Open-access Análise do emprego formal no turismo de Mato Grosso do Sul

Analysis of formal employment in tourism of Mato Grosso do Sul

Análisis de empleo formal en el turismo del Mato Grosso do Sul

Resumo

O estado de Mato Grosso do Sul, com seus 46 anos, tem atualmente 79 municípios, entre eles Bonito e Corumbá, que têm destaque no turismo. Este artigo objetiva analisar qual dessas regiões tem alavancado o emprego formal voltado ao setor do turismo, bem como identificar os subsetores proeminentes. Essa análise em particular foi realizada a partir do Quociente Locacional (QL), uma medida de localização e especialização, e os dados foram extraídos do Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), trazendo o retrato do ano-base de 2021. Os resultados apontaram para Bonito com maior destaque, com QL superior a 6, tendo por referência o estado em questão. O Pantanal, que ocupa 44% do território de Corumbá, obteve um QL aproximado de 1,3. A relevância desta pesquisa destaca a especialização regional voltada para o turismo e permite demonstrar o potencial dessas regiões para aprimoramento de políticas estratégicas direcionadas ao setor de turismo como vetor para o desenvolvimento regional.

Palavras-chave:
destino turístico; emprego; desenvolvimento; Quociente Locacional (QL)

Abstract

The 46-year state of Mato Grosso do Sul currently has 79 municipalities, including Bonito and Corumbá, which are highlighted in tourism. This article aims to analyze which of these regions has leveraged formal employment in the tourism sector as well as identifying the prominent subsectors. This analysis in particular is carried out based on the Locational Quotient (QL), which is a measure of location and specialization, and the data was extracted from the Annual Social Information Report (RAIS) of the Ministry of Labor and Employment (MTE) and brings the portrait of the base year 2021. The results pointed to Bonito with greater prominence, with a QL above 6, taking the state in question as a reference. The Pantanal, which occupies 44% of the territory of Corumbá, obtained an approximate QL of 1.3. The relevance of this research highlights the regional specialization focused on tourism and allows demonstrating the potential of these regions for improving strategic policies aimed at the tourism sector as a vector for regional development.

Keywords:
tourist destination; employment; development; Locational Quotient (QL)

Resumen

El estado de Mato Grosso do Sul, de 46 años, cuenta actualmente con 79 municipios, entre ellos Bonito y Corumbá, que se destacan en el turismo. Este artículo tiene como objetivo analizar cuál de estas regiones ha apalancado el empleo formal en el sector turístico, así como identificar los subsectores destacados. Este análisis en particular se realiza con base en el Cociente de Localización (CL), que es una medida de ubicación y especialización, y los datos fueron extraídos del Informe Anual de Información Social (RAIS) del Ministerio de Trabajo y Empleo (MTE) y trae el retrato del año base 2021. Los resultados apuntaron a Bonito con mayor destaque, con QL superior a 6, tomando como referencia el estado en cuestión. El Pantanal, que ocupa el 44% del territorio de Corumbá, obtuvo un CL aproximado de 1,3. La relevancia de esta investigación resalta la especialización regional enfocada al turismo y permite demostrar el potencial de estas regiones para mejorar las políticas estratégicas dirigidas al sector turístico como vector de desarrollo regional.

Palablas clave:
destino turístico; trabajo; desarrollo; Cociente de Localización (QL)

1 INTRODUÇÃO

Sob uma perspectiva econômica, o turismo é uma atividade capaz de impactar diversos setores da economia, afetando tanto a esfera pública como a privada, assim como a sociedade no geral. Para que isso ocorra de maneira eficaz, os participantes envolvidos nesta atividade devem estar alinhados com as articulações que impliquem a adoção de medidas que viabilizem a atividade no local, seja promoção, seja implementação, seja manutenção. O alcance dessa atividade consta apresentado em dados da Word Travel e Tourism Concil (WTTC), os quais destacam que, em 2022, o setor de Viagens e Turismo contribuiu com percentual de 7,6% para o Produto Interno Bruto (PIB) global, registrando um aumento de 22% em relação ao ano anterior. Além disso, nesse mesmo período, foram criados 2,2 milhões de novos empregos, representando um aumento de 7,9% em comparação ao ano de 2021 (WTTC, 2023).

