Acessibilidade / Reportar erro

Aprendizagens com o corpo todo na (trans)formação de educadores (as) populares do Curso Livre de Educação Popular em Saúde (EdPopSUS)

Aprendizaje con todo el cuerpo en la (trans) formación de educadores populares del Curso Libre de Educación Popular en Salud (EDPopSUS)

Resumos

No intuito de reafirmar os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), institui-se a Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEPS-SUS), tendo como estratégia um curso de educação popular em saúde para trabalhadores do SUS e movimentos sociais. Objetivou-se analisar o tema das aprendizagens com o corpo todo surgido no processo formativo dos (as) educadores (as) do curso, relacionado à produção de autonomia. A formação de educadores tem atuado na lógica de prerrogativas a serem seguidas, porém, a educação popular propõe a aprendizagem como exercício da autonomia para a responsabilidade política. Neste estudo exploratório, com base na abordagem qualitativa, ancorado no estudo de caso, produzimos os dados com entrevistas em profundidade e observação participante. O curso revelou-se tecido por aprendizagens com o corpo todo que demarcaram inovações na educação em saúde, ao incluir a corporeidade, a espiritualidade, as histórias e vulnerabilidades dos (as) educadores (as), possibilitando sua (trans) formação.

Educação popular em saúde; Práticas pedagógicas; Formação de formadores; Autonomia; Integralidade


Con el objetivo de reafirmar los principios del Sistema Brasileño de Salud (SUS), se instituyó la Política Nacional de Educación Popular en Salud (PNEPS-SUS), con la estrategia de un curso de educación popular en salud para trabajadores del SUS y sus movimientos sociales. El enfoque fue analizar el tema de los aprendizajes con todo el cuerpo, surgido en el proceso formativo de los (las) educadores (as) del curso, relacionado a la producción de autonomía. La formación de formadores han actuado en la lógica de prerrogativas a seguir, pero la educación popular propone el aprendizaje como ejercicio de la autonomía para la responsabilidad política. En este estudio exploratorio con base en el abordaje cualitativo, anclado en el estudio de caso, producimos los datos con entrevistas en profundidad y observación participante. El curso se reveló tejido por aprendizajes con todo el cuerpo que demarcaron innovaciones en la educación en salud, al incluir la corporeidad, la espiritualidad, las historias y vulnerabilidades de de los (as) educadores (as) posibilitando su (trans) formación.

Educación popular en salud; Prácticas pedagógicas; Formación de formadores; Autonomía; Integralidad


The PNEPS-SUS was instituted to reinforce the principles of the Brazilian National Health System (SUS), having as strategy a popular health education course for workers of the SUS and social movements. The objective of this study was to analyze the subject of learning with the whole body that emerged in the formative process of the course' educators related to the production of autonomy. The formation of educators acted following a logic of prerogatives to be followed. Instead, popular education proposes learning as an exercise of autonomy for political responsibility. In this exploratory study, based on the qualitative approach, anchored in the case study, we produced the data with in-depth interviews and participant observation. The course proved to be interwoven by whole-body learning that singled out innovations in health education, by including the corporeity, spirituality, histories and vulnerabilities of the educators, enabling their (trans) formation.

Popular health education; Pedagogical practices; Formation of educators; Autonomy; Integrality


Introdução

A educação popular foi concretizada, no Brasil, com a experiência alfabetizadora de Paulo Freire, que preparava os educandos para a responsabilidade social e política11. Soares LJG, Pedroso APF. Formação de educadores na educação de jovens e adultos (EJA): alinhavando contextos e tecendo possibilidades. Educ Rev. 2016; 32(4):251-68.. Este trabalho articulava-se a movimentos que compuseram a Reforma Sanitária Brasileira, a Saúde Coletiva e o Sistema Único de Saúde (SUS)11. Soares LJG, Pedroso APF. Formação de educadores na educação de jovens e adultos (EJA): alinhavando contextos e tecendo possibilidades. Educ Rev. 2016; 32(4):251-68.,22. Sevalho G. O conceito de vulnerabilidade e a educação em saúde fundamentada em Paulo Freire. Interface (Botucatu). 2018; 22(64):177-88.. A PNEP-SUS instituiu-se para reafirmar os princípios e a participação popular do SUS, tendo como horizonte a potencialização do desejo por transformação e a produção de saúde vinculada à cultura popular33. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.761, de 19 de Novembro de 2013. Institui a Política Nacional de Educação Popular em Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde - PNEP-SUS. Diário oficial da União. 3 Jan 2013; Sec. 1, p. 53.. A principal estratégia dessa política é o Curso Livre de Educação Popular em Saúde (EdPopSUS), cuja condução é realizada por duplas de educadores (as) populares que participam de uma formação-seleção, objeto deste estudo.

É imprescindível a um processo formativo de educação popular a coerência entre teoria e prática, a inclusão dos saberes do (a) educando (a) e o seu protagonismo44. Freire P. Pedagogia da autonomia. 43a ed. São Paulo: Paz e Terra; 2011.. A prática docente é desafiadora, inventiva, criativa e instigante partindo da curiosidade e da incompletude humana, permeando-se pela alegria e pelo esperançar44. Freire P. Pedagogia da autonomia. 43a ed. São Paulo: Paz e Terra; 2011..

A pedagogia moderna, no entanto, perpetuou-se na ideia de que a racionalidade daria forma ao conjunto de forças implicadas na existência55. Ratto CG, Silva SCM. Educar para a “grande saúde”: vida e (trans) formação. Interface (Botucatu). 2011; 15(36):177-84.. Seguindo tais premissas, os processos formativos de formadores coadunam com a visão de treinamentos, submetendo a docência a um conjunto de prerrogativas a serem seguidas66. Furlanetto EC. Formação de formadores: um território a ser explorado. Psicol Educ. 2011; 32:131-40..

As experiências educativas de formadores em saúde têm apontado para dificuldades quanto às práticas pedagógicas, à produção de conhecimento, à autonomia dos educandos, ao trabalho multidisciplinar e ao conhecimento de programas, redes e linhas de cuidado77. Ceccim BR, Meneses LBA, Soares VL, Pereira AJ, Meneses JR, Rocha RCS, et al., organizadores. Formação de formadores para residências em saúde: corpo docente-assistencial em experiência viva. Porto Alegre: Rede Unida; 2018. p. 13-7.. Tais desafios acentuam a necessidade de diálogo e o rompimento da cristalização dos papéis de educadores (as) e educandos (as), que, permanecendo passivos, perdem o direito à autonomia.

Vinculada à ideia de participação política, a autonomia descentraliza o poder do educador como detentor do conhecimento. Na perspectiva freireana, aprende quem se apropria do aprendido e transforma-o em apreendido, reinventando-o e tornando-o aplicável a situações concretas44. Freire P. Pedagogia da autonomia. 43a ed. São Paulo: Paz e Terra; 2011.. A proposição de uma educação libertadora precede o desenvolvimento da capacidade de o indivíduo criar suas próprias representações do mundo, pensar estratégias para resolução de problemas e compreender-se como sujeito histórico. A autonomia propicia, portanto, condições para construir-se uma sociedade democrática44. Freire P. Pedagogia da autonomia. 43a ed. São Paulo: Paz e Terra; 2011..

