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Anomochlooideae e Pharoideae (Poaceae) no Parque Estadual do Rio Doce, Estado de Minas Gerais, Brasil

ABSTRACT

(Anomochlooideae and Pharoideae (Poaceae) in the Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais State, Brazil). We aimed to study floristic and morphologically the species of the basal subfamilies Anomochlooideae and Pharoideae (Poaceae) occurring in the Parque Estadual do Rio Doce (PERD), the largest remnant of the Atlantic Rainforest in Minas Gerais State, Brazil. Monthly expeditions to collect botanical material were carried out over 15 months (February to June 1998, and March 1999 to February 2000) along previously established trails. After the identification, voucher specimens were deposited in the PERD and VIC Herbaria. Analytical keys and diagnostic descriptions for all collected genera and species are presented, as well as data about the geographical distribution of the species. In addition, major diagnostic characters are illustrated. As a result, two genera and five species were collected. The Anomochlooideae and Pharoideae species collected from PERD correspond to 50% of all species described for these subfamilies, which highlights the importance of the PERD as a refuge.

Palavras-chave:
conservação; Pharus; Streptochaeta

RESUMO

(Anomochlooideae e Pharoideae (Poaceae) no Parque Estadual do Rio Doce, Estado de Minas Gerais, Brasil). Este estudo objetivou estudar florística e morfologicamente as espécies de Anomochlooideae e Pharoideae (Poaceae) ocorrentes no Parque Estadual do Rio Doce (PERD), o maior remanescente de Floresta Atlântica do Estado de Minas Gerais. Expedições mensais para coleta de material botânico foram realizadas durante 15 meses (fevereiro a julho de 1998 e março de 1999 a fevereiro de 2000) ao longo de trilhas pré-estabelecidas. Após a identificação, o material herborizado foi depositado nos Herbários PERD e VIC. Chaves analíticas e descrições diagnósticas para os gêneros e espécies são apresentadas, bem como dados sobre a distribuição geográfica das espécies. Os principais caracteres diagnósticos das espécies foram ilustrados. Como resultado, foram coletados dois gêneros e cinco espécies. As espécies de Anomochlooideae e Pharoideae coletadas no PERD perfazem um total de 50% das espécies descritas para estas subfamilias, o que demonstra a importância do PERD como um refúgio.

Palavras-chave:
conservação; Pharus; Streptochaeta

Introdução

A família Poaceae Barnhart compreende cerca de 11.000 espécies distribuídas em 764 gêneros e 12 subfamílias (Soreng et al. 2017Soreng, R.J., Peterson, P.M., Romaschenko, K., Davidse, G., Teisher, J.K., Clark, L.G., Barberá, P., Gillespie, L.J. & Zuloaga, F.O. 2017. A worldwide phylogenetic classification of the Poaceae (Gramineae) II: An update and a comparison of two 2015 classifications. Journal of Systematics and Evolution 55: 259-290.). Dentre estas, Anomochlooideae Pilg. ex Potztal e Pharoideae (Stapf) L.G.Clark & Judz. compõem um grupo denominado informalmente como “gramíneas basais” de acordo com Judziewicz et al. (1999Judziewicz, E.J., Clark, L.G., Londoño, X. & Stern, M. 1999. American bamboos. Smithsonian Institution, Washington, D.C.) e GPWG (2001). Atualmente, os representantes dessas duas subfamílias, juntamente com Puelioideae L.G.Clark, M.Kobay, S.Mathews, Spangler & E.A.Kellogg compõem as linhagens basais de Poaceae (Soreng et al. 2017).

