Resumos
O projeto Ensino, Saúde e Desenvolvimento: rede de saberes e práticas foi uma proposição conjunta inicialmente de professores e pesquisadores da Faculdades Pequeno Príncipe, da Universidade Estadual de Londrina, da Universidade Federal de Santa Catarina e posteriormente da Universidade Estadual de Maringá e da Universidade Federal de Alagoas. O objetivo deste relato é uma autoavaliação, buscando analisar os resultados alcançados com um olhar crítico na busca de alternativas que levassem a maiores avanços. A avaliação foi dividida em tópicos: Contexto e problemática; A construção do projeto: seus a(u)tores e históricos envolvidos; Ousadia número 1: ensino, saúde e desenvolvimento; Ousadia número 2: rede de saberes e práticas; O desenvolvimento do projeto: avanços e recuos; Lições aprendidas; e Perspectivas. Os autores reconhecem a pertinência da iniciativa do Ministério da Saúde e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e se posicionam para a continuidade do Programa Pró-Ensino na Saúde.
Autoavaliação; Ensino superior; Capacitação de recursos humanos em saúde; Capacitação profissional; Instituições de ensino superior
El proyecto “Enseñanza, Salud y Desarrollo: red de saberes y prácticas” fue inicialmente una propuesta conjunta de profesores e investigadores de las Facultades Pequeno Príncipe, Universidad Estadual de Londrina y Universidad Federal de Santa Catarina y posteriormente de la Universidad Estadual de Maringá y de la Universidad Federal de Alagoas. El objetivo de este relato es una autoevaluación buscando analizar los resultados alcanzados con una mirada crítica en la búsqueda de alternativas que llevaran a mayores avances. La evaluación se dividió en tópicos: Contexto y problemática; La construcción del proyecto: sus autores y actores e historiales envueltos; Osadía Número 1: Enseñanza, salud y desarrollo; Osadía Número 2: Red de saberes y prácticas; El desarrollo del proyecto: avances y retrocesos; Lecciones aprendidas; Perspectivas. Los autores reconocen la pertinencia de la iniciativa del Ministerio de la Salud y de CAPES y se posicionan en favor de la continuidad del Programa “Pro-Enseñanza en la salud”.
Autoevaluación; Enseñanza superior; Capacitación de recursos humanos en salud; Capacitación profesional; Instituciones de enseñanza superior
The project "Teaching, Health and Development: Network of Knowledge and Practices" was a joint proposal of teachers and researchers from Faculdades Pequeno Príncipe, Universidade Estadual de Londrina and Universidade Federal de Santa Catarina and, subsequently, from Universidade Estadual de Maringá and Universidade Federal de Alagoas. The objective of this report is a self-evaluation to analyze the results achieved with a critical eye in search of alternatives that could lead to greater advances. The evaluation was divided into topics: Context and problem; The construction of the Project: Its stakeholders and history; Boldness Number 1: Teaching, health and development; Boldness Number 2: Network of knowledge and practices; The development of the project: Advances and retreats; Lessons Learned; Perspectives. The authors acknowledge the relevance of the initiative of the Ministry of Health and CAPES and stand up for the continuity of the Program Pró-Ensino na Saúde.
Self-evaluation; Higher education; Qualification of human resources in health; Professional qualification; Higher education institutions
No decorrer de cinco anos, entre 2011 e 2015, foram desenvolvidas as atividades do projeto Ensino, Saúde e Desenvolvimento: rede de saberes e práticas1. Constituiu-se como uma proposição conjunta de professores e pesquisadores de instituições de ensino superior (IES) existentes no Paraná e em Santa Catarina. O projeto teve as suas atividades concentradas em Curitiba, onde está instalada a Instituição que assumiu a sua coordenação desde o início.
O projeto foi bem-sucedido, o que não exclui a necessidade de refletir sobre aspectos que permearam o seu desenvolvimento, inclusive aqueles que poderiam ter sido mais bem desenvolvidos. Pensando em um processo de autoavaliação, os autores decidiram imprimir este enfoque ao artigo, com um olhar crítico em busca de alternativas que poderiam ter levado a melhores resultados.
