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Vagar e ocupar: dez anos de narrativas no TOCCA – saberes e práticas transdisciplinares entre as artes e a saúde

Wander and occupy: 10 years of narratives in the TOCCA program - knowledge and practices in arts and health

Desocupar y ocupar: 10 años de narrativas en el TOCCA - saberes y prácticas transdisciplinarios entre las artes y la salud

Resumos

Este texto tem como objetivo apresentar as experiências do “Programa TOCCA (Terapia Ocupacional, Corpo, Cultura e Artes): saberes e práticas transdisciplinares entre as artes e a saúde” na Universidade Federal de Santa Maria, que procura conjugar arte e clínica em proposições poéticas que promovam a produção da vida. Trata-se de uma narrativa reflexiva do programa em seus dez anos de atividades de ensino, pesquisa e extensão, buscando problematizar os saberes e práticas compartilhados nos trajetos realizados. Acredita-se ser esse um importante caminho para rever como prosseguir, cuidando para ativar a cooperação e a partilha das diferenças desejadas e vividas.

Palavras-chave
Cotidiano; Interface arte-saúde; Terapia Ocupacional


This paper presents the experiences of the “TOCCA Program: Transdisciplinary Knowledge and Practices in Arts and Health” at Santa Maria Federal University. The program brings together arts and clinical practice in poetic propositions that promote the production of life. This reflective narrative of the program and its 10 years of teaching, research and extension activities aims to problematize the knowledge and practices shared over the course of the program. We believe this exercise is an important way of reviewing how to proceed, taking care to activate cooperation and share desired and lived differences.

Keywords
Everyday life; Art-health interface; Occupational therapy


Este texto tiene el objetivo de presentar las experiencias del “Programa TOCCA: Saberes y prácticas transdisciplinarios entre las artes y la salud” en la Universidad Federal de Santa Maria que busca conjugar arte y clínica en propuestas poéticas que promuevan la producción de la vida. Se trata de una narrativa reflexiva del programa en sus diez años de actividades de enseñanza, investigación y extensión, buscando problematizar los saberes y prácticas compartidos en los trayectos realizados. Se cree que este es un importante camino para revisar cómo proseguir, cuidando para activar la cooperación y compartición de las diferencias deseadas y vividas.

Palabras clave
Cotidiano; Interfaz arte-salud; Terapia ocupacional


Que mundos se inventam com o TOCCA?

Ações de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas em universidades públicas são importantes articuladoras de outros modos de vida: de sentir, de agir, de pensar, de se relacionar. Um espaço potente para o exercício da liberdade e da imaginação no coletivo. Entretanto, o desafio de construir tais ações e projetos se intensificou nos últimos anos devido a duas razões principais. Primeiro, elas têm sofrido os impactos dos constantes cortes nos orçamentos para o ensino e a pesquisa e nas bolsas de incentivo às práticas extensionistas. Segundo, a presença marcante de medidores de produtividade acaba transformando a universidade em um espaço de competição entre todos e todas, sejam professores ou estudantes, por recursos ou por validação perante os diferentes processos avaliativos de produção docente e/ou estudantil. Portanto, construir um espaço de saberes e de práticas que seja vivo e cooperativo, a saber, que responda às necessidades da vida dos sujeitos docentes, estudantes, terapeutas ocupacionais, artistas, pessoas da comunidade acadêmica ou não, tornou-se um objetivo técnico, ético e político para a equipe que compõe o ESPAÇOCORPO: núcleo de estudos transdisciplinares em Dança e Terapia Ocupacional.

O núcleo busca realizar um trabalho delicado e artesanal de encontrar as pessoas, escutá-las, dispor de tempo para ler e escrever junto, para compartilhar comidas, cafés e chás, e desejos. Tece assim, presencialmente e nas redes sociais, espaços de trocas de materiais teóricos, de imagens, de ações; partilhas de palestras vistas e/ou ouvidas em congressos e seminários onde só alguns conseguem ir, de divulgação de produções artísticas variadas. Ao longo do tempo, aprendemos a exercitar um revirar aquilo que oprime o trabalho do pensamento e das ações na clínica e na arte, em potência. Nesse sentido, o grupo de pesquisa articula-se à equipe da extensão e do ensino, e a cada ação uma composição de integrantes se faz e é mobilizada pelo desejo de compor. As ações de ensino, de pesquisa e de extensão são voltadas a todos e a todas.

O TOCCA já teve diferentes formatos e fez parcerias com instituições de cultura, saúde, educação, assistência social e de coletivos de artistas, atendendo a públicos diversos em cada um de seus eixos. O desenho atual do programa possui três grandes eixos de ação:

O primeiro eixo – Um Corpo no Mundo – caracteriza-se por ser conduzido por artistas e terapeutas ocupacionais. Busca promover a fruição e a criação por meio das artes da cena, das artes visuais, e desenvolver metodologias de pesquisa em artes, tendo como desdobramentos a promoção da saúde e de espaços de cuidado de si, de acessibilidade cultural e participação social. O Eixo Caminhando, por outro lado, propõe a experimentação das linguagens clínicas e das tecnologias de atenção em Terapia Ocupacional que potencializem tecer vínculos entre sujeitos, construir espaços mais cooperativos, desobstruir processos criativos, promover convívio entre as diferenças e a afirmação de modos singulares de fazer e existir cotidianamente. Esse subprojeto toma a clínica também como criação. Por fim, no Eixo Matilhas Poéticas procura-se apoiar artistas, individualmente e em coletivos, por meio da capacitação continuada e do fomento ao trabalho cooperativo, auxiliando nos processos de criação, na inserção em editais de fomento à cultura e na promoção de espetáculos, mostras ou outros eventos artístico-culturais.

