| ”Said you’re gonna shoot me down” |
Be going to + verbo (Futuro com “going to”) Como se constrói: Sujeito + verbo to be no presente (am / is / are) + going to + verbo principal (forma base). Usos: Utilizado para indicar intenções ou decisões já tomadas antes do momento da fala Expressa um plano ou propósito já definido Pode indicar uma ação iminente ou altamente provável com base em evidências presentes Tempo verbal: Will + verbo (Futuro com “will”) Como se constrói: Sujeito + will + verbo principal (forma base). Na negativa: will not (won’t). Na interrogativa: Inversão com will (Will + sujeito + verbo base). Usos: Utilizado para fazer previsões sobre o futuro Expressa decisões tomadas no momento da fala Empregado para promessas, ofertas, recusas, avisos ou situações futuras não planejadas Frequentemente usado com expressões de opinião ou incerteza, como I think..., probably, maybe Observação: Não se usa “will” para eventos já planejados ou decididos anteriormente – nesses casos, usa-se “going to” ou o presente contínuo com valor futuro. |
O uso de “gonna” expõe a agência ativa do agressor, explicitando que não se trata de um ato impulsivo (como na expressão comum “crime passional”), mas um plano anunciado, típico de violência de gênero, tais como os feminicídios frequentemente precedidos por ameaças e medidas protetivas que falham ou não são emitidas. A fala reportada (”said”) revela que o agressor instrumentaliza a linguagem para exercer domínio, alinhando-se ao conceito de “atos de fala violentos”. Enquanto “going to” funciona como um ato de poder: não apenas descreve, mas instaura a possibilidade da violência. Há uma ironia quando o eu-lírico desloca a ameaça para o passado (”said”), sugerindo que a promessa pode falhar – uma brecha para resistência. O “going to”, porém, mantém a sombra da concretização, tensionando a narrativa. |
| ”While the whole world sings, sing it like a song” |
Present Simple (Presente Simples) Como se constrói: Utiliza-se o verbo na forma base para todas as pessoas, exceto na terceira pessoa do singular (he, she, it), em que se acrescenta -s ou -es ao verbo. Usos: Expressar fatos gerais ou verdades universais Indicar ações habituais ou que ocorrem com frequência Descrever rotinas diárias Apontar situações permanentes ou características duradouras Relatar informações fixas, como preços, horários ou leis naturais Utilizado também com verbos que expressam estado, como gostar, saber, querer etc. |
A escolha do presente simples (“sings”) inscreve a violência em uma moldura de permanência e repetição. Em vez de tratar o assassinato de mulheres como evento isolado, excepcional, o verso sugere que essa violência coexiste com a vida cotidiana, no uso do tempo verbal que expressa ações habituais ou contínuas, e associa a tragédia à indiferença: enquanto o mundo canta, ela morre. Esse presente generalizador escancara o grau de naturalização da violência de gênero – uma espécie de trilha sonora do cotidiano, diante da qual a sociedade canta, consome, esquece, “como se” não houvesse nada de errado. A aparente normalidade e leveza do verbo “sing” atua como metáfora da espetacularização da violência: assassinatos de mulheres se tornam paisagem, ruído de fundo e entretenimento mórbido. “Like”, portanto, denuncia que o “canto do mundo” não é inocente, uma vez que é ele que permite perceber que sim há algo de muito errado ao cantar a naturalização e banalização da violência. Ao expor essa lógica, o enunciado convoca o ouvinte a romper com a indiferença, desnaturalizando o que parece inevitável. A linguagem, aqui, age politicamente. A escolha do tempo verbal, ao invés de simplesmente situar ações, constrói uma crítica à cumplicidade coletiva. O mundo não apenas canta apesar da violência – canta com ela, ao seu redor, enquanto ela acontece. E isso denuncia o pacto de silêncio que permite sua perpetuação. |
| ”He shot her down... put her body in the river” |
