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De um "falsário" a outro, de patranhas viageiras a legados críveis (século XV)

Nos séculos XV e início do XVI, quando viajar para o leste e para o oeste já não se mostrava tão extraordinário, as relações de viagem, como as de Marco Polo ou Jean de Mandeville, foram impressas e reimpressas e estiveram no universo das trocas e aquisições tanto em Portugal quanto em outras partes da Europa. Apesar, entretanto, de terem cumprido papel fundamental para definir os mundos alheios para os europeus, traduzindo as aspirações do seu tempo e alimentando novas acerca do universo a ser conhecido, esses relatos nem sempre narram viagens necessariamente realizadas. Vários deles, ao contrário, não fazem mais do que reunir, para seus contemporâneos, passagens de interesse extraídas de outros escritos, passagens que, por sua regularidade e frequência, permitiram que um relato, apenas encenado como de viagem, fosse aceito como verdadeiro para os contemporâneos e sucessores imediatos. Na Península Ibérica do final do século XV, um relato escrito por um autor de quem nada se sabe, Gómez de Santisteban, que se auto-define como acompanhante do Infante D. Pedro a uma suposta viagem à Terra Santa, esteve entre esses relatos que integraram a descrição e a própria percepção das terras que vinham sendo conhecidas. A questão condutora deste texto é, pois, como Santisteban, embora tenha textualizado memórias de viagens que não fez, conseguiu alcançar credibilidade tal como viajantes cujas viagens foram reconhecidas como autênticas.

Viagens reais; viagens imaginárias; memória; Quatrocentos; Portugal


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