Resumo
A fração capitalista que corresponde ao agronegócio brasileiro constantemente se coloca numa posição de pretensa centralidade econômica, clamando, assim, por um papel relevante no desenvolvimento econômico nacional que justificaria seus achaques sobre o Estado. Mas o que se observa historicamente é a manutenção do Brasil como nação subalterna no plano internacional, levantando a questão de qual seria a responsabilidade do agronegócio nesse ciclo vicioso. Este artigo empírico tem por objetivo geral analisar as possíveis relações entre o peso e a participação do agro na fixação do lugar ocupado pelo Brasil na divisão mundial do trabalho (DMT) da economia-mundo capitalista. Parte-se das premissas da análise de sistema-mundo para tentar estabelecer critérios objetivos que permitam subsidiar de forma quantitativamente empírica o entendimento de que o Brasil seria uma economia semiperiférica estacionada pelo desproporcional peso de seu setor agroextrativista. Essa investigação se desenrola a partir de uma abordagem quali-quanti de orientação sócio-histórica: (I) análise das pautas de comércio exterior do país, por meio da exposição visual e discussão da estrutura da pauta de exportação; e (II) análise de cluster dos índices de complexidade econômica de um rol de países, para formação de grupos por aproximação de complexidade. Isto para identificar a posição do Brasil na divisão mundial do trabalho. Como resultado, infere-se que o peso desproporcional do setor agroextrativista na economia brasileira, evidenciado a partir da pauta exportadora, contribui para manutenção do país como nação em situação de semiperiferia, o que fica caracterizado pela análise de cluster realizada.
Palavras-chave:
divisão global do trabalho; sistema-mundo; semiperiferia; complexidade econômica
Abstract
The capitalist fraction that corresponds to Brazilian agribusiness constantly places itself in a position of alleged economic centrality, thus claiming a relevant role in national economic development, which would justify its attacks on the State. However, what is historically observed is the maintenance of Brazil as a subordinate nation at the international level, raising the question of what the responsibility of agribusiness would be in this vicious cycle. This empirical analysis aims to investigate the potential relationships between the significance and participation of the agroextractivist sector in determining Brazil's position within the global division of labor (GDL) of the capitalist world-economy. Grounded in world-system analysis, the study seeks to establish objective criteria to quantitatively support the understanding that Brazil functions as a semi-peripheral economy, anchored by the disproportionate weight of its agroextractivist sector. The research employs a socio-historical quali-quantitative approach, encompassing: (I) an examination of the country's foreign trade patterns, involving visual representation and discussion of the export structure; (II) cluster analysis of economic complexity indices for a selection of countries to form groups based on complexity proximity, aiming to identify Brazil's position in the global division of labor. The findings suggest that the disproportionate weight of the agroextractivist sector in the Brazilian economy, as evidenced by the export profile, contributes to the country's continued status as a semi-peripheral nation, as indicated by the cluster analysis conducted.
Keywords:
global division of labor; world-system; semi-periphery; economic complexity
Resumen
La fracción capitalista correspondiente al agronegocio brasileño se posiciona constantemente en una supuesta centralidad económica, reclamando así un papel relevante en el desarrollo económico nacional que justificaría sus constantes exigencias al Estado. Sin embargo, lo que se observa históricamente es el mantenimiento de Brasil como una nación subordinada en el plano internacional, lo que plantea la cuestión de cuál sería la responsabilidad del agronegocio en este ciclo vicioso. Este artículo empírico tiene como objetivo general analizar las posibles relaciones entre el peso y la participación del agro en la determinación del lugar que ocupa Brasil en la división mundial del trabajo (DMT) dentro de la -economía-mundo capitalista. Se parte de las premisas del análisis de sistema-mundo con el fin de establecer criterios objetivos que permitan fundamentar, de manera empírica y cuantitativa, la comprensión de Brasil como una economía semiperiférica estancada debido al peso desproporcionado de su sector agroextractivista. Esta investigación se desarrolla a partir de un enfoque cuali-cuantitativo de orientación sociohistórica: (I) análisis de la estructura del comercio exterior del país mediante la exposición visual y discusión de la composición de su pauta exportadora; (II) análisis de clúster de los índices de complejidad económica de un conjunto de países, con el propósito de formar grupos según su nivel de complejidad. Todo ello con el objetivo de identificar la posición de Brasil en la división mundial del trabajo. Como resultado, se infiere que el peso desproporcionado del sector agroextractivista en la economía brasileña, evidenciado a partir de la pauta exportadora, contribuye al mantenimiento del país en una posición semiperiférica, lo que queda caracterizado por el análisis de clúster realizado.
Palabras clave:
división global del trabajo; sistema-mundo; semiperiferia; complejidad económica
1 INTRODUÇÃO
Seria um truísmo afirmar que, no Brasil, as atividades em torno da produção agropecuária representam um papel importante na economia. De fato, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) compilados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a agropecuária foi responsável por 15,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no país. Se levado em consideração insumos agropecuários, agropecuária, agroindústria e agrosserviços - o que se convencionou chamar como “agronegócio” (Barros, 2022, p. 2) -, a participação no PIB chega a 23,8% (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada [Cepea]; Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil [CNA], 2024). Mas essa “importância” precisa ser relativizada, sobretudo à luz da própria natureza da atividade agropecuária e seus efeitos econômicos, políticos e sociais.
