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Efeitos do crédito para o desenvolvimento econômico das regiões geográficas imediatas de Mato Grosso do Sul

Effects of credit on the economic development of the immediate geographic regions of Mato Grosso do Sul

Efectos del crédito en el desarrollo económico de las regiones geográficas inmediatas de Mato Grosso do Sul

Resumo

Este estudo tem o objetivo de analisar o impacto dos serviços bancários e da estrutura do sistema financeiro para o desenvolvimento econômico das Regiões Geográficas Imediatas (RGI) de Mato do Grosso Sul (MS), no período entre 2002-2015. Analisaram-se a economia e o setor de crédito das doze RGI com dados em painel, e foram elaborados dois modelos quantitativos para examinar: o impacto dos produtos financeiros no desenvolvimento econômico; e a influência da estrutura do sistema financeiro como suporte para este desenvolvimento. Os resultados demonstraram que os efeitos do crédito são inconsistentes para o PIB per capita das regiões imediatas de MS.

Palavras-chave
serviços bancários; sistema financeiro; PIB per capita

Abstract

This study aims to analyze the impact of banking services and the structure of the financial system on the economic development of the Immediate Geographic Regions (RGI) of Mato Grosso do Sul (MS) from 2002-2015. The economy and credit sector of the twelve RGIs were analyzed with panel data and two quantitative models were developed to examine the impact of financial products on economic development and the influence of the financial system structure as a support for this development. The results showed that the effects of credit are inconsistent with the per capita GDP in the immediate regions of MS.

Keywords
banking services; financial system; GDP per capita

Resumen

Este estudio tiene como objetivo analizar el impacto de los servicios bancarios y la estructura del sistema financiero para el desarrollo económico de las Regiones Geográficas Inmediatas (RGI) de Mato do Grosso Sul (MS), en el período comprendido entre 2002-2015. Se analizaron la economía y el sector crediticio de las doce RGI con datos de panel, y se desarrollaron dos modelos cuantitativos para examinar: el impacto de los productos financieros en el desarrollo económico; y la influencia de la estructura del sistema financiero como soporte de este desarrollo. Los resultados mostraron que los efectos del crédito son inconsistentes para el PIB per cápita en las regiones inmediatas de los MS.

Palabras clave
servicios bancarios; sistema financiero; PIB per cápita

1

INTRODUção

O efeito do crédito para o desenvolvimento econômico é um tema amplamente discutido na literatura, com vários modelos e teorias que buscam compreender todo o processo. O austríaco Joseph A. Schumpeter (1985)SCHUMPETER, Joseph. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1985. foi um dos primeiros economistas a destacar o impacto positivo, afirmando que é improvável uma economia alcançar o desenvolvimento sem ter a influência do crédito.

A fim de testar a hipótese de desenvolvimento defendida pela visão schumpeteriana, King e Levine (1993)KING, Robert; LEVINE, Ross. Finance, entrepreneurship, and growth: theory and evidence. Journal of Monetary Economics, North-Holland, v. 32, n. 3, p. 513-42, 1993. investigaram a relação entre crédito e crescimento econômico para diversos países. Como conclusão, os autores demonstraram empiricamente que o sistema financeiro teve influência positiva nas variáveis estudadas durante o período de 1960-1989. Em uma pesquisa semelhante, elaborada por Arestis e Demetriades (1997)ARESTIS, Philip; DEMETRIADES, Panicos. Financial development and economic growth: assessing the evidence. The Economic Journal, Oxford, v. 107, n. 442, p. 783-99, 1997., os indicadores analisados não foram significativos.

Diante disso, este estudo busca contribuir para a discussão ao analisar os efeitos do crédito e da estrutura do sistema bancário no desenvolvimento econômico das Regiões Geográficas Imediatas (RGI)3 3 Para incorporar as transformações econômicas, políticas e sociais ocorridas no Brasil desde a década de 1990, o IBGE adotou uma nova divisão regional, em 2017. As microrregiões passaram a ser chamadas de Regiões Geográficas Imediatas e foram atualizadas as conexões entre os municípios brasileiros. de Mato Grosso do Sul (MS). A pesquisa inova ao investigar uma unidade federativa pouco examinada pelo mainstream4 4 O termo “Mainstream” representa as teorias e os objetos de estudos que são comumente analisados pela literatura. . O trabalho tem o objetivo de testar a hipótese positiva entre o crédito e o desenvolvimento econômico para as regiões imediatas de MS.

A pesquisa está estruturada em seis partes: introdução, revisão de literatura, metodologia, regiões geográficas imediatas de MS, análises dos resultados e conclusão. Este tópico introdutório apresenta o problema que pretende ser estudado, os objetivos e a justificativa do estudo.

No item a seguir, serão discutidas as contribuições da literatura. Na terceira parte, são apresentados os métodos e os dados que serão desenvolvidos ao longo do trabalho. Em seguida, o quarto tópico destaca a economia e o sistema financeiro das regiões geográficas de Mato Grosso do Sul. Na quinta unidade, seguem-se as evidências e considerações sobre os dois modelos quantitativos elaborados pela pesquisa. Por fim, a conclusão exibe os resultados do estudo e as sugestões para as investigações futuras sobre o tema.

2 REVISÃO DE LITERATURA

Um dos primeiros pensadores econômicos a ressaltar o efeito do crédito para o desenvolvimento é o austríaco Joseph A. Schumpeter. Em sua obra intitulada “The Theory of Economic Development”, de 1911, destaca três polos fundamentais para a expansão do processo: a inovação, o empreendimento e o crédito. Para que a figura do empresário inovador se estabeleça e seja responsável pelas mudanças na economia (por meio das inovações), é necessário que ele tenha à disposição fatores que favoreçam a sua natureza empreendedora. Surge, assim, o sistema financeiro para solucionar qualquer entrave.

Segundo Hayek (1933)HAYEK, Friedrich. Monetary theory and the trade cycle. New York: Harcourt, Brace & Company, 1933., a expansão creditícia resulta em um período de crise, dado que os agentes serão influenciados pelas falsas expectativas criadas pelo processo de crescimento quimérico. A injeção monetária levará a taxa de juros de mercado a um patamar menor do que o seu patamar natural, os empresários serão propensos a produzir e os trabalhadores aumentarão o seu nível de renda.