Anomochlooideae e Pharoideae, além de alguns representantes de Ehrarthoideae Jacq.-Fél. ex Caro (atualmente Oryzoideae Kunth ex Beilschm.), integravam a subfamília Bambusoideae Luerss. em sentido lato (Clayton & Renvoize 1986Clayton, D.W. & Renvoize, S.A. 1986. Genera Graminum. Her Majesty’s Stationary Office, London. ), com base em dados de anatomia foliar (Judziewicz et al. 1999Judziewicz, E.J., Clark, L.G., Londoño, X. & Stern, M. 1999. American bamboos. Smithsonian Institution, Washington, D.C., GPWG 2001). No entanto, após a realização de estudos morfológicos e moleculares, foi comprovado o polifiletismo de Bambusoideae a partir dessa cincurscrição (Clark et al. 1995Clark, L.G., Zhang, W. & Wendel, J.F. 1995. A phylogeny of the grass family (Poaceae) based on the ndhF sequence data. Systematic Botany 20: 436-460., Duvall & Morton 1996Duvall, M.R. & Morton, B.R. 1996. Molecular phylogenetics of Poaceae: An expanded analysis of rbcL sequence data. Molecular Phylogenetics and Evolution 5: 352-358., Soreng & Davis 1998Soreng, R.J. & Davis, J.I. 1998. Phylogenetics and character evolution in the grass family (Poaceae): simultaneous analysis of morphological and chloroplast DNA restriction site character sets. The Botanical Review 64: 1-85. ). Com o progresso dos estudos, dados morfológicos e moleculares sustentaram Bambusoideae como monofilética e esta inclui atualmente três tribos: Bambuseae Dumort., Arundinarieae Asch. & Graebn. (bambus lignificados) e Olyreae Kunth ex Spenn. (bambus herbáceos) (GPWG 2001, Bouchenak-Khelladi et al. 2008Bouchenak-Khelladi, Y., Salamin, N., Savolainen, V., Forest, F., van der Bank, M., Chase, M.W. & Hodkinson, T.R. 2008. Large multi-gene phylogenetic trees of the grasses (Poaceae): progress towards complete tribal and generic level sampling. Molecular Phylogenetics and Evolution 47: 488-505., Sungkaew et al. 2009Sungkaew, S., Stapleton, C.M.A., Salamin, N. & Hodkinson, T.R. 2009. Non-monophyly of the woody bamboos (Bambuseae; Poaceae): a multi-gene region phylogenetic analysis of Bambusoideae s.s. Journal of Plant Research 122: 95-108., Kelchner & Bamboo Phylogeny Group [BPG] 2013Kelchner, S.A. & BPG (Bamboo Phylogeny Group). 2013. Higher level phylogenetic relationships within the bamboos (Poaceae: Bambusoideae) based on five plastid markers. Molecular Phylogenetics and Evolution 67: 404-413., Wysocki et al. 2015Wysocki, W.P., Clark, L.G., Attigala, L., Ruiz-Sanchez, E. & Duvall, M.R. 2015. Evolution of the bamboos (Bambusoideae; Poaceae) a full plastome phylogenomic analysis. BMC Evolutionary Biology 15: 50., Soreng et al. 2017).

Os representantes de Anomochlooideae e Pharoideae são essencialmente florestais (Judziewicz et al. 2000Judziewicz, E.J., Soreng, R.J., Davidse, G., Peterson, P.M., Filgueiras, T.S., Zuloaga, F.O. 2000. Catalogue of New World grasses (Poaceae): I. Subfamilies Anomochlooideae, Bambusoideae, Ehrhartoideae, and Pharoideae. Contributions from the United States National Herbarium 39: 1-128., Kellogg 2015Kellogg, E.A. 2015. Flowering Plants Monocots - Poaceae. In: K. Kubitzki (ed.). The families and Genera of Vascular Plants, v.13. Springer, New York, pp.1-416. ), e compreendem 16 espécies distribuídas em cinco gêneros (Kellogg 2015, Soreng et al. 2017Soreng, R.J., Peterson, P.M., Romaschenko, K., Davidse, G., Teisher, J.K., Clark, L.G., Barberá, P., Gillespie, L.J. & Zuloaga, F.O. 2017. A worldwide phylogenetic classification of the Poaceae (Gramineae) II: An update and a comparison of two 2015 classifications. Journal of Systematics and Evolution 55: 259-290.). Anomochlooideae é composta pelos gêneros Anomochloa Brongn. e Streptochaeta Schrad. ex Nees, os quais são restritos às florestas úmidas neotropicais, sendo o primeiro um gênero monotípico encontrado apenas nas florestas de várzea do Estado da Bahia (Kellogg 2015). Pharoideae possui uma distribuição pantropical (Judziewicz et al. 1999) e engloba três gêneros: Leptaspis R.Br., Scrotochloa Judz. e Pharus P. Browne (Kellogg 2015), sendo o último o mais rico em espécies (7), quatro das quais são ocorrentes no Brasil (Judziewicz et al. 2000).

O Parque Estadual do Rio Doce (PERD), localizado no Estado de Minas Gerais, é considerado o maior contínuo de Mata Atlântica presente no Estado (IEF 2008). Esta área está inserida em uma região que sofre com a devastação, principalmente em função da siderurgia e da agropecuária (Bernardes et al. 1990Bernardes, A.T., Machado, A.B.M. & Rylands, A.B. 1990. Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Fundação Biodiversitas para a Conservação da Diversidade Biológica, Belo Horizonte.). Essas atividades conferem uma ameaça às espécies ocorrentes no PERD, fazendo da região uma área considerada prioritária para conservação no Estado (Drummond et al. 2005Drummond, G.M., Martins, C.S., Machado, A.B.M., Sebaio, F.A. & Antonini, Y. 2005. Biodiversidade em Minas Gerais: um Atlas para sua conservação. 2005. Fundação Biodiversitas, Belo Horizonte.), fato que reforça a necessidade de se conhecer a diversidade de sua flora e fauna.

Como tentativa de contribuir com o conhecimento das gramíneas do PERD, Santos-Gonçalves et al. (2006Santos-Gonçalves, A.P., Carvalho-Okano, R.M., Vieira, M.F. & Filgueiras, T.S. 2006. Bambus (Bambusoideae: Poaceae) no Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais: Florística e Morfologia. In: J.G., Almeida & A.A. Teixeira (orgs.). Anais do Seminário Nacional sobre Bambu: Estruturação da Rede de Pesquisa e Desenvolvimento, Brasília, pp.43-48. ) realizaram um levantamento das espécies de bambus no parque, e dentre os gêneros catalogados, os autores registraram a ocorrência de Eremitis Doell (bambu herbáceo) e Eremocaulon Soderstr. & Londoño (bambu lenhoso), os quais eram considerados endêmicos do Estado da Bahia. Contudo, ainda são necessários esforços que contemplem outros grupos da família Poaceae nesta área.

