Open-access “A escola é um bem de todos”: percursos profissionais de professoras aposentadas e o patrimônio cultural escolar de Portão, RS

“School is a good for everyone”: professional paths of retired teachers and the school cultural heritage of Portão, RS

“La escuela es un bien para todos”: trayectoria profesional de los docentes jubilados y patrimonio cultural escolar de Portão, RS

Resumo

Este artigo tem como temática o patrimônio cultural escolar das escolas públicas municipais de Portão, Rio Grande do Sul, seu legado e reflexões sobre a escola pública na contemporaneidade. O objetivo é identificar as formas, tanto material quanto imaterial, deste patrimônio, narrados e apresentados por sete professoras aposentadas desta rede de ensino através de etnografia e pesquisa bibliográfica. Estas mulheres apresentam questões que envolvem o aprendizado com o legado da escola pública e se há necessidade de reinvenção da escola. Com estes estudos é possível afirmar que a carreira profissional de professoras dos anos iniciais do ensino fundamental no ensino público em Portão sofreu impacto diante da estrutura escolar, das experiências pedagógicas e das tecnologias de governo. Sendo assim, suas reminiscências fazem parte do patrimônio cultural escolar deste lugar.

Palavras-chave:
escola pública; legado; memórias; patrimônio; professoras aposentadas

Abstract

This article’s theme is the school cultural heritage of municipal public schools in Portão, Rio Grande do Sul, its legacy and reflections on public schools in contemporary times. The objective is to identify the forms, both material and immaterial, of this heritage, narrated and presented by seven retired teachers from this education network through ethnography and bibliographic research. These women present questions that involve learning from the legacy of public schools and whether there is a need to reinvent the school. With these studies, it is possible to affirm that the professional career of teachers in the early years of elementary school in public education in Portão was impacted by the school structure, pedagogical experiences and government technologies. Therefore, their reminiscences are part of the school cultural heritage of this place.

Keywords:
public school; legacy; memoirs; patrimony; retired teachers

Resumen

El tema de este artículo es el patrimonio cultural escolar de las escuelas públicas municipales de Portão, Rio Grande do Sul, su legado y reflexiones sobre las escuelas públicas en la época contemporánea. El objetivo es identificar las formas, tanto materiales como inmateriales, de este patrimonio, narradas y presentadas por siete docentes jubilados de esta red educativa a través de etnografía e investigación bibliográfica. Estas mujeres presentan preguntas que implican aprender del legado de las escuelas públicas y si existe la necesidad de reinventar la escuela. Con estos estudios, es posible afirmar que la carrera profesional de los docentes de los primeros años de la escuela primaria en la educación pública en Portão/RS fue impactada por la estructura escolar, las experiencias pedagógicas y las tecnologías gubernamentales. Por lo que sus reminiscencias forman parte del acervo cultural escolar de este lugar.

Palabras clave:
escuela pública; legado; memorias; patrimonio; maestros jubilados

1 INTRODUÇÃO

A escola é lugar da construção da diferença, da sociabilidade e de aprendizado. Professoras sempre têm muito a contar sobre suas vivências neste espaço. Este artigo3 trata de identificar as formas de patrimônio cultural escolar, material e imaterial, apresentadas por meio de narrativas de professoras aposentadas4, além de abrir discussões sobre legado e reflexões sobre a escola pública na contemporaneidade.

Como pressuposto, é possível estabelecer que, através das narrativas sobre seu percurso profissional em educação, as professoras aposentadas trazem vestígios de memórias que constituem sua identidade. Para tanto, é necessário, como objetivo principal, identificar, por meio de pesquisa etnográfica, os elementos que constituem a relação entre a carreira em educação e o patrimônio cultural escolar do município de Portão5, Rio Grande do Sul.

Todas as práticas e vivências resultam de negociações, tensionando realidades em níveis diversos. Importante ressaltar a “[...] construção de sentidos de lugar no espaço público [...]” (Arantes, 2006, p. 430) das escolas onde as professoras aposentadas trabalharam, de modo que seja possível refletir sobre patrimônio e a escola pública, visto que por ela perpassam questões como ética, apropriação pelos habitantes da cidade, em razão de sua utilidade, e o valor atribuído pela comunidade.

As reminiscências na carreira profissional em escola pública municipal foram coletadas por meio de etnografia, com a utilização de videochamadas, por motivo do isolamento social obrigatório durante a pandemia de covid-196. O que as falas das parceiras desta pesquisa dizem da/sobre/com a escola abre a possibilidade de pensar estes percursos narrados como parte do patrimônio7 cultural escolar da cidade.

Existem pesquisas no banco de teses da CAPES8 que demonstram a preocupação em problematizar as questões que envolvem o espaço escolar por meio de estudos em antropologia, história e arte. Fábio Josué Souza dos Santos, com a tese pela UNEB9, de 2015, “Docência e memória: narrativas de professores de escolas rurais multisseriadas10”, mostra-nos algumas pistas desta relação. Luciane Sgarbi Santos Grazziotin, com sua tese pela PUCRS11, em 2008, exibe as “Memórias recompondo tempos e espaços da educação - Bom Jesus12/RS (1913-1963)”, tendo como lócus de pesquisa o acervo municipal de história oral da cidade citada.

Entende-se, assim, a necessidade de pensar de que modo uma pesquisa com professoras dos anos iniciais do ensino fundamental, aposentadas da rede pública no município de Portão, RS, apresenta as estruturas educacionais, as relações de poder e a história cultural deste espaço. Para tanto, torna-se indispensável compreender quais transformações ocorreram, a fim de atender às demandas, levando-se em conta os modos de trabalhar na escola pública, as modificações no ensino básico ao longo do tempo, a estrutura da formação ética e estética13 no cotidiano dos profissionais, o exercício da profissão e tudo que isso envolve. Afinal, a escola é um espaço de produção de conhecimento e de saberes diversos, com inúmeros processos rituais em seu interior: vivências e experiências se multiplicam numa infinidade de narrativas e imagens carregadas de similitudes e divergências, configurando-se para além do que é visível.

Há uma série de estudos em relação ao que seria o patrimônio cultural14, tanto material quanto imaterial15. Nas pesquisas antropológicas se discute sobre os modos de observar estes processos, até mesmo sobre o próprio conceito de cultura. Ao longo do tempo, pesquisadores se dedicaram a propor novas formas de analisar e reinterpretar os processos culturais de determinados grupos. Nesta pesquisa, interessa pensar a cultura a partir dos estudos de Boas16 (2004, 2010) e Geertz17 (1978).

Ellen Woortmann (2001) aproxima a relação entre memória e patrimônio, de onde é possível reiterar a hipótese de que as narrativas das professoras aposentadas de Portão são parte do patrimônio cultural escolar deste lugar. Regina Abreu e Mário Chagas (2009) deixam claro que os estudos de trajetórias evidenciam a relação entre memória social e patrimônio cultural. Assim, o tema desta investigação são os aspectos sobre patrimônio cultural escolar, o legado da escola e a escola pública na contemporaneidade, por meio das narrativas de sete professoras aposentadas.

Como problema, tem-se: de que modo uma pesquisa com professoras dos anos iniciais do ensino fundamental, aposentadas da rede pública no município de Portão, RS, apresenta as estruturas educacionais, as relações de poder e a história cultural deste espaço? Estas narrativas se apresentam como possibilidade de compor o patrimônio cultural escolar deste município?

Dessa forma, a pesquisa transcorreu com seis encontros on-line, por meio de roteiro semiestruturado, considerando os percursos destas professoras com idades entre 82 e 55 anos e de camadas médias urbanas. Os relatos que possibilitam refletir sobre suas trajetórias e o patrimônio cultural escolar, juntamente com teóricos, compõem a base deste artigo.

2 PATRIMÔNIO CULTURAL ESCOLAR

O patrimônio reflete o modo como a sociedade percebe a própria sociedade (Abreu; Chagas, 2009). Neste caso, o modo como as professoras aposentadas relembram e reconhecem seus percursos em educação e a forma como isso reverberou na sociedade. O patrimônio cultural escolar é apresentado, nesta pesquisa, pelo material e imaterial, ambos resultantes das experiências pedagógicas e das tecnologias de governo que se processaram e manifestaram ao longo do tempo.

