Interface (Botucatu)
Interface - Comunicação, Saúde, Educação
Interface
(Botucatu)
1414-3283
1807-5762
UNESP
Através de la experiencia del apoyo institucional de la Política Brasileña de
Humanización en tres regiones de salud del interior del Estado de São Paulo,
Brasil, el presente texto se propone exponer algunas problematizaciones
referentes al proceso de articulación de mallas regionales de salud en regiones
compuestas mayoritariamente por municipios con menos de vente mil habitantes. Al
problematizar la articulación de mallas de salud en regiones interioranas se
pone en la pauta del proceso de descentralización y las relaciones
inter-federativas enfatizando los aspectos políticos institucionales que
penetran y modulan esta relación, principalmente en los municipios de pequeño
porte. Por consiguiente, ponemos en cuestión los modos como las políticas de
salud actuales llegan a estos territorios y el modo cómo estas mallas están
siendo articuladas, teniendo como dirección el desafío de la ascendencia y
transversalidad del proceso.
Introdução
Ao longo de mais de duas décadas de sua institucionalização, o SUS ainda não
conseguiu materializar seus princípios e diretrizes no real das práticas cotidianas
e traduzir na vida das pessoas a efetivação do direito à saúde. A concretização dos
seus princípios e diretrizes no cotidiano das práticas de saúde ainda produz
intensos movimentos e debates, arena onde projetos estão sempre em disputa, trazendo
à tona discursos e enunciados representados por inúmeros interesses, valores e
desejos que atravessam essa Política, suas práticas de gestão e cuidado, que se
traduzem em complexos desafios.
É mérito do Sistema Único de Saúde (SUS) nunca se esquivar dessas questões, o que lhe
dá o status de política “viva”, arena de interesses, concepções, desejos e projetos
em disputa. E é nessa arena, ou melhor, a partir dela que emerge o tema do apoiador
caipira – sendo várias as questões e dimensões que o atravessa –, mas, como ponto de
partida, destaca-se a questão político-institucional da descentralização.
A discussão em torno da descentralização está diretamente atrelada ao da
regionalização e redes de saúde. A descentralização, regionalização e articulação de
redes de atenção à saúde trazem como desafio a superação da concepção normativa da
cultura inampsiana(c)1,2, ainda bem arraigada nas práticas de gestão e atenção.
Porém, não podemos reduzir a discussão da permanência dessa cultura nas práticas de
gestão e atenção colocando em questão apenas a forma de organização do SUS e as
modalidades de transferência de recursos da União para os demais entes federativos.
É preciso ampliar esse debate.
Entrar nesse debate nos leva a identificar os problemas contemporâneos que se dão na
relação entre Estado e as políticas públicas, visto que a cultura inampsiana que
atravessa os modos de fazer na política pública de saúde é um modo de operar do
poder do Estado. Quando problematizamos esse modo de fazer, colocamos em análise o
modo como se dá a relação/série governo-Estado-políticas públicas.
Observamos que esse modo de operar da máquina do Estado gera políticas que pouco
respondem às necessidades das localidades. Assim delimitamos como problema do
presente artigo o desafio de produzir redes de saúde a partir de territórios e
desejos singulares. Para desenvolver esta problemática, utilizamos como recurso o
personagem do apoiador caipira.
Articulação de redes regionais de saúde: o desafio da ascendência e da
transversalidade
O desafio da universalidade com resolutividade, por meio da garantia do princípio da
integralidade e da descentralização, ganha força na agenda da saúde na atualidade
por meio do tema da regionalização cuja principal estratégia é a articulação das
Redes de atenção à saúde, convocando a se repensar a forma organizacional do SUS e a
relação interfederativa que esta produz.
Confere-se, então, nova perspectiva para o processo de descentralização, ampliando-o
para além da municipalização da saúde, fortalecendo a regionalização das ofertas dos
serviços de saúde como importante mecanismo de garantia da qualidade do acesso.
Assim, o processo de regionalização aparece totalmente ligado com o de articulação
de redes regionais de saúde.
A integralidade da assistência não se esgota em um município, estado ou região, e
sim numa rede interfederativa, de caráter municipal, estadual ou interestadual.
Essa rede é composta pelo conjunto articulado e contínuo de ações e serviços de
saúde municipais, estaduais e federais que conforma o SUS nacional, cabendo a
todos garantir, de forma articulada, a saúde pública.2 (p. 105)
A discussão sobre descentralização, regionalização e redes de atenção à saúde traz
como desafio a desconstrução da concepção normativa da cultura inampsiana, ainda bem
arraigada nas práticas de gestão e atenção. Do Noas ao Pacto3 e do Pacto à Portaria GM/MS nº 4279/104 e ao Decreto nº 75085 de 28 de julho de 2011 há um
movimento de superação dessa cultura altamente prescritiva, caracterizada por
instrumentos duros e excessivo grau de normatização.
Porém, esse desafio de superar a cultura inampsiana não é simples, visto que mesmo o
Pacto pela Saúde 2006, “traz em seu bojo um tanto do DNA das normas operacionais
anteriores, uma vez que mantém todas as modalidades de transferência de recursos da
União para os demais entes, vinculados ao atendimento de determinados
programas”2 (p. 87).