Nesse contexto, quais as necessidades de um curso preparatório para educadores/as do EdPopSUS? Como esse curso possibilitaria a reconfiguração da educação em saúde, imprimindo a autonomia no encontro com os educandos? Que estratégias seriam necessárias para tal? Assim, objetivou-se analisar o tema das aprendizagens com o corpo todo surgido no processo formativo dos (as) educadores (as) do curso, relacionado à produção de autonomia.

Método

Visto que tal objeto nunca foi investigado, este é um estudo de cunho exploratório, ancorado no estudo de caso com base na abordagem qualitativa. Esta compreende a relação mundo-sujeito de maneira dinâmica e indissociável, não traduzível em números, colocando, como instrumento-chave, o pesquisador e, como fonte dos dados, o ambiente natural88. Prodanov CC, Freitas EC. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2a ed. Novo Hamburgo: Feevale; 2013.. O estudo de caso é uma investigação de acontecimentos contemporâneos dentro do seu contexto constituído por generalizações a proposições teóricas99. Yin RK. Estudo de caso: planejamento e métodos. Grassi D, tradutor. 3a ed. Porto Alegre: Bookman; 2005..

O EdPopSUS acontece em âmbito nacional desde 2013, tendo sido realizadas duas edições, que envolveram, no Ceará, 14 municípios. Na última edição, incluiu, como público, além dos agentes comunitários de saúde (ACS) e dos agentes de combate às endemias (ACE), outros trabalhadores e movimentos sociais. Composto de encontros presenciais e trabalhos de campo, possui 160 horas distribuídas em 17 encontros.

Este estudo se deu nos cenários de prática do processo formativo dos (as) educadores (as) populares da última edição do EdPopSUS ocorrida entre 2017 e 2018 no Ceará. A parte inicial desse processo, objeto deste estudo, integrou a seleção dos (as) educadores (as) que teve carga horária de quarenta horas, realizando-se em dezembro de 2017.

A formação com vistas ao preparo dos (as) educadores (as) para a facilitação foi norteada pelos princípios da educação popular, partindo das experiências dos (as) educadores (as) para pô-las em diálogo com os eixos do curso1010. Dantas VLA, Dantas MA, Pereira TM, Lima RF, Silva MRF, Knerim GS. Círculo de aprendizagens EdPopSUS: a formação dos educadores populares no Ceará. In: Anais do 13o Congresso Internacional Rede Unida; 2018; Manaus. Porto Alegre: Rede Unida; 2018.. A partir de círculo de cultura, feira do soma-sempre, roda de conversa, vídeo-debate e imersão textual, produziram-se sínteses cenopoéticas que serviram de instrumentos pedagógicos1010. Dantas VLA, Dantas MA, Pereira TM, Lima RF, Silva MRF, Knerim GS. Círculo de aprendizagens EdPopSUS: a formação dos educadores populares no Ceará. In: Anais do 13o Congresso Internacional Rede Unida; 2018; Manaus. Porto Alegre: Rede Unida; 2018.. O cuidado foi o condutor do processo, acolhendo os (as) educandos (as) com potencialidades, como Corredor do Cuidado, banho de som e capoeira.

A pesquisa aconteceu entre dezembro de 2017 e janeiro de 2019. A primeira etapa da coleta se deu por meio da observação participante durante a seleção dos (as) educadores (as). Tal observação deu-se por meio da inserção de uma das pesquisadoras como educadora que já havia sido selecionada na chamada anterior. Essa condição possibilitou à pesquisadora distanciar-se da tensão da seleção e contextualizar, posteriormente, as falas do(a)s educadores/as de forma mais apropriada.

A segunda etapa deu-se com entrevistas em profundidade constituídas por nove questões norteadoras sobre a formação dos (as) educadores (as) do EdPopSUS no Ceará. As entrevistas foram realizadas após o término do EdPopSUS, tendo a duração de uma hora em média. 17 entrevistas deram-se de forma presencial, com locais e horários definidos pelos (as) educadores (as), e seis deram-se virtualmente, por meio de Skype preferencialmente ou por ligação do WhatsApp, em último caso. Algumas entrevistas tiveram de ser realizadas mais de uma vez por problemas técnicos como falhas na gravação ou no acesso à internet ou por incompreensão das perguntas. Os educadores frequentemente confundiam a formação pela qual passaram com a que tinham facilitado ou mesmo com edições anteriores do EdPopSUS. Essa fase da coleta realizou-se de junho a novembro de 2018, envolvendo 23 educadores. Destes, cinco já eram selecionados da turma anterior. 17 eram do sexo masculino e cinco, do feminino. Dez já haviam participado do EdPopSUS e 13 já atuavam em movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e o Movimento Popular Escambo Livre de Rua.

Tendo finalizado a transcrição de todas as entrevistas, optamos pela análise temática, visto que esta consiste em descobrir os núcleos de sentido de uma comunicação, considerando-a em sua diversidade e interpretando-a de forma contextualizada1111. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 9a ed. São Paulo: Hucitec; 2006.. A pré-análise é a primeira etapa, na qual escolhemos os documentos, retomando as hipóteses e objetivos, para a constituição do corpus que deve responder às normas de exaustividade, representatividade, homogeneidade, objetividade e pertinência1212. Cavalcante RB, Calixto P, Pinheiro MMK. Análise de conteúdo: considerações gerais, relações com a pergunta de pesquisa, possibilidades e limitações do método. Inf Soc. 2014; 24(1):13-8.. Para reformulamos premissas, definirmos as unidades de registro e de contexto, os recortes, a forma de categorização, a modalidade de codificação e os conceitos teóricos de orientação1111. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 9a ed. São Paulo: Hucitec; 2006., fomos auxiliados pelo software Iramuteq (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires), versão 0.7 Alpha 2. Essa opção se deu pela agilidade na codificação, organização e separação das informações, localizando rapidamente todo o segmento de texto, além de sua liberdade de uso1313. Souza MAR, Wall ML, Thuler ACMC, Lowen IMV, Peres AM. O uso do software IRAMUTEQ na análise de dados em pesquisas qualitativas. Rev Esc Enferm USP. 2018; 52:e03353..

Nosso corpus textual foi construído a partir das 23 entrevistas transcritas que constituiu uma Unidade de Contexto Inicial (UCI). Optamos pela Classificação Hierárquica Descendente (CHD) do Iramuteq, que constitui-se em função dos respectivos vocabulários cuja variação se dá de acordo com a transcrição e o tamanho do conjunto do corpus a ser analisado1313. Souza MAR, Wall ML, Thuler ACMC, Lowen IMV, Peres AM. O uso do software IRAMUTEQ na análise de dados em pesquisas qualitativas. Rev Esc Enferm USP. 2018; 52:e03353.. A CHD dividiu, então, o corpus em quatro classes, sendo que a classe “Aprendizagens com o corpo todo” é objeto deste artigo.

