RESUMO
Paciente do sexo masculino, 41 anos de idade, relata tumor doloroso na face lateral da perna direita. A ultrassonografia demonstrou massa volumosa, hipoecogênica, heterogênea e bem delineada no tecido subcutâneo, com área hiperecogênica em seu interior. A ressonância magnética (RM) revelou um tumor ovalado e lobulado, com margens bem definidas na parte anterolateral da perna, apresentando realce pelo contraste. O estudo anatomopatológico constatou neoplasia com extensa matriz condromixoide. O estudo imuno-histoquímico apresentou vimentina (clone V9) e proteína S-100 positivas e desmina (clone D33), actina de músculo liso (1A4), CD68 (clone KP1) e caldesmon negativos. O conjunto de achados é compatível com lipossarcoma mixoide.
Unitermos:
lipossarcoma mixoide; ultrassonografia; imagem por ressonância magnética
ABSTRACT
A 41-year-old male patient refers to a painful tumor on the lateral side of the right leg. Ultrasonography visualized a predominantly hypoechoic well-delineated large heterogeneous mass in the subcutaneous tissue, showing an internal hyperechoic area. Magnetic resonance imaging (MRI) demonstrated an oval and lobulated tumor with well-defined margins at the anterolateral part of the leg, with contrast enhancement. The anatomopathological evaluation revealed a neoplasm with an extensive chondromyxoid matrix. The immunohistochemical study demonstrated positive vimentin (V9 clone), positive S-100 protein and negative desmin (D33 clone), smooth muscle actin (1A4), CD68 (KP1 clone) and caldesmon. The set of findings is compatible with myxoid liposarcoma.
Key words:
liposarcoma myxoid; ultrasonography; magnetic resonance imaging
RESUMEN
Paciente masculino de 41 años de edad, reporta tumor doloroso en la parte lateral de la pierna derecha. La ultrasonografía demostró una masa voluminosa, hipoecogénica, heterogénea y bien delimitada en el tejido subcutáneo, con área hiperecogénica en su interior. La resonancia magnética (RM) reveló un tumor ovalado y lobulado, con márgenes bien definidas en la parte anterolateral de la pierna, presentando realce de contraste. El estudio anatomopatológico constató neoplasia con abundante matriz condromixoide. La inmunohistoquímica presentó vimentina (clon V9) y proteína S-100 positivas, y desmina (clon D33), actina de músculo liso (1A4), CD68 (clon KP1) y caldesmón negativos. El conjunto de hallazgos es compatible con liposarcoma mixoide.
Palabras clave:
liposarcoma mixoide; ultrasonografía; imagen por resonancia magnética
INTRODUÇÃO
O lipossarcoma é um tumor maligno dos tecidos moles e o sarcoma mais comum na vida adulta(1,2), presente nos membros inferiores em cerca de 75% dos casos(2,3).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o lipossarcoma de tecidos moles em cinco subtipos histológicos: bem diferenciado, mixoide, desdiferenciado, pleomórfico ou misto(4).
O lipossarcoma mixoide representa 30%-35% de todos os lipossarcomas(1) e ocorre predominantemente nas extremidades em adultos jovens(5), entre a quarta e a quinta décadas de vida, sem predileção por sexo(3).
Em geral ele é encontrado na coxa e tem baixa propensão a metástase(3,6), sendo, mais comumente, extrapulmonar(4). A taxa de doença metastática é significativamente mais elevada em pacientes cujo tumor contém maior concentração de células redondas(4).
RELATO DO CASO
Paciente de 41 anos refere um tumor doloroso na face lateral da perna direita após trauma local cinco anos atrás. O tamanho da lesão aumentou desde então. Ele nega limitações funcionais e laborais. Refere hipertensão sistêmica e diabetes mellitus em tratamento, além de ser fumante e beber socialmente. O exame físico mostra tumoração na face lateral da perna, sem alteração na pele. Não há limitação de mobilidade em perna, quadril, joelho e tornozelo do lado direito. A ultrassonografia (USG) visualizou uma massa bem delineada no tecido subcutâneo, heterogênea, predominantemente hipoecogênica, exibindo uma área hiperecogênica no seu interior (Figura 1).
Ultrassonografia demonstrando massa heterogênea, bem delineada, com área hiperecogênica em seu interior (seta branca)
A ressonância magnética (RM) demonstrou uma tumoração oval e lobulada, com margens bem definidas na parte anterolateral da perna, localizada entre os músculos sóleo, fibular longo, extensor longo dos dedos e gastrocnêmio lateral, seguindo o trajeto do nervo fibular comum/superficial, insinuando-se na gordura subcutânea através do túnel fibular, cranialmente. A lesão tem íntima relação com a cortical lateral da fíbula, apresentando impregnação heterogênea pelo contraste paramagnético (Figura 2).
