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Medicamentos utilizados no tratamento da covid-19 em pacientes com perda da capacidade funcional renal: uma revisão rápida da literatura

RESUMO

A covid-19 foi identificada como a causa de doença respiratória aguda com pneumonia intersticial e alveolar, mas que pode afetar vários órgãos, como rim, coração, sangue, sistema nervoso e trato digestivo. O agente causador da doença (Sars-CoV-2) tem uma estrutura de ligação ao receptor da enzima de conversão da angiotensina 2 (ACE2), permitindo a entrada em células que expressam ACE2, como as células epiteliais alveolares pulmonares. Porém, estudos também indicam a possibilidade de lesão das células renais, uma vez que essas células expressam altos níveis de ACE2. Atualmente, não existem evidências para a indicação de um tratamento específico para a covid-19. Vários medicamentos vêm sendo utilizados, e alguns podem ter o processo de eliminação alterados em pacientes com comprometimento renal. Até o momento, não há estudos que auxiliem os profissionais de saúde no ajuste de dose desses medicamentos. Assim, este estudo tem como objetivo revisar e discutir o tema, levando em consideração os fatores relacionados à lesão renal na covid-19, bem como aspectos farmacocinéticos e recomendações de doses dos principais medicamentos utilizados para covid-19.

Descritores:
Covid-19; Insuficiência Renal; Tratamento Farmacológico; Ajuste de Dose

ABSTRACT

Covid-19 has been identified as the cause of acute respiratory disease with interstitial and alveolar pneumonia, but it can affect several organs, such as kidneys, heart, blood, nervous system and digestive tract. The disease-causing agent (Sars-CoV-2) has a binding structure to the angiotensin-converting enzyme 2 (ACE2) receptor, enabling entry into cells that express ACE2, such as the pulmonary alveolar epithelial cells. However, studies also indicate the possibility of damage to renal cells, since these cells express high levels of ACE2. Currently, there is no evidence to indicate a specific treatment for covid-19. Several drugs have been used, and some of them may have their excretion process altered in patients with abnormal kidney function. To date, there are no studies that assist health professionals in adjusting the dose of these drugs. Thus, this study aims to review and discuss the topic, taking into account factors associated with kidney injury in covid-19, as well as pharmacokinetic aspects and dose recommendations of the main drugs used for covid-19.

Keywords:
Covid-19; Kidney injury; Drug therapy; Dose Adjustment

INTRODUÇÃO

Os coronavírus são importantes patógenos humanos e animais. No fim de 2019, um novo coronavírus denominado covid-19 foi identificado como a causa de um conjunto de casos de pneumonia em Wuhan, uma cidade na província de Hubei, na China. Ele se espalhou rapidamente, resultando em uma epidemia em toda a China, seguida por um número crescente de casos em outros países do mundo, levando a uma pandemia.11 World Health Organization. Director-General's remarks at the media briefing on 2019-nCoV on 11 February 2020. https://www.who.int/dg/speeches/detail/who-director-general-s-remarks-at-the-media-briefing-on-2019-ncov-on-11-february-2020 (Accessed on February 12, 2020).
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A transmissão ocorre de pessoa para pessoa, principalmente por gotículas respiratórias. O vírus é liberado nas secreções respiratórias quando uma pessoa com infecção tosse, espirra ou fala e pode infectar outra pessoa se entrar em contato direto com as membranas mucosas; a infecção também pode ocorrer se uma pessoa entrar em contato com uma superfície infectada e depois tocar nos olhos, no nariz ou na boca.22 Van Doremalen N, Bushmaker T, Morris DH, et al. Aerosol and Surface Stability of SARS-CoV-2 as Compared with SARS-CoV-1. N Engl J Med, 2020; 382:1564-1567

O agente causador da covid-19 (Sars-CoV-2) é do mesmo subgênero que o vírus da Sars, com uma estrutura de ligação ao receptor da enzima de conversão da angiotensina 2 (ACE2) que permite a entrada nas células.33 Zhou P, Yang XL, Wang XG, et al. A pneumonia outbreak associated with a new coronavirus of probable bat origin. Nature, 2020;579:270-273 O parênquima pulmonar tem em abundância os receptores da ACE2 nas células epiteliais alveolares pulmonares, manifestando-se principalmente como uma doença respiratória aguda com pneumonia intersticial e alveolar, mas pode afetar vários órgãos, como rim, coração, sangue, sistema nervoso e trato digestivo.44 Hamming I, Timens W, Bulthuis ML, et al. Tissue distribution of ACE2 protein, the functional receptor for SARS coronavirus. A first step in understanding SARS pathogenesis. J Pathol, 2004;203:631-637,55 Wang D, Hu B, Hu C, et al. Clinical characteristics of 138 hospitalized patients with 2019 novel coronavirus-infected pneumonia in Wuhan, China. JAMA, 2020;323:1061-1069.

Um estudo in vitro com células epiteliais tubulares proximais renais estabeleceu que o Sars-CoV manifestava infecção persistente e produtiva, que estava parcialmente correlacionada com a expressão da ACE2.66 Pacciarini F, Ghezzi S, Canducci F, et al. Persistent replication of severe acute respiratory syndrome coronavirus in human tubular kidney cells selects for adaptive mutations in the membrane protein. J Virol, 2008;82:5137-5144. Usando técnicas de célula única de última geração, Zou e colaboradores mostraram órgãos estratificados em alto e baixo risco, de acordo com o nível de expressão da ACE2, indicando o rim como de alto risco.77 Zou X, Chen K, Zou J, et al. Single-cell RNA-seq data analysis on the receptor ACE2 expression reveals the potential risk of different human organs vulnerable to 2019-nCoV infection. Front Med, 2020;14(2):185-192. Esses achados indicam a possibilidade de infecção da Sars-CoV-2 em células renais.