O patrimônio material é composto pela estrutura física das escolas, como prédios e objetos. Já o imaterial se apresenta na ambiência de aprendizagem: na estrutura da condição do “ser” professor; na organização institucional; nos recursos didáticos utilizados; nas relações entre professor, aluno, comunidade e equipe diretiva; nas ações da comunidade escolar e na implementação de políticas públicas para atender as necessidades desta instituição. Ao observar estes elementos e a forma como são apresentados nas narrativas das parceiras desta investigação, pôde-se perceber como este patrimônio se configurou com o passar dos anos e compreender o legado da escola pública para a comunidade.

Além disso, durante os encontros, surgiram “objetos” que representam este grupo investigado, o tempo e o lugar vivido. Estes objetos podem se constituir como patrimônio pessoal ou familiar das parceiras de pesquisa “com o propósito de articular e expressar sua identidade e sua memória” (Gonçalves, 2005, p. 19), mas também retratam as reminiscências da educação no município de Portão.

A experiência promove a relação entre a ressonância, a materialidade e a subjetividade, e “Se concebemos os patrimônios do ponto de vista etnográfico [...] podemos encontrar formas de patrimônio cultural no mundo contemporâneo que estejam fortemente ligadas à experiência” (Gonçalves, 2005, p. 32). Assim, cultura e patrimônio estariam livres de enquadramentos para que possam ser fruídos, percebidos, sentidos, transformados. Desse modo, é inevitável a relação entre a construção das identidades narrativas destas mulheres, professoras aposentadas, e o patrimônio cultural escolar de Portão.

Adreane afirma que Portão evoluiu muito em relação ao patrimônio escolar, nas ampliações dos prédios, construções de escolas, e na compra de materiais. “A gente foi do mimeógrafo à máquina de xerox”. Porém, ela pondera que não foi apenas este tipo de avanço:

Crescemos muito na forma em como se apropriar das tecnologias para o uso em educação. Porque não se trata apenas do equipamento. Tem a questão da disponibilidade, da experiência e da responsabilidade. É importante preservar objetos e ações também. Por exemplo, a dimensão do que eu, como professora, consigo fazer na escola tendo mimeógrafo e máquina de xerox que possa trazer benefício pras (sic) atividades que desenvolvo com meus alunos. [...] Sabe, eu tinha um sonho de consumo, a questão do museu escolar, por exemplo. Queria construir lá na Escola João Scherer, mas daí veio o impedimento da justiça18. Mas eu queria ter um espaço que se pudesse levar o aluno e dizer ao longo dos anos como era, ‘a gente tinha esse caminho, essa construção’. Ah, a máquina de escrever, daqui a dois, três anos, vai ter gente que nunca viu uma. Iam dizer ‘que legal, é uma impressora que imprime na hora’. Mas eu ainda penso que o maior patrimônio que a escola brasileira construiu ao longo desses últimos anos foi o acesso universal. E o que seria a resposta pra este grande desafio? O sucesso universal. [...] Olha, nos meus últimos quatro anos de trabalho, eu tinha o desafio da implantação e implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Então, e tem um porquê disso. Eu me preocupava muito com isso, sabe? Eu sou defensora da Base. Eu acho que a nossa Base é muito boa, ela é bastante teórica, mas acho que agora o desafio é transformar isso no pedagógico e na prática da sala de aula. Eu sinto que eu fechei um ciclo e que nossa equipe deixou questões em andamento que dificilmente o município vai retroceder [...] foi uma linda caminhada pública. E tanto o patrimônio material quanto imaterial das escolas de Portão precisa ser preservado. Olha, sendo bem sincera, o município tem pouco mais de cinquenta anos, e eu trabalhei como professora por mais de trinta, e como secretária de educação por quatorze anos, e acho que tenho um espaço dentro da história de Portão.

Assim, sobre o patrimônio cultural escolar, na fala de Adreane existe uma diversidade de bens tangíveis e intangíveis, que apresentam distintas camadas de tempo (Rocha; Eckert, 2013). Seria interessante, como muitos estudos apontam, que cada comunidade organizasse seus espaços de preservação, pois

As memórias e referências do passado fundamentam, por um lado, a coesão entre os indivíduos que compartilham afetos, sensibilidades, tradições e histórias. E, por outro, evidenciam diferenças culturais que podem favorecer a aceitação da diversidade como valor essencial para o indivíduo em sociedade (Pellegrini, 2009, p. 23).

Há lugares, no Brasil e no mundo, que têm o Museu da Escola19. Alguns, inclusive, são virtuais. Para Cândida, “a escola é um bem de todos. E até por isso, às vezes, ela não é cuidada por todos”, e reitera:

A escola é um espaço que tem uma história, e, portanto, é patrimônio. Ou, pelo menos, deveria ser patrimônio da cidade. A questão do prédio, mas também das vivências na escola. [...] Quando passo em frente às escolas onde trabalhei eu fico relembrando. Isso faz parte da minha história, da minha trajetória de trabalho. Acredito que as pessoas pensem nisso: de como a sua primeira escola era, dos colegas, professoras, das coisas que aconteceram neste espaço da escola. O patrimônio didático, além da questão mais legal, poderia ser registrado de uma forma que, com o tempo, as pessoas pudessem acessar. As professoras têm, individualmente, os seus registros. Das mudanças na questão da organização da escola, enquanto a questão curricular. Têm os planos político pedagógicos, mas registros de como isso era trabalhado na prática, deveria ter um registro digital20. Organizado por ano, por assunto, mas não tem. E eu penso que a trajetória do professor, de tudo que viu, ouviu e promoveu na escola é um patrimônio que deveria ser publicado, observado, pensado - e sorri pensativa. Porque quando eu escuto a narrativa do outro, o olhar dele sobre as coisas, eu vou colocar o meu olhar e talvez aquilo seja uma referência, ‘oh, não vou fazer igual algo, mas eu vou poder ter, pensar, e se eu fizer desse jeito, se eu fizer dessa forma, se eu olhar pra este caminho?’ e nós buscamos tão longe, né? Em outros países, estados, cidades, e tem gente muito boa no município, e que viveu este lugar. Eu conheci muitos colegas fabulosos com quem podia trocar, com quem podia pensar sobre o que estava fazendo no trabalho. Seria de uma riqueza enorme ter acesso a imagens e narrativas sobre o patrimônio cultural da escola. Do material e do imaterial.

A preocupação de Cândida faz todo sentido para quem pesquisa sobre o assunto e tem um olhar especial pela educação. Ao realizar buscas sobre a digitalização de materiais que tratam da escola e do patrimônio, encontram-se estudos de pesquisadores de diversas áreas que vêm se preocupando com a organização e a preservação dos acervos escolares. Até porque “uma multiplicidade de práticas de conservação, inventário e estudo da cultura material” (Souza, 2013, p. 204) é uma necessidade para aprimorar o resgate e a valorização da cultura escolar como um todo.

A parceira de pesquisa Marisa pensa que a escola é um patrimônio e que este lugar deveria ser pensado por quem entende o que é a escola. “Tem arquiteto que pensa que escola é uma caixa, que colocam pessoas lá, pra se encaixarem em algum sistema”. E ela complementa:

Não estou falando em ideologia, filosofia, mas sobre a estrutura mesmo, o patrimônio material: o prédio, os móveis, os corredores, a entrada, a saída, o fluxo da escola. Eu gostaria que os professores fossem chamados a pensar sobre o patrimônio arquitetônico, para adequar com as necessidades de cada público, de cada faixa etária. Algumas coisas que aconteciam na escola, de acidentes com as crianças, é uma coisa que não foi pensada: as quinas das mesas pontiagudas, os degraus muito curtos, falta de acessibilidade. Também penso que precisa ter instrumento de pesquisa disponível para todos os alunos. Nosso patrimônio didático ainda carece de mais tecnologia e acesso. Pelo menos eu via assim quando me aposentei. Mas eu sou bem crítica, tivemos muitas coisas boas, e o trabalho que desenvolvi nos últimos anos é, humildemente, um patrimônio pra cidade. Das escolas para a cidade. Tenho recebido, agora, morando em outro estado, mensagens de carinho lembrando de algumas contribuições. Isso é o que importa: o que fica. E espero que as ações continuem e que o passado seja relembrado como uma construção cultural da escola com a comunidade.