Isso resultará em um desequilíbrio nos setores da economia: tanto os bens de capital como os bens de consumo terão seus preços ampliados em virtude da escassez de recursos. Os agentes econômicos criarão falsas expectativas, não estando preparados para o processo inflacionário que será gerado.

Por outro lado, Goldsmith (1959)GOLDSMITH, Raymond. The comparative study of economic growth and structure. Cambridge: National Bureau of Economic Research, 1959., ao examinar a relação entre desenvolvimento financeiro e crescimento econômico para 35 países, durante o período de 1980 a 1963, demonstrou a existência de uma relação de causalidade entre as duas variáveis e concluiu que um sistema financeiro avançado explica o nível de produção maior dos países desenvolvidos.

Outro estudo relevante do mesmo período foi elaborado por Ronald I. McKinnon. Em seu livro “Money and Capital in Economic Development”, de 1973, como registra Rostow (1974)ROSTOW, Walt Whitman. Etapas do Desenvolvimento Econômico. 5. ed. ampliada. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1974., McKinnon utilizou o exemplo das políticas econômicas adotadas pela Coreia do Sul, a partir de 1964, para defender a utilização do mercado de crédito nos países que buscam o desenvolvimento.

Ao analisar a base teórica vigente sobre desenvolvimento financeiro e econômico, Pagano (1993)PAGANO, Marco. Financial markets and growth: an overview. European Economic Review, Amsterdã, v. 37, n. 3, p. 613-22, 1993. aponta alguns problemas não resolvidos nos estudos empíricos que correlacionam setor financeiro e crescimento, especialmente nos trabalhos de Goldsmith (1959)GOLDSMITH, Raymond. The comparative study of economic growth and structure. Cambridge: National Bureau of Economic Research, 1959., McKinnon (1973)MCKINNON, Ronald. Money and capital in economic development. Washington: Brookings Institutions, 1973. e Shaw (1973)SHAW, Edward Stone. Financial deepening in economic development. New York: Oxford University, 1973.. Segundo ele, carecem de fundamentos analíticos e são voltados exclusivamente para a taxa de crescimento.

Pagano (1993)PAGANO, Marco. Financial markets and growth: an overview. European Economic Review, Amsterdã, v. 37, n. 3, p. 613-22, 1993. afirma ainda que o impacto do desenvolvimento financeiro muda de acordo com o mercado analisado. Enquanto nos empréstimos bancários as empresas tendem a influenciar positivamente o crescimento, a concessão de seguros domésticos pode não obter o mesmo resultado. Ademais, sugere que as novas pesquisas sejam mais específicas, desagregando o setor financeiro em mercados.

Um dos primeiros trabalhos a testar a hipótese shumpeteriana foi elaborado por King e Levine (1993)KING, Robert; LEVINE, Ross. Finance, entrepreneurship, and growth: theory and evidence. Journal of Monetary Economics, North-Holland, v. 32, n. 3, p. 513-42, 1993.. Os pesquisadores demonstraram, de forma empírica, que a teoria elaborada por Schumpeter sobre desenvolvimento e crédito poderia estar correta. O estudo dos autores influenciou diversas outras pesquisas contemporâneas sobre o tema.

Com o propósito de examinar a atuação dos bancos comerciais na Espanha, Rodríguez-Fuentes (1996)RODRÍGUEZ-FUENTES, Carlos Javier. Credit availability and regional development. In: EUROPEAN REGIONAL SCIENCE ASSOCIATION, 36., 26 ago. 1996, Zurich. Anais [...]. Zurich: ETH, 1996. define que o sistema bancário não é restrito apenas pelas intermediações financeiras, mas é responsável pela criação e pelo fornecimento de crédito. O autor defende a tese de que os fatores financeiros desempenham uma função substancial na economia, influenciando diretamente no processo de desenvolvimento regional.

Arestis e Demetriades (1997)ARESTIS, Philip; DEMETRIADES, Panicos. Financial development and economic growth: assessing the evidence. The Economic Journal, Oxford, v. 107, n. 442, p. 783-99, 1997. ofereceram uma nova evidência aos estudos sobre o efeito do desenvolvimento financeiro no crescimento econômico. Os autores partiram de dois objetivos: o primeiro procurou entender a dimensão em que o sistema financeiro afeta o processo de crescimento, enquanto o segundo seria averiguar se a liberalização financeira favorece o financiamento e o crescimento.

O resultado do trabalho de Arestis e Demetriades (1997)ARESTIS, Philip; DEMETRIADES, Panicos. Financial development and economic growth: assessing the evidence. The Economic Journal, Oxford, v. 107, n. 442, p. 783-99, 1997. sugere que não existe relação entre as variáveis analisadas. Os pesquisadores destacaram a estrutura simplificada dos valores obtidos: cada país possui uma infraestrutura financeira específica, um grau de confiança distinto e um regime político heterogêneo. Por fim, são sugeridos novos estudos correlacionando bolsas de valores e crescimento econômico.

Segundo Tsuru (2000)TSURU, Kotaro. Finance and growth: some theoretical considerations and a review of the empirical literature. OECD Economics Department Working Papers, Paris, n. 228, p. 1-53, 2000., dados os problemas de causalidade encontrados no trabalho de King e Levine (1993)KING, Robert; LEVINE, Ross. Finance, entrepreneurship, and growth: theory and evidence. Journal of Monetary Economics, North-Holland, v. 32, n. 3, p. 513-42, 1993. e de outras pesquisas que analisaram a relação entre crédito e crescimento, é necessário incluir (na regressão) indicadores que capturem os efeitos exógenos do desenvolvimento financeiro e que não tenham ligações com o crescimento econômico.