Este estudo teve como objetivo inventariar as espécies de Anomochlooideae e Pharoideae ocorrentes no PERD. Foram elaboradas descrições diagnósticas, ilustrações e chaves de identificação para as espécies catalogadas. Adicionalmente, informações sobre a distribuição geográfica dos táxons também foram fornecidas.

Material e métodos

O PERD abrange uma área total de 36.000 ha e situa-se na região do “Vale do Aço”, entre os meridianos 42°38'30'' e 48°28'18''W, e os paralelos 19°48'18'' e 19°29'24''S, sendo sua vegetação composta, principalmente, de um mosaico de florestas primárias e secundárias (IEF 2008). A fitofisionomia presente no parque é a Floresta Estacional Semidecidual Submontana (Veloso et al. 1991Veloso, H.P., Rangel Filho, A.L.R. & Lima, J.C.A. 1991. Classificação da vegetação brasileira adaptada a um sistema universal. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rio de Janeiro.).

Foram realizadas expedições a campo mensalmente, ao longo de trilhas e caminhos pré-estabelecidos, cobrindo uma área de ca. 5.000 ha, no período de fevereiro a julho de 1998 e entre março de 1999 a fevereiro de 2000. As espécies foram identificadas com base em literatura especializada e a terminologia morfológica utilizada segue Clark & Judziewicz (1996Clark, L.G. & Judziewicz, E.J. 1996. The grass subfamilies Anomochlooideae and Pharoideae. Taxon 45: 641-645.). Os espécimes coletados foram examinados em estereomicroscópio e as medidas foram realizadas com auxílio de régua, paquímetro e papel milimetrado. As ilustrações foram confeccionadas com auxílio de câmara clara acoplada ao estereomicroscópio. O material coletado foi herborizado e posteriormente incluído nos acervos dos herbários VIC e PERD.

Resultados

No Parque Estadual do Rio Doce, as subfamílias Anomochlooideae e Pharoideae estão representadas por um gênero cada, respectivamente Streptochaeta e Pharus. Streptochaeta está representado por duas espécies: S. spicata Schrad. ex Nees subsp. spicata e Streptochaeta sp. Pharus, o gênero mais representativo, inclui três espécies: P. lappulaceus Aubl., P. latifolius L. e P. parvifolius Nash. Todas as espécies ocorrem em sub-bosque.

Chave para a identificação dos gêneros de gramíneas basais ocorrentes no PERD

1. Flores unissexuadas; pseudopecíolos com torção de ca. 180 graus no ápice e lâminas com nervuras divergindo obliquamente da nervura mediana; inflorescências paniculadas; unidade da inflorescência do tipo espigueta, composta de glumas basais (2), lema e pálea; lema do antécio feminino com tricomas uncinados .......... 1. Pharus

1. Flores bissexuadas; pseudopecíolos sem torção no ápice e lâminas com nervuras paralelas; inflorescências racemosas; unidade da inflorescência do tipo pseudoespigueta, composta de 12 brácteas coriáceas arranjadas espiraladamente; bráctea VI tão longa quanto a pseudoespigueta, longo-aristada .............. 2. Streptochaeta

1. Pharus P. Browne, Civ. Nat. Hist. Jamaica 344: 1756.

Plantas perenes, cespitosas, rizomatosas, estoloníferas ou ambas, herbáceas, monoicas. Colmo simples, ereto a decumbente, sólido. Folhas dísticas; bainha sem aurículas ou fímbrias; lígula externa ausente; lígula interna presente; pseudopecíolos evidentes, com torção de ca. 180 graus no ápice; lâminas lineares a ovadas, nervuras divergindo obliquamente da nervura mediana. Bandas intercostais fibrosas presentes ou ausentes. Inflorescências terminais, paniculadas. Espiguetas com flores unissexuadas, aos pares, 1-flosculada. Espiguetas masculinas longo-pediceladas; glumas 2, desiguais, gluma I curta ou ausente; lodículas presentes ou ausentes; estames 6, filetes livres. Espiguetas femininas subsésseis e maiores do que as espiguetas masculinas; glumas 2, desiguais a subiguais; lema cobrindo quase completamente a pálea; lema cilíndrico, coberto total ou parcialmente com tricomas uncinados, margem involuta; lodículas ausentes; estigmas 3; estaminódios 6, pequenos ou ausentes. Fruto cariopse; semente com hilo linear.