Na segunda etapa – exploração do material –, realizamos a categorização dos dados. Para definição das regras de contagem, retomamos o corpus textual, colorindo as palavras mais importantes de acordo com as classes geradas. Buscamos expressões significativas em função das quais o conteúdo das falas foi organizado, realocando-as, visualizando-as e analisando seu contexto original com falas similares. Assim, a classificação e a agregação dos dados fortaleceram as categorias teóricas, engravidando-as com os sentidos e fazendo emergir as categorias empíricas, gerando temas e subtemas.

No Tratamento dos Resultados Obtidos e Interpretação, inter-relacionamos as informações obtidas com o quadro teórico inicial, redimensionando-as de acordo com a leitura do material1111. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 9a ed. São Paulo: Hucitec; 2006.. Concluímos que a CHD se relacionava a quatro temas: o chão(-universo) da educação popular em saúde, as aprendizagens com o corpo todo, as várias etapas do processo formativo dos educadores (formação inicial, de continuidade e com os educandos) e a condução em dupla. Podemos verificar tal configuração na seguinte imagem:

Figura 1
Temas emergidos no estudo

Este estudo pretende analisar o tema das aprendizagens com o corpo todo surgido no processo formativo dos educadores do curso, relacionado à produção de autonomia. Trata-se de parte integrante de uma pesquisa de mestrado, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará, com o parecer de número 2.670.023.

Resultados e discussão

O campo de pesquisa deu-se a partir da experimentação do processo enquanto educadores já selecionados anteriormente. Não estar participando da seleção pode ter colaborado para um distanciamento do objeto. Ao término do EdPopSUS, realizamos com os educadores entrevistas individuais que abordaram experiências anteriores com a educação popular, potencialidades, situações-limites e atos-limites vivenciados na formação-seleção. Assim, pudemos perceber o que, desse momento, corporificou-se, em suas memórias e subjetividades, como aprendizagens. Nesse contexto, observamos palavras e expressões como riso, silêncio e choro.

“Aprendizagens com o corpo todo” foi a categoria mais explícita em relação à interação entre as palavras que trazia. Inicialmente, associamos a ela um conjunto de metodologias que, no fim da análise, após a realocação, contextualização e interpretação das falas, revelou-se enquanto diversidade de acontecimentos que marcaram corporal e afetivamente os educadores durante a formação. Interpretadas como costuras, teceram, com vivências intensas, a conexão entre as experiências e ideários trazidos pelos educadores com os eixos temáticos do curso.

As aprendizagens com o corpo todo

A palavra mais enfatizada na classe que deu origem a esta categoria foi “cuidado”, evidenciando a eficácia do curso em preparar os educadores para a condução de um processo formativo com trabalhadores da saúde. Já a palavra “corredor”, segunda mais importante, imprime a singularidade do modo de cuidar cearense, visto que esta é uma tecnologia surgida nos movimentos sociais deste território.

O corredor cenopoético do cuidado

O Corredor do Cuidado foi forjado a partir dos cursos de massoterapia das CEBs cearenses quando seus facilitadores propuseram, como acolhida, um corredor humano, inspirado no túnel da quadrilha junina, que propiciava carinho, amorosidade, respeito e confiança entre companheiros de luta1414. Dantas VLA, Florêncio AE. Cuidar do outro é cuidar de mim, cuidar de mim é cuidar do mundo; o Corredor do Cuidado [Internet]. Blog Rede Humaniza SUS; 2015 [citado 29 Mar 2018]. Disponível em: http://redehumanizasus.net/92756-cuidar-do-outro-e-cuidar-de-mim-cuidar-de-mim-e-cuidar-do-mundo-o-corredor-do-cuidado/
http://redehumanizasus.net/92756-cuidar-...
.

Quando a gente foi estudar práticas integrativas, dentro das CEB, no Corredor do Cuidado, as pessoas se permitiam a cuidar de si, do outro, percebia a potência de cada um. Cada um dá um toque terapêutico no outro, muitos choravam, porque é uma área de muita violência com as mulheres. A gente percebeu a potência [...] mesmo pessoas que tinham sofrido violência aceitavam o toque. (E22)

O corredor é formado por duas fileiras de pessoas e um grupo de cuidadores que, a partir das singularidades de suas potências, orientam e preparam os participantes para adentrarem o percurso. No fim, cada um é acolhido pelo último da fila, em um movimento contínuo de cuidar e ser cuidado. As mãos assumem o papel de acarinhar o corpo do outro como quem prepara a terra para receber a planta que nasce do namoro entre arte e cuidado1515. Cruz NN. Cartas para desver o conceito de resto: a cenopoesia no Hotel da Loucura [dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2018..

Trouxe, para o trabalho, coisas fortes no campo relacional, foi desarmando arestas, medos, angústias. Primeiro passo desse cenário foi um corredor de afetividade. O abraço fala mais que mil palavras, o carinho vem carregado de significados, expressões, energias positivas e a gente começava a sentir isso do outro. (E2)

A dimensão ritualística e artística, no corredor, ganhou força quando se uniu, nas Cirandas da Vida e na Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde (ANEPS), à cenopoesia. Esta configura-se como articulação de linguagens dialógicas, transitivas, expressivas e transformadoras dos praticantes e de seus mundos por meio da força amorosa do encontro promovido por meio das artes1616. Lima RF. Carta à Josevânia Dantas II [Internet]. Blog Cenopoesia do Brasil; 2014 [citado 22 Dez 2018]. Disponível em: http://wwwcenopoesiadobrasil.blogspot.com/2014/06/carta-josevania-dantas-ii.html
http://wwwcenopoesiadobrasil.blogspot.co...
. O encontro entre cenopoesia e corredor ampliou a prática de cuidado para um ritual provocativo sobre o homem, seu corpo e seu estar no mundo, originando o corredor cenopoético de cuidado1616. Lima RF. Carta à Josevânia Dantas II [Internet]. Blog Cenopoesia do Brasil; 2014 [citado 22 Dez 2018]. Disponível em: http://wwwcenopoesiadobrasil.blogspot.com/2014/06/carta-josevania-dantas-ii.html
http://wwwcenopoesiadobrasil.blogspot.co...
.

[...] foi forte, desarmou, fico emocionada. Um espaço em que as pessoas se armam a partir do amor e do cuidado, quem ama cuida. (E14)

A espiritualidade é um âmbito negligenciado nos espaços de educação e saúde. Talvez, por envolver dimensões não restritas ao corpóreo e aparente, constitui aspectos menos manipuláveis pela racionalidade1717. Mbembe A. Crítica da razão negra. Lança M, Tradutor. Lisboa: Antígona; 2014. e perpassa energias, sutilezas potentes para o enlaçamento das diferenças e a diluição dos preconceitos. O aspecto místico da experiência compôs-se pelo toque, pelo acolhimento e pela arte.