2.2 Estudos aplicados ao Brasil

Segundo Gonçalves (1980)GONÇALVES, Antônio C. P. Crescimento econômico e setor financeiro no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro, v. 10, n. 3, p. 755-90, dez. 1980., em um dos primeiros estudos a relacionar sistema financeiro e desenvolvimento para a economia brasileira, a atuação do governo, por meio de políticas creditícias, provoca uma maior emissão de moeda e tem como tendência expandir o desequilíbrio nas contas nacionais do país.

Adotando o teste de causalidade elaborado por Matos (2002)MATOS, Orlando Carneiro. Desenvolvimento do sistema financeiro e crescimento econômico no Brasil: evidências de causalidade. Trabalhos para Discussão do BACEN, Brasília, v. 1, n. 49, p. 1-64, set. 2002., Gonçalves (1980)GONÇALVES, Antônio C. P. Crescimento econômico e setor financeiro no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro, v. 10, n. 3, p. 755-90, dez. 1980. verificou a existência de uma influência direta e significativa do desenvolvimento financeiro no crescimento econômico para a economia brasileira, entre 1947-2000. Os resultados fornecem alicerce à hipótese de que o setor financeiro exerce efeito positivo sobre a expansão econômica. O autor destaca a importância de uma credibilidade institucional.

Com o objetivo de analisar a contribuição do sistema financeiro para o crescimento econômico, Pires (2005)PIRES, Manoel Carlos de Castro. Crédito e crescimento econômico: evidências para os municípios brasileiros. In: ENCONTRO DE ECONOMIA DA REGIÃO SUL – ANPEC SUL, 2., 24 out. 2005, Porto Alegre. Anais [...]. Niterói: ANPEC, 2015. demonstrou que o mercado financeiro pode favorecer a expansão econômica. No entanto o autor apresentou a ressalva de que a Região Sudeste interferiu nos resultados empíricos das demais regiões, além de ressaltar como as prefeituras mais pobres não apresentaram relação entre crédito e crescimento.

Tomazzia et al. (2013)TOMAZZIA, Eduardo Cardeal; JESUS, Cleiton Silva de; GONÇALVES, Flávio de Oliveira. Dimensões do mercado de crédito e crescimento econômico municipal no Brasil. Revista Nexos Econômicos, Salvador, v. 7, n. 2, p .72- 98, dez. 2013. corroboram com as evidências empíricas que destacam a existência de causalidade entre crescimento e crédito. Ao fazerem o teste para municípios, micro e mesorregiões, observaram que as duas últimas são mais impactadas pelo volume creditício. Os autores inovaram ao adicionar, empiricamente, uma nova visão sobre as variáveis de preferência de liquidez do público e dos bancos.

Em uma pesquisa semelhante, Misso, Jayme Jr. e Oliveira (2015)MISSO, Fabrício José; JAYME JR., Frederico Gonzaga; OLIVEIRA, Ana Maria Hermeto Camilo. Desenvolvimento financeiro e crescimento econômico: teoria e evidência empírica para as unidades federativas do Brasil (1995-2004). Análise Econômica, Porto Alegre, ano 33, n. 63, p. 191-227, mar. 2015. mensuram o tamanho, o nível e a eficiência do setor financeiro. Os resultados demonstram causalidade entre crédito e crescimento. No entanto as políticas públicas que favoreceram o avanço financeiro devem ter restrições para não prejudicar as regiões menos desenvolvidas.

Finalmente, Gama, Bastos e Hermeto (2016)GAMA, Fábio Júnior Clemente; BASTOS, Suzana Quinet Andrade; HERMETO, Ana Maria. Moeda e crescimento: uma análise para os municípios brasileiros (2000 a 2010). Nova Economia, Belo Horizonte, v. 26, n. 2, p. 515-51, 2016. analisaram a relação moeda e crescimento sob a perspectiva pós-keynesiana para os municípios brasileiros entre 2000-2010. As evidências empíricas confirmaram a tese dominante da influência relevante, e robusta, do setor financeiro na expansão econômica. Os autores sugerem uma atuação eficiente do estado, com a finalidade de reduzir as desigualdades regionais.

3 METODOLOGIA

Os dados do estudo foram obtidos por meio da Estatística Bancária Mensal por município (ESTBAN) elaborada pelo Banco Central do Brasil (BACEN), do Banco de Dados do Estado de Mato Grosso do Sul (BDE/MS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Os valores retirados da ESTBAN foram agregados pela média anual, e o trabalho vai analisar 79 municípios de MS entre 2002-2015, separados em Regiões Geográficas Imediatas (RGI).

O estudo utilizará dois modelos quantitativos para analisar a influência do crédito no desenvolvimento econômico das RGI sul-mato-grossenses, e eles serão apresentados detalhadamente a seguir.

3.1 Modelo 1: Modelo de Crédito

O primeiro método tem como finalidade examinar o impacto dos produtos financeiros no desenvolvimento econômico. De acordo com Clemente e Kühl (2006)CLEMENTE, A.; KÜHL, M.R. Intermediação Financeira no Brasil: Influencia da Taxa de Captação sobre a Taxa de Aplicação. In: Congresso USP de Controladoria e Contabilidade, 6., 2006., a função dos agentes financeiros, de forma geral, está relacionada à captação de recursos junto aos agentes econômicos, mediante uma taxa, e ao repasse, o qual adota outro custo. Contribuindo com essa definição, Gama, Bastos e Hermeto (2016)GAMA, Fábio Júnior Clemente; BASTOS, Suzana Quinet Andrade; HERMETO, Ana Maria. Moeda e crescimento: uma análise para os municípios brasileiros (2000 a 2010). Nova Economia, Belo Horizonte, v. 26, n. 2, p. 515-51, 2016. afirmam que as taxas de juros indicam as tomadas de decisões das agências bancárias dos municípios.

Dada a revisão empírica, as variáveis explicativas tratadas como serviços bancários serão: a) poupança (poup) − relação entre saque e depósitos bancários; b) depósitos à vista (dav) − depósitos disponíveis aos agentes a qualquer momento; c) depósitos a prazo (dap) − papéis emitidos pelos bancos com valores vinculados, CDB e RDB; e d) operações de crédito (opc) − oferta de créditos bancários. O Produto Interno Bruto per capita (pibpc) será a variável dependente da regressão analisada, com o intuito de medir o desenvolvimento econômico das RGI.