O turismo no Brasil destaca-se pela diversidade de atrações, oriundas de um vasto segmento que engloba aspectos culturais, naturais e espaciais. Além disso, é importante mencionar que o país figura entre as maiores economias mundiais (Lohmann; Dredge, 2012). Lohmann et al. (2022) destacam que, na região Centro-Oeste, o eixo Pantanal-Bonito é responsável pela representação das atividades relacionadas ao ecoturismo.

É no estado de Mato Grosso do Sul que o eixo Pantanal-Bonito está localizado e reconhecido como território turístico com atrativos excepcionais. O autor Ignarra (1999) acredita que territórios turísticos com características excepcionais têm valor agregado no mercado do turismo internacional, o que, por sua vez, promove o aumento da demanda de visitantes. Dado isso, tem-se o fortalecimento do turismo como importante atividade econômica na região.

Diante do exposto, surge a seguinte lacuna de pesquisa: qual é a contribuição do setor de turismo para a empregabilidade no estado de Mato Grosso do Sul? Com isso, há o objetivo de identificar qual(is) região(ões) tem(têm) alavancado o emprego formal voltado ao setor do turismo e qual(is) os subsetores têm se destacado. Para identificar e atender essa proposta, utilizou-se como medida o Quociente Locacional (QL), a partir dos dados obtidos da base da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), ano-base 2021.

A divisão deste artigo se dá em cinco seções, incluída esta introdução. A segunda e terceira seções apresentam o referencial teórico e de literatura, e os procedimentos metodológicos, respectivamente. Os resultados e as discussões estão expostos na quarta seção. E, por último, estão as considerações finais.

2 REFERENCIAL TEÓRICO E DE LITERATURA

Nesta seção é discutido o papel do turismo como catalisador de desenvolvimento econômico e social, enfatizando sua capacidade de gerar emprego e renda e atuar como agente de transformação social. Também é analisado como a atividade turística interage com várias esferas da sociedade, trazendo tanto benefícios quanto desafios, e destacando a necessidade de uma abordagem holística e sistêmica para uma compreensão mais integral dos seus impactos. Este referencial abrange teorias e pesquisas fundamentais que contribuem para o entendimento do turismo como um fenômeno socioeconômico complexo, refletindo sobre as diversas tendências na definição de turismo e suas implicações práticas para o desenvolvimento sustentável.

2.1 Turismo, emprego e desenvolvimento

O turismo é uma atividade que pulveriza em diversas áreas, ou seja, apresenta versatilidade e um fator multiplicador, o qual versa sobre os aspectos econômicos, sociais e culturais, passando do status de complexo socioeconômico para uma das forças transformadoras no novo contexto, podendo culminar em mudanças estruturais na sociedade (Acerenza, 1991; Trigo, 1998; Lickorisch; Jenkins, 2000).

Para Beni (2001), há três tendências para definição de turismo: a econômica, a técnica e a holística. O autor ainda complementa que essa atividade deve ser compreendida e estudada como um sistema aberto. Chaparro (2017) acrescenta que, dada a variedade de perspectivas inerentes à atividade, é essencial uma análise holística e sistêmica para alcançar uma compreensão mais adequada do todo que a envolve.

E no contexto dessa atividade multifacetada, o turismo abarca os mais diversos setores da sociedade e com isso traz em seu bojo várias externalidades, tanto de ordem positivas como negativas. Portanto, as dimensões ambiental, social e econômica têm relação direta na cadeia turística, a qual impacta sobre essas, conforme apontado em Cooper et al. (2001).

Por essa característica exposta da versatilidade imputada ao turismo é que decorre a inferência desse setor estar atrelado ao desenvolvimento econômico. Malta (2011) atribui essa alusão do turismo como indutor de desenvolvimento devido à capacidade de geração de emprego e renda, e ainda ressalta que o resultado disso direciona ao desenvolvimento econômico. O autor complementa que as informações sobre dados econômicos relativos à atividade são demonstradas por órgãos nacionais e internacionais como Ministério do Turismo, Organização Mundial do Turismo (OMT) e Banco Mundial. Essas organizações adotam uma perspectiva otimista quanto à atividade turística, reconhecendo-a como promissora e em constante crescimento devido à sua capacidade de dinamizar a economia, gerar divisas e, principalmente, por ser um vetor significativo para o desenvolvimento econômico em âmbito local, regional e nacional (Malta, 2011).

