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Nova espécie de Trichorhina (Isopoda, Oniscidea, Plathyarthridae) do Brasil

A new species of Trichorhina (Isopoda, Oniscidea, Plathyarthridae) from Brazil

Resumos

Trichorhina tatianae sp. nov., encontrada em Araranguá, Morro dos Conventos, Estado de Santa Catarina, é descrita. A nova espécie pode ser facilmente identificada pela expansão lateral do ísquio do pereiópodo 7 do macho. Trichorhina tatianae sp.nov. é conhecida somente da localidade-tipo.

Isópodo terrestre; Brasil; Trichorhina; nova espécie; Neotropical


Trichorhina tatianae sp. nov., found during recent surveys in Araranguá, Morro dos Conventos, in the State of Santa Catarina, is described herein. The new species can easily be differentiated by the lateral expansion of the ischium of pereiopod 7 of the male. Trichorhina tatianae sp. nov. is recorded only from its type-locality.

Terrestrial isopod; Brazil; Trichorhina; new species; Neotropical


Nova espécie de Trichorhina (Isopoda, Oniscidea, Plathyarthridae) do Brasil11. Contribuição n° 504 do Departamento de Zoologia da UFRGS

A new species of Trichorhina (Isopoda, Oniscidea, Plathyarthridae) from Brazil

Paula Beatriz AraujoI; Maurício Pereira AlmerãoII

IDepartamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves, 9500, prédio 43435, 91501-970, Porto Alegre, RS, Brasil. (pbaraujo@portoweb.com.br)

IIDepartamento de Genética, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves, 9500, Caixa Postal 15053, 91501-970, Porto Alegre, RS, Brasil. (malmerao@hotmail.com)

RESUMO

Trichorhina tatianae sp. nov., encontrada em Araranguá, Morro dos Conventos, Estado de Santa Catarina, é descrita. A nova espécie pode ser facilmente identificada pela expansão lateral do ísquio do pereiópodo 7 do macho. Trichorhina tatianae sp.nov. é conhecida somente da localidade-tipo.

Palavras-chave: Isópodo terrestre, Brasil, Trichorhina, nova espécie, Neotropical.

ABSTRACT

Trichorhina tatianae sp. nov., found during recent surveys in Araranguá, Morro dos Conventos, in the State of Santa Catarina, is described herein. The new species can easily be differentiated by the lateral expansion of the ischium of pereiopod 7 of the male. Trichorhina tatianae sp. nov. is recorded only from its type-locality.

Keywords: Terrestrial isopod, Brazil, Trichorhina, new species, Neotropical.

O gênero Trichorhina Budde-Lund, 1908, encontrado em todos os continentes, inclui, até o presente, 55 espécies. No entanto, com exceção de T. tomentosa (Budde-Lund, 1908), que tem distribuição mundial e de T. heterophthalma Lemos de Castro, 1964, que tem ocorrência pantropical, as demais espécies têm distribuição restrita a áreas limitadas, às vezes citadas apenas para a localidade-tipo. O maior número de espécies registradas encontra-se na América do Sul, um total de 17. Neste cenário destaca-se o Brasil, com 11 espécies (SCHMALFUSS, 2003) e destas, somente T. tomentosa ocorre em vários estados (PA, ES, MG, RJ, SP e RS). Para a região Norte há o registro de T. amazonica Souza-Kury, 1997, T. paraensis Souza-Kury, 1997 e T. pittieri (Pearse, 1921); para a região Nordeste, T. guanophila Souza-Kury, 1993 e T. macrops Souza-Kury, 1993 e para a região Sudeste, T. heterophthalma (SOUZA-KURY, 1998). Quatro espécies são citadas para a região Sul: T. acuta Araujo & Buckup, 1994 (ARAUJO & BUCKUP, 1994), T. bicolor Araujo & Buckup 1996, T. argentina Vandel, 1963 (ARAUJO & BUCKUP, 1996) e T. brasiliensis Andersson, 1960, citada, inclusive, para o Paraguai (SCHULTZ, 1995).

Em recentes coletas realizadas em Morro dos Conventos, Município de Araranguá, Santa Catarina, uma nova espécie de Trichorhina foi encontrada e é descrita neste trabalho. O material examinado está depositado no Museu Nacional do Rio de Janeiro (MNRJ) e na Coleção de Crustáceos do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre (UFRGS).

Trichorhina tatianae sp. nov.

(Figs. 1-25)




Etimologia. Em homenagem à coletora dos espécimes, Tatiana G. Pinto.

Material-tipo: Holótipo , BRASIL, Santa Catarina: Araranguá (Morro dos Conventos) (28°56'S, 49°21'W), na serapilheira, 10.IV.2005, T. G. Pinto col. (MNRJ 19736). Parátipos: 14, 14, mesmos dados do holótipo (UFRGS 4011P).

Diagnose. Olhos com 5 omatídios, antênula com 5 estetascos apicais, endito externo da maxílula com 4+4 dentes (inteiros), endito interno com espinho látero-distal, pereiópodo 7 do macho com expansão lateral do ísquio.