As observações de Marisa corroboram a forma como Adreane apresentou a estrutura física das escolas, ao contar que os engenheiros não eram preparados para elaborar projetos de construção de escolas. Ao falar a palavra “sistema”, Marisa logo trata de ponderar que não estava falando em ideologia. Vale reiterar que há uma complexa relação entre arquitetura e o sistema educacional (Foucault, 2014), pois a forma como a estrutura material é construída denota a intenção didático-pedagógica a ser instituída na escola. Em outro momento desta pesquisa, a roda de conversa esteve em torno deste assunto e, de uma forma ou de outra, o panóptico21 que Foucault apresentou em seus estudos está presente.

Rosaura compreende que o patrimônio material, a estrutura física da escola, é da comunidade escolar. E “todo cuidado é preciso para preservá-lo”. Sobre o patrimônio da escola, ela continua:

O patrimônio imaterial, eu penso que é aquele relacionado à questão pedagógica; são as experiências, as formas de construir possibilidades de ensino. O sistema em si é muito regrado, mas a construção do ensino e da socialização na escola vai além disso. E faz parte da nossa memória. Eu percebo que quando se está lá, na escola, quando tu assume (sic) estar, tem uma finalidade, tu traz (sic), além da tua experiência, o aprendizado que tu tira (sic) de tudo que foi vivido. [...] Então, eu espero ter colaborado em alguma coisa com cada comunidade escolar onde eu passei. Eu queria ser lembrada assim, quem não quer, né? Eu quero ser lembrada pelo trabalho realizado em equipe, não aquela coisa centralizadora. Quando a gente tem o desejo de aprender em conjunto, a gente aprende nas menores coisas. A escola tem que ser afetiva, acolhedora. Queria que eu fosse lembrada por isso.

As professoras aposentadas não haviam pensado ainda sobre a relação de suas trajetórias em educação com o patrimônio cultural escolar da cidade. Mas, ao serem questionadas sobre o assunto, foram percebendo detalhes e relembrando histórias que fizeram perceber o quanto seus percursos têm vínculo com as pessoas e os lugares por onde passaram e a forma como estas memórias trazem fatos importantes da construção destes espaços. Mariângela faz seus comentários sobre o patrimônio da escola:

Pra mim, o patrimônio arquitetônico da escola, o material, é a estrutura física que está à disposição dos alunos durante as atividades, mas eu acredito que a escola não tem só esse papel. Eu acho que a escola tem que usar este patrimônio e se desenvolver no sentido de trazer a comunidade pra dentro da escola pra usufruir ela como um espaço de lazer, um espaço cultural, não somente pras atividades laborais e educacionais. A minha opinião é essa, lá na escola - E.M.E.F. Gonçalves Dias - tem aquela quadra, e aí todos os dias as crianças iam lá, nós deixávamos a chave com a vizinha, e eles iam jogar bola lá, inclusive eu, na sexta-feira, de tardezinha. No início, tinha a questão das missas que, como não tinha igreja (católica) na comunidade, as missas aconteciam na escola, assim como as festas da igreja. As atividades da comunidade acabavam acontecendo na escola, de saúde, atividade cultural, e aí sempre tinha alguém pra gerenciar, pra cuidar, pra organizar. Eu acho que esse é um papel da escola também. Além disso, eu acho que todos estão ali pra educar, né? Não são só os professores, porque no momento que tu trabalha (sic) em conjunto na escola, todo mundo que tá dentro da escola ajuda a educar. E fazem parte desta história e seu trabalho é patrimônio de todos nós. Seria bom ter registros e um lugar que servisse pra gente ver e pensar em tudo que significa o patrimônio da escola, as vivências das turmas e profissionais. Quanta coisa, né? Quantos exemplos, quantas mudanças a gente viveu e promoveu, também, na vida dessas pessoas, das suas famílias, quanta gente conseguiu formar, isso é parte do patrimônio, com certeza.

Quando Mariângela fala em espaço cultural, está se referindo a atividades artísticas como as que envolvem dança, música e teatro, por exemplo. A escola em si já é um espaço cultural porque, conforme a legislação - em qualquer dos níveis -, é previsto que a escola acolha a diversidade cultural da comunidade escolar.

Eoní assegura que o lugar onde tem uma escola está o patrimônio daquela comunidade. “Especialmente as do interior, porque a escola acaba sendo o centro das atividades sociais daquela comunidade”. Ela se recorda de que, Na E.M.E.F. Fazenda das Palmas, depois de aposentada, foi chamada em torno de três vezes pela Pastoral da Criança22. “A gente fazia primeiro visita nas famílias. E depois marcamos reuniões ali na escola, naquela parte anexa. As mães iam, a gente conversava. Qualquer atividade ali sempre é feita na escola”. E continua:

E isso é o patrimônio cultural da comunidade, além das aulas, as principais atividades sempre se desenrolavam na escola. O patrimônio material é a arquitetura, o prédio, o espaço de pátio. Às vezes tem área de festa, salão de jogos, tudo faz parte desse patrimônio. Até alguns anos atrás, a Fazenda das Palmas era aberta aos finais de semana para o uso da comunidade. Os pais e os jovens usavam os recursos de informática, usavam as dependências da escola pra atividades diversas. E o patrimônio de todo espaço da escola servia à comunidade. E mesmo ali na Escola Fraga tinha ensaio de banda aos finais de semana, jogo de capoeira, ensaios de pequenos teatros, de fora ou da escola em si, utilizando esse patrimônio arquitetônico. O patrimônio didático seria, a meu ver, o utilizado por professores em relação aos alunos, a forma de gestão, o uso da sala de aula e do ambiente de recreio, toda forma de ser utilizado o local de educação, mesmo fora do horário escolar. Eu dou risada quando o pessoal diz que eu sou patrimônio da Estação Portão (bairro do município). Já tem esse costume de dizer que metade da Estação foi meu aluno. Eu nasci, cresci e trabalhei em Portão, tenho muitas memórias das coisas que aconteceram na cidade e, principalmente, nas comunidades escolares onde lecionei. Eu entendo quando me falam assim. Olha, pra mim é gratificante o carinho com que me tratam. Sou bem recebida em qualquer lugar aqui na Estação. Até caminhando na rua escuto ‘Oi, professora’, com muito afeto. Então, eu sinto que nunca deixarei de ser professora.

Prosseguindo a conversa, Leila se posiciona afirmando que o patrimônio arquitetônico da escola é o material: o prédio e os objetos. E o patrimônio didático é o imaterial: “pra mim, seria o uso dos livros, a forma que os jogos foram utilizados, as atividades e experiências vividas, as lembranças”.

Leila é apreciadora de imagens antigas e participa de grupos sobre a temática, no Facebook. “Tem duas fotografias que eu adoro: eu, aluna, com minha turma de 4ª série no Grupo Escolar de Rincão do Cascalho, e a outra, eu com um grupo de professoras, como professora na mesma escola” (Figura 1). Ela lembra que “muita coisa se passou entre uma imagem e outra. E tudo isso faz parte do patrimônio da cultura escolar deste lugar”.

Figura 1
Leila como estudante e, depois, como professora na mesma escola.

O campo do patrimônio cultural é complexo e dinâmico. Como educação e cultura são indissociáveis (Boas, 2004), o patrimônio cultural escolar é um bem que retrata a cultura de um espaço de aprendizagem de uma comunidade. Tratando dos percursos em educação, relembrando espaços, objetos e experiências, as lembranças das professoras aposentadas são parte do patrimônio de cada espaço por onde passaram.

3 MARCAS PERMANENTES DA TRAJETÓRIA EM EDUCAÇÃO

Ao relembrarmos as vivências das professoras, os “referenciais identitários, memórias e histórias” (Pellegrini, 2009, p. 23) trazem acontecimentos marcantes destas trajetórias em educação. Para Mariângela, a questão da inclusão na escola foi um dos fatos mais importantes. Ela se recorda dos efeitos das políticas públicas para manter os alunos na escola e o quanto isso beneficiou a comunidade da escola onde trabalhou por mais tempo. “Com o Bolsa Escola24 as crianças pararam de trabalhar como cortadores, as crianças saíam muito cedo da escola pra ajudar os pais no mato”. Mariângela se lembra da vulnerabilidade dos alunos, sem calçado adequado para o frio e com pouca roupa, e por isso não se concentravam em aula. “Não sei como está a situação agora. Com aquele dinheirinho eles tinham que comprar uniforme e material escolar, daí a gente passou a usar o uniforme como obrigatório”. Ela afirma que, em uma formação de gestão, foram apresentados dados sobre a diminuição da extrema pobreza, da mortalidade infantil e da melhoria da aprendizagem dos alunos. “Porque tem a condicionalidade de que eles só podem ganhar o dinheiro se estiverem estudando. E isso foi muito marcante pra mim”.