O turismo como estratégia para o desenvolvimento é um tema recorrente, tanto que autores como Scótolo e Panosso Neto (2015) enfatizam sua presença constante em diversos níveis administrativos, de países a municípios. Esses autores revisitam a discussão sobre como o turismo pode atenuar desigualdades econômicas e sociais, em grande parte graças à sua capacidade de gerar emprego e renda por meio do efeito multiplicador. Malta (2018) adiciona sublinhando que, diante dessa característica peculiar do turismo, tornam-se indiscutíveis os benefícios e as externalidades positivas oriundas dela, tanto na geração de emprego como na produção e no fluxo de divisa estrangeiras e de capitais. Aqui, cabe destacar que essa produção pode ser compreendida em um contexto amplo, desde produtos alimentares, perpassando por construção civil e equipamentos dos mais diversos (Malta, 2018).

Dentro dessa lógica, Malta (2018) traz a importância do turismo para a atualidade, destacando que a ocorrência desses efeitos se deu e se dá em consonância com as dimensões sociais e econômicas, a ponto de viabilizar essa expansão e consolidação no escopo da economia moderna. Já anterior a isso, De Kadt (1979) destacava que o otimismo envolto da atividade do turismo gerou a crença na condição de que essa era o “passaporte para o desenvolvimento”, o que se dá, sobretudo, em virtude do elo entre a atividade promotora e o crescimento dos indicadores macroeconômicos. No cenário nacional, o turismo tem relevância no papel de promotor do desenvolvimento, com principal contribuição na geração de emprego e renda (Dias, 2003).

Contudo, a integração do turismo com o desenvolvimento nos leva a uma compreensão mais aprofundada do tema. O conceito de desenvolvimento passou por uma evolução, de modo que propiciou ampliar o olhar ao tema sob diversas perspectivas ao longo do tempo. Com isso, tem-se um termo amplamente utilizado de diversas maneiras, por vezes acompanhado de diferentes adjetivos; em algumas ocasiões, é até interpretado como sinônimo de crescimento econômico. Autores de diversas correntes de pensamento apresentam conceitos que englobam uma ampla gama de perspectivas e entendimentos que pulverizam vertentes em torno do desenvolvimento. Cabe, então, apresentar algumas interpretações sobre o tema, ora convergente, ora complementar, mas que tem por finalidade promover uma compreensão que contribua para a proposta sobre o desenvolvimento do ponto de vista de algumas abordagens.

Veiga (2010) oferece um breve resumo sobre a evolução do conceito de desenvolvimento, destacando que, até a década de 1970, ele era visto como sinônimo de progresso material. No entanto, é a partir da década de 1990, e com a publicação do primeiro Relatório do Desenvolvimento Humano pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) passou a ter destaque como indicador viável de mensuração, apesar de críticas e limitações.

Conforme Veiga (2010), o desenvolvimento, de acordo com as diferentes correntes de pensamento, oferece três possíveis respostas distintas. A primeira visão o considera como equivalente ao crescimento e à industrialização. A segunda corrente argumenta que o desenvolvimento é ilusão, mito ou manipulação ideológica, já que não seria possível a mobilidade ascendente na estrutura hierárquica rígida da economia capitalista mundial. E a terceira, denominada de “caminho do meio”, sugere que o desenvolvimento não se limita apenas aos aspectos objetivos, mas requer uma análise das bases materiais do processo, o que corresponde a um projeto social.

Os autores que se dedicam ao estudo do turismo enfatizam que o desenvolvimento desta atividade tem as dimensões sociais e econômicas intrinsicamente conectadas. Neste contexto, é relevante apontar a perspectiva de desenvolvimento na vertente social de Furtado (1985), que enfatiza que o desenvolvimento se refere ao atendimento das necessidades básicas de uma população, principalmente quanto à redução das desigualdades sociais. Complementarmente, Sen (2010) traz o desenvolvimento como liberdade, de maneira que implica a ruptura das principais fontes de privações que limitam a participação das pessoas nas esferas políticas, econômicas e sociais. Como resultado dessa ruptura, as pessoas passam a desfrutar da expansão das liberdades reais, as quais são as sociais e econômicas, como saúde e educação, bem como a participação em questões de interesse público.

