Abstract
Descrevemos tesãi renda, lugares de saúde - coleta/cultivo de plantas e agência espiritual - num território Kaiowá de Mato Grosso do Sul. Registramos o uso de recursos hídricos e botânicos na cosmologia desse coletivo indígena Guarani, sobretudo nos corpos d’água juvyy: nascentes, córregos, brejos. Pesquisamos no Panambizinho, demarcado em 2004, após secular colonização e desgaste ambiental. Conversamos principalmente com mulheres nhandesy. Fizemos coleta, cultivo, manejo e uso de remédios; assim, conhecemos e ativamente recuperamos um espaço onde se vive a interdependência com a natureza, comunicando e negociando com suas entidades. Registrando e praticando os conhecimentos e conselhos, concluímos que o uso familiar dos remédios e saberes ancestrais preserva esses lugares. Avaliamos que este mapeamento é importante, mas limitado: preservar os juvyy e cosmologias associadas demanda esforços coletivos, tanto da comunidade quanto de governos, universidades e parceiros. Os juvyy do Panambizinho resistem como lugares sagrados de saúde, mantendo vivos seus guardiões, járy, e seus poderes medicinais.
Palavras-chave:
brejos; nascentes; plantas medicinais; saúde e cuidado; Kaiowá.
Resumen
Describimos tesãi renda, sitios de salud - de plantas medicinales y agencia espiritual - en un territorio Kaiowa en Mato Grosso do Sul, Brasil, registrando cómo la cosmología de este colectivo indígena guaraní utiliza recursos hídricos y botánicos, especialmente de los juvyy: fuentes, arroyos y pantanos. La investigación se realizó en Panambizinho, tierra demarcada en 2004 tras siglos de colonización y degradación ambiental. Hablamos principalmente con mujeres nhandesy y recolectamos, cultivamos y usamos las medicinas vegetales. Así, conocemos y recuperamos un espacio donde los Kaiowa viven en interdependencia con la naturaleza, comunicándose y negociando con sus entidades. Registrando y practicando estos conocimientos y consejos, concluimos que el uso doméstico de las medicinas ancestrales preserva estos lugares. Pero este mapeo requiere más esfuerzos colectivos de la comunidad y de gobiernos, universidades y otros interlocutores. Los lugares sagrados de salud juvyy de Panambizinho resisten, manteniendo vivos a sus guardianes, járy, y sus poderes medicinales.
Palabras clave:
pantanos; fuentes; plantas medicinales; salud y cuidados; Kaiowá.
Abstract
We describe tesãi renda, sites of health - of medicinal plants and spiritual agency - in a Kaiowa territory in Mato Grosso do Sul, Brazil, registering the use of hydric and botanical resources within the cosmology of this Guarani indigenous collective, especially in juvyy: springs, streams, and marshes. Research was conducted in Panambizinho, an area demarcated in 2004 after centuries of colonization and environmental degradation. Besides speaking with nhandesy women, we collected, cultivated, and used plant medicines, thus studying and actively recovering a space where the Kaiowa live in interdependence with nature, communicating and negotiating with its entities. Recording and practicing this body of knowledge and advice demonstrated that the domestic use of their ancestral medicines and knowledge preserves these places. This mapping requires further collective efforts from community, governments, universities, and partners. The juvyy of Panambizinho resist as sacred places of health, keeping alive their guardians, járy, and their medicinal powers.
Keywords:
marshes; springs; medicinal plants; health and care; Kaiowá.
1 APRESENTAÇÃO E OBJETIVO: MAPEANDO NOSSOS LUGARES DE SAÚDE
Este artigo mapeia lugares sagrados de saúde (tesãi renda) nos ambientes hídricos da Terra Indígena Panambizinho Yvy Akandire, meu território de origem, a 17 km de Dourados (Mato Grosso do Sul, Cerrado brasileiro).
O tema deriva da minha dissertação3 em Educação e Territorialidade. Fiz pesquisa de campo para compreender e catalogar plantas medicinais. No processo, precisei mapear os lugares sagrados no Panambizinho, sobretudo espaços de brejo e nascente, juvyy, córregos e outros ambientes aquáticos relacionados. Agora, escrevo com base nesse mapeamento prévio.
Meu nome é Luciana Aquino Concianza. Tenho 33 anos e sou mãe de duas filhas. Sou da etnia kaiowá, do tekoha Panambizinho. Meu nome indígena é Ka’aguy Kunhã Poty Rory. Sou filha caçula dos caciques, mestres e anciãos Nelson Concianza e Rozalina
Aquino. Vim de uma família de xamãs rezadores kaiowá: sou neta do grande mestre rezador Lauro Concianza e de Alice Pedro, meus avós paternos; e de Paulito Aquino e Balbina Francisca, avós maternos; além disso, sou bisneta do cacique xamã Pa’i Chiquito Pedro.
Minha aldeia de Panambizinho é um território do Ka’aguyrusu Yvy Akandire (“terra sagrada” na “grande floresta” da Mata Atlântica) ocupado predominantemente pelos Kaiowá. Foi demarcada em 2004, com 1.272 hectares, já cercada pela monocultura de soja e milho. Sua posse havia sido retomada em 2001, por um grupo de famílias antes confinadas a um terreno de 60 hectares, onde tinham passado muito tempo sofrendo.
Nasci nessa antiga área, chamada Panambizinho.
Com seis anos, tive um grave problema de saúde. Ninguém sabia o que era. Meus pais procuraram o postinho, onde o enfermeiro terena me encaminhou para o Hospital da Missão: eu tinha tuberculose. Fiquei internada por mais de seis meses. Segundo meus pais, muitos ainda não acreditavam nos remédios farmacêuticos e não queriam ser internados ou medicados. Entretanto, mesmo sendo muito religiosos da cultura, meus pais acreditavam nas medicinas científicas tanto quanto nas tradicionais. Aprendi a viver essa realidade com eles.
Meu pai era capitão, mas também era trabalhador, pescador e caçador. Minha mãe cuidava dos filhos e ajudava na roça e pesca. Sempre acompanhavam meus avós na cultura religiosa, na reza e no batismo. Estavam juntos com seu povo, motivando e resolvendo problemas, além de participarem na luta pela demarcação. Rezavam, faziam suco de milho (xixa) para a festa e se preocupavam com o povo. Viveram trabalhando na roça, cultivando espécies tradicionais: mandioca, milho-branco, milho-amarelo, batata, abóbora, banana e outros. Morávamos numa casa simples de sapé. Meu café da manhã era mandioca assada, batata assada e suco de milho. Às vezes eu almoçava, às vezes também não. Mas eu amava viver uma vida simples com meus pais.
Quando meus familiares precisavam de remédios, minha mãe buscava com minhas tias as plantas medicinais. Desde criança ouvi minha mãe dizendo o nome dessas plantas: ajaka rasy pohã, para tratar doenças do sistema reprodutivo feminino. Eu a acompanhava quando ela ia ao brejo, juvyy, buscá-las. Ela me falava para ter cuidado: às vezes era perigoso entrar nos juvyy, pois estavam na terra onde os colonos moravam. Muitas vezes eles expulsavam as pessoas. Mas meus pais e os outros não deixavam de ir aos brejos.