Interessantemente, a despeito de representar menos de ¼ do PIB e reunir atividades econômicas de baixo valor agregado, tomadoras de preço no comércio exterior, tecnologicamente dependentes, seus representantes, notadamente reunidos na Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) (Bruno, 2021), têm em muitos casos protagonizado o debate político e econômico no Brasil. Essa influência desproporcional indica, por sua vez, a centralidade exercida por aqueles setores no debate público brasileiro, centralidade esta denotada também por sua capacidade em inclinar agenda política e econômica em seu favor (Lima, 2016; Mitidiero; Goldfarb, 2021). Porém, longe dessa prevalência representar benefícios coletivos amplos, ou uma oportunidade de desenvolvimento, a proeminência do setor está associada à desindustrialização e à menor complexidade econômica (Lacerda; Severian, 2023)3, assim como a defesa de pautas sociais conservadoras e retrógradas (Graciano et al., 2023).
Neste trabalho, levantamos a questão da responsabilidade do setor na manutenção da condição de subdesenvolvimento da economia brasileira. Para fazer esse debate, evocamos a metodologia de análise de sistemas mundiais. No contexto das diferentes interpretações dos fenômenos e processos sociais internacionais, a concepção de sistema-mundo se impõe pela capacidade de encontrar padrões e regularidades estruturais nas formas por meio das quais os Estados e empresas se relacionam num plano global (Pereira; Xerri, 2020). A premissa da qual se parte nos trabalhos inspirados por esse arcabouço teórico é que o capitalismo não se apresenta meramente como um modo de produção, mas uma totalidade dinâmica de instâncias de representação, sociabilidade e práxis ao redor de mecanismos de produção e apropriação de valor excedente. Como tal, a totalidade do capitalismo seria um processo social em escala mundial que hierarquiza (sujeita, subordina e explora) instâncias coletivas de relação e ação num sistema estruturado de controle, com regras e funcionamento próprios, cujo objetivo principal é a valorização de capital (Acco, 2018).
Assim, sendo possível analisar a estrutura econômica de um país em particular, poder-se-ia tecer considerações acerca de seu papel no sistema-mundo capitalista. Essa é a proposta de trabalho que aqui se apresenta: procuramos estudar as possíveis relações entre o peso e a participação de um setor com particular representatividade na composição da estrutura econômica e social brasileira para compreender seu papel na manutenção do lugar ocupado pelo país na economia-mundo capitalista. O pressuposto a ser analisado é a de que a condição da economia brasileira como uma estrutura semiperiférica, na qual a participação relativa do agro se apresenta preponderante tanto econômica quanto politicamente (Mitidiero; Goldfarb, 2021), ancora o Brasil como player de importância secundária na divisão mundial do trabalho (DMT). Dessa maneira, pode-se inferir que o setor agroextrativista funciona como um limitador/castrador de desenvolvimento econômico e social.
As premissas fundamentais desse trabalho são: (I) o setor agroextrativista funcionou como uma atividade típica de periferia (Oliveira, 2018); (II) os esforços de industrialização por parte do Estado brasileiro não se mostraram suficientes para alterar a estrutura econômica do país ao ponto de mudar significativamente a participação da produção nacional na DMT (Cristaldo, 2018); (III) é possível utilizar dados da pauta exportadora de uma nação como evidência de seu papel na DMT. Como objetivo geral desta investigação, pretende-se conhecer algumas das influências econômicas da dinâmica do agronegócio brasileiro na posição do país na economia-mundo capitalista, entre 1995 e 2019.4
Este é um trabalho que dialoga com a abordagem sócio-histórica, ilustrada com dados quantitativos e qualitativos. Utilizamos dados fornecidos pela ferramenta on-line The Atlas of Economic Complexity (Taec) da Universidade de Harvard. A seguir, esse artigo se divide em mais quatro seções. A próxima é dedicada à contextualização e ao estabelecimento de um marco teórico sobre sistema-mundo, semiperiferia. Na sequência, aborda-se brevemente o papel do agronegócio na composição da economia e sociedade brasileiras. A terceira, por sua vez, é dedicada ao detalhamento dos procedimentos metodológicos operados no âmbito do estudo empírico aqui relatado. A quarta seção contém os resultados e comentários. Ao final, seguem considerações acerca das questões abordadas.
2 SISTEMA-MUNDO CAPITALISTA: CENTRO, PERIFERIA E SEMIPERIFERIA
O conceito de sistema-mundo se refere à ocorrência de um espaço social abrangente, regido por lógicas autossustentadas (Thompson, 2020). As relações internacionais se caracterizariam por uma configuração tripartite entre (I) um país (ou espaço de acumulação) que funciona como centro hegemônico, (II) um rol de outros países centrais atuando como sócios do país hegemônico e (III) um conjunto de países periféricos e semiperiféricos em situação de controle subalternizado (Almeida, 2020). Subjaz, portanto, um esquema de hierarquização, cuja materialidade é a divisão mundial do trabalho (DMT) e seus efeitos na integração inter/trans/supranacional dos países, marcada por laços de dependência (Paiva; Gurgel; Souza Filho, 2023; Marques, 2025). Os diferentes papéis assumidos pelas nações não são fixos. O sistema-mundo do capital se transforma concomitante ao desenvolvimento das forças produtivas sociais, assim como, e talvez sobretudo, à dinâmica de expansão capitalista.
Dadas as contradições estruturais do modo de produção capitalista, que engendram crises de naturezas diversas - de oferta, demanda, financeiras, desequilíbrios setoriais, desalinhos políticos, etc. (Martins, 2024) -, a produção de mais-valor precisa se expandir continuamente para assegurar um crescente fluxo de capital novo. Tal expansão, que se deu por meio de ímpetos de investimento e desinvestimento ao longo da história, estruturou-se no plano global pela sucessão e sobreposição de ciclos sistêmicos de acumulação liderados por instâncias geopolíticas - institucional, material e militarmente inovadoras - capazes de assegurar lucros extraordinários ao capital (Thompson, 2020).