Para Adreane, a valorização dos recursos humanos foi uma das coisas que destacou em seu trabalho. “A segunda coisa marcante foi a relação da sociedade com a escola. A Secretaria de Educação promoveu esta conquista, no meu entendimento”.

Marisa lembra que sua ida de uma escola da zona rural, multisseriada, para uma escola na zona urbana, para atender uma única turma, foi o momento mais inesquecível de sua carreira. “Outra coisa marcante foi a questão de ir pra faculdade. Tu começa (sic) a ter outro olhar, mais global, e que eu poderia resumir em ‘Marisa, a pesquisadora’, que cutuca, que não quer o aluno parado, sem questionar”. Ela reafirma que, por meio da formação acadêmica, aprendeu a desejar que o conhecimento fosse expandido, e “não fosse só uma caixinha, ali dentro daquelas quatro paredes”, que esse conhecimento ofereça, como retorno, “um aluno que seja cidadão do mundo, cidadão planetário, não bairrista. Porque, pra mim, foi isso que aconteceu”.

Leila conta uma pequena historieta sobre um momento provocador:

Uma coisa que me aconteceu lá na Escola Machado de Assis foi um dia que eu tava (sic) tirando água do poço, em frente à escola, e daí veio um senhor me pedir água; ele tava (sic) carregando lenha lá embaixo, sabe? - e gesticula apontando a direção. Não o conhecia, eu fiquei com medo. Entreguei a caneca de água no portão e fiquei esperando. Então, da sala saiu correndo o Tiago, um aluno, e disse, ‘Oi, pai’. Aquilo provocou muitas sensações em mim, e o choque principal foi o fato de pensar que não conhecia os pais dos meus alunos, num lugar tão pequeno. Mudei, no susto.

A professora Cândida se lembra do quanto foi marcante ter uma aluna cega em sala de aula. “Foi desafiador, aprendi demais com ela; depois disso resolvi estudar LIBRAS25. Às vezes ia até meia noite fazendo material, porque nem sempre havia tempo pra dar o material para uma professora especialista passar pro braille26”. Cândida conta que houve muitas crises, nem sempre era uma situação tranquila, mas que foi tão especial que a escola a convidou para dar aula nas séries seguintes de cada ano, da 2ª até a 4ª, para acompanhar a aluna.

Na 2ª e 3ª série foi tranquilo com os alunos, eles respeitavam muito, conheciam ela e ajudavam. Na 4ª, como tinham duas 3ª, tinha alunos que não eram meus. Eu lembro que um menino disse assim um dia, ‘ah, eu também não vou escrever. A Deise não escreve’. Eu sei que tive de fazer várias dinâmicas para o aluno compreender o quanto a aluna sabia e que a diferença deveria ser respeitada e que cada um aprende do seu jeito. Não foi fácil, mas foi gratificante.

Eoní relembra, com um sorriso, de um fato que era bastante comum nas décadas de 1960, 1970. Ela narra:

Quando eu trabalhava lá na Escola Fazenda das Palmas, a gente sempre vinha nas Paradas de 7 de Setembro, eram grandes horas cívicas. E sempre era convocada pra desfilar aqui no centro. E o incrível, naquela época, a Prefeitura não tinha ônibus. Por dois anos eles foram lá em Fazenda da Palmas, buscar a mim e aos alunos, de tombadeira27. Imagina, eu tinha muita dificuldade pra embarcar. Então, depois da segunda vez, eu disse que traria apenas uma representação da escola no nosso carro. Daí eu passei a vir só com quatro alunos no carro. Era muito difícil essas coisas, no começo. Lembro de (sic) um passeio ao zoológico: tivemos que ir na carroceria de um caminhão, do pai da professora Jeane, agora aposentada também. Tinha melancia, mandioca, ração de porco, tudo junto. Descemos pra passar na balsa. Era perigoso, mas as crianças achavam aquilo maravilhoso. A gente se arriscava muito. Lembro também de (sic) não ter luz elétrica na escola, e eu ficava lá muitas vezes, depois da aula, preparando aula, corrigia tarefas, os cadernos todos, usando um lampião a querosene ou mais tarde um liquinho28.

Rosaura diz que a marca que ficou para sempre foi o fato de aprender a lidar com o outro, entender as possibilidades de cada um e “não ver o aluno somente como aquele aprendente, e eu sou um ensinante, não. Ele também me ensinava muito, e eu sempre deixava claro isso. Eu vejo assim, a importância que eu dava pro papel social da escola”.

Desde os ensinamentos de Claude Lévi-Strauss (2008) até os dias atuais, pesquisadores procuram analisar as diferentes expressões narrativas em campo, pensando nas variantes que envolvem este trabalho e as parcerias de pesquisa, neste caso, mulheres que trabalharam em/com educação.

Lembrando que as narrativas das professoras aposentadas da rede pública do município de Portão são “tão tangíveis quanto os demais objetos” que elas apresentaram, oriundos de seus percursos em educação (Gonçalves, 2005, p. 21). Para este autor, a noção de patrimônio “rematerializa a noção de cultura” que havia sido desmaterializada no século passado e, sendo uma mediação, congrega o individual e o coletivo, o que é adquirido e o que é herdado, materiais e imateriais, questões objetivas e subjetivas.

4 “É POSSÍVEL TRANSFORMAR PELA EDUCAÇÃO”: REFLEXÕES SOBRE A ESCOLA PÚBLICA NA CONTEMPORANEIDADE

É chegado o momento de refletir sobre a escola pública na contemporaneidade. Rosaura assegura que “é possível transformar pela educação”. Assim, podemos pensar na força da palavra ao tratarmos sobre o saber fazer em educação.

O que é afinal um sistema de ensino senão uma ritualização da palavra; senão uma qualificação e uma fixação dos papéis para os sujeitos que falam; senão a constituição de um grupo doutrinário ao menos difuso; senão uma distribuição e uma apropriação do discurso com seus poderes e seus saberes? (Foucault, 1996, p. 44).

Enfim, o modo como estas professoras circularam nestes espaços de cada comunidade, por entre as escolas onde trabalharam, confirma que os “[...] arranjos sociais nos configuram um sentido de ser e estar na cidade” (Eckert; Rocha, 2010, p. 122). A relação da escola pública com a cidade, as trocas de aprendizado, as transformações ao longo do tempo, seja de estrutura física, seja do trabalho pedagógico, são engrenagens que se apresentam em particularidades e que representam encaixes, desencaixes (Deleuze; Guattari, 1992) e novas possibilidades.

Cada uma das parceiras desta pesquisa refletiu sobre a escola pública de que se despediu ao se aposentar. Os encontros, marcados por reminiscências das trajetórias em educação, trouxeram questões para se pensar no momento atual do ensino público, afinal,

Quando observamos mais de perto a construção do passado, verificamos que o processo tem muito pouco a ver com o passado e tudo a ver com o presente. As instituições criam lugares sombreados onde nada pode ser visto e nenhuma pergunta pode ser feita. Elas fazem com que outras áreas exibam detalhes muito bem discriminados, minuciosamente examinados e ordenados. A história surge sob uma forma não-intencional, como resultado de práticas direcionadas a fins imediatos, práticos. Observar essas práticas estabelecerem princípios seletivos que iluminam certos tipos de acontecimentos e obscurecem outros significa inspecionar a ordem social agindo sobre as mentes individuais (Douglas, 1998, p. 82).