Contudo, essa proposta não diminui a importância do crescimento econômico; pelo contrário, reconhece que ele subsidiará, a partir dos recursos produtivos. E é inegável que o turismo realmente detém um claro potencial para proporcionar diversos benefícios, especialmente no âmbito econômico, sendo percebido como um instrumento eficaz para impulsionar o desenvolvimento local, contribuindo para a criação de oportunidades de emprego e envolvimento da mão de obra local.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa tem característica quantitativa. Nessa abordagem, foram utilizadas técnicas para coleta, uniformização e análise dos dados, para construir o que possibilita o alcance de resultados com maiores margens de segurança e menores distorções de análise e interpretação (Diehl, 2004). Também se classifica como exploratória, a partir de levantamento bibliográfico, que tem por finalidade ampliar a compreensão da caracterização de um fenômeno específico. Além disso, ainda é enquadrada como descritiva, por empregar coleta de dados secundários, em vista de estabelecer relações entre as variáveis (Gil, 2008).

Para demonstração da dinâmica regional e das especializações regionais, serão utilizados dados disponibilizados pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), ano-base 2021, tendo por base as atividades turísticas elencadas para o Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos (CADASTUR) do Ministério do Turismo (MTur), válido para pessoas físicas e jurídicas atuantes no setor turístico. Ao todo, são 81 atividades de subclasses do Cadastro Nacional de Atividades Econômicas na versão 2.0 (CNAE 2.0), que estão descritas no Quadro 1.

Quadro 1
CNAE 2.0 Subclasse

3.1 Quociente Locacional

Para atender à proposta da pesquisa, será utilizado o Quociente Locacional (QL) como forma de medir a especialização regional, visto que, para a atividade do turismo (setor terciário), será avaliada a variável emprego, apoiada na definição de Lima (2022), que descreve que tal medida propicia a visão mais setorial, o que possibilita enxergar os setores mais especializados, com uma concentração de variável de análise específica, como, por exemplo, o emprego ou valor de produção.

Assim, para calcular o QL, Alves (2012) apresenta a seguinte expressão:

Q L i j = V A i j / V A i T V R j T j / V R T T , ou Q L i j V A i j / V R T j V A i T / V R T T

Em que: QLij é o Quociente Locacional do setor i da região j; V é a variável escolhida para se calcular o QL; VAij é o valor da variável para o setor i da região j; VAiT é o total de todos os setores da região j; VRTj é valor do setor i da região de referência; e, VRTT é o total de todos os setores da região de referência.

Para fins de análise do QL, Lima (2022) expõe que se o resultado for igual ou superior (≥) a 1, indica uma concentração significativa da atividade econômica em análise, uma vez que ela tem uma importância relativa e percentualmente maior para o território em comparação ao espaço de referência. O autor ainda acrescenta que a praticidade do QL reside justamente na capacidade de fornecer informações que podem ser interpretadas tanto no contexto de cada território quanto na perspectiva da distribuição das atividades. Ainda, seus resultados possibilitam generalizações tanto em relação à localização das atividades produtivas quanto à especialização do território.

Contudo, Alves (2012) destaca que, mesmo que o resultado do QL seja superior a 1, não significa necessariamente que a região j seja a principal região nesse setor, mas que ela se configura como um polo de concentração relativa desse setor. Isso se dá em decorrência do setor i ter uma representatividade na região j que excede a representatividade desse setor na região de referência.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 O estado de Mato Grosso do Sul

O estado do Mato Grosso do Sul (MS), criado em 1977, tem a extensão territorial de 357.142.082km2 e uma população composta de 2.757.013 habitantes (Censo 2022), distribuídos em 79 municípios, sendo o IDH estadual de 0,742; conta com 3 Regiões Geográficas Intermediárias (RGInt): Campo Grande, Dourados e Corumbá; e 12 Regiões Geográficas Imediatas (RGIm). A principal atividade econômica desse estado está amparada nos Serviços, seguida da Agropecuária. Nesse emaranhado do setor Serviços e Agropecuária, encontram-se englobadas as atividades pertinentes ao turismo (IBGE, 2023; Governo de Mato Grosso do Sul, 2022).

Em relação ao setor do turismo, as décadas de 1970 e 1980 são tidas como período marcante no estado, pois foram reforçadas as potencialidades para o turismo, em especial o segmento de pesca, e, ainda em fase embrionária, o segmento do ecoturismo. Porém, a década de oitenta foi marcada por acontecimentos econômicos desfavoráveis ao Brasil, o que implicou a estagnação do crescimento do turismo no estado de Mato Grosso do Sul, sendo retomado a partir da metade da década de 1990, com a valorização da moeda (real) equiparada ao dólar, que estimulou fortemente o turismo de compra, em especial nas regiões de Corumbá e Ponta Porã (Rizzo, 2010).