No processo, tornar-se-iam centrais aquelas nações capazes de aglutinar as atividades econômicas mais interessantes para os investidores e que, portanto, seriam capazes de atrair o capital circulante internacional, enquanto os setores econômicos menos atraentes seriam relegados aos domínios espaciais periféricos e semiperiféricos (Thompson, 2020). A capacidade/condição do conjunto das atividades econômicas de determinar o papel de uma nação no sistema-mundo capitalista, como parte integrante do centro ou da periferia, não é unívoca, mas histórica, varia com o devir do modo de produção. No entanto, acredita-se aqui que, em um contexto específico, é possível precisar quais atividades são típicas de centro, bem como quais são aquelas típicas de periferia (Arrighi, 1997).
Na perspectiva da análise de sistema-mundo, o que caracteriza a diferença entre centro e periferia é a distribuição desigual de atividades econômicas típicas do centro e as atividades econômicas típicas da periferia. Nos países considerados centrais, concentram-se as atividades econômicas com maior valor agregado, ou que sejam capazes de orientar a tomada de decisão de cadeias globais de valor - e, consequentemente, a distribuição de valor ao longo da cadeia -, enquanto na periferia, por sua vez, estão radicadas as atividades econômicas de menor valor agregado e cuja amplitude decisória é de limitado alcance (Pereira; Xerri, 2020).
No entanto, não é possível elencar unívoca ou universalmente quais seriam essas atividades, pois a dinâmica tecnológica do modo de produção capitalista faz com que os setores econômicos assumam, historicamente, diferentes níveis de capacidade de formação de valor e influência/capacidade decisória ao longo do tempo (Thompson, 2020). Cada diferente configuração atrai a atenção dos capitalistas do centro (capital circulante) quando tais circunstâncias são mais favoráveis, ou são relegadas à periferia quando não.
A indústria de transformação seria o exemplo mais próximo. Outrora sinônimo de desenvolvimento e avanço social, no último quartel do século XX, a indústria de transformação vem perdendo sua importância nas economias centrais, que passaram por um processo de desindustrialização. Por outro lado, o boom da industrialização no leste da Ásia e em parcelas da América Latina e África no período marcam o ocaso dessa atividade econômica como, necessariamente, típica de centro (Katz, 2019).
Portanto, pode-se afirmar que, em um dado contexto histórico, haverá uma diferenciação entre o que são as atividades predominantemente do centro e as atividades relegadas às periferias (Pereira; Sardo, 2022). Não se trata, porém, de atividades mais ou menos lucrativas necessariamente - haja vista o fato de que a acumulação global de mais-valor se dá muitas vezes em atividades menos lucrativas nominalmente, pois a formação de lucro (mera relação contábil) também depende da capacidade de dissuasão de um determinado estágio na cadeia de valor -, mas seriam centrais as atividades que concederiam ao capital capacidade de controle sobre as cadeias de valor e que, portanto, permitiriam amealhar maiores parcelas do mais-valor global.
Em quaisquer Estados podem ser encontradas atividades de centro, controladas pelo “capital de núcleo orgânico” (Arrighi, 1997, p. 154), com atividades de periferia, essas controladas por outras naturezas de capital. O que os diferencia seria a composição da estrutura de capital, e consequentemente de aglutinação de atividades com essas diferentes naturezas, que cada nação controla sob sua jurisdição político-econômica. Assim, não é a mera coexistência de atividades típicas do centro e da periferia numa mesma nação que caracteriza uma estrutura econômica como centro, periferia ou semiperiferia, mas a importância relativa das primeiras em relação às demais (Almeida, 2020). Essa importância relativa, acredita-se aqui, materializa-se em que grau a economia analisada se diferencia e complexifica.
Argumenta-se aqui que as condições históricas de centro e periferia, assim como as eventuais posições intermediárias no continuum entre esses extremos, como as semiperiferias - ao menos no contexto histórico abrangido por esta investigação - se caracterizam pela distribuição desigual de instâncias decisórias capazes de ditar os rumos dos fluxos de valor (capitais, não necessariamente apenas na forma mercadoria como parece sugerir a noção de cadeia de mercadorias de Wallerstein) ao longo da economia-mundo.
Reforçando, neste trabalho são consideradas economias centrais aquelas aglutinam não apenas as atividades econômicas mais rentáveis, mas, sobretudo, aquelas atividades que permitem controlar - direta ou indiretamente, por aproximação ou à distância - a valorização global de capital e a distribuição sistêmica de valor (Thompson, 2020). Por outro lado, as economias periféricas são aquelas cujas bases econômicas são dominadas, ou melhor, integradas, de forma subalterna ao sistema-mundo capitalista. Entre elas, encontram-se as economias semiperiféricas, países de importância regional, cujas bases econômicas aglutinam uma particular composição de atividades típicas de centro e atividades típicas de periferia, (dês?)equilibradas de modo que seus sistemas econômicos não são capazes de chegar a consensos claros sobre estratégias de desenvolvimento (Radice, 2009).
