RESUMO
O presente artigo tem o objetivo de analisar como a organização revolucionária Ação Popular (AP), uma das mais representativas da esquerda brasileira das décadas de 1960 e 1970, incorporou o maoísmo na formulação de seu projeto estratégico e na elaboração de sua identidade. Fundada em congresso realizado em 1963, a AP caracterizou-se, inicialmente, pela proposição de um projeto socialista humanista, aberto a diferentes influências filosóficas, como o marxismo, o cristianismo e o existencialismo. Depois do Golpe de Estado de 1964, na conjuntura da implantação da Ditadura, abriu um processo para a retificação de sua estratégia e redefinição de sua identidade, tendo como eixo norteador o marxismo. Em 1968, a AP aprovou uma estratégia claramente inspirada no legado da Revolução Chinesa e assumiu a identificação com o maoísmo, definido como a terceira etapa do marxismo, o marxismo-leninismo da atualidade. A análise demonstra que esse foi um marco decisório na adesão da AP a uma linha estratégica maoísta, mas não foi o início da história dessa recepção. Da mesma maneira, demonstra que os termos da elaboração então sistematizada foram confrontados e modificados em conjuntura posterior. Embora o período de maior influência do maoísmo ocorresse entre 1968 e 1973, do início ao fim da história da AP, a temática da Revolução Chinesa fez parte do seu universo de referências, sujeitando-se ao escrutínio dos debates internos e das sucessivas redefinições que o projeto da organização sofreu. Por isso, infere-se que não é possível falar em um sentido unívoco da relação da AP com o maoísmo.
Palavras-chave:
Ação Popular Marxista-Leninista; maoísmo; esquerda revolucionária brasileira