Por outro lado, medicamentos com potencial eficácia contra a covid-19 têm sido cada vez mais estudados e utilizados em pacientes diagnosticados, principalmente no ambiente hospitalar.88 Sanders JM, Monogue ML, Jodlowski T, et al. Pharmacologic Treatments for Coronavirus Disease 2019 (COVID-19): A Review. JAMA, 2020. Publicado online em 13 de abril. Sabe-se que o metabolismo e a eliminação de muitos medicamentos dependem da função renal normal. Esses medicamentos podem ser alterados por diversos processos farmacocinéticos em situações de deficit das funções renais, resultando subsequentemente em efeitos adversos e quadros clínicos de intoxicação medicamentosa nesses pacientes.99 Pereira EB. Uso de Medicamentos na Insuficiência Renal. In: Riella MC. Princípios de nefrologia e distúrbios eletrolíticos. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p. 799 - 842.,1010 Olyaei AJ, Foster TA, Lerma EV. Drug dosing in chronic kidney disease. In: Turner N, Lameire N, Goldsmith DJ, Winearls CG, et al. Oxford textbook of clinical nephrology. 4 ed. Oxford: Oxford University Press; 2016. p. 2911 - 2918.

Até o momento, não há estudos que auxiliem profissionais de saúde no ajuste de dose dos medicamentos utilizados no tratamento da covid-19 em pacientes com perda da capacidade funcional renal. Assim, o objetivo deste estudo é discutir a complexidade do tema, levando em consideração os fatores relacionados à fisiopatologia da lesão renal aguda (LRA) e anormalidades renais na covid-19, bem como aspectos farmacocinéticos e recomendações de doses dos principais medicamentos utilizados para covid-19.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão narrativa da literatura. Foi realizada uma busca rápida de artigos indexados nas bases de dados Medline (via PubMed) e a Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), utilizando palavras-chave ou combinações dos termos "covid-19", "lesão renal" e "tratamento medicamentoso". Servidores de preprints, como medRxiv e SciELO Preprints, também foram utilizados em busca de manuscritos de interesse acerca do tema e ainda não publicados em revistas científicas. Estudos atuais e relevantes com o tema foram escolhidos para compor o corpo da revisão. Ademais, literaturas consagradas99 Pereira EB. Uso de Medicamentos na Insuficiência Renal. In: Riella MC. Princípios de nefrologia e distúrbios eletrolíticos. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p. 799 - 842.,1111 Thummel KE, Shen DD, Isoherranen N. Planejamento e otimização de esquemas posológicos: dados farmacocinéticos. In: Brunton LL, Chabner BA, Knollmann BC. As bases farmacológicas e terapêuticas de Goodman & Gilman. São Paulo: Artmed; 2012. p. 1891 - 1898. relacionadas com os aspectos farmacocinéticos em pacientes com perda da capacidade funcional renal também foram utilizadas.

Os medicamentos incluídos nesta revisão foram selecionados com base nas diretrizes para diagnóstico e tratamento da covid-19 do Ministério da Saúde do Brasil,1212 Brasil. Ministério da Saúde. Diretrizes para diagnóstico e tratamento da COVID-19 versão 3. Brasília: Ministério da Saúde; 2020. no painel de diretrizes para tratamento da covid-19 do National Institutes of Health1313 National Institutes of Health. COVID-19 Treatment Guidelines Panel. Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Treatment Guidelines, 2020. Disponível em: https://www.covid19treatmentguidelines.nih.gov/
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e nas recomendações sobre evidências de tratamento para covid-19 da American Society of Health-System Pharmacists.1414 ASHP. Assessment of Evidence for COVID-19-Related Treatments: Updated 8/25/2020, American Society of Hospital Pharmacist, 2020. Disponível em: https://www.ashp.org/COVID-19
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Informações sobre o uso desses medicamentos no tratamento da covid-19 foram analisadas em bases de informações sobre medicamentos de prestígio, como o Uptodate®,1515 UpToDate [Internet]. Waltham, MA: UpToDate Inc. Disponível em: https://www.uptodate.com
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Micromedex®1616 Micromedex 2.0 [Internet]. Ann Arbor (MI): Truven Health Analytics Inc. 2020. Disponível em: www.micromedexsolutions.com
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e The Sanford Guide,1717 Gilbert DN, Chambers HF, Eliopoulos GM. The Sanford Guide to Antimicrobial Therapy 2020. 50th. Sperryville: Antimicrobial Therapy, Inc; 2020. bem como em literaturas reconhecidas1010 Olyaei AJ, Foster TA, Lerma EV. Drug dosing in chronic kidney disease. In: Turner N, Lameire N, Goldsmith DJ, Winearls CG, et al. Oxford textbook of clinical nephrology. 4 ed. Oxford: Oxford University Press; 2016. p. 2911 - 2918.,1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019. na área do tema.

LESÃO RENAL AGUDA NA COVID-19

A patogênese da lesão renal aguda associada à covid-19 é multifatorial, mas a depleção de volume na admissão, secundário à febre e a perdas insensíveis, pode ser um gatilho comum para LRA, uma vez que a ressuscitação pré-hospitalar com fluidos raramente é realizada, levando à uma LRA pré-renal por hipoperfusão renal.1919 Ronco C, Reis T, Husain-Syed F. Management of acute kidney injury in patients with COVID-19. Lancet Respir Med, 2020;8:738-742. Já a rabdomiólise também pode estar associada à LRA, uma vez que os pacientes graves comumente apresentam elevações importantes de creatinofosfoquinase (CPK). Um estudo anterior2020 Su H, Yang M, Wan C et al. Renal histopathological analysis of 26 postmortem findings of patients with COVID-19 in China. Kidney Int, 2020;98:219-227. realizado com biópsia renal identificou grânulos de hemossiderina com cilindros pigmentados no epitélio dos túbulos renais.