A partir disso, o estado vem evoluindo no setor turístico, ampliando-o para novos destinos, segmentos e atrativos e dando força para o segmento do ecoturismo, porém sem desagregar outros segmentos como o turismo de pesca, compra, negócios etc. O estado tem em Bonito o seu principal destaque na promoção do turismo, o que se dá em razão da beleza natural da qual dispõe. O bioma Pantanal também é um grande atrativo e tem seu apelo turístico principalmente para a atividade da pesca. O Pantanal abarca 44% do município de Corumbá, que está à margem do rio Paraguai, fortalecendo a imagem do município com a “porta de entrada” do Pantanal para os apreciadores da pesca. Além disso, Corumbá ainda sedia eventos tradicionais como o Carnaval e a Festa de São João4 (Rizzo, 2010).

Para além disso, e com a finalidade de corroborar o fortalecimento da atividade turística no estado, a Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul instituiu o Programa de Classificação dos Municípios por intermédio da Portaria n. 9, de 5 de outubro de 2021. Esse programa busca, especialmente, o desenvolvimento da infraestrutura como forma de atração para novos investimentos. A proposta do programa é para que os municípios cadastrados sejam classificados e recebam os títulos de acordo com critério de pontuação, estabelecido para cada fase, sendo 5 fases de enquadramento denominadas SEMEAR (1ª fase - destinos/municípios com pequenos números de visitantes e ofertas turísticas); NASCER (2ª fase - municípios que são procurados por um crescente número de turistas e a oferta começa a ser estruturada); FRUTIFICAR (3ª fase - atividade turística já é considerada uma das atividades econômicas do município e se faz presente nos processos de gestão); e COLHER (4ª fase - concentra os municípios em que o turismo é uma das principais atividades econômicas) (FUNDTUR, 2023).

Em relação ao Programa de Classificação dos Municípios, no estágio considerado “avançado”, o qual se refere à fase COLHER, atualmente estão enquadrados oito municípios nos quais o turismo é tido como uma das principais atividades econômicas. São eles: Aquidauana, Bodoquena, Bonito, Campo Grande, Corumbá, Costa Rica, Dourados e Jardim.

Porém, é interessante observar que a análise da realidade a partir da medida de Quociente Locacional, tendo por referência o estado de Mato Grosso do Sul, realizada a partir das atividades turísticas elencadas no CADASTUR, demonstrou a especialização da referida atividade em 9 (nove) municípios (Bodoquena, Bonito, Campo Grande, Corumbá, Coxim, Eldorado, Glória de Dourados, Miranda, Três Lagoas), que se destacaram com QL ≥ 1, conforme exposto na Tabela 1. Embora não seja o foco da pesquisa, cabe salientar que entre eles, apenas 4 (quatro) constam classificados na fase “COLHER”, do Programa de Classificação dos Municípios.

Tabela 1
Municípios de MS com QL ≥ 1 no setor do turismo

Com esses resultados, pode-se destacar que o município de Bonito é altamente especializado no turismo, com o QL superior a 6, ou seja, a composição do emprego relacionado ao turismo nessa localidade é de 30,2% em relação ao emprego total. Juntamente com Bonito, no quesito destino turístico marcante, Corumbá tem sua expressividade devido ao bioma Pantanal, apresentando QL superior a 1, o que significa que o local é especializado. Contudo, é importante destacar que, em termos relativos, outros municípios apresentaram um Quociente Locacional (QL) superior ao de Corumbá, como Glória de Dourados, Miranda, Eldorado e Campo Grande. Entre eles, apenas Miranda compartilha com Corumbá a relevância da pesca como uma das principais atividades econômicas, enquanto os demais municípios se destacam por outras dinâmicas setoriais.

Em relação a Glória de Dourados, pode ser inferida a atribuição à uma atividade específica que atende aos municípios ao seu entorno. Quanto ao município de Eldorado, a inferência que pode ser feita é a sua localização, por ser parte do Cone Sul do estado, tendo uma proximidade com o Paraguai, especificamente, numa distância de 35 km de Salto del Guairá, que é reconhecido como um polo turístico de compra.

O município de Campo Grande é a capital do estado de Mato Grosso do Sul. Apesar de ter um QL superior a 1, pode-se observar que o emprego no turismo é baixo em relação ao número de empregos totais, o que confere o já exposto por Alves (2012), ao falar que um QL superior a 1 não necessariamente valida a especialização dessa região, mas que pode ocorrer de esse ser um polo de concentração relativo do setor do turismo. O resultado das regiões de destaque pode ser visualizado no Mapa 1.