Mas não somente as modalidades de transferência de recursos da União para os demais
entes que caracteriza o modo de fazer da cultura inampsiana. Esta relação pode
convocar modos de fazer prescritivos e cartoriais e reduzir a autonomia dos
municípios e regiões desconsiderando as singularidades e as necessidades locais.
No entanto mudar as modalidades de transferências de recurso não garante que nos
municípios e regiões as políticas de saúde não continuem sendo formuladas e
executadas verticalmente, ou seja, não podemos reduzir a discussão da permanência
dessa cultura nas práticas de gestão e atenção colocando em questão apenas a forma
de organização do SUS e as modalidades de transferência de recursos da União para os
demais entes federativos, é preciso ampliar esse debate.
Dessa forma, faz-se urgente problematizar o modo como as redes de atenção à saúde
estão sendo articuladas. Defendemos que entrar nesse debate nos leva a identificar
os problemas contemporâneos que se dão na relação entre Estado e as políticas
públicas6, visto que a cultura
inampsiana, que atravessa os modos de fazer na política pública de saúde, é um modo
de operar do poder do Estado.
Quando problematizamos esse modo de fazer, o que está em jogo são as relações de
poder entre a máquina estatal e os sujeitos e os “assujeitamentos” produzidos.
Problematizar a superação dessa máquina envolve intervir e modificar a relação/série
governo-Estado-políticas públicas.
Nesse atual cenário de emergência de políticas que visam construir redes regionais de
atenção à saúde, a questão do tempo torna-se fundamental, pois a relação do tempo
com a articulação de redes coloca em análise o modo como essas estão sendo
articuladas.
Estamos diante do desafio e aposta de incluir na constituição das políticas públicas
um “pensamento de processualidade”:
Trazer para o cerne da questão das políticas públicas a dimensão constituinte dos
processos sociais significa colocar o problema de como tornar estas políticas
porosas ao movimento histórico, reconhecendo-o como potência de constituição de
ser desprovida de verticalidade, escorregadia às totalizações [...] Significa,
em outras palavras, entender a realidade como temporalidade do singular, ao
contrário das instituições modernas em seu compromisso de enclausurar e
codificar os processos sociais. Questionar a produção das políticas públicas
quanto ao modo como atualizam este fechamento resulta, então, em promover sua
exposição à aceleração do presente, do evento, da generalização da
singularidade.7 (p.
119)
Problematizar o conceito de rede que opera a forma de organização do SUS, além de
conceitual, é uma questão ético-política, pois mais do que colocar em jogo o “o que
é” ou “como deve ser”, também destaca os modos de fazer, o “como fazer” ou “como
estamos fazendo”.
Também problematiza o que entendemos por rede, regionalização ou mesmo questiona o
preceito constitucional de rede regionalizada e hierarquizada, que se faz necessário
questionar: como estamos trabalhando em rede? Como articulamos rede? Que rede
estamos articulando? Para quê? Para quem? Questões estas primordiais neste atual
cenário de emergência de políticas que visam aprimorar as relações interfederativas
investindo em processos de regionalização a partir da articulação de redes regionais
de atenção à saúde.
O conceito de rede é perigoso, pois é polissêmico e o sentido que cada um dá para
esse conceito representa um projeto. Segundo Saidón8 (p. 167):
Quando nos referimos ao trabalho em rede ou aos sistemas de pensamento em rede,
surge uma multiplicidade de sentido.
O termo “rede”, em sua polivocidade, nos remete, por um lado, a uma linha mais
conceitual e, por outro, comporta um sentido puramente técnico e instrumental.
Em alguns casos, é uma proposta de ação e, em outros, se estabelece como o
próprio modo pelo qual o funcionamento do social acaba se efetuando na
atualidade.
Em certos casos, trata-se de um modo de organização e institucionalização de
projetos e, em outros, é a forma de resistir ao instituído dominante, criticando
a organização centralizada e piramidal.
Righi9 ao dissertar sobre o conceito
de rede oferta algumas pistas para pensarmos os processos de trabalho em rede na
área da saúde coletiva.
A autora argumenta que a proposta de rede para o SUS não é a metáfora da rede
homogênea com suas próprias normas, isoladas, fechadas em si mesmas, incapaz de
relacionar-se com o diferente. Chama a atenção para as armadilhas quando o desenho
das redes enfatiza temas, áreas e políticas. Para ela, “nosso investimento mais
urgente é o de propor desenhos que potencializem a produção de redes quentes”9 (p. 169) caracterizadas pela
dinâmica conectiva geradora de diferenciação, rede heterogenética. Essa produção só
é possível quando a produção da rede estiver conectada com as forças do território
(espaço vivido), lugar onde as relações acontecem.
Até que ponto o processo de construção e implantação das Redes Regionais de Atenção à
Saúde está produzindo rede heterogenética? Ou melhor, como esse movimento está se
conectando com as heterogeneidades territoriais?
Acioli10 também faz importantes
apontamentos em relação aos diversos sentidos e apropriações do conceito de redes
pela política de saúde. Questiona a ambiguidade do uso das redes.