A lesão direta do epitélio tubular renal e dos podócitos já foi descrita pela microscopia eletrônica, identificando partículas virais no citoplasma do epitélio tubular proximal e nos podócitos, por meio de uma via dependente do receptor da enzima conversora de angiotensina (ACE2), causando disfunção mitocondrial, necrose tubular aguda (NTA).2020 Su H, Yang M, Wan C et al. Renal histopathological analysis of 26 postmortem findings of patients with COVID-19 in China. Kidney Int, 2020;98:219-227.,2121 Sharma P, Uppal NN, Wanchoo R, et al. COVID-19-Associated Kidney Injury: A Case Series of Kidney Biopsy Findings. J Am Soc Nephrol. 2020;31:1948-1958. A presença de proteinúria e hematúria na análise da urina de rotina pode se relacionar com as lesões glomerulares, que vão desde o apagamento secundário dos pedicelos até a presença de colapsos glomerulares (provavelmente a doença glomerular mais comum) relacionados ao gene APOL1.2121 Sharma P, Uppal NN, Wanchoo R, et al. COVID-19-Associated Kidney Injury: A Case Series of Kidney Biopsy Findings. J Am Soc Nephrol. 2020;31:1948-1958.,2222 Wu H, Larsen CP, Hernandez-Arroyo CF, et al. AKI and Collapsing Glomerulopathy Associated with COVID-19 and APOL1 High-Risk Genotype. J Am Soc Nephrol. 2020;31:1688-1695.,2323 Meijers B, Hilbrands LB. The clinical characteristics of coronavirus-associated nephropathy. Nephrol Dial Transplant. 2020;35:1279-1281.

Os níveis elevados de citocinas inflamatórias podem participar da LRA, interagindo com células residentes nos rins e induzindo à disfunção endotelial e tubular. Por exemplo, o TNF-α pode se ligar diretamente aos receptores das células tubulares, desencadeando a via do receptor de morte da apoptose.2222 Wu H, Larsen CP, Hernandez-Arroyo CF, et al. AKI and Collapsing Glomerulopathy Associated with COVID-19 and APOL1 High-Risk Genotype. J Am Soc Nephrol. 2020;31:1688-1695.,2424 Cunningham PN, Dyanov HM, Park P et al. Acute renal failure in endotoxemia is caused by TNF acting directly on TNF receptor-1 in kidney. J Immunol 168:5817-5823. 2002. Outros estudos também encontraram uma elevação de IL-6 em pacientes graves com covid-19 no grupo que evoluiu para óbito em pacientes com covid-19 quando comparados aos sobreviventes.2323 Meijers B, Hilbrands LB. The clinical characteristics of coronavirus-associated nephropathy. Nephrol Dial Transplant. 2020;35:1279-1281.,2525 Zhou F, Yu T, Du R et al. Clinical course and risk factors for mortality of adult inpatients with COVID-19 in Wuhan, China: a retrospective cohort study. Lancet, 395:1054-1062. 2020.

A infecção pela covid-19 também pode ter como alvo os linfócitos, uma vez que expressam a enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2), levando à ativação dos linfócitos e, consequentemente, à morte celular induzida por essa ativação, que pode resultar em linfopenia. Além disso, as vias de pró-coagulação e os sistemas de complemento podem se ativar mutuamente, como observado na deposição de complemento C5b-9 (complexo de ataque à membrana) nos túbulos renais em um estudo com seis pacientes infectados por Sars-CoV-2, sugerindo ativação da via do complemento.2626 Diao B, Wang CH, Wang RS, et al. Human kidney is a target for novel severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 [SARS-CoV-2] infection. medRxiv, 2020. Publicado online em 10 de abril. Essa desregulação da resposta imune relacionada à covid-19 pode predispor ao estado de hipercoagulabilidade, já que a imunidade inata e as vias de coagulação estão intimamente ligadas.2727 Delvaeye M, Conway EM. Coagulation and innate immune responses: Can we view them separately? Blood. 2009;114(12):2367-2374. A ativação dos macrófagos associados à covid-19, hiperferritinemia, tempestade de citocinas e a ativação de proteínas moleculares associadas a danos podem resultar na liberação de fator de tecido e na ativação de fatores de coagulação, predispondo os depósitos de fibrina nas alças glomerulares renais,2828 Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) Acute Kidney Injury Work Group. KDIGO clinical practice guideline for Acute Kidney Injury. Kidney Int Suppl. 2012;2:1-138. levando à predisposição para hipercoagulabilidade, que pode contribuir para a disfunção microcirculatória renal e LRA.

A LRA tem sido relatada como uma das complicações que ocorrem durante a progressão da covid-19 tanto em pacientes com doença renal prévia quanto naqueles que não a têm.2929 Huang C, Wang Y, Li X, et al. Clinical features of patients infected with 2019 novel coronavirus in Wuhan, China. Lancet, 2020;395:497-506.,3030 World Health Organization. Coronavirus disease (COVID-19) Pandemic. Coronavirus Disease (COVID-19) Outbreak Situation [Online]. https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019 [28 March 2020]
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A avaliação da taxa de filtração glomerular deve ser de acordo com as orientações vigentes para LRA.2828 Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) Acute Kidney Injury Work Group. KDIGO clinical practice guideline for Acute Kidney Injury. Kidney Int Suppl. 2012;2:1-138. Assim, deve-se monitorizar a função renal dia a dia, pois até o momento não se observou um padrão na alteração da função renal desses pacientes. Zhou e colaboradores3131 Zhen L, Ming W, Yao J, et al. Caution on kidney dysfunctions of 2019-nCoV patients. medRxiv, 2020. Publicado online em 27 de março. observaram que a LRA parece se desenvolver em uma média de 15 dias após a admissão hospitalar, enquanto outros trabalhos mencionam o desenvolvimento da LRA em uma média de 5-7 dias da admissão.3232 Cheng Y, Luo R, Wang K, et al. Kidney disease is associated with in-hospital death of patients with COVID-19 Kidney Int, 2020;5:829-838.,3333 Cao M, Zhang D, Wang Y, et al. Clinical Features of Patients Infected with the 2019 Novel Coronavirus (COVID-19) in Shanghai, China. medRxiv, 2020. Publicado online em 6 de março.