De acordo com Judziewicz et al. (1999Judziewicz, E.J., Clark, L.G., Londoño, X. & Stern, M. 1999. American bamboos. Smithsonian Institution, Washington, D.C.), Pharus está representado por sete espécies distribuídas no nordeste do México, sudeste dos Estados Unidos, noroeste da Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil. Todas as espécies pertencentes ao gênero coletadas no PERD foram encontradas apenas em trilhas nas quais a vegetação é bem preservada, em local sombreado e úmido.

Chave para a identificação das espécies de Pharus ocorrentes no PERD

  • 1. Lema do antécio feminino com tricomas uncinados restritos à porção superior ................ 1.1. Pharus latifolius

    1. Lema do antécio feminino com tricomas uncinados em toda a sua extensão

    • 2. Face abaxial da lâmina foliar sem bandas intercostais fibrosas; espigueta feminina 7˗8,5 mm de compr. ............................................................. 1.2. Pharus lappulaceus

      2. Face abaxial da lâmina foliar com bandas intercostais fibrosas; espigueta feminina 8˗16 mm de compr. ................................................................ 1.3. Pharus parvifolius

1.1 Pharus lappulaceus Aubl., Hist. Pl. Guiane 2:859. 1775.

Figura 1 a

Figura 1
Anomochlooideae e Pharoideae no Parque Estadual do Rio Doce, Estado de Minas Gerais, Brasil. Pharus lappulaceus Aubl. a. Hábito (Santos-Gonçalves et al. 83). Pharus latifolius L. b. Espigueta masculina. c. Espigueta feminina (Santos-Gonçalves et al. 116). Pharus parvifolius Nash. d. Espigueta masculina. e. Espigueta feminina (Santos-Gonçalves et al. 157, Santos-Gonçalves et al. 41). Streptochaeta spicata subsp. spicata Schrad. ex Nees. f. Espigueta (Santos-Gonçalves et al. 89).
Figure 1
Anomochlooideae and Pharoideae from the Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais State, Brazil. Pharus lappulaceus Aubl. a. Habitat (Santos-Gonçalves et al. 83). Pharus latifolius L. b. Male spikelet. c. Female spikelet (Santos-Gonçalves et al. 116). Pharus parvifolius Nash. d. Male spikelet. e. Female spikelet (Santos-Gonçalves et al. 157, Santos-Gonçalves et al. 41). Streptochaeta spicata subsp. spicata Schrad. ex Nees. f. Spikelet (Santos-Gonçalves et al. 89).

Planta herbácea. Colmo 32˗81 cm alt., simples, ereto. Pseudopecíolo 1,5˗7 cm compr.; bainha glabra ou pubérula, margem glabra; lígula interna membranosa, 0,7˗1,3 mm de compr.; lâmina 7,5˗23 cm × 1,7˗3,5 cm, elíptica a obovada, base atenuada, ápice acuminado, glabra em ambas as faces. Face abaxial da lâmina foliar sem bandas intercostais fibrosas. Inflorescência (11-)15˗20(-22) cm de compr., raque pilosa; cerda terminal com 0,3˗2 cm de compr., com ou sem uma espigueta masculina apical. Espigueta masculina pedicelada, 2˗2,5(-2,7) mm compr.; pedicelo 4,8˗6 mm compr.; gluma I ausente ou rudimentar com até 0,15 mm compr.; gluma II ca. 2 × 1,2 mm, 1-nervada; lema ca. 2 × 1-2 mm, 3-nervado; pálea ca. 2 × 0,8 mm, 2-nervada. Estames 6. Espigueta feminina 7˗8,5(-12) mm compr., pedicelada, pedicelo 0,4 × 1 mm compr.; cilíndrica; gluma I 3,8˗4,8 × ca. 1 mm, 5˗7-nervada; gluma II 4˗5 × ca. 1 mm, 3-nervada; lema 6,2˗8 × ca. 2 mm, 7-nervado, reto, com tricomas uncinados em toda a sua extensão exceto no ápice apiculado, margens involutas. Pálea ca. 8 × 0,2 mm, 2-nervada. Lodículas ausentes. Estigmas 3. Cariopse 8,5˗9 ×1˗1,3 mm.

Material examinado: BRASIL: Minas Gerais: Marliéria, Parque Estadual do Rio Doce (PERD), trilha da Mombaça, 12/III/1988, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 18 (VIC, PERD); ib., trilha da lagoa do meio, 15/III/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 84 (VIC, PERD); ib., 13/IV/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 107 (VIC, PERD); ib., trilha da lagoa preta, 13/IV/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 121 (VIC, PERD); ib., trilha da campolina, 20/IV/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 130 (VIC, PERD); ib., trilha da lagoa preta, 23/VI/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 165 (VIC, PERD); ib., trilha do Anibal, 26/VII/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 173 (VIC, PERD); ib., trilha da lagoa do meio, 26/VII/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 182 (VIC, PERD).