Desde a infância, portanto, eu observava e tentava compreender os problemas de saúde da comunidade Kaiowá, e percebia que as pessoas estavam morrendo de suicídio ou doenças sem cura. Quando eu era muito nova, não sabia o que estava acontecendo. Só via meus avós rezando nas pessoas doentes, abençoando com o gesto jehovasa. Eu acompanhava o que estavam fazendo a partir do nhembo’e: via as mulheres com alguma criança no braço, doente, e meu avô rezando para ela. As gestantes que acreditavam no remédio tradicional tomavam antes e depois do parto. Mas os problemas de saúde mental e física só pioravam, conforme a comunidade passava a contar apenas com os rezadores - porque não podia mais buscar remédios no brejo.
Com dez anos, eu acompanhei a luta da retomada.
Nós entramos de noite: quase todos os homens, mulheres e crianças da comunidade. A primeira planta de cultivo que levamos conosco era a banana. Os homens construíram uma barraca onde passamos a noite. Antes do sol nascer, meu pai reuniu as pessoas e incentivou para não fugirem, para ficarem ali sem medo. A reza dos Kaiowá é muito forte; fizeram reza karai tihã, karai nhemboro’y, para ficarem calmos quando os colonos chegassem, e para ninguém reagir com violência. Então, às seis da manhã, ficamos preparados na barraca. Eles vieram com carros, máquinas e tratores, tentando nos mandar sair dali. Mas nós ficamos ali, sem medo deles. Eles não atiraram, e, na retomada, ninguém morreu.
Depois, no dia em que fiquei moça, eu não fui para a escola. Fiquei na casa por quatro dias e minha mãe cortou meu cabelo. Fui abençoada pelo meu avô Lauro Concianza, que fez o jehovasa. E logo voltei a estudar. Na escola, os alunos riram e zombaram de mim. Mas continuei estudando; não desisti. Eu seguia a regra da minha cultura e, em certos dias, não comia merenda com carne. Com isso, eu sofria preconceito. A professora me obrigava a comer a merenda que eu não podia. Tive que explicar para a diretora: é a minha cultura. Então, começaram a entender.
Mesmo com desafios, e me tornando mãe muito nova, concluí o ensino médio na aldeia. Em 2012, eu me preparei para o vestibular da Licenciatura Intercultural Indígena Teko Arandu e entrei no ensino superior. Desde o começo, escolhi Ciências da Natureza, para me desenvolver no conhecimento do mundo e da biodiversidade, cientificamente e tradicionalmente. Concluí minha graduação em 2017. Em 2020, comecei o projeto para entrar no mestrado, mas alcancei esse objetivo só em 2022. Escrevi a partir dos problemas de saúde de Panambizinho, querendo desenvolver as realidades e os saberes tradicionais da cosmologia kaiowá, e praticar o conhecimento sobre as ervas medicinais.
Com esse objetivo maior, completei, em 2023, minha dissertação. Este texto a expande, detalhando nossos lugares sagrados de saúde nos brejos, nas nascentes (juvyy) e nos ambientes aquáticos.
A seguir, expomos as fontes e metodologia da pesquisa, e então seus achados e limitações. Concluímos que não só o registro e aprendizado sobre esses assuntos, mas também, e principalmente, a sua prática em casa - o uso dos conhecimentos sobre cultivo e emprego doméstico de plantas; ou dos saberes de cuidado e saúde; e da própria comunicação com os seres sagrados da natureza - são ações dos Kaiowá que fortalecem o território e a preservação dos seus ambientes aquáticos e lugares de saúde, permitindo a continuidade de seus modos de ser e viver, numa cosmologia integradora de contínua negociação e interdependência com os mundos naturais.
2 FONTES E METODOLOGIA
As conversas com mulheres da parentela foram as principais fontes desta pesquisa, seja para mapear lugares sagrados de saúde, seja para conhecer as práticas e os seres associados a esses espaços, seja para compreender a sua importância no território e na cosmologia Kaiowá. A pesquisa foi propriamente feita com as nhandesy, que sabem o valor, o respeito e a história do uso das plantas medicinais para a comunidade. Conversei com Rozalina Aquino, Orlanda Araújo, Fineida Neuza Aquino e Nivaldo Severino. Realizei entrevista oral, garantindo registro, preservação e recuperação dessas falas. Além disso, também obtive orientação pelo sonho, outra forma de conhecer.
Graças a esses meios de pesquisa vivos, o juvyy se tornou um espaço de investigação aplicada, como um laboratório, pois, seguindo os saberes e as orientações recolhidas, realizei pessoalmente coleta, cultivo, manejo e uso de plantas medicinais. O material dessa parte da pesquisa de campo surgiu no próprio processo de cultivo da horta e acesso ao brejo. Assim, as plantas e os seres espirituais dos lugares estudados também se deixaram pesquisar, permitindo conhecer e ativamente recuperar e preservar esses espaços.
3 ACHADOS: JUVYY E OUTROS LUGARES SAGRADOS NO PANAMBIZINHO
Os Kaiowá têm grandes sabedorias e tradições sobre a vida, com recursos naturais da mata, da água e do brejo, únicos lugares onde buscavam remédios. A sobrevivência da comunidade veio, assim, resistindo pelo uso das plantas para a saúde.
Aqui, conto a história da terra do Panambizinho, apresentando brejos, córregos e outros ambientes aquáticos ainda preservados como lugares de saúde. Relato narrativas e saberes cosmológicos associados a esses locais.
3.1 Juvyy, territórios sagrados e bem viver natural Kaiowá
O juvyy é um brejo de áreas típicas naturais, lugar das plantas medicinais populares, como a erva-do-brejo. Ele tem um ecossistema próprio: o solo tem água e barro, e a vegetação é formada de espécies peculiares.
Apresenta grande diversidade de flora e fauna adaptadas ao ambiente, com capim seco e grama verde, e vidas animais: aranhas, cobras, formigas tocandira e outros insetos, no chão bem fechado de capim e sapé. É pantanoso, com solo naturalmente alagado. As águas em abundância favorecem o crescimento das plantas medicinais aquáticas. O solo de mata inundada abriga animais perigosos e serve para diversos anfíbios, além de aves aquáticas, como patos e garças-brancas.
Nesse ecossistema rico, também há plantas que não podem ser usadas. Algumas têm folhas perigosas que cortam a pele. Para adentrar o lugar profundo e com água no juvyy, devem-se tomar cuidados, fazendo jehovasa e pedindo licença ao dono.
Os antigos vêm mantendo viva a memória ancestral e continuação desses saberes em cada tekoha. O conhecimento dos territórios, preservando fauna e flora, permite permanecer nas áreas ecológicas do ka’aguy rusu, das florestas grandes da Mata Atlântica.
Como as plantas se fortalecem no território, importa falar da territorialidade indígena. É na terra que se realizam os direitos dos povos de construir e reconstruir suas tradições. O território cultural dos Guarani e Kaiowá é parte do jeito de ser e viver nos tekoha. Os Guarani e Kaiowá vivem de muitas formas diferentes seu bem viver natural, pois cada comunidade tem realidades e jeitos distintos. Nossos territórios são uma garantia de sobrevivência desses modos do ser e do bem viver. Para a comunidade, a sustentabilidade é a roça (kokue), o jeito de ser (ava reko), e o território (ava rekoha). Território e sustentabilidade formam, assim, um tekoha, onde a forma de viver se conjuga com a preservação dos recursos naturais, dos alimentos típicos e das sementes próprias: milho (avati), mandioca (mandi’o), batata (jety). Canto, dança e reza também são tradições ligadas à territorialidade, desenvolvidas no cotidiano, nas comunidades e em cada casa.