É uma troca espiritual energética em que as pessoas reconhecem tua diferença. Perguntei-me qual valor eu tinha para ser acolhido como fui, abraço, beijo, afago, palavra, misteriosamente se encaixam na necessidade que você tinha de ouvir, de ver ou ser percebido, tocado ou de tocar. (E13)

Ao perguntar-se sobre o próprio valor ao ser acolhido no corredor, o educador estaria expressando uma relação de negligenciamento com o cuidado convencional? Quem o merece ou não? O corredor, ao incluir a espiritualidade, possibilitou o rompimento das amarras sociais que estariam ditando tal merecimento. O saber biomédico é dominante nas práticas de saúde e, mesmo reconhecendo seu valor, podemos notar sua forte articulação com a privatização da medicina1818. Linhares AB. Linguagens e tecnologias. Salto para o Futuro. 2009; 19(17):38-50. e com a marginalização dos saberes populares pela cultura dominante. Se, em lugares periféricos, pulsam expressões de resistência à colonização1818. Linhares AB. Linguagens e tecnologias. Salto para o Futuro. 2009; 19(17):38-50., como as práticas populares de cuidado, sua potencialização fortaleceria a constitucionalidade da saúde como direito?

O entrelaçamento das práticas adequou-se misticamente à necessidade dos participantes. Práticas tradicionais culturais e de cuidado, como massoterapia, plantas medicinais, Reiki, música, poesia e Toré contribuíram para que os participantes se entregassem ao cuidado com confiança. De olhos fechados, ouvindo expressões de afeto e recebendo o toque, dinamicamente, o cuidado fez-se princípio organizativo e responsabilidade coletiva, corporificando o mantra “cuidar do outro é cuidar de mim, cuidar de mim é cuidar do mundo”1919. Lima RF. Breves palavras: cenopoesia, vivências, intervenções e leituras cenopoéticas. In: Brasil. Ministério da Saúde. De sonhação a vida é feita, com crença e luta o ser se faz: roteiros para refletir brincando: outras razões possíveis na produção de conhecimento e saúde sob a ótica da educação popular. Brasília: Ministério da Saúde; 2013. p. 29-40..

Mexeu com a minha intimidade, da alma, fui motivada, instigada a me olhar e, quando eu passei, meu colega fez aquela massagem, aquela respiração, aqueles movimentos [te deixam] em sintonia com você mesmo e com as energias cósmicas que estão girando a seu favor. Promoveu vários sentimentos, reflexões, quem sou eu, como posso estar mudando, me inovou. (E7)

O cuidado apresentou-se como princípio em relação ativa com outras dimensões, reafirmando a ideia de sujeito biopsicossocial e espiritual1818. Linhares AB. Linguagens e tecnologias. Salto para o Futuro. 2009; 19(17):38-50.. A multidimensionalidade humana é explicitada pelo caráter provocativo do corredor cenopoético que ativou a dimensão política, na educadora, ao refletir sobre seu estar no mundo e como melhorá-lo. Unido ao caráter corpóreo, possibilitou a percepção de energias cósmicas como potências de vida, em uma sinergia entre os âmbitos político, corpóreo e espiritual humanos.

[...] começou a cantar uma música. Emocionada, associei a Oxum, no momento que eu tava entrando, pensando nessa força, nessa fortaleza, nessa água. (E12)

O corredor despertou a simbologia de mitos afro-brasileiros. Oxum é o orixá da fecundidade, das águas doces. A água, símbolo importante dos processos pedagógicos, traduz a transformação em sua não resistência, assumindo infinitas formas, sem se cristalizar2020. Rocha SPV. Tornar-se quem se é: educação como formação, educação como transformação [Internet]. In: Anais eletrônicos do 3o Congreso Latinoamericano de Filosofía de la Educación; 2015; Cidade do México, México. Cidade do México: Universidad Nacional Autónoma de México; 2015 [citado 22 Dez 2018]. Disponível em: http://filosofiaeducacion.org/actas/index.php/act/issue/view/4/showToc
http://filosofiaeducacion.org/actas/inde...
. Evidencia-se a ampliação do conceito hegemônico de formação, com a espiritualidade como elemento posto em uma relação dialógica junto a outras dimensões. Estaríamos dialogando com uma concepção imanente de educação, ou seja, de (trans)formação dos sujeitos a partir do que são e vivem em ato ao incluir outras perspectivas que não estritamente racionais?

Eu sou isso, vivi isso a vida inteira. Me toca forte ser abraçado, te desarma do que te prendia, desse sistema branco, eurocêntrico, que dita os aprendizados. Eu te acolho, te recebo e tuas histórias serão cuidadas. Perpassou essa intensidade de despertar para quem sou eu, minhas origens, minhas práticas. (E20)

O eurocentrismo consiste na validação exclusiva da racionalidade europeia no mundo capitalista e atua profundamente na intersubjetividade, definindo-se como colonialidade epistêmica2121. Quijano A. Colonialidade do poder e classificação social. In: Santos BS, Meneses MP, organizadores. Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez; 2010. p. 84-131.. A negação dos saberes periféricos resulta em uma relação excludente que nos desnorteia de uma produção autônoma e desejante. O branco e o negro configuram-se em uma fantasia imagética na qual o negro traduz, no mundo capitalista, tudo do qual me aparto e o branco, o que devo almejar1717. Mbembe A. Crítica da razão negra. Lança M, Tradutor. Lisboa: Antígona; 2014..

O sucesso da fantasia do branco reside em ter se tornado a marca do modo de ser ocidental, predador, brutal e cruel, possuindo uma capacidade inigualável em submeter povos estrangeiros1717. Mbembe A. Crítica da razão negra. Lança M, Tradutor. Lisboa: Antígona; 2014.. No neoliberalismo, os sujeitos, impedidos de serem explorados pelo capital, pensam-se como um produto do acaso, regulando-se por normas do mercado e instrumentalizando a si e a outros na assunção de sua descartabilidade para responder à ordem de tornarem-se outro1717. Mbembe A. Crítica da razão negra. Lança M, Tradutor. Lisboa: Antígona; 2014..

A dimensão corporal e os saberes-de-experiência-feito, geralmente, excluídos dos serviços educacionais e de saúde hegemônicos, tomaram forma no abraço e no respeito às histórias de vida, o que possibilitou rupturas ao eurocentrismo. Estaria abrindo-se a uma reconexão com nossas ancestralidades e, ao permitir que o educador possa tornar-se quem se é, possibilitando sua autonomia?

A Feira do Soma-Sempre: “produzir conhecimento no caos”

Proposta pedagógica criada por Ray Lima, na Feira do Soma-Sempre, a vida é considerada um sistema livre, em rede-roda aberta na qual ninguém prospera sozinho2222. Lima RF. Feira do soma sempre e a produção do comum [Internet]. Blog Rede Humaniza SUS; 2009 [citado 10 Fev 2018]. Disponível em: http://redehumanizasus.net/7391-feira-do-soma-sempre-e-a-producao-do-comum/
http://redehumanizasus.net/7391-feira-do...
. Os feirantes exercitam seus saberes, visando à interação, fazendo-se necessária a disposição à transformação, aprofundamento e expansão de nossa humanidade2222. Lima RF. Feira do soma sempre e a produção do comum [Internet]. Blog Rede Humaniza SUS; 2009 [citado 10 Fev 2018]. Disponível em: http://redehumanizasus.net/7391-feira-do-soma-sempre-e-a-producao-do-comum/
http://redehumanizasus.net/7391-feira-do...
.