A incidência de LRA nos pacientes com covid-19 não é consistente e tem variado, em média, de 0,5% até 23%, ocorrendo principalmente nos pacientes que já tinham alteração na função renal na admissão hospitalar e nos pacientes graves que precisam de cuidados intensivos.55 Wang D, Hu B, Hu C, et al. Clinical characteristics of 138 hospitalized patients with 2019 novel coronavirus-infected pneumonia in Wuhan, China. JAMA, 2020;323:1061-1069.,3131 Zhen L, Ming W, Yao J, et al. Caution on kidney dysfunctions of 2019-nCoV patients. medRxiv, 2020. Publicado online em 27 de março.,3333 Cao M, Zhang D, Wang Y, et al. Clinical Features of Patients Infected with the 2019 Novel Coronavirus (COVID-19) in Shanghai, China. medRxiv, 2020. Publicado online em 6 de março.

A partir da epidemia atual, os dados de LRA e início de TRS se relacionam com o aumento da mortalidade, semelhante a estudo de infecção pelo Sars-CoV, no qual a LRA se desenvolveu em 6,7%, com uma taxa de mortalidade bem mais elevada nesses pacientes (91,7%), versus 8% naqueles que não desenvolveram LRA.3232 Cheng Y, Luo R, Wang K, et al. Kidney disease is associated with in-hospital death of patients with COVID-19 Kidney Int, 2020;5:829-838.,3333 Cao M, Zhang D, Wang Y, et al. Clinical Features of Patients Infected with the 2019 Novel Coronavirus (COVID-19) in Shanghai, China. medRxiv, 2020. Publicado online em 6 de março.,3434 Jensen H, Henriksen K. Proteinuria in non-renal infectious diseases. Acta Medica Scandinavica, 1974, 196:75-82. Porém ainda não é possível descrever se apenas a LRA é um fator de risco independente para a mortalidade ou se o grupo com LRA identifica os pacientes mais doentes com maior chance de óbito pelo quadro clínico grave.3131 Zhen L, Ming W, Yao J, et al. Caution on kidney dysfunctions of 2019-nCoV patients. medRxiv, 2020. Publicado online em 27 de março.,3333 Cao M, Zhang D, Wang Y, et al. Clinical Features of Patients Infected with the 2019 Novel Coronavirus (COVID-19) in Shanghai, China. medRxiv, 2020. Publicado online em 6 de março.,3434 Jensen H, Henriksen K. Proteinuria in non-renal infectious diseases. Acta Medica Scandinavica, 1974, 196:75-82.

ASPECTOS FARMACOCINÉTICOS NA PERDA DA CAPACIDADE FUNCIONAL RENAL

Processos farmacocinéticos são alterados em pacientes com a função renal comprometida, como a biodisponibilidade, volume de distribuição, biotransformação e excreção.1010 Olyaei AJ, Foster TA, Lerma EV. Drug dosing in chronic kidney disease. In: Turner N, Lameire N, Goldsmith DJ, Winearls CG, et al. Oxford textbook of clinical nephrology. 4 ed. Oxford: Oxford University Press; 2016. p. 2911 - 2918.

BIODISPONIBILIDADE

A biodisponibilidade de um fármaco representa a porcentagem de uma dada dose administrada de um medicamento disponível na circulação sistêmica.99 Pereira EB. Uso de Medicamentos na Insuficiência Renal. In: Riella MC. Princípios de nefrologia e distúrbios eletrolíticos. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p. 799 - 842.,1111 Thummel KE, Shen DD, Isoherranen N. Planejamento e otimização de esquemas posológicos: dados farmacocinéticos. In: Brunton LL, Chabner BA, Knollmann BC. As bases farmacológicas e terapêuticas de Goodman & Gilman. São Paulo: Artmed; 2012. p. 1891 - 1898. É determinada, basicamente, pela velocidade e via de administração, mas também depende da intensidade da absorção e da metabolização pré-sistêmica, hepática ou pulmonar, dos medicamentos (efeito de primeira passagem). Considera-se biodisponibilidade de 100% quando o medicamento é administrado por via endovenosa.99 Pereira EB. Uso de Medicamentos na Insuficiência Renal. In: Riella MC. Princípios de nefrologia e distúrbios eletrolíticos. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p. 799 - 842.,1010 Olyaei AJ, Foster TA, Lerma EV. Drug dosing in chronic kidney disease. In: Turner N, Lameire N, Goldsmith DJ, Winearls CG, et al. Oxford textbook of clinical nephrology. 4 ed. Oxford: Oxford University Press; 2016. p. 2911 - 2918.

Em pacientes com comprometimento renal, a biodisponibilidade pode estar alterada. Em relação ao efeito de primeira passagem, a biodisponibilidade pode aumentar para determinados medicamentos, em consequência de redução intrínseca do metabolismo hepática. Para outros, pode diminuir em decorrência do aumento da liberação de fatores urêmicos, como hormônio da paratireoide e citocinas inflamatórias, resultando em um ambiente gástrico alcalino.99 Pereira EB. Uso de Medicamentos na Insuficiência Renal. In: Riella MC. Princípios de nefrologia e distúrbios eletrolíticos. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p. 799 - 842.,1010 Olyaei AJ, Foster TA, Lerma EV. Drug dosing in chronic kidney disease. In: Turner N, Lameire N, Goldsmith DJ, Winearls CG, et al. Oxford textbook of clinical nephrology. 4 ed. Oxford: Oxford University Press; 2016. p. 2911 - 2918.