Os dados foram deflacionados por meio do Índice de Preço ao Consumidor Amplo Brasil (IPCA)/IBGE, tendo como base o ano de 2015. Além disso, os valores foram utilizados na forma de logaritmo linear. O modelo é representado da seguinte forma:

(1)ln(pibpcit)=β0+β1ln(poupit)+β2ln(davit)+β3ln(dapit)+β4ln(opcit)+μit

Em que βi = parâmetros da regressão; μ = termo de erro; i = região geográfica imediata analisada, i=1,...,12; t = ano, t=2002,...,2015; e, ln = logaritmo natural.

3.2 Modelo 2: Modelo do Sistema Financeiro

A vantagem deste modelo está no fato de mensurar a influência do setor financeiro sobre o desenvolvimento econômico, conforme as críticas de Tsuru (2000)TSURU, Kotaro. Finance and growth: some theoretical considerations and a review of the empirical literature. OECD Economics Department Working Papers, Paris, n. 228, p. 1-53, 2000. e King e Levine (1993)KING, Robert; LEVINE, Ross. Finance, entrepreneurship, and growth: theory and evidence. Journal of Monetary Economics, North-Holland, v. 32, n. 3, p. 513-42, 1993.. Segundo o primeiro autor, as pesquisas, em geral, analisam apenas o impacto das intermediações financeiras e esquecem-se de investigar como se apresentam os agregados financeiros.

A fim de mensurar as varáveis relacionadas ao sistema financeiro, o método usará como base os estudos de Tomazzia, Jesus e Gonçalves (2013), Misso, Jayme Jr e Oliveira (2015) e Gama, Bastos e Hermeto (2016)GAMA, Fábio Júnior Clemente; BASTOS, Suzana Quinet Andrade; HERMETO, Ana Maria. Moeda e crescimento: uma análise para os municípios brasileiros (2000 a 2010). Nova Economia, Belo Horizonte, v. 26, n. 2, p. 515-51, 2016.. O setor foi estratificado pelos autores com base em três medidas: tamanho do mercado, atividade e eficiência bancária, com o intuito de medir o grau de seu desenvolvimento.

O modelo adotado terá o pibpc como variável dependente, e as variáveis independentes serão: i) o total de depósito (depósitos à vista mais depósitos a prazo) dividido pelo Produto Interno Bruto (PIB), para medir o tamanho do mercado bancário (tmb) − quanto maior a soma dos depósitos do sistema bancário das regiões geográficas imediatas em relação ao seu produto, maior será o tamanho do mercado; ii) operações de crédito sobre PIB, no sentido de mensurar a atividade bancária (atb) − o setor bancário da RGI terá uma maior atividade, dado um quociente maior entre a oferta de crédito e o valor do seu PIB; e, iii) o quociente entre as operações de crédito e o total de depósito, com o intuito de examinar a eficiência dos bancos (efb) − à medida que o volume de crédito cedido pelos bancos é maior do que a soma dos depósitos à vista e a prazo, mais eficiente será o setor bancário da região imediata.

Por fim, adicionando a perspectiva keynesiana para uma melhor análise sobre os fatores exógenos do sistema financeiro, serão utilizados indicadores correspondentes à preferência pela liquidez dos bancos (PLB) e à preferência pela liquidez do público (PLP). A PLB e a PLP serão obtidas pela relação entre depósitos à vista sobre operações de crédito e por meio dos depósitos à vista divididos pelo total de depósitos, respectivamente. Os índices foram elaborados por Crocco et al. (2011)CROCCO, Marco; NOGUEIRA, Mara; ANDRADE, Carla Michelle Coelho; DINIZ, Gustavo Figueiredo Campolina. O estudo do gap regional de crédito e seus determinantes, sob uma ótica pós-keynesiana. Revista Economia, Brasília, v. 12, n. 2, p. 281-307, maio/ago. 2011..

Seguindo a definição de Romero e Jayme Jr. (2013)ROMERO, João Prates; JAYME JR., Frederico Gonzaga. Crédito, preferência pela liquidez e desenvolvimento regional: o papel dos bancos públicos e privados no sistema financeiro brasileiro (2001-06). Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 34, n. 1, p. 253-86, jul. 2013., a PLP vai analisar o grau de confiabilidade do público em relação à situação econômica. Quanto maior a incerteza, maior será a escolha por liquidez dos agentes. O indicador representa a relação entre o valor total acessível de fundos aos agentes econômicos e a primazia por ativo de maior liquidez. Em relação à PLB, a variável retrata a disponibilidade dos bancos em conceder empréstimos. Quanto menor a escolha por liquidez, menor é a insegurança do setor bancário em relação à economia da região geográfica imediata.

Assim como o modelo de crédito, os valores foram deflacionados por meio do IPCA-IBGE, tendo como base o ano de 2015, e foram utilizados na forma de logaritmo linear. O modelo segue o seguinte aspecto:

(2)ln(pibpcit)=β0+β1ln(tmbit)+β2ln(atbit)+β3ln(efbit)+β4ln(plbit)+β5ln(plpit)+μit

Em que βi = parâmetros da regressão; μ = termo de erro; i = RGI analisada, i=1,...,12; ln = logaritmo natural; e, t = ano, t =2002,...,2015.

4 REGIÕES GEOGRÁFICAS IMEDIATAS DE MS

O Estado de Mato Grosso de Sul é uma unidade federativa criada em 1977, possui atualmente 79 municípios e 12 Regiões Geográficas Imediatas, que são divididas de acordo com o Quadro 1. Os tópicos a seguir apresentam dois aspectos das RGI de MS nos anos de 2002 até 2015: Crescimento/Desenvolvimento Econômico e a Estrutura do Setor Financeiro.

Quadro 1
Regiões Geográficas Imediatas de Mato Grosso do Sul

4.1 Crescimento e Desenvolvimento Econômico

O Diagnóstico Socioeconômico de MS – 2015, elaborado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico (SEMADE), destaca como o Estado de Mato Grosso do SUL, desde a década de 1980, passou por progressos econômicos, especialmente nos setores de agroindústria e agropecuária.