Em pequenos espaços, muitas famílias cultivaram seus recursos naturais e fizeram suas colheitas anuais de sementes. Guardar sementes para depois compartilhar com outras famílias é bem viver (teko joja): são saberes do bem viver e do ser (teko porã), para que o cultivo seja abençoado.
3.1.1 História do território e suas práticas de saúde
Há muito tempo, o povo Kaiowá não tinha dificuldade no acesso à mata, aos animais e aos remédios, porque já morava no meio da mata, perto do juvyy. Mas os mestres anciãos observaram a transformação do ambiente nos tekoha. Hoje, na visão deles, não tem mais mata: desapareceu tudo.
Antes, a terra aqui no Yvy Akandire era rica de convivência. Nossa área integra os grandes territórios denominados ka’aguy rusu: da grande floresta da Mata Atlântica, também chamada Yvy Akandire, Terra Sagrada. Foi nessa terra sagrada que Panambizinho existiu e ainda existe, vivendo unida na tradição do guaxiré e guahu (dança) e nas rezas sagradas, cada ano fazendo a festa do jerosy puku na casa de reza, e o kunumi pepy. Ano a ano os Kaiowá fortaleceram a roça, kokue, e fizeram a festa do batismo de milho-branco, porque é a primeira semente que deve ser plantada. Depois são plantadas todas as outras, para que o jára (dono, guardião) de cada uma abençoe os alimentos; porque as sementes da roça são sagradas e devem ser respeitadas.
Desde então a comunidade frequenta os juvyy para cuidar da saúde: esses eram os únicos lugares de cuidado de saúde na região, desde a época dos antepassados. Graças às plantas medicinais, no território ancestral não havia óbito das mulheres que davam à luz e usavam o pohã nanã kunhã pohã, remédio caseiro das mulheres.
Essa terra antiga era mesmo sagrada; os Kaiowá rezavam muito e sempre faziam festa, principalmente com dança. As mulheres e mães, acompanhadas de seus filhos, sentiam-se felizes e produziam os sucos de milho, xixa ou kaguĩ, enquanto os homens faziam o yvyraí, de cedro, na preparação de nhembo’e. Assim era a organização dos rituais sagrados e das festas de dança. Todos se preveniam, esperando chegar o dia da festa.
A mestre anciã Rozalina Aquino confirma que, nessa época, antes da chegada da colonização agrícola, era mais fácil pegar as plantas medicinais.
Mas a Colonização Agrícola de Dourados (CAND) tomou o espaço onde os Kaiowá viviam. Quando chegou um sujeito estadunidense trazendo as monoculturas de soja e milho e fazendo o corte da mata para plantar essas lavouras, os agricultores colonos começaram a medir e lotear a terra em hectares, com ajuda dum engenheiro local. Exploraram a mata e cortaram tudo, plantando milho e soja.
Os Kaiowá, agricultores antigos, passaram a trabalhar com os colonizadores na plantação, principalmente de café e arroz, envolvendo-se com os brancos (mbairy), ditos colonos, em troca de sustento e mercadorias como sabão, roupas e machados.
Alguns colonos proibiram as famílias Kaiowá de frequentar o rio e a mata, e não deixavam pegar madeiras e sapé para construir. Começaram a cortar as árvores que servem para construção; e a comunidade teve dificuldades maiores ainda para buscar recursos naturais.
Os impactos nos modos de vida ancestrais foram trágicos:
O confinamento dos Kaiowá e Guarani não significou apenas perda de terra de ocupação tradicional e consequentemente problemas para satisfação de suas necessidades e demandas por proteção, segurança alimentar, saúde, entre outros, mas impôs-lhes profundas transformações em relação a sua organização social e essas refletem-se na sua relação com o sobrenatural. Gerou um desequilíbrio nas relações entre o mundo dos homens e a natureza, [...] atribuído pelos índios não tanto aos problemas decorrentes da excessiva exploração dos mesmos recursos nas poucas terras que ocupam, mas às dificuldades na relação com o sobrenatural (Brand; Colman; Costa, 2008, p. 173).
Entretanto, as famílias Kaiowá seguiram crescendo e nunca deixaram o espaço onde viveram. A cada ano batizaram as sementes, colheram e seguiram cuidando um do outro. Motivaram constantemente a reza dos rezadores, mantendo tradições, lutando para garantir seu território para as futuras gerações. Seu grande cacique era o Pa’i Chiquito, meu bisavô, que construiu com seus familiares três casas de reza naquela pequena terra. A cada ano, os Kaiowá fizeram no território resistente o batismo de milho-branco (avati kyry) e a festa do tembetá kunumi pepy, vivendo e persistindo na cultura tradicional.
Depois que os karai chegaram, muitos Kaiowá foram embora, deixando esse Yvy Akandire. Espalharam-se noutros lugares para buscar um novo recomeço. Mas algumas famílias do Pa’i Chiquito ficaram ali mesmo, resistindo em viver ali, mantendo a tradição e a luta pela terra. E outras, daquelas que foram, acabaram retornando, para somar a sua resistência.
Até que os colonos quiseram tomar até a área de 60 hectares. Foi ali que se agravou o conflito pela terra. Muitas vezes tentaram mandar os Kaiowá embora; mas eles resistiram, afirmando que continuariam naquele pequeno território, pois a terra Yvy Akandire pertence a eles e às famílias de Lauro Concianza e do xamã Pa’i Chiquito. Essa luta levou à reivindicação pela demarcação. O povo teve de brigar pelo território: meu avô Lauro Concianza e seu grupo tiveram de ir até a capital Campo Grande para garantir a demarcação.
Juntos, os Kaiowá foram lutando, mesmo que a colonização agrícola quase dominasse a todos. O conflito trouxe muitos problemas, mas permitiu permanecer no território. Não foi fácil, pois não se vive como antes, com muita mata, água, peixes, vegetação e animais silvestres.
A destruição ambiental deixou a terra vazia e as nascentes desprotegidas. Impactaram-se as árvores, a água, os animais silvestres e a vegetação florestal, impedindo o povo de encontrar seus próprios recursos. Os Kaiowá ainda se ajudavam na cura das pessoas, através da reza sagrada. O cacique xamã era um grande rezador que, por meio do espírito, curava das doenças comuns que afetavam as famílias, como diarreia (tye rasy, tye kutu), gripe (ju’u), febre (tete raku), dor de cabeça (akã rasy) e dor urinária (tyasy). Mas o acesso para buscar as plantas continuou cada vez mais difícil, e as famílias tiveram de procurar os remédios farmacêuticos.
Hoje, o uso da farmácia dos brancos é uma realidade no Panambizinho, com população de 381 pessoas (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas [IBGE], 2022). Sabe-se que a saúde da comunidade corre risco. Após a demarcação em 2004, enfrentamos os problemas de um território desmatado e explorado.
Havia dificuldades ambientais e de infraestrutura, principalmente no acesso a matérias-primas e no encanamento doméstico de água. Muitas famílias buscavam água no córrego do Xiru Karai, e outras no Laranja Doce. Com a degradação do solo, a mata de capim tomou conta da aldeia, e as pessoas começaram a botar fogo. Achavam que queimar resolveria o problema da braquiária, mas causou novos problemas, principalmente nas áreas naturais em recuperação.
Para as atuais gerações, o ambiente do tekoha Panambizinho já chegou explorado e desmatado. Por isso, a maioria não reconhece a mata e os remédios. As mães jovens não sabem onde buscar plantas medicinais para suas famílias. Mas os mestres, anciãos e adultos ainda vão ao juvyy ou pedem para pessoas de outro tekoha trazerem as plantas, para usar ou plantar.