Alterações da motilidade e da absorção gastrintestinal também são causas significativas na redução da biodisponibilidade dos medicamentos. Náuseas, vômitos, diarreia e gastroparesia, comuns em pacientes urêmicos, podem alterar a motilidade e diminuir a absorção. Além disso, esses pacientes comumente apresentam um edema de parede intestinal e aumento do pH gástrico por maior produção de amônia pela ação da uréase, comprometendo a absorção dos medicamentos.99 Pereira EB. Uso de Medicamentos na Insuficiência Renal. In: Riella MC. Princípios de nefrologia e distúrbios eletrolíticos. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p. 799 - 842.,1010 Olyaei AJ, Foster TA, Lerma EV. Drug dosing in chronic kidney disease. In: Turner N, Lameire N, Goldsmith DJ, Winearls CG, et al. Oxford textbook of clinical nephrology. 4 ed. Oxford: Oxford University Press; 2016. p. 2911 - 2918.

VOLUME DE DISTRIBUIÇÃO

O volume de distribuição (Vd) de um fármaco reflete a extensão em que ele está presente nos tecidos extravasculares, exceto no plasma.1111 Thummel KE, Shen DD, Isoherranen N. Planejamento e otimização de esquemas posológicos: dados farmacocinéticos. In: Brunton LL, Chabner BA, Knollmann BC. As bases farmacológicas e terapêuticas de Goodman & Gilman. São Paulo: Artmed; 2012. p. 1891 - 1898. Depende do grau de ligação dos fármacos aos tecidos e às proteínas e da sua lipossolubilidade; fármacos lipossolúveis ou que se ligam amplamente aos tecidos corporais geralmente têm maiores Vd, diferentemente dos fármacos que se ligam mais às proteínas plasmáticas.99 Pereira EB. Uso de Medicamentos na Insuficiência Renal. In: Riella MC. Princípios de nefrologia e distúrbios eletrolíticos. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p. 799 - 842.

Existe uma correlação inversa entre a concentração sérica e o Vd. Dessa forma, as alterações ocorridas no volume de líquido extracelular podem afetar o Vd.1010 Olyaei AJ, Foster TA, Lerma EV. Drug dosing in chronic kidney disease. In: Turner N, Lameire N, Goldsmith DJ, Winearls CG, et al. Oxford textbook of clinical nephrology. 4 ed. Oxford: Oxford University Press; 2016. p. 2911 - 2918. Nos pacientes com perda da capacidade funcional renal, o Vd do medicamento poderá aumentar em decorrência de edema e ascite, principalmente em fármacos hidrossolúveis, resultando em menor concentração sérica dele. Por outro lado, pacientes urêmicos poderão apresentar hipoproteinemia, especialmente hipoalbuminemia, e resíduos orgânicos circulantes que se ligam às proteínas transportadoras e deslocam os fármacos das suas ligações às proteínas plasmáticas, resultando em frações livres e ativas elevadas desses fármacos com doses usuais e, consequentemente, uma possível toxicidade.99 Pereira EB. Uso de Medicamentos na Insuficiência Renal. In: Riella MC. Princípios de nefrologia e distúrbios eletrolíticos. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p. 799 - 842.,1010 Olyaei AJ, Foster TA, Lerma EV. Drug dosing in chronic kidney disease. In: Turner N, Lameire N, Goldsmith DJ, Winearls CG, et al. Oxford textbook of clinical nephrology. 4 ed. Oxford: Oxford University Press; 2016. p. 2911 - 2918.

BIOTRANSFORMAÇÃO E EXCREÇÃO

A biotransformação ou metabolismo consiste na conversão bioquímica de um fármaco que apresenta uma dada característica química em outro composto (metabólito) com característica química distinta. A maior parte da biotransformação ocorre no fígado, por meio das vias de metabolização hepática, incluindo oxidação, redução, acetilação e hidrólise. O resultado é um metabólito mais polar e hidrofílico, sendo mais facilmente excretado.1010 Olyaei AJ, Foster TA, Lerma EV. Drug dosing in chronic kidney disease. In: Turner N, Lameire N, Goldsmith DJ, Winearls CG, et al. Oxford textbook of clinical nephrology. 4 ed. Oxford: Oxford University Press; 2016. p. 2911 - 2918. Em pacientes urêmicos, a metabolização hepática de fármacos pode reduzir, especialmente a redução, a acetilação e a hidrólise.99 Pereira EB. Uso de Medicamentos na Insuficiência Renal. In: Riella MC. Princípios de nefrologia e distúrbios eletrolíticos. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p. 799 - 842. Esse fato se deve à presença de toxinas urêmicas que podem inativar as enzimas do citocromo P450.1010 Olyaei AJ, Foster TA, Lerma EV. Drug dosing in chronic kidney disease. In: Turner N, Lameire N, Goldsmith DJ, Winearls CG, et al. Oxford textbook of clinical nephrology. 4 ed. Oxford: Oxford University Press; 2016. p. 2911 - 2918.

Em relação à excreção dos fármacos inalterados ou na forma de metabólito (ativos ou não), pacientes com comprometimento renal podem levar ao acúmulo corporal desses compostos e prolongamento das suas ações no organismo, resultando em uma possível toxicidade.1010 Olyaei AJ, Foster TA, Lerma EV. Drug dosing in chronic kidney disease. In: Turner N, Lameire N, Goldsmith DJ, Winearls CG, et al. Oxford textbook of clinical nephrology. 4 ed. Oxford: Oxford University Press; 2016. p. 2911 - 2918.

MEDICAMENTOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DA COVID-19

Até o momento, não existem evidências de alta qualidade que possibilitem a indicação de uma terapia medicamentosa específica para a covid-19.1212 Brasil. Ministério da Saúde. Diretrizes para diagnóstico e tratamento da COVID-19 versão 3. Brasília: Ministério da Saúde; 2020. Várias alternativas terapêuticas têm sido utilizadas, incluindo cloroquina, hidroxocloroquina, azitromicina, antiparasitários, corticoides, heparinas, tocilizumab e antivirais. É importante frisar que esses medicamentos vêm sendo usados de forma off-label no Brasil ou ainda não têm registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para comercialização, caso do favipiravir e remdesivir. Por outro lado, estudos clínicos estão sendo conduzidos no Brasil e no mundo a fim de avaliar a eficácia e segurança desses medicamentos para o tratamento da covid-19.