A) RM na sequência ponderada T2 STIR sem contraste no corte coronal demonstrando tumor bem delimitado com alto sinal e septações (seta branca); B) RM na sequência T1 FAT SAT com contraste no corte axial demonstrando o realce heterogêneo da lesão (seta branca)
RM: ressonância magnética; STIR: inversão-recuperação do tempo de inversão curto; FAT SAT: saturação de gordura.
Foi realizada a cirurgia para remoção do tumor, e a avaliação anatomopatológica revelou neoplasia com extensa matriz condromixoide. O estudo imuno-histoquímico apresentou vimentina (clone V9) e proteína S-100 positivas e desmina (clone D33), actina de músculo liso (1A4), CD68 (clone KP1) e caldesmon negativos. O conjunto de achados é compatível com lipossarcoma mixoide (Figura 3).
Fotomicrografia (coloração HE): presença de neoplasia com matriz condromixoide abundante HE: hematoxilina e eosina.
DISCUSSÃO
Os achados da USG consistem em uma massa cística complexa com vascularização ao estudo com Doppler(3). A tomografia computadorizada (TC) sem contraste demonstra uma massa bem definida com densidade semelhante à da água, enquanto a TC com contraste demonstra realce reticular progressivo(7). Calcificações são achados incomuns(3).
A RM permite a adequada identificação dos subtipos histológicos específicos de lipossarcoma(8). Também se revela viável e eficaz na detecção de metástases ósseas e de tecidos moles(6). O lipossarcoma mixoide, na RM, apresenta intensidade de sinal baixa ou isointensa em relação aos músculos na imagem ponderada em T1 e alto sinal em T2(9). O tumor pode parecer uma massa cística benigna quando a RM é realizada sem a utilização de contraste(10).
No estudo com contraste, as áreas realçadas dentro do tumor representam celularidade e vascularidade aumentada, enquanto as áreas sem realce representam necrose, celularidade reduzida e material mucinoso acumulado(10). A presença de focos hiperintensos amorfos ou lineares com aspecto linear de tecido adiposo nas imagens ponderadas em T1 tem sido relatada como um padrão sugestivo de lipossarcoma mixoide(2). O realce acentuado pelo contraste nas imagens da RM é considerado o fator prognóstico adverso mais significativo(2).
O elevado conteúdo de água no lipossarcoma mixoide visto na análise histopatológica e que constitui a maior parte da lesão se reflete na USG, na TC e na RM(4). Entretanto, a detecção de uma pequena porção de tecido adiposo no septo da lesão ou pequenos focos nodulares sobrepostos a uma base de tecido mixoide permite o diagnóstico prospectivo em 78%-95% dos lipossarcomas mixoides(4). A análise histológica mostra uma matriz mixoide como componente predominante e pequenas porções de gordura, o que cria uma aparência típica na RM(5).
O tratamento de escolha para o lipossarcoma mixoide é a excisão cirúrgica ampla(4). Em casos com ressecção incompleta devido ao tamanho da lesão ou proximidade com o feixe neurovascular, a radioterapia é geralmente usada para reduzir a recorrência local(4). A quimioterapia adjuvante também pode ser benéfica(4).
Fatores adicionais associados a pior prognóstico incluem(4):
-
idade do paciente acima de 45 anos;
-
presença histológica de necrose espontânea.
A taxa de sobrevida global em cinco anos varia de 47% a 77%(4).
CONCLUSÃO
Os exames de imagem e a biópsia cirúrgica são de grande valor para estabelecer o programa terapêutico mais apropriado, em pleno acordo com os achados histopatológicos. Entretanto, a interpretação das modalidades diagnósticas de imagem exige grande experiência e envolve o risco de ignorar elementos cruciais da malignidade. É de fundamental importância conhecer os princípios da oncologia musculoesquelética na avaliação de qualquer massa que possa ser maligna.
Referências bibliográficas
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- 9 Barile A, Zugaro L, Catalucci A, et al. Soft tissue liposarcoma: histological subtypes, MRI and CT findings. Radiol Med. 2002 Sep; 104(3): 140-9.
- 10 Sung MS, Kang HS, Suh JS, et al. Myxoid liposarcoma: appearance at MR imaging with histologic correlation. Radiographics. 2000 Jul-Aug; 20(4): 1007-19.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
16 Mar 2020 -
Data do Fascículo
2020
Histórico
-
Recebido
14 Jun 2019 -
Aceito
20 Ago 2019 -
Revisado
20 Ago 2019 -
Publicado
20 Jan 2020