Há cinco anos possui coordenação de duas docentes dos cursos de Bacharelado em Dança e em Terapia Ocupacional. A equipe vem se compondo por estudantes desses cursos, uma docente da Antropologia, pessoas da comunidade não acadêmica, profissionais da Terapia Ocupacional, da Dança, das Artes Visuais, da Música e do Teatro, sujeitos com deficiências e/ou sofrimento psíquico, em situação de vulnerabilidade social ou não. Suas ações se tecem a fim de transversalizar saberes e práticas entre os campos das Artes e da Cultura, da promoção à saúde, da produção de redes sociais e o campo da clínica em Terapia Ocupacional. Na transversalização dos saberes, cabe destacar a importante contribuição do conhecimento oriundo das práticas corporalistas e das abordagens somáticas para o movimento, que nos ajudam a pensar os sujeitos e suas relações com o mundo como processos de corporificação e diferenciação permanentes, em múltiplos e complexos territórios existenciais. Concorda-se com Favre:

Essa filosofia ecológica vê os corpos como seres vivos, animais e vegetais, em mútua interdependência e conexão para prosseguir essa tarefa conjunta de colonizar a rocha voadora que chamamos terra11 Favre R. Do corpo ao livro. São Paulo: Summus; 2021.. (p. 126)

Esse modo de olhar sujeito-corpo-meio permitiu adentrar diferentes espaços e ambientes com nosso trabalho, estabelecer relações potentes entre pessoas, espaços, instituições, ampliando nossa capacidade de pensar, de sentir e de agir no mundo. Nesse caminho, pensa-se a criação como decorrente do viver, aliando-se a movimentos no campo das artes da cena, em especial na Dança, que se voltam às relações com a vida como matéria para produção artística(b (b) “Fundamentalmente, nossas principais referências estéticas, éticas e políticas remetem à chamada geração pós-moderna norte-americana, formada por artistas como Yvonne Rainer, Trisha Brown, Steve Paxton, Deborah Hay, Robert Rauschenberg, entre outros, que se aglutinaram formando o que ficou conhecido como movimento da Judson Church”2. (p. 200) ).

Neste texto vamos dirigir o olhar para as ações extensionistas do TOCCA, ressaltando que para nossa equipe elas se fazem com as de pesquisa e de ensino. Problematizando essa ação na universidade como um lugar onde estudar, pesquisar, agir, possa

estar à altura desse tempo e desse cuidado para dizer o mais precisamente possível o que sufoca e produz um nó na garganta e, sobretudo, o que está aflorando diante disso para que a vida recobre um equilíbrio – não será esse o trabalho do pensamento propriamente dito? Não estará exatamente nisso sua potência micropolítica? Não será isso o que define e garante sua ética? E, mais amplamente, não será nisso afinal que consiste o trabalho de uma vida?33 Rolnik S. Esferas da insurreição. São Paulo: N-1 edições; 2018.. (p. 27)

O desafio do TOCCA vem na esteira de um longo movimento em Terapia Ocupacional que se inicia no final dos anos de 1980 no Brasil e exigiu a construção de interlocuções com diferentes campos do saber: a Cultura, as Artes, a Saúde, a Educação, as Ciências Sociais, entre outros.

Na direção da desconstrução de saberes disciplinares sobre o corpo e das concepções de saúde dentro de uma perspectiva biomédica, surgem práticas em Terapia Ocupacional que questionam os modelos vigentes, entre essas, aquelas que vão se aproximar dos saberes e das ações do campo das Artes. Surgem, então, intervenções em Terapia Ocupacional que incorporam a Arte em suas proposições terapêuticas, levando a clínica para o campo da invenção44 Siegmann C, Fonseca TMG. Experiências liminares diante da imagem: breves considerações para a Terapia Ocupacional. Rev Ter Ocup USP. 2016; 27(3):305-12.. Lima55 Lima E. Uma perspectiva ético-estético-política para as atividades em terapia ocupacional. In: Silva C. Atividades humanas e terapia ocupacional. São Paulo: Hucitec; 2019. afirma que “existiu um solo sociopolítico e cultural que propiciou a emergência de um território no qual os campos da Arte e da Saúde se encontraram e passaram a dialogar” (p. 17).