[...] tinha conhecimento das outras pessoas, [cada um] trazia a sua vivência [...] as pessoas se permitiram [...] a dedicação de cada um, a forma como se preparou, organizou o seu espaço, como se dissesse: o que eu tenho de melhor, vou dar. (E22)

A partir de uma discussão inicial em grupos, norteados por um tema-gerador, produzem-se as barracas. Os membros alternam-se de modo que todas sejam visitadas e apresentadas por e para todos os grupos, a fim de conhecerem seus produtos e formas de organização. Nesse processo, problematizam questões a serem incluídas ou não como aprendizados, apresentando, no fim, uma síntese.

Uma feira livre, circulando, oferecendo seu produto e comprando o conhecimento. Há uma troca, as pessoas participam, se envolvem. Dentro da feira, tem poesia, cordel [...]. (E21)

A Feira configura-se em uma ação voluntária que parte do individual para o coletivo, rearranjando as interações, sem fronteiras na mentalidade. Imprimindo uma cultura que “soma sempre, despreocupa-se de controles ou compartimentalizações de poderes, pondo o que é produzido em relação por meio da ideação criativa do mundo2222. Lima RF. Feira do soma sempre e a produção do comum [Internet]. Blog Rede Humaniza SUS; 2009 [citado 10 Fev 2018]. Disponível em: http://redehumanizasus.net/7391-feira-do-soma-sempre-e-a-producao-do-comum/
http://redehumanizasus.net/7391-feira-do...
.

Produzir conhecimento no caos em que as pessoas tão dizendo várias coisas, seduzindo; há uma certa competição, uma noção de mercado onde as pessoas não perdem nada, sempre somam [...]. (E13)

Diferente da compartimentalização das prateleiras dos supermercados, as feiras populares são caóticas, intensas e diversas. Situações caóticas podem conduzir os sistemas a estratégias de auto-organização, trabalhando a resiliência. A feira conduz à criação de espaços de escuta, expressão, cuidado, qualificando as práticas humanas na produção do comum, reconfigurando-se continuamente na superação do instituído2222. Lima RF. Feira do soma sempre e a produção do comum [Internet]. Blog Rede Humaniza SUS; 2009 [citado 10 Fev 2018]. Disponível em: http://redehumanizasus.net/7391-feira-do-soma-sempre-e-a-producao-do-comum/
http://redehumanizasus.net/7391-feira-do...
.

Tinha algo pra repassar e pra absorver, que levar, mas precisava deixar [...] nos instigava a trabalhar a partilha. [Eram] produtos não perecíveis, atrativos, novos, antiquíssimos, da nossa ancestralidade, mas que o outro não tinha tido o prazer de conhecer [...]. (E2)

O dinamismo de nossos saberes ancestrais baseia-se em uma relação respeitosa e afetuosa. Quem busca a aprendizagem põe-se ativo, por meio da convivência. O ato de educar ocorre, portanto, a todo instante e reciprocamente, reconhecendo a vida individual como relação, fundamentada na amorosidade e no cuidado2323. Machado AF. Ancestralidade e encantamento como inspirações formativas: filosofia africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira [dissertação]. Salvador, BA: Universidade Federal da Bahia; 2014.. A feira apresenta-se como um sistema alicerçado na ancestralidade e na convivência, imprevisivelmente criativo2222. Lima RF. Feira do soma sempre e a produção do comum [Internet]. Blog Rede Humaniza SUS; 2009 [citado 10 Fev 2018]. Disponível em: http://redehumanizasus.net/7391-feira-do-soma-sempre-e-a-producao-do-comum/
http://redehumanizasus.net/7391-feira-do...
, constituindo-se um exercício do modo de vida dos feirantes.

Extravasamentos do aprender

Linhas de diversos matizes costuraram os princípios organizativos do curso. Arte, cenopoesia, capoeira e círculos de cultura propiciaram o diálogo com os saberes dos educadores e o seu protagonismo por meio do lúdico. A arte, mais que uma especialidade, inclui os rituais de relação entre saberes ancestrais e novos e tudo o que, na espontaneidade da infância, fez-nos ter gosto por viver2424. Lima RF. Texto complementar. Salto para o Futuro. 2009; 19(17):51-5..

[...] aquilo que já estava no nosso discurso, nas nossas práticas como confecções de materiais artísticos, a condução de poesias, as canções, as cirandas, que a gente fazia no nosso sertão de brincar de ciranda, nós éramos inspirados a colocar para fora. (E14)

Como linha pulsante que teceu costuras entre a diversidade de momentos, saberes e densidades, a arte gerou leveza e potência criativa, lembrando-nos que a prática educativa esperançosa precisa ser alegre44. Freire P. Pedagogia da autonomia. 43a ed. São Paulo: Paz e Terra; 2011.. Cumpre, assim, seu papel problematizador ao despertar reflexões sobre as relações humanas e caminhos de superação2424. Lima RF. Texto complementar. Salto para o Futuro. 2009; 19(17):51-5..

[...] por ser uma política nacional, [PNEPS] Ceará ser uma referência [...] tem densidade, mas tem leveza, permeia as costuras, tintas das cores, da dança, a gente viveu a poesia muito forte, a música. Me deixou instigado pra criar. (E5)

O estímulo das vivências artísticas permite que as pessoas possam perceberem-se e sentirem-se a partir de outras formas e lugares, ampliando a experiência de si1818. Linhares AB. Linguagens e tecnologias. Salto para o Futuro. 2009; 19(17):38-50.. A cenopoesia é articulação de linguagens artísticas e culturais que possibilita a problematização da realidade1919. Lima RF. Breves palavras: cenopoesia, vivências, intervenções e leituras cenopoéticas. In: Brasil. Ministério da Saúde. De sonhação a vida é feita, com crença e luta o ser se faz: roteiros para refletir brincando: outras razões possíveis na produção de conhecimento e saúde sob a ótica da educação popular. Brasília: Ministério da Saúde; 2013. p. 29-40.. Trabalha atentamente o contexto vivenciado em diálogo permanente com o outro, para expressar o que se deseja a partir das experiências que nos constituem e influenciam nosso ser1919. Lima RF. Breves palavras: cenopoesia, vivências, intervenções e leituras cenopoéticas. In: Brasil. Ministério da Saúde. De sonhação a vida é feita, com crença e luta o ser se faz: roteiros para refletir brincando: outras razões possíveis na produção de conhecimento e saúde sob a ótica da educação popular. Brasília: Ministério da Saúde; 2013. p. 29-40..