A relação entre nações centrais, de um lado, periféricas e semiperiféricas, de outro, são bem descritas pela noção de dependência, de articulação dialética ontologicamente necessárias, mas desiguais (Paiva; Gurgel; Souza Filho, 2023). Assim, a dependência também é uma relação de subordinação, na qual nações que são formalmente soberanas se encontram intrincadamente articuladas às nações centrais por meio relações de produção e distribuição de mais-valor, assim como intelectuais, culturais e políticas, numa estrutura hierarquizada de hegemonia ou mesmo dominação (Treacy 2022). Nas economias periféricas e semiperiféricas, subalternamente dependentes, o ciclo do capital se fecha externamente, pois o grosso de sua produção se destina ao consumo nos países centrais ou para servir como insumo de bens com maior valor agregado (Paiva; Gurgel; Souza Filho, 2023).
Essa configuração da DMT5 também contribui, de um lado, para reforçar a posição de liderança da nação hegemônica e das nações centrais, enquanto cerceia e limita as possibilidades dos demais países serem capazes de verdadeiramente se desenvolver. O caso brasileiro se mostra emblemático, na medida em que se observa no conjunto da economia nacional uma influência muito grande do setor agroextrativista, típico de periferia. A força econômica e, consequentemente, política que o setor agroextrativista representa contribui para o desenvolvimento insuficiente da indústria, bem como para a multiplicação da opinião política conservadora.
3 O PAPEL ESTRUTURAL DO SETOR AGROEXTRATIVISTA NO BRASIL
O setor agroextrativista normalmente é relacionado, no estudo da DMT, entre as atividades típicas de periferia (Pereira; Sardo, 2022). Isso por conta de sua limitada capacidade de pautar a distribuição no âmbito das cadeias globais de valor das quais faz parte. Normalmente, esse conjunto econômico está ancorado na produção e comercialização de commodities, que nos mercados internacionais normalmente aparecem como price takers. Dessa forma, apresentam pouca margem de dissuasão no plano do comércio exterior e das cadeias de valor das quais fazem parte (Simonetti; Camargo, 2011), o que redunda em margens de lucro constrangidas e uma menor capacidade de barganha no comércio internacional.
Por sua vez, as taxas de retorno relativamente baixas do setor agroextrativista são compensadas por meio de incrementos contínuos de escala, incorporação tecnológica e incentivos institucionais e financeiros providos pelo Estado. Trata-se de uma condição especialmente característica em países periféricos e semiperiféricos, este último o caso do Brasil, onde a ampla disponibilidade de recursos naturais e o extenso exército industrial de reserva, assim com a relativa paridade hegemônica dos capitais dedicados a atividades típicas de centro, permite às frações capitalistas relacionadas ao setor agroextrativista o exercício de uma influência desproporcional sobre as políticas de governo (Mitidiero Jr.; Goldfarb, 2021).
Tal influência, considerando o caso brasileiro, materializa-se tanto em escala micro quanto no âmbito macroeconômico, no qual o setor é um importante fornecedor de produtos para o consumo interno e industrial, bem como reúne atividades que rendem divisas em moeda estrangeira (Nascimento; Cardozo; Cunha, 2009). Politicamente, o setor agroextrativista se faz representar nas instâncias de governo (legislativas e executivas), tanto pela presença direta de grandes proprietários rurais em cargos eletivos como por meio do financiamento de campanhas, das associações patronais e das ações de lobbying (Sorj, 2008). Dessa forma, sua capacidade de orientar políticas públicas e pautar programas de governo no país não pode ser considerada levianamente desprezível (Simonetti; Camargo, 2011).
Estudiosos convergem no entendimento de que, a despeito das mudanças na sociedade brasileira a partir do último quartel do século XX até o novo milênio, a configuração da matriz econômica não teria passado por transformações tão significativas ao ponto de atenuar a influência do setor agroextrativista (Ouriques; Vieira, 2017). Pelo contrário, haveria um processo fortalecimento do setor agroextrativista na pauta de exportação brasileira, primeiro puxado pela alta global dos preços das commodities na primeira década do século XXI, depois como resultado dos ajustes econômicos e da guinada conservadora após a crise financeira global a partir de 2007 (Lopes, 2020).
Ao mesmo tempo, pode-se dizer que a economia nacional apresenta uma histórica dependência estrutural em relação aos setores exportadores de commodities (Nascimento; Cardozo; Cunha, 2009; Treacy, 2022), o que apenas confirma a tese da importância do setor agroextrativista na economia brasileira, para o bem e para o mal. Essa constatação fica ainda mais interessante quando se analisa a questão da complexidade do sistema econômico nacional à luz da pauta de exportação brasileira.
Uma economia pode ser considerada complexa se for capaz de concentrar nas diferentes instâncias das cadeias globais de valor etapas com elevada incorporação tecnológica, autonomia decisória, alta produtividade, em diferentes setores, desde o primário, secundário até o terciário (Hausmann et al., 2013). Haja vista o fato de que as diferentes metodologias de levantamentos de dados observadas, bem como uma dificuldade inerente em se mensurar diferenciação das atividades econômicas, comparar quão complexas são as economias de diferentes países é um desafio. Hausmann et al. (2013) propõe uma metodologia de formação de indicador para a complexidade, por meio da pauta de exportação. A pauta de exportação indicaria a capacidade de integração com o comércio exterior, além de competências da produção de bens tradables, podendo ser utilizada como base para um índice que serviria como proxy de seu grau de complexidade.