Past Simple (passado simples) Como se constrói: Para verbos regulares: verbo + -ed Para verbos irregulares: formas específicas (conforme tabela de verbos irregulares) Estrutura afirmativa: sujeito + verbo no passado Usos: Expressar ações concluídas no passado, geralmente associadas a um tempo definido (ontem, no último ano, em 2011, etc.). Pode descrever sequências de eventos passados ou hábitos e situações que não ocorrem mais. É comum em relatos de fatos, histórias e experiências passadas. Em contraste com a voz passiva, que comumente figura manchetes de feminicídio: Voz passiva Como se constrói: be + particípio passado do verbo principal (a forma de “be” varia conforme o tempo verbal e o sujeito: am/is/are, was/were, etc.) Usos: A voz passiva é utilizada quando o foco da frase está na ação ou em seu resultado, e não em quem a realiza. É comum em contextos formais, acadêmicos ou informativos, principalmente quando o agente da ação é desconhecido, irrelevante ou implícito. Os exemplos mais recorrentes envolvem objetos, instituições ou fenômenos naturais que sofrem uma ação, e não pessoas. |
O uso do passado simples nesta passagem (“shot”, “put”) constrói a narrativa de um fato consumado, sem espaço para dúvida ou reversão. A ação é crua e afirmativa: o agressor é explicitamente o sujeito da frase – uma escolha que contrasta frontalmente com a estrutura passiva frequentemente adotada em manchetes jornalísticas de feminicídio, como “Mulher é morta” ou “Corpo é encontrado”. Na voz passiva, o foco recai sobre o evento ou seu resultado, relegando a mulher à posição de objeto sobre o qual se age, sem que se nomeie a autoria, ou se dê indícios sobre o corpo que performa a violência – uma estratégia discursiva que contribui para o apagamento da opressão como ação intencional. Ao optar pela voz ativa, a canção rompe com essa lógica: explicita o agente da ação e restitui à vítima sua condição de sujeito, ainda que tragicamente. Nomear o agressor e evidenciar sua agência é um gesto político de desnaturalização da violência. A escolha por essa estrutura verbal, portanto, não apenas denuncia a violência, mas também tensiona a gramática da impunidade que sustenta o ciclo do feminicídio. |
| ”We’ve gotta stop it somehow” |
Have (got) to + verbo (Expressa obrigação ou necessidade forte, equivalente a must) Como se constrói: Sujeito + have (got) to + verbo principal (forma base). Contração comum: “I’ve gotta” (informal). Usos: Obrigação externa: Algo imposto por regras, leis ou circunstâncias. Obrigação interna ou pessoal: Urgência percebida pelo falante, motivada por responsabilidade ou necessidade. Diferença entre have to e must: Have to é usado para obrigações mais objetivas (fatos, regras), enquanto must é usado para obrigações com base em uma opinião pessoal. |
A expressão “we’ve gotta” (forma contraída e informal de “we have got to”) indica uma obrigação urgente, inadiável. O tempo verbal e a construção modal conferem à frase um tom de apelo coletivo: não se trata de uma possibilidade ou desejo, mas de uma necessidade/urgência. A forma enfática destaca o caráter inescapável da responsabilidade diante da violência – algo que “tem de” ser interrompido. O verso mobiliza uma convocação política. O uso do pronome “we” desloca a responsabilidade do agressor individual para um espectro mais amplo, interpelando a sociedade como um todo. Não é “ela” quem precisa escapar: além do “ele” que precisa parar de matar, somos nós que precisamos impedir a continuação disso – e esse “nós” envolve instituições, sujeitos espectadores, comunidades afetivas e corpos normatizados que não mais podem ser cúmplices da repetição da violência de gênero. A construção gramatical insere a urgência no presente: o problema é real e recorrente. Nesse sentido, o “we’ve gotta” atua como um contraponto ético ao “he shot her down”. Se este último apresenta a concretização da ameaça, aquele oferece uma fissura possível – um instante de agência coletiva que, se mobilizado, pode deter a repetição do ciclo. O “somehow” – ainda que indefinido – reforça o caráter imperativo da ação: mesmo que ainda não saibamos como, é preciso agir. |