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Participação internacional em estudos colaborativos publicados em revistas de pneumologia: onde está o Jornal Brasileiro de Pneumologia?

CARTA AO EDITOR

Participação internacional em estudos colaborativos publicados em revistas de pneumologia: onde está o Jornal Brasileiro de Pneumologia?

Rodrigo Abensur AthanazioI; Samia Zahi RachedII; Pedro Rodrigues GentaIII; Geraldo LorenziIV

IMédico Assistente, Disciplina de Pneumologia, Instituto do Coração - InCor - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil

IIMédica Assistente, Disciplina de Pneumologia, Instituto do Coração - InCor - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil

IIIMédico Assistente, Disciplina de Pneumologia, Instituto do Coração - InCor - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil

IVProfessor Livre-Docente, Disciplina de Pneumologia, Instituto do Coração - InCor - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil

Ao Editor:

Lemos com grande interesse o trabalho sobre as publicações na área de tisiologia no Jornal Brasileiro de Pneumologia (JBP) em sua última edição.(1) Gostaríamos de avançar nessa discussão, analisando trabalhos colaborativos publicados no JBP e comparando-os com aqueles de uma revista representativa dos EUA - Chest - e os de uma revista europeia - European Respiratory Journal (ERJ).

Com o avanço científico e o aumento da complexidade da ciência, existe uma tendência a um aumento do número de estudos que envolvam a colaboração de várias instituições. Estudos colaborativos são definidos como um empenho em pesquisa entre diferentes instituições (colaboração interinstitucional), seja em um mesmo país (nacional), seja em mais de um país (internacional). Existem também estudos multicêntricos, caracterizados por um esforço paralelo em pesquisa entre diferentes instituições, não só com a aplicação de um mesmo protocolo em locais distintos, mas também com o potencial de intercâmbio de experiências e conhecimento.(2)

O desenvolvimento da globalização trouxe um crescimento expressivo de trabalhos colaborativos internacionalmente, tanto em número e tamanho, quanto em diversidade de estudos.(3) No entanto, poucos estudos avaliaram de forma objetiva essa mudança de perfil das publicações cientificas em relação a estudos colaborativos.(4-6) Nosso objetivo foi, portanto, avaliar o número de estudos colaborativos publicados em periódicos representativos de três diferentes regiões do mundo na área de pneumologia.

Analisamos todos os artigos originais publicados nos periódicos JBP, Chest e ERJ em dois momentos: 1997 e 2007. Estudos colaborativos foram definidos como artigos com a participação de duas ou mais instituições. Os estudos colaborativos internacionais (dois ou mais países envolvidos) foram analisados de forma independente. Foram considerados como estudos multicêntricos quando um mesmo protocolo foi aplicado em mais de uma instituição. As proporções de artigos originais colaborativos, colaborativos internacionais e multicêntricos publicados, em cada periódico, em 1997 e 2007, foram comparadas usando-se o teste do qui-quadrado.

O número de artigos originais publicados nas publicações estudadas em 1997 e 2007 foi, respectivamente: 20 e 70, no JBP; 366 e 377, no Chest; e 349 e 230, no ERJ. A proporção de estudos colaborativos publicados nos anos 1997 e 2007 aumentou significativamente no JBP: de 10% para 36% (p = 0,029), ao passo que essa também foi significativa no Chest: de 29% para 42% (p = 0,01). No caso do ERJ, os estudos colaborativos já eram em grande número em 1997 (66%), e não houve aumento significativo em 2007 (69%; p = 0,56).

A proporção de estudos colaborativos internacionais publicados no Chest nos anos de 1997 e 2007 se manteve estável (9% e 8%, respectivamente; p = 0,57). O número de trabalhos multicêntricos publicados no Chest aumentou significativamente nos mesmos momentos (6% e 11%; p = 0,028). Em relação ao ERJ, foi encontrado um aumento tanto em estudos colaborativos internacionais nos anos estudados (11% e 29%; p < 0,01), quanto em multicêntricos (7% e 14%; p < 0,01). Apenas um trabalho com colaboração internacional foi encontrado em 1997 no JBP e nenhum em 2007, assim como não houve nenhum trabalho multicêntrico nos dois anos analisados.

O aumento de estudos colaborativos, tanto nacionais, como internacionais, encontrados nas principais revistas científicas na área de pneumologia está de acordo com estudos semelhantes em outras áreas.(3-5) O JBP mais do que triplicou o número de trabalhos originais publicados no ano de 2007 em relação a 1997, com um aumento paralelo da mesma ordem no número de trabalhos colaborativos dentro do país. No entanto, as colaborações internacionais e os estudos multicêntricos internacionais publicados no JBP ainda são escassos. Artigos com colaboração internacional parecem receber maior visibilidade entre pesquisadores por serem publicados, na maioria das vezes, em revistas de maior impacto. Isso se torna mais evidente em trabalhos desenvolvidos por países em desenvolvimento(5) e está associado à tendência mundial de melhora em qualidade de pesquisa.

Vários fatores podem influenciar o baixo número de trabalhos internacionais publicados no JBP. As maiores dificuldades encontradas em estudos colaborativos são o estabelecimento de prioridades de pesquisa. A compreensão desses determinantes torna-se essencial para o desenvolvimento de políticas que ditem o planejamento de pesquisas na área médica. Isso se torna ainda mais necessário em países em desenvolvimento, os quais dispõem de escassos recursos para a pesquisa.(3,5)

É importante ressaltar que nem todo trabalho colaborativo indica necessariamente um avanço na qualidade do estudo, pois esse pode simplesmente refletir um intercâmbio unilateral de informações ou mesmo refletir a inclusão de um pesquisador internacional para facilitar a publicação do estudo. Outra dificuldade encontrada em nosso meio são os atuais critérios de autoria de projetos instituídos pelas entidades fomentadoras de pós-graduação. Apesar de todos os pontos potencialmente negativos, não podemos negar que as colaborações internacionais representam um avanço natural e bem-vindo no mundo científico.

Concluímos que o aumento crescente de publicações originais bem como de estudos colaborativos envolvendo várias instituições no JBP reflete uma melhora importante tanto da quantidade como da qualidade da pesquisa brasileira na área de pneumologia. No entanto, não podemos esperar que a realização de estudos colaborativos progrida espontaneamente. Políticas específicas devem ser encorajadas, em especial, por agências de suporte e sociedades médicas.

  • 1. Kritski AL, Ruffino Netto A. Works in the field of tuberculosis study published in the Brazilian Journal of Pulmonology between 2004 and 2011: types of articles, study models, level of scientific evidence, and social impact. J Bras Pneumol. 2011;37(3):285-7.
  • 2. Katsouyanni K. Collaborative research: accomplishments & potential. Environ Health. 2008;7:3.
  • 3. Beaver DD. Reflections on scientific collaboration (and its study): past, present, and future. Scientometrics. 2001;52(3):365-77.
  • 4. Glänzel W. National characteristics in international scientific co-authorship relations. Scientometrics. 2001;51(1):69-115.
  • 5. Allen C, Clarke M, Tharyan P. International activity in the Cochrane Collaboration with particular reference to India. Natl Med J India. 2007;20(5):250-5.
  • 6. Glänzel W, Schubert A. Domesticity and internationality in co-authorship, references and citations. Scientometrics. 2005;65(3):323-42

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 2011
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