Nesse contexto, sabe-se que alguns desses medicamentos são excretados por via renal, de forma inalterada ou seus metabólitos, podendo aumentar o risco de reações adversas e toxicidade em pacientes com comprometimento renal.3535 Rismanbaf A, Zarei S. Liver and Kidney Injuries in COVID-19 and Their Effects on Drug Therapy; a Letter to Editor. Arch Acad Emerg Med. 2020;8:e17. Por outro lado, para muitos medicamentos, alguns ou mesmo todos os parâmetros farmacocinéticos alterados são desconhecidos. Em tais circunstâncias, o julgamento profissional deve ser utilizado para prever a disposição desses fármacos no organismo, com base no conhecimento da estrutura química do fármaco, de sua classe e da farmacocinética em pacientes com função renal normal.1515 UpToDate [Internet]. Waltham, MA: UpToDate Inc. Disponível em: https://www.uptodate.com
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Além disso, a função renal geralmente diminui com a idade (população mais acometida pela covid-19), e muitos idosos têm uma taxa de filtração glomerular (TGF) menor que 50 mL/min que, devido à redução da massa muscular, pode não ser refletida por uma creatinina elevada.1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019.

A seguir, são apresentados os principais medicamentos utilizados no tratamento da covid-19 de acordo com os principais guias e as recomendações do Brasil e do mundo, as suas principais características farmacocinéticas (Tabela 1), bem como recomendações de dose e possíveis ajustes para esses medicamentos (Tabela 2).

Tabela 1
Principais características farmacocinéticas1515 UpToDate [Internet]. Waltham, MA: UpToDate Inc. Disponível em: https://www.uptodate.com
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,1616 Micromedex 2.0 [Internet]. Ann Arbor (MI): Truven Health Analytics Inc. 2020. Disponível em: www.micromedexsolutions.com
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,1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019. dos medicamentos utilizados no tratamento da covid-19
Tabela 2
Recomendações de dose e possíveis ajustes de medicamentos utilizados para o tratamento da covid-19

CLOROQUINA E HIDROXICLOROQUINA

Cerca de 50% de cloroquina é excretada de forma inalterada e 10% como metabólito por via renal, podendo levar ao acúmulo no organismo, além de prolongar ainda mais a meia-vida do fármaco, que já é alta (10-60 dias).1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019. Assim, recomenda-se a redução de 50% da dose em pacientes com TFG < 10 mL/min. Em relação a pacientes que recebem diálise, não há uma recomendação para suplementação da dose para a maioria das diálises existentes.88 Sanders JM, Monogue ML, Jodlowski T, et al. Pharmacologic Treatments for Coronavirus Disease 2019 (COVID-19): A Review. JAMA, 2020. Publicado online em 13 de abril.,1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019. Já a hidroxicloroquina é apenas 3% excretada na forma inalterada, porém é metabolizada em cloroquina e metabólitos ativos que também podem se acumular em pacientes com lesão renal. Dessa forma, recomenda-se redução de 50% em pacientes com TFG < 30 mL/min. Não há necessidade de suplementação da dose desses medicamentos para qualquer um dos tratamentos dialíticos existentes.1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019.

AZITROMICINA

Não há recomendação para ajuste da dose de azitromicina em pacientes com comprometimento renal. Porém, é importante o uso com cautela em pacientes com TFG < 10 mL/min, pois pode aumentar os efeitos adversos gastrointestinais, como diarreia, náusea e vômitos devido ao aumento (em torno de 33%) da exposição sistêmica de azitromicina.1515 UpToDate [Internet]. Waltham, MA: UpToDate Inc. Disponível em: https://www.uptodate.com
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,1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019. Ademais, como a azitromicina é associada à hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, e ambas podem estar sendo acumuladas no organismo desses pacientes, o monitoramento efetivo do eletrocardiograma deve ser realizado devido ao maior risco de prolongamento no intervalo QT.1515 UpToDate [Internet]. Waltham, MA: UpToDate Inc. Disponível em: https://www.uptodate.com
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,1616 Micromedex 2.0 [Internet]. Ann Arbor (MI): Truven Health Analytics Inc. 2020. Disponível em: www.micromedexsolutions.com
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,1717 Gilbert DN, Chambers HF, Eliopoulos GM. The Sanford Guide to Antimicrobial Therapy 2020. 50th. Sperryville: Antimicrobial Therapy, Inc; 2020. Recomenda-se que a azitromicina seja administrada em um intervalo de 4 horas da hidroxicloroquina. Não há necessidade de suplementação da dose para qualquer um dos tratamentos dialíticos existentes.1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019.

ANTIPARASITÁRIOS

Não há ajustes de dose fornecidos pelo fabricante para a nitazoxanida. Porém, esse fármaco é excretado na forma inalterada por via renal em até 33%, podendo ser acumulado no organismo em pacientes com comprometimento renal, bem como o seu metabólito ativo (tizoxanida) que é altamente ligado às proteínas plasmáticas (> 99%), podendo ser deslocado, elevando as frações livres nesses pacientes.1515 UpToDate [Internet]. Waltham, MA: UpToDate Inc. Disponível em: https://www.uptodate.com
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Além disso, um estudo realizado em ratos evidenciou aumento significativo no nível sérico de creatinina e ureia um dia após o tratamento com nitazoxanida, quando comparado com o grupo controle.3636 Shams GED, Fouad AEA, Naiem N. Nitazoxanide Adverse Effects on Biochemical Markers of Liver & Kidney Injury and Antioxidant Enzymes on Rats. International Journal of Pharmaceutical Research & Allied Sciences, 2018;7:1-6. Assim, recomenda-se caultela no uso desse medicamento em pacientes com comprometimento renal.1717 Gilbert DN, Chambers HF, Eliopoulos GM. The Sanford Guide to Antimicrobial Therapy 2020. 50th. Sperryville: Antimicrobial Therapy, Inc; 2020. Não há estudos que suportem a necessidade de suplementação da dose em qualquer um dos tratamentos dialíticos utilizados.1717 Gilbert DN, Chambers HF, Eliopoulos GM. The Sanford Guide to Antimicrobial Therapy 2020. 50th. Sperryville: Antimicrobial Therapy, Inc; 2020.,1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019.