Contexto e problemática
Nas décadas de 1970 e 1980, os processos da 8a Conferência Nacional de Saúde (1986) e da Constituinte (1987-1989) resultaram no fortalecimento do Movimento da Reforma Sanitária Brasileira e na criação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1990. Em muitos momentos desse longo processo, os atores do meio universitário/acadêmico tiveram papel expressivo2. Embora o centro da crítica e das propostas de mudança se dirigissem à organização do sistema e dos serviços de saúde, este forte movimento desencadeou uma reação em cadeia, gerando mudanças também nas instituições formadoras.
Com a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos da área da Saúde entre 2001 e 2004, sérias preocupações instalaram-se no âmbito de várias instituições, entidades e movimentos. Estas decorriam das lacunas de conhecimento que se verificavam na educação médica e nas outras profissões e da carência de docentes aptos a desenvolver os novos papéis previstos nos projetos pedagógicos preconizados por essas diretrizes3.
Motivadas pela necessidade de formar profissionais com perfil adequado às necessidades sociais, isto é, com capacidade de aprender a aprender, trabalhar em equipe, comunicar-se, ter agilidade diante das situações e ter capacidade propositiva, muitas instituições começam a discutir mudanças pedagógicas, pois essas características não combinam com a formação tradicional e com a pedagogia da transmissão que predomina nas universidades4.
No âmbito da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem), entidade que atua junto com a Rede Unida e o segmento estudantil, representado pela Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina (Denem), algumas iniciativas foram importantes para o enfrentamento da problemática mencionada. Entre elas, há a criação em 2004, durante o Congresso Brasileiro de Educação Médica, de um grupo para aprofundar a compreensão a respeito do tema por meio da pesquisa.
Ao mesmo tempo, professores buscavam oportunidades de capacitação no exterior, enquanto outros investiram seu tempo e esforço no desenvolvimento de projetos locais, como os Projetos de Uma Nova Iniciativa na Educação dos Profissionais de Saúde: União com a Comunidade (UNI), para preparar o terreno para as mudanças almejadas. Processos de formação mais amplos como os dos “Ativadores dos Processos de Mudança na Formação Superior de Profissionais de Saúde” e o Foudation for Advancement of International Medical Education and Research (FAIMER) propuseram formação lato sensu em grande escala para docentes com o intuito de facilitar a implantação das mudanças. Na mesma época, algumas lideranças investiram na aproximação com agências como a CAPES que, com a decisiva participação da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) do Ministério da Saúde (MS), publicou em 2010 o Edital número 24, instituindo o Pró-Ensino na Saúde5.
O edital teve por objetivo fomentar a criação de linhas de pesquisa e apoiar publicações na área de ensino na Saúde, utilizando-se de recursos humanos e de infraestrutura disponíveis nas IES, possibilitando a produção de pesquisas científicas e tecnológicas e a formação de mestres, doutores e estágios pós-doutorais na área do ensino na Saúde.
A publicação do edital partiu do pressuposto de que, ao estimular a criação de linhas ou de áreas de concentração sobre ensino nos programas, seria possível aperfeiçoar a formação docente na pós-graduação e, assim, contribuir para o avanço das mudanças nas graduações da Saúde, especialmente no momento de expansão de vagas e cursos no ensino superior no país6.
Em todas essas esferas e contextos, ocorreu a participação de professores e estudantes de Santa Catarina e, especialmente, do Paraná. Com isso, estavam dadas as condições para a elaboração de um projeto a ser submetido ao referido edital.
A construção do projeto: seus a(u)tores e históricos envolvidos
A construção do projeto aconteceu antes mesmo da publicação do Edital 24/2010. A rede de professores e profissionais de saúde envolvidos nos processos de mudança do perfil dos profissionais de saúde e consolidação do SUS – movida pelo desejo de melhoria dos processos de ensino e aprendizagem; qualificação da docência no ensino superior; e reorientação dos currículos e projetos pedagógicos e da implantação de políticas de ensino e Saúde nas instituições em que trabalham e pesquisam – iniciou a composição do curso de Ativadores de Processos de Mudança na Formação Superior de Profissionais de Saúde. Logo após, houve também a construção dos projetos para o Pró-Saúde compartilhados entre os grupos de cada instituição envolvida neste projeto.