Na história da Terapia Ocupacional no Brasil a construção do campo de interface com as artes relaciona-se com a necessidade de transformação nos modos de cuidar, especialmente com o advento dos processos de redemocratização, o surgimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e as pautas importantes de participação social e de respeito à cidadania colocadas pelos movimentos políticos das pessoas com deficiência, da luta antimanicomial, das pessoas com sofrimento psíquico e dos variados movimentos sociais, decorrentes das necessidades diversas oriundas do agravamento das condições sociais de boa parcela da população. Nesse sentido, ocorre

[...] a introdução de novos conceitos e abordagens técnicas para o enfrentamento daquilo que nos campos da saúde e da cultura limitava o acesso de pessoas atendidas aos bens culturais e sociais, em consonância com uma nova noção de reabilitação(c (c) A autora refere-se a uma mudança de concepção em torno de reabilitar, na qual se desloca o foco em relação à adequação do sujeito a um padrão de normalidade para produzir algum pertencimento social e restauração de capacidades intelectuais e funcionais, para uma nova noção de reabilitação que pressupõe que a diferença desse cidadão deve ser acolhida e incluída no corpo social. Assim, o território, a comunidade, as instituições devem ser reabilitadas. ) baseada em ações no território [...]66 Castro ED, Inforsato EA, Buelau RM, Valent IU, Lima EA. Território e diversidade: trajetórias da Terapia Ocupacional em experiências de arte e cultura. Cad Bras Ter Ocup. 2016; 24(1):3-12.. (p. 4)

Surge, com isso, a necessidade de construir práticas que pudessem reconectar os sujeitos com espaços de participação social, com a produção de redes, de relações vinculares com pessoas e serviços, pautadas no exercício da cidadania, na invenção de novos modos de existir, de comunicar, de fazer cotidianos que respeitassem as diferenças.

Um caminho se fazendo constantemente...

O TOCCA surgiu como projeto de extensão em 2010, naquele momento situando suas ações na comunidade do “KM3”, bairro João Goulart na cidade de Santa Maria. Trabalhou-se com oficinas de atividades culturais (desenho, grafite, capoeira, contação de história), coordenadas por artistas e terapeutas ocupacionais na Associação de Moradores da Estação dos Ventos e em escolas municipais e estaduais do entorno. Com o tempo a ação se expandiu para a cidade por meio de acompanhamentos terapêuticos (ATS) e de ações que buscavam a promoção da cidadania, a acessibilidade a bens culturais e produção de cultura na cidade. Em 2016, o projeto transformou-se em um programa de extensão e passou a ter coordenação conjunta (Dança e Terapia Ocupacional). Essa mudança imprimiu outros desenhos ao trabalho, intensificando a transversalização de saberes entre os campos e a aproximação ainda maior de composições com profissionais de outras áreas das Artes e das Ciências Sociais. Nesse período, as ações extensionistas se estenderam a espaços da Universidade Federal de Santa Maria do curso de Dança, à Escola Municipal de Artes – Eduardo Trevisan (Emaet – 2016-2020), ao Museu de Arte de Santa Maria (MASM – 2017-2020), à Associação Orquestrando Arte (2016-2019) e, por dois anos, ao Coral do Hospital de Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo (2016-2018). A equipe do programa passa a participar mais ativamente do Conselho Municipal de Políticas Culturais e das Conferências Municipais de Cultura, em especial integrando o segmento Cultura Viva (2017-2020).

Uma das características marcantes desses dez anos de trabalho tem sido a disponibilidade para inventar sempre novas maneiras de desenhar as ações do programa, relacionando-as às demandas que surgem e às mobilizações da equipe com questões que emergem do campo. Para organizarem-se a cada um ou dois anos, as versões do projeto/programa foram se alterando, modificando seus eixos de trabalho, inventando e reinventando subprojetos. Nos eixos, buscou-se transversalizar arte e saúde, criando linhas que nos auxiliassem a tecer os dispositivos clínico-poéticos sem nos ater ao caráter disciplinar de cada um dos envolvidos, mas, sim, ao que desejávamos mover no mundo com ele. Linhas, essas, relacionadas ao corpar e afirmar-se, ao criar e diferenciar-se, ao desautomatizar sentidos e significados atribuídos a si, aos outros e às ações, lentificar e observar a si e aos outros, e, ainda, voltadas à ampliação de repertórios de fruição em arte e de cuidados de si (diferentes estratégias cotidianas e/ou técnicas partilhadas). Observávamos também as diferenças, e alguns dispositivos tendiam mais ao campo da clínica, como os do acompanhamento terapêutico (AT); outros, ao campo das Artes, como os voltados à criação e ao apoio à produção de obras em Dança. Destaca-se, aqui, o Eixo Um Corpo no Mundo; nele, cultivávamos ações que radicalmente nos multiplicassem, em que pudéssemos experimentar novo(s) saber(es) e prática(s).

Assim, ao longo do ano de 2020, em que vivemos e iniciamos o enfrentamento à pandemia de Covid-19, houve, mais uma vez e de modo agudo, a necessidade de reformular o TOCCA. Os espaços possíveis foram reinventados utilizando-se os dispositivos digitais: teleatendimentos individuais e grupais, reuniões on-line, conversas e experimentações poéticas digitais. Foi necessário criar formas de manter os vínculos, ativar a cooperação, trocar saberes entre todos(as) os(as) envolvidos(as). Ressalta-se, aqui, a importância do trabalho com as narrativas de cada um, dos cotidianos, dos espaços grupais – do que foi, do que é, do que pode vir a ser. Narrativas partilhadas em muitos dos espaços on-line criados e que foram expressas e acolhidas nas formas de textos, de imagens, de videodança, de leituras de textos teóricos, poéticos, literários para os outros. A ativação de um narrar que atualiza a presença no coletivo TOCCA, e as redes afetivas e materiais de cuidado se mostraram um importante dispositivo para prosseguir vivendo.