O relatório afirma que a economia sul-mato-grossense apresenta uma base moderna de sustentação ao setor produtivo e é abundante em recursos naturais, além de ser uma região privilegiada geograficamente, por ter sua localidade próxima dos países-membros do MERCOSUL e dos principais centros econômicos do país.

No entanto o Estado teve uma participação ínfima no PIB brasileiro durante o período de 2002 até 2015, oscilando na faixa de uma participação percentual média de 1% (Tabela 1). No cenário regional, apresenta uma maior participação, especialmente a partir de 2009, chegando ao nível de 14% do montante do PIB da Região Centro-Oeste.

Tabela 1
PIB Brasil, Centro-Oeste e MS, 2002-2015 (em milhões de reais)

Como demonstra o Gráfico 1, a seguir, em relação ao PIB per capita, durante o período investigado, as RGI de MS alcançaram, de maneira geral, um progresso significativo. Destaque para a ascensão da região geográfica imediata de Três Lagoas e as oscilações negativas das regiões imediatas de Corumbá e Amambai.

De acordo com Asevedo (2012)ASEVEDO, Tayrone Roger Antunes. A territorialização da celulose-papel na microrregião de Três Lagoas/MS: sobre questão agrária, migrações e precarização das relações trabalho. In: ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA [ENGA], 21., mês, 2012, Uberlândia. Anais [...]. Uberlândia: UFU, 2012. p. 1-13., o município de Três Lagoas e suas circunvizinhanças, a partir da metade da década de 2000, passaram por mudanças na sua estrutura produtiva, tendo como motor principal a ascensão das indústrias dos setores de celulose e eucalipto na região. O impacto econômico dessas transformações explica o crescimento e a consolidação da região geográfica imediata como o maior PIBpc das RGI de MS nos últimos anos.

A tendência de queda no pibpc da região imediata de Corumbá e de Amambai pode indicar que essas RGI foram as primeiras a sentirem os efeitos da depressão econômica do país. Em meados de 2014, a economia brasileira entrou em um período de crise, que afetou o seu crescimento e aumentou o risco de solvência das contas públicas (BARBOSA FILHO, 2017BARBOSA FILHO, Fernando de Holanda. A crise econômica de 2014/2017. Estudos Avançados, São Paulo, v. 31, n. 89, p. 51-60, 2017.).

Gráfico 1
PIB per Capita das Regiões Geográficas Imediatas (RGI) de MS, 2002-2015

* Milhares de Reais (2015)


4.2 Estrutura do Sistema Financeiro

O sistema financeiro brasileiro passou por uma grande transformação estrutural a partir de 2003, em virtude da expansão dos bancos públicos federais no setor (PAULA; OREIRO; BASILIO, 2013PAULA, Luiz Fernando; OREIRO, José Luis; BASILIO, Flávio. Estrutura do setor bancário e o ciclo recente de expansão do crédito: o papel dos bancos públicos federais. Nova Economia, Belo Horizonte, v. 23, n. 3, p. 473-520, set./dez. 2013.). A Tabela 3 retrata essa mudança no Estado de Mato Grosso do Sul, o qual foi capitalizado, em um primeiro momento, pelo Banco do Brasil (2002-2010) e, a partir de 2011, pela Caixa Econômica Federal (CEF).

Tabela 3
Quantidade de agências públicas em MS, 2002-2015

Em relação às instituições financeiras privadas (Tabela 4), a quantidade de agências se manteve constante durante o período, as exceções foram: o banco Bradesco S.A., que possui o maior número no Estado, e o Banco Santander S.A. Conforme Dias e Videira (2015)DIAS, Bruno Bonsanto; VIDEIRA, Sandra Lúcia. As corporações financeiras: uma análise do banco santander no Brasil (2006-2012). Boletim de Geografia, Maringá, v. 33, n. 3, p. 84-105, set./dez. 2015., o crescimento do último é explicado pela estratégia expansiva da corporação no país após a aquisição do banco ABN Amro Real, em 2007.

Tabela 4
Quantidade de agências privadas em MS, 2002-2015

Durante o período de 2002 até 2015, como pode ser visto na Tabela 5, Campo Grande e Dourados foram as regiões geográficas imediatas que tiveram a maior quantidade de agências bancárias no estado de MS. Em contrapartida, as RGI de Ponta Porã, Amambai e Corumbá apresentaram os menores números.

Tabela 5
Total de agências financeiras nas RGI de MS, 2002-2015

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os tópicos a seguir apresentam os resultados e as considerações dos modelos propostos, que buscam investigar os efeitos dos serviços bancários e como as estruturas do sistema financeiro influenciam a economia das regiões geográficas imediatas de Mato Grosso do Sul. Nos dois modelos, a variável explicada é o PIB per capita.

5.1 Modelo 1: Modelo de Crédito

O primeiro modelo tem como pretensão examinar os efeitos do crédito (serviços bancários) para o desenvolvimento econômico das RGI sul-mato-grossenses. Para mensurar as variáveis analisadas, foi utilizado o método regressivo por dados em painel com efeitos fixos temporais.

5.1.1 Resultados

Os valores dos testes estatísticos (Chow e Hausman), que definem o melhor procedimento para estimar modelos com dados em painel, apresentaram valores de <2.2e-16. Os resultados rejeitaram a hipótese do modelo pooled ou mesmo com efeitos aleatórios ser melhor do que a utilização de efeitos fixos.

Com a finalidade de obter uma regressão mais precisa, foi realizado ainda o teste do multiplicador de Lagrange − Breusch-Pagan − para efeitos fixos temporais. Dada a rejeição da hipótese nula (valor da probabilidade < 2.2e-16), o teste indicou a necessidade de utilizar a influência do tempo no modelo.