Antigamente, as mulheres, por exemplo, só dependiam das plantas nativas kuña pohã e seguiam todo o processo tradicional através de reza e parteiras. Estas eram sábias anciãs, que faziam nhembo’e para a criança nascer e chegar ao mundo. Poucos acreditam hoje nesse conhecimento, principalmente os mais jovens, que não buscam saber dos nossos remédios caseiros.
Mesmo assim, a comunidade persistiu motivando a cultura tradicional e cultivando as sementes naturais, junto dos saberes religiosos. Ela foi buscando novamente o bem viver, teko porã, e o teko marangatu, que o Panambizinho tentou se recuperar dos impactos da perda da terra sofrida há décadas. A preocupação da comunidade é como voltar a preservar tudo aquilo que se perdeu: a mata, a nascente, os córregos do Xiru Karai e Laranja Doce. É esta história vivida que tem provocado as novas gerações Kaiowá a buscar conhecimentos e história para permanecer, respeitar e compreender o valor do seu povo no espaço sagrado, dentro da biodiversidade e da cultura Kaiowá (Maciel, 2012).
3.1.2 Como estão os juvyy no Panambizinho
Os brejos juvyy da aldeia Panambizinho se encontram com uma área de solo seco que, com as mudanças climáticas e a escassez de chuva, quase todo ano corre o risco de desaparecer, e várias vezes pega fogo. Os mestres anciãos rezadores e as pessoas mais experientes se preocupam com esse lugar, porque suas plantas são raras. Quando o juvyy recomeça a brotar, as plantas nascem e algumas têm flores. E, quando é época, vários remédios brotam com as flores. Existem vários desses lugares de saúde na aldeia.
Desde muito tempo o juvyy é chamado assim pelos ancestrais. Juvyy é um nome muito sagrado para o povo Kaiowá. No conhecimento tradicional, ele deve ser respeitado como um elemento da natureza para a saúde dos seres humanos. Nos vários lugares onde há juvyy no Panambizinho, existem os donos (jára) bons e maus. Quando alguém entrava no juvyy, tinha de fazer jehovasa primeiro, para não correr perigo ao pegar as plantas.
O juvyy mais frequentado fica na área do córrego Xiru Karai. O nome desse juvyy é kuña arysapy. Esse lugar é mais procurado porque o jára é generoso. Quando alguém busca remédios para usar ou conservar em casa, encontra plantas que crescem naturalmente. Já em outros juvyy, de outros locais, o povo e os mestres anciãos consideram seu dono mais exigente, e não autorizam as pessoas a frequentar o lugar. Sem autorização é muito perigoso, correndo-se o risco de encontrar algum animal como cobra ou aranha.
O juvyy da nascente que passa no Xiru Karai é mais facilmente atingido por queimadas anuais, porque fica em solo fechado com mata seca e sapé. Mas esse local é protegido há muito tempo pelos Kaiowá. Os antepassados só dependiam desse lugar, o único onde existiam esses recursos, quando curavam através da reza e do espírito do nhembo’e. Este é, assim, um espaço milenar sagrado e popular, numa região habitada pelos Kaiowá há muito tempo. Ali existiam várias espécies de plantas manejadas nas práticas tradicionais, a partir da germinação e do solo, pois têm seus jeitos próprios de produzir e reproduzir.
Já o juvyy da área do córrego Laranja Doce compõe a diversidade natural local junto da mata arbórea: essa área do brejo fica junto de árvores, onde o solo é mais protegido pela própria floresta. Lá, as plantas medicinais são mais preservadas a cada ano.
O fortalecimento das plantas medicinais e dos juvyy é um aspecto da cultura Kaiowá viva nos territórios, nos espaços próprios. As espécies de cada planta precisam permanecer dentro do território como centro da cura, através da cosmologia local, para o juvyy não desaparecer.
Envolver-se nessas práticas culturais para compreender novamente o bem-estar de saúde, respondendo às realidades da comunidade e das plantas existentes, é fundamental para a sobrevivência das espécies e dos seres humanos. As plantas medicinais têm grande valor, mesmo as não tradicionais, nos lugares de saúde dos seus respectivos ambientes naturais. Reconhecendo isso, podemos resgatar usos, costumes e saberes ancestrais e ensiná-los aos jovens.
3.1.3 Narrativas e cosmologia do juvyy
Os brejos são conhecidos pelo seu espaço de diversidade e sacralidade.
Ocupando o centro das nascentes que passam na aldeia, o juvyy do Panambizinho é o lugar por excelência das plantas medicinais. O córrego que passa pelo Xiru Karai é considerado muito antigo pelos Kaiowá, que ali buscavam remédios para suas famílias. Os ancestrais acreditavam nesses lugares sagrados, onde as plantas davam a cura de doenças através do espírito e do nhembo’e; acreditava-se que ali residia um espírito do mal ou do bem, sendo cada juvyy de um jára, o dono de todas as plantas e lugares.
Juvyy é um nome tradicional típico, e o lugar abriga os pohã ro’ysã (remédios frios, frescos); a palavra ro’ysã (fresco, frio) relaciona o lugar às plantas das águas, como o capim aquático que dá vida ao juvyy e as outras plantas. Muitos acreditam que o dono realmente vive ali, mas são poucas as pessoas que chegaram a ver e até se comunicar com os jára, donos da mata.
O juvyy é, portanto, um ser muito sagrado. O povo Kaiowá acreditava que ele sempre sobrevivia: mesmo que fosse desmatado, continuaria vivo dentro da lama e nunca acabaria, porque o jára vive naquele local. Com efeito, mesmo atingido pelas queimadas e sendo hoje considerado um ecossistema degradado, o juvyy guarda as raízes na parte subterrânea do solo, e em pouco tempo elas voltam a nascer novamente.
Segundo os mestres, no início da criação do mundo, há bilhões de anos, a Nhandesy - primeira esposa do Nhanderu, pai do Sol e da Lua - criou o juvyy rembypy.
Eis a origem do juvyy.
Nhandesy Rembypy foi a primeira mulher que nasceu no mundo, no centro da terra, Yvy Pyte Cerro Guasu. Desde que veio ao mundo através do jasuka (criação do mundo e da terra), ela foi a primeira esposa do Nhanderu, pai do Sol e da Lua.
Quando ela chegou ao mundo, criou a nascente de uma mina para beber água (yvu) e ali gerou o juvyy na área da nascente. Nesse mesmo lugar, criou as primeiras plantas medicinais: haviju guasua, mbaegua, karoa, e hi’a pea, que é o nome nativo da planta ajaka rasy pohã. A Nhandesy brotou todas as plantas medicinais e chamou esse lugar de juvyy mirĩ, para que as mesmas plantas brotassem no mundo inteiro para a saúde dos humanos. Esse local fica na aldeia Yvy Pyte, no Paraguai, onde se iniciou a terra, a mata e a natureza. Após o início da terra, quando a Nhandesy Rembypy criou o juvyy, o jara juvyy jara espalhou-se pelo mundo todo, através do espírito. A Nhandesy criou o juvyy pensando no futuro da saúde dos seres humanos, de geração em geração.
