de soro, entre outros. As técnicas contratadas que passaram a trabalhar com Cora eram licenciadas em biologia, uma delas também em farmácia e que atuava como instrutora no curso de Biologia da Faculdade de Filosofia da UFBA, respectivamente Lucia Maria Goes Ito Rocha e Isabel Lucy Peixoto da Silva (Pedreira, 10 ago. 1959). Elas aguardavam a decisão do Governo do Estado de colocar Lúcia Rocha à completa disposição da Universidade e ambas trabalhariam em tempo integral no laboratório com uma complementação salarial de 35% em relação ao seu ordenado. Além disso, havia uma secretária de escritório e uma funcionária para fins de limpeza. A equipe que implantou e liderou os estudos sobre genética na Bahia era completamente formada por mulheres.

O plano de pesquisa apresentado por Cora Pedreira estava diretamente relacionado ao que estudou em sua tese: continuava a investigar o quadro sorológico da população “mista” na Bahia, de populações “primitivas” (indígenas brasileiros, particularmente da região amazônica e de outras regiões do Norte do Brasil) (Pedreira, 10 ago. 1959, p. 1). Seu propósito científico era oferecer contribuições para a antropologia, genética, estudos médicos e sociais. Até aquele momento, havia apresentado três trabalhos sobre grupos sanguíneos em investigação: sua tese; um texto sobre indígenas da “tribo Mundurucu” do Vale do Amazonas, submetido ao último Congresso de Genética, em Montreal; e um estudo sobre grupos sanguíneos da “tribo Pataxó”, do Vale do Rio Colônia, submetido ao encontro de Genética Humana de Curitiba (Pedreira, 10 ago. 1959, p. 1).

A outra frente de investigação era sobre doenças hemolíticas, ou seja, aquelas causadas pela destruição dos glóbulos vermelhos de crianças a partir da gestação: “pretendemos determinar os fatores mais importantes das doenças hemolíticas do recém-nascido em Salvador, Bahia, fazendo um registro exaustivo de pareamentos supostamente incompatíveis” (Pedreira, 10 ago. 1959, p. 1). Assim, estava em evidência a investigação sobre as combinações genéticas de diferentes indivíduos, percebendo como elas poderiam ou não impactar o desenvolvimento desse tipo de enfermidade nos bebês.

Cora também inseriu em seu programa o estudo sobre a anemia falciforme1 na Bahia, justificada pelo grande número de pessoas que descendiam de africanos e que viviam no estado. A enfermidade foi descrita pela primeira vez pelo médico norte-americano James Herrick, em 1910, a partir de amostras de sangue de um indivíduo de ilha de Granada, no Caribe. Somente em 1946, em pesquisa desenvolvida na Bahia e publicada em 1947 na revista Arquivos da Universidade da Bahia (Tertúlias Acadêmicas), o alagoano Jessé Santiago Acioly Lins, estudante do 5º ano da Faculdade de Medicina da Bahia, propôs a existência de caracteres genéticos na transmissão da anemia falciforme (Andrade, 2016). Ocorre que a descoberta de Acioly ficou invisibilizada e, em 1947, nos laboratórios de Clínica Hereditária da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, James Neel chegou às mesmas conclusões que o brasileiro, publicando-as na revista Medicine, de maior expressão para a área médica. Somente anos depois Acioly teve sua descoberta reconhecida.

A anemia falciforme circundava Cora Pedreira de diferentes maneiras. Possivelmente ela teve acesso ao documento publicado por Jessé Acioly na Bahia, visto que a pesquisa versava sobre um tema de grande importância para ela; mas também esteve em contato com James Neel nos Estados Unidos, no ano seguinte à descoberta, como já afirmado. Enquanto representante dessa Genética Humana que se desenvolvia na Bahia, incorporou a doença entre suas prioridades. Por fim, ela se interessava pela questão dos gêmeos, mas informou apenas que organizava uma obra que contaria com colaboração de diversas unidades da UFBA, como o Instituto de Psicologia e o de Antropologia.