A fim de controlar a correlação serial e a dependência transversal do painel, a estimação final do modelo foi obtida de acordo com o formato de matriz variância-covariância robusta, elaborado por Driscoll e Kraay (1998)DRISCOLL, John C.; KRAAY, Aart C. Consistent Covariance Matrix Estimation with Spatially Dependent Panel Data. Review of Economics and Statistics, Cambridge, v. 80, n. 1, p. 549-60, 1998. por HC1. O método é um dos principais meios empregados na literatura para corrigir os problemas de heterocedasticidade e autocorrelação com dados longitudinais.

A regressão apresentou uma boa qualidade de ajustamento, o valor do R², de 0,98, indicou que as variações das variáveis independentes explicam em aproximadamente 98% as variações da variável dependente. Entretanto somente as operações de crédito e o depósito a prazo influenciaram significativamente o PIB per capita. Por outro lado, os efeitos do tempo foram marcantes em todos os anos (Tabela 6). Outras considerações acerca desses resultados são feitas na próxima seção.

Tabela 6
Resultados do Modelo dos Serviços Bancários, com efeitos fixos na seção cruzada e na série temporal, robusto à heterocedasticidade e autocorrelação residual

5.1.2 Discussão

As evidências do modelo, ao examinar a relação entre o serviço bancário e o desenvolvimento das RGI de MS, demonstraram um conflito envolvendo a absorção de recursos do sistema financeiro. A um nível de significância de 10%, os depósitos à vista e a poupança não foram significantes para o pibpc, enquanto o depósito a prazo afetou positivamente o indicador, em cerca de 0,10.

As operações de crédito (investimento, financiamento e títulos descontados) que representam as alocações do setor bancário foram também relevantes para o índice. A cada aumento de 1% da variável opc, o produto per capita das regiões imediatas sul-mato-grossenses cresceu em aproximadamente 0,14%.

Os resultados são um reflexo da ineficiência da estrutura financeira do país. Como destacado por diversos trabalhos (Paula [1998]PAULA, Luiz Fernando. Tamanho, dimensão e concentração do sistema bancário no contexto de alta e baixa inflação no Brasil. Nova Economia, Belo Horizonte, v. 8, n. 1, p. 87-116, jun./dez. 1998., Marcolino e Carneiro [2010]MARCOLINO, Luiz Cláudio; CARNEIRO, Ricardo. Sistema financeiro e desenvolvimento no Brasil: do Plano Real à crise financeira. São Paulo: Publisher Brasil/Editora Gráfica Atitude, 2010., Nardo [2013]NARDO, Aulo Pércio Vicente. Sistema Financeiro Brasileiro: a consolidação do sistema bancário a partir de 1994. A Economia em Revista, Curitiba, v. 21, n. 1, p. 67-82, jul. 2013., entre outros), o sistema bancário brasileiro apresenta uma carência histórica de um comportamento mais incisivo, como as crises periódicas que derivaram, também, dos problemas de dependência exagerada da poupança externa.

Além disso, a economia brasileira segue as experiências dos países que conviveram com um longo período inflacionário. Após atingir a estabilidade macroeconômica em 1994, o setor financeiro do Brasil apresenta uma tendência prolongada e duradoura de ajustes em seu comportamento, visto que era marcado principalmente pela intensa atuação dos bancos públicos e pelos ganhos inflacionários, além de possuir produtos restritos.

No caso das regiões geográficas imediatas de MS, o fato do depósito à vista e a poupança, que são os seus mecanismos de canalização mais tradicionais, não terem influência sobre o desenvolvimento econômico pode representar também que as instituições financeiras atuam de forma improdutiva na região.

De modo geral, os serviços bancários não influenciaram de forma consistente o Produto Interno Bruto per capita das RGI sul-mato-grossenses. Os resultados do modelo corroboram com a visão sobre a incapacidade do sistema financeiro em favorecer o desenvolvimento econômico no território brasileiro.

O gráfico 2 apresenta os efeitos individuais da regressão separados por cada região geográfica imediata de Mato Grosso do Sul. O destaque é dado para RGI de Três Lagoas, que, além de possuir o maior pibpc e ter ostentado um ritmo de crescimento dinâmico, obteve um resultado muito acima das demais. O resultado reforça o momento econômico atual do município de Três Lagoas e de suas cidades de influência.

Outro fato relevante do Gráfico 2 está relacionado ao impacto maior de cada região sobre os efeitos do tempo na regressão. Um resultado esperado, dado que as pesquisas, ao abordarem o assunto sobre crédito e crescimento/desenvolvimento, de acordo com as divisões regionais, ressaltam a influência expressiva da capacidade produtiva e econômica dos objetos estudados nos resultados estimados.

Gráfico 2
Efeitos individuais do Modelo dos Serviços Bancários por RGI de MS

5.2 Modelo 2: Modelo do Sistema Financeiro

O segundo modelo analisou a influência da estrutura do sistema financeiro como suporte para o desenvolvimento econômico das regiões geográficas imediatas de Mato Grosso do Sul, no período de 2002-2015, por meio de alguns indicadores que são comumente utilizados na literatura para este fim. Em suma, teve como pretensão mensurar a qualidade das instituições e de seus serviços bancários.

5.2.1 Resultados

Utilizando o mesmo procedimento ponderado no primeiro modelo, foram desenvolvidos os testes estatísticos Chow e Hausman, os quais demostraram que o método por dados em painel com efeitos fixos é o mais indicado para estimar a regressão. Além disso, foi realizado o teste do multiplicador de Lagrange (Breusch-Pagan) para examinar a necessidade de empregar a influência do tempo na estimação dos efeitos fixos. A hipótese do teste foi negada (valor da probabilidade <2,2e-16). Com isso, ficou evidente que o modelo precisa ter o peso temporal vinculado à regressão.

O modelo foi estimado pelo método elaborado por Driscoll e Kraay (1998)DRISCOLL, John C.; KRAAY, Aart C. Consistent Covariance Matrix Estimation with Spatially Dependent Panel Data. Review of Economics and Statistics, Cambridge, v. 80, n. 1, p. 549-60, 1998., com o intuito de corrigir os problemas relacionados à autocorrelação serial e dependência transversal. Os resultados indicam que a regressão apresentou uma boa qualidade de ajustamento. As variações das variáveis autônomas explicam aproximadamente 98,8% das variações da variável dependente.