Comentários: Pharus lappulaceus caracteriza-se por apresentar lâmina foliar elíptica a obovada e espigueta feminina com lema piloso em toda a sua extensão e ápice apiculado (figura 1 a). No campo, esta espécie pode ser facilmente confundida com alguns indivíduos mais robustos de P. parvifolius; entretanto, P. lappulaceus não apresenta bandas intercostais fibrosas entre as nervuras da face abaxial da lâmina foliar, o que separa definitivamente os dois táxons. Além disso, o lema da espigueta feminina de P. lappulaceus é geralmente menor e tem a porção apical mais abrupta e apiculada (figura 1 a) do que a de P. parvifolius (Judziewicz 1987Judziewicz, E.J. 1987. Taxonomy and morphology of the tribe Phareae. Ph.D. Dissertation, University of Wisconsin, Madson.). De acordo com Filgueiras (1988Filgueiras, T.S. 1988. Bambus nativos do Distrito Federal, Brasil (Gramineae: Bambusoideae). Revista Brasileira de Botânica 11: 47-66.), P. lappulaceus produz grande quantidade de frutos anualmente, sendo os diásporos (flósculos férteis e restos de glumas) facilmente dispersados por mamíferos. Esta espécie adapta-se bem ao cultivo em vasos, como planta ornamental de interiores, não tolerando insolação direta. Segundo Corrêa (1926Corrêa, M.P. 1926. Dicionário das plantas úteis do Brasil e exóticas cultivadas. Ministério da Agricultura, Rio de Janeiro.), os frutos podem ser utilizados na confecção de um mingau alimentar. No PERD, P. lappulaceus foi coletada em cinco das seis trilhas percorridas durante este estudo, sendo considerada abundante.

Distribuição geográfica: De acordo com Judziewicz et al. (1999Judziewicz, E.J., Clark, L.G., Londoño, X. & Stern, M. 1999. American bamboos. Smithsonian Institution, Washington, D.C.), P. lappulaceus ocorre no nordeste do México, Estados Unidos (Flórida) e Antilhas, ao norte da Argentina, Uruguai e Brasil, incluindo o Estado de Minas Gerais. No sul do Brasil, esta espécie desenvolve-se preferencialmente no interior de florestas primárias, ocorrendo de forma esparsa (Smith et al. 1981Smith, L.B., Wasshausen, D.C. & Klein, R.M. 1981. Gramíneas. In: R. Reitz. Flora Ilustrada Catarinense, parte I. Herbário “Barbosa Rodrigues”, Itajaí, pp.10-119.).

1.2Pharus latifolius L., Syst. Nat. 10th ed., 2:1269.1759.

Figura 1 b-c

Planta herbácea. Colmo 49˗106 cm de alt., simples, ereto. Pseudopecíolo 2˗8 cm compr.; bainha glabra, margem glabra; lígula interna 0,5˗1 mm compr., membranosa; lâmina foliar 6,2˗31 × 3,2˗10,2 cm, elíptica a oblanceolada a obovada, base atenuada, ápice cuspidado, com tricomas curtos e esparsos em ambas as faces. Face abaxial da lâmina foliar sem bandas intercostais fibrosas. Inflorescência 15˗20(-30) cm compr.; raque pilosa; cerda terminal 0,4˗2,9 cm compr., sem uma espigueta masculina apical. Espigueta masculina 2-3,5(-4) mm compr., pedicelada; pedicelo 6˗17,8 mm compr.; gluma I 0,2˗2,2 × 0,4˗1 mm,1˗3-nervada; gluma II 1,8˗2 × 0,8˗1,2 mm, 5˗6-nervada; lema 3˗3,5 ×1˗2 mm, 3˗5-nervado; pálea 2,5˗3 × 0,5˗1 mm, 2-nervada. Espigueta feminina 8˗18 mm compr., pedicelada; pedicelo 0,6˗1,2 mm compr.; cilíndrica; gluma I 7,5˗10(-12) × 2,2-3 mm, 6˗9-nervada; gluma II 7˗12,5(-13) mm, 7-nervada; lema 9˗15(-17) × ca. 2,5 mm , 7-nervado, metade superior recurvada, às vezes reto em toda sua extensão, coberto apicalmente por tricomas uncinados, parte inferior glabra, margens involutas; pálea 8˗15 × 1˗2 mm, 2-nervada.Cariopse 8,5˗10 × 1˗1,3 mm.

Material selecionado: BRASIL. Minas Gerais: Marliéria, Parque Estadual do Rio Doce (PERD), trilha da Lagoa do Meio, 24/IV/1998, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 37 (VIC, PERD); ib., 08/V/1998, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 58 (VIC, PERD); ib., trilha do Anibal, 12/IV/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 97 (VIC, PERD); ib., trilha da lagoa do meio, 13/IV/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 106 (VIC, PERD); ib., trilha da campolina, 13/IV/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 116 (VIC, PERD); ib., trilha do Anibal, 21/IV/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 140 (VIC, PERD); ib., 21/IV/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 144 (VIC, PERD); ib., trilha da lagoa preta, 23/VI/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 164 (VIC, PERD); ib., trilha da lagoa do meio, 27/IV/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 179 (VIC, PERD).