Convém, portanto, que pensemos na “rede” como um sistema de nós em aberto e como
uma multidimensionalidade potencial. A questão é como dar conta da diversidade e
da singularidade da vida real e complexa que flui em muitas direções e níveis e
arranjá-la no encadeamento racional da “rede”, que pode ser dispositivo de
embalar sonhos instituintes de novos arranjos relacionais entre equipes e
usuários, mas é também instrumento de captura, isto é, pode perfeitamente ser
usada como uma estratégia racionalizadora, de cunho normativo, que toma a forma
de programa e linha de financiamento.10 (p. 1682)
Tanto quanto desenvolver arcabouço legal para aprimorar o processo de
descentralização, transformando o coeficiente das relações interfederativas,
observada a partir do movimento de revisão e aprimoramento jurídico-administrativo
do SUS, sendo o marco desse contexto o Decreto 7.5085, é preciso pensar como esse movimento pode transformar
as relações não só interfederativas, mas também micropolíticas entre gestores,
trabalhadores e usuários, já que por mais que nessa articulação sejam contemplados
espaços de gestão compartilhada, como os grupos condutores de redes – estaduais,
regionais ou municipais –, observa-se que esse processo e espaços não garantem a
participação dos diversos atores que utilizam e trabalham nos serviços de saúde.
Corre-se o risco, portanto, desse momento importante de reconstrução e reflexão das
políticas públicas de saúde ficar restrito a alguns técnicos e gestores,
reproduzindo o modo tradicional de planejamento cuja máxima é: “uns planejam outros
executam”. Estamos diante não só de um desafio jurídico administrativo, mas
político-institucional.
Segundo Nascimento11 a existência
dessas lacunas e ambiguidades da conformação político-institucional atual brasileira
vem dificultando a consolidação de um pacto federativo que favoreça a implementação
do SUS e o direito à saúde. Ainda segundo a autora: “Só é possível enfrentar essas
insuficiências a partir de uma prática política construída sob novas bases de
perspectiva democrática, cooperativa e solidária”11 (p. 28).
Fica evidente o desafio de articular processos ascendentes e transversais,
reestabelecendo outra relação entre governo-Estado-política pública, transformando
as dinâmicas relacionais por meio de intervenção e transformação nas e das
instituições, aumentando o coeficiente de comunicação intra e intergrupos.
Nesse sentido é proposto o apoio institucional como estratégia de um modo inovador de
fazer coordenação, planejamento, supervisão e avaliação em saúde, tendo como
objetivo estar sempre inserido em movimentos coletivos, ajudando na análise da
instituição, buscando novos modos de operar e produzir as organizações, envolvendo
uma tríplice função – ativar coletivos, conectar redes e incluir a multiplicidade de
olhares e práticas, interesses e desejos para produção de objetivos comuns,
ampliando a capacidade de tecer uma rede de compromissos, de contratualização entre
sujeitos1,13.
Política Nacional de Humanização: por outra relação entre a máquina estatal e a
produção de políticas públicas. A função apoio como dispositivo
Segundo Campos13 a nomenclatura
apoio institucional foi sugerida por Liane Righi para denominar o agente que se
utiliza do método da Roda, ou método Paideia13. A preocupação era achar um nome que pudesse marcar
diferenças dessa função apoio diante de outros papéis institucionais aparentemente
similares como consultor, supervisor e analista institucional, porém diferentes da
proposta do apoio institucional.
A partir da década de 1990, o apoio institucional foi experimentado como ferramenta
de gestão por vários municípios produzindo uma gama de práticas e arranjos. Segundo
Oliveira14, municípios como
Campinas, Sumaré, Amparo e Santa Bárbara do Oeste instituíram o cargo de apoiador
institucional ou de apoio à gestão com funções e atribuições mais ou menos
delimitadas pela gestão formal; outros, como Jacareí e Pindamonhangaba,
experimentaram o apoio na educação permanente de trabalhadores e gestores.
Oliveira14 também cita outras
experiências como a metodologia do apoio utilizada em cursos de especialização em
Saúde da Família e Gestão e na formação de graduandos de medicina.
Na atualidade o apoio institucional é uma tecnologia bem difundida e incorporada por
várias instâncias de gestão do SUS, como por exemplo, o próprio Ministério da Saúde.
Apesar de ter sido incorporado pelo Ministério da Saúde como um instrumento de
gestão estratégico por meio do apoio integrado em 2003, pela Política Nacional de
Humanização é que essa ferramenta foi experimentada pela primeira vez numa política
nacional.
A Política Nacional de Humanização surge com a pretensão de ser uma política
instituinte na máquina do Estado para produzir outro modo de conexão com as forças
do coletivo, transformando práticas ao mesmo tempo que produz novos modos de
subjetivação. Para essa política, a tarefa é dupla e indissociável: produção de
saúde e produção de sujeitos. Desse modo a PNH questiona o método, o “modo de
fazer”, da máquina estatal.
O desafio da PNH de encarnar os princípios do SUS na experiência concreta de sujeitos
concretos, transformando práticas de saúde a partir da transformação dos sujeitos
“exige todo um trabalho de conexão com as forças do coletivo, com os movimentos
sociais, com as práticas concretas no cotidiano dos serviços de saúde”15 (p. 391). Sendo assim, a Política
Nacional de Humanização propõe a reversão do método extensivo para o método
intensivo, superando a tradição altamente normativa da máquina do Estado.