[Na] cenopoesia [a gente] se expressou do nosso jeito, falando a poesia e cantando a música, dançando, tocando os instrumentos. (E19)

Os sujeitos são transportadores de repertórios e, em contato entre si, produzem aprendizagens, reconfigurando, a cada encontro com o outro, suas ideias de mundo2525. Lima RF. Carta à Josevânia Dantas III [Internet]. Blog Cenopoesia do Brasil; 2014 [citado 22 Dez 2018]. Disponível em: http://wwwcenopoesiadobrasil.blogspot.com/2014/09/carta-josy-dantas-iii.html
http://wwwcenopoesiadobrasil.blogspot.co...
. Assim, a cenopoesia pode ter contribuído para que o curso incluísse a potência da informalidade na produção de aprendizagens, permitindo uma atitude transdisciplinar, em uma proposta formativa ético-estético-política55. Ratto CG, Silva SCM. Educar para a “grande saúde”: vida e (trans) formação. Interface (Botucatu). 2011; 15(36):177-84..

A acolhida [feita pelos] educadores [com] a música, a capoeira Angola. [Foi possível] cantar, se envolvendo, fazendo gestos que a gente nem imaginava que o corpo era capaz. (E19)

A capoeira é uma manifestação cultural que abrange uma multiplicidade de perspectivas, como jogo, dança, brincadeira e luta. A musicalidade e a corporeidade da capoeira Angola potencializaram a conscientização corporal. Que espaço tem o corpo nas formações em saúde? Sob que contextos um corpo pode superar os ditames da razão? Que saberes prendem ou despotencializam o corpo-educador?

[...] várias possibilidades de círculo de cultura, [...] como o que sensibilizava a gente ao tema eram fotos, imagens, as possibilidades que a gente tem de trabalhar [...] conteúdos pesados e longos de forma simples, rápida e que a gente se sente dentro do [que é] proposto. (E10)

Amplamente aplicados em ações de educação em saúde, os círculos de cultura incluem-se no EdPopSUS como parte do conteúdo e como atividade de campo dos educandos. Entre o conjunto de princípios que o configura, incluem-se o diálogo, o amor, a humildade, a esperança, a fé e a confiança, no intuito de problematizar a realidade dos educandos2626. Freire P. Pedagogia do oprimido. 50a ed. São Paulo: Paz e Terra; 2011..

[...] o círculo de cultura demorou uma eternidade para que eu pudesse entender. Se consolidou a partir do segundo EdPopSUS, mas foi nesse encontro que senti firmeza de levar pra comunidade depois das rodadas de conversa. (E18)

O círculo de cultura constitui-se exercício de diálogo entre as diversas visões de mundo ali presentes para que os educadores conheçam as condições estruturais em que o pensar e a linguagem dos educandos se constituem2626. Freire P. Pedagogia do oprimido. 50a ed. São Paulo: Paz e Terra; 2011.. Realiza-se a investigação dos temas geradores, com o apontamento das situações-limites, incidindo sobre estas os atos-limites, a concretização dos inéditos-viáveis2626. Freire P. Pedagogia do oprimido. 50a ed. São Paulo: Paz e Terra; 2011.. O fato de os educadores terem trazido apenas a capacidade de síntese criativa do mesmo pode ser um exemplo da complexidade em compreendê-lo, sugerindo um maior aprofundamento deste tema nas próximas formações.

[...] uma roda de chegada e de finalização [...] a gente, sempre muito próximo, se abraçava, se tocava, corpo, pele, calor, me senti à vontade pra falar do quanto me sentia cuidado. O acolhimento, a mandala, os objetos, significados que a roda traz [...] cuida, pede licença pra chegar e pra sair e vai construindo um fio condutor que deixa o trabalho leve, com respeito. (E5)

As rodas são práticas ancestrais, presentes nas culturas africanas e indígenas, configurando-se em um símbolo fortalecedor de nossa história e do espaço democrático. Nela, a comunicação é possível porque as pessoas e suas intenções se encontram e se reencontram em um mundo comum. O cuidado como princípio organizativo do curso teve, na realização das rodas, um momento ritualístico. Corpo e saberes foram acolhidos e o vivido, celebrado.

Não queria ir, não tava bem, mas, quando ia, me sentia acolhido. Lembro eu abraçando o Ray e a energia, um furacão que explodiu. Talvez não tenha a ver com educação que a gente tá acostumado, mas tem a ver com formação, da vivência que eu tive. Eu falava: outros princípios da educação popular, eu concordo, mas... amorosidade não é minha praia [...] quando nos colocamos num processo pra viver, somos afetados em nosso ser integral, [Quando todos estavam] se emocionando e agradecendo, [entendemos]: não importa quem vai ser educador, quem não vai. (E9)

A acolhida reverberou nos corpos dos educadores como uma potência, uma paixão alegre mobilizadora do processo. A vivência do princípio da amorosidade desconstruiu preconceitos, unindo prática e discurso e ativando o desejo de aprendizagem dos educadores. O sentido do acolher se expandiu, ganhando corpo na roda e diluindo a competitividade da seleção.

Olhavam o ser humano, integral. Corredores de Cuidado com musicalidade, poema, toque extravasam como tradicionalmente aprendemos o que é aprender. É uma implosão [...] não nos víamos na aula dançando, cantando, dizendo poesia, se movendo, se abraçando, olhando para a espiritualidade como algo que te constrói, a arte atrelada ao processo de conhecimento. (E13)

O curso possibilitou uma ruptura com a compreensão cartesiana de cisão entre corpo e alma, que fundamenta o envolvimento exclusivo da racionalidade na educação hegemônica. Tal perspectiva nega um lugar ao corpo nessa construção em nome da objetividade matemática, excluindo uma diversidade de formas de aprender.

[...] era a fala verbal, mas era a música, dança, a prática corporal. Uma formação toda permeada por esse universo de aprender com o corpo todo, acolher o grupo, fazer uma mística, um reencontro da arte [...] a gente não aprende só num lugar encaixotado. Tudo no nosso corpo é aprendizado [...] era o tempo todo troca. (E12)

Ao assumir a integralidade do ser humano, ampliam-se as possibilidades, os aprendizados e suas reverberações. A partir da arte, do afeto, da espiritualidade e da inclusão do corpo, ocorreu uma implosão ao lugar encaixotado da educação, dando ensejo ao questionamento sobre a necessária correlatividade e complementaridade entre arte, conhecimento e interação entre os sujeitos.

[...] lençóis no chão, todo mundo deitado, fazendo a respiração, olhos fechados, instrumentos, essências, fala mansa, relaxante... fui buscar o porquê de a gente estar relaxando antes de se fazer uma atividade, comecei a ver nos módulos do curso, nas leituras, encontrei as respostas. Além de acalmar, prestar mais atenção, traz que a saúde não só é ausência de doença, mas conhecer o próprio corpo, estar bem fisicamente e mentalmente. (E16)

O olhar sobre a saúde como ausência de doença parte da regularidade anatomofuncional cujas bases epistemológicas são positivistas. Apoiando-se na perspectiva social e científica marxista, surgiu, na América Latina, o conceito de determinação social da saúde, que ressalta a compatibilidade entre a luta contra as doenças, a exploração da força de trabalho e a incessante busca de lucros, construindo atalhos às diretrizes do SUS2727. Rocha PR, Davi HMSL. Determinação ou determinantes? Uma discussão com base na teoria da produção social da saúde. Rev Esc Enferm USP. 2015; 49(1):129-35..