Comentários: Pharus latifolius caracteriza-se por apresentar espigueta feminina com lema geralmente curvo, cuja porção superior é coberta de tricomas uncinados (figura 1 c). Esta característica, juntamente com os caracteres relativos às dimensões da lâmina foliar (6,2˗31 × 3,2˗10,2 cm ), permitem distinguir essa espécie das demais espécies do gênero ocorrentes no PERD, onde foi registrada em três das seis trilhas percorridas durante este estudo e é considerada comum.

Distribuição geográfica: Segundo Judziewicz et al. (1999Judziewicz, E.J., Clark, L.G., Londoño, X. & Stern, M. 1999. American bamboos. Smithsonian Institution, Washington, D.C.), esta espécie ocorre do México e Antilhas até a Bolívia e no oeste do Brasil, incluindo o Estado de Minas Gerais.

1.3 Pharus parvifolius Nash, Bull. Torrey Bot. Club 3 5:301. 1908.

Figura 1 d-e

Planta herbácea. Colmo 20˗75 cm de alt., simples ou ramificado, ereto ou decumbente. Pseudopecíolo 0,5˗2,8 cm de compr.; bainha glabra, margem glabra; lâmina foliar 16,5˗25 × 1,7˗3,1 cm, lanceolada, base atenuada, ápice acuminado, glabra em ambas as faces. Face adaxial da lâmina foliar com bandas intercostais fibrosas. Inflorescência 5(-15)˗20(-30) cm compr.; cerda terminal 1,4˗3,2 cm compr., com ou sem espigueta masculina apical. Espigueta masculina 2˗3,6(-3,7) mm compr., pedicelada; pedicelo 5˗11,2 mm compr.; gluma I 0,6˗2 × 0,4-0,9 mm, 1-nervada; cerda terminal 2,2˗5,5 cm compr.; gluma II 2˗3,5 × 1,2˗1,3 mm, 3˗5-nervada; lema 1,8˗3 × 1-1,2 mm; pálea 1,5˗2,8 × 0,8˗1 mm. Espigueta feminina 10˗14,5(-15) mm compr., pedicelada; pedicelo 0,3˗1,5 mm compr.; cilíndrica; gluma I 4,7˗7,5 × 1˗2 mm, 3˗5-nervada; gluma II 5˗8 × 1˗2 mm, 3˗5(-7)-nervada; lema 11˗14 × 2,8˗4 mm, multinervado, número de nervuras por vezes obscuro, curvo a reto, com tricomas uncinados em toda a sua extensão, exceto no ápice levemente apiculado; pálea 9,5˗18 × 1˗2,4 mm. Cariopse 7,5˗8 × 1˗1,5 mm.

Material selecionado: BRASIL: Minas Gerais: Marliéria, Parque Estadual do Rio Doce (PERD), trilha da Lagoa do Meio, 24/IV/1998, fl., Santos-Gonçalves et al. 41 (VIC, PERD); ib., trilha da Lagoa do Meio, 08/V/1998,fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 57 (VIC, PERD); ib., trilha da campolina, 15/III/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 85 (VIC, PERD); ib., trilha da lagoa do meio, 22/VI/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al. 151 (VIC, PERD); ib., trilha da campolina, 23/VI/1999, fl., Santos-Gonçalves et al. 157 (VIC, PERD); ib., trilha da lagoa do meio, 27/VII/1999, fl., Santos-Gonçalves et al. 181 (VIC, PERD).

Comentários: Pharus parvifolius caracteriza-se por apresentar lâmina foliar lanceolada, lema da espigueta feminina com tricomas uncinados em toda a sua extensão (figura 1 d-e) e face abaxial da lâmina foliar com bandas intercostais fibrosas, visíveis externamente. Os indivíduos dessa espécie coletados no PERD apresentaram variabilidade morfológica tanto em termos das dimensões da lâmina foliar como no comprimento relativo entre as espiguetas masculina e feminina (figura 1 d-e). Tal variação levou inicialmente (Santos-Gonçalves 2000) ao tratamento de subespécies distintas. Entretanto, posteriormente, optou-se pela circunscrição da espécie de acordo com Judziewicz (1987Judziewicz, E.J. 1987. Taxonomy and morphology of the tribe Phareae. Ph.D. Dissertation, University of Wisconsin, Madson.). No PERD, é considerada comum, e ocorre em duas das seis trilhas percorridas durante este estudo.

Distribuição geográfica: De acordo com Judziewicz et al. (1999Judziewicz, E.J., Clark, L.G., Londoño, X. & Stern, M. 1999. American bamboos. Smithsonian Institution, Washington, D.C.), P. parvifolius ocorre desde o México e Antilhas até a Bolívia e Brasil, incluindo o Estado de Minas Gerais.