Para o desenvolvimento dessas pesquisas, o Laboratório de Genética Humana recebeu da FR uma série de materiais como centrífugas, incubadora bacteriológica, lavadora de vidrarias, entre outros. Estudos futuros poderão se aprofundar nas atividades desenvolvidas no laboratório, o que envolveu visitas a diferentes grupos indígenas brasileiros para a coleta de sangue, assim como entre a população negra de Salvador. A partir daí, será possível observar de forma mais ampla, o impacto que a Genética Humana teve sobre as ciências e sobre a sociedade brasileira, especialmente na Bahia.

Considerações Finais

As investigações sobre genética no Brasil se desenvolveram entre o século XIX e o início do século XX, especialmente nos institutos agronômicos do estado de São Paulo, influenciadas pela “redescoberta” das leis de Mendel e pelo uso das moscas Drosophila, que até então contribuíam para ampliar o conhecimento sobre as características hereditárias e sua transmissão. A construção de redes internacionais de pesquisa foi significativa para a ampliação do campo, notadamente com a atuação de Theodosius Dobzhansky como consultor no Departamento de Biologia Geral da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Ele foi capaz de reunir e contribuir para a articulação de pesquisadores de diferentes estados brasileiros, interessados no desenvolvimento da genética em âmbito nacional.

Na segunda metade do século XX, com os tratados de cooperação técnica internacionais, instituições filantrópicas de atuação global também demonstraram interesse em patrocinar áreas específicas. No caso da FR, houve o incentivo às ciências básicas, em uma verdadeira molecularização das ciências, conforme demonstra Kay (1993), o que trouxe visibilidade e interesse em torno de um grupo de brasileiros que transitou, cada vez mais, para a Genética Humana, do qual a médica baiana Cora de Moura Pedreira fez parte.

Nascida em uma cidade do interior da Bahia, integrante de família influente, se formou pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1938, atuou em hospitais, em sociedades filantrópicas e se interessou pela pesquisa em genética. A sua inserção em uma rede nacional de pesquisadores, a participação em eventos especializados e a insistência na compreensão dos caracteres hereditários dos indivíduos contribuíram para que ela recebesse o apoio do reitor Edgard Santos, da FR, e fundasse o Laboratório de Genética Humana, no Hospital das Clínicas da UFBA, em 1959. Mais do que isso, junto a suas assistentes, viabilizou uma liderança eminentemente feminina na genética entre os geneticistas brasileiros.

Ressalta-se, apenas, que, embora importante para o desenvolvimento científico, o conhecimento produzido pela genética brasileira naquele momento - notadamente por esse grupo de pesquisadores financiados pela FR - se utilizava dos povos indígenas e da população negra como objetos de investigação, vistos como meros fornecedores de material biológico em nome de uma ciência concebida como linear e marcada pela ideia de progresso, conforme pode se perceber na leitura de estudos sobre outros geneticistas que integraram a rede com Cora Pedreira (Gomes, Dent, 2023). Muitas vezes se repetiam, em certa medida, elementos de base eugênica e com implicações sociais, a exemplo da busca por quais combinações matrimoniais (e genéticas) poderiam ser mais pré-dispostas à proliferação de enfermidades, como sugere a preocupação com “pareamentos supostamente incompatíveis” pela geneticista baiana em seu programa de estudos.

Agradecimentos

Este artigo é fruto de pesquisa desenvolvida no âmbito do projeto "Pesquisando o sangue de negros e indígenas no Brasil": Cora Pedreira e a genética humana, 1958-1970, contemplado com a bolsa de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo 304213/2024-1. Meus agradecimentos a Cleidiana Ramos pela colaboração na pesquisa em jornal.

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  • 1
    A anemia falciforme é uma doença mais comum entre descendentes de africanos. Ela faz com que os glóbulos vermelhos do sangue (hemácias) assumam a forma de foice. Assim, as hemácias morrem mais cedo e a distribuição de oxigênio para os tecidos é comprometida, causando febre e dores musculares.
  • Declaração de disponibilidade de dados:
    Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.

Editado por

  • Editor Associado:
    Eduardo Romero Oliveira
  • Editoras-chefe:
    Ana Carolina de Carvalho Viotti
    Karina Anhezini de Araujo

Disponibilidade de dados

Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Dez 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    26 Jun 2024
  • Aceito
    28 Ago 2024
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