[...] a máquina do Estado pelo seu gigantismo é frequentemente um foco propagador
de ações cuja medida e o método são da extensividade: ações nacionais,
macrorregionais, pragmáticas e de campanha. A máquina é tão mais Estatal quanto
maior é a sua capacidade de estender seus braços (lembremos a imagem do Leviatã)
por toda a nação e não necessariamente incluindo todo o povo. Mas, como fazer a
inclusão do povo? Como incluir o que na experiência concreta foge aos padrões
idealizados, à figura abstrata do homem médio brasileiro? A rede que se tece em
ações puramente extensivas tem uma malha aberta demais, de modo a não poder
incluir o que frequentemente está à distância do metro-padrão. Alcançar a
experiência concreta no que ela tem de singular exige, portanto, uma ação guiada
por uma metodologia não mais extensiva, mas intensivista: o método da tríplice
inclusão (inclusão dos atores e suas histórias- ou lateralização; inclusão dos
analisadores institucionais e inclusão dos coletivos, ou movimentos sociais e
movimentos sensíveis). A questão metodológica que se coloca para nós é a da
reversão da extensividade em intensividade.16 (p. 3)
Desse modo, a PNH se apresenta como um método. Método da tríplice inclusão,
disseminando este “modo de caminhar”, como modo de fazer inclusão (i) dos
atores/sujeitos, (ii) movimentos e redes sociais e (iii) os elementos discursivos e
as subjetividades que cada um desses traz para a roda/rede. Para isso, a PNH
estabelece diretrizes e oferta dispositivos que buscam interferir nas formas de
relacionamento, seja na atenção, seja na gestão, já que são indissociáveis, a fim de
catalisar processos de mudanças.
O Estado-nação apresenta-se como uma figura cuja função é de mediar toda experiência,
emergindo como uma nova transcendência ante a imanência possibilitada na
modernidade6. Ao problematizar
a questão metodológica na qual opera a Máquina Estatal, a Política Nacional de
Humanização coloca em análise o exercício de poder na modernidade, apostando que, no
limite entre a máquina do Estado e o plano coletivo, o plano coletivo prevaleça na
orientação das ações governamentais, garantindo o sentido público das políticas que
atravessam o Estado.
A função apoio enquanto dispositivo é uma aposta da Política Nacional de Humanização
na reversão do método de operar da máquina estatal buscando ao invés de práticas
altamente prescritivas, acionar singularidades territoriais articulando-se a
movimentos instituintes.
Enquanto dispositivo do método da tríplice inclusão, o apoio institucional, tem como
função apoiar processos de mudança constituídos como “obras coletivas” que
caracteriza seu modo de fazer, como: 1) modo intensivista, ou seja, todo apoio é uma
ação intensivista, pois busca acessar a singularidade da experiência concreta e se
conectar com as forças do coletivo, sendo a extensividade da ação o efeito da ação
intensiva e não o ponto de partida; 2) modo de contágio: ao se conectar às forças do
coletivo e acessar as experiências concretas o apoiador não chega com programas ou
propostas de mudanças (o que caracteriza as ações extensivas), mas sim chega para
apoiar movimentos já existentes ou em potencial, apostando na ação intensiva como
ação de contágio; 3) modo de referência: o apoiador faz com, junto com o coletivo
que apoia, acompanhando e potencializando o processo de mudança, sua função de
referência garante um mínimo de regularidade do funcionamento do coletivo17.
Ao se caracterizar por uma ação “intensivista”, revertendo a prática extensiva da
ação ministerial em intervenções intensivas, a função apoio é identificada como
dispositivo fundamental no estabelecimento de outra relação entre a série
governo-Estado-políticas pública.
O apoiador caipira: tratado de nomadologia
As questões apresentadas até aqui buscam dar consistência as afecções produzidas a
partir da experiência do apoio institucional da Política Nacional de Humanização em
regiões de saúde situadas no interior do estado de São Paulo(d), ou seja, o objeto de
análise em questão não é simplesmente a análise de uma experiência do apoio
institucional da Política Nacional de Humanização, mas também refletir como se dão
as políticas públicas de saúde em municípios de pequeno e médio porte, sem a
pretensão de esgotar esse tema.
Essa questão é de extrema relevância, pois quando nos debruçamos sobre a importância
de os processos de descentralização produzir outra relação interfederativa por meio
da articulação de redes regionais de saúde, solidárias e cooperativas, é importante
contextualizar que, segundo o censo IBGE 2000, cerca de 80% dos municípios no Brasil
tem menos de vinte mil habitantes, representando cerca de 12% da população
brasileira18. No estado de São
Paulo, segundo o Censo de 2000, 411 dos 645 municípios, 63,7%, têm menos de vinte
mil habitantes representando cerca de 8,16% da população do Estado, enquanto que os
municípios com mais de cem mil habitantes somam 62, representando 71,6% da
população.
Quando apontamos como desafio para garantir o direito à saúde não só o aprimoramento
jurídico-administrativo do SUS, mas também as questões políticas-institucionais,
principalmente no que se referem à relação governo-Estado-políticas públicas, tal
desafio nos convoca a colocar em análise como se dão as instituições e as relações
de poder e interpessoais nesses pequenos municípios, já que representam 80% dos
municípios do Brasil e 63,7% no estado de São Paulo.