Apenas o indicador que mensura o tamanho do mercado bancário (tmb) foi não significante a um nível de 10% para o PIBpc das regiões geográficas imediatas de Mato do Grosso do Sul. Em contrapartida, os efeitos temporais foram relevantes em todos os anos (tabela). As considerações acerca dos resultados são feitas na próxima seção.

Tabela 7
Resultados do Modelo do Sistema Financeiro, com efeitos fixos na seção cruzada e na série temporal, robusto à heterocedasticidade e autocorrelação residual

5.2.2 Discussão

Como destaca Crocco et al. (2011)CROCCO, Marco; NOGUEIRA, Mara; ANDRADE, Carla Michelle Coelho; DINIZ, Gustavo Figueiredo Campolina. O estudo do gap regional de crédito e seus determinantes, sob uma ótica pós-keynesiana. Revista Economia, Brasília, v. 12, n. 2, p. 281-307, maio/ago. 2011., na literatura, quando se analisa um indicador que correlaciona os ativos bancários sobre o produto total, pressupõe-se que o resultado seja positivo em relação ao pibpc devido à possibilidade de uma maior oferta de crédito na economia. Com isso, o sistema financeiro poderia favorecer as demandas tanto dos empresários como do público.

O fato do tamanho do mercado bancário ter um efeito não significativo sobre o desenvolvimento econômico das RGI sul-mato-grossenses é corroborado com o resultado negativo da atividade bancária (operações de crédito/PIB), pois demonstra que a dimensão do setor bancário e o nível de transações não têm relevância para a economia local.

No primeiro modelo, ficou evidenciada a influência positiva das operações de crédito para o produto per capita das regiões geográficas imediatas de MS. Este segundo, ao relacionar a variável com o PIB, não obteve nenhum efeito. Os resultados comprovam os desarranjos do setor bancário da região.

Os movimentos de alocação de recursos do sistema financeiro (opc), quando relacionado ao produto interno bruto das próprias RGI do Estado, tiveram um valor de aproximadamente−0.48% a cada aumento percentual do PIBpc, demonstrando que o indicador atua em um sentido contrário ao desenvolvimento econômico das regiões imediatas.

Os efeitos negativos da variável em relação ao nível de renda das regiões geográficas imediatas sul-mato-grossenses podem ser explicados pelos resultados do trabalho de Misso, Jayme Jr. e Oliveira (2015)MISSO, Fabrício José; JAYME JR., Frederico Gonzaga; OLIVEIRA, Ana Maria Hermeto Camilo. Desenvolvimento financeiro e crescimento econômico: teoria e evidência empírica para as unidades federativas do Brasil (1995-2004). Análise Econômica, Porto Alegre, ano 33, n. 63, p. 191-227, mar. 2015.. Os autores demonstraram que as instituições financeiras tendem a captar e transferir os fundos dos Estados menos desenvolvidos para os mais prósperos, em virtude do menor grau de incerteza dos últimos.

Percebe-se que, em Mato Grosso do Sul, existe também o impacto do tamanho da economia na relação crédito e desenvolvimento econômico. Quando se examina o Gráfico 4, no qual se destaca a influência de cada região imediata para a regressão desenvolvida pelo segundo modelo, as RGI que apresentaram os maiores PBI durante o período tiveram um maior efeito da estrutura financeira no pibpc.

Gráfico 3
Efeitos individuais do Modelo da Estrutura Financeira por RGI de MS

Conforme retrata Cavalcante, Crocco e Jayme Jr. (2004)CAVALCANTE, A.; CROCCO, M.; JAYME JR., F. G. Preferência pela liquidez, sistema bancário e disponibilidade de crédito regional. In: CROCCO, M; JAYME JR., F. G. (Orgs.). Moeda e território: uma interpretação da dinâmica brasileira. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. p. 295-315., a plb mensura a escolha do sistema financeiro em manter seus recursos de forma líquida. O indicador tem como numerador o volume que é captado pelo sistema financeiro, e o denominador representa as ofertas de empréstimos/financiamentos/depósitos compensados.

O primeiro (depósito à vista) diz respeito à quantidade de recursos líquidos que as agências bancárias mantêm sob seu domínio, enquanto o segundo (operações de crédito) consiste nas transações que elas ofertam no mercado. A preferência pela liquidez dos bancos retrata as expectativas que as instituições têm sobre o presente e/ou futuro da localidade em que se encontram e seus planos de negócios.

O efeito positivo da plb para o pibpc (com parâmetro de 10,73), ou seja, a cada 1 p.p. de variação em plb é gerado aumento de 10,73% no pibpc, sugere que o sistema financeiro das RGI de MS, ao optar por uma restrição na disponibilidade de crédito e ter um maior controle da relação dav/opc, favoreceu o desenvolvimento econômico da região.

O resultado contrapõe os teóricos adeptos à corrente de pensamento pós-keynesiana, que acreditam na relação negativa com o PIB per capita. Os pesquisadores pressupõem que, quanto maior a plb e, por conseguinte, menor a oferta creditícia, menor será a renda e o nível de atividade da economia.

Da mesma forma, entendem que a preferência pela liquidez do público deve apresentar uma relação negativa com o pibpc. A partir do momento que as pessoas físicas e jurídicas preferem reter seu patrimônio, a demanda por crédito tende a diminuir, o que resulta em um ponto de menor movimentação econômica.

Cabe destacar que as instituições financeiras proprietárias de um grande volume de depósitos à vista, comparado a seus outros ativos, tendem a ter dificuldades em fazer operações que envolvam crédito. Uma vez que esses depósitos podem ser retirados a qualquer instante, o banco necessita ter uma reserva muito reduzida em relação ao volume de depósitos.

Por outro lado, as agências que têm uma maior quantidade de depósitos a prazo em relação ao seu passivo total tendem a ser mais flexíveis em relação às suas políticas creditícias, em virtude do serviço não exigir obrigações imediatas. Dessa forma, as regiões que têm uma relação alta entre depósitos à vista/depósitos totais tendem a ter um nível maior de racionamento de crédito.