TOCCA: deslocamentos, movimentos e ocupações provisórias.

Nessa direção, ao longo dos dez anos de existência foram muitos os desenhos do programa e as histórias que acumulamos para contar. Das primeiras ocupações elegemos alguns lugares parceiros que foram pontos de expansão da rede de trabalho, e também portos onde paramos para pensar, devanear, cultivar, inventar, colher.

Foi com a parceria da Unidade de Proteção Integral – Fernando do Ó e Cras- Leste (2010-2015) que iniciamos o percurso com crianças e jovens em vulnerabilidade social, com ou sem deficiência, e sofrimento psíquico. Nesse período, conhecemos o município e tecemos uma importante rede de trocas com o coletivo Criorama(d (d) O coletivo Criorama era composto por artistas visuais e do desenho industrial, que se voltavam, principalmente, a produções ligadas ao desenho e às ilustrações em livros e em programas/jogos e na literatura, em especial com resgate de narrativas indígenas de uma comunidade da região. Atuavam em frentes de fomento ao acesso à cultura em projetos ligados à educação de crianças e jovens. ) – grupo de artistas egressos da universidade que nos acompanhou por um tempo. Trabalhamos com oficinas de desenhos, contação de histórias, teatro e máscaras, grupo de mulheres, acompanhamento terapêutico (AT) em parceria com o Cras-Leste nas buscas ativas porque conhecemos o território77 Angeli AAC. TOCCA: uma terapêutica Ocupacional [tese]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2014..

Escola Municipal Lorenzo Dalla Corte (2014-2016)

Mobilizados pelos encontros na Unidade de Proteção Integral (UPI) e no território do KM3, iniciamos um trabalho na comunidade escolar. Oficinas lúdicas e de contação de histórias, trabalhos com abordagens somáticas em apoio aos professores, oficinas de dança e de desenho com jovens constituíram um importante movimento no cotidiano da escola nas terças e quintas-feiras. A escola enfrentava muitas narrativas de violência intrafamiliar e na própria instituição, muita evasão de jovens decorrente de questões sociais graves. Abriram-se espaços de diálogo e de interferências no como se produziam as infâncias e as juventudes naquele lugar. O trabalho conjunto com o coletivo Criorama foi fundamental na abertura de espaços para sonhar, imaginar, expressar, partilhar desejos por meio de desenhos, pinturas e histórias em quadrinhos. As oficinas de contação de histórias, de outro lado, permitiram o brincar compartilhado entre as crianças e professores, assim como ver outros modos possíveis de ensinar e de aprender. Criaram-se, conjuntamente, estratégias de convivência e de aprendizagem que fizessem caber todas as diferenças, problematizando as maneiras como se lidava com os estudantes com deficiência e sofrimento psíquico no cotidiano escolar.

Associação de moradores do KM3 (2012-2018)

Com a parceria do líder comunitário, da coordenadora da creche comunitária e da coordenadora do grupo de mulheres (um coletivo que trabalhava com artesanato), entre os anos de 2012 e 2017, desenvolveu propostas lúdicas de contação de histórias, oficinas culturais de capoeira, grafite, desenho, fotografia, grupos de relaxamento e de conversa66 Castro ED, Inforsato EA, Buelau RM, Valent IU, Lima EA. Território e diversidade: trajetórias da Terapia Ocupacional em experiências de arte e cultura. Cad Bras Ter Ocup. 2016; 24(1):3-12.. E no ano de 2017, saraus e feira de trocas solidárias com o apoio da Escola Estadual Celina de Moraes. Foram instauradas uma rede de trocas, acompanhamentos terapêuticos, visitas domiciliares e busca ativa na equipe do Cras [-Leste]. Um trabalho intersetorial que articulou educação, saúde, assistência social e muitos profissionais. Criou-se nesse período a Rede Leste, reuniões que buscavam articular vários serviços e profissionais em torno do cuidado.

Nos rastros desse trajeto encontramos e fortalecemos uma Terapia Ocupacional que tem no cotidiano a base para a construção do raciocínio clinico: o modo como os sujeitos vivem e agem, como significam suas ações, como compartilham a vida e com quem, por onde circulam socialmente e como tecem suas redes de suporte, como têm acesso ou não aos bens de direitos e como isso se exprime na vida do dia a dia. Raciocínio esse que aponta para a leitura e o desenvolvimento de procedimentos terapêuticos ocupacionais. Em publicações recentes, Galheigo (2020) aponta uma produção em Terapia Ocupacional que defende, relata e estuda práticas emancipatórias, tendo “como uma de suas tendências, a organização da ação profissional desde, para e com o mundo da vida cotidiana”88 Galheigo SM. Terapia ocupacional, cotidiano e a tessitura da vida: aportes teórico-conceituais para a construção de perspectivas críticas e emancipatórias. Cad Bras Ter Ocup. 2020; 28(1):5-25. (p. 5).