Os principais remédios eram das mulheres, kunhã pohã. A Nhandesy os criou acreditando no espírito das plantas medicinais, na força da natureza para a farmacologia dos seres humanos, porque essas plantas seriam a cura da saúde, através do espírito e nhembo’e. Curam doenças para a alma, corpo e espírito. O jara nderekojara, o remédio pohã arekoy e o espírito das plantas medicinais existem para curar até a alma dos seres humanos.
A Nhandesy criou o juvyy junto de todos os seres, os jára da mata. Ela o criou como rainha das plantas medicinais e, por isso, o povo Kaiowá até hoje o chama pelo nome original, juvyy. A mata e os brejos são sagrados naturalmente; é uma vida que resiste ali. O juvyy é o centro principal das matas, onde se dá a vida para a natureza; para os seres humanos, representa uma cura das almas, do espírito que vive nele.
Por isso o juvyy é o principal lugar onde as plantas medicinais se localizam. Desde o início, ele estava vivo na sua própria conservação. São plantas próprias, originárias e populares, que passaram de geração em geração. O povo tratava doenças intestinais usando plantas e raízes para aliviar as dores, junto de jehovasa e nhembo’e, e pedindo, através do espírito, para a dona das plantas medicinais abençoar a pessoa doente.
3.2 Outras narrativas, saberes e lugares de saúde
Como já foi dito, o tekoha Panambizinho é de terra vermelha muito produtiva, abrigando antigamente numerosas espécies arbóreas, animais silvestres, faunas diversas, água de nascente, pedras (como itapory), córregos e brejos (juvyy). Tinha uma mata muito fechada, ka’aguy hũ: mata escura ou verde-escura. Tinha muitos animais, principalmente onças e cobras, e milhões de borboletas, jy’y rymba, considerados bichos de estimação do arco-íris.
Nesse local riquíssimo, a pequena comunidade vivia uma vida também muito rica, com caça e pesca, fazendo armadilha para pegar animais. A natureza, nesse Yvy Akandire, era considerada uma mata sagrada cheia de espíritos do bem e do mal, como ka’aguy jara.
As famílias conviviam de forma natural e tradicional, na casa de reza e nas festas com dança (kotyhu ou guaxiré). Alguns, quando caçavam e matavam um grande animal, como anta, se alimentavam e ainda avisavam os parentes que moravam longe, usando uma trombeta de bambu. Compartilhavam esses animais, que eram a principal carne consumida. Também chamavam os parentes nos casos de morte. A vida assim, na mata, foi uma realidade natural por muito tempo.
Antigamente, o córrego de Laranja Doce era chamado de Naranhay. Frequentavam-no para beber, tomar banho e pescar. Atualmente, é conhecido como Narãkahai.
A comunidade frequentava também outros lugares, como o córrego Yhũ, chamado assim devido à água natural. Quem usava esse lugar eram as famílias do xamã Pa’i Chiquito: sua esposa Maxu e demais familiares, que ali residiram e viveram. Até hoje esse lugar é conhecido pela comunidade como Yhũ, onde também fica um juvyy bastante frequentado.
3.2.1 Yju Mirĩ, Yhũ e Xiru Karai
Entre os lugares simbólicos na terra indígena do Panambizinho, estão o Yju Mirĩ, córrego pequeno, e o Yhũ, além do mencionado Xiru Karai, onde tem todos os seres járy. Esse córrego nascente Yju Mirĩ, em Xiru Karai, é a principal área para buscar as plantas medicinais. Ele passa pelo centro da aldeia e vai até o córrego Laranja Doce, altura que é mais frequentada pela comunidade e na qual ainda é resistente o brejo juvyy.
Hoje, esse lugar está sendo preservado pela rezadora Fineida Aquino. Antigamente era da anciã Maxutika: ela e suas famílias viveram ali e frequentavam esse lugar para usar as plantas medicinais e beber a água do córrego que passava perto.
Há muito tempo, esse local era conhecido pela comunidade como juvyy do mal. O jára dono desse lugar não gostava que as pessoas entrassem. Ele era bravo e, segundo os mestres na época, era preciso pedir licença para buscar as plantas. Atualmente, algumas pessoas frequentam o local, mas consideram-no perigoso, pois muitas cobras apareceram. O nome nativo desse juvyy era Jari Tapytã, nome tradicional do juvyy que fica no centro da aldeia, na área do Xiru Karai.
Mas o centro do Xiru Karai, onde fica o brejo, as pessoas e comunidades frequentam mais; esse lugar do juvyy é mais procurado, desde há muito tempo e até hoje, pela comunidade. Seu nome tradicional é Jari Aroysã, porque o guardião (jára) é considerado sagrado. Ele é um espírito do bem, e os mestres anciãos que acreditavam nele, quando faziam o processo de parto, pediam para o jara jari aroysã, através do nhembo’e sagrado, mandar o espírito abençoar a mãe que entra em trabalho, para a criança nascer bem e rápido, além de abençoar a vida da mãe.
O ka’aguy rusu era a vida do povo Kaiowá antigamente, quando as casas eram feitas de madeira e sapé, quando os mestres moravam na casa de reza e viviam naturalmente, cultivando seus alimentos de costume, bebendo suco de milho e comendo farinha de milho-branco pilado (angu’á) com carne e peixe. No Yvy Akandire, o povo fortalecia seu bem viver, respeitando a naturalidade do ka’aguy jara (dono da mata) e os seres dos elementos naturais. As tradições da comunidade eram renovadas, a cada ano, nas colheitas de milho-branco. O povo garantia sua cultura praticando a reza, o canto, a dança e a festa. Tudo era natural, e tudo que vinha da natureza tinha o jára, dono: da mata, água, pedra e córrego.
Nesse tempo, o centro do brejo (Xiru Karai) era um lugar muito sagrado, onde existia de tudo: os jára da natureza, do bem e do mal etc. A natureza do Xiru Karai vive através do espírito, e algumas pessoas chegaram ali a se comunicar com o jára.
O xamã Pa’i Chiquito orientava a respeitar esse lugar, porque tinha o jára mau: espalhava doença, vômito, diarreia, febre e sarna brava no corpo, e às vezes soltava seus animais de estimação, cobras ou onças, dos milhões de animais que vivem ali, através do espírito da natureza. Pa’i Chiquito visitava o dono. Ele falou que o jára do bem não espalha doença, mas às vezes solta animais: tatu, veado, lagarta grande, preá, anta, para que as pessoas consigam matar e comer. Apenas o xamã é capaz de se comunicar com o jára do Xiru Karai.
Hoje o Xiru Karai ainda é sagrado, e só fazendo jehovasa se pode visitá-lo. O jehovasa é sagrado ao Kaiowá, pois é através dele que o espírito sagrado fortalece a alma e o ambiente onde se vive. O espírito de proteção acompanha a pessoa a qualquer lugar, protegendo seu caminho e seu corpo de qualquer situação: faz-se jeovasa, jehovasa ou jajeovasa para abençoar a alma e o caminho.
O Xiru Karai se tornou um lugar sagrado porque tudo o que vive ali tem um espírito da naturalidade. Por exemplo, o córrego (ysyry) é sagrado para a comunidade e cura doenças malignas: os Kaiowá deixam os fios do seu cabelo na água para nunca sentirem dor de cabeça, pedindo ao jára esse cuidado. A pedra que fica no Xiru Karai também tem jára, que os Kaiowá chamam de itapory (dono da pedra). E como o centro do Xiru Karai é extremamente sagrado, desde há muito tempo, através dos xamãs, o povo veio fortalecendo e respeitando ali os espíritos da mata, em suas diferentes formas: jara ka’aguy jara (dono da mata), mymba jara (animais silvestres), jara kaja’a (dono da água), pirá jara (dono do peixe), guyra jara (dono dos pássaros), e juvyy jara, a dona das plantas medicinais.