Mapa 1
QL de Mato Grosso do Sul - 2022

Considerando que Bonito apresentou um QL predominante superior a 6, com a base de dados disponíveis, é possível destacar as três principais atividades que mais contribuem para o município em termos de geração de emprego. Com isso, pode-se observar que o maior número de empregos está na atividade de hotéis (637), seguido de restaurantes e similares (321) e agências de viagens (211). Com o QL igual a 1, encontra-se o município de Bodoquena, que tem a atividade agência de viagens (39) na liderança, acompanhada de atividades de recreação e lazer não especificadas anteriormente (25) e hotéis (9). Das 81 atividades analisadas, na Tabela 2 constam as 12 que se apresentaram como mais significativas.

Tabela 2
Atividades expressivas nos municípios das regiões com QL ≥ 1
Tabela 3
Caracterização dos municípios das regiões com QL ≥ 1

É perceptível que a atividade que agrupa maior número de empregos é a de “Restaurantes e Similares” (5.207), sendo ela expressiva em Campo Grande e Bonito. Por outro lado, é interessante observar que Glória de Dourados está zerada nessa atividade. Leitura que pode ser feita sobre o mencionado município quanto ao QL ≥ 1 é que tem a sua atividade destaque em “Transporte rodoviário coletivo de passageiros, sob regime de fretamento, municipal”, sendo evidenciada em relação aos demais municípios. Dentre as 12 atividades selecionadas, a “menos significativa” é a de “Serviço de transporte de passageiros - locação de automóveis com motorista” (363), puxada por Campo Grande, seguida por Três Lagoas. Nessa atividade, Bodoquena, Coxim, Glória de Dourados e Miranda não tiveram registro.

Quanto à caracterização dos municípios elencados, as informações dos 9 (nove) são bem distintas, então, é conveniente evidenciar as diferenças entre os municípios que apresentaram a especialização em atividades turísticas, a começar pela população total, que varia de 8.567 (Bodoquena) até 897.938 (Campo Grande). Outra informação importante diz respeito ao PIB per capita (R$), com o maior sendo de 94.305 (Três Lagoas) e o menor de 19.960 (Miranda). Três Lagoas também permanece à frente em termos de População Ocupada (31,5) enquanto, nesse quesito, a menor corresponde a Glória de Dourados (12,8).

Essas diferenças regionais podem ser atribuídas à natureza relativamente recente do estado, a compreensão histórica-geográfica está intrinsecamente ligada à contextualização de Mato Grosso, bem como da região Centro-Oeste como um todo, o que implica que essa parte do território brasileiro apresenta fatores, circunstâncias e dinâmicas distintas que conferem características específicas ao seu processo de urbanização, ou seja, está em seu contexto histórico de formação econômica e territorial o processo de ocupação e povoamento (Moreira Jr.; Silva, 2017).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do estudo foi identificar qual região tem impulsionado o emprego formal no setor de turismo e quais os subsetores têm se destacado no estado de Mato Grosso do Sul, a partir da medida de análise regional do Quociente Locacional (QL). Para isso, foram coletados dados da RAIS.

Os resultados apontaram que Bonito teve o QL predominante, superior a 6, de modo que confirma o destino como principal destaque na promoção do turismo no estado de Mato Grosso do Sul, demonstrando que essa região é altamente especializada no turismo, comportando 30,2% do emprego na atividade, em relação às demais.

Assim como Bonito, Corumbá tem seu destaque no cenário do turismo regional devido ao bioma Pantanal, tendo apresentado QL superior a 1, o que indica que o local é especializado. No entanto, em termos relativos, outros municípios o superaram, como Glória de Dourados, Miranda, Eldorado e Campo Grande. Vale ressaltar que, entre os municípios com QL superior ao de Corumbá, somente Miranda apresenta semelhança com sua principal e proeminente atividade, que é a pesca.