Partindo desta citação de Mary Douglas, a ideia de reflexão sobre de qual escola cada aposentada se despediu ao encerrar a carreira propõe tencionar sobre passado e presente, num exercício de rememoração em torno deste processo cultural tão complexo que é o trabalho na instituição escola. Adreane lembra que, no último dia de trabalho, ao sair, olhou pelo retrovisor do carro e viu a escola se afastando aos poucos. “Claro, tanta coisa ficando para trás, mas a certeza de que tinha feito o melhor que pude”. Ela acredita que se despediu de uma escola muito mais organizada em termos profissionais e que, de modo geral, a escola caminha para uma reestruturação por causa da BNCC e das exigências diante das necessidades impostas pelos eventos de saúde e climáticos, por exemplo. E prossegue:

Logo que me aposentei pensava em cada escola pública municipal e tinha muita satisfação ao concluir sobre o que ficou para trás: escola com qualidade, pintada, conservada, biblioteca boa, com livros de literatura disponíveis para todos, salas adequadas, pátio organizado, professores com formação e qualificação, com plano de carreira novo. Isso é responsabilidade. Depois que me aposentei, acho que teve um processo de continuidade aí que foi extremamente fácil, porque a gente não deixou nada sucateado, dali pra frente é andar e ampliar. Não vou ser modesta nesse ponto, a gente sempre teve um nível de exigência de qualidade. Então, eu gostaria de ser lembrada como alguém que quis uma escola pública de qualidade.

Marisa pensa que deixou para trás uma escola pública com vários projetos em andamento, em que cada comunidade escolar tem certa autonomia, faz suas escolhas, de projetos, eventos, publicização das formas de ensinar, mas que há muita coisa para ser feita.

Eu acho que me aposentei num momento de tensão na escola sobre seu papel, da sociedade, ‘do que é certo’ e, pra mim, o certo deve ser feito porque é o melhor pra todos, em comum acordo e não porque tem alguém cobrando, porque tem uma regra, porque tem que ter um decreto, sabe? Eu acho que é o momento de refletir sobre isso, o que eu posso fazer? Outra coisa é em relação ao sindicato dos professores. Quando me aposentei a gente estava numa fase de pouca mobilização, de repensar esse processo de nos defender e nos representar de verdade. Isso era mais vibrante antes. Esmoreceu.

A professora Mariângela viu, nos últimos anos, um certo desânimo dos alunos em querer estudar e comentou que percebeu a falta de engajamento dos pais. “Tinha criança com dificuldade, precisando de certo tratamento, e os pais não aceitavam. Velhos problemas perduram. E, a cada ano, a questão disciplinar piorava”. Ela afirmou que também existiam mais casos de falta de respeito com o professor. “Se perdeu (sic) a ideia do que pode ou não pode fazer”.

Acredito que as faltas, as carências das crianças, são outras. A gente não tá conseguindo entender ainda. Acho que alguns se perderam com a falta de diálogo. [...] Tem outras coisas que têm valor pra eles que a gente não tá compreendendo ainda o que é. A gente como adulto não tá entendendo. É mais uma reflexão do adulto do que da criança no meu entendimento. Teremos que pensar muito sobre isso ainda, não é uma resposta muito fácil. Em função da tecnologia mesmo, muitos avanços e coisas levaram à falta de diálogo na relação de adultos e crianças. Eu acho que pros adultos foi confortável durante muito tempo ter as crianças envolvidas nisso. E agora é a colheita desse tempo aí. E o que a gente vê são ações individualizadas assim de professores meio heróis. Pelo menos é o que eu percebia assim, dando a sua vida, mas com todas as dificuldades que a gente já mencionou, falta de recurso, falta de estrutura, falta de limites dos alunos. As famílias não querem mais colaborar na educação então a gente vê assim ações quase que isoladas dentro da escola pública.

Rosaura diz que se despediu de uma escola pública valorosa. “A escola pública tem o seu valor, mas ela tem muito o que melhorar ainda. E começando de cima, porque se eu não tenho o exemplo maior, é complicado. É preciso inspirar”. E prossegue:

Evoluímos muito, mas precisamos de mais políticas públicas em âmbito educacional. Também é preciso mais coletividade. [...] A escola é uma instituição que tem o objetivo de educar, de educar pra cidadania, mas, ao mesmo tempo, ela precisa ser essa escola acolhedora. Também sinto que tem preconceito dentro da escola. Eu acho que ainda é preciso investir nesse sentido mais amplo. E o professor tem que ser um educador que inspira outras pessoas, nessa relação social dentro da escola.

Eu me despedi de uma escola pública inclusiva” - aponta Cândida. A professora conta que, na infância, o pai dela teve muitos problemas por ter Parkinson Infantil.

Um dia alguns colegas começaram a chamar ele de ‘treme treme’ e ele brigou com um deles. A professora chamou o pai dele, que disse ‘se tu (sic) não sabe se comportar na escola, tu (sic) não vai mais’. Era assim que se resolvia [...] então, este olhar pro outro foi melhorando ao longo do tempo. Meu ex-companheiro apanhou de palmatória na escola porque não sabia tabuada. Tive primas que ficaram de joelhos em tampinhas porque não sabiam certo conteúdo. Pensa, castigo físico por não conseguir aprender. Só o fato de não conseguir aprender já é triste. É importante que as pessoas hoje saibam como era antes. Pra que isso nunca mais aconteça. [...] me despedi de uma escola que tem o entendimento de que nem todos aprendem do mesmo jeito, as pessoas não são iguais. E que é preciso olhar e acolher o diferente, que está ali e vai aprender o que ele puder aprender.

Eoní recorda alguns momentos de quando se aposentou e pensa que a escola de hoje tem outras dificuldades, porém muitos avanços, “não só em tecnologia, mas no modo de trabalhar a questão pedagógica. E as professoras têm abertura para dar opinião e modificar planos, projetos”.

Leila assegura que ocorreram muitos avanços e que, quando saiu da escola, “o diálogo era maior, se discutia a questão do racismo. Eu não admito não dar a mão pro colega porque era negro, como acontecia no começo”. Quanto ao preconceito que se apresenta nas escolas sobre LGBTQia+29, ela afirma: “estou aprendendo, não consigo articular sobre o assunto ainda, é um aprendizado. Fui educada com muitas regras e ainda estou processando. Mas a escola está muito mais aberta”.

Os apontamentos das professoras aposentadas sobre de qual escola se despediram ao encerrar a carreira trazem, no geral, as melhorias que ocorreram na escola pública ao longo do tempo, com destaque para o diálogo, a inclusão, e o investimento em estrutura e formação. Também trouxeram algumas constatações sobre a forma como a escola é dinâmica porque aponta para as discussões contemporâneas da sociedade, ao mesmo tempo que mostra certas fragilidades do espaço público, com lugar para retrocessos em algumas práticas.

Acertos ou erros, abertura de caminhos ou processos em andamento, tudo está presente ao se reviver o passado. “Vivendo juntos, assumimos uma responsabilidade individual que se estende a todos os membros da comunidade”. Neste exercício, “Assumimos a responsabilidade pelos nossos atos e ainda mais voluntariamente pelos nossos pensamentos” (Douglas, 1998, p. 108). Estas rememorações permitem olhar para a escola pública e refletir.

5 O QUE PODEMOS APRENDER COM O LEGADO DA ESCOLA PÚBLICA

Falar em legado é, de certa forma, discutir o assunto de patrimônio que abordamos anteriormente, mas marcando o ápice da resenha. Este desafio propõe uma “reflexão sobre o significado da escola como instituição ao longo do tempo” (Souza, 2013, p. 213).

Cândida aponta que, em seu entendimento, “o maior legado é a possibilidade das pessoas contarem histórias relacionadas à escola pública, porque foi uma conquista; a escola era para poucos, pra quem tinha mais poder aquisitivo, e que podia estar numa escola”. Ela também fala sobre a forma como a escola trouxe a pesquisa para os alunos dos anos iniciais.

A gente aprendeu como funcionam as múltiplas inteligências. Quando me formei não sabia nada disso, isso é muito contemporâneo, essas questões. Conhecia Piaget, e era isso. Hoje se tem uma gama de conhecimento muito maior e isso foi migrando pra escola, principalmente com o acesso à informação. E se eu não gosto de ler, como professora eu ouço uma palestra, um podcast 30 . Tem tantas formas de aprender. É muito complexo ser professor, sim. Diante de tudo, né? Tudo que a gente tem que conhecer, saber, estudar, do que já foi no passado. Mas é a profissão que eu escolhi, vivi e hoje estou aqui relembrando o legado da escola. Eu acho que o maior papel da escola seja formar pessoas curiosas, pessoas com vontade de fazer as coisas.