Também não há ajustes de dose fornecidos pelo fabricante para a ivermectina. Entretanto, esse fármaco é altamente ligado às proteínas plasmáticas (93%), principalmente a albumina, podendo ser deslocado, elevando as frações livres nos pacientes com perda da capacidade funcional renal.1515 UpToDate [Internet]. Waltham, MA: UpToDate Inc. Disponível em: https://www.uptodate.com
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,1616 Micromedex 2.0 [Internet]. Ann Arbor (MI): Truven Health Analytics Inc. 2020. Disponível em: www.micromedexsolutions.com
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Ademais, um estudo realizado em ratos mostrou que o uso de ivermectina pode comprometer a integridade do rim e do fígado.3737 Arise RO, Malomo SO. Effects of ivermectin and albendazole on some liver and kidney function indices in rats. Afr. J. Biochem. Res. 2009;3:190-197. Não há estudos que suportem a necessidade de suplementação da dose para qualquer um dos tratamentos dialíticos existentes.1717 Gilbert DN, Chambers HF, Eliopoulos GM. The Sanford Guide to Antimicrobial Therapy 2020. 50th. Sperryville: Antimicrobial Therapy, Inc; 2020.,1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019.

CORTICOIDES

Não há recomendação para ajuste da dose em pacientes com comprometimento renal, apesar de 65% de dexametasona ser excretada de forma inalterada em 24 horas. Porém, o uso de corticoides deve ser feito com cautela em pacientes com perda da capacidade funcional renal, pois pode ocorrer maior retenção de líquidos. A dexametasona também deve ser utilizada com cautela em idosos, sempre na menor dose possível.1515 UpToDate [Internet]. Waltham, MA: UpToDate Inc. Disponível em: https://www.uptodate.com
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,1616 Micromedex 2.0 [Internet]. Ann Arbor (MI): Truven Health Analytics Inc. 2020. Disponível em: www.micromedexsolutions.com
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Não há necessidade de suplementação da dose de dexametasona para qualquer um dos tratamentos dialíticos existentes. Por outro lado, recomenda-se administrar doses usuais após o tratamento dialítico em pacientes que utilizam metilprednisolona.1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019.

TOCILIZUMAB

Não há recomendação para ajuste da dose em pacientes com comprometimento renal. Porém, esse fármaco tem alto peso molecular (148 kDa), sendo improvável que seja significativamente eliminado por via renal em pacientes com TFG < 30 mL/min. Dessa forma, recomenda-se cautela do seu uso e monitoramento da função renal nesses pacientes.1515 UpToDate [Internet]. Waltham, MA: UpToDate Inc. Disponível em: https://www.uptodate.com
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,1616 Micromedex 2.0 [Internet]. Ann Arbor (MI): Truven Health Analytics Inc. 2020. Disponível em: www.micromedexsolutions.com
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Não há estudos que suportem a necessidade de suplementação da dose para qualquer um dos tratamentos dialíticos existentes.1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019.

ANTICOAGULANTES

Não há recomendação para ajuste da dose de heparina não fracionada em pacientes com comprometimento renal. Porém, pode haver maior eliminação por via renal (em torno de 50%) em altas doses, além do aumento da meia-vida do fármaco.1515 UpToDate [Internet]. Waltham, MA: UpToDate Inc. Disponível em: https://www.uptodate.com
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,1616 Micromedex 2.0 [Internet]. Ann Arbor (MI): Truven Health Analytics Inc. 2020. Disponível em: www.micromedexsolutions.com
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,1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019. Dessa forma, recomenda-se cautela do seu uso quando utilizado em altas doses. Não há necessidade de suplementação da dose para qualquer um dos tratamentos dialíticos existentes.1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019.

Em contrapartida, a enoxaparina necessita de ajuste de dose nesses pacientes, uma vez que há risco de sangramento devido à diminuição da depuração renal (cerca de 30%) e aumento da sua biodisponibilidade. Ademais, apesar de 10% do fármaco ser excretado inalterado por via renal, grande parte dos metabólitos ativos e inativos (em torno de 40%) é excretada por essa via, podendo se acumular nesses pacientes. Por fim, 80% do fármaco é ligado às proteínas plasmáticas, podendo ser deslocado e elevando as frações livres nos pacientes com perda da capacidade funcional renal.1515 UpToDate [Internet]. Waltham, MA: UpToDate Inc. Disponível em: https://www.uptodate.com
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,1616 Micromedex 2.0 [Internet]. Ann Arbor (MI): Truven Health Analytics Inc. 2020. Disponível em: www.micromedexsolutions.com
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Assim, recomenda-se redução da dose para 20 a 30 mg/dia (profilática) ou 0,5-1 mg/kg/dia (tratamento) em pacientes com TFG < 30 mL/min.1515 UpToDate [Internet]. Waltham, MA: UpToDate Inc. Disponível em: https://www.uptodate.com
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,3838 Vivas D, Roldán V, Esteve-Pastor MA, et al. Recomendaciones sobre el tratamento antitrombótico durante la pandemia COVID-19. Posicionamiento del Grupo de Trabajo de Trombosis Cardiovascular de la Sociedad Española de Cardiología, Rev Esp Cardiol, 2020;73:749-757. Em relação aos tratamentos dialíticos existentes, não há necessidade de suplementação de doses, exceto para hemodiafiltração intermitente, em que se recomenda administrar dose adicional semelhante à dose utilizada em pacientes com TFG < 30 mL/min.1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019.