Caminhando e o trabalho com acompanhamento terapêutico

Perambular por esses lugares com Caetano (...) Lambuzar de sorvete o rosto, as mãos e as roupas em um banco da avenida, despertar olhares de estranheza e incompreensão. Olhares que me alcançaram de formas violentas. Caetano comia e olhava a sua volta – olhava de volta, silenciosamente. Eu era atingida por cada um que passava como olhos de “que gente esquisita”. Falava e falava sem parar os devaneios que tenho com as casas da rua. Meio querendo amenizar o escândalo, meio querendo caber em algum lugar. Até que Caetano me olha nos olhos, abre sua boca quieta para um sorriso gentil que revela a serenidade e a força da sua presença ali. Seus olhos alegres mostram aos meus que a única incomodada na cena era eu. Silenciei. O corpo agitado foi aquietando-se também, os olhos aguaram lágrimas de emoção. Nesse instante soube que ser AT é acompanhar e ser acompanhada pelo outro. Ao facilitar sua presença nos lugares, ele também possibilita a minha presença. (...) Acompanhar processos de vida é também ver sua própria vida se processar no acompanhamento99 Nodari C. ANDANÇA: cartografando os processos de acompanhamento terapêutico no TOCCA [trabalho de conclusão de curso]. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria; 2020. (p. 48).

Procurou-se com o TOCCA inventar um lugar e um tempo no cotidiano da cidade, do bairro, do circuito cultural para abrir brechas ao aparecimento de outros modos de viver e de produzir cultura e saúde com a participação de todos os envolvidos. Incentivar e dar visibilidade à invenção de outras linguagens e modos de fazer que possam interferir na produção de subjetividade, permitindo a contaminação de uns com os outros pelas diferenças, assim como a instauração de deslocamentos em modos de existir, de fazer, de dizer de certo grupo social. Fazer problema no mundo, para que o mundo busque novas soluções que possam acolher a todos e todas em torno de uma ética que é a do respeito às diferenças. Nesse sentido, o trabalho com o acompanhamento terapêutico vem deslocando estudantes, terapeutas e acompanhados, assim como os espaços e as pessoas com as quais se encontram no ambiente da cidade. Abriram-se brechas para existências díspares nos cafés, no cinema, nas feiras públicas, nas escolas, na praça, nos parques e nas calçadas. Esse dispositivo se fez presente se dobrando e desdobrando nas variadas formas do programa, acompanhando pessoas, grupos, famílias. Uma clínica, eminentemente peripatética, foi cultivada com a ajuda, o estudo e o aprendizado desse modo de fazer nesses dez anos. Uma terapêutica ocupacional vem se inventando nas franjas de tais experiências.

Vagamos pela cidade, deslocamo-nos dos primeiros portos e encontramos outras paragens a partir de 2016; dessas, destacamos algumas experiências e parcerias que alimentaram a transdisciplinaridade e nos provocaram a deslocar o clínico e o artista de seus lugares comuns, desafiando a formação de estudantes de graduação, a pesquisa e a criação em arte. Fomentaram muitos espaços de conversas, longas reuniões e cafezinhos de corredor, incitaram a composição de grupos de estudos e práticas em educação somática de forma mais aprofundada para que pudéssemos buscar estar à altura do que nos acontecia, como nos ensina o filósofo Gilles Deleuze(e (e) Para maior aprofundamento vide o livro Lógica do Sentido de Gilles Deleuze. ).

Coral do Hospital de Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo

Com o apoio ao programa de um músico e de uma terapeuta ocupacional voluntária(f (f) O trabalho como voluntário no programa é um dispositivo presente na universidade que permite o acesso a seus espaços e recursos, bem como a certificação do trabalho no ensino, na pesquisa e na extensão. O TOCCA vem possibilitando a capacitação em serviço com apoio a diferentes profissionais por meio de reuniões e supervisões da equipe e de grupos de estudos. ), durante os anos de 2016 a 2018, foram realizadas ações voltadas à educação somática baseadas em diferentes técnicas, mobilizadas atividades que ativassem partilhas e cooperação entre os integrantes do grupo por meio de retiros, lanches coletivos, entre outras. Trabalhava-se possibilitando a fruição e a produção em música a diferentes pessoas nesse espaço, fomentando relações cooperativas, problematizando o lugar da arte no cotidiano e o ambiente hospitalar, já que o coral recebia como integrantes principalmente trabalhadores e usuários do hospital. Essa experiência se mostrou, especialmente, muito importante no ensino em Terapia Ocupacional, possibilitando aos estudantes a vivência em canto coral, as apresentações, o exercício de um fazer grupal, a horizontalidade no cuidado, a observação das aproximações e distâncias entre as Artes e a Saúde.

Associação Orquestrando Arte

Voltada ao ensino da Música, da Dança e do Teatro a crianças e jovens, a Associação Orquestrando Arte atende também a uma população heterogênea. Durante os anos de trabalho conjunto (2016 e 2019) integramos ações interdisciplinares com artistas, atendemos em grupos e individualmente, realizamos ATs, ajudamos no trabalho com as famílias nas apresentações artístico-culturais. Em especial, desenvolvemos habilidades conjuntas na elaboração de estratégias e tecnologias para acessibilidade cultural nas oficinas culturais para pessoas com deficiências e sofrimento psíquico grave.