A aprendizagem com o desenvolvimento dos projetos do Pró-Saúde e as experiências prévias com o Promed e projetos afins permitiram avançar para o PET-Saúde, Pró-Residência, FAIMER e a formação do Grupo de Trabalho em Pós-Graduação inserido na Associação Brasileira de Educação Médica e em outras associações de ensino na área da Saúde. A percepção da progressiva qualificação dos trabalhos apresentados em congressos no Brasil e internacionais e das dificuldades para publicação de pesquisas7,8 – em especial na área de Ensino na Saúde, em revistas de impacto – possibilitou ao grupo vislumbrar a necessidade de sistematizar os projetos e grupos de pesquisa já existentes e de aproximar os pesquisadores das diversas instituições envolvidas na rede. A proposta do Edital Número 24 veio permitir a institucionalização de relações e produções já consolidadas.
O envolvimento de professores dos cursos de graduação da área de Saúde e de pesquisadores de programas de pós-graduação da Faculdades Pequeno Príncipe (FPP)9, da Universidade Estadual de Londrina (UEL)10,11 e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) era importante. As mudanças curriculares que se verificavam em cursos dessas instituições, notadamente Enfermagem e Medicina, acompanhadas das dificuldades e conflitos inerentes, formavam no decorrer dos anos 2000 um rico caldeirão de experiências locais em efervescência.
As mobilizações para adquirir maior peso político-institucional se davam por meio dos Encontros de Educação Médica Paraná-Santa Catarina e dos eventos promovidos pela Rede Unida, sediada durante vários anos em Londrina. É importante registrar que, apesar de contar com a participação de vários profissionais da área de Saúde Coletiva, o movimento não era hegemonizado por esse segmento. Havia, como hoje, uma presença importante e em geral mais densa de profissionais das especialidades clínicas e dos ciclos básicos.
Em vários momentos, os processos internos inovadores decorriam de alterações no equilíbrio de forças, em que os segmentos conservadores ficavam enfraquecidos frente às iniciativas, muitas vezes ousadas, daqueles que acreditavam na necessidade imperiosa das mudanças curriculares. Esses comportamentos, de uma forma ou de outra, contaminaram o processo de elaboração do projeto que estamos analisando e influenciaram decisivamente na sua configuração12.
O Projeto Ensino, Saúde e Desenvolvimento: Rede de Saberes e Práticas foi apresentado ao Edital da CAPES como de autoria da FPP, UEL, UFSC e, em um momento posterior, integrado também pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Durante a maior parte do tempo contou com a participação qualificada de consultores externos que contribuíram de forma decisiva para o seu desenvolvimento.
Partindo da perspectiva de que ensinar em saúde implica associar ao processo de ensino-aprendizagem práticas direcionadas à formação de profissionais aptos a integrar seus saberes com práticas em cenários vivos, o projeto propôs qualificar e ampliar a produção científica, tecnológica e de inovação no ensino na Saúde com vistas à melhoria do ensino na graduação e pós-graduação para contribuir com a consolidação do SUS.
Os resultados esperados eram: formação de dois doutores e seis mestres nas três instituições principais durante o período de execução do projeto; estabelecimento de um núcleo de pesquisa na área de Ensino na Saúde; ampliação e qualificação da produção científica, tecnológica e de inovação sobre ensino na Saúde; qualificação da formação de profissionais que compreendam a interface ensino e assistência, com vistas à melhora da saúde da população; criação da linha de pesquisa do ensino na Saúde nos programas de pós-graduação; e ampliação da participação dos estudantes nos projetos científicos.
A instituição proponente teve um papel gerencial de destaque, tanto no que diz respeito à parte financeira quanto no apoio logístico para a execução dos objetivos do projeto. Nessa IES, as Direções Geral, de Pesquisa e Pós-Graduação e a Acadêmica participaram ativamente no seu desenvolvimento, por entender a necessidade de avanços na melhoria da formação dos profissionais de saúde.
Esse envolvimento foi um dos pontos fortes a ser ressaltado, pois é sabido que o apoio institucional é fundamental para implementar projetos e desenvolvê-los.