3.2.2 Conhecimentos tradicionais de saúde e meio ambiente
O juvyy situado na área do córrego do Xiru Karai, e os outros locais de saúde há muito tempo usados pelos Kaiowá de Panambizinho, são também espaços onde os ancestrais viveram e conviveram. O juvyy mais antigamente utilizado é o Yhû, que foi o espaço de saúde mais procurado pela comunidade do Yvy Akandire após os desmatamentos promovidos pela colonização agrícola.
Os karai dessa época plantaram arroz nos brejos. A possibilidade de buscar os remédios naturais foi impactada, e as plantas medicinais foram gradualmente desaparecendo dos locais: o colono proibia os Kaiowá de entrarem naquele espaço, devido à plantação de arroz e de outras variedades, como feijão e abóbora.
Além da saúde da mulher jovem, essa situação impactou também as anciãs:
Geralmente nós, mulheres, buscávamos os remédios para o antes e pós-parto; buscávamos para mães jovens e para crianças. Para homens, a busca dos remédios estava mais ligada às dores no intestino (cuja planta indicada é ajaka rasy pohã) ou quando havia dificuldades em urinar. Nessa época, procurar os remédios naturais era difícil para nós, pois quando eu e outras mulheres íamos buscar remédios no juvyy, o “dono” do brejo nos expulsava. Depois de algum tempo, o primeiro “dono” da terra onde ficava o brejo Yhũ saiu e apareceu outra pessoa, mais amistosa: era uma pessoa negra (kambá); ele e sua família eram trabalhadores e plantavam muitas sementes (Rozalina Aquino, 2023).
Mas as mulheres, as anciãs e anciãos, e em especial as pessoas que ainda acreditam nesses espaços de saúde, estão voltando a usar as plantas, mesmo com as dificuldades de resgatar esse ambiente. Quando conversei com moradoras do tekoha, foi muito interessante. Uma delas foi dona Orlanda, mestre tradicional, benzedeira de crianças doentes com kualho virado.
[...] eu plantei as plantas medicinais para proteger e para o uso dos remédios, para quando seus netos ficam doentes, e para suas filhas, [pois] quando elas não encontram as plantas medicinais, elas vão para a aldeia Taquaperi em busca das plantas medicinais para buscar aqueles [remédios naturais] que servem para saúde (2024).
As áreas que estão voltando a ser preservadas são a nascente Nhũ’í, o juvyy Xiru Karaí, o Yju Mirĩ e o Yhũ.
A nascente Nhũ’í está situada no antigo terreno de 60 hectares. Nhamõi Chiquito foi quem criou essa nascente, através das rezas sagradas. Quando eles moravam ali, não havia água. Então o dono do Xiru Karai indicou o lugar para ele. Ele rezou ali, e no outro dia apareceu água. Até os karai passaram a buscar água nesse lugar, e muitos animais silvestres apareceram. Essa nascente passa pelo Xiru Karai até o córrego Laranja Doce.
Existem dois locais de brejo, que são juvyy’í e juvyy mirĩ. O juvyy’í é um brejo menor. O guardião ou jára do juvyy’í se chama Jari Tapytãy. O juvyy’í é localizado na área do Xiru Karai, bem na passagem do córrego do centro. Esse córrego, que passa pelo Laranja Doce, é um juvyy’í muito antigo. Os antepassados que usavam as plantas medicinais nesse espaço eram mestres anciãs e anciãos, dentre eles a Maxutica.
Conta-se que o seu esposo, Japiruse, viveu ali com suas famílias antes dos colonizadores agrícolas. A antiga rezadora Maxutica considerava-o como o lugar de cura para sua saúde e de seus parentes. Moraram por décadas nesse espaço de saúde, hoje novamente frequentado e preservado. Mas o jára nesse local era considerado mau, sendo arriscado e perigoso visitá-lo. Para procurar remédio ali, é preciso muita coragem, devido aos animais que o habitam, principalmente as cobras.
Esse antigo juvyy’í agora pertence a Fineida Neuza Aquino, mestra rezadora do tekoha Panambizinho. O juvyy’í na terra onde ela reside está sendo preservado; inclusive o córrego está sob seus cuidados. As mulheres procuram com ela as plantas medicinais: hoje ela é sua guardiã. Até pessoas de outras aldeias e karai a procuram para fazer remédios caseiros.
Também o juvyy mirĩ era de um povo Kaiowá muito antigo. As ancestrais que residiam nele eram as mestras anciãs jari Caetana e jari Tari, que ali moravam desde antes da colonização. Ele pertencia aos antigos mestres, e existia até uma mina nascente onde suas famílias consumiam a água para beber e banhar. Os espaços de saúde eram bem conservados e naturais, por isso se vivia neles.
Esse juvyy mirĩ fica no local do Laranja Doce, perto do atual Pinguela. Hoje pertence a uma mestra e curandeira de crianças, Orlanda Araújo. Ela cura criança doente com kualho virado, e é também guardiã das plantas medicinais. Como o juvyy mirĩ está onde reside, ela o preserva, buscando as plantas dali para os remédios de seus filhos e netos, e dos outros que a procuram.
O povo Kaiowá manteve fortes a reza sagrada e os rituais do batismo de milho-branco (jerosy puku), canto (nhembo’e), dança (jeroky), reza para festa do tembetá kunumi pepy e reza para fazer menina moça (mitã kunãtai). Apesar das dominações culturais, mantiveram viva a roça (kokue pygua) e seus alimentos, como o próprio milho-branco (avati moroti), a batata-doce (jety), a banana (pakova), a mandioca (mandi’o), a abóbora (andai) e o feijão-catador (xa’ĩ). Os Kaiowá têm ainda fortalecido a caça e a pesca (marika ha pirapoi). O povo de Panambizinho, particularmente, sofre grandes desafios e dificuldades, mas vem fortalecendo e mantendo suas roças próprias.
Isso também promove o bem viver da comunidade, já que são alimentos naturais e típicos de cada família. Milho-branco, milho-amarelo (avati sayju), batata-branca, batata-roxa (jety asa’ĩ, jety pytã), feijão-catador, mandioca, abóbora, banana e cará são alimentos naturais das famílias, colhidos todos os anos. Algumas delas plantam espécies medicinais no entorno das casas, para proteger e cuidar. Quando alguém precisa, só pegam o remédio no quintal.
Nesse sentido, há
[...] profunda interdependência entre o mundo da natureza, dos vegetais e dos animais, e o mundo dos humanos e a concepção da natureza como algo vivo com quem se interage a se estabelece uma comunicação constante, apoiada numa visão cosmológica integradora (Brand; Colman; Costa, 2008, p. 173)
A ciência indígena no tekoha Panambizinho Yvy Akandire é, portanto, um conhecimento das muitas origens e formas de conservação da natureza. Felizmente, muitas pessoas ainda vão em busca das plantas medicinais e seus saberes, seja no Xiru Karai, seja na nascente (yvu), seja no Yhũ (córrego preto), seja no Narankã Hái (Laranja Doce). Também se faz a busca do remédio em outras aldeias. Mas, às vezes, a pessoa faz essa busca por razões de dinheiro. Nesse contexto, os problemas de saúde dos Kaiowá continuam crescendo.