Museu de Arte de Santa Maria

Entre os anos de 2017 e 2020, a equipe do TOCCA trabalhou no setor educativo promovendo fruição em arte de modo acessível a diversos públicos no espaço museológico; assim, fomentamos um grupo de estudos acerca da acessibilidade e da capacitação em audiodescrição com a equipe do museu, bem como trocamos experiências na elaboração de materiais acessíveis a públicos com deficiência nas exposições e atividades educativas. Observou-se um crescimento importante da equipe no que tange ao desenvolvimento transdisciplinar de saberes e de práticas voltadas à promoção do acesso aos bens culturais e à fruição em arte no espaço museológico.

Auxiliamos, ainda, na ampliação da visitação ao museu. Nesse sentido, cabe observar que atuar no território convoca há algum tempo os terapeutas ocupacionais à construção de outros dispositivos de cuidado que possam produzir novos modos de conviver1010 Ferigato S, Silva CR, Lourenço GF. A convivência e o com-viver como dispositivos para a Terapia Ocupacional. Cad Bras Ter Ocup. 2016; 24(4):849-57., mas também disponibilidade para construir artesanalmente o cuidado para inventar a clínica. Nesse sentido, se consolidam práticas em diferentes espaços públicos que não pertenciam apenas aos da saúde, tais como: parques, escolas de artes, centros de convivência, oficinas e casas de cultura, museus, praças, entre outros, que passam a ser habitados por trabalhos que buscam garantir direitos básicos, como os de acesso à saúde, à circulação e à participação social, à fruição e à produção cultural66 Castro ED, Inforsato EA, Buelau RM, Valent IU, Lima EA. Território e diversidade: trajetórias da Terapia Ocupacional em experiências de arte e cultura. Cad Bras Ter Ocup. 2016; 24(1):3-12..

Conselho Municipal de Políticas Culturais (2017 – 2020)

A equipe do programa também esteve, em 2017, à frente das discussões realizadas para a constituição do Conselho Municipal de Políticas Culturais, participando ativamente das discussões para a elaboração da Conferência Municipal de Cultura e estando presente ao longo de sua execução pela inserção nos segmentos de dança, teatro e cultura viva. Desde então, atuamos no segmento cultura viva, fomentando, entre outros, a constituição da rede na cidade e apoiando o conselheiro.

Na realização e na constituição das ações trabalha-se com uma metodologia qualitativa, em que todos e todas (equipe e usuários/as) cooperam na leitura da realidade e na análise dos acontecimentos. Foram e são variados espaços de encontro, conversas, reuniões, grupos de estudos, práticas de educação somática, visitas a museus e idas a espetáculos, supervisões. Uma costura recheada de delicadezas, gestos, falas, cuidados para “produzir o comum, tecendo comunidades heterogêneas”1111 Valent IU, Castro ED. Da diversidade ao comum: práticas artísticas, cidadania e políticas sociais. RELACult Rev Lat Am Estud Cultura Soc. 2017; 3 Esp:475. (p. 19).

Um corpo no mundo e o Experimentações Performáticas (2010-2021), aquela ação que contém pistas do que fomos vivendo em toda essa jornada até aqui, já que podemos encontrar germes de seu nascimento nas ações em grupo desenvolvidas na UPI. Tomou essa forma em 2016 como um grupo de mulheres no KM3, voltando-se a abordagens somáticas e movimento, produzindo cuidado e fortalecendo vínculos. Aos poucos, compreendeu-se a necessidade de migrar para outros espaços, de abrir para outras pessoas, de circular a coordenação, de experimentar linguagens, de poder não fazer nada junto. Contemplar, ter preguiça. Com ele ocupamos as ruas da cidade, museus, a universidade. Nele, acolhemos e trabalhamos radicalmente a transversalização. O grupo acontece e uma ação surge no encontro a cada vez; exercitamos um estado de prontidão, de jogo e espreita ao acontecimento. Enriquecemos a matéria do grupo com momentos de fruição em artes que vão das leituras de histórias e poesias às idas a espetáculos e exposições.

Trabalhar “com, para e na” produção de diferença nos processos de subjetivação fomenta a cooperação entre os seres e a invenção. Dessa maneira, a aliança com as artes em sua conexão com a vida faz expandir o potencial de criação humana, faz surgir uma relação mais generosa com os materiais do mundo que se tornam matéria expressiva para dançar, encenar, esculpir, pintar, mas também para inventar e transformar o cotidiano.

Por fim, concordamos com Valent e Castro que a

convivência e as trocas micropolíticas engendradas entre todos os participantes dos acontecimentos artísticos operam a produção de coletivos resistentes na constante reinvenção dos modos de se relacionar e de viver. Instauram, na cultura dominante, exercícios estéticos que transformam a existência na cidade, e aferem uma reformulação da percepção do outro e do mundo num compartilhamento sensível comum; o que também pressupõe aprendizados de relação com a diferença em muitos planos: de estar junto, de vivência das práticas, de construções transversais, de distribuição do saber e do poder1111 Valent IU, Castro ED. Da diversidade ao comum: práticas artísticas, cidadania e políticas sociais. RELACult Rev Lat Am Estud Cultura Soc. 2017; 3 Esp:475.. (p. 19)

Vagar, sonhar...