A escola pública tem um legado memorável. Porque, se não fosse a escola pública, como o aluno de baixa renda ia estudar? Eu acho que a escola pública é a base de toda a educação, a formação do aluno brasileiro”, afirma Eoní. Ela compreende que a escola da rede privada é uma escola frequentada pela elite e que, em função disso, “o acolhimento do outro, com a diferença, é sempre maior na escola pública”.

Para Leila, o legado da escola pública é o aprendizado. Mas a valorização do professor ainda não demonstra todo o valor desta escola. “Tenho um amigo formado em Educação Física que está trabalhando numa loja, de vendedor, e ele ganha mais de comissão do que ele ganhava como professor. Ele abandonou a escola e só vai voltar se melhorar”.

A aposentada Adreane percebe uma relação estreita entre legado e responsabilidade. Para ela, todos os envolvidos devem se sentir responsabilizados:

Exemplo disso é a família envolvida com o uniforme e o material escolar. Não é paternalismo, mas é preciso que todas as pessoas se sintam responsabilizadas por isso. O transporte escolar é importantíssimo que esteja na mão do poder público. Por questões de segurança, de viabilidade de rota, por questões de logística. Tem a merenda escolar que já está a cargo do poder público e é outra questão importantíssima: tem a carência, mas principalmente tem um lado pedagógico de aprendizagem na questão da merenda. É uma questão política assim, que tu acha (sic) que o poder público é um guarda-chuva enorme e que ele tem que cobrir tudo. Esse guarda-chuva enorme, eu tenho que dar conta de prover, porque eu tenho que encher minha boca e dizer que todos vão ganhar uniforme. Pera aí, mas daqui a pouco abrindo mão do uniforme de qualidade que foi conquistado há anos, por cada escola com a comunidade, com perfil diferenciado e agora padronizando tudo por baixo, com a qualidade inferior? E, se algumas famílias quiserem comprar o uniforme de seus filhos? Com o tempo se verá que o guarda-chuva público vai ter goteira porque se ele não abrange tudo isso com qualidade, não se sustenta. Uma das coisas que eu penso é que a escola pública tem que ter a mesma qualidade que tem a escola privada. Não que a escola privada seja melhor que a gente, porque eu acho que a gente é melhor que isso, porque a gente faz tudo com menos.

Marisa trata da relação entre os problemas da sociedade e o papel da escola em criar possibilidades para estas necessidades. “No olhar das crianças se vê uma clareza em pensar sobre meio ambiente, trânsito, problemas de saúde, querendo aprender e dando opiniões com muita criatividade. Este é o legado que a escola já deve ter deixado e que, talvez, não tenha sido percebido”.

A escola pública nos ensina a acolher o próximo, que todos podemos aprender e que não vivemos sozinhos, dependemos uns dos outros. Quando o diálogo está presente, coisas boas se constroem. Isso a gente aprende com a escola pública”, afirma Rosaura.

Para Mariângela, “a escola pública me ensinou o que eu sou. Aprendi com ela a ser professora. Com os alunos e suas famílias, com os desafios que apareciam e eram muitos”. Ela se emociona ao pensar em sua trajetória e no que o legado da escola lhe proporcionou. “Não seria quem sou hoje sem a escola pública”.

O desenho final da resenha sobre legado é composto por traços diversos, alguns cortes e outras costuras. Percebe-se a forma como as disputas de poder influenciaram e influenciam quem vive e pensa a escola pública. O olhar para o percurso, agora, estando do lado de fora da escola, está permeado por estes processos em que “o indivíduo sempre é um ser social e que as influências sociais controlam seletivamente a cognição e a emoção” (Douglas, 1998, p. 102).

Ao narrar a escola, minhas parceiras de pesquisa narram a cidade “[...] segundo seus intervalos de variações espaço-temporais, o que impõe àquele que narra os desafios da afirmação da mesmidade de um caráter e da manutenção'/duração de si no mundo” (Rocha; Eckert, 2011, p. 110). Assim, ao falarem da escola, falam de si mesmas.

Em determinado momento, questiona-se sobre a necessidade ou não da reinvenção da escola. Os olhares se perdem no nada e todas as professoras ficam pensando como se, diante de seus olhos, passasse um filme: é essa a sensação ao observar estas mulheres. Em seguida, cada uma coloca seu posicionamento, fazendo-nos pensar sobre a forma como cada uma delas foi “tocada” em seus percursos profissionais e acadêmicos.

Adreane afirma, de modo enfático, que a reinvenção da escola é necessária porque o processo de educação é dinâmico. “Ou tu prepara o teu (sic) espírito pra ser um educador acreditando que a reinvenção vai ser constante ou repensa a escolha da profissão”. A escola é formada pela sociedade, que está em constante devir.

Agora, se mudou dos PCNs31pra Base. Será que agora vai ficar a Base pra sempre? Não, ela não vai ficar pra sempre. Então, acho que a reinvenção é parte do processo. O que se faz necessário estar melhor implantada e solidificada é a questão tecnológica. Tanto com equipamentos novos quanto em formação dos professores. O Estado investe com isso e a comunidade entra com a fiscalização do uso. É um trabalho que envolve o econômico e o social. Outra questão que vejo importante para a reinvenção da escola é a robótica. Mas enquanto a formação de professores não habilitar a trabalhar com robótica, não adianta comprar kit de robótica e colocar dentro da escola. A nossa formação, ela é muito frágil e a gente tem outros degraus a galgar, pensando nos problemas do cotidiano da escola (Adreane).

A aposentada Eoní entende que o Estado precisa investir na estrutura das escolas e na qualificação e valorização dos professores, no resgate das memórias da escola e na criação de oportunidades de projetos no contraturno para todos os alunos. “Vejo que as crianças e os jovens precisam de atividades no ambiente da escola”.

Leila acredita que a escola precisa valorizar mais o professor. “A melhor forma de renovar a escola é dando o devido valor ao professor. Não é possível pensar a escola, sempre atendendo a inúmeras demandas, com todo tipo de dificuldade, se o professor não tiver destaque”.

A professora Rosaura compreende que cada integrante da escola deve desempenhar seu papel profissional com responsabilidade e buscar o diálogo e o acolhimento dos demais. “O caminho percorrido por todas aquelas que já se aposentaram foi de busca por melhorias. A escola é vibrante, sempre em movimento. É um desafio ser professor e ter esse compromisso com a educação, mas para se reinventar é preciso olhar todo o contexto”.

Para Mariângela, a reinvenção da escola passa por um desejo de cada comunidade escolar: “é um desafio de cada espaço, de engajamento, de pertencimento e da construção de uma escola onde a participação de todos contribui para o aprendizado das crianças conforme aquele lugar precisa, com sua cultura e seus anseios”.

Marisa fala de reinvenção em relação ao seu tema favorito: o meio ambiente. “Sonho com um dia em que a escola seja um espaço educador sustentável”. Ela justifica a ideia dizendo que

Escolas estão sendo ampliadas, mas não pensaram o quanto aquele espaço poderia ser educador, a estrutura mais adequada e menos impactante pro ambiente, sabe? Se pudesse ter acessibilidade no transporte escolar, mais visibilidade para uso de bicicleta, cisternas e equipamentos pra coleta de água, coleta seletiva dentro da própria escola e até o uso de energia renovável. Além de ensino e preservação, daria uma economia muito grande pros cofres públicos. Trabalhar isso como um todo na escola. A maioria das escolas conseguiu ter o seu ginásio, mas e o aproveitamento disso pra coleta de água? A qualidade das salas de aula não é boa, as das últimas obras. Porque antigamente, o piso da sala de aula tinha o propósito de abafar o som. E hoje em dia tem muito barulho, eco. Eu também penso que deveria ter alguém, nas escolas, responsável por organizar projetos. Muita coisa seria diferente.