As rezadoras e os anciãos são quem ainda garantem o respeito e a valorização dos conhecimentos Kaiowá. Eles têm observado a exploração na aldeia e acreditam que a saúde do Kaiowá tem sido prejudicada, principalmente das mulheres e das crianças. Futuramente, se deixarmos de usar as plantas e ninguém valorizar sua preservação, é possível que a vida do povo Kaiowá fique em risco, porque essas plantas vão mesmo desaparecer, ofendendo-se o járy (dono da mata), o juvyy (lugar da vida) e os tesãi renda (onde os antepassados viveram).
A comunidade Kaiowá de Panambizinho, território do ka’aguy rusu Yvy Akandire, vem de muita luta e guarda muitas histórias e conhecimento. É onde há seres espirituais, água (y), pedra (itapory), córrego (ysyry), plantas medicinais (juvyy pohã nhana), dono da água (tatu guasu) e água amarela (yju mirĩ). Toda essa natureza existente ainda no tekoha a população deve preservar, fazendo dessa uma área de recuperação, seguindo a etnociência indígena do local.
Através dos conhecimentos, a comunidade vem permanecendo e valorizando a língua materna e a tradição; mas o desconhecimento das próprias etnociências é, hoje, o maior problema da realidade dos Kaiowá. Segundo a anciã Rozalina Aquino, de 73 anos, os recursos naturais da aldeia têm que ser valorizados e respeitados:
A vida e a cultura agora, hoje, são difíceis para a comunidade, devido a essa plantação de soja e milho. Nós, que acreditamos ainda do nosso saber, ainda utilizamos o uso das plantas medicinais e plantamos, buscamos. Fazemos um pedido de, se não achar os remédios aqui, manda trazer: é assim que nós vamos saber valorizar o nosso conhecimento e não acabar, e não deixar o uso do remédio caseiro (Rozalina Aquino, 2023).
Nas comunidades, buscam-se soluções para manter o bem viver e ser, plantando na roça os alimentos naturais típicos e as plantas medicinais. Algumas pessoas ainda conseguem plantar e buscam, no juvyy e no Laranja Doce, as plantas medicinais e mudas de árvores para cultivar em casa. Dessa forma, este trabalho também contribui para o fortalecimento das plantas medicinais do juvyy, nos planos do registro e da prática, através da sua preservação e recuperação ativa, para o bem viver e o ser do povo Kaiowá de Panambizinho Yvy Akandire.
Segundo Benites et al. (2017, p. 56),
O reconhecimento de plantas medicinais representa, às vezes, o único recurso de tratamento de muitos grupos étnicos e algumas comunidades, pois o uso de plantas no tratamento e cura de doenças é uma prática muito antiga utilizada pela humanidade desde muito tempo.
As mulheres buscam os remédios caseiros porque são úteis, principalmente na adolescência, quando o corpo está na transição da fase de menina para se tornar mulher. É necessário ter, então, conhecimentos de saúde, preparando-se para a maternidade ou para enfrentar doenças comuns, mentais e físicas.
Os saberes Kaiowá mantêm as épocas de plantar e colher: deve-se saber o calendário indígena, pois os Kaiowá não plantam em qualquer época, senão as plantas não desenvolvem bem, devido às geadas, à chuva e a muito sol.
Esses saberes têm importância para a comunidade Kaiowá, a qual acredita que há todos os seres (járy) dentro dessa cosmologia de conhecimento. Para Benites et al. (2017, p. 57),
As plantas são muito importantes para a sobrevivência da espécie humana, [...] embora o seu valor possa variar de espécie para espécie nos diferentes momentos de sua história, atualmente tem se procurado determinar o valor do uso de plantas nas diferentes populações indígenas existente[s] no Brasil e nos outros países para obter-se informações sobre suas práticas na tribo e também no meio ambiente onde as plantas são encontradas.
A exploração do meio ambiente do Yvy Akandire, de suas nascentes, do Xiru Karai e das demais áreas do tekoha Panambizinho gera preocupação. Diante da acelerada degradação das condições ambientais gerais, Benites et al. (2017, p. 57) destacam “[...] a importância que os povos tradicionais desempenham no fornecimento de informações sobre as diferentes formas de utilização e manejo [...] dos ambientes naturais”. Mas os problemas têm se agravado, e a dificuldade da preservação e recuperação é bem maior que antes. Conforme esses autores:
Precisa[-]se fortalecer os saberes desses povos no que se refere ao uso desses recursos naturais, e ainda nesse aspecto, muitos autores [têm] proposto a valorização do uso de plantas com a finalidade de apontar espécies e famílias mais utilizadas pela população humana no universo vegetal. Outro aspecto que demonstra uma grande capacidade para a apropriação de elementos envolvendo práticas culturais utilizando plantas com fins curativos acontece através do xamanismo (Benites et al., 2017, p. 57).
As concepções de natureza dos conhecimentos Kaiowá compreendem a biologia orgânica dentro da cosmologia indígena. Por exemplo, o batismo de milho-branco é um batismo-cerimônia principal, sagrado e respeitado pela comunidade, relacionado com todos os plantios e colheitas. Esse é o primeiro de todos os alimentos tradicionais. Junto dele, todos os alimentos naturais são plantados e colhidos: essa é uma organização social dentro da religiosidade sagrada.
Os Kaiowá de Panambizinho Yvy Akandire afirmam que, dentro da cultura, os seres já desmatados são uma semente que nasce de novo. Mesmo que a exploração seja maior e a terra seja ka’aguy renõi, ela se produzirá novamente, porque é um ser elemento da natureza.
Para Brand, Colman e Costa (2008, p. 177), também os Kaiowá, em todos os sentidos, “constroem-se e reconstroem-se ao longo do tempo”. Assim é no juvyy, pois ele tem os seres járy, que se reconstroem em muitos sentidos: mesmo queimado, o brejo rebrota, a partir dos seres dentro d’água. A natureza tem seu protetor sobrenatural. Na visão Kaiowá, os seres járy voltam, como os pássaros e animais silvestres.
Quando você planta as plantas medicinais em casa, o járy deve escolher você: se não escolher você para cuidar, as plantas morrem. Se escolher, “o dono do mato [...] vai ficar alegre porque está reflorestando, o pedaço que foi perdido, tá crescendo, ou está consertando algo que foi estragado” (Brand; Colman; Costa, 2008, p. 176).
As plantas medicinais fazem parte da vida e das histórias que hoje não podemos deixar morrer. A antropóloga Lúcia Pereira, Kaiowá de Amambai, relata:
Naquela época, as práticas eram rígidas, o resguardo da mulher após o parto era muito importante. As parteiras utilizavam as plantas para massagear a barriga, todos os dias de manhã e à tarde faziam isso também, assim “os bichos” não cheiravam a criança e a mãe. As mulheres se banhavam com um remédio chamado mba’etihã, (plantas que cheiram mal). Apesar do odor, as gestantes encontravam facilidade para seus bebês nascerem. Também utilizavam o yvychĩ e yvychĩ guasu, ela falou que essas plantas são encontradas no brejo, e também podem ser encontradas no cerrado. A planta do brejo é para a mulher beber, e [a] do cerrado é para ela se banhar, e assim a criança pode nascer rápido e sem dor (Pereira, 2020, p. 322).