Ousadia número 1: ensino, saúde e desenvolvimento
Assim como na atualidade, também nos anos iniciais da década de 2010, muitos defendiam e trabalhavam pela integração entre ensino e saúde e entre atividades formadoras e de prestação de serviços de saúde. Isso tanto por parte de atores que trabalham nos ambientes acadêmicos quanto por parte dos que trabalham nos ambientes dos serviços.
Mas, em geral, a aproximação intersetorial ficava circunscrita aos setores Saúde e Educação. A intersetorialidade mais ampliada, a formação interdisciplinar consistente, envolvendo outros campos de conhecimento, e a atuação multiprofissional mais plurifacetada raramente são observadas, sendo poucos os trabalhos publicados nesse enfoque13,14.
O projeto em análise buscou avançar nesse terreno e, ao acrescentar a palavra “desenvolvimento” no seu título, sinalizou uma intenção que vem sendo buscada por meio de projetos de pesquisa voltados à qualificação da educação básica e ao desenvolvimento tecnológico na área de engenharia de materiais.
Infelizmente, devido ao tempo de maturação dessas pesquisas e à limitação do tempo de duração do projeto com a CAPES, os resultados destes só ocorrerão nos próximos anos e, portanto, fora do período do seu desenvolvimento formal.
Ousadia número 2: rede de saberes e práticas
Segundo estudo15 realizado, entre os 21 projetos Pró-Ensino analisados em 2014, 11 se propuseram a atuar em redes de cooperação acadêmica e sete almejavam se constituir em núcleos de pesquisa.
Rovere16, um dos mais renomados autores que tem contribuído, do ponto de vista teórico e prático, para o desenvolvimento da proposta de trabalho em rede, registrou em uma das suas obras:
[...] desde la perspectiva de la Psicologia Social, redes son redes de personas, se conectan o vinculan personas, aunque esta persona sea el diretor de la institución y se relacione con su cargo incluído, pero no se conectan cargos entre sí, no se conectan instituciones entre sí, no se conectan computadoras entre sí, se conectan personas. Por esto es que se disse que redes es el lenguaje de los vínculos, es fundamentalmente un concepto vincular16. (p. 30)
Quanto à atuação em rede, houve muita interação entre vários profissionais das instituições proponentes. Contudo, raramente foram estabelecidos graus mais profundos de relacionamentos interpessoais. Raramente ultrapassou-se o reconhecimento, o conhecimento mútuo e a colaboração. A cooperação (operação conjunta) e a associação ou parceria (aprofundamento dos vínculos levando a alguma forma de acordo ou de compartilhamento, inclusive de recursos), quando chegaram a existir, não tiveram a sustentabilidade almejada17.
A inclusão da Ufal no decorrer do projeto teve por fundamento a intenção de levar à prática um dos objetivos específicos do Edital 24/2010, a saber: “estimular a redução das assimetrias inter e intrarregionais da pós-graduação brasileira, em especial nas regiões amazônica, Nordeste e Centro-Oeste, criando núcleos disseminadores e incentivadores, regionais, a partir do desenvolvimento de propostas interinstitucionais.” Contudo, não havia histórico anterior de cooperação ou mesmo de aproximação entre as instituições ou programas de pós-graduação (PG), o que gerou um movimento espasmódico que durou enquanto houve recursos financeiros no projeto para viabilizar os deslocamentos.
O diálogo entre as práticas desenvolvidas nos distintos espaços das instituições participantes do projeto ocorreu pelo registro e pela troca de experiências. Mas este é ou pode ser só um primeiro estágio de uma construção em rede. Para prosseguir, há a necessidade de muitos outros estágios serem observados e cumpridos. Esse diálogo ocorreu basicamente nas oportunidades dos encontros presenciais ampliados dos membros do projeto e se manteve, a distância, por meio de mecanismos de interação utilizando ferramentas Tecnológicas de Informação e Comunicação (TICs), o que permitiu a discussão de temas de forma mais aprofundada.
Entretanto, os saberes construídos entre os projetos não foram suficientes para permitir a elaboração de projetos de pesquisa multicêntricos. Conseguiu-se um aumento do número de projetos de pesquisa e de publicações no âmbito de cada programa de pós-graduação, mas a aproximação entre os programas não se efetivou de forma mais consistente. A criação das linhas de pesquisa em programas nos quais não havia forte adesão institucional ao projeto restringiu as oportunidades de desenvolvimento qualitativo das parcerias delineadas na fase de seu planejamento.