Pelo apoio institucional acontecer numa região majoritariamente composta por
municípios com menos de vinte mil habitantes, caracterizamos esse apoio como
apoiador caipira. Porém, a questão do caipira vai muito além da distinção daqueles
que vivem no interior.
O termo caipira é utilizado majoritariamente para designar o morador da área rural ou
até mesmo o morador interiorano mesmo que habitante da cidade. A questão é que o
caipira mais do que designar o morador rural ou interiorano é uma cultura singular
que foi se constituindo no planalto paulista.
No contato entre europeus e nativos, “ocorreu à mistura étnico-cultural entre os dois
grupos”19 (p. 29). A cultura
caipira foi marcada pelo isolamento e foi esse isolamento que propiciou a produção
cultural singular de uma população com características próprias que ocupavam o
interior, principalmente da província de São Paulo. O termo caipira vem da língua
indígena e começou a ser utilizado pela elite branca para designar um grupo
populacional que vivia no interior da província com nítidas influências e hábitos
indígenas, mas com um estilo de vida singular19.
Muitas são as características e atribuições dadas ao caipira. Moradores rurais não
proprietários de terras, essa população vivia a transitar em direção ao oeste o que
lhe conferia uma condição nômade. Essa condição nômade estava atrelada ora pela
busca por terras mais férteis, quando habitavam solos inférteis, ora pela violência
dos senhores que os expulsavam das terras produtivas.
[...] como passo a passo por toda a Província de São Paulo, o caipira sucedia o
bandeirante e precedia o senhor de terras. A chegada de um senhor de escravos a
uma região de bairros de “situantes” caipiras, até hoje se guarda na memória das
cidades paulistas como o momento do seu verdadeiro início. O bandeirante
desbrava, o caipira ocupa, o senhor civiliza. Por isso, parece tão legítimo ao
senhor expulsar das terras o lavrador pobre e ocupar o seu trabalho, quanto
pareceu legítimo ao bandeirante “limpar” do caminho os índios e os
aprisionar.20 (p. 38)
Por muito tempo essa população pobre dos campos paulistas foi tida como insolente,
preguiçosa, de modos grosseiros, símbolo do atraso diante das ideologias
modernizantes de um Brasil recém-industrializado e cada vez mais urbano21. Porém, no fim do século XIX,
observam-se esforços, em sentido contrário, que tinham como interesse a construção
de um tipo tradicional que pudesse representar uma identidade genuinamente nacional,
já que o contexto em que a “cultura caipira” começou a ser enaltecida pela elite
intelectual era o da construção de um Estado-nação, o que convocava à construção de
uma identidade nacional, “o caipira apresentou-se como o tipo fundamental na
representação de uma identidade nacional”19 (p. 25) e começou a ser tema da literatura, pintura e
teatro regionalista no fim do século XIX.
No século XIX, a expansão do capitalismo moderno e a crescente urbanização e
industrialização do Brasil, mais especificamente do estado de São Paulo,
influenciaram muito a cultura caipira, seu modo de ser e estar em relação ao meio
que vive. A incorporação progressiva à esfera da cultura urbana, assim como a
preponderância da vida social e econômica das grandes fazendas descaracterizaram a
cultura caipira como um sistema rústico, de subsistência e fechado. Dessa forma, o
caipira reage de várias maneiras, seja aceitando totalmente essas novas condições,
proletarizando-se nas grandes fazendas ou mesmo migrando para a cidade, seja
mantendo-se na lavoura e ajustando-se como possível.
A questão é que, com o advento do capitalismo moderno, a crescente urbanização
diminuiu as distâncias entre cidade e meio rural e as necessidades do caipira foram
incorporando as necessidades do sistema econômico emergente. Segundo Candido22, a reação a essa nova situação se
deu pela aceitação total de uns, rejeição total de outros e aceitação parcial da
maioria, aqueles que permaneceram no campo, porém, introduziram-se na dinâmica
socioeconômica urbana enquanto trabalhador rural das grandes fazendas ou pequeno
sitiante que vendia para a cidade a produção excedente da roça. O que acontece é a
desorganização de uma cultura quando esta entra em relação com o modelo
socioeconômico capitalista em aliança com a “forma Estado” de organização
social.
Ou seja, não existe o caipira, mas os vários modos de conceber o caipira, seja de
forma pejorativa, uma sub-raça, consequência da miscigenação entre colonizadores e
indígenas, rústico, grosseiro, preguiçoso, seja enaltecendo-o como uma população de
características e hábitos próprios com status de uma cultura genuinamente paulista e
nacional.
Destacar a polissemia que envolve o termo caipira é importante, pois vamos a seguir
dar ênfase a uma dessas várias características e atribuições que encontramos nessa
cultura. Como uma produção cultural e mesmo conceitual, o caipira é uma
multiplicidade composta por várias linhas: linhas submissas, linhas mestiças, linhas
migrantes, linhas nômades, etc.
Entre essas inúmeras linhas do caipira, desdobramentos e apropriações, gostaríamos de
destacar o lado nômade dessa população que por muito tempo viveu, para alguns, na
miséria, ao mesmo tempo que desfrutava de uma autonomia e independência,
caracterizando-os como pessoas apropriadas de ações livres.