Pensando no jeito que a escola foi criada, conforme Cândida, como um espaço de controle, ela percebia uma preocupação da escola, de forma geral, com o mercado de trabalho, de preparar o aluno para ele ter a habilidade necessária pra se adaptar, ir mudando, se desenvolvendo. “Tudo relacionado à competitividade, e que envolve muito a tecnologia nos dias de hoje”. Ela prossegue:

Mas é muito difícil pensar no papel da escola. Porque tinha um papel delimitado pra maioria das famílias - ‘meu filho vai ser alguém na vida’. Isso mudou. Hoje, na escola, não tem mais isso. Eu não tenho certeza com relação a tudo, mas eu penso que algumas coisas se reinventaram. A questão de formações possíveis para cada aluno, de olhar pra si mesmo - tanto alunos quanto profissionais -, do lúdico, da criatividade. Então, alguns professores, individualmente, foram fazendo esse movimento, de mudança. E a escola tem que fazer esse movimento, sim, de mudança. Pra desenvolver uma autoimagem positiva e independente. Hoje se fala muito nisso, né? [...] a escola precisa ser um espaço de prazer pro aluno, que ele possa também experimentar coisas diferentes, que ele possa se comunicar como pessoa e possa olhar pro outro com aceitação. É no espaço coletivo que a gente aprende isso. E todas essas questões, a escola deve se apropriar. Não que não vai trabalhar conteúdo, não vai ensinar a ler, a calcular. Mas a aprender a ler o mundo e as pessoas, sem preconceito. Já ouvi muito sobre ‘ah, isso é papel da família’, mas quem trabalhou em sala de aula sabe que, muitas vezes, a escola é a única abertura para a criança se desenvolver como ela realmente é e, também, lugar de pensar a vida em suas várias formas.

Antes de qualquer julgamento, vale lembrar que a Foucault (1996, p. 18) interessava compreender o “[...] modo como o saber é aplicado em uma sociedade, como é valorizado, distribuído, repartido e de certo modo atribuído”. A discussão aqui se concentrou, assim, nos pontos de vista de cada professora aposentada sobre a necessidade da reinvenção da escola pública.

Neste sentido, ouviu-se muito sobre o papel do Estado na educação pública. Bourdieu (2014, p. 45) nos chama a atenção ao dizer para ter “cuidado, todas as frases que têm como sujeito o Estado são frases teológicas - o que não quer dizer que sejam falsas, na medida em que o Estado é uma entidade teológica, isto é, uma entidade que existe pela crença”. O Estado como algo a que não temos acesso, intocável, mas que está presente na maioria dos arranjos em sociedade, é algo para repensar as lógicas das instituições e das políticas públicas. A que é interessante acrescentar, neste momento, uma afirmação de Foucault (1995, p. 256): “[...] nem tudo é ruim, mas tudo é perigoso, o que não significa o mesmo que ruim. Se tudo é perigoso, então temos sempre algo a fazer”.

Preconceito, racismo, questões de ódio, entre outros temas que as parceiras desta pesquisa trouxeram como caros para a escola, por se tratar de fonte de estudo, conhecimento e desenvolvimento de um cidadão crítico e participativo, vêm sendo discutidos atualmente, no Brasil, como de debate exclusivo da família. Há uma fenda em que a investida pedagógica será condicionada por seus protagonistas, a quem caberá “[...] interrogar novamente as evidências e os postulados, sacudir os hábitos, as maneiras de fazer e de pensar, dissipar as familiaridades aceitas, retomar a avaliação das regras e das instituições” (Foucault, 2004, p. 249). Aqui ouvimos, observamos e pensamos através dos percursos de algumas protagonistas em educação.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo realizado a partir da etnografia possibilita reflexões sobre práticas sociais e institucionais instiga-nos a pensar sobre a instituição escolar e sua polifonia social. Nas palavras de Carmen Lúcia Guimarães de Mattos (2011), em “Estudos etnográficos da educação: uma revisão de tendências no Brasil”, a autoria afirma que “fazer etnografia, portanto, é dar voz a uma minoria silenciosa; é caminhar em um mundo desconhecido; é abrir caminhos passando das contingências para a autodeterminação” (Mattos, 2011, p. 43). A pesquisa etnográfica tem muito a contribuir, a partir de reflexões acerca da instituição escolar, sua cultura material e imaterial.

O estudo ora apresentado é um exercício de pensar a instituição escolar a partir da reflexão sobre o lugar dos sujeitos de pesquisa, as professoras aposentadas, suas perspectivas e visões do que vivenciaram e de suas experiências no espaço escolar do município de Portão, no estado do Rio Grande do Sul. O recorte estabelecido propicia a aproximação entre pesquisador e pesquisado, através da etnografia, que possibilitou abordar a escola como instituição com suas dinâmicas cotidianas e o olhar de algumas professoras aqui apresentadas como parceiras sobre tais cotidianidades.

O espaço da escola é, sem dúvida, disseminador de possibilidades da construção de um sentido comum, incorporando a comunidade escolar. Muito foi discutido sobre as formas de habitar a escola e a relação com a cidade. Fato é que, em algumas conversas, surgiram questões que deixaram evidenciadas a ideia de muitos avanços, mas também de algumas possíveis frestas para retrocessos. Ora, frestas podem conduzir a aberturas que tanto podem permitir novas perspectivas de ensino a partir das experiências vividas quanto produzir ruínas.

Ao ‘ouvirmos estas falas’, em uma diversificada e potente roda de conversa, é possível refletir sobre o legado da escola pública e a forma como ela se apresenta na contemporaneidade. A necessidade da reinvenção da escola pública foi debatida e apontamentos foram elaborados, e estes podem servir para futuras pesquisas. Assim sendo, é possível afirmar que este estudo abre espaço para que professoras aposentadas possam contribuir para reflexões sobre o patrimônio cultural escolar, trazendo olhares para a valorização da educação, da escola, das professoras e da cultura deste local.

Como o patrimônio retrata o que seria mais importante para a cultura de um tempo e lugar, pode-se reiterar que as narrativas destas professoras oferecem dados e fatos que remontam retratos relevantes de cada comunidade escolar por onde passaram. Independentemente se as escolas públicas por onde passaram estão ativadas ou não, o fato é que essas vivências fazem parte da história destes espaços, incluindo-se aqui a etnografia da duração, constituindo-se através das manifestações culturais de cada comunidade deste município.

Assim, é possível inferir que esta pesquisa pode contribuir social e cientificamente, no sentido de refletir sobre a construção da ideia de narrativa de mundo do trabalho em educação como patrimônio cultural escolar do espaço vivido. Afinal, as experiências podem servir de análise para re/pensar o espaço/tempo na estrutura escolar, física e de organização pedagógica da escola pública deste lugar. O percurso destas professoras hoje aposentadas aponta dinâmicas, projetos e re/invenções que permitem observar os movimentos educacionais e possibilitam analisar como cada espaço se organizou para dar conta das demandas e alterações de programas de ensino ao longo do tempo. Pode-se, inclusive, extrair os aspectos positivos e a melhorar em cada período narrado, visto que as narrativas trazem fatos de diferentes períodos, pois as parceiras desta pesquisa têm idades distintas. Além disso, carregam perspectivas singulares acerca de suas experiências e vivências na instituição escolar.