ANTIVIRAIS

Não há ajustes de dose de lopinavir/ritonavir fornecidos pelo fabricante, sendo improvável uma redução na depuração desses fármacos em pacientes com lesão renal. Porém, esses fármacos se ligam altamente às proteínas plasmáticas (> 98%), podendo ser deslocados, elevando as frações livres nesses pacientes.1515 UpToDate [Internet]. Waltham, MA: UpToDate Inc. Disponível em: https://www.uptodate.com
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,1616 Micromedex 2.0 [Internet]. Ann Arbor (MI): Truven Health Analytics Inc. 2020. Disponível em: www.micromedexsolutions.com
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Também deve ser utilizado com cautela em pacientes idosos, uma vez que os dados desses pacientes são insuficientes para determinar se eles respondem diferentemente dos adultos.3939 Mocroft A, Kirk O, Reiss P, et al. Estimated glomerular filtration rate, chronic kidney disease and antiretroviral drug use in HIV-positive patients. AIDS, 2010;24:1667-1678,4040 Ryom L, Mocroft A, Kirk O, et al. Association between antiretroviral exposure and renal impairment among HIV-positive persons with normal baseline renal function: the D:A:D study. J Infect Dis, 2013;207:1359-1369,4141 AHFS Drug Information Essentials [Internet]. Bethesda, MD: American Society of Health-System Pharmacists, 2020. Disponível em: www.ahfsdruginformation.com
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Não há necessidade de suplementação da dose para qualquer um dos tratamentos dialíticos existentes.1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019.

O oseltamivir é um pró-fármaco, sendo extensivamente metabolizado por esterases no fígado para o metabolito carboxilato ativo. Esse metabólito é totalmente eliminado por excreção renal (99%). Ademais, a depuração renal excede a taxa de filtração glomerular, indicando que a secreção tubular ocorre além da filtração glomerular.1515 UpToDate [Internet]. Waltham, MA: UpToDate Inc. Disponível em: https://www.uptodate.com
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,1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019. Esse metabólito pode acumular no organismo de pacientes com comprometimento renal. Assim, recomenda-se uma dose 30 mg, duas vezes ao dia, a pacientes com TFG entre 31 e 60 mL/min; 30 mg ao dia a pacientes com TFG entre 10 e 30 mL/min; e 30 mg dose única a pacientes com TFG < 10 mL/min.1717 Gilbert DN, Chambers HF, Eliopoulos GM. The Sanford Guide to Antimicrobial Therapy 2020. 50th. Sperryville: Antimicrobial Therapy, Inc; 2020.,1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019. Em pacientes submetidos à hemodiálise e diálise peritoneal, uma dose inicial de 30 mg pode ser administrada antes do início da diálise e suplementada com 30 mg a cada sessão ou 5 dias, respectivamente.1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019. A hemofiltração arteriovenosa contínua ou venovenosa é semelhante à hemodiálise. Para a hemodiafiltração intermitente, as doses indicadas dependerão da taxa de fluxo, que está detalhada no rodapé da Tabela 2.1818 Ashley C, Dunleavy A. The renal drug handbook: The ultimate prescribing guide for renal practitioners, 5 ed. New York: CRC Press; 2019.

Para o favipiravir, não há ajustes de dose fornecidos pelo fabricante, pois os dados disponíveis são limitados.1717 Gilbert DN, Chambers HF, Eliopoulos GM. The Sanford Guide to Antimicrobial Therapy 2020. 50th. Sperryville: Antimicrobial Therapy, Inc; 2020. Porém, esse fármaco sofre metabolização hepática, gerando metabólitos que são excretados sob formas hidroxiladas por via renal. A fração de metabólitos excretados na urina aumenta ao longo do tempo, atingindo 80-100% após 7 dias.4242 Madelain V, Nguyen THT, Olivo A, et al. Ebola Virus Infection: Review of the Pharmacokinetic and Pharmacodynamic Properties of Drugs Considered for Testing in Human Efficacy Trials. Clin Pharmacokinet. 2016, 55(8):907-23. Assim, é importante o monitoramento de pacientes com perda da capacidade funcional renal, bem como idosos. Não há estudos que suportem a necessidade de suplementação da dose para qualquer um dos tratamentos dialíticos existentes.1717 Gilbert DN, Chambers HF, Eliopoulos GM. The Sanford Guide to Antimicrobial Therapy 2020. 50th. Sperryville: Antimicrobial Therapy, Inc; 2020.

Por fim, não há estudos que recomendem ajuste de dose de remdesivir em pacientes com perda da capacidade funcional renal, pois não existem dados de segurança ou farmacocinéticos disponíveis para essa população. Entretanto, estudos em animais evidenciaram aumento na ureia e creatinina média, bem como atrofia tubular renal nos achados histopatológicos, indicando função renal alterada,4343 European Medicines Agency. Human Medicines Division. Summary on compassionate use of Remdesivir. Amsterdam: European Medicines Agency; 2020. portanto não é recomendado o uso em pacientes com TFG < 30 mL/min.88 Sanders JM, Monogue ML, Jodlowski T, et al. Pharmacologic Treatments for Coronavirus Disease 2019 (COVID-19): A Review. JAMA, 2020. Publicado online em 13 de abril. Os pacientes que recebem terapias de substituição renal foram excluídos dos ensaios clínicos em vigência.1515 UpToDate [Internet]. Waltham, MA: UpToDate Inc. Disponível em: https://www.uptodate.com
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CONCLUSÃO

Os tópicos apresentados neste estudo evidenciam que pacientes que têm comprometimento renal e foram acometidos por covid-19 passam por diversas alterações fisiológicas que podem acarretar mudanças na farmacocinética e farmacodinâmica dos medicamentos, podendo causar variações nas suas concentrações séricas e, consequentemente, risco de superdosagem e toxicidade.

Ademais, muitos medicamentos utilizados no tratamento da covid-19 necessitam de ajustes de dose ou monitoramento contínuo nessa população.

Assim, a indicação e o uso desses medicamentos deve ser bem avaliada, verificando o risco-benefício da terapia, levando em consideração as particularidades de cada paciente.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Dez 2020
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2021

Histórico

  • Recebido
    18 Maio 2020
  • Aceito
    18 Set 2020
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