Destacar que o nomadismo é uma das linhas que compõe essa figura é uma forma de não
correr o risco de homogeneizar e romantizar o caipira, sem também perder de vista,
como colocado anteriormente, que esse nomadismo acontecia por várias razões: pela
infertilidade das terras; pela forma que se relacionava com o tempo e a natureza; e
pela violência dos senhores que chegavam expulsando-os das terras produtivas.
O que inicialmente caracteriza o lavrador caipira é ele ser produtor errante. Na
verdade, ele, um lavrador obrigado a ser errante, porque vive de ser empurrado
de um sertão que conquistou a um outro que vai conquistar, até ser outra vez
expulso. Se uma parte de sua vida nômade deriva de como ele se relaciona com a
natureza, a outra — possivelmente mais importante — deriva de como ele se
relaciona com os senhores rurais através do trabalho e de tratos sobre questões
de posse e uso da terra.20 (p.
34)
Um dos legados indígenas para a cultura caipira foi a prática da agricultura
itinerante e de subsistência que permitiu esse nomadismo.
A sociedade caipira tradicional elaborou técnicas que permitiram estabilizar as
relações do grupo com o meio (embora em nível que reputaríamos hoje precário),
mediante o conhecimento satisfatório dos recursos naturais, a sua exploração
sistemática e o estabelecimento de uma dieta compatível com o mínimo vital –
tudo relacionado a uma vida social de tipo fechado, com base na economia de
subsistência [...] A vida social do caipira assimilou e conservou elementos
condicionados pelas suas origens nômades. A combinação dos traços culturais
indígenas e portugueses obedeceu ao ritmo nômade do bandeirante e do povoador,
conservando as características de uma economia largamente permeada pelas
práticas de presa e coleta, cuja estrutura instável dependia da mobilidade dos
indivíduos e dos grupos. Por isso, na habitação, na dieta, no caráter do
caipira, gravou-se para sempre o provisório da aventura.22 (p. 36-7)
A cultura caipira foi sendo apropriada e descaracterizada conforme o fortalecimento
do Estado-nação que, concomitantemente com a expansão do sistema capitalista,
produzia como efeito a crescente urbanização e industrialização. Esse movimento teve
como uma das consequências a proletarização do caipira, a captura da sua força de
trabalho pelo capital, disciplinarizando-o, introduzindo-o a uma nova relação com o
tempo e o espaço.
Não identificamos nenhuma literatura que pudesse comprovar a tese de que o movimento
de resistência dessa população ante a investida da “forma Estado” produziu algumas
estratégias de conjuração, porém arriscamo-nos a afirmar e a defender a tese de que
alguns grupos de caipiras, na sua condição nômade, produziram estratégias de
resistência contra a organização do Estado.
Por que queremos destacar essa questão do nomadismo do caipira, além de eleger parte
dessa população como agentes que resistiram por muito tempo às investidas das formas
de organização econômica e social do Estado moderno?
Para Deleuze e Guattari23, o
aparelho do Estado torna possível a distinção clara entre governantes e governados
graças à constituição de um aparelho do tipo arborescente que se concentra em órgãos
de poder. Ao contrário das sociedades primitivas que possuíam chefes, o Estado não
se define pela existência de chefes, mas pela perpetuação e conservação de órgãos de
poder, sendo sua preocupação a de conservar. Muitas sociedades primitivas possuíam
alguns mecanismos sociais que tornavam impossível a formação de um aparelho de
Estado.
Os mecanismos conjuratórios ou preventivos fazem parte da chefia, e a impedem que
se cristalize num aparelho distinto do próprio corpo social [...] o chefe
assemelha-se mais a um líder ou a uma vedete do que a um homem de poder, e corre
sempre o risco de ser renegado, abandonado pelos seus.23 (p.19)
Deleuze e Guatarri23 ainda apontam
que nas sociedades primitivas a guerra é o mecanismo mais seguro contra a formação
do Estado, pois mantém uma dispersão e segmentaridade dos grupos.
Não se quer equiparar a população caipira a grupos primitivos, muito menos afirmar
que esse grupo também se utilizou da guerra como mecanismos contra a formação do
Estado, apesar de que a constante violência que sofriam dos senhores, que tomavam
suas terras, contribuía para a dispersão e segmentarização desses grupos de caipira.
Entende-se que muitos grupos nômades de caipiras rejeitaram o quanto puderam as
investidas do aparelho do Estado sobre suas formas de organização social. A
resistência desses grupos estava relacionada principalmente a manutenção da forma
que se relacionavam com o tempo e o espaço.
Esquecido de horóscopos (os únicos “astros” importantes na vida de trabalho do
camponês tradicional são o Sol e a Lua) e distante do calendário civil que a
cidade reinventa a cada ano, o “ano” do caipira é regido pelo entrecruzamento
das sequências do trabalho com os tempos das festas da religião.20 (p. 54)
Sendo que a investida do Estado está relacionada à ordenação dos grupos no espaço
estriado da pólis e no tempo disciplinado do trabalho operário.