  • 3
    Artigo elaborado a partir de capítulo da Tese “Olhares e movimentos com o que resta de giz nas mãos: memórias do mundo do trabalho de professoras aposentadas da rede pública de ensino e o patrimônio cultural escolar do município de Portão/RS”, pelo Programa de Pós-Graduação em Processos e Manifestações Culturais, pela Universidade Feevale, com incentivo PROSUC/CAPES.
  • 4
    As professoras parceiras desta pesquisa autorizaram o uso de seus nomes, imagens e narrativas, com Carta de Cessão devidamente assinada. A saber, Rosaura, Marisa, Mariângela, Adreane, Leila, Eoní e Cândida.
  • 5
    O município de Portão é situado no Vale do Sinos, na região metropolitana de Porto Alegre. Fundado em 9 de outubro de 1963, tem em torno de 31 mil habitantes.
  • 6
    Covid-19 é uma doença causada pelo vírus SarsCov2, que se espalhou por todo o mundo, sendo considerada uma pandemia que provocou distanciamento social, uso de máscara e higienização frequente das mãos, até a chegada da vacina, no final de 2020, sendo que a vacinação no Brasil iniciou apenas em 2021, tendo provocado centenas de milhares de óbitos.
  • 7
    Palavra que tem origem no latim, pater, significando basicamente o(s) bem(ns) deixado(s) de pai para filho. Palavra patriarcal - assim como nossa sociedade - que resume a ação de compartilhamento de bens (surgida na Revolução Francesa), mas que tem uma complexa relação com a sociedade, se observada através de estudos em história, sociologia, comunicação e antropologia.
  • 8
    Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
  • 9
    Universidade do Estado da Bahia.
  • 10
    Escolas multisseriadas são aquelas em que o professor atende conjuntamente a mais de uma turma/ano no mesmo lugar e período, podendo ser 2, 3, 4 e até 5 turmas de diferentes níveis de ensino. Ainda hoje são encontradas escolas multisseriadas no Brasil, principalmente em locais mais afastados, em escolas indígenas e quilombolas.
  • 11
    Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
  • 12
    Bom Jesus é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul. Localiza-se no nordeste do Estado, nos chamados Campos de Cima da Serra. Tem em torno de 12 mil habitantes e foi emancipado em 16 de julho de 1913.
  • 13
    Como estética da existência, no sentido foucaultiano.
  • 14
    Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o patrimônio cultural de um povo é formado pelo conjunto dos saberes, fazeres, expressões, práticas e seus produtos, que remetem à história, à memória e à identidade desse povo. Ler mais em: https://www.gov.br/iphan/pt-br
  • 15
    Os artigos 215 e 216 da Constituição Federal citam como patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. Ler sobre patrimônio de natureza material e imaterial no site do IPHAN, mencionado na nota anterior. Importante destacar aqui, de modo simplificado, que os bens são instituídos pelo Estado e representantes da sociedade, e cabe ao Estado, através de políticas públicas, preservar estes bens.
  • 16
    Especialmente no que se refere ao conceito de “culturas” como um processo e na necessidade de estudar as singularidades e os costumes como manifestações culturais. Também na relação com a educação, de modo a discutir sobre igualdade de oportunidades, o preconceito racial e a padronização. Entre tantos escritos, Boas deixou importante legado sobre a finalidade e utilidade dos museus para a educação; a ideia de integração da Universidade com a comunidade; a metodologia de pesquisa etnográfica - em campo e com diversos registros; a importância da contextualização para a aprendizagem; o relativismo cultural.
  • 17
    O autor descreve a cultura como um sistema simbólico composto pelo indivíduo e pelo coletivo, numa interação contínua. Com uma definição mais semiótica, coloca que o homem está atado a significados que ele mesmo criou, e a cultura é parte de um processo que se dá na mediação das relações entre os indivíduos e na produção de sentidos que ocorre a partir destas relações, o que também contribui para compreensão e importância do estudo de cada contexto.
  • 18
    A família do doador (falecido) da área de terra onde foi construída a escola entrou na justiça para reaver a área. O processo está em trâmites judiciais.
  • 19
    Listagem de alguns links onde é possível verificar o Museu da Escola de distintos lugares: http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=47 - Paraná https://www.instagram.com/museudaescola/ - Santa Catarina http://www.museuescolar.pt/ - Portugal www.cndp.fr/musee - França
  • 20
    Ela está se referindo a um Repositório Digital das práticas pedagógicas das escolas.
  • 21
    Tratado, especialmente, na obra “Vigiar e Punir” de Michel Foucault, o panóptico remete à ideia de visualização constante dos indivíduos.
  • 22
    Entidade social criada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), onde voluntários realizam trabalho ecumênico visando acompanhar as crianças de 0 a 6 anos, principalmente, realizando ações de ordem social.
  • 23
    Na fotografia de 1977, Leila está ao centro, bem em frente ao braço direito da professora. Na imagem de 1989, Leila é a primeira da direita para a esquerda, na primeira fila. Escola: Grupo Escolar de Rincão do Cascalho, que passou a se denominar Escola Estadual Adolfo Gustavo Krumenauer.
  • 24
    Programa brasileiro de transferência de renda com condicionalidades, implementado em 2001 pelo governo federal, cujo objetivo era pagar uma bolsa mensal em dinheiro (cartões) às famílias de crianças e jovens de baixa renda como estímulo para que essas frequentassem a escola regularmente.
  • 25
    Reconhecida como meio legal de comunicação e expressão para pessoas com deficiência auditiva pela Lei n. 10.436/2002.
  • 26
    Sistema de leitura e de escrita para deficientes visuais, em que as letras, os algarismos e os sinais gráficos são representados por uma combinação de seis pontos em relevo, que são lidos da esquerda para a direita, com uma ou ambas as mãos.
  • 27
    Caçamba carregada por um caminhão.
  • 28
    Pequeno bujão de gás.
  • 29
    A sigla é composta por: LGBTQQICAAPF2K+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queer, Questionando, Intersexuais, Curioso, Assexuais, Aliados, Pansexuais, Polissexuais, Familiares, 2-espíritos e Kink). Ver mais em: https://www.fundobrasil.org.br/blog/o-que-significa-a-sigla-lgbtqia/
  • 30
    Arquivo digital de áudio transmitido através da internet. O conteúdo é variado, normalmente com o propósito de transmitir informações. Qualquer usuário na internet pode criar um podcast.
  • 31
    Parâmetros Curriculares Nacionais.

REFERÊNCIAS

  • ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (Org.). Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. 2. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009.
  • ARANTES, Antonio A. O patrimônio cultural e seus usos: a dimensão urbana. Revista HABITUS, Goiânia, v. 4, n. 1, p. 425-36, jan/jun. 2006.
  • BOAS, Frans. A mente do ser humano primitivo Petrópolis: Vozes, 2010.
  • BOAS, Franz. Antropologia cultural Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
  • BOURDIEU, Pierre. Sobre o Estado São Paulo: Editora Cia das Letras, 2014.
  • DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. O que é a filosofia? Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.
  • DOUGLAS, Mary. Como as instituições pensam São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1998.
  • ECKERT, Cornelia; ROCHA, Ana Luiza Carvalho. Cidade narrada, tempo vivido: estudos de etnografias da duração. Revista RUA - Laboratório de Estudos Urbanos, Campinas, n. 16, v. 1, jun. 2010.
  • FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso São Paulo: Loyola, 1996.
  • FOUCAULT, Michel. O cuidado com a verdade. In: FOUCAULT, Michel. Ética, sexualidade, política: ditos e escritos V. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. p. 240-51.
  • FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. 42. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2014.
  • GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
  • GONÇALVES, José Reginaldo Santos. Ressonância, materialidade e subjetividade: as culturas como patrimônios. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 11, n. 23, p. 15-36, jun. 2005.
  • LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural São Paulo: Cosac Naify, 2008.
  • MATTOS, Carmen Lúcia G. Estudos etnográficos da educação: uma revisão de tendências no Brasil. In: MATTOS, Carmem Lucia G.; CASTRO, Paula Almeida (Org.). Etnografia e Educação: conceitos e usos. Campina Grande: EDUEPB, 2011. p. 25-48. Disponível em: https://static.scielo.org/scielobooks/8fcfr/pdf/mattos-9788578791902.pdf Acesso em: 20 out. 2024.
    » https://static.scielo.org/scielobooks/8fcfr/pdf/mattos-9788578791902.pdf
  • PELLEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio cultural: consciência e preservação. São Paulo: Brasiliense, 2009.
  • ROCHA, Ana Luiza Carvalho; ECKERT, Cornelia. Etnografia da duração: antropologia das memórias coletivas em coleções etnográficas. Porto Alegre: Marcavisual, 2013.
  • ROCHA, Ana Luiza Carvalho; ECKERT, Cornelia. Etnografia da duração nas cidades em suas consolidações temporais. Política e Trabalho, João Pessoa, n. 34, p. 107-26, abr. 2011.
  • SOUZA, Rosa Fátima. Preservação do Patrimônio Histórico Escolar no Brasil: notas para um debate. Revista Linhas, Florianópolis, v. 14, n. 26, p. 199-221, jan./jun. 2013.
  • WOORTMANN, Ellen. Lembranças e Esquecimentos: Memórias de Teuto-Brasileiros, In: Devorando o Tempo: Brasil, o País sem Memória, org. por Annette Leibing e Sibylle Benninghoff-Lühl, São Paulo: Mandarim, 2001, p. 205-35.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jun 2025
  • Data do Fascículo
    Jan-Dec 2025

Histórico

  • Recebido
    15 Dez 2023
  • Aceito
    14 Out 2024
  • Aceito
    22 Out 2024
location_on
Universidade Católica Dom Bosco Av. Tamandaré, 6000 - Jd. Seminário, 79117-900 Campo Grande- MS - Brasil, Tel.: (55 67) 3312-3608 - Campo Grande - MS - Brazil
E-mail: suzantoniazzo@ucdb.br
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Reportar erro