Benites et al. (2017) falam da diminuição dos saberes étnicos: “este etnoconhecimento de plantas medicinais tem diminuído entre os povos indígenas. Isso acontece em virtude da degradação ambiental e da intrusão de novos elementos culturais” (p. 57). Para os autores,
Esse conhecimento sobre plantas medicinais vem diminuindo devido ao grande uso de remédios farmacêuticos nas aldeias indígenas; o uso exagerado de medicamento[s] industrializados compete e leva ao abandono de práticas tradicionais. Os medicamentos são fornecidos gratuitamente pela farmácia do polo da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) que é responsável pela saúde indígena no Brasil atualmente, alguns são comprados em farmácias, mercado e vendas dos municípios (Benites et al., 2017, p. 58).
Iracy Benites e parceiros igualmente observaram que “Atualmente está diminuindo o interesse dos jovens em conhecer os saberes de sua cultura no que se refere ao uso de plantas medicinais” (Benites et al., 2017, p. 58). Diante dessa situação, a comunidade deve valorizar os conhecimentos tradicionais e o saber do bem viver das plantas medicinais, buscando a garantia da sua preservação para as futuras gerações.
Os saberes tradicionais indígenas Kaiowá mantêm os recursos naturais graças ao conhecimento popular cultural sobre o uso dos remédios caseiros, ou seja, às práticas de etnoconhecimento de plantas medicinais. Essa é a realidade do uso das plantas medicinais do tekoha Panambizinho Yvy Akandire.
4 Limitações
A principal limitação enfrentada até hoje neste estudo foi o curto tempo disponível para a pesquisa original no mestrado, que impediu maior dedicação. Também o fato de não ter tido bolsa: estudar e trabalhar foi uma dificuldade. Mesmo assim, esperamos que nossa pesquisa contribua para que a comunidade reconheça novamente todas as suas áreas e seus territórios para a preservação da natureza, e que juntos realizemos o necessário ensino sobre elas, dentro da educação e da saúde.
Ademais, o impacto desejado por este trabalho - a preservação dos juvyy e das suas cosmologias - não se alcança num esforço solitário, mas depende também de esforços coletivos. O envolvimento de mais pessoas da comunidade é necessário, mas também o de outros atores, como os governos, as universidades, os parceiros dos Kaiowá, e a sociedade civil em redor.
5 Conclusões
Esta autoetnografia aproveitou as experiências, os afetos, os saberes e as memórias pessoais para abordar o tema investigado (os lugares aquáticos de juvyy como espaços de saúde), e mobilizou as relações familiares, sociais e espirituais para recolher conhecimentos, histórias, dados e conselhos que nos ajudaram a compreendê-los.
Sabendo-se que a terra indígena de Panambizinho sofreu muita exploração, este trabalho resgatou os lugares medicinais em ambientes hídricos. Mesmo degradados ou desmatados, ainda podemos reconhecê-los pelas histórias e saberes tradicionais. É um conhecimento que precisa ser priorizado, repassado e utilizado novamente, para que a comunidade volte a saber como e por que preservar a vegetação nativa. As famílias devem se conscientizar para evitar as queimadas e outras práticas que degradam a terra. Também é fundamental que conservem as plantas medicinais em suas casas, no espaço onde residem, e outros espaços como a escola; e que as mulheres fortaleçam seus próprios remédios. Assim, nosso ambiente sempre estará vivo em qualquer lugar do tekoha.
É preciso acreditar para valorizar. Muitos deixaram de acreditar justamente porque não sabem onde resgatar. Daí a preocupação de mapear os vários lugares com plantas medicinais existentes na aldeia. Todo remédio tem sua origem e suas histórias, por isso a importância de reavivar também as histórias dentro da aldeia.
Aprendendo com essas orientações e conselhos recebidos das anciãs, dos sonhos, dos familiares e da literatura consultada, nossas práticas de pesquisa incluíram a ativa criação de áreas de cultivo doméstico, o uso das plantas para a saúde familiar e a efetiva interação com os espaços, os recursos e os entes ligados aos lugares de saúde.
Assim, mapeando e descrevendo os principais corpos d’água juvyy no território Kaiowá de Panambizinho, reportamos práticas de cuidado ligadas a esses lugares de saúde e de espiritualidade. Falamos dos seus usos, repassados como saberes de saúde no seio de muitas famílias Kaiowá no passado e presente. No empenho de registrar e principalmente de exercitar esses cuidados na vida cotidiana doméstica como forma de compreendê-los, alinhamo-nos com as falas de nossos anciãos e conhecedoras: apenas praticando esses saberes estaremos preservando os lugares de saúde em nosso território. É também pela preservação desses lugares que se mantêm vivos os seus guardiões, e com eles devemos conviver com respeito, aprendendo sobre suas regras, seus domínios e poderes.
Concluímos que o aprendizado, o registro e a prática doméstica desses cuidados são ações indígenas que fortalecem a preservação dos ambientes ecológicos e lugares de saúde, bem como do próprio território. Em suma, historicamente, o conhecimento e uso dos lugares sagrados e das plantas medicinais foi mais uma via e mais um motivo para manter forte a ligação com os territórios tradicionais Kaiowá e Guarani, mesmo depois de expropriados. O uso dos conhecimentos sobre cultivo e emprego das plantas; ou dos saberes de cuidado e saúde; e da própria forma correta de comunicação com os seres sagrados da natureza permite a continuidade dos modos de viver dos Kaiowá, numa cosmologia integradora de contínua negociação e interdependência com os mundos naturais.
DISPONIBILIDADE DE DADOS
Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.
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Juvyy (tesãi renda): lugares de saúde na cosmologia Kaiowá de Panambizinho, defendida por Luciana Concianza, em 2023, na Pós-graduação em Educação e Territorialidade da Faculdade Intercultural Indígena (Faind), da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), orientada por Rosa Colman. Este artigo, de responsabilidade das duas, manteve a voz autoral na primeira pessoa do singular (“eu”), preservando o caráter autoetnográfico do estudo original.
Referências
- BENITES, Iracy Lima; SANGALLI, Andréia; RODRIGUES, Tatiana Rojas; MARTINS, Igor Rosa. As plantas medicinais e o ensino da botânica na aldeia Amambai. In: SANGALLI, Andréia; LADEIA, Elaine; BENITES, Eliel; PEREIRA, Zefa (Org.). Tekoha ka’aguy: diálogos entre saberes Guarani e Kaiowá e o ensino de Ciências da Natureza. Jundiaí: Paco, 2017.
- BRAND, Antonio J.; COLMAN, Rosa S.; COSTA, Reginaldo B. Populações indígenas e lógicas tradicionais de Desenvolvimento Local. Interações, Campo Grande, v. 9, n. 2, 2008, p. 171-79.
- INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA [IBGE]. Censo Demográfico - 2022. Rio de Janeiro: IBGE, 2022.
- MACIEL, Nely Aparecida. História da Comunidade Kaiowá da aldeia Panambizinho (1920-2005) Dourados: Editora da UFGD, 2012.
- PEREIRA, Lúcia. Aprendizados com as ñandesy e parteiras Kaiowá e Guarani. In: BASTA, Paulo. Pohã Ñana: nãnombarete, tekoha, guarani ha kaiowá arandu rehegua / Plantas medicinais: fortalecimento, território e memória guarani e kaiowá. Recife: Fiocruz-PE, 2020.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
17 Nov 2025 -
Data do Fascículo
Jan-Dec 2025
Histórico
-
Recebido
26 Mar 2023 -
Revisado
16 Jun 2025 -
Aceito
16 Jun 2025