Fixar, sedentarizar a força de trabalho, regrar o movimento do fluxo de trabalho,
determinar-lhe canais e condutos, criar corporações no sentido de organismos, e,
para o restante, recorrer a uma mão de obra forçada, recrutada nos próprios
lugares (corveia) ou entre os indigentes (ateliês de caridade), - essa foi
sempre uma das funções do Estado, que se propunha ao mesmo tempo vencer uma
vagabundagem de bando, e um nomadismo de corpo.23 (p. 34)
Essa discussão sobre o nomadismo, principalmente quando contamos com as contribuições
de Deleuze e Guattari23, traz um
debate muito importante em relação ao apoio institucional e sua relação com a
máquina do Estado, especialmente quando parte desse documento tem como questão as
formas como as políticas públicas de saúde, as políticas de Estado para a saúde
chegam a esses territórios produzindo os mais variados efeitos. O termo apoiador
caipira também busca problematizar como o apoio institucional pode contribuir para a
articulação de práticas instituintes nesses territórios.
Um dos motivos de caracterizar como apoiador caipira o apoiador institucional da
Política Nacional de Humanização nesses territórios compostos por pequenos
municípios é pela questão de convocar o caipira não de maneira pejorativa, mas na
sua potência nômade, agenciando-o ao que pulsa e atravessa virtualmente os corpos
dos habitantes e trabalhadores desses municípios num devir caipira, num devir
nômade.
Se o nômade pode ser chamado o Desterritorializado por excelência, é justamente
porque a reterritorialização não se faz depois, como no migrante, nem em outra
coisa, como no sedentário (com efeito, a relação do sedentário com a terra está
mediatizada por outra coisa, regime de propriedade, aparelho de Estado...). Para
o nômade, ao contrário, é a desterritorialização que constitui sua relação com a
terra, por isso ele se reterritorializa na própria desterrritorialização [...]
Ele é o vetor de desterritorialização.23 (p. 53)
A trajetória que fizemos até aqui é para evidenciar esta questão: uma das principais
características do apoiador caipira é constituir a função apoio como uma máquina de
guerra. Que o apoio institucional não seja um instrumento a favor do aparelho do
Estado, mas que suas intervenções possam acionar o fora que a máquina estatal sempre
está a capturar. Sendo a máquina de guerra: “Toda quebra de homogeneização
amplificada pelo aparelho estatal é já uma máquina de guerra. Todo revide que
multiplique suas relações, conectando suas redes de resistência, abrindo para um
novo campo de possibilidades, forma uma máquina”24 (p. 92).
O apoiador caipira é aquele que por meio da intervenção como apoiador institucional
possibilita “Colocar o pensamento em relação imediata com o fora, com as forças do
fora, em suma, fazer do pensamento uma máquina de guerra [...]”23 (p. 46)
Sendo o fora uma experiência de resistência aos modelos hegemônicos, capacidade de se
incomodar com os pressupostos, preconceitos, elegendo a transformação das práticas
como necessidade, permitindo-nos nos aventurar em processos que visam construir
novas possibilidades de vida: função apoio caipira.
Algumas considerações
Dentro do debate da descentralização, regionalização e produção de redes de saúde,
optamos em por em questão os aspectos político-institucionais que condicionam as
relações interfederativas e a efetivação do direito à saúde, problematizando a série
governo-Estado-políticas públicas.
Assim, nesse processo analítico apesar de todos os planos e elementos de análise ser
importantes, o plano político traz questões fundamentais para problematizarmos a
relação político-institucionais nos pequenos municípios, ou seja, problematizar como
se dão as relações entre a população, a administração pública e as políticas
públicas, como também a relação da população com os agentes políticos. Ao entrar em
relação com regiões de saúde majoritariamente compostas por municípios com menos de
vinte mil habitantes, o apoiador caipira é tomado por inúmeras questões.
Como vimos anteriormente, a Política Nacional de Humanização surgiu mirando não ser
uma mera proposta, e sim materializar-se enquanto prática instituinte, mobilizando e
conectando forças do coletivo.
A Política Nacional de Humanização, quando afirma ser uma política que busca se
materializar como prática instituinte transformando práticas de cuidado e gestão a
partir da produção de novas subjetividades, coloca para os seus
trabalhadores/consultores/apoiadores institucionais uma inquietação ética: até que
ponto minha/nossa prática está produzindo práticas instituintes? Até que ponto
minha/nossa prática está produzindo transformações nas práticas de cuidado e gestão?
Até que ponto minha/nossa prática está produzindo sujeitos mais autônomos? Até que
ponto minha/nossa prática é capturada pelas forças do instituído, reproduzindo e
legitimando práticas cuja política busca combater/superar?
Se considerarmos como inseparável o processo de produção de saúde e o processo de
produção de subjetividades mais autônomas e protagonistas, e isso envolve garantir
que o plano coletivo prevaleça e oriente as ações governamentais, que forças
atravessam esses territórios que possibilitam ou não que isso aconteça? Quais as
forças que atravessam esses territórios que possibilitam ou não a articulação das
forças do coletivo produzindo novas subjetividades? São essas algumas das questões
que atravessam o apoiador caipira.
Bacelar18 ao fazer uma análise da
pequena cidade sobre o ponto de vista político-administrativo identifica na prática
da gestão pública na maioria desses municípios uma herança histórico-cultural
ibérica marcada por forte patrimonialismo e assistencialismo. Segundo o autor, o
resíduo da herança portuguesa ainda impregna o modo de vida e o estilo de
administração pública.