Em atenção sobre as atividades que lideram em termos de emprego, ficou evidente a de “Restaurantes e Similares” (5.207), com destaque notável para Campo Grande e Bonito. Por outro lado, é perceptível que Glória de Dourados não tem registro nessa atividade. Porém, esse último município tem a sua atividade principal em “Transporte rodoviário coletivo de passageiros, sob regime de fretamento, municipal”, de modo que sobressai aos demais municípios nesse aspecto. Entre as 12 atividades selecionadas, a “menos significativa” é a de “Serviço de transporte de passageiros - locação de automóveis com motorista” (363), sendo Campo Grande a mais proeminente, seguida por Três Lagoas. Outros municípios como Bodoquena, Coxim, Glória de Dourados e Miranda, não tiveram registro para tal atividade.

Diante dos resultados apresentados, é importante ressaltar que o estado tem 79 municípios, porém somente 9 apresentaram QL ≥ 1 para especialização em atividade turística, o que pode ser explicado pelo fato do estado ser relativamente novo.

Contudo, é evidente que o setor de turismo tem sua relevância no cenário socioeconômico do estado estudado e contempla uma gama de atividades que proporcionam a geração de emprego e renda. Os números são representativos diante da região de referência, o que valida a atividade como estratégica e potencializadora para o aspecto econômico, sendo esse um instrumento eficaz no impulso para o desenvolvimento regional.

Por fim, é preciso entender que a pesquisa atingiu o resultado do seu objetivo, mas não tem a pretensão de esgotar o tema sobre emprego e turismo em âmbito geral, especialmente no estado de Mato Grosso do Sul, visto que ainda há lacuna de pesquisa na abordagem dessa área. No caso específico do estado em estudo, recomenda-se a continuação de uma investigação mais detalhada dos indicadores apresentados, visando a uma maior compreensão do fenômeno do turismo no impacto econômico regional.