Assim foi criado o Índice de Complexidade Econômica (IEC) disponibilizado na base on-line conhecida como The Atlas of Economic Complexity (Taec). Considerando que, de acordo com a metodologia de análise de sistemas mundiais, a DMT representa a estrutura hierárquica de distribuição de atividades (Leite, 2019), as quais, por sua vez, separam países entre as categorias de centro, semiperiferia e periferia (Osorio, 2020), pode-se inferir que tipo de complexidade econômica ressaltada pelo IEC proposto por Hausmann et al. (2013) guarda dentro de si informações sobre como um país se integra à DMT. Em outras palavras, além de revelar quão diversificada e complexa é um sistema econômico nacional, o IEC também carrega informações sobre como tal estrutura se relaciona com outros sistemas econômicos nacionais. Essa é uma premissa fundamental deste trabalho.
4 CAMINHOS METODOLÓGICOS
Esse artigo relata resultados de um estudo acerca das relações entre o peso e a participação do setor agroextrativista e o lugar do Brasil na economia-mundo capitalista. Trata-se de um procedimento que se vale da metodologia sócio-histórica, a partir de uma abordagem qualiquantitativa. A principal fonte de dados secundários foi o Taec, mantido pelo The Growth Lab (TGL) da Harvard University.
No âmbito da teoria de sistema-mundo, a forma de integração é interpretada como resultado, entre outros aspectos, de como um país se articula à DMT (Marques, 2025). Aqui, toma-se como premissa que os dados referentes às exportações e importações de um país podem ser utilizados como proxy da maneira como se integra ao sistema-mundo capitalista. Essa análise da pauta de comércio exterior do país pode auxiliar a identificar se predominam atividades de centro ou de periferia (Pereira; Sardo, 2022), bem como ilustrar o quão complexa é a economia (Hausmann et al., 2013).
O presente trabalho, focalizando o caso brasileiro, foi estruturado segundo os procedimentos de organização, análise e exposição dos dados relacionados abaixo:
Análise da pauta de exportações em três recortes - 1995, 2002 e 2019 -, com o intuito de identificar quais setores econômicos predominaram na composição das exportações totais e líquidas do país;
Série histórica da pauta de exportações totais, por setor, entre 1995 e 2019, para procurar ilustrar como o país se comportou longitudinalmente em sua atuação no comércio externo.
Os dados referentes à pauta de exportação foram aglutinados por setor e utilizados para compor uma forma visual de exposição, por meio da ferramenta on-line Taec. Os critérios da delimitação temporal e eleição do recorte da investigação foram: (I) a disponibilidade de dados, já que a plataforma Taec disponibiliza gratuitamente apenas dados entre 1995 e 2019; e (II) o último ano do governo FHC no Brasil, quando se entende que houve uma mudança nos sentidos da gestão do desenvolvimento no país (Cristaldo, 2021). A seguir, propõem-se ainda uma
Análise dos índices de complexidade do Brasil, em relação aos demais países dos quais o Taec disponibiliza dados, também em três recortes - 1995, 2002 e 2019 -, por meio de uma análise de agrupamento.
Os recortes utilizados neste trabalho - 1995, 2002 e 2019 - foram obtidos por conveniência. Na oportunidade em que coletamos os dados para essa investigação, entre fevereiro e junho de 2022, a ferramenta on-line do Taec só disponibilizava acesso aberto a informações referentes aos anos compreendidos entre 1992 e 2020. Optamos por estabelecer como marco o ano de 1995, pois foi o primeiro depois da estabilização econômica do Brasil com o Plano Real. O ano de 2002, por sua vez, foi escolhido por ter sido o último do ciclo de governo dos setores políticos responsáveis pela criação do Plano Real no Brasil. E 2019 foi utilizado como marco por ter sido o último ano antes da pandemia de Covid-19, cujos efeitos econômicos em escala global certamente impactaram o comércio exterior.
Empregamos esse procedimento para identificar os países que podem ser considerados centrais, periféricos e semiperiféricos nos diferentes recortes temporais. O índice de complexidade funcionaria como uma forma de expressão de quão diversificada é uma economia. Essa diversificação aparece tanto no que diz respeito à ocorrência de capacidade de exportação a partir de diferentes setores econômicos quanto na identificação de setores cujas atividades apresentam maiores/melhores desdobramentos e encadeamentos por outras atividades associadas. O indicador é composto a partir de uma análise ponderada das pautas de comércio 'exterior dos países, bem como de premissas de complexidade atribuídas aos diferentes setores econômicos (Hausmann et al., 2013).
Como o índice mencionado é proxy de complexidade, a partir da participação de um determinado país no comércio exterior, acredita-se que também pode ser empregado de forma comparativa, como proxy de qual o papel de um país específico na DMT dentro da classificação teórica proposta por Arrighi (1997). A análise de agrupamento permite, dessa forma, que em cada recorte temporal sejam identificados grupos de países agregados por complexidade econômica refletida no âmbito do comércio exterior. No caso da presente análise, considerar-se-á que quanto maior a complexidade econômica, mais central será o papel do país no sistema-mundo capitalista, e vice-versa.
Portanto, acredita-se aqui que a articulação da análise da pauta exportadora brasileira, mais a análise por agrupamento de índice de complexidade, proporcionará um vislumbre do papel do Brasil no sistema-mundo capitalista. Ao comparar os diferentes recortes, poder-se-á então tecer uma interpretação da capacidade da economia mudar, ou não, seu papel na DMT. Na seção subsequente, relatam-se os resultados da investigação que, neste caso, contemplam os itens 1 e 2 acima descritos.
5 RESULTADOS
Nessa seção, analisamos os resultados quantitativos encontrados. Conforme já indicado anteriormente, a etapa empírica se fundamenta em três recortes para analisar a pauta de exportações brasileiras, em 1995, 2002 e 2019. Na Figura 1, a seguir, observa-se a composição da pauta de exportação do Brasil no primeiro recorte. Nota-se que a movimentação do setor agroextrativista - que entendemos como o somatório das rubricas agriculture, metals, minerals e stone - representava aproximadamente 58% das exportações totais. Naquele ano, a economia brasileira participava da DMT sobretudo como fornecedora de commodities de baixo valor agregado. Segundo o referencial teórico, essa é uma característica típica de um país periférico do sistema-mundo capitalista.