Cabe ressaltar que os programas de pós-graduação que acolheram a linha de pesquisa em Ensino na Saúde no seu escopo ficaram com receio de comprometer suas avaliações, respeitando a classificação de cada programa pela Capes, uma vez que a produção científica brasileira, nessa área de conhecimento, ainda era incipiente.
O desenvolvimento do projeto: avanços e recuos
Tomando por base as cinco propostas ou objetivos específicos iniciais do projeto, transcorridos os anos, pôde-se identificar avanços e recuos. Em nossa opinião, como se trata de um projeto que foi desenvolvido por meio de processos, falar em avanços e recuos é mais adequado do que denominar vitórias e derrotas. Ou seja, na nossa percepção, não há situações definitivas. Embora o projeto tenha se encerrado, muitos dos seus processos continuam acontecendo, ainda que com características, em certos casos, de práticas institucionalizadas.
O primeiro objetivo específico foi contribuir para o fortalecimento das linhas de pesquisa relativas à área de Ensino na Saúde de programas de pós-graduação stricto sensu das instituições envolvidas no projeto. Foram e são distintas as realidades conforme a instituição. No caso da UEL, a linha de pesquisa foi criada no programa de PG da Enfermagem e no da Odontologia. Com relação ao primeiro, a área está consolidada, pois o Mestrado, criado em 2010, tem O Ensino e a Gerência do cuidado de Enfermagem como uma das duas linhas de pesquisa. Com apoio do projeto, foram desenvolvidas e defendidas quatro dissertações e outras 18 foram realizadas após a finalização do projeto. Na FPP, a criação da linha de pesquisa em Ensino na Saúde, no escopo dos cursos de mestrado e de doutorado do Programa de PG em Biotecnologia Aplicada à Saúde da Criança e do Adolescente, preexistente e muito bem avaliado pela CAPES, gerou a produção de duas teses de doutorado e duas dissertações de mestrado. Na UFSC e na Ufal, um número menor de projetos de pesquisa foi desenvolvido.
O segundo objetivo do Projeto foi “Estimular a criação de área de concentração nos programas de PG Stricto sensu existentes”. Sobre isso, cada Instituição, devido às suas características, buscou diferentes formas de evolução de Linha de Pesquisa para Área de Concentração. No caso da FPP, foi criado um novo Programa. Na UFSC e na UEL continuam existindo esforços pela criação de áreas de concentração.
O terceiro objetivo foi promover o intercâmbio de conhecimentos, estimulando a formação de redes entre as instituições envolvidas no projeto e os serviços de saúde. O projeto teve um papel importante na manutenção e fortalecimento de uma iniciativa que o precede, que é o Grupo de Pesquisa em Ensino na Saúde (Pensa). Realizando encontros quinzenais há cerca de sete anos, este tem sido um espaço de trocas e de intercâmbio entre pesquisadores de várias instituições, algumas alheias ao projeto, interessados no tema do ensino na Saúde.
O quarto objetivo foi oportunizar a nucleação e interação entre grupos de pesquisa e equipes acadêmicas visando a propostas de programa de PG na área de Ensino na Saúde. Sobre isso, o avanço que merece ser registrado foi a elaboração do projeto do programa de PG em ensino nas Ciências da Saúde, níveis mestrado e doutorado, que obteve, em 2015, o reconhecimento e autorização da Capes para funcionar em nível de mestrado. Mantido pela FPP, que contou e conta com a participação de professores-pesquisadores de outras IES participantes do projeto de Rede, existem hoje 91 alunos/mestrandos matriculados, sendo que da primeira turma (2015) ocorreram, até dezembro de 2016, as defesas de 15 dissertações, devendo chegar a 19 dentro do prazo legal (fevereiro/março de 2017). A quarta turma (2017) iniciou suas atividades em março do mesmo ano.