REFERÊNCIAS

  • ACERENZA, M. Á. Administración del turismo: conceptualización y organización. 4. ed. México: Trillas, 1991.
  • ALVES, L. R. Indicadores de localização, especialização e estruturação regional. In: PIACENTI, C. A.; FERRERA DE LIMA, J. (Org.). Análise regional: metodologias e indicadores. Curitiba: Camões, 2012. 134 p. 25-44.
  • BENI, M. C. Análise estrutural do turismo 5. ed. atual. São Paulo: Editora Senac: 2001.
  • CADASTRO DE PRESTADORES DE SERVIÇOS TURÍSTICOS [CADASTUR]. Atividade turística para cadastro no Cadastur. Portal Gov.br, 27 set. 2023 [atualizado em 5 abr. 2024]. Disponível em: https://www.gov.br/empresas-e-negocios/pt-br/redesim/meu-cnpj/cadastur/atividades Acesso em: 15 out. 2023.
    » https://www.gov.br/empresas-e-negocios/pt-br/redesim/meu-cnpj/cadastur/atividades
  • CHAPARRO, J. B. As políticas públicas para o turismo e o desenvolvimento endógeno em Corumbá-MS. 2017. 125 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Sistemas Produtivos) - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Ponta Porã, MS, 2017.
  • COOPER, C.; FLETCHER, J.; GILBERT, D.; SHEPHERD, R.; WANHILL, S. Turismo, princípios e práticas. 2. ed. Tradução de Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Bookman, 2001.
  • DE KADT, E. (Ed.). Tourism: Passport to development? New York: Oxford University Press. 1979.
  • DIAS, R. Planejamento do turismo: política de desenvolvimento do turismo no Brasil. São Paulo: Atlas, 2003.
  • DIEHL, A. A. Pesquisa em ciências sociais aplicadas: métodos e técnicas. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
  • FURTADO, C. O mito do desenvolvimento econômico. São Paulo: Círculo do Livro S.A., 1985.
  • FUNDAÇÃO DE TURISMO DE MATO GROSSO DO SUL [FUNDTUR]. Mapa da Classificação Turística de Mato Grosso do Sul. Portal FUNDTUR, Campo Grande, MS, 2023. Disponível em: https://www.pinms.ms.gov.br/portal/apps/MapSeries/index.html?appid=50e54859a69d4b93835ae91204156f87 Acesso em: 1º set. 2023.
    » https://www.pinms.ms.gov.br/portal/apps/MapSeries/index.html?appid=50e54859a69d4b93835ae91204156f87
  • GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
  • GODED SALTO, M. El impacto del turismo sobre el desarrollo económico: el caso de Argentina. 1998. Tese (Doctorado em Economía Internacional y Desarrollo) - Facultad de Ciencias Económicas y Empresariales, Universidad Complutense de Madrid, Madrid, Espanha, 1998.
  • GOVERNO DE MATO GROSSO DO SUL. Economia de MS teve a maior taxa de crescimento do país em 2020, ano de pandemia, aponta IBGE. Portal Segov, Campo Grande, MS. Publicado em 17 nov. 2022. Disponível em: https://www.epe.segov.ms.gov.br/economia-de-ms-teve-a-maior-taxa-de-crescimento-do-pais-em-2020-ano-de-pandemia-aponta-ibge/ Acesso em: 1º set. 2023.
    » https://www.epe.segov.ms.gov.br/economia-de-ms-teve-a-maior-taxa-de-crescimento-do-pais-em-2020-ano-de-pandemia-aponta-ibge/
  • INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA [IBGE]. IBGE Cidades e Estados, [s.l], 2023. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ms/panorama Acesso em: 1º set. 2023.
    » https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ms/panorama
  • IGNARRA, L. R. Fundamentos do Turismo. São Paulo: Pioneira, 1999.
  • LIMA, J. F. Economia territorial: teoria e indicadores. Campina Grande: EDUEPB, 2022.
  • LICKORISH, L. J.; JENKINS, C. L. Introdução ao Turismo Tradução de Fabíola de Carvalho S. Vaconcellos. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
  • LOHMANN, G.; DREDGE, D. Tourism in Brazil: environment, management and segments. Routledge: Londres/Nova Iorque, 2012.
  • LOHMANN, G. et al O futuro do turismo no Brasil a partir da análise crítica do período 2000-2019. RBTUR, São Paulo, 16, e-2456, 2022. Disponível em: https://rbtur.org.br/rbtur/article/view/2456/1524 Acesso em: 1º set. 2023.
    » https://rbtur.org.br/rbtur/article/view/2456/1524
  • MALTA, G. A. P. Turismo e desenvolvimento: análise de uma complexa relação considerando as abordagens e concepções presentes na literatura do turismo. 2011. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011.
  • MALTA, G. A. P. O turismo como projeto político e sua capacidade de indução ao desenvolvimento econômico: destinos indutores ou concentradores do desenvolvimento turístico regional em Minas Gerais? Tese (Doutorado em Geografia) - Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociência, 2018.
  • MOREIRA JR., O.; SILVA, W. G. A urbanização do Mato Grosso do Sul e o papel das cidades na rede urbana regional. Estudo Geográficos, Rio Claro, p. 88-105. jan./jun. 2017. Disponível em: https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/estgeo/article/view/12331 Acesso em: 25 out. 2023.
    » https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/estgeo/article/view/12331
  • RELAÇÃO ANUAL DE INFORMAÇÕES SOCIAIS [RAIS]. Portal do Ministério do Trabalho e Emprego, Brasília-DF, 2021. Disponível em: http://pdet.mte.gov.br/rais Acesso em: 15 out. 2023.
    » http://pdet.mte.gov.br/rais
  • RIZZO, M. R. Encontros e desencontros do turismo com a sustentabilidade: um estudo do Município de Bonito - Mato Grosso do Sul. Tese (Doutorado em Geografia) - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdades de Ciências e Tecnologia, 2010.
  • SCÓTOLO, D.; PANOSSO NETTO, A. Contribuições do turismo para o desenvolvimento local. Cultur - Revista de Cultura e Turismo, Ilhéus (BA), ano 9, n. 1, p. 36-59, 2015.
  • SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
  • SILVA, J. A. O Turismo como enfoque econômico: enfoque de demanda versus enfoque de oferta. TURyDES, [s.l], n. 1, v. 1, [s.p], out., 2007.
  • TRIGO, L. G. G. A sociedade pós-industrial e o profissional em turismo. Campinas, SP: Papirus, 1998.
  • VEIGA, J. E. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Garamond, 2010.
  • WORLD TRAVEL & TOURISM COUNCIL [WTTC]. Pesquisa de impacto econômico. [s.l.], 2023. Disponível em: https://wttc.org/research/economic-impact Acesso em: 25 out. 2023.
    » https://wttc.org/research/economic-impact

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jun 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    16 Abr 2024
  • Aceito
    05 Nov 2024
  • Aceito
    24 Nov 2024
location_on
Universidade Católica Dom Bosco Av. Tamandaré, 6000 - Jd. Seminário, 79117-900 Campo Grande- MS - Brasil, Tel.: (55 67) 3312-3608 - Campo Grande - MS - Brazil
E-mail: suzantoniazzo@ucdb.br
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Reportar erro