Ele tinha no rosto um sonho de ave extraviada.Falava em língua de ave e de criança1212 Barros M. Poeminha em língua de brincar. São Paulo: Companhia das Letrinhas; 2019.. (p. 7)

Na contramão da fragmentação do conhecimento, este programa de extensão procura construir práticas que desconstruam as tendências, as formas, os sentidos instituídos ao que seja arte e saúde, e ao que se imagina entre um campo e outro. Na experiência na comunidade acadêmica e não acadêmica procura-se construir conhecimento que misture os saberes populares e os saberes acadêmicos oriundos de diferentes campos. A transdisciplinaridade almejada está em consonância com o desejo por uma ação prática voltada à cooperação entre os seres vivos e o que denominamos natureza, entre as diversas formas de pensar e produzir pensamentos e ações, entre os variados modos de significar, sentir, dar valor a espaços, atividades na vida cotidiana. Afirma-se um desejo pela coexistência na diferença, pela produção do comum. Caminha-se pelo contágio entre as diferenças, pelos encontros entre corpos diversos imateriais e materiais sonhando um mundo outro, outra ética, estética e política. Ligados, como nos aponta Ailton Krenak,

à tradição de diferentes povos que têm no sonho um caminho de aprendizado, de autoconhecimento sobre a vida, e a aplicação desse conhecimento na sua interação com o mundo e com as outras pessoas1313 Krenak A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras; 2019.. (p. 52-3)

Nessa direção, aparecem algumas pistas para sonhar outros mundos possíveis, e vamos nos conectando teoricamente com estudiosos que vêm buscando fortalecer os saberes do sul(g (f) O conceito de sul implica a percepção dos sofrimentos originados pelo capitalismo, pelo colonialismo e pelo patriarcado, e o estudo das formas de resistência. Neste artigo, busca-se apresentar pistas do prosseguimento do trabalho e das conexões que vimos produzindo, assim, para aprofundamento acerca das epistemologias do sul14,15. ) (Santos1616 Santos BS. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. In: Santos BS, Meneses PB, organizadores. Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez Editora; 2010., Rolnik33 Rolnik S. Esferas da insurreição. São Paulo: N-1 edições; 2018., Pelbart1717 Pelbart PP. O avesso do niilismo: cartografias do esgotamento. São Paulo: n-1edições; 2013., Silva1818 Silva CR, Morrison R, Calle Y, Kronenberg F. Terapias Ocupacionais do Sul: demandas atuais a partir de uma perspectiva sócio-histórica. Rev Interinst Bras Ter Ocup. 2019; 3(2):172-8., Guajardo1919 Guajardo A. Uma terapia ocupacional crítica como posibilidad. In: Galassi A, Santos V, organizadores. Questões contemporâneas da terapia ocupacional na América do Sul. Curitiba: CRV; 2014., Galheigo88 Galheigo SM. Terapia ocupacional, cotidiano e a tessitura da vida: aportes teórico-conceituais para a construção de perspectivas críticas e emancipatórias. Cad Bras Ter Ocup. 2020; 28(1):5-25., entre outros). Interessando-nos, igualmente, observar e problematizar, no processo de subjetivação vigente, as forças dominantes relacionadas ao que Rolnik33 Rolnik S. Esferas da insurreição. São Paulo: N-1 edições; 2018. denomina “Inconsciente colonial-capitalístico” e as forças de resistência.

Para a autora, na sua versão contemporânea, o capitalismo financeiro e neoliberal opera um sequestro da força vital em seu “impulso germinador de mundos”33 Rolnik S. Esferas da insurreição. São Paulo: N-1 edições; 2018.. É no movimento mesmo da vida de reinventar coordenadas para si, nos processos de criação de si que se coopta a força vital; haveríamos então de fortalecer espaços de escuta, de lentificação, de cooperação, de relação outra entre os seres.

Nessa direção, o trabalho com a educação somática por meio da Técnica Alexander e da Anatomia Emocional(h (h) Criadas respectivamente por Frederick Matthias Alexander e Stanley Kelleman, configuram-se práticas de educação somática utilizadas no campo da Saúde e da Psicologia, bem como dentro das artes da cena20,21. ) tem se configurado um importante repertório para atravessar as durezas dos corpos e sua produção de subjetividade hoje. Para Favre

Uma clínica e uma educação que busquem lidar com a subjetividade somática na atualidade têm de ser compreendidas como uma micropolítica, ou seja, como um modo de sustentar territórios de criação de corpos singulares, de zonas dentro das grandes redes que sejam resistentes à aceleração e à sedução da sociedade do espetáculo e que, ao contrário do movimento geral, constituam a si mesmas como zonas de lentificação do tecido social2222 Favre R. Trabalhando pela biodiversidade subjetiva. Cad Subj. 2010; 1:108-23.. (p. 123)

O trabalho sobre si mesmo em conexão com o outro tem se mostrado um importante modo de fortalecer vínculos entre sujeitos e reverter situações de violência por questões sociais, étnicas, de orientação sexual, entre outras, por se constituir em um importante espaço de escuta e acolhimento de quem se é e de quem o outro é. Compartilhar saberes fortalece trocas reais, vínculos pautados no respeito e construções coletivas para os problemas individuais ou de grupos. As abordagens somáticas ainda permitem a emergência dos corpos singulares e suas condições de vida. E questões oriundas da deficiência, do sofrimento psíquico grave, de situações sociais graves são trabalhadas no “desmanchamento” de sua condição estigmatizante em favor da singularidade. Aprende-se conjuntamente sobre diferentes modos de viver, de sentir e perceber o mundo.