2. Streptochaeta Schrad. ex Nees, Fl. Bras. Enum. Pl. 2:536.1829.

Plantas perenes, cespitosas, rizomatosas, herbáceas, monoicas. Colmo simples ou ramificado, ereto ou decumbente, fistuloso. Folhas dísticas ou espiraladas; bainha com aurículas geralmente bem desenvolvidas, fímbrias presentes; lígulas externa e interna ausentes; pseudopecíolos curtos, com pulvino no ápice; lâminas lanceoladas a ovadas com nervuras paralelas. Inflorescências terminais, racemosas. Pseudoespiguetas com flores bissexuadas, 1-flosculada, curto-pediceladas, compostas de 12 brácteas coriáceas arranjadas espiraladamente; brácteas I˗IV curtas; bráctea V pequena ou nula; bráctea VI tão longa quanto a pseudoespigueta, longo-aristada; brácteas VII e VIII iguais, opostas à bráctea VI com ápice reflexo; bráctea IX pequena ou nula; brácteas X˗XII pouco menores que o corpo da pseudoespigueta, encerrando a flor; lodículas ausentes, estames 6, filetes mono ou diadelfos; estigmas 3. Fruto cariopse; semente com hilo ca. 2/3 do comprimento do fruto.

Streptochaeta apresenta a bráctea VI longo-aristada; a arista apresenta a porção terminal em forma de gavinha, permitindo que as pseudoespiguetas, quando maduras, permaneçam dependuradas no eixo da sinflorescência. De acordo com Judziewicz & Soderstrom (1989Judziewicz, E.J. & Soderstrom, T.R. 1989. A taxonomic-anatomical-morphological study of the Anomochloeae and Streptochaeteae (Poaceae). Smithsonian Contributions to Botany 68: 1-52. ), Streptochaeta reúne três espécies, as quais apresentam distribuição do sul do México e Trinidad até o norte da Argentina e sul do Brasil (Judziewicz et al. 1999). No PERD, foi identificada uma espécie e uma morfoespécie de Streptochaeta, as quais foram encontradas em trilhas onde a vegetação é bem preservada, em local sombreado e úmido.

As espécies de Streptochaeta não apresentam estruturas claramente homólogas com as glumas, lema ou pálea, componentes das espiguetas da maioria dos membros de Poaceae. Suas unidades de inflorescência são compostas por brácteas coriáceas arranjadas espiraladamente, que envolvem as flores e, por isso, foram denominadas de pseudoespigueta, termo equivalente à espigueta (Judziewicz & Soderstrom 1989Judziewicz, E.J. & Soderstrom, T.R. 1989. A taxonomic-anatomical-morphological study of the Anomochloeae and Streptochaeteae (Poaceae). Smithsonian Contributions to Botany 68: 1-52. ).

Chave para a identificação das espécies de Streptochaeta ocorrentes no PERD

1. Lâmina foliar com 8,6˗12,5 × 2,5˗4,3 cm, ovada; filetes diadelfos, estames 3+3 ......... 2.1. S. spicata subsp. spicata

1. Lâmina foliar com 11,5-17,5 × 1,1-2,2 cm, lanceolada; estames monadelfos ........................ 2.2. Streptochaeta sp.

2.1.Streptochaeta spicata Schrad. ex Nees subsp.spicata , Fl. Bras. Enum. Pl. 2:537. 1829.

Figura 1 f

Planta herbácea. Colmo 30˗83 cm de alt., simples ou algumas vezes ramificado, ereto a decumbente; entrenó fistuloso, glabro a pubescente; bainha glabra, margem ciliada no ápice, com aurículas inconspícuas a proeminentes, 7-9 mm compr; fímbrias 1˗2 mm compr.; lâmina foliar 8,6˗12,5 × 2,5˗4,3 cm, ovada, base arredondada, ápice agudo, glabra na face adaxial e com tricomas curtos, esparsos na face abaxial. Inflorescência 5,5˗13 cm compr., com raque pubescente em direção ao ápice, pedunculada; pedúnculo 7,5˗14,5 cm compr. Pseudoespiguetas 4˗8, pediceladas; pedicelo 1,5 mm compr.; brácteas I˗V até 4 mm compr.; bráctea VI com 18˗19 mm compr., 12-nervada, aristada; arista 3˗9 cm compr.; brácteas VII e VIII com 12˗13 mm compr.; brácteas X˗XII com 19˗20 mm compr., 12˗15-nervadas; filetes diadelfos, estames 3+3. Cariopse não vista.

Material examinado: BRASIL: Minas Gerais: Marliéria, Parque Estadual do Rio Doce (PERD), trilha do Aníbal, 15/III/1999, fl., Santos-Gonçalves et al., 83 (VIC, PERD); ib., trilha da garapa torta, 16/III/1999, fl., fr., Santos-Gonçalves et al., 89 (VIC, PERD); ib., trilha do Anibal, 16/III/1999, fl., Santos-Gonçalves et al., 109 (VIC, PERD); ib., trilha da campolina, 26/VII/1999, Santos-Gonçalves et al., 177 (VIC, PERD); ib., trilha do Anibal, 23/VIII/1999, fr., Santos-Gonçalves et al., 193 (VIC, PERD).