Quando, por outro lado, consideram-se as exportações líquidas - descontadas as importações de uma mesma rubrica -, reforça-se ainda mais evidente a percepção do papel periférico ocupado pelo Brasil. Do conjunto das exportações líquidas brasileiras em 1995, o setor agroextrativista representou 96%. Para ilustrar essa percepção, utilizamos o índice de complexidade econômica elaborado pelo TGL de Harvard.
Ainda tratamos os dados obtidos na ferramenta on-line do Taec para excluir países que não apresentassem informações para os anos de recorte, 1995, 2002 e 2019. Dos 123 países constantes na base de dados do Taec, 113 apresentavam dados completos que possibilitaram a análise. A seguir, o conjunto de dados foi analisado por meio do software de análise de dados IBM SPSS. Primeiro, empregou-se o método de classificação por agrupamento hierárquico, com intervalos calculados a partir do quadrado da distância euclidiana em relação a uma média. O resultado da análise de variância (Anova) relevou forte grau de significância da variável como parâmetro de agrupamento. Esse primeiro procedimento indicou a possibilidade de aglomeração em três, quatro ou cinco clusters de países.
Essas possibilidades foram então testadas por meio do método de classificação por agrupamento a partir de um número a priori de grupos (k-médias). Muito embora a Anova tenha indicado que a variável apresentava agrupamento significante para modelos com três, quatro ou cinco clusters, o arcabouço teórico consultado no âmbito da análise de sistema-mundo indica a ocorrência de três agrupamentos principais de países que estruturam o sistema-mundo capitalista, conforme já foi explicitado anteriormente: centro, periferia e semiperiferia (Arrighi, 1997). Nesse sentido, acredita-se que a aglutinação das observações em três clusters se mostra suficiente para atender ao objetivo geral deste estudo, qual seja, ilustrar as ocorrências e possíveis flutuações do caso brasileiro.
A partir da Tabela 1, com a média do índice de complexidade, observa-se um cluster de países para o ano de 1995. A significância da variável como medida de agrupamento foi confirmada pela Anova. Observamos que a mostra se aglutina em três categorias, um grupo com elevado grau de complexidade econômica, um segundo grupo de complexidade intermediária e, por fim, um terceiro grupo que apresenta baixíssimo grau de complexidade econômica. Pode-se inferir que o primeiro grupo de países comporia o que se compreende como países centrais, correspondendo a 22 observações. O segundo grupo então agregaria os países semiperiféricos, um total de 46 países, e, por fim, o terceiro grupo integraria então os países periféricos do sistema-mundo capitalista, um total de 45 observações.
A partir do conjunto de dados obtidos para o ano de 1995, o Brasil aparece classificado no grupo 2. O índice de complexidade econômica do país estimado pelo Taec foi de 0,559, cuja proximidade com a média do grupo 2 se mostrou estatisticamente significativa. Esse dado corresponde com a expectativa levantada por Ouriques e Vieira (2017), assim como a análise do Brasil como um país preso no que se chama de “armadilha da renda média” (Takata; Fernandes, 2023, p. 2). A informação não se apresenta como uma novidade, mas convém então continuar essa análise, observando as transformações do Brasil nos demais recortes, para discutir a possibilidade de que as alegadas mudanças econômicas do país nos últimos anos tenham resultado em uma movimentação dessa posição, seja em direção ao centro ou à periferia.
No segundo recorte utilizado como referência para essa investigação, o ano de 2002, ainda se observa um predomínio da comercialização de bens do setor agroextrativista na pauta brasileira de exportação (ver Figura 2). Aproximadamente 53% das exportações totais, 87% das exportações líquidas, tiveram origem no setor. O índice de complexidade econômica estimado para o Brasil em 2002 pelo Taec foi de 0,450, menor que em 1995, o que indica um retrocesso na diversificação da atividade produtiva do país, ao menos no que é possível inferir por meio de sua participação na DMT.
Não por acaso, a análise de cluster a partir do índice de complexidade econômica confirmou a classificação do Brasil no grupo 2 também em 2002, ainda como parte do que entendemos aqui por semiperiferia. Na Tabela 2, relata-se a média do índice de complexidade ao redor do qual foi possível estabelecer cada um dos clusters. Da mesma forma que anteriormente, a significância da variável como medida de agrupamento foi confirmada pela Anova. No ano de 2002 o cluster 1, referente ao núcleo de países centrais, foi composto por 25 países, três a mais que em 1995. Já o segundo cluster, agregando os países semiperiféricos, envolvia 44 nações (em comparação a 46 no ano de 1995), enquanto o cluster 3, formado por países periféricos, apresentou 44 observações (enquanto eram 45 em 1995).
Em 2019, terceiro e último recorte utilizado nesse estudo (ver Figura 3), consolida-se a percepção de que o comércio exterior brasileiro contribui para a DMT principalmente a partir do setor agroextrativista. Naquele ano, aproximadamente 66% das exportações totais do país vieram da comercialização de bens de agricultura, minerais, metais ou pedras. Na base de dados do Taec, relata-se que 100% das exportações líquidas do Brasil em 2019 foram oriundas desse setor. O IEC da economia brasileira, estimado pelo Taec a partir de dados do comércio exterior, foi de 0,445 - ainda menor do que em 2002.