Por último, o quinto objetivo do projeto foi formar recursos humanos em nível de PG capazes de atuar e compreender as relações entre o ensino de graduação e o de pós-graduação na saúde. Nesse caso, a meta estabelecida foi a formação de seis mestres e dois doutores. Conseguiu-se suplantar a meta com relação aos novos mestres (dez) e foi cumprida a meta de dois novos doutores. Com o total de 38 mestres já titulados, sendo 28 posteriores ao término do projeto Pró-Ensino na Saúde, mas indubitavelmente resultantes do processo de indução de tal projeto, fica clara a necessidade de ampliação do programa de PG com oferta do doutorado para atender a demanda dos mestrandos que concluem sua pós-graduação na FPP e querem aprofundar as pesquisas na área, além da grande procura externa por mestres.
Lições aprendidas
As lições mais importantes que os autores extraem do desenvolvimento desse projeto são:
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A importância do olhar externo por meio da presença de um pesquisador experiente e de renome, que em vários momentos identificou as possibilidades ou os potenciais de melhoria individuais e no conjunto da rede18.
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O papel do apoio financeiro externo, proveniente de órgãos ministeriais, como o MS/SGTES e/ou de agências de fomento, como a CAPES, foi decisivo para construir uma estrutura organizacional mínima que viabilizou a sustentabilidade do projeto. Nesse contexto, torna-se difícil imaginar que projetos complexos, envolvendo diferentes instituições e linhas de pensamento, possam ter sua gestão bem-sucedida usando ferramentas inadequadas e há a necessidade de se construir estrutura que permita a sustentabilidade do projeto. Ainda, pesquisas sobre ensino na Saúde foram produzidas pelos participantes do projeto; porém, carecem de mais espaço para publicação, considerando a temática de ensino na Saúde ainda não ser priorizada pelos periódicos.
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O apoio institucional da FPP, que coordenou o projeto, foi fundamental para os avanços verificados, pois a instituição atua no ensino superior com a premissa de desenvolvimento dos docentes para a obtenção dos resultados desejados na formação dos profissionais de saúde. Esse aspecto foi facilitador da implantação e condução da proposta.
Perspectivas
Difícil estabelecer perspectivas para o Pró-Ensino na Saúde frente à conjuntura política e econômica nacional. Nesta, predomina a incerteza e a cada dia surgem novos ingredientes geradores de insegurança.
Segundo Nogueira19:
A democracia brasileira está em transição, reagindo às mudanças que ocorrem na sociedade e na cultura da época. Está mais poliárquica e mais descoordenada, dada a crise dos partidos e da própria representação política [...]. O fato mesmo de se ter fechado um ciclo na vida nacional não significa que tudo o que nele floresceu, para o bem e para o mal, tenha deixado de pulsar e que um novo ciclo se afirmará como se purificado estivesse dos influxos e das toxinas do anterior. (p. 31)
Porém, propostas do Pró-Ensino na Saúde, com ou sem a retomada de um programa pela Capes e com ou sem o apoio do MS/SGTES, continuarão tendo vez enquanto existirem demandas concretas dos serviços de saúde por uma atenção à saúde que exija novos tipos de profissionais de saúde.
O fortalecimento dentro da Capes da área de Ensino na Saúde está ocorrendo rapidamente; as iniciativas institucionais voltadas a apoiar as práticas e os novos conhecimentos têm tido maior aceitação. Isso depende, em parte, da capacidade de mobilização dos atores que atuaram nos 31 projetos aprovados pelo Edital de 2010 e, em outra parte, dos rumos escolhidos pelos setores da Saúde, da Educação e, ainda, da escolha das áreas prioritárias para a pesquisa no país. Vários autores têm contribuído20-22 neste espaço; porém, a necessidade de novo apoio e recursos para a PG são claros a todos os envolvidos com o ensino na área da saúde.
A iniciativa da publicação de um suplemento especial da Interface é uma demonstração de que existem ações que podem e devem ser tomadas. Em um contexto distinto ao da realidade analisada, que teve por objeto as relações entre usuários de um serviço de saúde23, mas com semelhanças processuais, as perspectivas deste projeto e, talvez, de outros apoiados pelo Edital 24/2010, estão na dependência da capacidade dos seus atores evoluírem para um “movimento“ do Pró-Ensino na Saúde.
Afinal, apesar dos pesares, como já disse Fernando Pessoa, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
26 Set 2018
Histórico
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Recebido
23 Fev 2017 -
Aceito
27 Fev 2018