Grupos, duplas, equipes são estratégias para se partilhar, para se convocar uma implicação com o coletivo, consigo e o outro em relação. A pergunta-chave das ações passa a ser “Como instaurar espaços de encontro onde seja possível a criação de novos lugares, ou seja, a produção de subjetividades a partir da diferença?”2323 Valent IU, Castro ED. Por entre as linhas dos dispositivos: desafios das práticas contemporâneas na interface terapia ocupacional e cultura. Cad Bras Ter Ocup. 2016; 24(4):837-48. (p. 844).

Desse modo, vimos o programa como um espaço político e poético de enfrentamento dos modos de viver no contemporâneo, aliando nessa luta diferentes saberes e práticas. Tem sido um lugar de experimentação, de aprendizagem, de ensino e partilhas de conhecimentos e formas de viver. Um lugar de inventar, de não fazer nada, de sonhar junto.

Isso é língua de Raiz – continuou É língua de Faz de conta É Língua de brincar (...) Logo entrou a Dona Lógica da Razão(...) Isso é Língua de brincar, é coisa nada(...) O menino sentenciou: Se o Nada desaparecer a poesia acaba1212 Barros M. Poeminha em língua de brincar. São Paulo: Companhia das Letrinhas; 2019.. (p. 23-30)
  • (b)
    “Fundamentalmente, nossas principais referências estéticas, éticas e políticas remetem à chamada geração pós-moderna norte-americana, formada por artistas como Yvonne Rainer, Trisha Brown, Steve Paxton, Deborah Hay, Robert Rauschenberg, entre outros, que se aglutinaram formando o que ficou conhecido como movimento da Judson Church”22 Angeli AAC, Gravina H. Corpo-em-ato: experimentações performáticas de si e do mundo. In: Silva C. Atividades humanas e terapia ocupacional. São Paulo: Hucitec; 2019.. (p. 200)
  • (c)
    A autora refere-se a uma mudança de concepção em torno de reabilitar, na qual se desloca o foco em relação à adequação do sujeito a um padrão de normalidade para produzir algum pertencimento social e restauração de capacidades intelectuais e funcionais, para uma nova noção de reabilitação que pressupõe que a diferença desse cidadão deve ser acolhida e incluída no corpo social. Assim, o território, a comunidade, as instituições devem ser reabilitadas.
  • (d)
    O coletivo Criorama era composto por artistas visuais e do desenho industrial, que se voltavam, principalmente, a produções ligadas ao desenho e às ilustrações em livros e em programas/jogos e na literatura, em especial com resgate de narrativas indígenas de uma comunidade da região. Atuavam em frentes de fomento ao acesso à cultura em projetos ligados à educação de crianças e jovens.
  • (e)
    Para maior aprofundamento vide o livro Lógica do Sentido de Gilles Deleuze.
  • (f)
    O trabalho como voluntário no programa é um dispositivo presente na universidade que permite o acesso a seus espaços e recursos, bem como a certificação do trabalho no ensino, na pesquisa e na extensão. O TOCCA vem possibilitando a capacitação em serviço com apoio a diferentes profissionais por meio de reuniões e supervisões da equipe e de grupos de estudos.
  • (f)
    O conceito de sul implica a percepção dos sofrimentos originados pelo capitalismo, pelo colonialismo e pelo patriarcado, e o estudo das formas de resistência. Neste artigo, busca-se apresentar pistas do prosseguimento do trabalho e das conexões que vimos produzindo, assim, para aprofundamento acerca das epistemologias do sul1414 Santos BS, Meneses PB. Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez Editora; 2010.,1515 Simó-Algado S, Guajardo-Córdoba A, Corrêa-Oliver F, Maria-Galheigo S, García-Ruiz S. Terapias Ocupacionales desde el Sur. Derechos humanos, ciudadanía y participación. Santiago: Editorial USACH; 2016..
  • (h)
    Criadas respectivamente por Frederick Matthias Alexander e Stanley Kelleman, configuram-se práticas de educação somática utilizadas no campo da Saúde e da Psicologia, bem como dentro das artes da cena2020 Kelleman S. Anatomia emocional. São Paulo: Summus; 1992.,2121 Alexander FM. O uso de si mesmo. São Paulo: Martins Fontes; 2010..

Agradecimentos

Este texto é dedicado a todos os usuários e parceiros do TOCCA nesses anos, a todas as terapeutas ocupacionais voluntárias, artistas e demais profissionais que compuseram essa rede. Em especial, ao Tito, que tanto nos ensinou com suas experiências.

  • Angeli AAC. Vagar e ocupar: dez anos de narrativas no TOCCA – saberes e práticas transdisciplinares entre as artes e a saúde. Interface (Botucatu). 2021; 25: e210218 https://doi.org/10.1590/interface.210218
  • Financiamento

    Este trabalho de extensão contou por vários anos com o apoio de bolsistas por meio do programa de Financiamento a Extensão do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Maria. (Fiex-CCS.)

Referências

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  • 2
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Editado por

Editora
Elizabeth Maria Freire de Araújo Lima
Editora associada
Flavia Liberman

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Nov 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    05 Abr 2021
  • Aceito
    16 Ago 2021
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