Acessibilidade / Reportar erro

Nossa capa

NOSSA CAPA OUR JOURNAL COVER

Botica. Aquarela, 1823. Jean Baptiste Debret

No Brasil Colônia do final do século 18 todas as questões relacionadas à saúde eram de responsabilidade dos comissários enviados pela Coroa e dos membros do Senado das Câmaras Municipais. Esses setores fiscalizavam e aprovavam as licenças para os médicos, cirurgiões, boticários, parteiras e barbeiros. Estes últimos pertenciam ao mesmo segmento.

O exercício dessas profissões era oficializado após a verificação da habilitação ou então da experiência comprovada na prática de diagnosticar e tratar doenças. A história conta que cirurgiões, barbeiros, boticários e parteiras, ainda que autorizados a exercer a profissão, tinham suas atividades bastante limitadas pelos órgãos fiscalizadores. Era necessário comprovar pelo menos quatro anos de prática em hospital ou botica. Aos boticários, por exemplo, eram somente permitidos o comércio das drogas, a manipulação dos remédios e o aviamento de receitas.

Em pleno final do século 18 nem tudo funcionava com eficiência. O modelo até poderia ser eficaz, mas não a fiscalização. As restrições não existiam. Para fazer frente às mazelas de sua saúde, os habitantes das cidades, Rio de Janeiro inclusive, recorriam a quem estivesse a seu alcance, fosse médico, boticário ou curandeiro.

Vale lembrar que no início da colonização as boticas da Companhia de Jesus eram os centros para fornecimento de medicamentos aos habitantes. E nessas boticas muitos padres acabavam por exercer a função de físicos, boticários, barbeiros e até cirurgiões. Anos mais tarde, a ausência de prática ou conhecimento dos boticários gerou desconfiança por parte da população e vários casos foram relatados por viajantes europeus que percorreram o Brasil ao longo do século 19. Luccock, ao se referir ao fato de os boticários, além de venderem remédios, prescreverem medicamentos, disse que "a habilidade dos boticários em diagnosticar e curar doenças era pouquíssimo superior ao conhecimento que tinham do corpo humano. O detalhe dos seus processos absurdos de tratamento provocaria incredulidade, tanto maravilha pelo fato de os pacientes escaparem vivos e inteiros... pois que aquilo que aos respectivos proprietários faltava em habilidade pareciam eles se esforçar por suprir com a exibição".

Na aquarela intitulada Botica, que ilustra a capa desta edição do JBPML, Jean Baptiste Debret retratou uma drogaria ou farmácia da época. Como de hábito, os fregueses ali chegavam não apenas para adquirir medicamentos, mas também por lazer. Jogavam gamão ou simplesmente passavam o tempo em conversas sem compromisso. Um escravo de família abastada, usando libré azul com gola vermelha e branca, espera o remédio que está sendo manipulado pelo boticário. Na cena retratada, detalhe para os potes clássicos das boticas do século 18 e a balança na mão da imagem de São Miguel.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Jul 2005
  • Data do Fascículo
    Abr 2005
Sociedade Brasileira de Patologia Clínica, Rua Dois de Dezembro,78/909 - Catete, CEP: 22220-040v - Rio de Janeiro - RJ, Tel.: +55 21 - 3077-1400 / 3077-1408, Fax.: +55 21 - 2205-3386 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: jbpml@sbpc.org.br