A educadora exprimiu o quanto formas diferenciadas de aprender são estranhas às formações em saúde. Tanto que recorreu à leitura, buscando, na racionalidade, um aprendizado que, talvez, seu corpo já tivesse percebido. Sua fala inclui uma temática filosófica importante para o debate da determinação social da saúde, a percepção do próprio corpo.

[...] aprendizado do cuidado sentido no próprio corpo. Além de estratégias, metodologias, técnicas, eu senti no meu corpo, como uma potência de cuidado, escuta e cura [...]. (E5)

A ênfase dada à unicidade entre mente e corpo apontam a pertinência de ampliar este diálogo, incluindo a dimensão do corpo singular, imanente nas formações em saúde. Como expressão da sensibilidade, essa dimensão pode contribuir na ampliação da integralidade do SUS e propiciar o rompimento com as práticas autoritárias de educação em saúde.

[...] “escuta, acolhe” [canta a música]. Momento de fragilidade pra mim, desesperança com o SUS. Minha mãe faleceu, não conseguiu uma vaga [...] num lugar de cuidado com o outro. Eu vou cuidando de si e vou aprendendo. (E12)

A integralidade do acolhimento no curso pode ter sido a razão para que não só as potências dos educadores fossem incluídas, mas também as vulnerabilidades, compreendidas como a disponibilidade da própria vida para ser afetada ou interferida55. Ratto CG, Silva SCM. Educar para a “grande saúde”: vida e (trans) formação. Interface (Botucatu). 2011; 15(36):177-84.. O curso, como experiência vivida no corpo, permeou uma interação entre aprender e curar-se.

É um momento em que a gente, estando aberto, tem como abordar a partir das próprias perspectivas, do autoconhecimento. É fundamental permitir a escuta com o outro, mas as pessoas escutam mais a si próprias, param um pouquinho para pensar em si, como é que eu tô nesse momento? O que é que eu tô fazendo aqui? Como eu estou? [...] trabalhar o coletivo, dando espaço para o individual. (E10)

Na perspectiva emancipatória, é fundamental, ao educador, a autopercepção, pois a educação, como processo permanente, surge do inacabamento humano44. Freire P. Pedagogia da autonomia. 43a ed. São Paulo: Paz e Terra; 2011.. A pedagogia, tendo a capacidade de reconhecer sua própria vulnerabilidade, abre-se ao encontro do inesperado, ao que está fora de seu controle, que faz vibrar, no ineditismo de cada novo apaixonamento, sua potencialidade55. Ratto CG, Silva SCM. Educar para a “grande saúde”: vida e (trans) formação. Interface (Botucatu). 2011; 15(36):177-84..

[...] receber o toque de pessoas que eu não via há muito me afetou. Eu tava vivenciando um processo de distância. [...] meu pai doente [...] [um] momento de recobrar a lucidez, a vida, me recolher, me reencontrar, voltei pra casa. (E3)

O cuidado, tomado como princípio organizativo, pode estar provocando paixões alegres, afetos que favorecem a potência do corpo, de agir e pensar, por despertar a força interna de perseverança na existência2828. Spinoza B. Ética. Tadeu T, tradutor. São Paulo: Autêntica; 2009.. O encontro entre vulnerabilidades e acolhimento, no curso, possibilitou o fortalecimento de subjetividades, dialogando com uma concepção de saúde afirmativa da potência de vida mesmo quando enfraquecida, na qual saúde e doença interconectam-se e desenvolvem nossas virtudes2929. Nietzsche F. A gaia ciência. Souza PC, tradutor. São Paulo: Cia. das Letras; 2001..

[...] ferramentas metodológicas, cirandas, cenopoesia, música, cordéis, pinturas. [...] uma ciranda, o zabumba, o tambor são ferramentas de cuidado. [...] pra suas dores de cabeça, quarenta minutos, por dia, de poesia. Estratégias de ser produtores de nosso próprio cuidado, de a visão biomédica ser superada. (E2)

A formação encontrou, na arte, um caminho de reverberar-se no território. A ampliação de práticas educativas em saúde pautadas sob a lógica biomédica cumpre-se com práticas educativas de valor simbólico e cultural para a população3030. Oliveira ES, Oliveira CR, Oliveira RC, Souza FS, Xavier IS. Política nacional de promoção da saúde e a prática de enfermagem: revisão integrativa. Rev Enferm UFPE [Internet]. 2014; 8(3):735-41 [citado 5 Jun 2018]. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/9732/9828
https://periodicos.ufpe.br/revistas/revi...
, incluindo-se práticas ancestrais de cuidado e organização comunitária, adormecidas pela globalização neoliberal. Assim, a formação dos educadores concretizou os objetivos da PNEP-SUS no que se refere a processos educativos alicerçados na valorização da cultura popular, contribuindo para o protagonismo dos usuários no cuidado em saúde33. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.761, de 19 de Novembro de 2013. Institui a Política Nacional de Educação Popular em Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde - PNEP-SUS. Diário oficial da União. 3 Jan 2013; Sec. 1, p. 53..

Considerações finais

A costura entre saberes-de-experiência-feitos, princípios da educação popular e objetivos da formação foi delineada por acontecimentos intensamente marcados pelo cuidado. Este, colocado como princípio organizativo do curso, trouxe, na vivência do Corredor do Cuidado, a singularidade dos movimentos que compõem o território do curso.

A arte revelou-se cartilagem capaz de costurar momentos, saberes e densidades, propiciando leveza e criatividade. A cenopoesia possibilitou uma formação ético-estético-política ao incluir a potência da informalidade e a transdisciplinaridade, por meio dos repertórios humanos e da relação com o outro e com o seu contexto.

Acolhendo os educadores (as) em sua integralidade por meio da arte, do afeto, da espiritualidade e do corpo, o curso ampliou o significado hegemônico de aprender. O acolhimento possibilitou trabalhar as vulnerabilidades dos educadores (as), em uma interação entre aprender e curar-se, despertando paixões alegres e pondo em diálogo doença e saúde como potências de vida para o fortalecimento de suas subjetividades. A afirmação da singularidade e imanência do corpo como potência criativa e expressão da sensibilidade revelaram contribuições ao debate da determinação social da saúde, às formações e à integralidade do SUS.

O ensejo dos educadores apenas na capacidade de síntese criativa dos círculos de cultura demonstrou a complexidade que envolve seu entendimento e a importância de aprofundamento do tema. Concluímos que a proposta pedagógica do curso dialoga com uma concepção imanente de educação, partindo da formação para a (trans) formação dos sujeitos a partir do que são e do que vivem.

Agradecimentos

Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pelo financiamento da pesquisa por meio de bolsa de estudos, e às contribuições de Vera Dantas e Ray Lima para esta produção.