O parâmetro de−10,9207 da plp significa que, a cada alteração positiva de 1% da variável plp, ocorre redução de 10,92% no produto per capita. Isso demonstra que, neste aspecto, há uma convergência entre a teoria pós-keynesiana e as evidências do modelo. Em outras palavras, o aumento da preferência pela liquidez do público não contribui para a economia das RGI analisadas. Assim, confirma a tese de que, quanto maior valor da preferência pela liquidez do público, menor será o nível de atividade de uma economia. Como dito anteriormente, dada a proporção alta de depósito à vista comparado aos outros passivos, as instituições financeiras têm a tendência de adotar posições restritivas, o que prejudica, por exemplo, as operações creditícias.

As instituições do sistema financeiro atualmente ampliam suas operações com diversos tipos de serviços (ASSAF NETO, 2005ASSAF NETO, Alexandre. Finanças corporativas e valor. São Paulo: Atlas, 2005.). Para tanto, faz-se necessário mensurar a efetividade dessa atuação. Assim, o índice de eficiência busca medir como o comportamento dos bancos afeta a economia do caso analisado.

O indicador que examina a produtividade do setor bancário relaciona as operações de crédito com os depósitos à vista e a prazo; isto é, a variável busca inferir como o desempenho do sistema financeiro afeta o desenvolvimento econômico. Como visto, no caso das regiões geográficas imediatas de Mato Grosso do Sul, o efeito é positivo.

A cada alteração percentual de 1% da medida da eficiência bancária, gera-se aumento de 10,94% do PIB per capita das RGI de MS. O resultado robusto demonstra que esse índice tem grande relevância econômica para as regiões examinadas por este estudo.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como pretensão examinar a relação entre o desenvolvimento econômico e o sistema financeiro das regiões geográficas imediatas de Mato Grosso do Sul. Para tanto, dividiu a análise em dois aspectos: serviços bancários (crédito) e a estrutura do setor bancário.

Na literatura, o tema ganhou destaque a partir do trabalho teórico de Schumpeter (1985)SCHUMPETER, Joseph. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1985. e, posteriormente, com o estudo empírico de King e Levine (1993)KING, Robert; LEVINE, Ross. Finance, entrepreneurship, and growth: theory and evidence. Journal of Monetary Economics, North-Holland, v. 32, n. 3, p. 513-42, 1993.. Em síntese, grande parte dos pesquisadores demonstrou a existência de uma relação positiva entre crédito, desenvolvimento e crescimento econômico. No entanto, para o caso das regiões imediatas, a hipótese não se confirmou.

Os resultados do primeiro modelo (serviços bancários) indicaram um problema envolvendo as captações do sistema financeiro e o seu grau de influência no desenvolvimento financeiro das regiões geográficas imediatas de MS. Apenas o depósito a prazo foi significante a um nível de 10% para o PIB per capita (PIBpc).

A poupança e os depósitos à vista, que também envolvem a absorção de recursos, foram irrelevantes para a regressão. Por outro lado, as alocações dos fundos, que são representadas pelas operações de crédito, mostraram-se importantes para o produto interno bruto per capita das RGI sul-mato-grossenses.

Em primeiro lugar, este resultado reflete os desarranjos do setor. As instituições financeiras, historicamente no Brasil, têm dificuldades para influenciar positivamente a economia do país. Além disso, o Estado de Mato Grosso do Sul não apresenta um sistema financeiro avançado, o que implica uma menor concentração dos recursos bancários e de sua atuação nos indicadores econômicos da região.

As evidências do modelo da estrutura do setor financeiro corroboram com essas justificativas. Ao mesmo tempo que apresenta resultados positivos a cada variação percentual do PIBpc, quando aborda as questões de eficiência e da preferência pela liquidez do público, os indicadores do tamanho e do nível de atividade foram incipientes para o desenvolvimento econômico.

O resultado da preferência pela liquidez dos bancos é ambíguo. Por um lado, pode inferir que o valor positivo para o PIBpc indica que a atuação restrita realmente é importante, pois evita o endividamento do público. Em contrapartida, o ato das agências financeiras reterem seus fundos expõe um risco para os investimentos da economia das RGI de MS.

Os dois modelos demonstraram como as intermediações financeiras e a estrutura do sistema bancário têm um efeito inconstante para o desenvolvimento econômico das regiões geográficas imediatas sul-mato-grossenses. No modelo dos serviços bancários, existe uma relação nula com a captação, a exceção dos depósitos a prazo. Enquanto no segundo modelo os resultados são inconstantes.

Portanto o estudo, ao examinar o impacto das agências bancárias para a economia da RGI de Mato Grosso do Sul no período de 2002-2015, conclui que os efeitos no produto per capita são irregulares. A influência positiva, negativa ou nula depende do indicador/variável que está sendo analisado.

Um fato relevante demonstrado pelos efeitos individuais do segundo modelo está relacionado à influência do tamanho da economia na relação entre PIB per capita e crédito. As RGI que apresentaram os maiores PIB durante o período estudado obtiveram um maior impacto da estrutura financeira sobre o desenvolvimento econômico.

Como sugestão para as próximas pesquisas que pretendem investigar o tema, é indicada a análise da correlação entre o sistema financeiro e a sua influência na indústria brasileira, tanto nas questões que envolvam a produção como o emprego. Na literatura, ainda são incipientes os estudos sobre o assunto.

  • 3
    Para incorporar as transformações econômicas, políticas e sociais ocorridas no Brasil desde a década de 1990, o IBGE adotou uma nova divisão regional, em 2017. As microrregiões passaram a ser chamadas de Regiões Geográficas Imediatas e foram atualizadas as conexões entre os municípios brasileiros.
  • 4
    O termo “Mainstream” representa as teorias e os objetos de estudos que são comumente analisados pela literatura.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Out 2021
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2021

Histórico

  • Recebido
    09 Out 2019
  • Revisado
    30 Jan 2020
  • Aceito
    31 Jan 2020
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