A análise de cluster realizada com os dados de 2019 - cujas médias de IEC por cluster encontram-se dispostas na Tabela 3 - classifica novamente os dados sobre a economia brasileira como mais próximos do que se considera aqui como semiperiferia. É digno de nota registrar que o cluster 1 (países de centro) foi composto naquele ano por 33 países, enquanto os clusters 2 (semiperiferia) e 3 (periferia) agregaram 42 e 38 países, respectivamente. Assim, muito embora se possa inferir que tenha havido movimentação de alguns países semiperiféricos em direção ao centro, assim como de alguns países periféricos em direção à semiperiferia, os dados referentes ao Brasil indicam um comportamento estacionário na semiperiferia.
De forma complementar, a Figura 4 representa o montante e a participação por setores das exportações brasileiras ano a ano, desde 1995 até 2019.
Observa-se que, a despeito do aumento dos volumes de exportação em dólares, sobretudo a partir de 2002, a participação dos setores aqui associados a atividades agroextrativistas praticamente dominou a pauta de exportação do Brasil por toda a série, domínio este que se intensifica no novo milênio. Com base nos dados levantados, pode-se afirmar, portanto, que a despeito das mudanças na economia brasileira a partir do último quartel do século XX, esta emerge, se mantém e consolida um posicionamento semiperiférico. A contribuição da produção nacional para a DMT se dá, em sua maior parte, a partir do setor agroextrativista entre 1995 e 2019. Essa dominância do setor pode ser indicada como fator determinante para o não aprimoramento da complexidade econômica percebida a partir do IEC, o que indica não apenas uma atividade econômica em bases ainda muito primárias, mas, talvez, um franco retrocesso de diversidade produtiva (Hausmann, 2013).
O aspecto estacionário da economia brasileira, segundo dados compilados pelo Taec, contrasta com as movimentações de países observadas na análise de cluster. Enquanto os recortes de 2002 e, sobretudo, 2019 indicam a aproximação de alguns países ao centro, bem como de periféricos à semiperiferia, o Brasil se mantém nesse último grupamento ao lograr avanço de participação na DMT em setores de baixíssima complexidade e limitada capacidade de gerar encadeamentos dinâmicos (Mitidiero; Goldfarb, 2021).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desse trabalho foi o de analisar o peso e a participação do setor agroextrativista brasileiro na conformação do espaço ocupado pelo país no sistema-mundo capitalista e na divisão mundial do trabalho. Perseguiu-se esse objetivo por meio de um estudo empírico, de orientação qualiquantitativa, a partir de dados secundários disponibilizados pelo The Atlas of Economic Complexity (Taec) acerca da pauta de exportação, bem como do índice de complexidade econômica (IEC) para o Brasil e um rol de países. A base teórica ilustradora da pesquisa aqui relatada foi aquela proporcionada pela perspectiva de análise de sistema-mundo (Thompson, 2020).
Na primeira seção, onde se performou uma introdução para este artigo, estabeleceram-se também algumas premissas acerca da análise de sistema mundo. A segunda seção, por sua vez, relatou o marco teórico empregado. Explicou-se brevemente a concepção de capitalismo como um sistema-mundo integrado (Thompson, 2020), no qual as nações se encontram hierarquicamente relacionadas em um esquema de centro, semiperiferia e periferia (Ouriques; Vieira, 2017). Ressaltou-se que essa classificação decorre da presença, num determinado país, de atividades econômicas típicas de centro (com maior valor agregado) ou de periferia (com menor valor agregado), historicamente determinadas segundo aspectos materiais e subjetivos de cada época (Arrighi, 1997; Treacy, 2022).
Por conseguinte, ainda na seção 2, identificou-se que o setor agroextrativista corresponde a uma atividade típica de periferia, seja pela baixa incorporação tecnológica, limitada capacidade de gerar encadeamentos dinâmicos, seja pelo peso subalterno que exerce na divisão de poder nas cadeias globais de valor (Mitidiero; Goldfarb, 2021). Assim, levantou-se o pressuposto de que o Brasil, por apresentar um setor agroextrativista desproporcionalmente importante - política e economicamente -, encontrava-se em situação de semiperiferia no esquema tripartite da análise de sistema-mundo (Ouriques; Vieira, 2017). Essa é uma premissa histórica e teoricamente estabelecida, acerca da qual o presente trabalho procurou estabelecer uma metodologia de ilustração com base empírica.
Na terceira seção foram relatados os procedimentos metodológicos: análise de cluster dos índices de complexidade econômica (IEC) e análise qualiquantitativa das pautas de exportação em três recortes, 1995, 2002 e 2019. Os resultados foram então comentados na quarta seção. Como era esperado, nos três recortes, percebeu-se que a pauta exportadora do Brasil era dominada pelo setor agroextrativista, o que se intensificou até 2019. Além disso, demonstrou-se que o grau de complexidade estimado para a economia brasileira por meio de sua pauta exportadora, materializado no IEC, classifica o país num grupamento de nações semiperiféricas. Além disso, notou-se que o IEC estimado para o caso brasileiro vem diminuindo, o que indica uma perda de complexidade, reforçando as teses da reprimarização da economia (Lopes, 2020).