Referências

  • 1
    Soares LJG, Pedroso APF. Formação de educadores na educação de jovens e adultos (EJA): alinhavando contextos e tecendo possibilidades. Educ Rev. 2016; 32(4):251-68.
  • 2
    Sevalho G. O conceito de vulnerabilidade e a educação em saúde fundamentada em Paulo Freire. Interface (Botucatu). 2018; 22(64):177-88.
  • 3
    Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.761, de 19 de Novembro de 2013. Institui a Política Nacional de Educação Popular em Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde - PNEP-SUS. Diário oficial da União. 3 Jan 2013; Sec. 1, p. 53.
  • 4
    Freire P. Pedagogia da autonomia. 43a ed. São Paulo: Paz e Terra; 2011.
  • 5
    Ratto CG, Silva SCM. Educar para a “grande saúde”: vida e (trans) formação. Interface (Botucatu). 2011; 15(36):177-84.
  • 6
    Furlanetto EC. Formação de formadores: um território a ser explorado. Psicol Educ. 2011; 32:131-40.
  • 7
    Ceccim BR, Meneses LBA, Soares VL, Pereira AJ, Meneses JR, Rocha RCS, et al., organizadores. Formação de formadores para residências em saúde: corpo docente-assistencial em experiência viva. Porto Alegre: Rede Unida; 2018. p. 13-7.
  • 8
    Prodanov CC, Freitas EC. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2a ed. Novo Hamburgo: Feevale; 2013.
  • 9
    Yin RK. Estudo de caso: planejamento e métodos. Grassi D, tradutor. 3a ed. Porto Alegre: Bookman; 2005.
  • 10
    Dantas VLA, Dantas MA, Pereira TM, Lima RF, Silva MRF, Knerim GS. Círculo de aprendizagens EdPopSUS: a formação dos educadores populares no Ceará. In: Anais do 13o Congresso Internacional Rede Unida; 2018; Manaus. Porto Alegre: Rede Unida; 2018.
  • 11
    Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 9a ed. São Paulo: Hucitec; 2006.
  • 12
    Cavalcante RB, Calixto P, Pinheiro MMK. Análise de conteúdo: considerações gerais, relações com a pergunta de pesquisa, possibilidades e limitações do método. Inf Soc. 2014; 24(1):13-8.
  • 13
    Souza MAR, Wall ML, Thuler ACMC, Lowen IMV, Peres AM. O uso do software IRAMUTEQ na análise de dados em pesquisas qualitativas. Rev Esc Enferm USP. 2018; 52:e03353.
  • 14
    Dantas VLA, Florêncio AE. Cuidar do outro é cuidar de mim, cuidar de mim é cuidar do mundo; o Corredor do Cuidado [Internet]. Blog Rede Humaniza SUS; 2015 [citado 29 Mar 2018]. Disponível em: http://redehumanizasus.net/92756-cuidar-do-outro-e-cuidar-de-mim-cuidar-de-mim-e-cuidar-do-mundo-o-corredor-do-cuidado/
    » http://redehumanizasus.net/92756-cuidar-do-outro-e-cuidar-de-mim-cuidar-de-mim-e-cuidar-do-mundo-o-corredor-do-cuidado/
  • 15
    Cruz NN. Cartas para desver o conceito de resto: a cenopoesia no Hotel da Loucura [dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2018.
  • 16
    Lima RF. Carta à Josevânia Dantas II [Internet]. Blog Cenopoesia do Brasil; 2014 [citado 22 Dez 2018]. Disponível em: http://wwwcenopoesiadobrasil.blogspot.com/2014/06/carta-josevania-dantas-ii.html
    » http://wwwcenopoesiadobrasil.blogspot.com/2014/06/carta-josevania-dantas-ii.html
  • 17
    Mbembe A. Crítica da razão negra. Lança M, Tradutor. Lisboa: Antígona; 2014.
  • 18
    Linhares AB. Linguagens e tecnologias. Salto para o Futuro. 2009; 19(17):38-50.
  • 19
    Lima RF. Breves palavras: cenopoesia, vivências, intervenções e leituras cenopoéticas. In: Brasil. Ministério da Saúde. De sonhação a vida é feita, com crença e luta o ser se faz: roteiros para refletir brincando: outras razões possíveis na produção de conhecimento e saúde sob a ótica da educação popular. Brasília: Ministério da Saúde; 2013. p. 29-40.
  • 20
    Rocha SPV. Tornar-se quem se é: educação como formação, educação como transformação [Internet]. In: Anais eletrônicos do 3o Congreso Latinoamericano de Filosofía de la Educación; 2015; Cidade do México, México. Cidade do México: Universidad Nacional Autónoma de México; 2015 [citado 22 Dez 2018]. Disponível em: http://filosofiaeducacion.org/actas/index.php/act/issue/view/4/showToc
    » http://filosofiaeducacion.org/actas/index.php/act/issue/view/4/showToc
  • 21
    Quijano A. Colonialidade do poder e classificação social. In: Santos BS, Meneses MP, organizadores. Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez; 2010. p. 84-131.
  • 22
    Lima RF. Feira do soma sempre e a produção do comum [Internet]. Blog Rede Humaniza SUS; 2009 [citado 10 Fev 2018]. Disponível em: http://redehumanizasus.net/7391-feira-do-soma-sempre-e-a-producao-do-comum/
    » http://redehumanizasus.net/7391-feira-do-soma-sempre-e-a-producao-do-comum/
  • 23
    Machado AF. Ancestralidade e encantamento como inspirações formativas: filosofia africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira [dissertação]. Salvador, BA: Universidade Federal da Bahia; 2014.
  • 24
    Lima RF. Texto complementar. Salto para o Futuro. 2009; 19(17):51-5.
  • 25
    Lima RF. Carta à Josevânia Dantas III [Internet]. Blog Cenopoesia do Brasil; 2014 [citado 22 Dez 2018]. Disponível em: http://wwwcenopoesiadobrasil.blogspot.com/2014/09/carta-josy-dantas-iii.html
    » http://wwwcenopoesiadobrasil.blogspot.com/2014/09/carta-josy-dantas-iii.html
  • 26
    Freire P. Pedagogia do oprimido. 50a ed. São Paulo: Paz e Terra; 2011.
  • 27
    Rocha PR, Davi HMSL. Determinação ou determinantes? Uma discussão com base na teoria da produção social da saúde. Rev Esc Enferm USP. 2015; 49(1):129-35.
  • 28
    Spinoza B. Ética. Tadeu T, tradutor. São Paulo: Autêntica; 2009.
  • 29
    Nietzsche F. A gaia ciência. Souza PC, tradutor. São Paulo: Cia. das Letras; 2001.
  • 30
    Oliveira ES, Oliveira CR, Oliveira RC, Souza FS, Xavier IS. Política nacional de promoção da saúde e a prática de enfermagem: revisão integrativa. Rev Enferm UFPE [Internet]. 2014; 8(3):735-41 [citado 5 Jun 2018]. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/9732/9828
    » https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/9732/9828

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Abr 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    01 Abr 2019
  • Aceito
    23 Dez 2019
UNESP Distrito de Rubião Jr, s/nº, 18618-000 Campus da UNESP- Botucatu - SP - Brasil, Caixa Postal 592, Tel.: (55 14) 3880-1927 - Botucatu - SP - Brazil
E-mail: intface@fmb.unesp.br