Comentários: No PERD, Streptochaeta spicata subsp. spicata difere de Streptochaeta sp. por apresentar lâmina foliar ovada, brácteas X-XII da pseudoespigueta maiores (19-20 mm) e filetes diadelfos. Similarmente ao que ocorre em Streptochaeta sp., no material examinado de S. spicata subsp. spicata foram encontrados apenas restos dos frutos predados. No PERD, esta espécie foi coletada em três das seis trilhas percorridas durante este estudo, e é considerada comum.

Distribuição geográfica: De acordo com Judziewicz & Soderstrom (1989Judziewicz, E.J. & Soderstrom, T.R. 1989. A taxonomic-anatomical-morphological study of the Anomochloeae and Streptochaeteae (Poaceae). Smithsonian Contributions to Botany 68: 1-52. ), S. spicata subsp. spicata distribui-se pelas florestas úmidas de México (Veracruz), Trinidad ao Equador, Amazônia Peruana (rara), Paraguai e Brasil (região sudeste, costa atlântica e Rio Grande do Sul).

2.2. Streptochaeta sp.

Planta herbácea. Colmo simples, ereto, com 60-80 cm de alt.; entrenó glabro. Bainha glabra, margem ciliada no ápice, com aurículas e fímbrias inconspícuas; lâmina lanceolada, base cuneada, ápice agudo, com 11,5˗17,5 × 1,1˗2,2 cm, levemente escabra na face adaxial e hirtela na face abaxial. Inflorescência 8˗11 cm compr., pedunculada, com raque pubescente em direção ao ápice; pedúnculo 6,5˗20 cm compr. Pseudoespiguetas 5˗9, pediceladas; pedicelo ca. 0,8 mm compr.; brácteas I-V ca. 3 mm compr.; bráctea VI com 16,5˗18 mm compr., 12-nervada, longo-aristada, arista 4˗4,5 cm compr.; brácteas VII e VIII 10,5˗12,5 mm compr., 8-nervadas; brácteas X-XII com 15˗16,5 mm compr., 12-14-nervadas; filetes fundidos, formando um tubo delicado em torno do gineceu. Cariopse não vista.

Material examinado: BRASIL: Minas Gerais: Marliéria, Parque Estadual do Rio Doce (PERD), trilha do Aníbal, 15/IV/1999, fl., Santos-Gonçalves et al., 100 (VIC, PERD); ib., trilha da lagoa do meio, 13/IV/1999, fl., Santos-Gonçalves et al., 108 (VIC, PERD); ib., trilha do Anibal, 19/IV/1999 fl., Santos-Gonçalves et al., 125 (VIC, PERD); ib., 21/VI/1999, fr., Santos-Gonçalves et al., 145 (VIC, PERD); ib., 26/VII/1999, fr., Santos-Gonçalves et al., 176 (VIC, PERD).

Comentários: Embora inicialmente (Santos-Gonçalves 2000) Streptochaeta sp. tenha sido identificada como Streptochaeta angustifolia Soderstr., posteriormente houve uma reavaliação dos espécimes e, como resultado, Streptochaeta angustifolia é aqui considerada uma entidade distinta. No PERD, Streptochaeta sp. difere de S. spicata subsp. spicata por apresentar lâmina foliar geralmente lanceolada, brácteas X-XII da pseudoespigueta menores (15˗16,5 mm) e estames monadelfos. Geralmente, no material examinado, foram encontrados apenas restos dos frutos predados. No PERD, Streptochaeta sp. foi coletada em duas das seis trilhas estudadas, onde é considerada comum.

Discussão

Neste estudo, numa área de ca. 5.000 ha no Estado de Minas Gerais, foram coletadas três das quatro espécies de Pharus registradas para o Brasil, bem como uma espécie e uma morfoespécie de Streptochaeta. Os estudos sobre diversidade e biogeografia das Bambusoideae realizados por Calderón & Soderstrom (1980), Clark et al. (1990) e Soderstrom et al. (1998) citaram as florestas costeiras da Bahia como uma das áreas de maior diversidade e endemismo de espécies de Anomochlooideae e Pharoideae no Brasil. Com os resultados do presente estudo é ampliada a área de ocorrência dessas plantas e demonstrada a carência de informações sobre essas gramíneas no Estado de Minas Gerais.

Embora a ocorrência de endemismos seja relativamente comum quando se trata de espécies de Poaceae, especialmente bambus e grupos basais, levantamento sistemático, como o apresentado neste estudo tem demonstrado que, para algumas espécies, este conceito é aplicado puramente em decorrência da falta de coleta de material botânico. Outro fator a ser considerado é que, possivelmente, pelo fato de apresentarem flores pouco conspícuas, as gramíneas são geralmente ignoradas por coletores generalistas. Os resultados obtidos neste estudo reforçam a necessidade de maiores esforços de coletas a fim de se avaliar a real distribuição geográfica desse grupo de plantas.

Agradecimentos

Aos funcionários do Parque Estadual do Rio Doce, pela ajuda inestimável nos trabalhos de campo e ao Reinaldo Pinto Monteiro, pela elaboração da ilustração.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Out 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    13 Maio 2019
  • Aceito
    18 Dez 2019
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