DEBATES
Contribuições para uma pedagogia da educação a distância no ensino superior
Contributions to the pedagogy of higher education at a distance
José Manuel Moran
Professor de Novas Tecnologias na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, ECA/USP, e na Universidade Bandeirante de São Paulo. <jmmoran@usp.br>
O texto mostra que hoje há uma preocupação maior com as tecnologias e materiais impressos e audiovisuais do que com uma discussão pedagógica, ainda bastante incipiente, e aponta que há cursos baseados na entrega da informação, outros centrados no professor uma sala de aula tradicional virtual, e alguns se preocupam mais com a interação, com a construção coletiva do conhecimento. Concordo com essas idéias fundamentais e ressalto alguns outros pontos que podem contribuir para continuar o debate.
As questões pedagógicas afetam o ensino como um todo, seja presencial ou a distância. Temos cursos de qualidade muito diferente em todos os campos. Assim como não há uma pedagogia única para os cursos presenciais também não temos uma pedagogia única para EAD e talvez ainda seja prematuro definir padrões pedagógicos na educação a distância porque estamos em fase de experimentação de vários modelos, formatos, que afetam inclusive o ensino presencial.
A educação a distância traz questões específicas e novos desafios, pois se apresenta como importante ferramenta para situações às quais o ensino presencial não dá conta. Um exemplo atual é a necessidade de capacitar milhares de professores em serviço, que não possuem nível superior. Como organizar cursos presenciais simultaneamente para sete mil professores? O uso de videoconferência, internet e sala de aula permitiu que a Universidade de São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e a Universidade Estadual Paulista realizassem essa tarefa a distância em todo o Estado de São Paulo.
Situações como esta nos obrigam a pensar em processos pedagógicos muito mais complexos do que o realizado no presencial, pois devem compatibilizar entrega da informação, diferentes profissionais (professores autores, professores orientadores, professores assistentes e tutores), tempos homogêneos e flexíveis, comunicação em tempo real e em diferentes momentos, avaliações presenciais e a distância... uma logística nova, que está sendo construída e avaliada com mídias telemáticas pela primeira vez.
O que precisamos atentar é para o tênue limite entre a qualidade e a não qualidade de um curso de massa. Existe hoje no Brasil uma grande variedade de cursos a distância: para poucos e para muitos alunos, com pouca e com muita interação; centrados no professor ou nos grupos de alunos; unitecnológicos e com múltiplas tecnologias. Muitos deles simplificam o processo pedagógico, preocupando-se pouco com a construção do conhecimento e tornando-se, assim, massificadores.
Outro ponto que merece destaque é a visão sobre o broadcast (entrega da informação) apresentada no texto, que considero parcialmente verdadeira. Isso porque em experiências recentes a informação entregue por televisão, CD-ROM e rádio tem sido complementada por diversas formas de mediação pedagógica. Por exemplo, o Telecurso 2000, transmitido pela televisão aberta, que organizava a recepção em telepostos, com professores-monitores locais em salas de aula, permitindo uma combinação equilibrada entre transmissão massiva e recepção personalizada da informação. Também é possível citar alguns cursos por teleconferência que têm criado formas de interação on-line cada vez mais avançadas, combinando-se com outros espaços e tempos complementares, num local próximo dos alunos. A combinação do broadcast com algumas ferramentas da comunicação on-line e off-line, principalmente via internet, é um dos caminhos mais promissores para o avanço da educação a distância e permite, ao menos em teoria, valorizar o que cada uma das situações tem de melhor.
Com a educação on-line e o avanço da velocidade de conexões via internet e via TV digital assistiremos não só à massificação - que vemos igualmente em boa parte dos cursos superiores presenciais - como o surgimento de formas de aprender continuamente, presencial e virtualmente, com materiais prontos e outros em contínua construção, com etapas de auto-aprendizagem e outras de grande interação.
A portaria 2253 do Ministério da Educação e Cultura, de 1996, permite a flexibilização de até 20% da carga total do currículo e já tem resultado em mudanças, representando uma etapa inicial de criação de cultura on-line. A educação a distância começa a trazer contribuições significativas para a educação presencial. Algumas universidades já oferecem disciplinas total ou parcialmente a distância, integram aulas presenciais com aulas e atividades virtuais, flexibilizando tempos e ampliando espaços de ensino-aprendizagem até agora praticamente confinados à sala de aula. A partir daqui, cada instituição poderá pensar, repensar e definir o ponto de equilíbrio entre o presencial e o virtual a ser oferecido nas diferentes áreas do conhecimento.
Recebido para publicação em: 20/01/03.
Aprovado para publicação em: 23/01/03.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
17 Fev 2009 -
Data do Fascículo
Fev 2003