O autor aponta vários fatores que condicionam a relação da população com o poder
público nessas localidades: relacionamento próximo da população com os gestores
públicos, o município como grande empregador e promotor de ações
econômico-produtivas e sociais, sendo muito desses empregos oriundos de relações de
nepotismo e apadrinhamento político, o que reflete num corpo de trabalhadores pouco
capacitados para lidar com as complexidades que a gestão de um município requer,
além da alternância desse corpo de trabalhadores, que muda conforme mudam prefeitos
e vereadores.
Concordamos que essa tradição ibérica produz relações patrimonialista e
assistencialista que, por sua vez, contribuem para que as gestões nessas localidades
sejam marcadas por forte autoritarismo e arbitrariedades, produzindo subjetividades
assujeitadas, submissas e desapropriadas de um olhar crítico sobre as práticas de
gestão e atenção na saúde. Porém, não podemos deixar de enxergar que essa mesma
proximidade entre as pessoas, o que marca as relações personalistas nos municípios
de pequeno porte, também pode produzir relações de coletividade, de produção de
comum, de transversalidade, de produção ascendente de políticas públicas.
Silva25, ao problematizar as
relações sociais nas pequenas cidades e como elas produzem o espaço urbano, pondera
que:
[...] a aparente simplicidade e a falta de dinamismo da forma das pequenas
cidades mascara as relações complexas que imperam em tal espaço, adquirindo
sentido apenas quando se entendem os códigos que as sustentam e lhes dão sentido
particular.
Assim como a cultura é constantemente reconstruída a partir das diferentes
experiências dos sujeitos ou grupos, as territorialidades instituídas a partir
dos espaços vividos estão permanentemente se modificando, dependendo da
perspectiva e do acionamento dos códigos simbólicos que as caracterizam [...] É
no desenrolar da vida cotidiana que podemos compreender as divergências, as
transgressões, ou a obediência à ordem imposta, interpretando, enfim, as
relações sociais que dão conteúdo ao espaço geográfico.25 (p. 33)
Por mais que esses municípios pareçam dominados pela tradição ibérica de
relacionamento público-privado, produzindo relações assistencialistas e
patrimonialistas calcadas num autoritarismo institucional, na micropolítica das
relações podemos identificar linhas de fuga, devires insurgentes que possam produzir
outras relações.
O apoiador é caipira quando, a partir de sua intervenção visa à articulação e
produção dessas linhas de fuga, na atualização de devires insurgentes, apostando nas
fissuras do modo hegemônico de relação entre a administração pública e a população,
transformando a relação governo-Estado-políticas pública, produzindo políticas
públicas que traduzam na prática, desejos singulares e emancipatórios que borbulham
nos territórios.
Referências
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de descentralização de saúde no Brasil. Rev Panam Salud Publica. . 2006;
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à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília (DF): Ministério da
Saúde; 2010.
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Decreto Presidencial nº 7.508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a
Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do
Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a
articulação interfederativa, e dá outras providências. Brasília (DF): Ministério
da Saúde; 2011.
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Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990,
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Silva
JM
Cultura e territorialidades urbanas: uma abordagem
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Rev Hist Reg
2000
5
2
9
38
c
A “cultura inampsiana” é a força e a marca da ação político institucional do
Inamsps que por quinze anos coordenou a política de centralização administrativo
e financeira do sistema de saúde, o que marca essa característica pelo
centralismo, alto grau de prescrição e normatização.
d
A experiência em questão foi desenvolvida numa região que abrange três
Departamentos Regionais de Saúde, composta por cerca de cento e cinquenta
municípios, sendo que 77% têm menos de vinte mil habitantes.
Autoría
Pedro Ivo Freitas de Carvalho Yahn
Política Nacional de Humanização, Secretaria de
Atenção à Saúde, Ministério da Saúde. SAF Sul, Trecho 02, Bloco F, Edifício
Premium,Torre II, sala 102. Brasília, DF, Brasil. 70070-600. apoio.pedroivo@gmail.comMinistério da SaúdeBrasilBrasília, DF, BrasilPolítica Nacional de Humanização, Secretaria de
Atenção à Saúde, Ministério da Saúde. SAF Sul, Trecho 02, Bloco F, Edifício
Premium,Torre II, sala 102. Brasília, DF, Brasil. 70070-600. apoio.pedroivo@gmail.com
Silvio Yasui
Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e
Escolar. UNESP – Univ Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Campus
de Assis. Assis, SP, Brasil. syasui@assis.unesp.brUniv Estadual PaulistaBrasilAssis, SP, BrasilDepartamento de Psicologia Evolutiva, Social e
Escolar. UNESP – Univ Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Campus
de Assis. Assis, SP, Brasil. syasui@assis.unesp.br
Colaboradores
Os autores trabalharam juntos em todas as etapas de produção do
manuscrito.
SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS
Política Nacional de Humanização, Secretaria de
Atenção à Saúde, Ministério da Saúde. SAF Sul, Trecho 02, Bloco F, Edifício
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Atenção à Saúde, Ministério da Saúde. SAF Sul, Trecho 02, Bloco F, Edifício
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Escolar. UNESP – Univ Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Campus
de Assis. Assis, SP, Brasil. syasui@assis.unesp.brUniv Estadual PaulistaBrasilAssis, SP, BrasilDepartamento de Psicologia Evolutiva, Social e
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