Pode-se apontar aqui como limitações do estudo, primeiro, a necessidade de aprimoramento de um modelo a partir do índice de complexidade econômica (IEC) como proxy para identificação dos países centrais, semiperiféricos e periféricos. Esse procedimento pode requerer a inclusão de outros indicadores de desenvolvimento - por exemplo, PIB per capita, índice de desenvolvimento humano (IDH), entre outros -, porém, por meio de metodologias de modelagem econômica que escapariam do escopo perseguido no presente trabalho. Em segundo lugar, é preciso destacar que o estudo aqui relatado pode ser aprofundado por meio de utilização de outras metodologias de análise multivariada em séries históricas, revelando, talvez, as tendências de movimentação do Brasil na DMT ou alargando a base temporal para melhor compreensão das tendências históricas dessa participação. Por último, convém ressaltar que a base do Taec não apresenta dados para todos os países, o que pode causar uma distorção na formação de clusters.
No entanto, ressaltam-se os resultados que auxiliam a reforçar a expectativa teórica sobre o posicionamento do Brasil no sistema-mundo capitalista e na divisão mundial do trabalho, bem como o papel do setor agroextrativista na manutenção de sua condição de semiperiferia. Em suma, pode-se afirmar com um certo grau de segurança que o peso desproporcional do setor agroextrativista no Brasil contribui, talvez determine, o estacionamento da nação numa posição de semiperiferia a despeito de seu tamanho e potencialidade. Estudos posteriores poderão avançar para a descrição de quais mecanismos contribuem para esse processo, como, por exemplo, (I) a influência dos setores agroextrativistas na representação política e sua capacidade de orientação dos esforços do Estado para manutenção de seus privilégios, (II) a pouca capacidade de gerar encadeamentos dinâmicos apresentada pelo setor agroextrativista, ou mesmo (III) os efeitos das atividades agroextrativistas na estratificação social e distribuição/concentração de riqueza.
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3
Subsiste no Brasil uma discussão acerca de um alegado processo de desindustrialização associado à reprimarização da economia, ou seja, um tipo de retrocesso a uma condição econômica de centralidade de setores agroextrativistas. Isso se daria no Brasil, na contramão do que ocorre nos países centrais da economia-mundo capitalista, nos quais as dinâmicas de desindustrialização a partir da segunda metade do século XX se deram em favor do crescimento do setor de serviços. Os dados expostos na seção 5 deste trabalho, de certa forma, reforçam a premissa de que o Brasil estaria em processo de reprimarização, em consonância com Lopes (2020), Oliveira (2023), Lacerda e Severian (2023), Oreiro, D’Agostini e Gala (2020), entre outros. Na academia, o diagnóstico parece consolidado, muito embora haja certa controvérsia acerca de suas causas (Oliveira, 2023). De um lado, há quem credite a reprimarização da economia brasileira à ausência de políticas industriais (Lacerda; Severian, 2023), outros ao peso desproporcional da taxa de juros e uma dita “doença holandesa” que estaria associada à política monetária restritiva de meio de circulação (Oreiro; D’Agostini; Gala, 2020, p. 324), ou mesmo a dinâmicas externas, como o boom de commodities (Lopes, 2020), entre outros fatores.
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4
Nesse estudo, utiliza-se empiricamente a categoria agroextrativismo como proxy da noção de agronegócio. Compreende-se que são termos distintos, que remetem a processos sociais não correspondentes entre si, mas acredita-se aqui que o risco de confusão conceitual se justifica dada a importância de oferecer uma etapa empírica minimamente consistente para a argumentação. O termo “agronegócio” apresenta uma imprecisão subjacente que se mostra difícil de ser eliminada empírica e teoricamente. Isto porque, a princípio, fazem parte do que se entende por agronegócio todas as atividades que, de uma forma ou de outra, contribuem para a exploração da terra. Porém, no bojo dessa concepção, podem ser incluídas atividades econômicas muito diferentes, como produção de bens de capital (maquinário agrícola), serviços financeiros (mercados futuros, financiamento agrícola), bens intermediários (sementes geneticamente modificadas, insumos de correção de solo), logística (escoamento de produção, armazenamento) (Barros, 2022). No limite, toda riqueza produzida se inicia, em algum momento, com trabalho sobre a natureza. Um conceito econômico que abrange atividades tão distintas apresenta uma capacidade explicativa diluída para o que se pretende neste estudo. Portanto, justifica-se o emprego da categoria “agroextrativismo” no lugar de “agronegócio”, ao passo que a primeira focaliza especificamente a exploração do campo e a extração e comercialização de bens com mínimo de valor agregado.
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5
A Divisão Mundial do Trabalho (DMT) é um conceito que procura substituir a noção de Divisão Internacional do Trabalho (DIT) a partir da perspectiva de análise de sistema-mundo. Parte-se de uma crítica sobre a DIT, demonstrando que essa noção pressupõe países independentes e soberanos, um sistema internacional coeso e com regras relativamente claras, assim como um grau elevado de voluntarismo no que diz respeito a uma pretensa escolha, por parte das nações, acerca de seu papel na DIT. A noção de DMT, por sua vez, não emprega o Estado nacional como categoria, mas quaisquer espaços - regiões, cidades, países, colônias etc. - capazes de assumir uma função no ciclo global de valorização de capital e distribuição de valor. Assume também que a integração à DMT significa, também, a integração ao sistema-mundo capitalista, o que pressupõe uma assimilação dentro de uma ordem hierarquizada de relações de dependência. O aspecto determinante da DMT seria, portanto, o processo de troca desigual entre as instâncias político-econômicas (Leite, 2019).
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
22 Set 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
-
Recebido
19 Mar 2024 -
Aceito
23 Mar 2025 -
Aceito
08 Abr 2025





Fonte: The Growth Lab at Harvard University. The Atlas of Economic Complexity. Disponível em:
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