Descrição. Medidas. Macho: 2,0 mm comprimento, 0,85 mm largura; fêmea: 2,6 mm comprimento, 1,20 mm largura. Pigmento castanho reticulado, mais escuro ao longo dos epímeros e no eixo mediano do corpo, menos intenso nos dois últimos pleonitos e pleotelso (Fig. 1). Superfície do corpo com placas semicirculares e cerdas escamosas estriadas grandes e pequenas (Fig. 21). Cabeça pouco envolvida pelo pereionito I, cujas bordas anteriores atingem a margem posterior dos olhos (Fig.1). Lobos cefálicos laterais aparentes. Olhos com 5 omatídios (Fig. 22). Sem poros glandulares nos pereionitos. Nódulos laterais com base simples, um em cada lado dos pereionitos; posição das coordenadas b/c e d/c (VANDEL, 1960) como na figura 7; distâncias b (distância do nódulo com relação à margem posterior do pereionito) e d (distância do nódulo com relação à margem lateral do pereionito) semelhantes em todos os pereionitos. A variação mostrada no gráfico deve-se ao parâmetro c (comprimento total do pereionito). Pleotelso triangular, com as margens sinuosas e ápice arredondado; encobre apenas a porção proximal dos endópodos dos urópodos (Fig. 1).

Apêndices. Articulo distal da antênula com 5 estetascos (Fig. 2). Antena (Fig. 3), quando distendida para trás, atinge a margem posterior do pereionito I; artículo proximal do flagelo menor que o distal e com comprimento subigual ao órgão apical. Mandíbula esquerda com três penicílios no processo molar e três no processo incisor; mandíbula direita com sete no processo molar e dois no incisor. Endito interno da maxílula apresentando dois penicílios apicais e um espinho látero-distal; endito externo com 4+4 dentes, todos inteiros (Fig. 4). Maxila com setas finas longas e curtas no lobo interno (Fig. 5). Endito do maxilípodo com dois dentes pequenos na borda distal; palpo com duas setas proximais, três setas em posição mediana e seta apical (Fig. 6). Pereiópodos com placas semicirculares (Figs. 24, 25). Pereiópodo 1 com escova de limpeza de antenas; no macho (Fig. 8) com número maior de setas curtas e finas no carpo e mero do que na fêmea (Fig. 9); pereiópodo 7 do macho com pronunciada expansão lateral no ísquio (Figs. 23, 24), fêmea sem (Fig. 25). Demais pereiópodos com progressiva diminuição de setas no carpo, sendo o pereiópodo 6 similar ao 5 (Figs. 10-13). Exópodo do pleópodo 1 do macho (Fig. 14) semi-oval, com borda inferior serrilhada; endópodo com ápice em ponta curvada para fora; papila genital com a margem distal serrilhada (Fig. 15). Exópodo do pleópodo 2 triangular (Fig. 16), com a borda serrilhada; endópodo afilando em direção à porção distal (Fig. 17). Pleópodos 3, 4 e 5 com borda serrilhada e setas (Figs. 18-20).



Comentários. A comparação com outras espécies com base no número de omatídios, como feito por SOUZA-KURY (1997), ARAUJO & BUCKUP (1994) e ARAUJO & BUCKUP (1996) e presença de dentes inteiros na maxílula aproxima a espécie nova a T. albida Budde-Lund, 1908, a T. gianelli Arcangeli, 1929 e a T. bequaerti Van Name, 1936. No entanto, T. tatianae sp. nov. não possui os "botoezículos" no dorso (VERHOEFF, 1946) como T. albida e tampouco as costeletas no mesoepistoma, como em T. gianelli. O acentuado dimorfismo sexual no pereiópodo 7 diferencia T. tatianae sp. nov. de T. bequaerti, onde esta característica está ausente. Além disso, a espécie nova diferencia-se das demais espécies do gênero por apresentar a pronunciada expansão lateral no ísquio.

Agradecimentos. A Tatiana G. Pinto, pela doação dos espécimes coletados durante trabalho de campo do Curso de Especialização em Diversidade e Conservação da Fauna, Departamento de Zoologia, UFRGS.

Recebido em março de 2006. Aceito em novembro de 2006.

  • ARAUJO, P. B. & BUCKUP, L. 1994. Nova espécie de Trichorhina Budde-Lund, 1908 (Crustacea, Isopoda, Plathyarthridae) do sul do Brasil. Iheringia, Série Zoologia, 77:129-134.
  • ___. 1996. Novos registros e uma espécie nova de Trichorhina Budde-Lund (Isopoda, Oniscidea, Platyarthridae) do sul do Brasil. Revista Brasileira de Zoologia 13(3):799-810.
  • SCHMALFUSS, H. 2003. World catalog of terrestrial isopods (Isopoda: Oniscidea). Stuttgarter Beiträge zur Naturkunde, Serie A, 654:1-341.
  • SCHULTZ, G. 1995. Terrestrial isopod crustaceans from Paraguay with definition of a new family. Revue Suisse de Zoologie 102:387-424.
  • SOUZA-KURY, L. A. 1997. Two new species of Trichorhina from Brazilian Amazonia (Isopoda, Oniscidea, Plathyarthridae). Crustaceana 70(2):180-190.
  • ___. 1998. Malacostraca. Peracarida. Isopoda. Oniscidea. In: YOUNG, P. ed. Catalogue of Crustacea of Brazil Rio de Janeiro, Museu Nacional. p. 653-674.
  • VANDEL, A. 1960. Isopodes terrestres (1ère partie). Faune de France 64:1-416.
  • VERHOEFF, K. W. 1946. Über Land-Isopoden der Seychelen und aus Burma. Arkiför Zoologi 37 A:1-18.
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    . Contribuição n° 504 do Departamento de Zoologia da UFRGS
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Ago 2007
    • Data do Fascículo
      Jun 2007

    Histórico

    • Recebido
      Mar 2006
    • Aceito
      Nov 2006
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